AVALIAÇÃO MORFO-FUNCIONAL DA FIXAÇÃO DE TELA DE ... · Aos Professores Adjuntos da Disciplina...

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WALTER DA SILVA AVALIAÇÃO MORFO-FUNCIONAL DA FIXAÇÃO DE TELA DE POLIPROPILENO COM ADESIVO SINTÉTICO OU BIOLÓGICO EM HÉRNIA VENTRAL DE COELHOS Tese apresentada à Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina, para obtenção do Título de Mestre em Ciências. SÃO PAULO 2006

Transcript of AVALIAÇÃO MORFO-FUNCIONAL DA FIXAÇÃO DE TELA DE ... · Aos Professores Adjuntos da Disciplina...

WALTER DA SILVA

AVALIAO MORFO-FUNCIONAL DA FIXAO DE TELA DE

POLIPROPILENO COM ADESIVO SINTTICO OU BIOLGICO EM

HRNIA VENTRAL DE COELHOS

Tese apresentada Universidade Federal de So Paulo Escola Paulista de Medicina, para obteno do Ttulo de Mestre em Cincias.

SO PAULO 2006

WALTER DA SILVA

AVALIAO MORFO-FUNCIONAL DA FIXAO DE TELA DE

POLIPROPILENO COM ADESIVO SINTTICO OU BIOLGICO EM

HRNIA VENTRAL DE COELHOS

Tese apresentada Universidade Federal de So Paulo Escola Paulista de Medicina, para obteno do Ttulo de Mestre em Cincias.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Djalma Jos Fagundes

SO PAULO 2006

Silva, Walter da Avaliao morfo-funcional da fixao de tela de polipropileno com

adesivo sinttico ou biolgico em hrnia ventral de coelhos/Walter da Silva So Paulo, 2006

xviii, 65f Tese (Mestrado) Universidade Federal de So Paulo. Escola Paulista de

Medicina. Programa de Ps-Graduao em Cirurgia e Experimentao. Morphological and functional effects of fibrin glue or cianoacrilate on

ventral hernia repair, in rabbits. 1. Hrnia ventral. 2. Adesivo tecidual de fibrina. 3. Cianoacrilatos. 4.

Adesivos teciduais. 5. Telas cirrgicas. 6. Coelhos.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO PAULO

ESCOLA PAULISTA DE MEDICINA UNIFESP-EPM

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM

CIRURGIA E EXPERIMENTAO COORDENADOR: Prof. Dr. Jos Luiz Martins

TESE DE MESTRADO

AUTOR: Walter da Silva ORIENTADOR: Prof. Dr. Djalma Jos Fagundes TTULO: Avaliao morfo-funcional da fixao de tela de polipropileno com adesivo sinttico ou biolgico em hrnia ventral de coelhos. BANCA EXAMINADORA: 1 - Presidente: Prof. Dr. Djalma Jos Fagundes Professor Adjunto da Disciplina de Tcnica Operatria e Cirurgia Experimental da UNIFESP-EPM. MEMBROS EFETIVOS: 2- Prof. Dr. Martin Zavadinack Neto Professor Adjunto da rea de Clnica Cirrgica do Departamento de Medicina da Universidade Estadual de Maring. 3- Prof. Dr. Olavo Ribeiro Rodrigues Professor Adjunto da Disciplina de Cirurgia Torcica da Universidade de Mogi das Cruzes 4- Prof. Dr. Gaspar de Jesus Lopes Filho Professor Livre-Docente da Disciplina de Gastrocirurgia do Departamento de Cirurgia da Universidade Federal de So Paulo UNIFESP-EPM MEMBRO SUPLENTE 1 - Prof. Dr. Orlando Ribeiro do Prado Professor Adjunto da rea de Clnica Cirrgica do Departamento de Medicina da Universidade Estadual de Maring.

ii

Irmos so os amigos que DEUS nos d, e os amigos so os irmos que vamos encontrando

na estrada da vida

iii

DEDICATRIA

Aos meus pais Omar da Silva (In memorian) e Ruth Bacchi da Silva por serem o

meu maior exemplo de f, honestidade, trabalho, tica e dedicao famlia.

minha esposa Denize, exemplo de mulher e esposa, e aos meus filhos Bruno Omar

e Beatriz Elena pelo carinho e compreenso.

iv

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Ao Prof. Dr. Djalma Jos Fagundes, Coordenador do Programa de Ps-Graduao

em Cirurgia e Experimentao da Universidade Federal de So Paulo Escola Paulista de

Medicina, orientador deste trabalho, exemplo de professor e pesquisador, pela confiana,

estmulo e oportunidade de iniciar-me na Ps-Graduao e no desenvolvimento de mais esta

etapa acadmica.

v

AGRADECIMENTOS

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SO PAULO ESCOLA PAULISTA DE

MEDICINA - UNIFESP-EPM, por ter me recebido como aluno do Programa de Ps-

Graduao em Cirurgia e Experimentao, possibilitando minha titulao.

Prof. Dra. Amlia Cristina Seidel, Professora Adjunta da rea de Clnica

Cirrgica do Departamento de Medicina da UEM, pelo auxlio nas vrias etapas deste

trabalho.

Ao Prof. Eduardo Raposo Monteiro, Professor de Anestesiologia e Mestre em

Medicina Veterinria do Centro Universitrio de Maring (CESUMAR), pelo auxlio nos

procedimentos anestsicos.

Ao Prof. Dr. Eduardo Carvalho Buquera, Professor de Tcnica Cirrgica do

CESUMAR, pelo auxlio nos procedimentos operatrios.

Ao Mdico Veterinrio Marcos Henrique Micheletti, do CESUMAR, pelo auxlio no

cuidado com os coelhos.

Aos Professores Adjuntos da Disciplina de Tcnica Operatria e Cirurgia

Experimental do Departamento de Cirurgia da UNIFESP-EPM, Prof. Dr. Paulo de Oliveira

Gomes, Profa. Dra. Edna Frasson de Souza Montero e Prof. Dr. Murched Omar Taha,

pelos ensinamentos e incentivos durante o curso.

Ao Auxiliar Servios Gerais Sr. Celso Beno Graebin, Tcnica de Esterilizao

Senhora Tnia Caldeira da Silva Mariano e Secretria Priscila Fernandes De Oliveira

Nalon, funcionrios do CESUMAR, pelo auxlio e ateno durante todo o perodo

experimental do trabalho.

vi

Aos Acadmicos do Curso de Medicina Veterinria do CESUMAR, Roberta Nilza

Costa da Silva, Soraya Midori Capdedosco Morita, Renan Galo Brito, Jaqueline Moron

Cotrin, Valquiria Garcia, pelo auxlio, dedicao e ateno durante todo o perodo

experimental deste trabalho.

Ao Auxiliar de Laboratrio Senhor Pedro Barizo, Tcnica Administrativa Lucia

Marcia Gomes da Fazenda Experimental Iguatemi UEM, pelo auxlio na obteno e

seleo dos coelhos.

Ao Auxiliar Acadmico Luiz Carlos Edevalter Bardella, pelo auxlio na anlise da

fora de tenso realizado na Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho

(UNESP), Campus de Botucatu.

Ao Mdico Patologista Hugo Meister do Laboratrio de Patologia Maring

LAPAM, pelo auxlio na leitura das lminas histolgicas.

Valdelice Justiniano Soares e Elaine Maria Alves Bazzi Dantas, secretrias do

Programa de Ps-Graduao em Cirurgia e Experimentao da UNIFESP, pela ajuda e

disponibilidade durante a realizao deste trabalho.

Aos meus amigos e companheiros do Programa de Ps-Graduao em Cirurgia e

Experimentao da UNIFESP-EPM, principalmente de Maring e Cascavel, pela amizade,

convivncia e ajuda na formao do esprito crtico.

A CAPES pela concesso de bolsa de mestrado.

A todos que, direta ou indiretamente, colaboram na execuo desta pesquisa.

vii

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Esquema de distribuio da amostra nos diferentes grupos de estudo, os

perodos de realizao das radiografias de controle da movimentao da

tela (TO, T1, T2 e T3) e a poca da eutansia, coincidente com a quarta

radiografia..................................................................................................

7

Figura 2 - Foto mostrando a inciso operatria e o incio da resseco da tela

subcutnea...................................................................................................

10

Figura 3 - Foto do molde de alumnio com 3cm de comprimento e 1cm de

largura..........................................................................................................

11

Figura 4 - Foto mostrando a demarcao dos limites da rea a ser resseccionada na

parede abdominal do coelho........................................................................

11

Figura 5 - Foto mostrando a retirada do segmento demarcado na parede

abdominal....................................................................................................

12

Figura 6 - Foto mostrando os limites do defeito parietal quase ao final da resseco

da rea demarcada na parede abdominal, com a eviscerao de alas

intestinais.....................................................................................................

12

Figura 7 - Foto caracterstica de um animal no 21 dia de ps-operatrio mostrando

os limites da hrnia ventral e o volume produzido pela protruso do

contedo abdominal atravs do defeito na parede......................................

14

Figura 8 - Foto mostrando os limites do colo hernirio e o saco hernirio dissecado

e isolado.......................................................................................................

14

Figura 9 - Foto mostrando a linha de sutura contnua com catgute cromado 4-0 aps

a resseco do saco hernirio, os limites do colo hernirio e as bordas da

ferida operatria na pele.............................................................

15

Figura 10 - Foto da tela de polipropileno com a colocao de material radiopaco nas

suas extremidades, que correspondero s extremidades cranial e caudal

no momento da implantao no animal......................................................

17

Figura 11 - Foto do conjunto de aplicao da cola de fibrina (Beriplast). Ao centro e

embaixo os frascos com tarja azul (contendo fibrinognio e fator XIII e

soluo de aprotinina) e os frascos com tarja vermelha (contendo

viii

trombina humana e soluo de cloreto de clcio). Lateralmente os

aplicadores com duas seringas, duas agulhas e acima o suporte de

aplicao com misturador tipo cnula ou spray..........................................

17

Figura 12 - Foto mostrando o procedimento de aplicao da cola de fibrina, com o

dispositivo tipo cnula, sobre a tela de polipropileno colocada sobre a

hrnia ventral...............................................................................................

18

Figura 13 - Foto mostrando o aspecto final da aplicao da cola biolgica sobre a

tela no momento que antecedeu a sutura da tela subcutnea e

pele..............................................................................................................

18

Figura 14 - Foto mostrando a cola sinttica (Dermabond). O aplicador, invlucro de

plstico malevel e uma ponta porosa para aplicao do adesivo, que

vm acondicionados em um frasco de vidro, que rompido para liberar o

adesivo no interior do invlucro plstico. O aplicador contm 0,5ml de

lquido adesivo............................................................................................

19

Figura 15 - Foto mostrando o procedimento de aplicao da cola sinttica sobre a

tela colocada sobre a hrnia ventral. O adesivo saiu pela ponta porosa

pela expresso do frasco plstico................................................................

19

Figura 16 - Foto mostrando o aspecto final da aplicao da cola sinttica, no

momento que antecedeu a sutura da tela subcutnea e pele........................

20

Figura 17 - Foto do animal na posio padronizada na mesa radiogrfica, para

obteno das chapas radiogrficas de controle da posio da tela

implantada...................................................................................................

21

Figura 18 - Radiografia caracterstica de um animal mostrando a posio da tela

implantada pela identificao do fio metlico nas extremidades cranial

caudal da tela...............................................................................................

22

Figura 19 - Radiografia do posicionamento da tela implantada para o processo de

escaneamento e posterior avaliao em programa de

computador..................................................................................................

23

Figura 20 - Fotos da resseco da pele e tecido subcutneo em U expondo a tela

implantada....................................................................................................

24

Figura 21 - Fotos da resseco da parede abdominal em U expondo a cavidade

peritoneal e evidenciando eventuais aderncias..........................................

24

ix

Figura 22 - Foto da pea operatria fixada sobre superfcie rgida e a seco

transversal (10X2 cm) da pea que foi encaminhada para teste de

trao............................................................................................................

25

Figura 23 - Foto da Mquina Universal de Ensaio (EMIC, modelo DL 1000) com o

segmento de parede abdominal preso s garras de trao...........................

26

Figura 24 - Foto caracterstica de um grfico fornecido pelo programa de

computador da fora mxima de trao e deformidade mxima.................

27

Figura 25 - Fotos caractersticas da seqncia da subtrao de imagem para a

avaliao quantitativa do colgeno presente no tecido que envolve a tela

implantada....................................................................................................

30

Figura 26 - Fotos caractersticas das radiografias da parede abdominal para avaliao

do deslocamento da tela, num animal do Grupo I (cola de fibrina) nos

tempos TO (ps-operatrio imediato), T1 (7o dia de ps-operatrio), T2

(14 dia de ps-operatrio) e T3 (21 dia de ps-

operatrio)....................................................................................................

35

Figura 27 - Fotos caractersticas das radiografias da parede abdominal para avaliao

do deslocamento da tela, num animal do Grupo II (cola de cianoacrilato)

nos tempos TO, T1, T2 e T3........................................................................

36

Figura 28 - Fotos caractersticas das radiografias da parede abdominal para avaliao

do deslocamento da tela, num animal do Grupo III (fixao com fio) nos

tempos TO, T1, T2 e T3..............................................................................

37

Figura 29 - Fotos caractersticas das radiografias da parede abdominal para avaliao

do deslocamento da tela, num animal do Grupo IV (sem fixao) nos

tempos TO, T1, T2 e T3..............................................................................

38

Figura 30 - Foto caracterstica demonstrando incorporao da tela classificada como

acentuada (>75%), demonstrando fibrose cicatricial (f), envolvendo

fibras da tela (t).HE 40X..............................................................................

41

Figura 31 - Foto caracterstica demonstrando incorporao parcial da tela

classificada com moderada (50% a 75%), mostrando fibrose cicatricial

(f) e tela (t). HE 100X..................................................

41

Figura 32 - Foto caracterstica demonstrando rea de necrose (n) mostrando a

coagulao acidoflica das clulas com perda dos contornos e ncleos.

x

HE 100X.................................................................................................. 42

Figura 33 - Foto caracterstica de rea demonstrando inflamao crnica inespecfica

(i) associada a processo fibro-reparativo. HE 200X....................................

43

Figura 34 - Foto caracterstica demonstrando rea de necrose supurativa (s). HE

40X...........................................................................................................

44

Figura 35 - Foto caracterstica demonstrando rea de granuloma de corpo estranho.

HE 400X..................................................................................................

45

Figura 36 - Foto caracterstica demonstrando rea de incorporao da tela. Msculo

estriado (m), tela (t), colageinizao (c). Tricrmio de Masson 100X........

46

Figura 37 - Foto caracterstica demonstrando rea de fibras colgenas (c). Tricrmio

de Masson 400X..........................................................................................

47

xi

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Mdia e desvio padro do peso dos animais nas avaliaes pr e

ps-operatrias, segundo os grupos de

estudo................................................................................................

32

Tabela 2 - Medidas descritivas da variao percentual da posio da tela em

relao posio inicial no 7, 14 e 21 PO, segundo o grupo de

estudo................................................................................................

33

Tabela 3 - Mdia e desvio padro da rea (mm2) ocupada da tela nos

animais ao longo do tempo, segundo os grupos de estudo (0, 7,

14, 21 dias).......................................................................................

34

Tabela 4 - Valores mnimos, mximos, mdia e desvio padro da fora de

ruptura (Kgf) nos diversos animais, segundo os grupos de

estudo................................................................................................

39

Tabela 5 - Valores mnimos, mximos, mdia e desvio padro da

deformidade (mm) do corpo de prova nos diversos animais,

segundo os grupos de estudo............................................................

39

Tabela 6 - Nmero e porcentagem de animais segundo escore de

incorporao da tela, nos diversos grupos de estudo.......................

40

Tabela 7 - Nmero e porcentagem de animais segundo a presena ou

ausncia necrose, nos diversos grupos de estudo.............................

42

Tabela 8 - Nmero e porcentagem de animais com inflamao crnica

inespecfica associada, segundo o grupo de estudo..........................

43

Tabela 9 - Nmero e porcentagem de animais com inflamao supurativa

associada, segundo o grupo de estudo..............................................

44

Tabela 10 - Nmero e proporo de animais com inflamao granulomatosa

corpo estranho associada, segundo o grupo de estudo.....................

45

xii

Tabela 11 - Medidas mxima, mnima, mdia, desvio padro e mediana dos

valores das reas (mm2) calculadas por subtrao de imagem nos

diferentes animais, segundo os grupos de estudo.............................

46

xiii

LISTA DE GRFICOS

Grfico 1 - Mdia do peso dos animais nas avaliaes pr e ps-operatrias,

segundo o grupo de estudo.............................................................

32

Grfico 2 - Mdia e desvio padro da rea (mm2) ocupada da tela nos

animais ao longo do tempo, segundo os grupos de estudo (0, 7,

14, 21 dias).....................................................................................

34

xiv

LISTA DE ABREVIATURAS E SMBOLOS (%) - porcentagem

(n) - freqncia absoluta

* - valor estatstico significante

ANOVA - anlise de varincia

CESUMAR - Centro Universitrio de Maring

Dp - desvio-padro

G - gramas

HE - hematoxilina e eosina

Kg - quilograma

KVa - quilowats

LOCF - last observation carried forward

mA - miliampre

mg - miligrama(s)

mg.Kg-1 - miligrama por quilograma

min - minuto(s)

mm - milmetro(s)

n - nmero de animais nos grupos

N - nmero total de animais

UEM - Universidade Estadual de Maring

UNIFESP - Universidade Federal de So Paulo

xv

RESUMO

Objetivo: Estudar aspectos morfofuncionais da correo de hrnia incisional em coelhos com

diferentes procedimentos de fixao de tela sinttica. Mtodos: Coelhos (n=36) albinos foram

submetidos resseco de um segmento de parede abdominal produzindo uma hrnia

incisional, que aps 21 dias foi corrigida pela colocao de uma tela de polipropileno: GI

(n=10) a tela foi fixada com cola de fibrina; GII(n=10) fixada com cianoacrilato; GIII(n=10)

fixada com fios de poliamida; GIV (n=6) sem fixao. Os animais foram radiografados

imediatamente aps o ato operatrio, aos 7, 14 e 21 dias do PO, quando foram sacrificados e

coletadas amostras da parede abdominal para testes de resistncia tnsil e anlise histolgica

da reao inflamatria. Resultados: a variao porcentual da rea e a projeo da rea da tela

(mm2) calculadas partir das radiografias mostraram que em todos os grupos ocorreu uma

retrao da tela em relao rea inicial sendo maior aos vinte e um dias, porm sem

significncia estatstica entre os quatro grupos. A fora de ruptura trao (kgf) foi

semelhante em trs grupos: (GI=3281,1768,4; GII=3086,2 1463,7;GIII=3013,2981,9)

assim como a fora de deformidade mxima ( GI=21,147,86; GII=20,439,93; GIII=20,84

6,90). No entanto em GIV a tela no incorporou aos tecidos vizinhos. A avaliao da

incorporao da tela, presena de necrose tecidual, inflamao crnica, supurao, reao tipo

corpo estranho e quantificao do colgeno mostraram que houve diferena estatstica nos

itens: necrose foi maior no GII (50%) comparada aos GI (10%) e GIII (0%), inflamao

crnica inespecfica foi mais acentuada em GII(100%) comparada com GI(50%) e GIII(20%),

presena de foco de supurao e reao granulomatosa de corpo estranho foram mais

significativas no GII(60%) comparada com os GI(30%) e GIII(0%) e houve maior produo

de colgeno (colorao de Masson) no GI(93846,04+14542,24) comparado com os

GII(78384,06+18074,21) e GIII(70490,47+11382,93). Concluses: O uso de cola de fibrina

mostrou resultados de incorporao da tela semelhantes fixao por fio de poliamida e

superior fixao por cola sinttica. A no fixao da tela no propiciou a incorporao da

tela.

xvi

ABSTRACT

Objective: To study morfologic and functional aspects of ventral hernia surgery in rabbits

with different procedures of setting a Marlex mesh. Methods: New Zealand rabbits (n=36)

have been submitted to the resection of 2x1cm of abdominal wall producing a ventral hernia

which after 21 days was fixed by a polypropylene mesh: GI (n=10) the mesh was fixed with

fibrin glue; GII (n=10) fixed with cianoacrylate; GIII (n=10) fixed with of poliamida suture;

GIV (n=6) without any setting. The animals have been radiographed immediately after the

surgical proceedings, to the 7, 14 and 21 days of the PO, when they were sacrificed and

samples of the abdominal wall were collected for tests of resistance force and histological

analysis of the inflammatory reaction. Results: the percentual variation of the area and the

projection of the area of the mesh (mm2) calculated from x-ray plates have shown that in all

the groups a retraction of themesh have occurred in relation to the initial area being bigger to

twenty and one days, however without significance statistics among four groups. The force of

rupture to the traction (kgf) was similar in three groups: (GI=3281.1768.4; GII=3086.2

1463.7;GIII=3013.2981.9) as well as the force of maximum deformity (GI=21.147.86;

GII=20.439.93; GIII=20.84 6.90). However in GIV the mesh did not incorporate

neighboring tissue. The mesh incorporation evaluation, presence of tissue necrosis, chronic

inflammation, supuration, reaction type foreing body and quantification of the collagene

showed that there has been statistics differences in items: necrosis was bigger in the GII

(50%) compared with GI(10%) and GIII(0%), inespeccific chronic inflammation was more

accented in GII(100%) compared with GI(50%) and GIII(20%), presence of focus of

supuration and granulomatosus reaction was more significant in GII(60%) when compared

with GI(30%) and GIII(0%) and had greater production of collagene (Masson) in

GI(93846.04+14542.24) compared with GII(78384.06+18074,21) and

GIII(70490.47+11382.93). Conclusions: The fibrin glue use has shown results of similar

incorporation of the mesh to the setting for poliamida and superior of to the setting for

synthetic glue. The non setting of the mesh did not propitiate the incorporation of the mesh.

xvii

SUMRIO

1. INTRODUO.................................................................................................. 1

2. OBJETIVOS....................................................................................................... 5

3. MTODOS......................................................................................................... 6

4. RESULTADOS.................................................................................................. 32

5. DISCUSSO...................................................................................................... 48

6. CONCLUSES.................................................................................................. 56

7. REFERNCIAS................................................................................................. 57

8. NORMAS ADOTADAS.................................................................................... 63

APNDICE......................................................................................................... 64

xviii

1. INTRODUO

Hrnia incisional conceituada como qualquer falha ou orifcio na parede abdominal, com ou sem protuberncia, em rea de cicatriz ps-operatria, diagnosticada pelo exame

clnico ou de imagem1.

Hrnias incisionais ocorrem com maior freqncia aps incises medianas infra-

umbilicais nas operaes ginecolgicas e obsttricas, seguidas de incises supra-umbilicais

medianas nas operaes sobre o estmago e vias biliares. Por outro lado, as incises

transversas raramente ocasionam hrnias incisionais 2 .

Apesar dos muitos avanos nos cuidados que cercam o ato operatrio, na profilaxia

antimicrobiana e nos materiais de sutura, cerca de dois a onze por cento das operaes sobre a

parede abdominal resultam em hrnias 3-6. A taxa de recidiva estimada entre vinte e quarenta

e seis por cento aps a correo convencional de hrnia incisional3,6.

A cicatrizao dos tecidos envolvidos na reconstruo da parede abdominal depende

fundamentalmente da adequada aproximao das bordas da ferida operatria7-9. A coaptao

destas bordas depende em primeira instncia do uso adequado do material de sutura, que deve

suportar a tenso na linha de sutura at a formao de tecido cicatricial com quantidade

adequada de tecido fibroso que possa dar suporte per si ferida operatria 10-12. O colgeno

o responsvel pela resistncia e integridade de todos os tecidos, sendo que a fora e a

integridade do tecido de reparao residem no tipo e quantidade de fibra colgena. O

contedo de colgeno fornece a base bioqumica para as mudanas da fora tnsil e da tenso

de ruptura 13-15.

Na fisiopatologia da hrnia incisional solicitaes de tenso sobre a linha de sutura,

sejam agudas ou crnicas, sbitas ou persistentes e de diversos fatores causais (tosse, vmitos,

obstipao intestinal, obesidade, gestao, distenso abdominal) podem causar ruptura ou

afastamento das bordas da ferida operatria. Fatores locais (supurao, hematoma, edema,

seroma) ou sistmicos (diabetes, desnutrio, uso de drogas antineoplsicas ou

antiinflamatrias) podem alterar o processo de cicatrizao e tornar a inciso mais susceptvel

s foras de tenso7-11,14,15.

1

Na correo da hrnia incisional estes fatores podero estar de novo presentes e o uso

especfico de algumas tcnicas operatrias pode prevenir ou minimizar os fatores causais de

nova ruptura da linha de inciso 14,15.

Numerosas tcnicas operatrias tm sido propostas ao longo dos anos 16,17. At por

volta do ano de 1990 a aplicao dos prprios tecidos do saco hernirio e de fscias

adjacentes eram usadas para a correo da hrnia incisional e reforo da parede18. Somente

nas hrnias volumosas era preconizado o reforo de parede abdominal com implante de

material autlogo ou heterlogo1.

Atualmente, a literatura mdica refere que melhores resultados para o tratamento de

hrnias volumosas so obtidos com reforo de prtese4,16,19-21. Com o uso de telas h trabalhos

que referem ndices de recidiva que oscilam entre zero e vinte e quatro e meio por cento. No

entanto, esses trabalhos no mencionam outras intercorrncias ou complicaes como:

infeco, migrao da tela para cavidade abdominal, perfurao intestinal por contato com a

tela e aderncias4,16,19-21.

A observao de que a cicatrizao mais adequada ocorrer na ausncia de tenses na

linha de sutura expandiu o uso de prteses na correo primria das hrnias, difundindo o

conceito da tension free suture16-24. O emprego de prtese tem encontrado ampla

justificativa na reduo, ou eliminao do fator tenso, qualidade comum a todos os materiais

utilizados com esta finalidade13-16.

Na busca por uma prtese a ser colocada sobre a falha da parede abdominal,

diminuindo a fora de tenso na linha de sutura, foram e ainda so pesquisados materiais de

origem biolgica e sinttica. Tecidos derivados de membranas serosas homlogas ou

heterlogas (dura-mter, pericrdio, fscia lata, peritnio bovino) tm a vantagem de oferecer

um material rico em fibras colgenas, possibilitar uma integrao ao hospedeiro mais

eficiente, porm com a limitao do tamanho da prtese e o risco de eventuais doenas

transmissveis25-29. A tela de origem sinttica (prolene, polipropileno, PTFE) pode ser

conseguida em tamanhos apropriados sem risco de contaminao por doenas transmissveis,

porm pode desencadear reaes de rejeio com maior freqncia25-29.

A literatura mdica prdiga em trabalhos em animal de experimentao ou em seres

humanos com o uso dos mais diferentes tipos de prteses nas correes dos mais diferentes

tipos de hrnias e em diversas situaes clnicas. Contudo o enxerto de tela sinttica

2

biocampatvel parece ser consensual como a soluo mais adequada para reparar defeitos da

parede abdominal30.

A fixao destas prteses se faz pela aplicao de fios cirrgicos no absorvveis e de

preferncia da mesma constituio do material da tela usada9-11,18,20,21,25. Na cirurgia vdeo-

assistida a fixao da tela sinttica utiliza pontos com fio inabsorvvel ou para agilizar os

tempos operatrios so usados grampos30,31. No entanto, so relatados inconvenientes de

sangramento, reao de corpo estranho, esgaramento da tela pela tenso com uso de muitos

pontos ou grampos5, dor crnica e neuralgia no ps-operatrio31-33.

Trabalhos tm demonstrado resultados favorveis com o uso de cola de fibrina na

fixao de tela sinttica1,34-37. Os inconvenientes relatados com os mtodos usuais so

menores, com as vantagens da firme fixao da tela, reduo do espao morto entre a prtese

e a superfcie de sua aplicao e a atuao concomitante como hemosttico37,38.

O uso do cianoacrilato e seus derivados na fixao de telas tm suas referncias

iniciais em humanos em meados da dcada de 199039-41 na fixao de telas pela tcnica

tension free suture. Posterior e gradativamente os trabalhos prosseguem em humanos e em

animais de experimentao como ratos e coelhos42-44. partir de 2002/3 comeam a

aparecerem as primeiras referncias a estudo prospectivos e randomizados com o uso de

derivados do cianoacrilato45-47. O seguimento de pacientes em at trs anos mostrou

resultados semelhantes aos da fixao tradicional com vantagens imediatas de menor tempo

operatrio e menor desconforto para o paciente, porm os autores so cuidadosos em relao

aos resultados em longo prazo, sugerindo que pode ser uma opo vivel45-48.

No tocante s hrnias incisionais a reviso da literatura em trabalhos com animais ou

seres humanos, demonstrou que no h consenso no procedimento mais adequado ou

padronizado para a fixao das telas38-55.

Os modelos animais referidos na literatura56, na maioria das vezes, aplicam as telas

estudadas sobre um defeito agudo na parede abdominal do animal. Isto no contempla uma

situao real de risco que ocorre na prtica. O Programa de Ps-Graduao em Cirurgia e

Experimentao tem uma rea de concentrao em Integrao Orgnica de Materiais de

Sutura, Enxertos e Transplantes, e desenvolve um modelo animal de doena em que uma

hrnia produzida e, aps um perodo de maturao, pesquisa-se a aplicao de tcnicas

corretivas. Trabalhos anteriores demonstraram a validade do modelo e sua capacidade de

testar materiais protticos25-29. Dentro desta rea de concentrao h, concomitantemente,

3

uma linha de pesquisa em adesivos cirrgicos que procura estudar os adesivos biolgicos e

sintticos em sua aplicao em diversos tecidos e rgos35,36,57-62.

Em continuidade s pesquisas nesta linha e considerando o exposto acima pareceu

apropriado o estudo da fixao de tela sinttica sobre a aponeurose abdominal, na correo de

hrnia incisional crnica de coelhos, comparando o uso de adesivo biolgico (cola de fibrina),

adesivo no biolgico (cola de cianoacrilato) e fio inabsorvvel.

4

2. OBJETIVOS

Geral:

Estudo da integrao morfo-funcional de prteses em hrnia ventral.

Especfico:

Estudar aspectos morfolgicos, radiolgicos e de resistncia tnsil da integrao de tela de

polipropileno: sem fixao; fixao com fio cirrgico; fixao com adesivos sinttico ou

biolgico.

5

3. MTODOS

O projeto de pesquisa foi avaliado e aprovado pelo Comit de tica do Hospital So

Paulo da Universidade Federal de So Paulo - Escola Paulista de Medicina (UNIFESP-EPM)

sob o protocolo nmero 0044/04.

Amostra

Foram utilizados trinta e seis coelhos da linhagem Nova Zelndia, machos, idade mdia de seis meses, albinos, com peso mdio de 2.200 gramas. Os animais foram

procedentes da Fazenda Experimental Iguatemi da Universidade Estadual de Maring (UEM),

Paran. Identificados conforme registro de entrada por meio de tatuagem na regio auricular.

Foram alojados individualmente em gaiolas de alumnio com dimenses de 50x40x40

centmetros, durante todo o perodo de observao, inclusive pelos setes dias prvios de

aclimatao. Foram mantidos com dieta prpria para a espcie, sob iluminao natural,

temperatura ambiente e em condies adequadas de higiene. Ficaram sob cuidados de

tratadores e de veterinrios durante todo o perodo de observao.

Aleatoriamente os trinta e seis animais foram distribudos em quatro grupos conforme

o tipo de fixao da tela sinttica (Figura 1).

Grupo I: Fixao de tela sinttica com adesivo de fibrina (Beriplast).

Grupo II: Fixao de tela sinttica com adesivo de cianoacrilato (Dermabond).

Grupo III: Fixao de tela sinttica com sutura manual por pontos eqidistantes de fio

poliamida 4-0 (Mononylon - Ethicon).

Grupo IV Tela sem nenhum tipo de fixao.

5

EUTANSIAT3 = 21 P.O.

RXT3 = 21 P.O.

RXT2 = 14 P.O.

RXT1 = 7 P.O.

RXT0

P.O. IMEDIATO

GRUPO I(n = 10)

ADESIVO DEFIBRINA

EUTANSIAT3 = 21 P.O.

RXT3 = 21 P.O.

RXT2 = 14 P.O.

RXT1 = 7 P.O.

RXT0

P.O. IMEDIATO

GRUPO II(n = 10)

ADESIVO DECIANOACRILATO

EUTANSIAT3 = 21 P.O.

RXT3 = 21 P.O.

RXT2 = 14 P.O.

RXT1 = 7 P.O.

RXT0

P.O. IMEDIATO

GRUPO III(n = 10)

FIO DE SUTURA

EUTANSIAT3 = 21 P.O.

RXT3 = 21 P.O.

RXT2 = 14 P.O.

RXT1 = 7 P.O.

RXT0

P.O. IMEDIATO

GRUPO IV(n = 06)

SEM FIXAO

COELHOS(N = 36)

Figura 1 Esquema de distribuio da amostra nos diferentes grupos de estudo, nos perodos

de realizao das radiografias de controle da movimentao da tela (TO, T1, T2 e T3) e a poca da eutansia, coincidente com a quarta radiografia.

6

Procedimentos

Os procedimentos operatrios foram realizados no Centro Cirrgico do Hospital

Veterinrio do Centro Universitrio Maring (CESUMAR), Paran.

Procedimento anestsico

No pr-operatrio o animal foi pesado, os plos da regio abdominal foram

tosquiados, primeiramente com aparelho eltrico e em seguida com aparelho de lmina de

barbear, e encaminhado para sala de operaes do Hospital Veterinrio.

Procedeu-se a induo pr-anestsica com soluo de acepromazina (Acepram) na

dose de 0,25mg.Kg-1 por via intramuscular. Aps dez minutos foi aplicado xilazina

(Rompun) na dose 0,10mg.Kg-1 por via intramuscular e a associao tiletamina/zolazepan

(Telazol) na dose 0,20mg.Kg-1 por via intramuscular na regio gltea. O animal foi mantido

com ventilao pulmonar espontnea durante o ato operatrio.

O perodo de anestesia proporcionado pela associao destas drogas foi de

aproximadamente sessenta minutos. No foram necessrias doses complementares dentro

perodo de durao dos atos operatrios. O defeito na parede abdominal (confeco da hrnia

ventral) foi realizado em mdia de vinte minutos. A correo do defeito produzido na parede

abdominal, aps vinte e um dias, foi realizada em mdia em cinqenta minutos.

Procedimento operatrio de confeco do defeito na parede abdominal

O animal foi posicionado na mesa operatria em decbito dorsal horizontal com as

quatro patas atadas em abduo. A anti-sepsia da pele da parede abdominal foi efetuada com

lcool a 70% e, a seguir, com soluo de polivinilpirrolidona iodo (Povidine). A rea a ser

operada foi delimitada com pano operatrio esterilizado.

Foi realizada uma inciso na linha mdia ventral com bisturi lamina 15 numa extenso

de cinco centmetros. A tela subcutnea foi seccionada longitudinalmente junto a linha alba,

afastada por divulso com tesoura de Mayo curva e resseccionada, expondo o folheto anterior

da aponeurose do msculo reto abdominal direita e esquerda da linha alba (Figura 2).

7

Um molde de alumnio de formato retangular (3x1cm) foi colocado longitudinalmente

sobre o folheto anterior da aponeurose do msculo reto abdominal tendo a linha alba como

referncia mediana e a cicatriz umbilical como referncia do tero inferior, demarcando rea

retangular de 3cm2 para exrese da estrutura msculo- aponeurtica da parede abdominal

(Figura 3).

A determinao da rea a ser resseccionada foi realizada com bisturi de lamina 15 em

torno do permetro do molde com inciso do folheto anterior da aponeurose do msculo reto

abdominal (Figura 4).

A exrese do segmento da parede abdominal foi completada aps divulsionar e

seccionar as fibras do msculo reto abdominal nos limites previamente demarcados (Figura

5). Identificou-se o folheto posterior da aponeurose, o qual foi seccionado e retirado, com

tesoura de Mayo, junto ao peritnio parietal que se apresentou tnue e firmemente aderido

aponeurose. (Figura 6). Hemostasia compressiva, pelo tempo de mdio de dois minutos,

suficiente para interromper o sangramento e prevenir eventual formao de hematomas ou

colees lquidas na rea do descolamento msculo-aponeurtica.

A pele foi suturada com pontos contnuos intradrmicos com fio de poliamida 4-0

(Mononylon - Ethicon). A ferida operatria foi limpa com soluo salina de cloreto de sdio

0,9%.

O curativo foi realizado com gaze vaselinada sobre inciso operatria protegida com

compressa cirrgica esterilizada, fixada com atadura de crepe nmero 14, complementada

com a colocao de malha tubular deixando livres as patas do coelho. O curativo foi mantido

at terceiro dia de ps-operatrio, protegendo a ferida operatria. O procedimento visou evitar

que o animal tivesse acesso direto ferida operatria, prevenindo a eventual ocorrncia de

eviscerao ou infeco da ferida operatria.

Todo procedimento operatrio foi registrado em ficha padronizada (Protocolo 1

Apndice).

Perodo de Observao Ps-operatrio da primeira interveno

Aps recuperao anestsica os animais foram transportados para suas gaiolas

individuais identificadas com os nmeros correspondentes queles tatuados nas orelhas. A

dieta (peletizada) e a gua foram liberadas de imediato.

8

Os coelhos foram examinados diariamente, sempre pelo mesmo observador, sendo os

dados coletados (estado geral, aceitao da dieta, aspecto da ferida operatria, atividade

motora espontnea e estimulada, aspecto das evacuaes) e anotados em protocolo especfico

(Protocolo 2 Apndice).

Figura 2 Foto mostrando a inciso operatria e o incio da resseco da tela subcutnea (seta)

9

Figura 3 Foto do molde de alumnio com 3cm de comprimento (setas amarelas) e 1cm de largura (seta

laranja).

Figura 4 Foto mostrando a demarcao dos limites da rea a ser resseccionada na parede abdominal anterior

do coelho (setas).

10

Figura 5 Foto mostrando a retirada do segmento demarcado na parede abdominal (seta).

Figura 6 Foto mostrando os limites do defeito parietal (setas brancas) quase ao final da resseco da rea

demarcada (seta azul) na parede abdominal, a com eviscerao de alas intestinais (seta amarela).

11

Procedimento de implantao da tela

Aps vinte e um dias do procedimento operatrio para a confeco do defeito na

parede abdominal os animais foram inspecionados e, uma vez constada a presena da hrnia

ventral (Figura 7), submetidos correo da hrnia pela implantao da tela.

A escolha foi randomizada para incluso dos animais em cada diferente grupo de

fixao de tela. O animal foi pesado, os plos da regio abdominal foram tosquiados,

primeiramente com aparelho eltrico e em seguida com aparelho de lmina de barbear, e

encaminhado para sala de operaes do Hospital Veterinrio. Anestesiado e posicionado na

mesa operatria em decbito dorsal horizontal, suas quatro patas foram atadas em abduo. A

anti-sepsia da pele da parede abdominal foi efetuada com lcool a 70% e soluo de

polivinilpirrolidona iodo (Povidine). A rea a ser operada foi delimitada com pano

operatrio esterilizado.

Uma inciso sobre a cicatriz operatria anterior foi realizada com bisturi lmina 15. O

plano da tela subcutnea foi divulsionado, identificado e isolado o saco hernirio (Figura 8).

O saco hernirio foi resseccionado e as bordas aproximadas com fio catgute 4-0 cromado,

sutura contnua, sem tenso, mantendo o colo hernirio intacto (Figura 9).

12

Figura 7 Foto caracterstica de um animal no 21 dia de ps-operatrio mostrando os limites (crculo

pontilhado em amarelo) da hrnia ventral e o volume produzido pela protruso do contedo abdominal atravs do defeito na parede.

Figura 8 Foto mostrando os limites do colo hernirio (linha pontilhada amarela) e o saco hernirio dissecado e isolado (seta amarela).

13

Figura 9 Foto mostrando a linha de sutura contnua com catgute cromado 4-0 (seta amarela) aps a

resseco do saco hernirio, os limites do colo hernirio (linha pontilhada) e as bordas da ferida operatria na pele (setas azuis).

O tamanho da tela de polipropileno aplicada foi padronizada em uma extenso de sete

centmetros de comprimento por cinco centmetros de largura, sendo que as bordas cranial e

caudal foram transfixadas com fio de ao 4-0 para posterior controle radiogrfico (Figura 10).

Nos animais do Grupo I as telas foram fixadas com a aplicao do adesivo biolgico

de fibrina. A aplicao do adesivo foi sobre toda a superfcie da tela colocada sobre o defeito

provocado na parede abdominal. O processo de colocao procurou manter a tela centrada

sobre o defeito at a polimerizao completa do adesivo. O tamanho padronizado da tela

permitiu um excesso de dois centmetros alm das bordas do defeito. Quando se percebeu que

a tela no se movia com movimentos delicados aplicados, lateral e longitudinalmente, sobre a

mesma (Figura 11).

Nos animais do Grupo II as telas foram fixadas pelo uso do adesivo sinttico de

cianoacrilato. A aplicao do adesivo tambm se fez em toda a superfcie da tela de

polipropileno colocada sobre o defeito provocado. Antes da aplicao foi necessrio um

cuidadoso procedimento de secagem da superfcie cruenta do defeito para melhor adeso da

14

cola sinttica. A aplicao requereu cuidados maiores devido a rapidez do processo

polimerizao e a ocorrncia de aderncia inadvertida aos instrumentos e luvas da equipe. O

processo foi considerado adequado quando a tela centrada sobre o defeito e deixando um

excesso de dois centmetros ao redor do defeito no mais se movimentou com manobras

delicadas de deslocamento lateral e longitudinal (Figura 12).

Nos animais do Grupo III as telas foram fixadas sobre a estrutura msculo-

aponeurtica da parede abdominal com pontos separados de poliamida 4.0, eqidistantes em

0,4mm, em todo o permetro da tela de polipropileno, dois centmetros alm do colo hernirio.

Os animais do Grupo IV tiveram suas telas de polipropileno simplesmente colocadas

sobre o defeito com a mesma margem de excesso perifrico de dois centmetros e

centralizadas sobre o defeito provocado na parede abdominal. Nenhum processo de fixao

foi realizado.

Os animais de todos os grupos, aps a implantao da tela tiveram a pele aproximada

com pontos contnuos, intradrmicos de poliamida 4.0. Os curativos foram similares ao do

primeiro ato operatrio.

Procedimento de antibitico-profilaxia

No ps-operatrio imediato da implantao da tela todos os animais, de todos os

grupos, receberam uma dose nica ceftriaxona sdica 50 mg.Kg-1 intramuscular.

15

Figura 10 Foto da tela de polipropileno com a colocao de material radiopaco nas suas extremidades (setas

amarelas), que correspondero s extremidades cranial e caudal no momento da implantao no animal.

Figura 11 Foto do conjunto de aplicao da cola de fibrina (Beriplast). Ao centro e embaixo os frascos com

tarja azul (contendo fibrinognio e fator XIII e soluo de aprotinina) e os frascos com tarja vermelha (contendo trombina humana e soluo de cloreto de clcio). Lateralmente os aplicadores com duas seringas, duas agulhas e acima o suporte de aplicao com misturador tipo cnula ou spray.

16

Figura 12 Foto mostrando o procedimento de aplicao da cola de fibrina, com o dispositivo tipo cnula (seta

amarela), sobre a tela de polipropileno (seta azul claro) colocada sobre a hrnia ventral.

Figura 13 Foto mostrando o aspecto final da aplicao da cola biolgica sobre a tela (seta azul claro), no

momento que antecedeu a sutura da tela subcutnea e pele (setas amarelas).

17

Figura 14 Foto mostrando a cola sinttica (Dermabond). O aplicador, invlucro de plstico malevel (seta

laranja) e uma ponta porosa (setas amarelas) para aplicao do adesivo, que vem acondicionado em um frasco de vidro (seta azul claro), que rompido para liberar o adesivo no interior do invlucro plstico. O aplicador contm 0,5 ml de lquido adesivo.

Figura 15 Foto mostrando o procedimento de aplicao da cola sinttica sobre a tela (seta branca) colocada

sobre a hrnia ventral. O adesivo saiu pela ponta porosa (seta amarela) pela expresso do frasco plstico (seta azul).

18

Figura 16 Foto mostrando o aspecto final da aplicao da cola sinttica, no momento que antecedeu a sutura

da tela subcutnea e pele.

Perodo de Observao Ps-operatrio da segunda interveno

Aps recuperao anestsica os animais foram transportados para suas gaiolas

individuais identificadas com os nmeros correspondentes queles tatuados nas orelhas. A

dieta (peletizada) e a gua foram liberadas de imediato

Os coelhos foram examinados diariamente, sempre pelo mesmo observador, sendo os

dados coletados (estado geral, aceitao da dieta, aspecto da ferida operatria, atividade

motora espontnea e estimulada, aspecto das evacuaes) e anotados em protocolo especfico

(Protocolo 2 Apndice).

Procedimento radiogrfico

Foram realizadas radiografias em posio pstero-anterior no ps-operatrio imediato,

stimo, dcimo quarto e vigsimo primeiro dia de ps-operatrio para verificar a posio da

tela orientada pelo fio-guia de ao colocado em suas bordas cranial e caudal.

19

Utilizando parmetros fixos de 7KVA e 8mA, um filme radiolgico 20/30 foi

colimado sobre a mesa radiogrfica; o animal foi posicionado em decbito dorsal, contido

pelas suas patas anteriores e posteriores, tendo a regio escpulo-umeral posicionada no bordo

superior do filme e sua linha mdia coincidindo com a linha mdia do filme previamente

colimado (Figura 17).

Figura 17 Foto do animal na posio padronizada na mesa radiogrfica,

para obteno das chapas radiogrficas de controle da posio da tela implantada.

20

Critrios de anlise do posicionamento da tela

A avaliao da posio da tela de polipropileno por digitalizao de imagem foi

realizada no Laboratrio de Microscopia do Departamento de Cincias Morfolgicas da

Universidade Estadual de Maring (UEM). As radiografias foram escaneadas (HP Scanjet 4C ) e adquiridas pelo programa Image Pro-Plus v 4.5.1 (Figura 18). Uma calibrao inicial foi

realizada a partir de uma radiografia com papel milimetrado, tambm adquirida por

escaneamento, para evitar distoro na leitura (Figura 19).

partir das imagens escaneadas foram demarcados os limites cranial , caudal, lateral

direito e esquerdo, usando de ferramentas do programa (measure/measuments elenght). A

somatria dos quatro lados foi transportada para uma planilha (Microsoft Excell) e

calculadas as reas correspondentes.

Os dados resultantes, em milmetros quadrados, foram tabulados e submetidos a

estudo estatstico.

Figura 18 Radiografia caracterstica de um animal mostrando a posio da tela implantada pela identificao do fio metlico nas extremidades cranial (seta laranja) e caudal da tela (seta amarela).

21

Figura 19 Escaneamento da tela em papel milimetrado para a calibrao inicial para evitar distoro na leitura e clculo das reas radiografadas.

Procedimento de coleta das peas operatrias e eutansia

No vigsimo primeiro dia da segunda interveno os animais foram pesados e

submetidos eutansia, pela injeo de tiopental sdico a 2,5%, endovenoso, em veia

auricular, at ocorrer a apnia e ausncia de batimentos cardacos.

Constatada a morte do animal, procedeu-se resseco da pele da regio abdominal

expondo a tela de polipropileno e o tecido circunvizinho, anotando e documentando

fotograficamente as eventuais dobras ou migrao da tela (Figura 20).

A pele da parede abdominal foi ressecada em forma de U invertido, expondo a tela

de polipropileno e o tecido circunvizinho. Tambm a parede abdominal foi incisada na forma

de U invertido e rebatida cranialmente (Figura 21).

A cavidade abdominal foi examinada para avaliao de eventuais alteraes,

principalmente a presena de aderncias.

A resseco em U invertido foi completada pela resseco do pedculo cranial. A

pea foi colocada sobre uma superfcie rgida e com bisturi foi seccionado um segmento de

22

dez por dois centmetros de extenso, transversalmente ao maior eixo da pea, englobando a

tela e cerca de dois centmetros de parede abdominal (Figura 22).

Num dos dois segmentos cranial ou caudal foram retirados alternadamente um

segmento de dois por dois centmetros, englobando parte da tela e parte do tecido vizinho. O

segmento foi colocado em soluo de formaldedo tamponado 10% para fixao e posterior

processamento histolgico.

Figura 20 Fotos da resseco em U da pele e da tela subcutnea (seta laranja) expondo a tela implantada

(seta amarela) sobre o defeito da parede abdominal.

Figura 21 Fotos da resseco em U do folheto msculo-aponevrtico da parede abdominal (seta laranja) expondo a cavidade abdominal (seta amarela) e evidenciando eventuais aderncias.

23

Figura 22 - Fotos da pea operatria fixada sobre superfcie rgida e j com a posterior seco transversal

(10X2 cm) do segmento (seta) que foi o corpo de prova submetido ao teste de resistncia tnsil.

Procedimento do Teste de Resistncia Tnsil

O fragmento destinado medio de fora de tenso foi acondicionado em papel

alumnio e mantido em cmara fria (4 graus Celsius negativos) at momentos antes da

aplicao do teste de resistncia trao.

Anlise da fora de tenso foi realizada em Mquina Universal de Ensaio (EMIC,

modelo DL 1000) com velocidade de ensaio de 30 mm/min. Os dados analisados em

programa de computador Mtest desenvolvido pelo fabricante da mquina (Figura 23).

Ensaio realizado na Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho (UNESP),

Campus de Botucatu, no Laboratrio de Tcnica Cirrgica e Cirurgia Experimental Prof. Dr.

Willian Saad Hossne.

24

Figura 23 Foto da Mquina Universal de Ensaio (EMIC, modelo DL 1000) e nos detalhes as garras de fixao

(seta amarela) e o segmento de parede abdominal (seta laranja) preso s garras de fixao.

Critrios de avaliao da resistncia tnsil

Os valores de fora mxima de ruptura (gf) e a deformao mxima (mm) do corpo de

prova de cada animal sero calculados pelo programa de computador acoplado Mquina de

Ensaio Universal (Figura 24).

As mdias, desvio padro, valores mnimos e mximos de cada grupo foram

analisadas e submetidas a teste estatstico pela anlise de varincia (ANOVA).

25

7-III

Figura 24 Foto caracterstica de um grfico fornecido pelo programa de computador da fora mxima de trao e deformidade mxima.

Procedimento de preparo histolgico

O fragmento para estudo histolgico foi fixado em formaldedo tamponado 10% por

vinte e quatro horas, aps fixao a pea foi lavada em gua corrente e conservada em lcool

a 70%.

Os fragmentos teciduais fixados em formaldedo 10%, com dimenso de 10x4mm,

foram seccionados em sentido longitudinal incluindo a tela e o tecido circunvizinho com

espessura de 5mm; posteriormente o material foi desidratado no processador de tecidos (PT

Mono 2000 - LUPE). Na seqncia os fragmentos foram emblocados para cortes no

26

micrtomo (American Optical 820) com cortes de aproximadamente trs micrmetros. Depois

deste processo, o material j em lminas, foi desparafinizado na estufa com temperatura de

580 C e corado pela hematoxilina-eosina (HE) e tricrmio de Masson.

Critrios de avaliao histolgica

As lminas de cada animal, coradas pela hematoxilina-eosina (HE), foram analisadas

em amostras com magnificao de 40x e 100x em toda sua extenso para identificao e

descrio dos parmetros de fibrose regenerativa com incorporao da tela, necrose, reao

inflamatria crnica inespecfica, supurao e granuloma de corpo estranho.

Incorporao da tela

Para determinar a porcentagem de incorporao da tela foram realizados cortes

transversais na pea operatria e avaliada, na periferia do espao ocupado pela tela, a

presena de tecido fibrtico. A presena de fibrose em at 25% da periferia correspondeu

escore ausente, envolvimento de 25% a 50% correspondeu ao escore leve, envolvimento de

50% a 75% correspondeu ao escore moderado e envolvimento maior que 75% correspondeu

ao escore acentuado.

Necrose

A necrose foi avaliada pela sua presena ou ausncia e caracterizada pela identificao

dos sinais de morte celular: coagulao ou liquefao do citoplasma e alteraes nucleares

como picnose, cariorexe ou carilise.

Rreao inflamatria

A caracterizao da reao inflamatria crnica foi feita pela identificao de clulas

inflamatrias morfomononucleares no tecido; avaliao qualitativa por se tratar de reao

comumente observada em focos de reparo tecidual.

27

Supurao

A supurao foi caracterizada pela presena de necrose de liquefao, exsudato

fibrinoleucocitrio e debris celulares. No foram contados campos, apenas identificado a sua

presena quando associado s fibras da tela.

Reao de corpo estranho

A reao de corpo estranho tela ou ao fio foi avaliada pela presena ou ausncia. No

foram sendo contados os campos, pois seu significado identifica a presena de um elemento

estranho ao organismo.

Quantificao do colgeno

Na colorao pela tcnica de tricrmio de Masson, identificou-se a presena de

colgeno que se cora em azul no processo fibro-reparativo. Utilizou-se a tcnica de subtrao

de imagem e contagem das fibras, estabelecendo comparao quantitativa entre os grupos.

Utilizou-se microscpio da marca Olympus BX50, acoplada uma cmara digital 3CCD Pro-

Series, e o programa para captura de imagens Image Pro-Plus V. 4.5.1 da Media

Cybernetics. Foi calibrado o analisador de imagens utilizando uma lmina micrometrada da

Olympus. As imagens capturadas foram armazenadas em CR-ROM formato JPEG (*.jpg)

para anlise.

As imagens armazenadas no CD-ROM foram analisadas utilizando-se das seguintes

ferramentas: measure/count, segmentation, conta-gotas com sensibilidade de 1x1 Pixel,

New Mask, Automatic Bright Objects, Statistics e Sum.

28

Figura 25 Fotos caractersticas da seqncia da subtrao de imagem para a avaliao quantitativa do colgeno

presente no tecido que envolve a tela implantada. Estudo estatstico

As variveis qualitativas foram representadas por freqncia absoluta (n) e relativa

(%), sendo os grupos comparados pelo Teste do Qui-quadrado.

29

As variveis quantitativas foram representadas por mdia, desvio padro (d.p.),

mediana, valores mnimo e mximo. Os testes aplicados foram Kolmogorov-Smimov para

testar a presena de distribuio normal, tcnica de Anlise de Varincia (ANOVA)

comparando os grupos com um fator fixo na presena de distribuio normal das variveis,

Prova no-paramtrica de Kruskal-Wallis comparando grupos sem fator fixo na presena de

distribuio das variveis. A anlise das variveis avaliadas mais de uma vez no mesmo

animal foi realizada utilizando a tcnica de Anlise de Varincia com medidas repetidas e um

fator fixo (grupo); para possibilitar aplicao dessa tcnica na amostra de todos os animais em

relao a posio da tela, foi aplicada a metodologia LOCF (last observation carried forward).

Foi adotado o nvel de significncia de 0,05 (5%) e nveis descritivos (p) inferiores a

esse valor foram considerados significantes e representados por um asterisco(*).

30

4. RESULTADOS Evoluo ponderal

Tabela 1 Mdia e desvio-padro do peso (g) nas avaliaes pr e ps-operatrias, nos

animais do grupo I (cola de fibrina), no grupo II (fixao com cianoacrilato), grupo III (fixao com fio) e grupo IV (sem fixao).

Peso (g) Avaliao

Grupo I (n = 10) Grupo II (n = 10) Grupo III (n = 10) Grupo IV (n = 6)

Pr op. 2350,0 (+188,6) 2315,0 (+241,6) 2140,5 (+756,5) 2316,7 (+180,7)

Ps op. 2660,0 (+352,6) 2575,0 (+366,1) 2600,0 (+458,9) 2575,0 (+258,4)

Efeito de Grupo p = 0,860

Efeito de Tempo p < 0,001 *

1500

1750

2000

2250

2500

2750

3000

3250

3500

Pr operatria Ps operatriaAvaliao

Peso

(g)

Grupo I Grupo II Grupo III Grupo IV

Grfico 1 Mdia do peso (g) nas avaliaes pr e ps-operatrias, nos animais do grupo I (cola

de fibrina), no grupo II (fixao com cianoacrilato), grupo III (fixao com fio) e grupo IV (sem fixao).

31

Avaliao radiogrfica da rea de ocupao da tela

Tabela 2 Mdia, desvio-padro, mediana e variao porcentual da rea ocupada pela tela entre o tempo inicial, stimo, dcimo quarto e vigsimo primeiro dia de observao nos animais do grupo I (cola de fibrina), no grupo II (fixao com cianoacrilato), grupo III (fixao com fio) e grupo IV (sem fixao).

Posio da Tela % em relao ao PO imediato

Grupo 7 PO 14 PO 21 PO

I (n = 10)

-5,04 (4,80)

-3,31

-13,7 / -0,1

-7,22 (5,65)

-4,56

-16,6 / -0,7

-10,37 (6,25)

-11,07

-21,8 / -0,7

II (n = 10)

-4,55 (3,98)

-3,15

-12,0 / -0,8

-8,39 (5,87)

-7,92

-18,4 / -1,8

-12,79 (9,12)

-11,97

-27,1 / -2,5

III (n = 10)

-4,29 (5,50)

-1,38

-15,9 / -0,5

-8,01 (6,72)

-5,77

-19,2 / -1,5

-12,22 (8,02)

-9,48

-27,1 / -4,2

IV (n = 6)

-6,47 (4,52)

-6,72

-13,7 / -0,9

-10,55 (4,24)

-9,92

-16,6 / -5,2

-15,65 (8,33)

-13,68

-29,6 / -7,8

Prova de Kruskal-Wallis p = 0,517 p = 0,645 p = 0,764

Valores expressos em mdia (dp), mediana, mnimo / mximo

32

Tabela 3 Mdia e desvio-padro da rea (mm2) calculada pela projeo radiogrfica da tela nos animais dos grupos I (cola de fibrina), II (fixao com cianoacrilato), III (fixao com fio) e IV (sem fixao) ao longo do tempo inicial, stimo, dcimo quarto e vigsimo primeiro dia de observao.

Posio da Tela (mm) PO

Grupo I (n = 10) Grupo II (n = 10) Grupo III (n = 10) Grupo IV (n = 6)

Imediato 176,6 26,2 198,7 31,8 205,0 37,1 186,4 31,4

7 168,0 28,6 190,2 34,6 196,5 39,2 175,1 36,0

14 164,2 29,1 183,4 38,6 189,0 39,7 167,3 33,3

21 158,5 28,3 175,5 43,3 180,9 41,2 158,2 36,1

Efeito de Grupo p = 0,329

Efeito de Tempo p < 0,001 * PO imediato > 7 PO > 14 PO > 21 PO

100

125

150

175

200

225

250

PO imediato 7 PO 14 PO 21POAvaliao

Posi

o

da T

ela

(mm

)

Grupo I Grupo II Grupo III Grupo IV

Grfico 2 Mdia e desvio-padro da rea (mm2) calculados pela projeo radiogrfica da tela nos animais dos grupos I (cola de fibrina), II (fixao com cianoacrilato), III (fixao com fio) e IV (sem fixao) ao longo do tempo inicial, stimo, dcimo quarto e vigsimo primeiro dia de observao.

33

TO T1

T2 T3

Figura 26 Fotos caractersticas de radiografias da parede abdominal para avaliao do deslocamento da tela, num animal do Grupo I (cola de fibrina) nos tempos TO (ps-operatrio imediato), T1 (7o dia de ps-operatrio), T2 (14 dia de ps-operatrio) e T3 (21 dia de ps-operatrio).

34

T0 T1

T3 T4

Figura 27 Fotos caractersticas de radiografias da parede abdominal para avaliao do deslocamento da tela, num animal do Grupo II (cola de cianoacrilato) nos tempos TO (ps-operatrio imediato), T1 (7o dia de ps-operatrio), T2 (14 dia de ps-operatrio) e T3 (21 dia de ps-operatrio).

35

T0 T1

T2 T3

Figura 28 Fotos caractersticas de radiografias da parede abdominal para avaliao do deslocamento da tela, num animal do Grupo III (fixao com fio) nos tempos TO (ps-operatrio imediato), T1 (7o dia de ps-operatrio), T2 (14 dia de ps-operatrio) e T3 (21 dia de ps-operatrio).

36

T0 T1

T2 T3

Figura 29 Fotos caractersticas de radiografias da parede abdominal para avaliao do deslocamento da tela, num animal do Grupo IV (sem fixao) nos tempos TO (ps-operatrio imediato), T1 (7o dia de ps-operatrio), T2 (14 dia de ps-operatrio) e T3 (21 dia de ps-operatrio).

37

Avaliao do teste de trao

Fora de ruptura

Tabela 4 Valores mnimos, mximos, mdia e desvio-padro da fora de ruptura (Kgf) nos animais dos grupos I (cola de fibrina), II (fixao com cianoacrilato) e III (fixao com fio) ao longo do tempo inicial, stimo, dcimo quarto e vigsimo primeiro dia de observao.

Fora de Trao

Grupo Mdia d.p. Mnimo Mximo n

Grupo I 3281,1 768,4 1744 4142 10

Grupo II 3086,2 1463,7 1450 5576 10

Grupo III 3013,2 981,9 1717 4535 10

ANOVA: p = 0,857

Medida da deformidade mxima

Tabela 5 Valores mnimos, mximos, mdia e desvio-padro da deformidade (mm) do corpo de prova nos animais dos grupos I (cola de fibrina), II (fixao com cianoacrilato), III (fixao com fio) e IV (sem fixao) ao longo do tempo inicial, stimo, dcimo quarto e vigsimo primeiro dia de observao.

Deformidade Mxima Grupo

Mdia d.p. Mnimo Mximo n

Grupo I 21,14 7,86 11,49 38,45 10

Grupo II 20,43 9,93 7,82 37,96 10

Grupo III 20,84 6,90 10,85 33,65 10

ANOVA: p = 0,982

38

Avaliao histolgica

Avaliao da incorporao da tela Tabela 6 Nmero e porcentagem de animais segundo escore de incorporao da tela, nos

animais dos grupos I (cola de fibrina), II (fixao com cianoacrilato) e III (fixao com fio) ao longo do tempo inicial, stimo, dcimo quarto e vigsimo primeiro dia de observao.

Grupo Escore de incorporao da tela Grupo I Grupo II Grupo III

Ausente (75%)

10 100,0%

9 90,0%

10 100,0%

Total

10 100,0%

10 100,0%

10 100,0%

Teste do Qui-quadrado: p = 0,355

39

Figura 30 Fotomicrografia caracterstica de um animal (Grupo I) demonstrando incorporao da tela classificada como acentuada (>75%), demonstrando fibrose cicatricial (f), envolvendo fibras da tela (t).HE 40X.

Figura 31 Fotomicrografia caracterstica de um animal (Grupo II) demonstrando incorporao parcial da tela classificada como moderada (50% a 75%), mostrando fibrose cicatricial (f) e tela (t). HE 100X.

40

Avaliao da presena de necrose

Tabela 7 Nmero e porcentagem de animais segundo a presena ou ausncia necrose, nos

animais dos grupos I (cola de fibrina), II (fixao com cianoacrilato) e III (fixao com fio) ao longo do tempo inicial, stimo, dcimo quarto e vigsimo primeiro dia de observao.

Grupo Necrose

Grupo I Grupo II Grupo III

Ausente 9 90,0% 5 50,0% 10 100,0%

Presente 1 10,0% 5 50,0% 0 0,0%

Total 10 100,0% 10 100,0% 10 100,0%

Teste do Qui-quadrado: p = 0,013 *

Figura 32 Fotomicrografia caracterstica de uma rea de necrose (n) mostrando a coagulao acidoflica das clulas com perda dos contornos e ncleos. HE 100X.

41

Avaliao de inflamao crnica

Tabela 8 Nmero e porcentagem de animais segundo a presena ou ausncia de inflamao crnica inespecfica associada, nos animais dos grupos I (cola de fibrina), II (fixao com cianoacrilato) e III ( fixao com fio) ao longo do tempo inicial, stimo, dcimo quarto e vigsimo primeiro dia de observao.

Grupo Inflamao crnica inespecfica Grupo I Grupo II Grupo III

Ausente 5 50,0% 0 0,0% 8 80,0%

Presente 5 50,0% 10 100,0% 2 20,0%

Total 10 100,0% 10 100,0% 10 100,0%

Teste do Qui-quadrado: p = 0,029 *

Figura 33 Fotomicrografia caracterstica de uma rea com inflamao crnica inespecfica (i) associada processo fibro-reparativo. HE 200X.

42

Avaliao de supurao

Tabela 9 Nmero e porcentagem de animais segundo a presena ou ausncia de inflamao supurativa associada nos animais dos grupos I (cola de fibrina), II (fixao com cianoacrilato) e III (fixao com fio) ao longo do tempo inicial, stimo, dcimo quarto e vigsimo primeiro dia de observao.

Grupo Inflamao supurativa Grupo I Grupo II Grupo III

Ausente 7 70,0% 4 40,0% 10 100,0%

Presente 3 30,0% 6 60,0% 0 0,0%

Total 10 100,0% 10 100,0% 10 100,0%

Teste do Qui-quadrado: p = 0,014 *

Figura 34 Fotomicrografia caracterstica demonstrando uma rea de necrose supurativa (S). HE 40X.

43

Avaliao de reao tipo corpo estranho

Tabela 10 Nmero e proporo de animais com inflamao granulomatosa corpo estranho associada nos animais dos grupos I (cola de fibrina), II (fixao com cianoacrilato)e III ( fixao com fio) ao longo do tempo inicial, stimo, dcimo quarto e vigsimo primeiro dia de observao.

Grupo Inflamao granulomatosa corpo estranho Grupo I Grupo II Grupo III

Ausente 1 10,0% 4 40,0% 0 0,0%

Presente 9 90,0% 6 60,0% 10 100,0%

Total 10 100,0% 10 100,0% 10 100,0%

Teste do Qui-quadrado: p = 0,044 *

Figura 35 Fotomicrografia caracterstica de uma rea de granuloma do tipo corpo estranho. HE 400X.

44

Avaliao do colgeno

Tabela 11 Mdia, desvio-padro, mediana e valores mximo e mnimo das reas (mm2) ocupadas por colgeno calculadas por subtrao de imagem (colorao Tricrmio de Masson) nos animais dos grupos I (cola de fibrina), II (fixao com cianoacrilato) e III (fixao com fio) ao longo do tempo inicial, stimo, dcimo quarto e vigsimo primeiro dia de observao.

Colorao Tricmio de Masson Grupo

Mdia d.p. Mediana Mnimo Mximo n

Grupo I 93846,04 (+14542,24) 87863,35 75968,07 122053,50 10

Grupo II 78384,06 (+18074,21) 77855,95 51567,26 105416,20 10

Grupo III 70490,47 (+11382,93) 72945,78 53464,15 85004,10 10

Prova de Kruskal-Wallis: p = 0,004 * Grupo I > (Grupo II = Grupo III)

Figura 36 Fotomicrografia caracterstica de uma rea de incorporao da tela. Msculo estriado (m), tela (t), colageinizao (c). Tricrmio de Masson 100X.

45

Figura 37 Fotomicrografia caracterstica de uma rea de fibras colgenas (c). Tricrmio de Masson 400X.

46

5. DISCUSSO

O modelo experimental de hrnia ventral em coelhos preconizado pelo Programa de

Ps-Graduao em Cirurgia e Experimentao, dentro da rea de concentrao em Integrao

Orgnica de Materiais de Sutura, Enxertos e Transplantes, e utilizado nesta pesquisa,

confirmou os resultados de trabalho anteriores25-29 na sua eficcia para produzir um defeito

padronizado na parede abdominal. Assim mostrou ser confivel no estudo de tcnicas ou

materiais corretivos. Todos os animais submetidos resseco de um segmento de msculo-

aponevrtico abdominal apresentaram-se com hrnia estvel aos vinte e um dias de

observao.

Diversos animais como ratos6,25,27-29,38,63-65, coelhos26,66-70 e porcos36,71,72 so

referenciados na literatura biomdica como modelo animal para correo de hrnia ventral

aguda.

O Programa de Ps-Graduao em Cirurgia e Experimentao tem utilizado o rato

como modelo, embora em trabalho inicial25,29 no tenha se mostrado confivel. Trabalho

subseqente com a modificao da rea msculo-aponevrtica a ser retirada mostrou que

pode ser adequado23,27. No entanto, considerando o tamanho da hrnia a ser pesquisada e o

eventual prosseguimento da linha de pesquisa com a proposio de correo por via vdeo-

assistida, optou-se por aprimorar o modelo em coelho j usado em trabalho anterior nesta

linha de pesquisa26. No projeto piloto, seguindo o modelo proposto, a dimenso do molde de

resseco da parede de sete por trs centmetros produziu hrnias volumosas, pois retirava

uma rea de vinte e um centmetros quadrados. A posterior correo da hrnia foi de difcil

execuo, uma vez que envolveu extenso descolamento da pele e do saco hernirio com maior

sangramento, exigindo o prolongamento do ato operatrio e conseqente reforo da anestesia.

Aps redues progressivas da extenso do molde, optou-se por um de trs por um

centmetro, que diminuiu o defeito na parede abdominal, mas produziu uma hrnia de volume

adequado aos propsitos da pesquisa e estvel j aos vinte e um dias de ps-operatrio. O

descolamento da pele, da tela subcutnea e do saco hernirio diminuiu os tempos operatrios,

evitando prolongar a anestesia e facilitou a fixao da tela sinttica. Praticamente eliminou-se

a ocorrncia de hematomas e infeco da ferida operatria, que ocorria com as hrnias

volumosas, uma vez que o atrito do abdome do animal na gaiola era um fator desencadeante

de complicaes.

47

Detalhe tcnico importante foi a resseco da tela subcutnea, facilmente identificvel,

juntamente com a resseco do segmento msculo-aponevrtico. Reduziu-se tambm o

perodo ps-operatrio de 30 dias no modelo original para 21 dias, pois se observou pelo

projeto-piloto que neste perodo o saco hernirio ficou bem delimitado e estvel.

O detalhe tcnico operatrio de realizar a sutura intradrmica da pele e, no ps-

operatrio imediato, a confeco de um curativo oclusivo com atadura de crepe por trs dias,

evitou que o animal tivesse acesso ao fio de sutura na ferida operatria. Estes cuidados

evitaram que o animal roesse os fios de sutura com a conseqente eviscerao e eventual

bito.

O procedimento anestsico utilizado seguiu o protocolo padronizado pelo Programa de

Ps-Graduao em Cirurgia e Experimentao para a espcie. A aplicao prvia de

acepromazina (Acepram) e a seguir a associao de xilazina (Rompum) e

telamina/zolazepran (Telazol), pela via intramuscular, proporcionou um perodo de

anestesia suficiente para todo o procedimento operatrio. A recuperao foi satisfatria e

nenhum bito ocorreu que possa ter sido atribudo anestesia.

A observao pr-operatria dos animais incluiu o acompanhamento da curva

ponderal para ter-se uma avaliao do estado de higidez dos animais e surpreender

intercorrncias que pudessem interferir na avaliao dos demais parmetros.

A avaliao do peso dos animais no pr-operatrio, atravs da comparao das mdias

de peso, no mostrou diferena estatstica (p=0,860) entre os animais dos quatro grupos de

estudo indicando a homogeneidade destes. Na anlise da evoluo do peso no ps-operatrio

houve diferena estatstica (p

saco hernirio sem tenso foi similar ao procedimento na correo de hrnias em seres

humanos e com isto facilitou a aplicao e manuteno da tela na posio adequada.

A literatura biomdica tem numerosos trabalhos em animal de experimentao

procura de uma prtese adequada, porm consensual que a tela de polipropileno aquela

que apresenta resultados mais favorveis4-6,73-77. Contudo no h consenso sobre a maneira

mais adequada de fixao da tela. H trabalhos experimentais comparando o uso de fio

absorvvel (poliglactina 910) e fio inabsorvvel (polipropileno)4, cola de fibrina e fator de

crescimento liberado de plaquetas37, octilcianoacrilato, sutura e grampeador46, cola de fibrina,

grampeador e no fixao por via laparoscpica33.

Pesquisas em seres humanos referem a fixao de tela com cola de fibrina em

pacientes com distrbios de coagulao como agente hemosttico77, fixao da tela com cola

de fibrina em hrnia inguinal pela tcnica de Lichtenstein78, fixao via laparoscpica com

N-butil-2-cianoacrilato79,, bem como a comparao do uso de fixao com grampeador e sem

fixao33.

A utilizao dos adesivos biolgicos e no biolgicos na fixao da tela tem

demonstrado ser de fcil aplicabilidade, rapidez de execuo, menor reao inflamatria,

reduo das complicaes ps-operatrias como hematomas, dores, sinus persistentes e

reao de corpo estranho. Apesar destas vantagens tericas e empricas ainda assim o fio

cirrgico aplicado pela grande maioria dos trabalhos referidos na literatura, apesar de

estarem associados ocorrncia de granuloma de corpo estranho, infeco e serem palpveis

em pacientes magros4.

Apoiado nestes relatos empricos e no embasamento terico do uso dos adesivos foi

proposta esta pesquisa em animal de experimentao para contribuir no conhecimento da

integrao de uma tela sinttica de uso corrente partir de sua fixao com os dois tipos de

adesivos cirrgicos, que tambm so citados como de uso corrente na literatura biomdica.

O adesivo biolgico foi representado pela cola de fibrina (Beriplast) e o de origem

sinttica pelo 2-octil cianoacrilato (Dermabond).

A cola biolgica de fibrina composta de duas partes, sendo a primeira de

fibrinognio, fator XIII e aprotinina, a segunda parte por trombina e cloridrato de clcio. Este

adesivo mimetiza as reaes finais do processo normal da coagulao, ou seja, o fibrinognio

ao interagir com a trombina libera uma fibrina monomrica que na presena do fator XIII e do

clcio torna essa fibrina em polimrica com diversas pontes, sendo este produto o adesivo.

49

Cola de fibrina tem ao hemosttica imediata por promover a ocluso de vasos pequenos e

mdios. O polmero de fibrina estvel se associa fibronectina e s fibras de colgeno sob a

influncia do fator XIIIa formando o complexo fibrina, fibronectina e colgeno; este

complexo constitui o arcabouo sobre os quais os fibroblastos se movimentam ao longo dos

trilhos de colgeno formando o conjuntivo vascular; bem como tem a ao anti-sptica pela

capacidade da fibronectina em fixar debris e bactrias, facilitando a opsonizao pelos

macrfagos34-36,80.

O adesivo sinttico, 2-octil cianoacrialato, um cianoacrilato de cadeia longa, baixa

toxidade e com forte poder de fixao. So monmeros catalisados pela gua em contato com

ar, convertendo-se em polmeros no estado slido. Este adesivo no possui solventes como

lcool, benzeno ou acetona. Forma fortes aderncias em poucos segundos. A resistncia do

polmero no influenciada pela presena de pequena quantidade de gua3. Inicialmente

desenvolvido para fechamento de feridas superficiais, tem sido amplamente usado em muitas

indicaes diferentes como cimento sseo em ortopedia, cicatrizao de ulcera de crnea,

fechamento de fistulas do trato urinrio, esfago-brnquica, malformaes artrio-venosas34-

36,80. O adesivo considerado de fcil aplicao e secagem rpida (5 a 7 segundos)34-36,80.

Embora no tenha sido objeto especfico desta pesquisa, pde-se observar que a

fixao da tela com pontos manuais de fio cirrgico demorou mais para ser realizada do que a

aplicao de ambos os adesivos. Tambm o adesivo biolgico mais fcil de aplicar que o

cianoacrilato, que necessita de cuidados especiais para no aderir s luvas e ao instrumental

operatrio. Contudo, os procedimentos operatrios de todos os grupos, depois de devidamente

treinados, foram simples e seguros. Evidentemente a aplicao da tela sem nenhum tipo de

fixao foi a mais rpida e simples.

O processo radiogrfico exigiu a anestesia leve dos animais para o seu correto

posicionamento na mesa e a padronizao estabelecida foi conseguida pela equipe com

relativa facilidade no tendo nenhuma intercorrncia que inviabilizasse o procedimento

A marcao da tela com fio metlico, nas bordas cranial e caudal, permitiu uma segura

e confivel avaliao da migrao da tela pelo clculo da rea projetada na radiografia. O

programa computacional (Image Pro-Plus V 4.5.1) permitiu o clculo da mdia e desvio-

padro das reas calculadas como evidenciado nas fotos de radiografias caractersticas das

figuras 26 29 num animal dos Grupos I (cola de fibrina), II (cola de cianoacrilato), III

(fixao com fio) e IV (sem fixao).

50

Observou-se que, num mesmo perodo de tempo considerado, quer seja sete, quatorze

ou vinte e um dias, a tela teve uma variao de sua projeo radiogrfica de rea sem

diferena estatisticamente significante, independente do procedimento de fixao (Tabela 2 e

3). Todas as reas tiveram variao percentual negativa em relao rea inicial da tela,

significando que todas as telas retraram-se em seu leito original ou ocorreu uma

movimentao dos tecidos circunvizinhos de modo a propiciar discretas mudanas nos

clculos das reas (Tabela 2). Chama ateno a similaridade de migrao da tela no fixada

com os demais grupos. Era de se esperar uma migrao maior da tela no fixada, porm pode-

se atribuir a sua no-mobilidade presso das vsceras abdominais sobre a tela, que ficou

como recheio de um sanduche entre a estrutura msculo-aponeurtica e a pele.

Com o passar do tempo houve uma movimentao maior das telas, em todos os

grupos, com valores percentuais de reas progressivamente mais negativas em relao rea

inicial. Isto significou que independente do tipo de fixao houve uma migrao da tela. No

entanto, quando se comparam os grupos entre si no vigsimo primeiro dia percebe-se que a

tela sem fixao movimentou-se expressivamente mais que as dos demais grupos (Tabela 2).

A anlise das reas calculadas em milmetros quadrados (Tabela 3 e Grfico 2)

permitiu verificar uma tendncia de que a tela fixada por fio tem desempenho discretamente

melhor no aspecto de no migrao em relao fixao pelo cianoacrilato e que a tela fixada

com fibrina e a sem fixao tm desempenhos semelhantes.

Um procedimento mais sensvel de migrao da tela talvez possa trazer dados que

expressem de modo estatisticamente significante estas tendncias verificadas. As

possibilidades de avaliao no invasiva apontam para a ressonncia nuclear magntica ou

tomografia helicoidal e so pontos a serem testados nesta linha de pesquisa. No foram

encontrados na literatura trabalhos que explorassem os aspectos de migrao de tela quer por

mtodos invasivos ou no invasivos.

Alm da migrao, outro aspecto que tem relevncia, a capacidade da tela em

suportar as tenses que submetida no funcionamento da parede abdominal. A sua

resistncia tnsil ser responsvel pela manuteno da integridade morfo-funcional da parede

at que se complete o processo de cicatrizao. Deste modo, procurou-se avaliar a resistncia

das telas trao in vitro.

O mtodo de avaliao da resistncia trao de uso corrente em engenharia no teste

de diversos materiais inorgnicos, orgnicos ou sintticos. Na linha de pesquisa e em outros

51

projetos do Programa de Ps-graduao em Cirurgia e Experimentao a utilizao de corpo

de provas de peas de animais de experimentao tem mostrado resultados satisfatrios e

confiveis14,15,25,29.

Tomou-se o cuidado de selecionar um corpo de prova que englobasse os tecidos

circunvizinhos ao local do implante da tela e que fosse padronizado em sua rea central para

uniformidade dos resultados. Na coleta do material para a confeco do corpo de prova

percebeu-se em todos os animais do grupo IV, onde no foi usado nenhum tipo de fixao,

que a tela no estava integrada aos tecidos e acabava sendo deslocada e removida facilmente

no momento de resseccionar a parede abdominal. Nos demais grupos a fora de trao de

ruptura e a medida da deformidade mxima no mostraram diferenas estatisticamente

significante (Tabelas 4 e 5). Portanto os adesivos cirrgicos testados mostraram-se to

eficazes quanto ao fio cirrgico na fixao da tela de polipropileno.

Para completar a anlise de integrao da tela procurou-se avaliar aspectos

histolgicos relacionados ao processo inflamatrio da cicatrizao e a formao do colgeno

que so parmetros de aplicao rotineira nas avaliaes de integrao de materiais sintticos

ou biolgicos.

A presena de tecido fibrtico foi avaliada em campos aleatrios e a atribuio de um

escore permitiu a anlise semiquantitativa destes dados. Pde-se perceber que a ocorrncia de

fibrose acentuada foi um achado comum aos trs grupos. O motivo deve estar muito mais

ligado natureza da tela, que por ser um material sinttico provoca esta reao de modo

acentuado e uniforme em todos os animais. Os adesivos ou o fio cirrgico no aumentaram ou

diminuram esta manifestao reacional tela.

reas de necrose foram mais freqentes no grupo de animais em que a tela foi fixada

com o cianoacrilato. A ocorrncia de necrose foi desprezvel com o uso de fibrina e ausente

com o uso de fio (Tabela 7). O fato de certo modo esperado, uma vez que a polimerizao

do cianoacrilato produz uma reao exotrmica e est associada, tambm em outros tecidos,

com uma reao tecidual inflamatria exuberante35,36,39-43.

A inflamao crnica fibro-regenerativa e caracteristicamente com infiltrado

leucocitrio focal foi maior tambm no grupo do cianoacrilato, porm mais expressiva no

grupo da fibrina em relao ao fio cirrgico (Tabela 8). O cianoacrilato pelas suas

caractersticas de polimerizao exotrmica justificaria os achados inflamatrios

crnicos35,36,39-43, contudo a fibrina da qual era esperada uma reao menor apresentou, em

52

cinqenta por cento das lminas, um processo inflamatrio mostrando talvez uma reao

especfica do coelho fibrina humana. O ideal seria testar um adesivo de fibrina derivado da

prpria espcie. O fio teve uma reao inflamatria esperada pela sua composio e

metabolismo que mostrou j em outros tecidos que por volta de trs semanas uma reao

inflamatria discreta e progressivamente tendendo para absoro9-11.

A presena de focos de supurao no grupo de cianoacrilato foi maior que no grupo de

fibrina tambm em razo das reaes inflamatrias causadas pelo metabolismo do

cianoacrilato35,36,39-43 (Tabela 9). A fibrina apresentou uma ocorrncia no esperada de

abscessos e a explicao talvez seja o fato de no ser homloga para o coelho. Isto tambm

explicaria o fato de ter ocorrido uma maior quantidade de reao tipo corpo estranho com o

grupo de fibrina do que com o grupo de cianoacrilato (Tabela 10).

A formao de colgeno foi favorecida nos animais do grupo que utilizou a fibrina,

sendo que houve uma equivalncia com o grupo de cianoacrilato e fio (Tabela 11).

Sabidamente a fibrina, por ser um produto biolgico relacionado a coagulao e cicatrizao

favorece os processos de regenerao e formao de colgeno37,53,60,77,79,80.

Consideraes gerais

O modelo de produo de hrnia ventral em coelhos mostrou mais uma vez sua

adequao e a possibilidade de continuar a linha de pesquisa para avaliar outros aspectos

tcnicos e biolgicos da evoluo da correo destas hrnias.

A fixao das telas por meio de fio ou adesivos fundamental para a integrao da

prtese aos tecidos vizinhos e para conferir resistncia tnsil cicatriz. O fio cirrgico

proporcionou melhores resultados na avaliao de migrao da prtese. Embora a pesquisa

tenha demonstrado que h uma significativa migrao da tela em todos os grupos, a tela

fixada com fio que menos se movimenta. Este parece ser um fator favorvel na correo das

hrnias, a movimentao da tela pode estar associada a uma maior taxa de recidiva ou de

dificuldades na fase inicial do processo de cicatrizao.

Deve-se considerar, no entanto a limitao do exame radiolgico na real avaliao da

migrao, mas a possibilidade de exames de imagem mais precisos como a ressonncia

magntica nuclear ou tomografia helicoidal, pode contribuir de modo importante na avaliao

53

no invasiva da migrao de telas. Por ser um exame no invasivo pode-se aventar a

possibilidade de inclusive fazer-se a pesquisa em seres humanos.

A tela sem fixao que apresentou piores resultados na maioria dos parmetros

estudados e coloca em discusso uma prtica que corrente na correo de hrnias por

cirurgia vdeo-assistida. Uma das perspectivas aberta pela pesquisa exatamente testar a

colocao de telas por via laparoscpica, coisa que o modelo, pelo porte do animal e

caractersticas das hrnias provocadas, parece ser adequado.

A comparao entre os adesivos mostrou resultados coincidentes com outros trabalhos

da literatura biomdica, em que o adesivo derivado do cianoacrilato apresenta reaes

inflamatrias mais evidentes, embora possua maior capacidade de adesividade. O a