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UNIVERSIDADE DE TAUBATE Evandro Petri AVALIAÇÃO IN VITRO DO GALVANISMO ENTRE IMPLANTES DENTÁRIOS E SISTEMAS METÁLICOS UTILIZADOS PARA REABILITAÇÃO MAXILO-MANDIBULAR Taubaté – SP 2006

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UNIVERSIDADE DE TAUBATE Evandro Petri

AVALIAÇÃO IN VITRO DO GALVANISMO

ENTRE IMPLANTES DENTÁRIOS E SISTEMAS

METÁLICOS UTILIZADOS PARA

REABILITAÇÃO MAXILO-MANDIBULAR

Taubaté – SP

2006

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UNIVERSIDADE DE TAUBATE Evandro Petri

AVALIAÇÃO IN VITRO DO GALVANISMO

ENTRE IMPLANTES DENTÁRIOS E SISTEMAS

METÁLICOS UTILIZADOS PARA

REABILITAÇÃO MAXILO-MANDIBULAR

Dissertação apresentada para obtenção do Título de Mestre pelo Programa de Mestrado em Odontologia do Departamento de Odontologia da Universidade de Taubaté. Área de concentração: Prótese Dentária Orientadora: Profa. Dra. Ana Paula Rosifini Alves

Taubaté – SP

2006

Petri, Evandro Avaliação in vitro do galvanismo entre implantes dentários e sistemas metálicos utilizados para reabilitação maxilo-mandibular/ Evandro Petri. Taubaté: Unitau, 2006. 46 f.: il. Orientadora : Ana Paula Rosifini Alves

Dissertação de Mestrado – Universidade de Taubaté, Departamento de Odontologia, 2006.

1.Corrosão sob tensão 2. Supra-estrutura 3. Implante dentário 4. Prótese mandibular – Dissertação. I.

Universidade de Taubaté. Departamento de Odontologia. II. Título.

Dedico este trabalho à minha mulher, Márcia, que me acompanhou durante

todo o período me ajudando e incentivando.

Aos meus pais, José Luiz e Doroti, por toda a ajuda prestada, e por serem

exemplo para minha forma de viver.

AGRADECIMENTOS

À Profa. Dra. Ana Paula Rosifini Alves pela simplicidade e auxilio no

desenvolvimento e orientação do trabalho.

Aos técnicos do Departamento de Engenharia José Arauto Ribeiro e Flávio Pereira

pelo apoio prestado.

Ao Prof. Dr. Durval Rodrigues Junior, Faenquil (Faculdade de engenharia química de

Lorena), pela realização das análises em Microscópio Eletrônico de Varredura.

À Dra. Elizabeth Soneko Dantas, do IPEN (Instituto de pesquisas energética e

Nucleares), pela análise química das soluções.

À Unitau (Universidade de Taubaté).

Aos Professores Dr. Sigmar de Mello Rhode, coordenador da área de prótese, e Dr.

Antônio Olavo Cardoso Jorge, coordenador geral do programa de mestrado em

odontologia da Universidade de Taubaté, pela chance de realizar este curso.

As situações não fazem o homem, elas apenas o revelam. Autor desconhecido

RESUMO

A prototipagem rápida é uma tecnologia indicada para várias situações na

área da saúde, dentre as quais destaca-se a confecção de próteses mandibulares. A

interação entre as diferentes ligas para reconstituição mandibular e reabilitação oral

pode determinar corrosão das mesmas, provocando efeitos indesejáveis biológicos,

funcionais e estéticos. Além disso, no processo de corrosão íons metálicos são

liberados e podem entrar em contato com células e tecidos no meio imediato, ou

serem distribuídos pelo corpo, principalmente no canal intestinal. Se esses íons não

são biocompatíveis, e absorvidos pelo organismo em grande quantidade, podem

ocorrer danos. O objetivo do presente estudo foi avaliar a corrosão sob tensão em

fadiga dos materiais, Ti cp. Ni-Cr e Co-Cr utilizados para reabilitação oral e

reconstituição mandibular e investigar seu comportamento corrosivo. Uma máquina

de ensaio de fadiga simulando a mastigação foi especialmente desenvolvida para

este trabalho. Os corpos-de-prova foram submetidos a dois milhões de ciclos, com

20 N em meio fluoretado a 37 ºC e freqüência de 5 Hz. Os meios de imersão foram

analisados com auxílio de espectroscopia de emissão atômica e as superfícies em

microscópio de luz e eletrônico. Após o ensaio de fadiga, pites e desgaste na

superfície dos corpos-de-prova não foram observados no implante de titânio nem na

infraestrutura de Ni-Cr da coroa metalocerâmica. Os resultados indicaram liberação

de íons para as ligas Ni-Cr e Co-Cr.

Palavras-chave: Corrosão sob tensão. Supra-estrutura. Implante dentário. Prótese

mandibular.

ABSTRACT

The rapid prototyping is a tecnology used to may cases, like mandibular

prothesis. The interaction between many kinds of dental alloys may result in

biological, functional and aesthetic effects of which the biological effects. Besides, in

corrosion process metal ions are released and may come into contact with cells and

tissues in the immediate enviroment, or be distributed throughout the body, mainly to

the intestine canal. If these ions are not biocompatible, and if they are absorbed in

great quantity by organism may be injured . The aim of the present study was to

evaluate fretting corrosion in many materials, Ti cp, NiCr and CoCr for mandibular

and oral rehabilitation and investigate their corrosion behaviour. Fatigue testing

machine simuling mastication was specially designed. The specimens were loaded

with 20 N in fluoride media at 37ºC. The loading frequency was 5 Hz and the

maximum cycle number was two million or the approximate equivalent of two years in

vivo mastigation. The immersion media were analyzed with inductively coupled

plasma-atomic emission spectroscopy (ICP-AES) and surfaces observed in light and

eletronical microscopy. After testing, pites and wear wasn’t observed on surface of

titanium or NiCr. The results indicated ionic release from Ni-Cr and Co-Cr

suprastructures.

Key-words : Fretting corrosion. Suprastructures. Dental implants. Mandibular

prothesis.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Metal simulando prótese mandibular com resina de embutimento 25

Figura 2 - Tratamento da superfície metálica após jato de óxido de alumínio 27

Figura 3 - Aplicação de camada cerâmica 28

Figura 4 - Cerâmica após cocção 28

Figura 5 - Corpo-de-prova finalizado 29

Figura 6 - Equipamento projetado para realização dos ensaios de fadiga 30

Figura 7 - Plataforma do implante controle em MEV com aumento de 40 X 34

Figura 8 - EDS geral da plataforma do implante controle 34

Figura 9 - Superfície do implante do grupo Ti cp. 35

Figura 10 - Hexágono interno do UCLA, grupo de Ti cp. após ensaio de fadiga 36

Figura 11 - Hexágono interno do UCLA, grupo Co-CR, após ensaio de fadiga 36

Figura 12 - Deposição de cristais de sal no implante de Ti cp. 39

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Desprendimento de íons para a solução 33

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 11

2 REVISÃO DA LITERATURA 14

3 PROPOSIÇÃO 24

4 MATERIAL E MÉTODO 25

4.1 Corpo-de-prova 25

4.1.1 Metal para reconstrução facial 25

4.1.2 Implantes 25

4.1.3 Enceramento e sobrefundição dos pilares prot éticos 26

4.1.4 Aplicação da cerâmica 27

4.1.5 Montagem do conjunto metal/implante/coroa 29

4.2 Ensaio de fadiga em solução eletrolítica 30

4.3 Análise em microscopia 31

4.4 Análise Química 32

5 RESULTADOS 33

5.1 Liberação de íons 33

5.2 Microscopia 33

6 DISCUSSÃO 37

7 CONCLUSÕES 41

REFERÊNCIAS 42

11

1 INTRODUÇÃO

Existem fatalidades que atingem o ser humano que podem levar a problemas

na sua qualidade de vida. Dentre estas situações está a perda de parte da

mandíbula, devido à presença de traumas, acidentes, agressões, tumores e

infecções, gerando severas deformidades que quase sempre dificultam a

alimentação e fonação.

Para reparar essas deformidades têm surgido várias técnicas auxiliares, como

a prototipagem rápida, um conjunto de tecnologia usado para a fabricação de

objetos diretamente a partir de fontes de dados gerados por um sistema de projeto

auxiliado por computadores (MEURER; SILVA; MEURER, 2004). Com a técnica de

prototipagem rápida, modelos podem ser usados para simulação cirúrgica

associados ao seu estudo em articulador. Quando utilizados na reconstrução da

mandíbula após ressecção tumoral, podem reduzir as complicações pós-operatórias

e alterações de posição da articulação temporomandibular. Em implantodontia,

fornecem informações sobre tamanho, direção e localização dos implantes, e

também anatômicas, podendo ser utilizados na reconstituição de defeitos

craniofaciais (CHOI et al., 2002).

As reconstruções da mandíbula têm sido realizadas com materiais metálicos

como Co-Cr e titânio, devido às propriedades que esses materiais apresentam como

excelente resistência mecânica e biocompatibilidade (EUFINGER; WEHMOLLER;

MACHTENS, 1997). No entanto para proporcionar o efeito estético desejado,

implantes dentários devem ser fixados às mesmas. Os implantes têm como função e

12

objetivo a restauração da saúde e funcionalidade da cavidade oral, sendo mais

utilizados os implantes, parcialmente submergidos no osso (ANUSAVICE, 2005).

Em conjunto com implantes e para promover a reabilitação oral, a porcelana

associada a estruturas metálicas fundidas constituem um material clássico na

substituição de dentes perdidos, proporcionando reabilitações protéticas com

excelente estética e bons resultados em termos oclusais.(FRANCISCHONE;

VASCONCELOS, 1998; MEZZOMO, 1999). A associação dos elementos que

constituem o conjunto prótese mandibular/implante/coroa metalocerâmica

proporciona uma combinação de metais diferentes que podem provocar um efeito

conhecido como galvanismo.

A Sociedade Americana de Materiais para Testes define par galvânico como

um par de condutores diferentes, comumente metais, em contato elétrico. Assim, a

diferença entre os metais forma o par galvânico. Por outro lado, galvanismo também

pode ser definido como a geração de corrente elétrica, em que o paciente poderá ou

não sentir desconforto ou dor, ocorrendo uma diferença de potências entre os

diferentes tipos de restaurações metálicas em dentes adjacentes ou antagônicos.

Isto acontece em virtude do contato entre o metal e a saliva ou serum que funciona

como uma célula elétrica, produzindo corrente. O contato entre diferentes tipos de

metais na cavidade oral provoca uma geração de potencial que por meio da corrente

elétrica produz dor. Outro fator que influencia o galvanismo é a composição metálica

e a área de superfície (RECLARU; MEYER, 1994; GRAIG; POWERS, 2004).

Em relação à associação entre prótese mandibular e implantes, a saliva se

infiltra entre os componentes protéticos em contato com diferentes metais,

promovendo a criação de uma célula galvânica, que influi diretamente no processo

de corrosão (OH; KIM, 2004). A corrosão promove liberação de íons, os quais

13

podem entrar em contato com células e tecidos circunvizinhos, ou mesmo

sistemicamente, se alojando principalmente no canal intestinal. Assim, se os íons

não forem biocompatíveis e absorvidos em grande quantidade, o organismo pode

apresentar intoxicação (GIL et al., 1999).

O presente trabalho avaliou in vitro a presença de corrosão galvânica e

liberação de íons de um conjunto implante/coroa metalocerâmica, quando estes

estão associados a uma liga para reconstituição facial.

14

2 REVISÃO DE LITERATURA

Eufinger, Wehmoller e Machtens (1997), em estudo sobre próteses individuais

e recessão padrão para reconstituição mandibular, avaliaram quatro casos, onde

todos possuíam tomografia computadorizada helicoidal. Os dados foram transmitidos

para um computador com programa CAD/CAM. As próteses foram confeccionadas

em tamanho máximo de 20x10 mm, em titânio, e com loja para colocação de

implantes futuramente. Houve um acompanhamento por um período de sete meses.

Concluíram que o plano de tratamento deve ser planejado antes para não inviabilizar

futuramente este processo de reabilitação, sendo que este método mostrou-se um

método rápido e seguro para a reconstituição facial.

Dieter (1984) relatou que a ação simultânea de tensões cíclicas e ataque

químico é conhecida como fadiga por corrosão. O ataque corrosivo sem tensão

imposta produz, muitas vezes, o aparecimento de pites nas superfícies dos metais.

Os pites atuam como entalhes e causam a redução da resistência à fadiga. No

entanto, ressalta que quando o ataque corrosivo ocorre simultaneamente com o

carregamento em fadiga, há uma redução acentuada das propriedades em fadiga,

redução esta que é maior do que a produzida pela corrosão da superfície. Quando a

corrosão e fadiga atuam simultaneamente, o ataque químico acelera muito a taxa da

propagação das trincas em fadiga. Os materiais que apresentam um limite de fadiga

definido quando ensaiados ao ar na temperatura ambiente não apresentam

indicação do limite de fadiga quando o ensaio é realizado em meio corrosivo. Uma

vez que o ataque corrosivo é um fenômeno que depende do tempo, sugere que

quanto mais rápido for o ensaio, menor será o dano devido à corrosão. Afirma ainda

15

que a ação da carga cíclica causa uma destruição localizada do filme do óxido

superficial, permitindo que possa ser produzidos pites. Os fundos dos pites são mais

anódicos do que o resto do metal e, desta forma, a corrosão prossegue para o seu

interior. Quando o pite se torna pontiagudo o bastante para produzir uma grande

concentração de tensões, a trinca é nucleada. É muito maior o número de pites

produzidos na fadiga por corrosão do que num ataque corrosivo sem a ação de

tensões. Outro efeito da tensão cíclica é remover ou desalojar produtos da corrosão

que poderiam impedir o avanço da corrosão.

Reclaru e Meyer (1994) estudaram a corrosão entre implantes de titânio e

ligas odontológicas, utilizaram discos de diâmetro de onze milímetros, em quinze

pares entre o titânio e ligas (áuricas, prata, não preciosas com alto teor de ferro, Ni-

Cr e Pd) em imersão em saliva artificial mantida a 37 °C, com pH 5,0 por 24 horas;

gravando a variação da corrente galvânica e potencial comum por cinco horas. As

correntes galvânicas mensuradas são de mesma magnitude, exceto pela

combinação de titânio e liga não preciosa 20 (Fe-Cr-Ni-Mo), mais fraca, e as

superfícies submetidas a microscópio eletrônico de varredura. Concluíram que as

correntes mensuradas são de mesma intensidade, exceção à liga Ti/20. As ligas

preciosas são mais resistentes ao fenômeno de corrosão galvânica, ligas de titânio e

ouro causam mínimo galvanismo, e não possuem risco de corrosão, assim como

ligas de titânio-paládio; já ligas de titânio e metais não preciosos possuem alto risco

de galvanismo e corrosão.

Hulterström e Nilsson (1999) avaliaram ligas de Co-Cr como uma estrutura em

prótese fixa implanto suportada, em três anos de avaliação. Onde 66 pacientes com

próteses implantossuportadas com estrutura de Co-Cr, divididos em três grupos:

cilindros de ouro com conexão da liga de Co-Cr com resina autopolimerizável,

16

cilindros de ouro parcialmente soldados com resina autopolimerizável e cilindros de

ouro completamente soldados com resina autopolimerizável, as avaliações de uma

semana, seis meses, um, dois e três anos. Os autores concluíram que após três

anos não houve complicação na estrutura de Co-Cr.

Ravnholt (1996) realizou experimento para avaliar a corrente de corrosão e a

elevação do pH ao redor do par titânio/ligas odontológicas. Neste estudo utilizou

titânio comercialmente puro e cinco ligas odontológicas: ouro, Co-Cr, aço inoxidável,

amálgama e amálgama melhorado (high cooper amalgam). Com cilindros de 3 a 4

mm de diâmetro colocados em celular com NaCl a 1% e 37 °C durante vinte dias.

Após este período houve exame com difrator de raio x, foi demonstrado que houve

corrente de corrosão galvânica e elevação do pH da solução. Afirma que o ouro não

é afetado pela corrosão em virtude da sua estabilidade termodinâmica, e que as

ligas de Co-Cr possuem níveis de corrosão menor devido à passividade do óxido de

cromo. Por fim, ressalta que a presença de corrosão e também o valor do pH do

meio devem ser levados em consideração ao se combinar o titânio com outros tipos

de metais in vivo.

Em um estudo do efeito dos pares galvânicos entre ligas de titânio e ligas

para restauração dental em culturas de células, Bumgardner e Johansson (1997),

utilizaram quatro tipos de amálgama, em cilindros de 6 mm de diâmetro por 4 mm de

altura simulando condições orais, ou seja, 37 ºC, 5% CO² e 90% de umidade relativa

do ar. Estes foram colocados em culturas com fibroblastos gengivais humanos, por

um período de contato de 24 horas. A mensuração da resposta celular foi pela

mudança na viabilidade celular, proliferação e produção de colágeno. E também

utilizaram teste de absorção atômica para aferimento da quantidade de íons

liberados e contaminação celular. Concluindo que ligas Ti/Amálgama promovem

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uma corrosão de trincas, ao passo que as ligas de gálio possuem alto potencial

corrosivo. Bem com reposta citotóxica elevada quando em combinação com o

titânio.

Ao entrarem em contato, dois materiais, seus potenciais de corrosão

convergem para um potencial comum, sendo verdadeiro principalmente onde um

dos componentes é polarizado. Assim, Venugopalan e Lucas (1998) avaliaram ligas

restauradoras e implantes de titânio em par galvânico, dentre as ligas restauradoras,

utilizaram ligas áuricas, Ag/Pd, Ni-Cr, Co-Cr, 316L SS, Ag/Sn (amálgama), em

discos de 16 mm de diâmetro e 2 a 3 mm de espessura. Os corpos-de-prova foram

mantidos em uma célula de corrosão com saliva artificial e exposição de 01 cm² ao

eletrólito. Concluindo que os casos em que ocorre fissura apresentam substancial

redução da concentração de 0², em associação de Ti/Ticonium ocorre acelerada

corrosão galvânica.

Strietzel et al. (1998) estudaram in vitro a corrosão do titânio, para isto

utilizaram dez corpos-de-prova de titânio puro em teste de imersão estática em

diferentes soluções durante quatro semanas. A liberação de íons foi determinada por

espectrofotômetro de absorção atômica. Concluíram que a liberação de íons foi

baixa e a corrosão somente superficial.

A corrosão galvânica é um fenômeno complexo de seis fatores básicos:

potencial, polarização área do eletrodo, eletrólito, resistência a corrente galvânica,

aeração, difusão e agitação do eletrólito. Por isso, Gorsgogeat et al. (1999)

mensuraram e avaliaram a corrosão galvânica entre implantes de titânio/Ti6Al4V e

ligas odontológicas por técnica eletroquímica e espectrometria. Utilizaram corpos-de-

prova em forma de cilindros com 5 mm de diâmetro por 15 mm de altura colocados

em anel de politetrafluoretileno para sua melhor adaptação ao eletrodo. As ligas

18

associadas aos implantes de titânio foram: preciosa áuricas, paládio e de prata, ligas

não preciosas de cobalto/cromo. Dois tipos de soluções de saliva artificial, dês-

aerada com pH de 5,0 e não dês-aerada com pH de 6,7. Os dados dos corpos-de-

prova foram mensurados através de técnica de eletrodo rotacional a 500 rpm. Após

o período de experimento, houve análise em microscopia eletrônica de varredura e

espectrofotômetro. Concluíram que o processo de corrosão é baixo na associação

entre Ti/ligas preciosas e Ti6Al4V/ligas preciosas, ocorrendo situação desfavorável

se o catodo for grande e o anodo pequeno. Outra conclusão é que as características

biológicas de cada indivíduo representam uma variável que não pode ser facilmente

reproduzida in vitro. A combinação mais favorável é a qual ocorre resistência à

condição externa que pode ser encontrada na cavidade oral.

Por outro lado, Ravnholt e Jensen (1999), investigando a corrosão de

matérias para supraestrutura de implantes unidos a implantes de titânio,

convencionaram que como material de referência o titânio puro comercialmente.

Selas de 4 mm de diâmetro foram confeccionadas em dois materiais: resina acrílica

e ouro. Em uma célula de corrosão com NaCl a 1%, simulando ambiente oral a 37

°C por vinte dias, concluíram que os materiais investigad os são compatíveis com o

titânio.

Gil et al. (1999) avaliaram o comportamento in vitro da corrosão e liberação

de íons de diferentes ligas protéticas, utilizaram cinco corpos-de-prova em forma de

cilindro de 2 mm de diâmetro e 3 mm de altura, par os seguintes materiais: Ti, Au-

Ag-Pd, Ag-Au-Pd, Pd, Ag-Pd, Ni-Cr. Em um recipiente com saliva artificial com pH de

6,7 e 37 °C de temperatura constante, sendo mudado pa ra cada corpo-de-prova,

mantidos em imersão por 250 minutos. Concluíram que a baixa liberação de íons de

titânio é devido à passividade do filme de óxido de titânio com redução da difusão de

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íons metálicos para o exterior. O Ni-Cr produz grande quantidade de íons liberados,

mas estabiliza com o passar das horas, sendo que a grande quantidade de íons

liberada é justificada pela presença de menor resistência à corrosão, e assim grande

quantidade de produtos liberados pela corrosão.

Cortada et al. (2000) avaliaram o comportamento da corrosão galvânica de

implantes metálicos interligados a ligas odontológicas, utilizou cinco corpos-de-prova

em cilindros de 2 mm de diâmetro por 3 mm de altura para cada material estudado.

Os metais ficaram imersos em saliva artificial a 37°C e p H de 6,7. A célula de

corrosão foi saturada com Ag-Cl como referência. A corrente versus o tempo, nos

pares galvânicos, foi controlada por potenciostato, e a variação de potencial por

multímetro e digitalizador. O período do experimento foi de 250 minutos. A

microestrutura foi observada em microscópio ótico, e a corrosão foi analisada por

microscópio eletrônico. A microanálise por raios-X de energia dispersiva foi utilizada

para determinar a composição química dos locais mais propensos à corrosão.

Concluíram que o titânio é um dos materiais mais resistentes à corrosão, e a

liberação de íons observada foi pequena. Mas o Cr-Ni libera grande quantidade de

íons.

Analisando a resistência à corrosão de titânio puro em ácidos orgânicos,

Koike e Fujii (2001) utilizaram modelos de 15x20x1 mm de titânio puro em soluções

de acido lático e fórmico com água destilada, variando o pH em 1, 4, 5, 5, 7 e 8,5,

com temperatura de 37°C, durante três semanas. Após este período os íons

metálicos foram medidos. Concluíram que as corrosões por oxigênio e hidroxila

podem atingir a superfície do titânio, mas as propriedades corrosivas são

dependentes do pH para a solução com ácido fórmico, e menos dependente para o

ácido lático.

20

Gratton, Aquilino e Stanford (2001) utilizaram fadiga dinâmica no conjunto

implante-pilar protético para avaliar o efeito de diferentes torques aplicados em

parafusos de ouro em relação a micromovimentação, simulando condições clínicas.

Utilizaram 15 pilares UCLA pré-usinados em ouro, que foram sobrefundidos com liga

com alto teor de paládio (Pd 79.0%, Au 2.0%) e divididos aleatoriamente em três

grupos (A, B e C). Após a fase laboratorial, os pilares foram conectados a implantes

de 3.75 X 15 mm, onde os parafusos em ouro do grupo A receberam torque de 32

N.cm (controle), os do grupo B de16 N.cm e os do grupo C de 48 N.cm. Após o

torque os implantes foram fixados em um dispositivo com um calibrador para

avaliação da micromovimentação e posicionados em uma máquina de ensaio de

fadiga. Foi aplicada carga axial sobre os pilares de 20 a 130 N, a uma freqüência de

6Hz com ciclos acima de cem mil. As medidas da micromovimentação da interface

pilar/implante foram submetidas a análise estatística e comparados a dados de base

(implantes/abutment com parafusos sem receber torque). Os autores concluíram que

há diferença significativa quando os parafusos são submetidos a diferentes torques,

entretanto não há diferença na micromovimentação em relação ao número de ciclos

produzidos. Sugerem que este último ocorreu por que foi aplicada uma carga

máxima de 130 N, menor que a força máxima produzida durante a mastigação que

varia de 200 a 2440N, além de não ter sido aplicado no estudo, forças laterais que é

sugerido ser de 20 N em condições clínicas, além de que no estudo o número de

ciclos foi limitado não sendo suficiente para causar fadiga e deterioração do

parafuso.

Sedarat et al. (2001) avaliaram a cinética in vitro da biodegradação das ligas

de titânio. Amostras de titânio puro e várias ligas de titânio foram colocadas em

tubos de ensaio com solução de NaCl a 0,9% e cerume humano. Esta solução foi

21

trocada no primeiro e terceiro dias, depois a cada três dias, e mantidos em

temperatura constante de 37 °C e pH de 7,2. Concluíram que o titânio puro parece

apresentar propriedades mecânicas e biológicas com risco mínimo de efeitos locais

e sistêmicos.

He, Zhang e Wu (2002) avaliaram o comportamento do desgaste e corrosão

galvânica e mecanismos de ligas de Co-Cr-Mo e Ti-6Al-4V. Utilizaram as ligas em

solução salina. O potencial galvânico e a corrente gerada foram monitorados por

quarenta e cinco dias. Concluíram que não houve corrosão se usados juntos em

condições estáticas, também não há susceptibilidade a corrosão galvânica quando

simultaneamente usados em uma condição de equilíbrio, mas as superfícies de

desgaste apresentam-se mais vulneráveis à corrosão galvânica.

Em estudo sobre o comportamento da corrosão galvânica de supraestruturas

de implantes de ligas odontológicas, Taher e Al Jabab (2003) avaliaram vinte e

quatro corpos-de-prova preparados sobre encaixe de implantes de titânio. Oito

diferentes ligas odontológicas foram utilizadas, três espécimes para cada liga.

Montados em anel com resina acrílica e colocados em célula galvânica com ponte

de agar-agar. O meio utilizado foi saliva artificial com pH de 7,2, mantidos na solução

por 24 horas. A corrente geralmente durou seis horas, e houve as seguintes

conclusões: ouro foi excelente – sem galvanismo, Ag-Pd teve corrosão galvânica

aceitável, Co-Cr teve bom desempenho, enquanto ligas de Ni-Cr foi instável, e as

ligas de titânio comercialmente puro e SS-Ti apresentou inesperada corrosão.

Em avaliação do comportamento in vitro da corrosão de biocerâmica, metal,

biocerâmica metálica revestindo implantes dentais de aço inoxidável, Fathi et al.

(2003) utilizaram o titânio comercialmente puro e aço inoxidável 316L nos corpos-de-

prova. Através técnica de difração por raios-X, analisaram a estrutura cristalina e as

22

fases presentes nos revestimento. O teste de célula de polarização de corrosão

eletroquímica em solução fisiológica – Ringer e NaCl 0,9% - a 37°C, repetidos cinco

vezes para cada grupo de espécimes, foi utilizado para coleta de dados. Concluíram

que a dupla camada de titânio-hidroxiapatita tem efeito benéfico e desejado no

comportamento da corrosão do aço inoxidável, e diminuiu a densidade da corrosão,

corrente e preveniu a liberação de íons.

Oh e Kim (2004) estudaram as propriedades eletroquímicas de pares

galvânicos de supra-estruturas para implantes de titânio. Foi realizado teste de

corrosão com potenciostato e saliva artificial a 37 °C. Houve corrente galvânica que

reduziu a concentração de O² e elevou a concentração de íons metálicos. Para ligas

de Co-Cr e Ni-Cr houve destruição da camada de óxido levando a corrosão

localizada, mas sem risco de galvanismo no meio oral. Os autores concluíram que a

seleção da liga é importante para evitar corrosão e galvanismo.

Denizoglu, Duymus e Akayaçin (2004) avaliaram a liberação de íons de dois

tipos de ligas com base metálica em vários níveis de pH. Assim, utilizou um modelo

mestre de 5 mm de diâmetro por 3 mm de espessura para confeccionar trinta

corpos-de-prova, 15 de Co-Cr e 15 de Ni-Cr. Cada espécime fora colocado em um

recipiente plástico com 15 ml de saliva artificial e com três diferentes valores de pH:

4, 5 e 7; mantidos por um mês a temperatura de 37 °C. A quantidade de íons

liberados foi determinada por um espectrofotômetro de absorção óptica. E

concluíram que o Ni apresenta altos níveis de liberação de íons enquanto o Cr é

menor. O tipo de liga, pH e a interação destes dois fatores afetam diretamente o

grau de liberação de íons, e para prevenir esta liberação às restaurações deveriam,

sempre que possível, serem confeccionadas em metais nobres e ligas resistentes à

corrosão.

23

Okazaki e Gotoh (2005) compararam a liberação metálica de vários

biomateriais metálicos in vitro. Dentre as ligas utilizadas destacam-se aço inoxidável,

Co-Cr-Mo, titânio cp. Estas foram colocadas em teste de imersão estática a 37°C

com várias soluções. A determinação dos íons liberados foi aferida por

espectrofotômetro. Concluíram que a quantidade de Co e Ti foi pequena, e o efeito

do pH altera a liberação de íons.

24

3 PROPOSIÇÃO

Avaliar, in vitro, através de carregamento dinâmico em meio simulando a

mastigação, a presença de corrosão galvânica e liberação de íons sobre o conjunto

formado por: metal - titânio cp. e Co-Cr (simulando prótese) / implante / coroa

metalocerâmica com infraestrutura de Ni-Cr.

25

4 MATERIAL E MÉTODO

4.1 Corpos-de-prova

Os corpos-de-prova foram montados em três partes: 1) metal (simulando a

prótese); 2) implante de titânio e 3) coroa metalocerâmica.

4.1.1 Metal para reconstrução facial

Para simular a prótese, dois tipos de metais foram avaliados: Co-Cr e titânio.

Os mesmos foram usinados na forma de cilindros com 12 mm de altura e 20 mm de

diâmetro. Na região central foi feito um perfuração, com uma furadeira de bancada

(IRBAU – São Paulo) a 390 rotações por minuto ( RPM) e refrigeração com óleo

mineral, com 3 mm de diâmetro, com broca para metal duro �� ���� �� ��� –

Alemanha). (Figura 1)

Figura 1 – Metal simulando prótese mandibular com resina de embutimento

Metal simulando prótese mandibular - Perfuração para colocação do implante

26

4.1.2 Implantes

Foram dez implantes com hexágono externo nas dimensões de 8 mm de

altura por 3,8 mm de diâmetro especialmente usinados para o estudo. Os implantes

foram divididos em dois grupos de cinco corpos-de-prova, grupo 1 implante de Ti

cp./liga de Ti cp., e grupo dois com implante de Ti cp./Liga de Co-Cr.

4.1.3 Enceramento e sobrefundição dos pilares proté ticos

Foram utilizados dez pilares protéticos plásticos (RAISE – Comércio de peças

protéticas Ltda – São José dos Campos - SP), que foram fundidos em Ni-Cr

(Degussa - Alemanha). Sobre os pilares do sistema UCLA, sistema desenvolvido

pela Universidade Católica de Los Angeles, Califórnia, Estados Unidos, foram

sobrefundidas infra-estruturas com a mesma composição dos pilares protéticos.

Um componente UCLA, todo em plástico (calcinável), foi parafusado ao

implante e sobre este foi encerado uma infra-estrutura compatível para um pré-molar

inferior, nas seguintes dimensões: 8 mm mesio-distal, 7 mm vestíbulo-lingual e 7 mm

ocluso-cervical. Após a aplicação da cerâmica com espessura total de 1,5 mm de

cada lado, cada unidade passou a ter as dimensões finais de 11 mm mesio-distal, 10

mm vestíbulo-lingual e 8,5 mm ocluso-cervical (ASH, 1987). A face oclusal foi

encerada reta, sem cúspides e fossas, para posterior ensaio de fadiga.

As fundições foram realizadas, segundo as instruções dos fabricantes da liga,

em forno de indução (Bego, Alemanha), a uma temperatura aproximada de 1330ºC

para a liga de Ni-Cr (Degussa). Após a fundição e o resfriamento do revestimento à

temperatura ambiente, se processou a desinclusão.

27

4.1.4 Aplicação da cerâmica

Para acabamento e tratamento da superfície metálica das amostras, as

mesmas foram polidas com pedra de óxido de alumínio, jateadas com óxido de

alumínio (50 µm com pressão de 60lb), e em seguida imersas em álcool isopropílico

em ultra-som (Vitasonic II – Vita, Alemanha) por 15 minutos (Figura 2).

Figura 2 – Tratamento da superfície metálica após jato de óxido de alumínio

Para a criação de uma camada de óxido adequada, as infra-estruturas foram

submetidas ao processo de pré-oxidação em forno para cocção de porcelana (Vita,

Alemanha) a 980 °C por um período de dez minutos, seg uindo as especificações

dos fabricantes das ligas. Foram aplicadas duas camadas de opaco, pelo sistema de

pincel e pó/liquido, a 950°C para a primeira camada, por 9 minutos de ciclo total,

sendo que a cocção propriamente dita ocorreu por um minuto em vácuo, repetindo o

tempo para as etapas posteriores, e 930°C par a segunda camada, e duas camadas

de cerâmica de corpo do sistema Vita VRM 95 (Vita, Alemanha) com aplicação

através de pincel, modelando o dente e com cocção a 930°C para as duas camadas.

28

Após a cocção foram realizados os ajustes com discos abrasivos ninja rosa G11

(Talladium do Brasil – Curitiba – PR), respeitando-se as dimensões pré-

estabelecidas, e a limpeza com jato de vapor. Concluída a aplicação das camadas

de cerâmica, a coroa metalocerâmica recebeu uma fina camada de glaze, com

cocção a 900°C, para remoção das porosidades. A programaçã o foi executada pelo

mesmo operador (Figura 3 e 4).

Figura 3 – Aplicação de camada cerâmica

Figura 4 – Cerâmica após cocção

29

4.1.5 Montagem do conjunto metal/implante/coroa

Para montagem do conjunto, inicialmente os implantes foram parafusados nos

cilindros metálicos previamente usinados e embutidos em resinas epoxi (Struers –

USA). As coroas foram parafusadas aos com componentes protéticos “UCLA” com

um torquímetro mecânico (Torque Controler – Nobel Biocare, Suécia), com torque de

32N.cm, segundo as especificações dos fabricantes (Figura 5).

Figura 5 - Corpo-de-prova finalizado

4.2 Ensaio de fadiga em solução eletrolítica

Baseados nos estudos de ciclagem mecânica na área de ortopedia

desenvolvidos por Hallab et al. (2003), desenvolveu-se a metodologia em questão.

Os ensaios de fadiga foram realizados a partir da adaptação do equipamento

desenvolvido por Guimarães, Hein e Zangrandi (2001) (Figura 6).

Coroa Metalocerâmica

Metal simulando prótese mandibular

implante

Resina de imbutimento

30

Figura 6 – Equipamento projetado para realização dos ensaios de fadiga

Para a realização do ensaio, cada corpo-de-prova foi colocado em um

recipiente plástico contendo uma solução eletrolítica de 0,9% NaCl + 0,1% NaF e pH

6 (ALVES et al., 2004), preparada com reagentes de grau analítico e água destilada.

O mesmo foi ligado, por meio de mangueiras, a outro dispositivo contendo um

termostato para a manutenção da temperatura a 37,0 ± 0,1º C e uma bomba para

circulação do fluido.

O carregamento foi realizado por meio de um eixo excêntrico com capacidade

máxima de 600 kgf. A partir da sua movimentação o corpo de prova sofria um

deslocamento, medido por um anel graduado, sendo movimentado contra um

punção de teflon. A carga aplicada foi de 50 kgf (500N), com freqüência de 5 hz e

dois milhões de ciclos, simulando dois anos de utilização clínica (CIBIRKA et al.,

2001)

31

Após a ciclagem, as amostras foram removidas da solução e armazenadas

em água destilada. O líquido correspondente a cada ensaio foi coletado e numerado

de acordo com o corpo-de-prova para análise química.

4.3 Análise em microscopia

Nessa etapa as amostras foram avaliadas em duas condições: antes e após o

ensaio de fadiga. Para evitar a presença de impurezas, todas as amostras antes de

serem observadas foram imersas em água destilada, e limpas em ultra-som

(Ultrasonic Cleaner – USC 14000 – UNIQUE) por dez minutos e secas com ar

forçado. As coroas de cada conjunto foram submetidas a vácuo em uma câmara,

pertencente a um forno de fundição a arco voltaico (Tecnocrio, Campinas - SP-

Brasil), para remoção de toda a umidade da cerâmica. Em seguida, os componentes

foram armazenados em recipiente fechado com sílica gel para garantir a

manutenção da ausência de umidade.

A análise da superfície da plataforma e do hexágono do implante e do pilar

UCLA foram realizadas em microscópio de luz (Ephifot, Nikon - Japão) pertencente

ao Departamento de Materiais da Faculdade de Engenharia de Guaratinguetá –

Unesp, para avaliação da presença de corrosão na coroa metalocerâmica, bem

como na plataforma do implante; e em microscópio eletrônico de varredura (LEO

1450 VP, Inglaterra), para avaliação da superfície pertencente ao Departamento de

Materiais da Faculdade de Engenharia Química de Lorena (Faenquil).

aquecedor

32

4.4 Análise Química

A análise química foi realizada em um espectrofotômetro de absorção atômica

com forno de grafite (Analyst 800, Perkin Elmer, USA) pertencente ao Centro de

Química (Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, IPEN) para avaliação do

desprendimento dos íons Ni, Cr, Co e Ti.

33

5 RESULTADOS

5.1 Liberação de íons

A análise química das soluções coletadas após o experimento, quanto à

liberação de íons é mostrado na Tabela 1, com os valores médios em µg/L (ppb) dos

elementos encontrados nas soluções após espectrometria de absorção atômica.

Observou-se a liberação de Ni, Cr, Co evidenciando a interação das ligas Ni-Cr e

Co-Cr com o meio. A liberação de Ti foi desprezível para ambos os grupos.

Tabela 1 - Desprendimento de íons para a solução

Elementos µg/L (ppb)

liga Co Cr Ni

Liga Co-Cr 8,3 2,4 -

Liga Ni-Cr - 2,3 21,7

5.2 Microscopia eletrônica

A análise em microscópio eletrônico de varredura (MEV), de todos os corpos-

de-prova antes do ensaio (controle), não demonstrou haver diferença entre eles

(Figura 7). A superfície da plataforma se apresentava livre de sinais característicos

de corrosão de qualquer natureza. A análise em espectroscopia de energia

dispersiva (EDS) confirmou a presença dominante do titânio (Figura 8).

34

Figura 7 – Plataforma do implante controle em MEV com aumento de 40 X

Figura 8 – EDS geral da plataforma do implante controle

Após a realização dos ensaios e avaliação em microscopia da plataforma do

implante e da infraestrutura da coroa metalocerâmica em MEV, não se observou

35

para os grupos 1 e 2 a presença de pontos escuros caracterizados como pites

(Figura 9).

Figura 9 – Superfície do implante do grupo Ti cp

Com relação à análise dos pilares protéticos, tanto do grupo 1 como do grupo

2, observou-se após o ensaio deformação do hexágono (Figuras 10 e 11). A

superfície dos componentes apresentou aspecto semelhante antes e após os

ensaios, sem possibilitar a caracterização como corrosão.

Deformação devido a ensaio de

36

Figura 10 – Hexágono interno do UCLA, grupo de Ti cp. após ensaio de fadiga

Figura 11 – Hexágono interno do UCLA, grupo Co-CR, após ensaio de fadiga

Deformação devido a ensaio de fadiga

37

6 DISCUSSÃO

Em prótese bucomaxilofacial, utilizado como parte deste estudo, a

prototipagem rápida é utilizada para confecção de uma prótese mandibular. Esta

técnica apresenta excelentes resultados tanto na precisão como em relação ao

binômio custo/beneficio e também menor tempo. Com isso, permite o planejamento

de implantes na posição mais adequada ao caso.(EUFINGER; WEHMOLLER;

MACHTENS 1997; CHOI 2002).

Por outro lado, ao se deparar com o problema da corrosão sob tensão em

fadiga em implantes, caracterizada pelo desgaste associado a reações químicas,

informações sobre a corrosão no estado ativo são necessárias (GIL et al., 1999).

Para o ensaio deste estudo foi desenvolvido um dispositivo que possibilitava a

aplicação de carga cíclica em meio eletroquímico, simulando condições clínicas. Não

existe na literatura uma padronização sobre o meio que deve ser utilizado para

simular o ambiente oral. Diversos tipos de soluções com variações de composição,

pH, presença ou ausência de oxigênio e fluoretos têm sido empregadas (CORTADA

et al., 2000; GROSGOGEAT et al., 1999; RECLARU; MEYER, 1994;

VENUGOPALAN; LUCAS, 1998). Optou-se pelo uso de uma solução formada por

0,9% NaCl, 0,1% NaF com pH 6,0 e sua escolha, baseada em outros estudos

(ALVES et al., 2004), justifica-se devido a constante presença do flúor na cavidade

oral proveniente de cremes dentais, enxaguatórios bucais e pastas profiláticas

utilizadas na prevenção da cárie dental, além de estar presente na água tratada e

em diversos alimentos.

38

Para a seleção da carga aplicada no ensaio de fadiga, levou-se em

consideração o trabalho de Stanford e Brand (1999), que aborda o assunto sobre

cargas oclusais em implantes e relata poder variar de 42 a 412N a carga axial em

uma prótese fixa sobre implantes na região posterior. Nesse trabalho, simulando

uma região de segundo pré-molar, optou-se por aplicar uma carga cíclica axial de

200N (20 kgf), estabelecida como uma força oclusal média, estando de acordo com

outros estudos que utilizaram fadiga em implantes (CIBIRKA et al., 2001). A

estimativa da utilização de dois milhões de ciclos simulando um período de dois

anos em função clínica foi baseada na suposição de que um indivíduo realiza três

episódios de refeição por dia, cada um com 15 minutos de duração e numa

freqüência de mastigação de sessenta contatos ou ciclos por minuto. Isso equivale a

2.700 ciclos de mastigação por dia ou aproximadamente 106 (um milhão) ciclos por

ano (CIBIRKA et al., 2001).

Com relação à freqüência de repetição dos ciclos há na literatura uma

variação de 01 a 11Hz em ensaios de fadiga com implantes. Dieter (1984) afirmou

que quanto mais rápido for o ensaio menor será a influência da corrosão, uma vez

que o ataque corrosivo é um fenômeno que depende do tempo. Optou-se assim por

uma freqüência de 05 Hz, valor médio em relação aos encontrados na literatura e

semelhante ao utilizado por Gratton, Aquilino e Stanford (2001).

As alterações superficiais encontradas nos implantes de Ti cp após os

ensaios, tanto em microscópio ótico (MO), como eletrônico de varredura (MEV),

demonstraram um comportamento bastante semelhante para os dois grupos Ti cp. e

Co-Cr, não possuindo sinais de corrosão.

Com relação à análise das superfícies dos pilares protéticos de Ni-Cr em

MEV, não se observou alterações significativas possíveis de se caracterizar como

39

formação de corrosão, nem sinais de corrosão por fresta ou galvânica. Alguns

trabalhos relatam uma maior susceptibilidade à corrosão galvânica com Ti quando a

liga de Ni-Cr possui berílio na sua composição (Ni-Cr-Be) (VENUGOPALAN;

LUCAS, 1998). Como a liga utilizada não o possui, esta poderia ser uma das

justificativas para o comportamento encontrado. Por outro lado, ainda que Cortada et

al. (2000) e Gil et al. (1999) sugerissem uma quantidade de Cr de 16 a 27% para

prover boa resistência à corrosão para as ligas à base de Ni, a liga utilizada só

possuía 13,5 % desse elemento, e isso parece não ter tido influência no resultado.

Figura 12 – Deposição de cristais de sal no implante de Ti cp

Em virtude do galvanismo, e conseqüentemente, da corrosão promovida por

este fenômeno, pode ocorrer a liberação de íons, e muitos destes podem apresentar

toxicidade às células próximas, bem como efeitos sistêmicos. O titânio possui baixa

liberação de íons, e isso é explicado por Gil et al. (1999), pela passividade do filme

de óxido de titânio da superfície da liga, o que também é embasado por estudos de

Strietzel et al. (1998), Sedarat et al. (2001) e Fathi et al. (2003). Ao passo que o Ni

40

possui grande liberação de íons segundo Cortada (2000), Denizoglu, Duymus e

Akyalçin. (2004) e Gil et al. (1999). Outros íons que podem promover uma resposta

citotóxica elevada é o gálio, de acordo com Bumgardner e Johansson (1997).

41

7 CONCLUSÕES

A partir dos resultados obtidos foi possível concluir que:

1. Por meio de microscopia eletrônica de varredura e de luz não houve

alterações superficiais na plataforma dos implantes de Ti cp.;

2. Não foi observada em análise microscopia eletrônica de varredura e de luz

alterações significativas, compatíveis com corrosão, na superfície dos

pilares UCLA;

3. Ocorreu liberação de íons de Ni, Co e Cr para a solução eletrolítica,

enquanto que a liberação de Ti foi desprezível.

42

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