Avaliação História da Filosofia Medieval

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Avaliação História da Filosofia Medieval – UFSM 2009 Disciplina: História da Filosofia Medieval Profº. Drº. Noeli Rossatto Por: Juliano Gustavo Ozga 1- Agostinho pergunta-se: “que fazia Deus antes da criação?”. a) Que resposta Agostinho oferece a questão e que compreensão do eterno está implícita nessa resposta? Agostinho prefere não opinar com uma solução para o problema. Sua resposta é: “não sei”. A compreensão do eterno implícita na resposta de Agostinho expressa uma dúvida sobre a questão: antes da criação, Deus não poderia estar criando pelo fato de ter que um tempo para a obra ser criada. Esse tempo não pode ser anterior ao tempo de criação. Isso implica a questão de haver um tempo anterior e um tempo posterior a criação divina. Porém, no estado anterior a criação o que prevalece é um instante de eternidade, ou seja, um presente contínuo. Esta eternidade não pode ser medida pelo tempo pelo fato de estar fora do limite da criação. Portanto, é deste eterno presente que principia a noção de passado e futuro. b) O que conduz Agostinho a essa questão? A dúvida de o que é o tempo e do que se constitui o tempo. O tempo eterno ou o presente eterno não é classificado como futuro e passado. É uma instância imitável que é ausente no passado físico. Colocar a questão do tempo na pergunta “que fazia Deus antes da criação?” implica o problema de haver um tempo criado (em um espaço físico) e um tempo eterno e permanente anterior ao processo de criação. 2- Qual a função argumentativa dos exemplos extraídos do movimento celeste e que papel desempenham na formulação da tese que considera o tempo como distensão? A dúvida sobre saber “se é o movimento que constitui o dia, ou se é a duração em que se realiza esse movimento, ou

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Avaliação História da Filosofia Medieval – UFSM 2009

Disciplina: História da Filosofia MedievalProfº. Drº. Noeli RossattoPor: Juliano Gustavo Ozga

1- Agostinho pergunta-se: “que fazia Deus antes da criação?”.

a) Que resposta Agostinho oferece a questão e que compreensão do eterno está implícita nessa resposta?

Agostinho prefere não opinar com uma solução para o problema. Sua resposta é: “não sei”. A compreensão do eterno implícita na resposta de Agostinho expressa uma dúvida sobre a questão: antes da criação, Deus não poderia estar criando pelo fato de ter que um tempo para a obra ser criada. Esse tempo não pode ser anterior ao tempo de criação. Isso implica a questão de haver um tempo anterior e um tempo posterior a criação divina. Porém, no estado anterior a criação o que prevalece é um instante de eternidade, ou seja, um presente contínuo. Esta eternidade não pode ser medida pelo tempo pelo fato de estar fora do limite da criação. Portanto, é deste eterno presente que principia a noção de passado e futuro.

b) O que conduz Agostinho a essa questão?A dúvida de o que é o tempo e do que se constitui o tempo. O tempo eterno ou o

presente eterno não é classificado como futuro e passado. É uma instância imitável que é ausente no passado físico. Colocar a questão do tempo na pergunta “que fazia Deus antes da criação?” implica o problema de haver um tempo criado (em um espaço físico) e um tempo eterno e permanente anterior ao processo de criação.

2- Qual a função argumentativa dos exemplos extraídos do movimento celeste e que papel desempenham na formulação da tese que considera o tempo como distensão?

A dúvida sobre saber “se é o movimento que constitui o dia, ou se é a duração em que se realiza esse movimento, ou se são as duas coisas conjuntamente” implica uma diferenciação sobre:- tempo físico (cosmológico e astronômico): abordagem cíclica de tempo na concepção grega e aristotélica;- tempo psicológico: abordagem de Agostinho sobre as impressões que este tempo físico imprime em nossa alma.

Isso implica que o tempo é uma distensão da alma e por isso o tempo não é movimento dos corpos. Aqui há a diferenciação entre tempo psicológico da alma (distensão), sendo esse tempo subjetivo pelo fato de não se expressar no espaço físico objetivo, com o tempo físico e astronômico dos planetas e corpos celestes, que possuem extensão física.

A distensão carece de espaço físico para ser medido e mensurado e isso implica que o tempo da alma é um tempo presente, uma sucessão de antes e depois que passa pela alma. Essa sucessão dos movimentos não físicos que são impressos na alma, no qual sua passividade é um estado presente, propõe um movimento ativo de percepções no tempo psicológico. Podemos dividir essas percepções do tempo psicológico em três elementos:1- Expectação: como uma antecipação do futuro;

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2- Atenção: momento presente (sem espaço e extensão no tempo psicológico);3- Memória: aspecto do conteúdo que passou pelo presente e se refere ao passado no tempo psicológico.

Portanto, a distensão da alma seria o conteúdo do estado presente do tempo psicológico.

3- Para Paul Ricoeur o conceito de “pecado original” colabora com a tese do mal como não-ser? Por quê?

O conceito de pecado original como não-ser carece de um anti-tipo. O fato de não-ser implica a questão do ser do objeto criado por Deus. O conceito de pecado original elabora uma prévia punição por questão biológica (hereditariedade) e de culpabilidade (punição divina) sobre o conceito de Adão e sua representação como progenitor da humanidade na concepção judaico-cristã.

A questão de não-ser em analogia com o conceito de pecado original expõe uma função simbólica do conceito em oposição ao conceito de não-ser. O fato de ser implica o caso de tornar-se pecador, por ser uma criação a partir de Adão, o progenitor e também uma culpa por participar da criação.

4- As coisas criadas não podem ser ditas absolutamente nem ser não nem não ser: nec ommnio esse nec ommnio non esse (Platão). O que justifica essa afirmação no contexto da teologia agostiniana e quais as conseqüências dela na compreensão que o filósofo propõe acerca do problema do mal?

A compreensão do conceito do mal em Agostinho como um tema referente ao conceito de Platão de que “as coisas criadas... absolutamente nem ser nem não-ser” expõe uma afirmação da impossibilidade de Deus ter criado o Homem como substância integrante do mal. Se o Homem fosse proveniente de uma essência ou natureza má (um não-ser?) ele não seria uma obra de Deus, e sim uma corrupção da matéria do Homem pela substância do mal. Esta corrupção seria algo externo ao Homem, algo que não é de sua essência interna, porém, pode ser introduzido na essência do Homem, e é nesse fato que reside a corrupção do Homem pelo conceito de mal como não-ser. Se o conceito de não-ser fosse integrante do Homem, esse seria ao mesmo tempo ser e não-ser, onde essa dualidade implica a criação de um ser, no caso o Homem, sendo corruptível desde sua gênese e isso implicaria a não totalidade de bem no conceito de Deus. Portanto, Deus não seria benéfico se criasse algo que comporta em sua natureza o próprio mal.

5- Que alterações no conceito de tempo no interior da argumentação agostiniana sugerem a mudança de tratamento das noções de passado presente e futuro, não mais como substantivos, mas, como adjetivos?

O conceito de tempo em Agostinho como tempo psicológico apresenta uma nova classificação do tempo, porém, com uma nova ótica e perspectiva. Assim, o tempo passa a ser uma distensão da alma que não opera no mundo físico e não é possível de ser medido ou mensurado como um elemento espacial.

Isso possibilita a elaboração dos conceitos:1- Presente do passado (Memória): que se refere ao passado e é expresso pelas figuras e percepções da memória;

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2- Presente do presente (Atenção): reflete o tempo como um aspecto da atenção no momento presente. Portanto, seria a distensão da alma em relação aos fatos anteriores e posteriores;3- Presente do futuro (Expectação): expressão de expectação do momento futuro que ainda não se efetivou, e pelo fato de não se efetivar não é possível de ser medido e mensurado (não há espaço) ele ainda não existe, em contrapartida do presente do passado que foi algum acontecimento no presente do passado, porém, no passado esse acontecimento também de mensurabilidade pelo fato de não ser mais o que era.