AVALIAÇÃO OCLUSAL E MIOFUNCIONAL ORAL EM … · Meu amor por vocês jamais poderia ser expresso...

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ANNA PAULA VERRASTRO AVALIAÇÃO OCLUSAL E MIOFUNCIONAL ORAL EM CRIANÇAS COM DENTIÇÃO DECÍDUA COMPLETA E MORDIDA ABERTA ANTERIOR ANTES E APÓS REMOÇÃO DO HÁBITO DE SUCÇÃO DE CHUPETA São Paulo 2005

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ANNA PAULA VERRASTRO

AVALIAO OCLUSAL E MIOFUNCIONAL ORAL EM CRIANAS

COM DENTIO DECDUA COMPLETA E MORDIDA ABERTA

ANTERIOR ANTES E APS REMOO DO HBITO DE SUCO DE

CHUPETA

So Paulo

2005

Anna Paula Verrastro

Avaliao oclusal e miofuncional oral em crianas com dentio

decdua completa e mordida aberta anterior antes e aps remoo do

hbito de suco de chupeta

Dissertao apresentada Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo, para obter o Ttulo de Mestre, pelo Programa de Ps Graduao em Cincias Odontolgicas

rea de Concentrao: Odontopediatria

Orientadora: Profa. Dra. Marcia Turolla Wanderley

So Paulo

2005

FOLHA DE APROVAO

Verrastro AP. Avaliao oclusal e miofuncional oral em crianas com dentio decdua completa e mordida aberta anterior antes e aps remoo do hbito de suco de chupeta [Dissertao de Mestrado]. So Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2005.

So Paulo: 11/01/2006

Banca Examinadora

1. Prof. (a) Dr.(a): ..................................................................................................................

Julgamento:............................................ Assinatura:..............................................

2. Prof. (a) Dr.(a): ..................................................................................................................

Julgamento:............................................ Assinatura:..............................................

3. Prof. (a) Dr.(a): ..................................................................................................................

Julgamento:............................................ Assinatura:..............................................

DEDICATRIA

Aos meus pais, Carlos e Dirce, meus modelos de dignidade,

competncia e sucesso, por serem o maior e melhor exemplo que tenho

na vida, por estarem sempre presentes, me incentivando, e por

tornarem meus sonhos realidade. Meu amor por vocs jamais poderia

ser expresso em uma nica frase!

Ao meu irmo Carlos Gustavo, que o presente mais valioso que

eu j recebi de meus pais, meu melhor amigo e parceiro, para quem eu

posso pedir qualquer coisa a qualquer hora. Meu amor por voc

imenso e especial e, para voc, eu ofereo sempre o melhor de mim!

Ao meu marido, Fbio Eduardo, grande amor da minha vida, com

quem divido meus sonhos e cuja presena, incentivo e companheirismo

me tornam mais feliz e realizada. Que bom ter voc ao meu lado,

durante esta etapa e todos os outros dias da minha existncia!

A todos vocs, simplesmente por fazerem parte da minha vida, e

por me oferecerem este amor incondicional e este sorriso sempre que

eu chego. Com vocs, eu recarrego minhas energias e, estar com vocs

a melhor coisa do mundo!

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

Profa. Dra. Marcia Turolla Wanderley, que tem me acompanhado

desde o incio de minha carreira, me motivando a ir sempre alm. Por

estar sempre disponvel, por aceitar minhas vontades e pela

sensibilidade com que me tratou ao longo de todo este perodo. Voc

minha orientadora sob todos os aspectos!

Fabiane Miron Stefani, fonoaudiloga colaboradora neste

trabalho, parceira nesses ltimos anos que se colocou minha

disposio, com muito entusiasmo e competncia. Com voc, eu tenho

aprendido muito!

AGRADECIMENTOS

todos que me apoiaram, ajudaram e souberam compreender meus

perodos de ausncia.

Profa. Dra. Clia Regina Martins Delgado Rodrigues, pela

colaborao em vrias etapas deste trabalho.

Aos professores da Disciplina de Odontopediatria da FOUSP,

Prof. Dr. Antnio Carlos Guedes-Pinto, Prof. Dr. Marcelo Bnecker,

Prof. Dr. Jos Carlos Imparato, Profa. Dra. Maria Salete Nahs Pires

Corra, Profa. Dra. Ana Estela Haddad, Profa. Dra. Ana Ldia

Ciamponi e Profa. Cludia Perez Trindade, pelo empenho e dedicao

no curso e pelas oportunidades oferecidas.

Ao Prof. Dr. Fausto Medeiros Mendes, pela amizade.

Aos colegas Fernanda Nahs Pires Corra e Francisco Simes,

pelo vnculo de amizade que estreitamos nesse perodo e pelos timos

momentos que tivemos juntos.

Aos demais colegas do curso de Mestrado e Doutorado, Adriana

Tashima, Daniela Forlin, Alessandra Nassif, Luciana Butini, Luciana

Sanglard, Marize Matumoto, Thiago Ardenghi, Sandra Echeverria,

Monique De Benedetto, Ricardo Navarro, Selma Sano Suga e Fernanda

Morais , pelos momentos de convivncia.

Aos funcionrios da Disciplina de Odontopediatria da FOUSP,

Jlio, Marize, Ftima e Clemncia, pelo carinho.

s crianas, mes e pais que participaram deste estudo.

Thais Cocarelli, pelo empenho e colaborao na anlise

estatstica.

Gelva Peixoto da Silva, pela dedicao minha famlia

durante todos esses anos.

Ana Lcia da Silva, por ter administrado minha ausncia no

consultrio durante este perodo.

s colegas Flvia Helosa Monteiro, Flvia Chammas, Marlia

Vanzelli, Walquiria de Cssia Ribeiro e Ana Paula Zaquia, que me

substituram no consultrio neste perodo.

Vnia Martins Bueno de Oliveira Funaro, bibliotecria, pelo

empenho na reviso e correo.

CNPQ, pela bolsa de estudos durante o curso de Mestrado.

Verrastro AP. Avaliao oclusal e miofuncional oral em crianas com dentio decdua completa e mordida aberta anterior antes e aps remoo do hbito de suco de chupeta [Dissertao de Mestrado]. So Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2005.

RESUMO

O objetivo deste estudo foi avaliar caractersticas oclusais e miofuncionais orais em

crianas entre 3 e 5 anos de idade, com mordida aberta anterior e tambm verificar o

comportamento dessas caractersticas aps remoo do hbito de suco de

chupeta. Participaram 69 crianas, 34 com ocluso normal (Grupo Controle) e 35

com mordida aberta anterior (Grupo Mordida Aberta). No Grupo Mordida Aberta, a

mdia da mordida aberta anterior foi 2,96 mm, da sobressalincia foi 4,1 mm e da

distncia intercanina superior foi 28,7 mm. No Grupo Controle, a mdia da

sobressalincia foi 2,6 mm e a da distncia intercanina superior foi 30,3 mm. A

mdia da sobressalincia foi maior (p=0,001) e a mdia da distncia intercanina

superior foi menor (p

no Grupo Controle (respectivamente 35,3%, 35,3%, 23,6%, 17,7%, 32,4% e 38,2%).

A anlise de regresso logstica mltipla identificou a interposio lingual anterior

durante a deglutio (odds ratio 18,97) e durante a fala (odds ratio 9,24) bem como a

postura de lbios entreabertos em repouso (odds ratio 6,23) como as principais

caractersticas miofuncionais orais nas crianas com mordida aberta anterior. Das 35

crianas do Grupo Mordida Aberta, 27 apresentavam hbito de suco de chupeta

ao incio do estudo e, aps orientao, 15 abandonaram o hbito e 12 diminuram a

freqncia do hbito. Observou-se que a taxa de sucesso na remoo do hbito foi

55,6%, sem diferena entre gneros e idades. A remoo do hbito favoreceu, aps

3 meses de acompanhamento, reduo mdia da mordida aberta anterior de 1,97

mm, sendo maior (p

Verrastro AP. Occlusal and oral myofunctional evaluation in children with complete primary dentition and anterior open bite before and after removal of pacifier sucking habit [Dissertao de Mestrado]. So Paulo: Faculdade de Odontologia da USP; 2005.

ABSTRACT

The aim of this study was to evaluate occlusal and oral myofunctional characteristics

in children between 3 and 5 years old, with anterior open bite and also to verify the

behavior of these characteristics, 3 months after removal of pacifier sucking habit.

Sixty nine children participated, 34 presented normal occlusion (Control Group) and

35 presented anterior open bite (Open Bite Group). In the Open Bite Group, the

mean anterior open bite was 2.96 mm, the mean overject was 4.1 mm and the mean

upper intercanine distance was 28.7 mm. In the Control Group, the mean overject

was 2.6 mm and the upper intercanine distance was 30.3 mm. The mean overject

was larger (p=0.001) and the mean upper intercanine distance was smaller (p

logistic regression analysis identified tongue thrust during swallow (odds ratio 18.97)

and during speech (odds ratio 9.24) as well as incompetent lips at rest (odds ratio

6.23) as the main oral myofunctional characteristics in children with anterior open

bite. Of the 35 children in the Open Bite Group, 27 presented pacifier sucking habit at

the beginning of the study and after instruction, 15 abandoned the habit and 12

reduced the frequency of the habit. It was observed that the success rate for habit

removal was 55.6%, without difference related to sex and age. The habit removal

favored, after 3 months of attendance, 1.97 mm mean reduction of anterior open bite,

being larger (p

SUMRIO

p.

1 INTRODUO................................................................................................ 12

2 REVISO DA LITERATURA ................................................................... 14

3 PROPOSIO................................................................................................ 82

4 CASUSTICA MATERIAL E MTODOS ........................................ 83

5 RESULTADOS ............................................................................................... 97

6 DISCUSSO..................................................................................................143

7 CONCLUSES.............................................................................................208

REFERNCIAS................................................................................................210

APNDICES......................................................................................................224

ANEXOS..............................................................................................................230

Introduo 12

1 INTRODUO

Os hbitos de suco no nutritiva, especialmente a chupeta e o dedo, so

fatores etiolgicos de malocluses e alteraes miofuncionais orais em crianas. Na

literatura, no h consenso sobre a prevalncia destes hbitos uma vez que sua

ocorrncia est relacionada com fatores scio-econmico-culturais, alm de

caractersticas individuais de cada criana. Na sociedade ocidental moderna a

prevalncia de hbitos de suco no nutritiva alta, entretanto parece ser menor

em pases da frica e Oriente.

O hbito de suco de chupeta tende a desaparecer espontaneamente a

partir dos 3 anos de idade, medida que a criana cresce e desperta interesse por

outras atividades. J o hbito de suco digital costuma permanecer por maior

perodo de tempo, muitas vezes at os 7 ou 8 anos de idade, e a sua remoo tende

a ser mais difcil uma vez que, neste caso, o objeto succionado faz parte do prprio

corpo da criana e tambm porque pode estar associado com questes emocionais

e psicolgicas mais srias, principalmente nas crianas mais velhas.

As principais alteraes oclusais em crianas com hbito prolongado de

suco no nutritiva so a mordida aberta anterior, a mordida cruzada posterior e

alteraes na inclinao dos dentes anteriores superiores e inferiores.

A presena da chupeta ou dedo no interior da cavidade oral pode promover

alteraes na postura e tnus de lbios e lngua, alm de alterao no tnus das

bochechas. Os lbios tendem a permanecerem entreabertos e a lngua assume uma

posio mais anterior e inferior, podendo comprometer a respirao nasal. Nas

crianas com mordida aberta anterior, o espao que surge em decorrncia da

Introduo 13

ausncia de contato entre os incisivos superiores e inferiores pode ser um convite

para a instalao de hbitos parafuncionais como a interposio lingual anterior

durante a deglutio e fala.

A cavidade oral , portanto, uma rea comum de atuao entre

odontopediatras e fonoaudilogos, que devem estar preocupados com a

manuteno das funes orais e da harmonia facial. Forma e funo so

interdependentes: a funo modeladora da forma e algumas disfunes podem

advir de anomalias morfolgicas. A atuao multidisciplinar envolvendo o

odontopediatra e o fonoaudilogo fundamental na busca do equilbrio entre a

forma e a funo.

Existe consenso na literatura de que a mordida aberta anterior passvel de

auto-correo desde que o hbito de suco no nutritiva seja removido

precocemente, de preferncia at os 4 anos de idade, e desde que a criana possua

um padro de crescimento favorvel. Entretanto, na literatura, h poucos estudos

que indiquem o comportamento das estruturas miofuncionais orais e das funes

orais aps a remoo do hbito.

Desta forma, torna-se interessante investigar as caractersticas oclusais

(mordida aberta anterior, sobressalincia, distncia intercanina superior e relao

canina) e as caractersticas miofuncionais orais (postura e tnus de lbios, postura e

tnus de lngua, tnus de bochechas, respirao, deglutio e fala) em crianas com

mordida aberta anterior antes e aps a remoo do hbito de suco de chupeta.

Reviso da Literatura 14

2 REVISO DA LITERATURA

2.1 Conceito de mordida aberta

Mordida aberta a falta de contato vertical entre os dentes do arco superior e

inferior, podendo manifestar-se na regio anterior e/ou posterior (SILVA FILHO;

GONALVES; MAIA, 1991). Esta malocluso pode acarretar grande

comprometimento esttico e funcional, dificultando a apreenso e corte dos

alimentos, prejudicando tambm a pronncia de alguns fonemas, podendo levar o

indivduo a situaes desagradveis em seu ambiente e criar condies psicolgicas

desfavorveis (CLEMENS; SANCHEZ, 1979/1982).

A mordida aberta uma anomalia complexa com caractersticas prprias e de

difcil tratamento, pois o controle da dimenso vertical requer experincia do

profissional e cooperao do paciente. Esta malocluso freqentemente est

associada a alteraes funcionais do sistema estomatogntico, exigindo tratamento

multidisciplinar que envolve, alm da Odontologia, a Fonoaudiologia, a

Otorrinolaringologia, a Psicologia e a Pediatria. O tratamento precoce desta

malocluso fundamental, pois o tratamento na fase adulta torna-se ainda mais

complexo, com maior possibilidade de reicidiva (BRONZI et al., 2002; CHAMPAGNE,

1995; HENRIQUES et al., 2000; SODR; FRANCO; MONTEIRO, 1998).

Reviso da Literatura 15

2.2 Prevalncia da mordida aberta anterior

Martins et al. (1998) avaliaram 838 crianas, em Araraquara, com dentio

decdua, entre 2 e 6 anos de idade, e encontraram malocluso em 80% da amostra,

acometendo igualmente crianas dos gneros feminino e masculino e de diferentes

nveis scio-econmicos. Frana et al. (2002) avaliaram 72 crianas em Curitiba, na

faixa etria de 3 a 6 anos de idade, e encontraram malocluso em 75% da amostra,

sem diferena entre os gneros.

De acordo com Keski-Nisula et al. (2003), dependendo dos parmetros

utilizados para classificar as caractersticas oclusais, a prevalncia de malocluses

pode chegar a 92,7% nas crianas com incio de dentio mista. Desta forma,

observa-se que a prevalncia de malocluses em crianas com dentio decdua e

incio de dentio mista alta e deve ser considerada um problema de sade

pblica. Nessas faixas etrias, a mordida aberta anterior e a mordida cruzada

posterior so as alteraes oclusais mais freqentemente encontradas, segundo

Stahl e Grabowski (2003).

Foster e Hamilton (1969) avaliaram 100 crianas britnicas, entre 2 e 3 anos

de idade, e verificaram que a prevalncia de mordida aberta anterior foi 24%.

Nanda, Khan e Anand (1973) avaliaram 2500 crianas, entre 2 e 6 anos de

idade, na ndia, e encontraram mordida aberta anterior em somente 2,75% da

amostra.

Nystrm (1981) avaliou longitudinalmente 101 crianas, entre 2 e 6 anos de

idade, na Finlndia, e observou que, entre 2 e 3 anos de idade, a prevalncia de

mordida aberta anterior foi 11% nas meninas e 25% nos meninos.

Reviso da Literatura 16

Clemens e Sanchez (1979/1982) avaliaram 509 crianas, em Porto Alegre,

entre 3 e 5 anos de idade, apresentando dentio decdua completa ou, no mximo,

perda precoce de at 3 molares decduos, com poucas leses de crie e sem

grandes destruies coronrias. Encontraram mordida aberta em 38,11% das

crianas, de canino a canino em praticamente todos os casos e com amplitude de 2

mm em 34,40% dos casos. Houve predomnio desta malocluso nas meninas

(56,27% dos casos) em comparao com os meninos (43,72%).

Woon (1988) avaliou 426 crianas, entre 3 e 6 anos de idade, na Malsia, e

encontrou diferentes prevalncias de mordida aberta anterior em crianas de

diferentes etnias: 5,38% nos chineses, 0,93% nos malasianos e 2,56% nos indianos.

Forte e Bosco (2001) avaliaram 233 crianas em 4 creches da rede municipal

de ensino de Florianpolis e encontraram prevalncia de mordida aberta anterior em

24,8% nas crianas entre 3 e 6 anos de idade, portadoras de dentadura decdua

completa e hgida, sem anomalias dentrias de forma e tamanho. Neste estudo, a

maior prevalncia de mordida aberta anterior ocorreu em crianas do gnero

feminino, porm sem diferena estatstica significante (28,8% nas meninas e 25,0%

nos meninos, na faixa etria dos 3 aos 4 anos de idade; 27,1% nas meninas e

21,8% nos meninos, na faixa etria dos 4 aos 5 anos e 22,5% nas meninas e 21,7%

nos meninos, na faixa etria dos 5 aos 6 anos de idade).

Baldrighi et al. (2001) avaliaram 180 crianas matriculadas em escolas da

rede pblica de Bauru, entre 4 e 6 anos de idade, e encontraram mordida aberta

anterior em 18,89% da amostra.

Takeuti et al. (2001) avaliaram as caractersticas de ocluso em 237

pacientes entre 4 e 14 anos de idade, em tratamento na Clnica de Graduao do

Curso Diurno da Disciplina de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia da

Reviso da Literatura 17

Universidade de So Paulo, durante o ano de 1998, e verificaram prevalncia de

mordida aberta anterior em 33,3% das crianas examinadas com dentadura decdua

e em 18,6% daquelas com dentio mista .

Santana et al. (2001) avaliaram 216 crianas, na faixa etria de 3 a 6 anos

incompletos, em escolas pblicas e particulares na cidade de Aracaju e encontraram

mordida aberta anterior em 24,1% das crianas, com prevalncia ligeiramente maior

no gnero masculino (13%) do que no feminino (11,6%). A prevalncia de mordida

aberta anterior foi maior nas escolas pblicas (28,9%) do que nas particulares

(20,2%).

Pires, Rocha e Cangussu (2001) avaliaram 141 crianas em Salvador, com

mdia de idade de 7,9 anos, no perodo intertransitrio da dentio mista, e

verificaram alta prevalncia de malocluses (71%), sendo encontrada mordida

aberta anterior em 18% da amostra.

Tollara (2001) avaliou 413 crianas, entre 3 e 35 meses de idade, em

Diadema, no Dia de Campanha Nacional de Multivacinao, divididas em 4 grupos,

de acordo com as fases de erupo dos dentes decduos. Nas crianas com

dentio decdua completa, a prevalncia de mordida aberta anterior foi de 38,5%.

Lenci (2002) avaliou a ocluso de 219 crianas, entre 3 e 6 anos de idade, em

uma escola municipal de Limeira e verificou a ocorrncia de mordida aberta em

45,7% da amostra.

Chevitarese, Valle e Moreira (2002) avaliaram 112 crianas, entre 4 e 6 anos

de idade, com dentadura decdua, em duas escolas pblicas no Rio de Janeiro, e

encontraram malocluso em 75,8% da amostra. Estas autoras verificaram que a

mordida aberta anterior foi a malocluso mais prevalente nesta faixa etria, em

ambos os gneros, estando presente em 12,4% dos meninos e 18,7% das meninas.

Reviso da Literatura 18

Verrastro (2003) avaliou 229 crianas, entre 3 e 14 anos de idade, pacientes

Clnica de Graduao do Curso Diurno da Disciplina de Odontopediatria da

Faculdade de Odontologia da Universidade de So Paulo, durante os anos de 2002

e 2003, e encontrou mordida aberta anterior em 30,6% das crianas com dentadura

decdua e em 9,2% das crianas com dentio mista.

Stahl e Grabowski (2003) realizaram estudo epidemiolgico com 1225

crianas com dentadura decdua (idade mdia de 4,5 anos) e 7639 crianas com

dentio mista (idade mdia de 8,9 anos) na cidade de Rostok, na Alemanha.

Encontraram mordida aberta anterior em 6,7% das crianas com dentadura decdua,

sem diferena entre os gneros. Nas crianas com dentio mista, encontraram

mordida aberta anterior em 7,9% da amostra, sendo estatisticamente mais freqente

nas meninas (3,3%) do que nos meninos (2,3%).

2.3 Etiologia da mordida aberta anterior

A etiologia da mordida aberta anterior multifatorial. Os fatores etiolgicos

mais freqentemente associados com esta malocluso so: o padro de

crescimento, a respirao oral, a alterao na deglutio e os hbitos de suco no

nutritiva (BONI; VEIGA; ALMEIDA, 1997; BRONZI et al., 2002; CHAMPAGNE, 1995;

FORTE; BOSCO, 2001; HENRIQUES et al., 2000; KLOCKE; NANDA; KAHL-NIEKE,

2002; MAROTO; GONZALEZ; LAJARDIM, 1998; SODR; FRANCO; MONTEIRO,

1998).

Reviso da Literatura 19

Bowden e Orth (1966b), afirmam que muito difcil determinar precisamente o

papel isolado de um fator etiolgico no desenvolvimento da malocluso na criana,

pois, durante o crescimento, as mudanas na ocluso so dinmicas e

interdependentes.

Para Henriques et al. (2000), nas fases de dentio decdua e mista, os

fatores etiolgicos mais encontrados so os ambientais, principalmente os hbitos

de suco de chupeta e polegar, seguido da respirao oral.

A seguir sero apresentados os possveis fatores etiolgicos da mordida

aberta anterior: padro de crescimento, respirao oral, alterao na deglutio e

hbitos de suco no nutritiva.

2.3.1 padro de crescimento

O desenvolvimento da mordida aberta anterior e sua gravidade esto

diretamente relacionados ao padro de crescimento facial do indivduo. As crianas

que possuem predominncia de crescimento no sentido vertical (dolicofaciais)

apresentam maior potencial para desenvolverem mordida aberta do que aquelas

com padro de crescimento equilibrado (mesofaciais) ou horizontal (braquifaciais). O

padro de crescimento vertical caracteriza-se pelo crescimento excessivo da maxila

neste sentido, principalmente na regio posterior, ocasionando uma altura facial

anterior total desproporcionalmente menor que a altura facial posterior total

(HENRIQUES et al., 2000).

Reviso da Literatura 20

Silva Filho, Okada e Santos (1986) resumem as caractersticas esquelticas

relacionadas com a mordida aberta anterior em: ramo ascendente da mandbula

curto, ngulo gonaco obtuso, pequena altura alveolar na regio do primeiro molar

inferior, planos horizontais excessivamente divergentes e grande dimenso vertical

do tero inferior da face.

Para Champagne (1995), a tendncia de aumento na altura facial anterior

denominada hiperdivergncia e a sua etiologia difcil de ser explicada, no

havendo consenso entre os pesquisadores acerca das suas possveis causas. O

indivduo que apresenta rotao da mandbula no sentido horrio ter maior

crescimento vertical dos ossos nasais, zigomtico e das suturas frontais da maxila

sendo que o crescimento vertical dos molares superiores e inferiores ir exceder o

crescimento dos cndilos da mandbula. Desta forma, a altura facial anterior torna-se

maior que a altura facial posterior. Estes indivduos tambm costumam apresentar

inclinao posterior da poro distal do palato, que faz com que os molares

superiores se posicionem mais inferiormente, acentuando a rotao horria da

mandbula, o que ocasiona aumento ainda maior na altura facial anterior.

Champagne (1995) cita tambm a dimorfose da base do crnio como uma

outra explicao para o desenvolvimento de mordida aberta anterior. Indivduos que

apresentam maiores inclinaes da base do crnio, com conseqente adaptao da

mandbula a esta condio, tm como resultado a hiperdivergncia das bases

sseas e conseqentemente um aumento na altura facial anterior.

O aumento na altura facial ntero-inferior, como resultado da deficincia do

crescimento vertical posterior, da rotao horria da mandbula e de distrbios de

erupo dos dentes associados ao crescimento alveolar posterior da mandbula e da

maxila tambm foram descritos por Sodr, Franco e Monteiro (1998).

Reviso da Literatura 21

Klocke, Nanda e Kahl-Nieke (2002) avaliaram o crescimento crnio-facial por

meio de estudo longitudinal com 7 anos de acompanhamento, em 28 crianas, dos 5

aos 12 anos de idade, atravs de anlises cefalomtricas em telerradiografias

laterais e observaram que o padro esqueletal de mordida aberta anterior persisitiu

mesmo com a ausncia desta malocluso. Neste trabalho, somente 1 das 14

crianas com mordida aberta ainda apresentava mordida aberta anterior ao final do

estudo. As crianas com mordida aberta anterior tiveram altura do ramo mandibular

reduzida, que tendeu a se tornar mais ntida na fase de dentio mista. Estas

crianas tambm apresentaram menores medidas de ANB (que avalia a relao

entre maxila e mandbula), provavelmente decorrente de menores valores de SNA

(que avalia a relao da maxila com a base do crnio) nestas crianas.

As mordidas abertas resultantes desse aumento do tero inferior da face so

consideradas esquelticas e comumente esto associadas a patologias como a

disostose cleidocraniana, hiperplasia condilar e fenda palatina (FORTE; BOSCO,

2001).

2.3.2 respirao oral

De acordo com a Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (www.sbfa.org.br

[25 nov 2005]), o termo bucca significa bochecha e a nomenclatura sugerida para a

boca cavidade oral ao invs de cavidade bucal. Da mesma forma, o termo

respirao bucal incorreto, devendo ser substitudo pelo termo respirao oral.

Reviso da Literatura 22

A criana, ao nascer, respira pelo nariz e, caso no haja interferncias

negativas, causando obstrues, a respirao nasal deve continuar at o final da

vida (FELCIO, 1999). A amamentao desempenha um papel relevante no

desenvolvimento do sistema estomatogntico, estimulando o crescimento ntero-

posterior da mandbula e reforando o circuito neural fisiolgico da respirao

(PASTOR; MONTANHA, 1994).

O beb no respira pela boca, pois sua cavidade oral pequena e est

totalmente ocupada pela lngua. Quando o beb est gripado, costuma ficar

bastante irritado pois, para ele, respirar pela boca uma tarefa praticamente

impossvel (MARCHESAN; KRAKAUER, 1996). Segundo Mikell (1984), ao

nascimento, a cavidade oral corresponde a 1/8 do tamanho que apresentar na vida

adulta, enquanto a lngua j apresenta 1/2 do seu tamanho adulto.

medida que a criana cresce, aprende que pode usar a boca como um

canal de respirao quando houver obstruo de vias areas superiores

(MARCHESAN; KRAKAUER, 1996).

A obstruo das vias areas superiores pode ser causada por hipertrofia das

tonsilas palatinas e faringeanas, desvio de septo, rinites alrgicas e coriza crnica

(HENRIQUES et al., 2000; PIERCE, 1983; URSI; ALMEIDA, 1990). Gurgel et al.

(2003) consideram, alm dos problemas mencionados acima, a ocorrncia de

insuficincia velopalatina, os tumores nasais benignos e malignos e a insuficincia

valvulonasal como agentes etiolgicos da reduo do fluxo areo nasal. Ferreira

(1997) acrescenta outras entidades patolgicas que podem representar um

obstculo respirao nasal tais como: sinquias (seqelas de alguma infeco ou

da tentativa de alguma cirurgia mal sucedida), plipos (formaes inflamatrias

crnicas da mucosa nasal, que se instalam lentamente, obstruindo o livre fluxo

Reviso da Literatura 23

areo) e rinlitos (clculos nasais, raros, formados a partir de pus e sangue

revestidos por sais de clcio e magnsio).

Zavras et al. (1994) avaliaram 20 crianas, respiradores orais e nasais,

atravs de rinometria acstica e verificaram que existem diferenas na geometria

nasal destas crianas. O volume nasal total de crianas com respirao oral

significativamente menor que naquelas que respiram pelo nariz.

Para Josell (1995) e Pierce (1983), em algumas circunstncias, a respirao

oral simplesmente um hbito. Em algum momento da vida a criana apresentou

dificuldade de respirar adequadamente pelo nariz, desenvolvendo um padro de

respirao oral que continuou como um hbito, mesmo aps a correo da

obstruo das vias areas.

Penteado, Almeida e Leite (1995) encontraram prevalncia de respirao oral

em 32% das 402 crianas avaliadas, entre 4 e 7 anos de idade em So Paulo. Neiva

e Wertzner (1996a) verificaram prevalncia respirao oral em 33,33% e de

respirao oronasal em 25,92% das 29 crianas que avaliaram entre 8 e 9 anos de

idade, em So Paulo. Baldrighi et al. (2001) encontraram modo respiratrio alterado

em 15% das 180 crianas avaliadas em Bauru, entre 4 e 6 anos de idade.

Verrastro (2003) avaliou 229 pacientes da Clnica de Graduao do Curso

Diurno da Disciplina de Odontopediatria da Faculdade de Odontologia da

Universidade de So Paulo e observou que, das 27 crianas com mordida aberta

anterior, 3,7% eram respiradores orais e 37,0% eram respiradores oronasais. Nas

176 crianas que no apresentavam alterao oclusal, houve predomnio da

respirao nasal, sendo observada em 64,8% dos casos.

Quando a criana respira pela boca, a lngua fica numa posio mais anterior

e inferior e a mandbula posiciona-se mais pstero-inferiormente, de modo a facilitar

Reviso da Literatura 24

a passagem de ar. Com isto, a lngua deixa de pressionar o palato e libera os dentes

posteriores para uma erupo passiva, o que resulta em abertura da mordida na

regio anterior. Sem pressionar convenientemente o palato, a lngua deixa de

exercer sua ao modeladora, o que resulta tambm em atresia transversal da

maxila, caracterizada pela mordida cruzada posterior (FERREIRA, 1997; GURGEL

et al., 2003; HENRIQUES et al., 2000; MIKELL, 1984; PADOVAN, 1976; PIERCE,

1983; SUBTELNY, 1980; URSI; ALMEIDA, 1990).

Para Josell (1995) e Schinestsck (1996), alm da projeo anterior da lngua

e da rotao anterior da mandbula, os indivduos com respirao oral costumam

apresentar alteraes na postura da cabea e do corpo.

Emmerich et al. (2004) avaliaram 291 crianas, com 3 anos de idade, em

Vitria, com objetivo de analisar a relao existente entre as alteraes

oronasofaringeanas e a prevalncia de malocluses. Concluram que as crianas

com mordida aberta anterior tiveram risco relativo 2,46 vezes maior de apresentarem

respirao oral e que aquelas com mordida cruzada tiveram risco relativo 1,45 vezes

maior de apresentarem respirao oral, em comparao com crianas sem essas

alteraes oclusais.

Mattar et al. (2004) verificaram a influncia da respirao oral crnica sobre o

crescimento dento-facial em 73 crianas, entre 3 e 6 anos de idade, em Ribeiro

Preto, atravs da anlise de modelos de gesso e de telerradiografias laterais e

encontraram diferenas no padro esqueletal das crianas com respirao nasal e

oral. Os respiradores orais apresentaram maior inclinao dos planos palatino e

mandibular, com padro de crescimento dolicofacial, apresentando menor altura

facial posterior e menor distncia intermolares superiores. No entanto, a prevalncia

Reviso da Literatura 25

de mordida cruzada posterior no foi significantemente maior nas crianas com

respirao oral, comparada quelas com respirao nasal.

O estudo de Oulis et al. (1994) avaliou 120 crianas, na Grcia, com tonsilas

faringeanas hipertrficas (podendo ou no apresentar tonsilas palatinas

hipertrficas), que foram submetidas a adenoidectomia. A severidade da obstruo

das vias areas superiores de cada paciente foi avaliada em telerradiografia lateral e

tambm com base em critrios cirrgicos. Os autores observaram que 47% das

crianas examinadas apresentavam mordida cruzada posterior e que a ocorrncia

desta malocluso foi maior nas crianas que apresentavam obstruo severa de vias

areas superiores (obstruo superior a 75%). Neste estudo, os autores verificaram

tambm que a hipertrofia das tonsilas palatinas exerceu papel mais importante no

desenvolvimento de mordida cruzada que a hipertrofia de tonsilas faringeanas

(respectivamente p=0,128 e p=0,00001). Os resultados deste trabalho mostraram

ainda que, nestas crianas, o desenvolvimento de mordida cruzada ocorreu mesmo

naquelas que no apresentavam relato de hbitos de suco no nutritiva.

Daniel, Tanaka e Essenfelder (2004) avaliaram 60 crianas, entre 6 e 8 anos,

divididas em 4 subgrupos, de acordo com as caractersticas da ocluso (normal ou

malocluso classe I) e da respirao (nasal ou oral) e no encontraram correlao

entre o modo respiratrio oral e a ocorrncia de mordida cruzada posterior. Os

resultados deste estudo no indicaram diferenas significantes nas dimenses

transversais da face nestas crianas, atravs de telerradiografias pstero-anteriores.

De acordo com Marchesan e Krakauer (1996), os indivduos que respiram

pela boca podem apresentar uma variedade de sinais e sintomas que caracterizam a

sndrome do respirador oral. Esses sintomas incluem alteraes crnio-faciais

(padro de crescimento predominantemente vertical, palato estreito e profundo,

Reviso da Literatura 26

atresia maxilar, hipodesenvolvimento da cavidade nasal, aumento de

sobressalincia, mordida cruzada posterior, mordida aberta anterior e malocluso

classe II de Angle), alteraes nos rgos fonoarticulatrios (alteraes no tnus de

lbios e bochechas, everso do lbio inferior, ressecamento dos lbios, hiperplasia

gengival, protruso da lngua e alterao na propriocepo) e alteraes nas

funes orais (mastigao ineficiente, distrbios na deglutio e na fala). Alm disso,

freqentemente exibem dificuldade de concentrao, que prejudica o rendimento

escolar. Geralmente no praticam atividades fsicas e costumam ser apticos, o que

compromete o convvio social.

2.3.2 alterao na deglutio

O uso do termo deglutio alterada para designar a patologia mais conhecida

como deglutio atpica passou a ser encontrado na literatura a partir da dcada de

80 (NEIVA; WERTZNER, 1996a). O termo deglutio atpica deve ser evitado pois

tem conotao negativa, ofensivo, alm de ser muito limitado para descrever o

distrbio miofuncional nesta funo oral (HANSON; PEACHEY, 1991).

Os distrbios na deglutio, caracterizados pelas presses atpicas de lngua,

como por exemplo, a interposio lingual anterior, promovem o desequilbrio no

desenvolvimento crnio-facial, pressionando os dentes anteriores, ao invs da papila

palatina e podem ocasionar mordida aberta anterior (EMMERICH, 1999; FERREIRA,

1997; QUELUZ; GIMENEZ, 2000; SILVA FILHO; GONALVES; MAIA, 1991).

Reviso da Literatura 27

A postura inadequada da lngua durante o repouso tambm deve ser

considerada na etiologia da mordida aberta anterior (JOSELL, 1995; MIKELL, 1984).

Por motivos endgenos ou em decorrncia da respirao oral, a lngua pode assumir

uma posio mais anteriorizada, ficando posicionada entre os incisivos, podendo

ocasionar abertura da mordida na regio anterior (JOSELL, 1995). As presses da

lngua em repouso podem ser maiores do que as que ocorrem durante a deglutio

(GELLIN, 1978; PIERCE, 1988).

Para Silva Filho, Gonalves e Maia (1991), a mordida aberta anterior causada

pela interposio lingual anterior apresenta um contorno difuso ou retangular.

No recm-nascido, h uma desproporo entre o tamanho da lngua e o

espao oral, e o maior volume da lngua em relao s estruturas que a rodeiam

est relacionado importante funo na alimentao, suco e deglutio. O seu

tamanho, aparentemente exagerado, facilita o contato com o lbio inferior,

assumindo assim uma postura muito importante para a amamentao (GRANVILLE-

GARCIA et al., 1999). No beb, a postura da lngua anteriorizada, pois ela tem que

se adaptar cavidade oral, que apresenta pequenas dimenses. Nesta posio, ela

tambm facilita a passagem de ar pelo trato respiratrio (GELLIN, 1978).

A deglutio infantil caracterizada pela interposio da lngua entre os

rodetes gengivais, em estreita relao com a superfcie lingual dos lbios para criar o

vedamento necessrio destes (EMMERICH, 1999; FERREIRA, 1997). No beb, a

estabilizao da mandbula, durante a deglutio, realizada pelos msculos

inervados pelo stimo par craniano, o nervo facial (EMMERICH, 1999; FERREIRA,

1997; GRANVILLE-GARCIA et al., 1999).

Com a chegada dos incisivos inferiores, durante o final do primeiro ano de

vida, ocorrem diversos fenmenos de maturao da deglutio, que influenciam o

Reviso da Literatura 28

funcionamento da musculatura orofacial. H uma induo mais precisa de abertura e

fechamento da boca, impondo uma postura mais retrusiva da lngua (EMMERICH,

1999; FERREIRA, 1997). Segundo Cohen e Vig (1976), a lngua cresce e tende a

assumir uma postura mais inferior com o passar dos anos, havendo integrao

funcional entre o tamanho da lngua e sua posio no interior da cavidade oral.

Do ponto de vista neurofuncional, os msculos inervados pelo quinto par

craniano, o nervo trigmio, assumem lentamente o papel de estabilizao muscular

durante a deglutio, e os msculos da expresso facial abandonam as primitivas

funes de suco e deglutio comandadas pelo stimo par craniano, o nervo

facial, e comeam a aprender as funes mais delicadas e complicadas das

expresses da fala e da face humana (EMMERICH, 1999).

A maturao do padro de deglutio uma adaptao s alteraes no

tamanho do espao orofarngeo que acontece medida que ocorre o crescimento

do tero inferior da face e do ramo mandibular, a involuo do tecido linfide e o

crescimento vertical das vrtebras cervicais, permitindo que a lngua assuma uma

posio de repouso mais posterior na cavidade oral (GELLIN, 1978; PIERCE, 1988).

A determinao do perodo limite para o incio da maturao da deglutio

um aspecto controverso na literatura. A suspenso da deglutio infantil e o

aparecimento da deglutio madura no so fenmenos simples e no ocorrem de

maneira precisa. Acredita-se na existncia de uma fase transicional para o

aprendizado da deglutio madura, onde esto presentes caractersticas da

deglutio infantil e da madura (GRANVILLE-GARCIA et al., 1999; OLIVEIRA;

SILVA; BASTOS, 1997).

Para Turgeon-O`Brien et al. (1996), com a erupo dos incisivos inferiores,

por volta dos 6 meses de vida, a lngua deixa de se interpor na regio anterior, e a

Reviso da Literatura 29

criana comea a desenvolver um padro maduro de deglutio, em que h menor

participao da musculatura perioral, pois os lbios e dentes passam a entrar em

contato e a lngua fica confinada no interior dos arcos dentrios. Muitas crianas s

alcanam a deglutio madura entre doze a quinze meses, podendo existir uma

variao na maturao dos elementos neuromusculares para cada indivduo

(EMMERICH, 1999). Para Ferreira (1997), a maturao da deglutio comea a

ocorrer por volta dos 2 aos 4 anos de idade. Para Mikell (1984), a deglutio infantil

pode ser considerada normal at os 7 anos de idade.

Embora no seja possvel determinar o momento exato em que a maturao

da deglutio deva ocorrer, sabe-se que a deglutio infantil persistente um

quadro muito raro, geralmente associado a sndromes de desenvolvimento

esqueltico crnio-facial, acompanhadas ou no de deficincias neurais. A lngua,

nestes casos, praticamente no apresenta atividade na sua poro posterior. Estes

pacientes costumam demonstrar fortes contraes dos lbios e musculatura facial,

exibindo face de careta durante a execuo da deglutio, forte interposio de

lngua entre os dentes anteriores e posteriores, baixo limiar de vmito e dificuldades

de mastigao (JOSELL, 1995; KURAMAE et al., 2001; OLIVEIRA; SILVA; BASTOS,

1997).

A deglutio madura apresenta como caractersticas o selamento labial, a

presena dos dentes decduos entrando em ocluso, com a participao dos

msculos masseteres, e a justaposio da lngua em relao ao palato. H

contrao dos msculos elevadores da mandbula, levando os dentes em posio e

ocorre pouca atividade dos lbios e bochechas (BORGES et al., 2001; EMMERICH,

1999; FERREIRA, 1997; GRANVILLE-GARCIA et al., 1999; KURAMAE et al., 2001;

PADOVAN, 1976; OLIVEIRA; SILVA; BASTOS, 1997). A participao da

Reviso da Literatura 30

musculatura perioral durante a deglutio deve ser passiva, para promover o

vedamento anterior. No deve ocorrer mmica facial e os msculos orbiculares no

participam no ato da deglutio (BORGES et al., 2001; JABUR, 2001; KURAMAE et

al., 2001; PADOVAN, 1976; RODRIGUES, 1998).

A etiologia da alterao na deglutio ainda no bem conhecida

(TURGEON-O`BRIEN et al., 1996). Vrias so as causas que podem levar a

alteraes na deglutio: problemas neurolgicos srios (raros, mas dificultam o

controle sobre a musculatura e coordenao motora), hipertrofia de tonsilas

faringeanas e palatinas e respirao oral (levam projeo anterior da lngua), o

reposicionamento cirrgico da mandbula (faz com que a lngua seja posicionada

posteriormente), macroglossia (rara, mas leva a uma alterao no posicionamento

da lngua no interior da cavidade oral), assimetria da lngua (faz com que a lngua

assuma uma posio mais anterior na cavidade oral), hipotonia de lngua (deixa de

apresentar fora suficiente para juntar o alimento e pressionar o palato), freio lingual

curto (limita os movimentos da lngua), perdas precoces e diastemas anteriores

(podem ser convidativos para a projeo da lngua nestes espaos), carncia de

vitaminas A, C e complexo B (podem ocasionar sintomatologia dolorosa na mucosa

lingual e lngua), hbitos de suco nutritiva e no nutritiva prolongados (retardam a

maturao da deglutio), hbitos alimentares inadequados na primeira infncia

(esto associados com alterao postural da lngua) e razes anatmicas

(malocluses que geram uma alterao da postura de lngua e lbios forma

anatmica) (KURAMAE et al., 2001; MODESTO; BASTOS; GLEISER, 1994;

OLIVEIRA; SILVA; BASTOS, 1997).

As crianas aleitadas com bico de mamadeira muito longo ou com orifcio

aumentado realizam pouco trabalho dos rgos fonoarticulatrios e passam a

Reviso da Literatura 31

apresentar alterao postural da lngua, gerando alterao na deglutio (OLIVEIRA;

SILVA; BASTOS, 1997). Se a criana for deglutir enquanto suga a chupeta, dedo ou

mamadeira, no ser capaz de posicionar adequadamente as estruturas orais

envolvidas (CASANOVA, 2000).

Vaidergorn (1991) avaliou 160 crianas, entre 7 e 10 anos de idade, com

deglutio alterada, em So Paulo e verificou que 6,25% usavam mamadeira, 9,37%

succionavam dedo, 30% utilizavam chupeta, 6,25% succionavam dedo e chupeta,

3,12% succionavam dedo e usavam mamadeira e 29,38% succionavam chupeta e

usavam mamadeira.

Segundo Bertolini e Paschoal (2001), que avaliaram 100 crianas, entre 7 e 9

anos de idade, em Campinas, a prevalncia de alterao na deglutio foi de 76%.

Penteado, Almeida e Leite (1995) encontraram prevalncia de 93%, avaliando 402

crianas, entre 4 e 7 anos de idade, em So Paulo.

Segundo Baldrighi et al. (2001), que avaliaram 180 crianas, entre 4 e 6 anos

de idade, em Bauru, as alteraes na deglutio estiveram presentes em 70,55%

das crianas, sendo que apenas 29,44% apresentaram deglutio normal. Segundo

estes autores, h correlao entre a presena de malocluso e a alterao na

deglutio, sendo que o aumento na alterao na deglutio acarreta em aumento

nas alteraes oclusais e vice-versa.

Os principais desvios que podem ser observados na deglutio so o

pressionamento atpico da lngua, a ausncia de contrao do masseter, a

participao da musculatura perioral e a ocorrncia de sopro ao invs de suco

(BORGES et al., 2001; MODESTO; BASTOS; GLEISER, 1994; OLIVEIRA; SILVA;

BASTOS, 1997; PADOVAN, 1976; SOUZA; ARAJO, 1984).

Reviso da Literatura 32

Nestas situaes, a lngua deixa de exercer presso contra o palato e passa a

atuar em uma posio mais anterior e inferior, pressionando os dentes anteriores

durante a deglutio. A musculatura externa, que est sem fora oposta dentro da

cavidade oral para ser contrabalanceada, exerce presso para dentro de maneira

intensa. Essas foras intermitentes atuam sobre as estruturas sseas, resultando

num estreitamento da face e numa compresso da parede superior do palato duro

causando estreitamento do arco maxilar, extruso dos dentes posteriores, mordida

aberta anterior e mordida cruzada posterior (BORGES et al., 2001; SODR;

FRANCO; MONTEIRO, 1998).

A interposio da lngua tende a acentuar a mordida aberta, uma vez que ela

projetada anteriormente na tentativa de promover o vedamento labial necessrio

para a deglutio e que no obtido pelos lbios, que geralmente esto hipotnicos

(SODR; FRANCO; MONTEIRO, 1998).

Para Larsson (1986, 1994) e Silva Filho, Gonalves e Maia (1991), as

crianas com mordida aberta anterior frequentemente apresentam interposio

lingual anterior.

Autores como Bronzi et al. (2002), Coeli e Toledo (1994), Ferreira (1997),

Henriques et al. (2000), Silva Filho, Gonalves e Maia (1991), Silva Filho, Okada e

Santos (1986) e Ursi e Almeida (1990) consideram que a interposio lingual anterior

um fator secundrio no desencadeamento da mordida aberta, ou seja, a alterao

funcional acontece como uma adaptao condio morfolgica existente. O

indivduo passa a utilizar a lngua para vedar a regio anterior da boca durante a

deglutio, a fim de prevenir que lquidos e alimentos escapem. A interposio

lingual pode ocorrer durante a fala ou durante a posio postural de repouso da

Reviso da Literatura 33

mesma. Trazer os lbios de encontro um ao outro e colocar a lngua entre os dentes

anteriores a nica maneira de alcanar um vedamento anterior.

A relao entre as alteraes na deglutio e as alteraes posturais da

lngua em pacientes com mordida aberta anterior foi avaliada no trabalho de

Verrastro (2003), que encontrou a posio de lngua em repouso, situada entre as

arcadas dentrias em 25,9% das crianas e interposio lingual anterior durante a

deglutio em 70,4%.

2.3.4 hbitos de suco no nutritiva

Entende-se hbito como automatismo adquirido, comportamento praticado

muitas vezes, que se torna inconsciente e passa a ser incorporado personalidade

do indivduo (COELI; TOLEDO, 1994).

Dentre os hbitos orais deletrios, Queluz e Gimenez (2000) enumeram:

suco de polegar e outros dedos, suco de chupetas, lpis e outros objetos,

projeo da lngua, suco e mordida do lbio, deglutio alterada, m postura do

sono, m postura na viglia, onicofagia, perturbaes funcionais gnatolgicas,

abraso, bruxismo, deslocamento mandibular lateral por contatos prematuros e

respirao oral.

Para Baer e Lester (1987), a necessidade instintiva de suco forte nos

primeiros trs meses de vida e diminui por volta dos 6 a 7 meses.

No estudo de Adair, Milano e Dushku (1992), a maioria das crianas iniciou o

hbito de suco de chupeta entre o nascimento e o terceiro ms de vida (2,8

Reviso da Literatura 34

meses, em mdia), com durao diria mdia de 6,6 horas. No estudo de Coletti e

Bartholomeu (1998), 88,4% das crianas iniciaram o hbito de suco de chupeta

logo aps o nascimento e na maioria das vezes porque a famlia tem o costume de

oferec-la com o intuito de acalmar o beb.

Para Rabello et al. (2000), o incio do hbito de suco no nutritiva ocorre no

perodo do nascimento aos 3 anos de idade e a maior atividade do hbito ocorre no

perodo da noite, para a criana adormecer, podendo ocorrer tambm durante o dia

e a noite.

Para Christensen e Sanders (1987), os momentos em que h maior chance

da criana sugar so na hora de dormir, quando assiste televiso, durante a tarde,

quando brinca, e em momentos de cansao e aborrecimento. Para Coletti e

Bartholomeu (1998), os motivos que levam as crianas a procurarem a chupeta so:

para dormir, quando esto nervosas ou tensas, depois da amamentao, quando

esto com fome e para ver televiso.

Juberg et al. (2001) avaliaram, atravs de questionrios entregues aos pais,

107 crianas entre 0 e 18 meses e 110 entre 19 e 36 meses em Nova York e

verificaram que existe uma variabilidade muito grande em relao aos objetos que

as crianas costumam levar boca, como por exemplo mordedores, brinquedos de

plstico, bichos de pelcia e outros artigos como lpis, tigelas, colares, cobertores,

chaves, chaveiros, aparelhos de telefone, controles remotos, entre outros.

Entretanto, os autores observaram que a chupeta foi o objeto mais freqentemente

utilizado, com durao aproximada de 108 minutos por dia nas crianas entre 0 e 18

meses, e de 126 minutos por dia naquelas entre 19 e 36 meses, no havendo

diferena entre a durao da suco de chupeta nas duas faixas etrias avaliadas. A

durao total da suco de outros objetos foi muito menor em ambos os grupos: 32

Reviso da Literatura 35

minutos para as crianas entre 0 e 18 meses e 4 minutos para aquelas entre 19 e 36

meses, sendo significantemente menor no grupo das crianas mais velhas.

Lindsten, Larsson e Ogaard (1996) tambm estudaram a durao da suco

de chupeta em 40 crianas com 3 anos de idade, na Sucia e Noruega, por meio de

filmagem durante a apresentao de um filme de cerca de 15 minutos. Observaram

que as meninas o fizeram por perodos mais longos que os meninos e que o fato da

me levar a chupeta quando sai de casa com a criana esteve relacionado com

suco por perodos mais prolongados. Os autores verificaram tambm que todas as

crianas utilizavam a chupeta para adormecer e que este era o perodo mais

importante para a sua utilizao.

Os hbitos de suco no nutritiva , especialmente a suco de chupeta e

dedo, auxiliam no desenvolvimento e na manuteno da mordida aberta anterior

sendo que a maioria das crianas com hbitos de suco desenvolvem mordida

aberta anterior (FORTE; BOSCO, 2001).

2.3.4.1 etiologia dos hbitos de suco no nutritiva

No ciclo evolutivo do beb, nos primeiros 6 meses de vida, as funes orais

so orientadas principalmente por estmulos tteis, sobretudo os dos lbios e parte

anterior da lngua (PASTOR; FRANCO; LEITE, 2000).

A boca um dos maiores centros de terminaes nervosas do corpo humano.

Desde a vida intra uterina, o ser humano suga instintivamente a lngua, os lbios e

os dedos, de tal forma que, ao nascimento, a funo de suco encontra-se

Reviso da Literatura 36

plenamente desenvolvida. A boca e a suco so extremamente importantes para o

recm nascido, pois so fonte de alimentao, segurana e prazer (ESTRIPEAUT;

HENRIQUES; ALMEIDA, 1989).

O impulso neural da suco, presente desde a vida intra-uterina, normal na

criana, garantindo sua sobrevivncia e pode ser considerada a primeira fase da

mastigao, uma vez que ambas envolvem os mesmos msculos: pterigodeos

laterais, pterigodeos mediais, massteres, temporais, digstrico, genohiodeo e

milohiodeo. O intenso trabalho muscular necessrio para os movimentos de

ordenha do peito, que so abaixar, protruir, elevar e retruir a mandbula, faz com que

os msculos sejam preparados fisicamente para, no futuro, exercerem uma boa

funo mastigatria (CARVALHO, 1995; SERRA-NEGRA; PORDEUS; ROCHA

JNIOR, 1997; TURGEON-O`BRIEN et al., 1996). Os movimentos protrusivos e

retrusivos da mandbula, bem como o deslocamento no plano horizontal so

sincronizados com a deglutio e a respirao (PASTOR; MONTANHA, 1994).

O aleitamento natural alm de exercer um papel no desenvolvimento das

estruturas anatmicas e funes orais do recm nascido, tambm representa

importante funo psicolgica, pois permite um ntimo contato entre me e filho, num

ato de amor e doao (COLETTI; BARTHOLOMEU, 1998; PASTOR; MONTANHA,

1994; TURGEON-O`BRIEN et al., 1996).

Quando a criana aleitada artificialmente , o fluxo de leite bem maior que

no aleitamento natural e, portanto, a criana se satisfaz nutricionalmente num menor

tempo e com menor esforo. A xtase emocional em relao ao impulso da suco

no atingido, e a criana procura substitutos como o dedo, chupeta e objetos para

satisfazer-se (BLACK; KVESI; CHUSID, 1990; CARVALHO, 1995; PASTOR;

Reviso da Literatura 37

FRANCO; LEITE, 2000; QUELUZ; GIMENEZ, 2000; SERRA-NEGRA; PORDEUS;

ROCHA JNIOR, 1997; TURGEON-O`BRIEN et al., 1996).

Essa uma das teorias que procura explicar a etiologia dos hbitos de suco

no nutritiva, afirmando que a causa primria do hbito oral uma suco

insuficiente no seio ou na mamadeira, pois os lactentes gostam do ato de suco

mesmo depois que sua fome est satisfeita (BLACK; KVESI; CHUSID, 1990;

CARVALHO, 1995; RAMOS-JORGE; REIS; SERRA-NEGRA, 2000).

Larsson (1975) encontrou forte correlao negativa entre o aleitamento

natural por mais de 6 meses e a existncia de hbitos de suco no nutritiva em

3349 crianas suecas com 4 anos de idade.

Vadiakas, Oulis e Berdouses (1998) avaliaram 316 crianas, entre 3 e 5 anos

de idade, na Grcia, e verificaram que 57% das crianas aleitadas artificialmente,

por perodo superior a 3 anos, apresentavam hbito de suco de chupeta. Os

autores afirmam que essa associao pode ser explicada pelo fato de que o bico da

mamadeira e a chupeta so produzidos com o mesmo material. Nesse estudo

observou-se menor prevalncia do hbito de suco de chupeta em crianas que

receberam aleitamento natural por perodo superior a 6 meses (9%).

Leite et al. (1999) avaliaram 100 crianas, entre 2 e 11 anos de idade, em Juiz

de Fora, e observaram que nenhuma criana que fez uso exclusivo de aleitamento

materno chupava dedo e que 73% delas no faziam uso de chupeta. Comparando

crianas com aleitamento materno exclusivo com aquelas que receberam

aleitamento artificial ou misto, as autoras encontraram diferena estatstica

significante com relao ao uso de chupeta, sendo muito mais freqente nos dois

ltimos grupos.

Reviso da Literatura 38

Serra-Negra, Pordeus e Rocha Jnior (1997) avaliaram 289, crianas entre 3

e 5 anos de idade, em Belo Horizonte, e observaram que as crianas que nunca

receberam aleitamento materno, ou que o fizeram por um perodo de apenas 1 ms,

apresentaram risco 7 vezes superior de desenvolverem hbitos deletrios (suco

de dedo, chupeta, morder objeto ou onicofagia) quando comparadas com aquelas

que foram amamentadas por perodo de, no mnimo, 6 meses. As crianas que

receberam aleitamento artificial por perodo superior a 1 ano apresentaram risco 10

vezes superior de desenvolverem hbitos orais deletrios, comparadas com aquelas

que nunca se alimentaram com mamadeiras (SERRA-NEGRA; PORDEUS; ROCHA

JNIOR, 1997).

Baldrighi et al. (2001) tambm obtiveram resultados significativos quando

investigaram a relao entre o tipo de aleitamento e a ocorrncia do hbito de

suco de chupeta em 180 crianas, entre 4 e 6 anos de idade, em Bauru. A

ocorrncia de aleitamento materno diminuiu a incidncia de hbito de suco no

nutritiva e a utilizao de aleitamento artificial levou a uma tendncia contrria.

No entanto, autores como Ravn (1974) e Zadik, Stern e Litner (1977) no

conseguiram estabelecer relao to direta entre o tipo e durao de aleitamento e o

surgimento dos hbitos de suco no nutritiva.

Para Santi, Nakano e Ferreira (2004), no h posio consensual e

convergente sobre a verdadeira relao entre o uso de mamadeiras e o desmame

precoce. Para Bowden e Orth (1966a), outros fatores devem estar envolvidos, pois

h relatos de crianas aleitadas artificialmente e que no desenvolvem hbitos de

suco no nutritiva.

Uma segunda teoria a psicanaltica de Freud, que considera a boca como

uma zona auto-ertica de prazer precoce. Esta teoria afirma que a persistncia do

Reviso da Literatura 39

hbito oral est relacionada fase oral do desenvolvimento, e que pode se tornar

uma fixao ou levar regresso infantil. Tanto a fixao como a regresso, devem

ser considerados distrbios emocionais, que podem ocorrer devido a algum distrbio

psicolgico e que podem ser vistos como a inabilidade de lidar com o estresse ou

como uma reao ansiedade. Nestes casos, a suco no nutritiva pode ser

apenas uma das manifestaes de insegurana ou de desajuste emocional, da

mesma forma que medo do escuro, objetos, insetos, cachorros e cobras. Enurese

noturna, inabilidade em se relacionar com colegas, ou conflitos em casa como

cimes e separao dos pais podem contribuir para a permanncia do hbito. Em

outras palavras, a suco no nutritiva pode ser a manifestao de conflitos internos

e emocionais profundos e, de acordo com esta teoria, a remoo abrupta do hbito

poderia afetar o desenvolvimento emocional da criana, podendo levar a uma

substituio do sintoma por outro comportamento indesejado (BAYARDO et al.,

1996; BLACK; KVESI; CHUSID, 1990; JOSELL, 1995; LEVINE, 1998; LOCKS et

al., 2001; MORLEY; MCINTYRE, 1994; RAMOS-JORGE; REIS; SERRA-NEGRA,

2000).

A terceira teoria a do aprendizado, que no descreve vnculos emocionais

associados aos hbitos de suco no nutritiva e defende que este comportamento

adquirido por respostas adaptativas durante o estgio precoce do desenvolvimento

e que se repete posteriormente, apenas como um costume. Os defensores desta

teoria defendem que o tratamento restritivo abrupto da suco no implica em riscos

de substituio do sintoma ou distrbios emocionais (BLACK; KVESI; CHUSID,

1990; JOSELL, 1995; LEVINE, 1998; LOCKS et al., 2001; MORLEY; MCINTYRE,

1994; RAMOS-JORGE; REIS; SERRA-NEGRA, 2000).

Reviso da Literatura 40

Para Black, Kvesi e Chusid (1990), as teorias no so totalmente

incompatveis entre si e bem possvel que a criana inicie a suco por uma

determinada razo, que a sustente por outro motivo e que, nas idades

subseqentes, a mantenha por outros fatores. De acordo com Josell (1995), o

tratamento dos hbitos de suco no nutritiva deve levar em considerao todas as

teorias.

2.3.4.2 prevalncia dos hbitos de suco no nutritiva

De acordo com Larsson e Dahlin (1985), a prevalncia de suco de chupeta

tem aumentado muito nas ltimas dcadas. Estes autores realizaram estudo com

objetivo de verificar a prevalncia de suco de chupeta e dedo em populaes em

diferentes reas geogrficas, culturas e perodos. Foram avaliados 3 grupos: grupo

A (415 crianas africanas, residentes em reas rurais), grupo B (20 crnios

encontrados na Escandinvia, datados de 1000 a 1500 depois de Cristo,

pertencentes uma coleo da Universidade de Oslo, apresentando a dentadura

decdua intacta) e grupo C (280 crianas suecas). Os resultados deste estudo

mostraram que a suco de dedo e chupeta foi rara nas crianas africanas e

tambm era nas crianas que viveram em pocas passadas, entretanto, entre as

crianas suecas, 90% apresentavam hbitos de suco de dedo ou chupeta . Esta

diferena marcante na prevalncia de hbitos de suco no nutritiva, em diferentes

culturas e pocas, sugere que a sociedade ocidental contenha fatores de essencial

relevncia na gnese dos hbitos de suco de chupeta e dedo.

Reviso da Literatura 41

Para Larsson, Ogaard e Lindsten (1992), a prevalncia de suco de chupeta ,

na Sucia e na Noruega, aumentou de 45% para as crianas nascidas em 1961 para

70% das nascidas em 1986. A prevalncia de crianas com este hbito aos 3 anos

de idade aumentou de 10% para 46%. Os autores supem que a persistncia do

hbito de suco de chupeta em crianas maiores que 3 anos tambm esteja

relacionada com uma maior durao na sua utilizao diria, uma vez que muitas

crianas permanecem com a chupeta o dia inteiro, inclusive desenvolvendo a

capacidade de falar sem remov-la da cavidade oral. Este estudo constatou que, no

mesmo perodo, a prevalncia de suco digital caiu de 30% para 18%.

Larsson (1975) avaliou 3349 crianas com 4 anos de idade, na Sucia, e

encontrou suco de chupeta em 20% da amostra e suco digital em 18%. O autor

observou que mais da metade das crianas (54,55%) j havia utilizado chupeta em

algum momento da vida, e que 20% ainda faziam uso de chupeta. Neste estudo, os

hbitos de suco de dedo e chupeta foram mais freqentes nas meninas que nos

meninos e no foi observada correlao entre o fato da me trabalhar fora e a

presena de hbitos orais.

Bayardo et al. (1996) avaliaram 1600 crianas, entre 2 e 15 anos de idade, no

Mxico, e encontraram hbitos orais em 56,8% da amostra. A maior prevalncia foi

de onicofagia, presente em 23,7%, seguida do bruxismo (23,6%), respirao oral

(11,7%), suco digital (11,3%), suco de lbios ou lngua (6,9%) e outros hbitos

(2,4%). Esses hbitos foram mais comuns nas meninas que nos meninos e nas

crianas com problemas de sade geral, especialmente doenas crnicas, como

alergias, amigdalites e otites. Os autores observaram que os filhos nicos estiveram

mais vulnerveis a desenvolverem hbitos de suco no nutritiva, possivelmente

em funo de super proteo, solido e isolamento destas crianas.

Reviso da Literatura 42

No estudo de Vadiakas, Oulis e Berdouses (1998), com 316 crianas, entre 3

e 5 anos de idade, na Grcia, a prevalncia do hbito de suco de chupeta foi 55%

e de suco digital 23%.

Soligo (1999) avaliou 164 crianas, entre 3 e 6 anos de idade, em Jundia, e

verificou que 57,31% apresentavam hbitos de suco de chupeta, dedo ou

mamadeira. Dessas crianas, 3,65% realizavam suco digital, 20,73% de chupeta e

50% de mamadeira, sem diferena estatstica entre os gneros.

Alves et al. (1999) avaliaram 105 crianas do sexo feminino, com faixa etria

entre 6 a 13 anos, institucionalizadas no Rio de Janeiro. Verificaram a ausncia de

hbitos em 55,2% da amostra. O hbito de suco digital foi encontrado em 29,5%

das crianas, sendo que 15,2% apresentavam histria de suco de dedo ou

chupeta em outra poca da vida. O dedo mais utilizado foi o polegar, numa

prevalncia de 90,3%, seguido do dedo mdio com 6,5% e dos dedos mnimo e

anular (3,2%).

Pires, Rocha e Cangussu (2001) avaliaram 141 crianas com dentio mista e

idade mdia de 7,9 anos, em Salvador, e verificaram que 64% das crianas

apresentavam suco de dedo, 34% chupeta e 2% outros (suco de lngua).

Valena et al. (2001) avaliaram 689 pronturios de crianas, entre 4 e 12 anos

de idade, atendidas na Disciplina de Odontopediatria da Universidade Federal da

Paraba e encontraram prevalncia de diferentes hbitos orais em 82% dos meninos

e 92% das meninas, sem diferena estatstica quanto ao gnero. A onicofagia foi o

hbito mais freqentemente encontrado na amostra (26%), seguido do hbito de

morder objetos (22%). A suco digital foi encontrada em 5% dos meninos e 8% das

meninas. A chupeta era utilizada por 6% dos meninos e 5% das meninas. Verificou-

se que as meninas, com freqncia, apresentavam mais de um hbito: 36%

Reviso da Literatura 43

possuam 2 hbitos diferentes e 24%, 3 hbitos simultneos. Nos meninos, essas

prevalncias foram significantemente menores (respectivamente 34% e 16%).

No estudo de Baldrighi et al. (2001), com 180 crianas, entre 4 e 6 anos de

idade, em Bauru, a prevalncia do hbito de suco de chupeta foi 62,77%. O hbito

de suco digital ocorreu em 10,55%, suco de objetos em 13,88%, onicofagia em

23,33%, suco de lngua em 2,22%, suco de lbios em 1,66% e suco de

bochechas em 1,11%.

Santana et al. (2001) avaliaram 216 crianas, entre 3 e 6 anos de idade, em

Aracaju, e encontraram prevalncia de hbitos orais diversos em 65,3% da amostra.

A suco de chupeta foi mais comum na meninas que nos meninos, tanto nas

escolas pblicas (respectivamente 37,9% e 22,9%) como nas particulares(12,1% e

6,8%).

Frana et al. (2002) avaliaram 72 crianas em Curitiba, na faixa etria de 3 a

6 anos de idade, e encontraram hbito de suco de chupeta em 33% e de dedo em

7% da amostra.

A prevalncia dos hbitos de suco varia muito entre os diversos pases

(HELLE; HAAVIKKO, 1974). Para Forte e Bosco (2000), as diferenas encontradas

na prevalncia dos hbitos de suco no nutritiva podem ser explicadas pelo

tamanho das amostras e tambm pelas diferenas existentes nas caractersticas

intrnsecas de fatores scio-econmico-culturais das populaes estudadas.

Nanda, Khan e Anand (1972) avaliaram 2500 crianas, na ndia, entre 2 e 6

anos de idade, e observaram que 17% apresentavam hbitos orais (suco digital,

respirao oral ou interposio lingual). O hbito mais freqente foi a suco digital,

presente em 48,4% da amostra. Os autores verificaram que a prevalncia de suco

digital foi maior nas meninas, provavelmente em funo de aspectos culturais pois,

Reviso da Literatura 44

na ndia, se o nascimento de uma menina seguido do nascimento de um menino,

maior ateno oferecida para o ltimo, o que pode causar frustrao emocional e

insegurana na menina.

Helle e Haavikko (1974) avaliaram 211 crianas, com 11 anos de idade, em 4

distritos na Finlndia, e observaram que 82,4% da amostra havia utilizado chupeta

em algum momento da vida e 16,6% havia succionado dedo. As crianas foram

classificadas de acordo com o nvel scio-econmico e as maiores prevalncias de

hbito de suco no nutritiva ocorreram no grupo social composto por profissionais

de nvel superior e funes de escritrio (suco de chupeta em 93% e de dedo em

41%). O hbito de suco de chupeta foi significantemente mais comum nos nveis

scio-econmicos mais baixos.

Mathur, Mathur e Khanduja (1990) avaliaram 116 crianas, entre 6 meses e 6

anos de idade, na ndia, e verificaram que 83,6% das crianas que utilizavam

chupeta pertenciam aos nveis scio-econmicos baixo e mdio, sendo a suco de

chupeta mais comum nas moradoras em favelas (58,6%). Em apenas 16,4% dos

casos, a suco de chupeta esteve presente nas crianas que pertenciam ao grupo

com nvel scio-econmico alto.

Coletti e Bartholomeu (1998) avaliaram 94 crianas, entre 3 e 6 anos de

idade, em Santa Catarina, e verificaram que a ausncia de pai ou me na famlia foi

um fator predisponente para a instalao de hbitos de suco no nutritiva. Por

outro lado, uma gravidez planejada, que transcorreu sem problemas fsicos ou

emocionais foi um fator que previniu a instalao desses hbitos. No foi encontrada

associao entre o nmero de irmos e a ocorrncia de hbitos de suco no

nutritiva.

Reviso da Literatura 45

Serra-Negra et al. (1999) avaliaram 156 mes de crianas de 2 a 12 anos de

idade, em Belo Horizonte e verificaram que 93,6% das mes ofereceram chupeta a

seus filhos. Concluram que as crianas pertencentes a classes sociais menos

favorecidas tenderam a permanecer por mais tempo com o hbito de suco de

chupeta, estando quase 3 vezes mais propensas a este comportamento do que

crianas pertencentes a classes sociais mais favorecidas

Rabello et al. (2000) analisaram o incio, a freqncia e durao de suco de

dedo, chupeta e mamadeira em 1201 crianas de 3 a 10 anos de idade, em Marlia.

A prevalncia desses hbitos foi 40,72%. Embora os hbitos tenham sido mais

freqentes nas meninas (53,62%) que nos meninos (46,38%), no foi encontrada

diferena entre os gneros e nem em relao renda familiar. Entretanto, houve

diferena significativa nas porcentagens de presena de hbito em relao ao grau

de escolaridade dos pais e ao horrio de trabalho dos responsveis. A presena de

hbitos foi menor nas crianas cujos responsveis apresentavam nvel de

escolaridade superior, possivelmente em funo de maior informao e

conhecimento acerca do desenvolvimento de seus filhos. O horrio de trabalho dos

responsveis implicou em menor freqncia de hbito, principalmente naqueles que

no trabalhavam fora ou que trabalhavam nos trs perodos. A justificativa foi que

quando eles no trabalhavam, permaneciam mais tempo com a criana

proporcionando um s direcionamento educao e, com isso, evitavam possveis

divergncias de opinies acerca do uso da chupeta. Quando os pais trabalhavam

nos trs perodos, delegavam sua funo outra pessoa, evitando, da mesma

forma, eventuais divergncias.

Tomita et al. (2000) avaliaram 2139 crianas, entre 3 e 5 anos de idade, em

Bauru, com o objetivo de avaliar os determinantes scio-econmicos que afetam a

Reviso da Literatura 46

prevalncia dos hbitos orais. Os autores verificaram que o trabalho materno e a

ocupao da pessoa de maior renda no domiclio estiveram associados maior

prevalncia de suco de chupeta, sendo maior naquelas crianas cujas mes

trabalhavam fora e naquelas cujos pais apresentavam ocupao especializada

(administradores, gerentes, diretores, profissionais de nvel superior e funcionrios

de escritrios). Neste estudo, as variveis renda familiar e escolaridade materna no

apresentaram associao com a presena de hbitos orais, embora a freqncia de

suco de chupeta tenha sido menor nas crianas cujas famlias apresentaram

maior renda familiar e cujas mes apresentaram maior nvel de escolaridade.

No estudo longitudinal de Warren et al. (2000), nos Estados Unidos, as

crianas que freqentavam creches, que haviam recebido aleitamento natural, cujas

mes possuam nvel superior completo e cuja idade do pai era superior a 35 anos,

apresentaram maior prevalncia de hbitos de suco de dedo ou chupeta

prolongado (superior a 36 meses). No foram encontradas diferenas estatsticas

para os gneros, nvel de instruo paterna e renda familiar.

Warren et al. (2000) identificaram os seguintes fatores de risco para a

ocorrncia de hbitos de suco no nutritiva em crianas com mais de 3 anos de

idade: maior idade materna, maior nvel de instruo materna e o fato da criana ser

o primeiro filho do casal. Para esses autores, as mes com maior nvel de instruo,

possivelmente responderam os questionrios de forma mais consistente e

provavelmente apresentaram mais chance de permanecerem at o final do estudo, e

isso pode ter influenciado os resultados. No entanto, os autores afirmam que o

estudo longitudinal ainda superior aos estudos transversais e retrospectivos, em

que o risco de informaes incorretas e imprecisas maior.

Reviso da Literatura 47

De acordo com o estudo de Tartaglia et al. (2001), que avaliaram 164

escolares entre 6 a 11 anos de idade, em Belo Horizonte, os filhos de mes de baixa

escolaridade estiveram quase duas vezes mais propensos a apresentarem hbitos

orais (suco de dedo, chupeta, morder objetos e onicofagia) que aqueles cujas

mes apresentavam alta escolaridade.

O estudo de Bittencourt et al. (2002) avaliou 239 pais ou responsveis de

crianas entre 4 e 6 anos de idade, no Rio de Janeiro, com o objetivo de relacionar a

ocorrncia de hbitos de suco com o nvel scio-econmico, utilizando indicadores

sociais como a escolaridade, renda familiar, ocupao e tamanho da famlia. Dos

hbitos encontrados, a suco de chupeta foi o mais comum, ocorrendo em 55,6%

da amostra. No foi evidenciada relao estatisticamente significante entre a

presena de hbitos de suco e o nvel scio-econmico das famlias, embora as

maiores freqncias tenham sido encontradas em nveis menos favorecidos.

As classes sociais se comportaram de maneira diversa na escolha do tipo da

chupeta sendo que o modelo convencional foi mais utilizado por mes pertencentes

classe menos favorecida (66,7%) e o tipo anatmico foi mais prevalente na classe

mais favorecida (68,5%), de acordo com o estudo de Serra-Negra et al. (1999).

Entretanto, nem sempre as mes que utilizavam o tipo ortodntico sabiam explicar o

motivo que as levou a compr-lo, alegando muitas vezes a aparncia do produto e

associando o preo mais elevado com melhor qualidade

Um outro aspecto curioso referente escolha das chupetas o fato de que

aps feita a escolha, as mes se mantm fiis marca, forma e material, no sendo

o preo um fator decisivo na escolha (CARLI; IMPARATO; BUSSADORI, 2002).

O papel tranquilizador foi o principal motivo que levou as mes a oferecerem a

chupeta a seus filhos e as principais desvantagens citadas pelas mes foram as

Reviso da Literatura 48

alteraes dentrias e a dificuldade de retirar. A dificuldade em manter a higiene da

chupeta foi mencionada por 70,6% das mes com alto nvel de escolaridade, mas

somente por 11,8% das mes com baixa escolaridade (SERRA-NEGRA et al.,

1999).

De acordo com Casanova (2000) que aplicou questionrio a 35 mes,

usurias do Servio de Sade de So Vicente, os hbitos orais na infncia so

considerados normais pela maioria das mes e elas s comeam a se preocupar

com eles quando algum estranho ao ambiente familiar chama ateno para

problemas estticos ou de fala na criana. A chupeta faz parte do enxoval do beb e

oferecer chupeta e mamadeira aos filhos faz parte da cultura dessas pessoas e

nenhuma delas j havia pensado nos motivos para faz-lo ou no, assim como

nenhuma delas havia tido a oportunidade de discutir o assunto ou receber

orientao de profissional habilitado.

Segundo Casanova (2000), a opinio das avs, do pai, da vizinha e da

televiso em relao aos hbitos orais tem o mesmo peso da opinio do mdico, do

dentista ou da fonoaudiloga. No entanto, o estudo de Serra-Negra et al. (1999)

mostrou que as mes de classes sociais mais favorecidas tenderam a procurar mais

informao sobre o tema que as mes de classes sociais menos favorecidas. O

pediatra foi consultado por 76,9% das mes pertencentes s classes mais

favorecidas e por 23,1% das pertencentes s classes menos favorecidas. Familiares

e amigos foram consultados por 70,0% e 30,0%, nessas classes sociais,

respectivamente.

A prevalncia de hbitos de suco decresce com a idade (FORTE; BOSCO,

2000; MYLLRNIEMI, 1973a; RABELLO et al., 2000; RAVN, 1974; VADIAKAS;

OULIS; BERDOUSES, 1998; WARREN et al., 2000). O abandono natural do hbito

Reviso da Literatura 49

de suco no nutritiva, que deve ocorrer naturalmente por volta dos 4 ou 5 anos,

est relacionado ao desenvolvimento de outras atividades pela criana

(CASANOVA, 2000; LOCKS et al., 2001).

De acordo com a teoria psicanaltica de Freud, pode-se esperar que a maioria

das crianas abandone a atividade de suco por volta dos 3 anos, a partir do

momento em que ocorre a maturao e remoo dos hbitos auto-erticos nas

zonas de prazer precoce, representada pela boca (LOCKS et al., 2001).

Myllrniemi (1973a) avaliou 760 crianas, entre 0 e 7 anos de idade, na

Finlndia, e constatou que, durante o primeiro ano de vida, a suco de chupeta

esteve presente em cerca de 65% das crianas, em ambos os gneros. Aos 2 anos

de idade, 54,6% das meninas e 34,5% dos meninos utilizavam chupeta. Aos 5 anos

de idade, praticamente todas as crianas haviam abandonado a chupeta. A

prevalncia de suco digital foi menor que a de chupeta nestas crianas (durante o

primeiro ano de vida, 3,4% nas meninas e 8,6% nos meninos), porm a ocorrncia

de abandono deste hbito depois dos 3 anos de idade tambm foi menor (aos 5

anos, somente 4,4% das meninas e 2,0% dos meninos haviam deixado de succionar

o dedo).

Ravn (1974) avaliou os hbitos de suco no nutritiva de 248 crianas e 30

pares de gmeos, na Dinamarca, e verificou que no primeiro ano de vida, 84,3% das

crianas utilizavam chupeta sendo que a ocorrncia deste hbito caia para 47,1%

aos 3 anos de idade. O autor verificou que os meninos sugaram mais que as

meninas nos primeiros anos de vida, porm tenderam a abandonar o hbito mais

precocemente que as meninas, pois pareceu haver permisso inconsciente para que

elas sugassem por perodo de tempo mais prolongado. Na maioria das vezes o

Reviso da Literatura 50

hbito foi interrompido espontaneamente pela criana, sem a necessidade de

interferncia externa.

Vadiakas, Oulis e Berdouses (1998) avaliaram 316 crianas, entre 3 e 5 anos

de idade, na Grcia, e encontraram prevalncia do hbito de suco de chupeta de

33% aos 3 anos, 12% aos 4 anos e apenas 3,5% aos 5 anos de idade.

Forte e Bosco (2000) avaliaram 316 crianas, entre 3 e 6 anos de idade, em

Santa Catarina, e verificaram que a prevalncia do hbito de suco de chupeta foi

de 34,7% aos 3 anos, 18,5% aos 4 anos e 16,5% aos 5 anos de idade.

Rabello et al. (2000) avaliaram 1201 crianas, entre 3 e 10 anos de idade, em

Marlia, e tambm verificaram que a freqncia do hbito de suco de dedo,

chupeta e mamadeira diminuiu significativamente com a idade, estando presente em

90,59% das crianas com 3 anos, em 62,77% daquelas com 5 anos e em somente

19,15% das com 10 anos de idade.

Warren et al. (2000) realizaram estudo longitudinal que iniciou com 1374

purperes em 8 hospitais de Iowa, nos Estados Unidos. Foram enviados

questionrios direcionados s mes, com perguntas relacionadas aos hbitos de

suco nutritiva e no nutritiva, quando as crianas completaram 6 semanas, 3

meses, 6 meses, 9 meses, 12 meses, 16 meses, 24 meses, 36 meses e 48 meses.

Esses questionrios sempre se referiam ao perodo transcorrido desde o

questionrio anterior. Ao final de 36 meses, haviam 496 participantes e, aps 48

meses, 221. Os resultados mostraram que a prevalncia de suco de chupeta nas

primeiras 6 semanas de vida dos bebs foi 78%, declinando para 68% aos 3 meses,

56% aos 6 meses, 42% aos 9 meses, 38% aos 12 meses, 34% aos 16 meses, 25%

aos 24 meses, 10% aos 36 meses e somente 5% aos 48 meses. Em relao

suco digital, a prevalncia nas primeiras 6 semanas de vida foi 48% e 80% aos 3

Reviso da Literatura 51

meses, apresentando declnio nas faixas etrias seguintes e esteve presente em

12% das crianas aos 48 meses.

A reduo na incidncia dos hbitos de suco pelas crianas, medida que

crescem e se desenvolvem, acompanhada pela reduo na incidncia de mordida

aberta anterior (VALENTE; MUSSOLINO,1989).

No estudo de Bowden e Orth (1966b), com 116 crianas australianas, das

quais 43 crianas utilizavam chupeta, a mordida aberta anterior esteve presente em

25,58% das crianas aos 5 anos de idade, declinando para 11,62% aos 8 anos de

idade.

No estudo longitudinal de Holm (1978), com 152 crianas suecas,

acompanhadas dos 3 aos 8 anos de idade, a prevalncia de mordida aberta anterior

caiu de 51% aos 3 anos de idade, para 4% aos 8 anos de idade.

Clemens e Sanchez (1979-1982) avaliaram 2600 escolares, entre 3 e 25 anos

de idade, em Porto Alegre, e encontraram mordida aberta anterior em 62,38% das

crianas com dentadura decdua, diminuindo para 16,72% na dentio mista e

7,72% na dentadura permanente .

Nystrm (1981) avaliou longitudinalmente 101 crianas, entre 2 e 6 anos de

idade, na Finlndia e observou que aos 4,5 anos de idade, nenhuma criana

apresentou mordida aberta anterior.

Forte e Bosco (2001) observaram que na faixa etria dos 3 aos 4 anos, a

prevalncia da mordida aberta anterior foi de 27,1% reduzindo para 22% na faixa de

5 aos 6 anos.

Takeuti et al. (2001) avaliaram 237 crianas, entre 4 e 14 anos de idade, em

So Paulo, e encontraram prevalncia de mordida aberta anterior de 33,3% na

dentadura decdua, 18,6% na dentio mista e 15% na dentadura permanente.

Reviso da Literatura 52

Stahl e Grabowski (2003) avaliaram 1225 crianas com dentio decdua,

entre 2 e 6 anos de idade, e 7639 com dentio mista, entre 7 e 10 anos de idade,

na Alemanha, e encontraram mordida aberta anterior em respectivamente 6,7% e

2,8% das amostras.

Verrastro (2003) tambm verificou declnio na prevalncia de mordida aberta

de 30,6% na dentadura decdua, caindo para 9,2% na dentio mista e 3,3% na

dentadura permanente.

2.3.4.3 efeitos sobre a ocluso e estruturas miofuncionais orais

No desenvolvimento normal da dentio, um conjunto de vetores de foras de

mesma intensidade direcionado aos dentes e a seus componentes alveolares no

sentido lingual para vestibular e vice-versa. A lngua um msculo potente que

exerce fora bastante intensa sobre os dentes. Opostamente a ela, existe a ao de

um cinturo muscular que envolve os arcos dentrios externa