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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 146 – JUNHO/2014 5 AVALIAÇÃO E MANEJO DA ACIDEZ DO SOLO 1 Luís Ignácio Prochnow 2 1 Extraído do Better Crops, v. 98, n.1, 2004. 2 Engenheiro Agrônomo, Doutor, Diretor do IPNI Brasil, Piracicaba, SP; email: [email protected] Abreviações: Al = alumínio; Ca = cálcio; CTC = capacidade de troca de cátions; Mg = magnésio; N = nitrogênio; NG = necessidade de gesso; P = fósforo; PN = poder de neutralização; RE = reatividade; PRNT = poder relativo de neutralização total; S = enxofre. PRINCÍPIOS DA ACIDEZ DO SOLO E m soluções aquosas, um ácido é uma substância que doa íons hidrogênio ou prótons (H + ) para qualquer outra substância. Por outro lado, uma base é qualquer substância que aceita H + . Os íons H + , ou acidez ativa, aumentam com a força do ácido. O H + não dissociado contribui para a acidez potencial do solo. Os sistemas tampão podem manter o pH da solução em um estreito intervalo de pH quando são adicionadas pequenas quantida- des de um ácido ou de uma base. O poder tampão é definido como a resistência do solo à alteração do pH. Geralmente, os sistemas de solução tampão são formados por um ácido fraco (HA) e um dos seus sais (BA), ou uma base fraca e um dos seus sais. Os solos diferem quanto à acidez ativa e acidez potencial. Além disso, os solos se comportam como ácidos fracos tamponados, com os íons H + ligados ao complexo de troca catiônica (CTC) do húmus e dos minerais de argila proporcionando o tamponamento da acidez ativa da solução do solo. A Figura 1 mostra um exemplo de como os solos podem diferir quanto à necessidade de calcário para atingir o mesmo pH. Por exemplo, enquanto o solo B necessita de cerca de 2 t ha -1 de carbonato de cálcio (CaCO 3 ) para atingir pH 5,5, o solo E precisa de mais de 15 t ha -1 para atingir o mesmo pH do solo. Obviamente, isso está relacionado à maior capacidade tampão do solo E em relação ao solo B. É importante entender que não é correto contar apenas com a acidez ativa do solo para calcular a dose de calcário a ser aplicada. Quando a acidez ativa do solo é neutralizada, existe ainda muita acidez para substituí-la (acidez potencial do solo ou capacidade tampão do solo). Portanto, é necessário avaliar corretamente a acidez potencial do solo para calcular com precisão a dose de calcário a ser aplicada. POR QUE OS SOLOS SE TORNAM ÁCIDOS Os solos possuem uma tendência natural de se acidificarem com o tempo. Muitos fatores, tanto naturais (material de origem, vegetação nativa, precipitação, profundidade do solo) quanto de manejo (culturas, adubação nitrogenada, decomposição da matéria orgânica, plantio direto, erosão) contribuem para aumentar a aci- dez do solo. Caso não seja devidamente controlada, a acidez pode reduzir seriamente o rendimento das culturas, causando perdas econômicas significativas ao produtor e impactos negativos no ambiente. Problemas relacionados à acidez do solo ocorrem em muitas áreas em todo o mundo. Estima-se que cerca de 30% dos solos do planeta são ácidos, e estes representam algumas das regiões produtoras de alimentos mais importantes. IMPORTÂNCIA DA CORREÇÃO DA ACIDEZ DO SOLO O uso adequado de materiais calcários é um dos fatores mais importantes no manejo bem-sucedido da produção de culturas e na melhoria da acidez do solo. Considere alguns dos benefícios de um bom programa de calagem: Figura 1. Curvas de neutralização do CaCO 3 para solos com diferentes capacidades de tamponamento do pH. Fonte: Raij (2011). A agricultura atual precisa seguir os princípios da sustentabilidade, que incluem a construção e manutenção, a longo prazo, da fertilidade do solo. Nos solos ácidos, onde há limitação dos rendimentos das culturas, a correção da acidez do solo e do subsolo é parte importante das boas práticas de manejo (BPM) para alcançar a sustentabilidade. Uma parte importante do manejo da acidez do solo é a aplicação de calcário, mas também pode ser necessário o uso de outras práticas para tratar corretamente o problema. O adequado manejo da acidez do solo, entre outros benefícios, aumenta a eficiência dos fertilizantes aplicados, melhora a eficiência de alguns herbicidas, protege o ambiente e aumenta o potencial de lucro do agricultor. pH CaCO 3 aplicado (t/ha x 20 cm) 7,5 7,0 6,5 6,0 5,5 5,0 4,5 0 2 4 8 12 16 20 24 28 32 36 D

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 146 – JUNHO/2014 5

AVALIAÇÃO E MANEJO DA ACIDEZ DO SOLO1

Luís Ignácio Prochnow2

1 Extraído do Better Crops, v. 98, n.1, 2004.2 Engenheiro Agrônomo, Doutor, Diretor do IPNI Brasil, Piracicaba, SP; email: [email protected]

Abreviações: Al = alumínio; Ca = cálcio; CTC = capacidade de troca de cátions; Mg = magnésio; N = nitrogênio; NG = necessidade de gesso; P = fósforo; PN = poder de neutralização; RE = reatividade; PRNT = poder relativo de neutralização total; S = enxofre.

PRINCÍPIOS DA ACIDEZ DO SOLO

Em soluções aquosas, um ácido é uma substância que doa íons hidrogênio ou prótons (H+) para qualquer outra substância. Por outro lado, uma base é qualquer

substância que aceita H+. Os íons H+, ou acidez ativa, aumentam com a força do ácido. O H+ não dissociado contribui para a acidez potencial do solo.

Os sistemas tampão podem manter o pH da solução em um estreito intervalo de pH quando são adicionadas pequenas quantida-des de um ácido ou de uma base. O poder tampão é definido como a resistência do solo à alteração do pH. Geralmente, os sistemas de solução tampão são formados por um ácido fraco (HA) e um dos seus sais (BA), ou uma base fraca e um dos seus sais.

Os solos diferem quanto à acidez ativa e acidez potencial. Além disso, os solos se comportam como ácidos fracos tamponados, com os íons H+ ligados ao complexo de troca catiônica (CTC) do húmus e dos minerais de argila proporcionando o tamponamento da acidez ativa da solução do solo.

A Figura 1 mostra um exemplo de como os solos podem diferir quanto à necessidade de calcário para atingir o mesmo pH. Por exemplo, enquanto o solo B necessita de cerca de 2 t ha-1 de carbonato de cálcio (CaCO3) para atingir pH 5,5, o solo E precisa de mais de 15 t ha-1 para atingir o mesmo pH do solo. Obviamente, isso está relacionado à maior capacidade tampão do solo E em relação ao solo B.

É importante entender que não é correto contar apenas com a acidez ativa do solo para calcular a dose de calcário a ser aplicada. Quando a acidez ativa do solo é neutralizada, existe ainda muita acidez para substituí-la (acidez potencial do solo ou capacidade tampão do solo). Portanto, é necessário avaliar corretamente a acidez potencial do solo para calcular com precisão a dose de calcário a ser aplicada.

POR QUE OS SOLOS SE TORNAM ÁCIDOS

Os solos possuem uma tendência natural de se acidificarem com o tempo. Muitos fatores, tanto naturais (material de origem,

vegetação nativa, precipitação, profundidade do solo) quanto de manejo (culturas, adubação nitrogenada, decomposição da matéria orgânica, plantio direto, erosão) contribuem para aumentar a aci-dez do solo. Caso não seja devidamente controlada, a acidez pode reduzir seriamente o rendimento das culturas, causando perdas econômicas significativas ao produtor e impactos negativos no ambiente. Problemas relacionados à acidez do solo ocorrem em muitas áreas em todo o mundo.

Estima-se que cerca de 30% dos solos do planeta são ácidos, e estes representam algumas das regiões produtoras de alimentos mais importantes.

IMPORTÂNCIA DA CORREÇÃO DA ACIDEZ DO SOLO

O uso adequado de materiais calcários é um dos fatores mais importantes no manejo bem-sucedido da produção de culturas e na melhoria da acidez do solo. Considere alguns dos benefícios de um bom programa de calagem:

Figura 1. Curvas de neutralização do CaCO3 para solos com diferentes capacidades de tamponamento do pH.

Fonte: Raij (2011).

A agricultura atual precisa seguir os princípios da sustentabilidade, que incluem a construção e manutenção, a longo prazo, da fertilidade do solo. Nos solos ácidos, onde há limitação dos rendimentos das culturas, a correção da

acidez do solo e do subsolo é parte importante das boas práticas de manejo (BPM) para alcançar a sustentabilidade. Uma parte importante do manejo da acidez do solo é a aplicação de calcário, mas também pode ser necessário o uso de outras práticas para tratar corretamente o problema. O adequado manejo da acidez do solo, entre outros benefícios, aumenta a eficiência dos fertilizantes aplicados, melhora a eficiência de alguns herbicidas, protege o

ambiente e aumenta o potencial de lucro do agricultor.

pH

CaCO3 aplicado (t/ha x 20 cm)

7,5

7,0

6,5

6,0

5,5

5,0

4,50 2 4 8 12 16 20 24 28 32 36

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6 INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS Nº 146 – JUNHO/2014

• Melhoria das propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.

• Melhoria da fixação simbiótica de N pelas leguminosas.• Influência positiva na disponibilidade de nutrientes para

as plantas.• Redução da toxicidade para as culturas.• Melhoria na eficiência de determinados herbicidas.• Fornecimento de Ca, Mg e, possivelmente, de outros

nutrientes, dependendo da sua composição química.A disponibilidade química de vários nutrientes, como P e S,

é melhorada pela adição de calcário aos solos ácidos. Complexos insolúveis de P e S no solo são alterados para formas mais disponí-veis para as plantas com a aplicação de materiais calcários. Mudan-ças no pH do solo afetam a disponibilidade de vários nutrientes de maneira distinta. A disponibilidade da maior parte dos nutrientes é maior na faixa de pH de 5,8 a 6,5.

Muitos estudos têm demonstrado a importância da aplicação de quantidades adequadas de calcário nos solos ácidos para aumen-tar o rendimento das culturas. A Tabela 1 resume os resultados de alguns destes estudos realizados em todo o mundo.

ESCOLHA E APLICAÇÃO DA FONTE CERTA DE CALCÁRIO

Vários fatores devem ser cuidadosamente considerados para o sucesso de um programa de calagem em solos ácidos. Os fatores importantes incluem a escolha de uma fonte de calcário disponível e adequada, a determinação da dose a ser aplicada e a aplicação correta em condições de campo.

1. Fatores relacionados à fonte

• Fórmula químicaAs duas principais fontes de calcário são o calcário calcítico

e o calcário dolomítico. O calcário calcítico é produzido por meio da mineração e moagem da rocha de carbonato de cálcio (CaCO3). Quando puro, contém 40% de Ca ou 100% de CaCO3. Ele serve como padrão de comparação para os valores de neutralização de outros materiais de calagem. O calcário dolomítico é produzido

a partir da rocha contendo uma mistura de CaCO3 e carbonato de magnésio (MgCO3). Quando há deficiência de Mg em um solo, deve-se escolher como fonte o calcário dolomítico.

• EficiênciadotamanhodaspartículasO grau de moagem determina a rapidez com que o calcário

irá reagir com o solo e neutralizar a acidez, variando geralmente de 60% a 100% . Esse percentual representa o quanto do calcário vai reagir na neutralização da acidez do solo no período de três meses, em condições ideais de umidade do solo. O aumento do grau de moagem produz maior número de partículas de calcário, as quais vão reagir com as partículas do solo.

Os materiais com granulometria mais grossa tendem a apresentar efeito residual mais elevado, enquanto aqueles com granulometria mais fina tendem a reagir mais rapidamente no solo.

Os materiais com menor grau de moagem devem ser prefe-ridos nas situações em que o agricultor deseja um efeito residual mais longo (por exemplo, no estabelecimento do plantio direto ou de culturas perenes). Por outro lado, os calcários com maior grau de moagem devem ser preferidos nas situações em que agricultor precisa de produto com reação rápida ou quando o calcário precisa ser aplicado sobre a superfície do solo (por exemplo, nos sistemas de plantio direto ou de culturas perenes já estabelecidos).

• Poder Relativo de Neutralização Total (PRNT)

O PRNT é um índice muito importante a ser considerado no cálculo da dose de calcário a ser aplicada. O PRNT combina dois índices (PN e RE) em um único valor com a finalidade de ajustar as necessidades de calcário sob condições de campo. O PRNT é calculado por meio da seguinte fórmula:

PRNT = (PN x RE) / 100, em que:PN = poder de neutralização (equivalente em CaCO3),RE = reatividade,sendo esses índices obtidos por meio de análise laboratorial.

Em termos práticos, o PRNT reflete quanto de calcário, em

Tabela 1. Aumento de produtividade com a aplicação de calcário em solos ácidos cultivados com diferentes culturas, em diferentes partes do mundo.

País Cultura Aumento de produtividade com o uso de calcário (%) Referência Observação

Argentina Alfafa 61 Gambaudo et al. (2001)

Brasil Soja 42 Oliveira e Pavan (1996) Plantio direto; calcário aplicado na superfície do solo

Chile Gramíneas forrageiras 70 Alfaro et al. (1998) Média de três espécies de gramíneas

China Repolho 42 Lei et al. (2003)

China Milho 59 Lei et al. (2003)

Equador Abacaxi 20 Mite e Medina (2008) Dose ótima de 1,5 t ha-1 de CaCO3; altas doses induzem doenças radiculares

Kenia Milho 500 Nekesa et al. (2005) Solo extremamente ácido

Kenia Feijão 300 Nekesa et al. (2005) Solo extremamente ácido

Rússia Nove culturas em rotação 32 (média = 14) Lukmanov et al. (2011) Calcário aplicado uma vez durante o

ciclo de rotação de culturas

Estados Unidos Trigo 35 Beegle (1996)

Estados Unidos Milho 500 Alley (1996)

Estados Unidos Alfafa 635 Alley (1996)

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percentagem, reagirá no período de três meses, em comparação com o CaCO3 finamente moído.

Quanto menor o PRNT, maior deve ser a taxa de aplicação de calcário para obter o mesmo efeito no controle da acidez do solo. As fórmulas para o cálculo da quantidade de calcário são específicas para a região, mas devem sempre considerar o PRNT. Como exemplo, vamos supor que a exigência em calcário, deter-minada pelo laboratório, para um material com PRNT de 100% foi de 5 t ha-1, mas o agricultor escolheu um calcário com PRNT de 80%. Assim, o agricultor terá que aplicar (100 x 5,0/80) = 6,25 t ha-1 do material calcário escolhido. No caso do agricultor escolher um material calcário com PRNT de 110%, a taxa de aplicação de calcário será (100 x 5,0/110 ) = 4,54 t ha-1.

• Forma físicaO calcário está disponível em várias formas físicas, sendo

a mais comum a rocha natural moída. Esta é a forma usada regu-larmente pelos agricultores em condições de campo. O calcário peletizado é produzido através da ligação ou compressão das finas partículas de calcário, formando grânulos grandes ou pelotas. Estas partículas maiores são mais fáceis de serem espalhadas e

geram menos poeira no manuseio. Isto torna o calcário peletizado bastante popular em algumas situações (por exemplo, em gramados e jardins residenciais). Porém, o calcário peletizado geralmente é mais caro, em relação às fontes convencionais, devido aos custos adicionais da peletização. O calcário líquido é produzido por meio da mistura de calcário moído, até 200 mesh, em água e é aplicado por intermédio de pulverizadores de fertilizantes líquidos. Geralmente, o calcário moído é aplicado a uma taxa de 225 a 450 kg em mistura com a água na relação 50/50. O custo do calcário líquido em geral também é mais elevado devido ao custo adicional da moagem do calcário em granulometria muito fina – 100 a 200 mesh.

2. Fatores relacionados à taxa de aplicação

• pH do solo

Como discutido anteriormente, o pH do solo identifica o grau ou intensidade da acidez ativa ou da alcalinidade do solo. Ele indica o nível de acidez que a raiz da planta encontrará ao crescer em um determinado solo. Quando utilizado sozinho, no entanto, não é um bom indicador da necessidade de calagem.

Sintomasdedeficiência de fósforo na cultura de milho (à esquerda) e de magnésio na soja (à direita) são comuns em solos ácidos.

A aplicação de calcário varia de acordo com a escala da fazenda, mas a sua contribuição para a produtividade sustentada é fundamental, independen-temente do método de distribuição.

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• Capacidade tampãoA exigência em calcário está relacionada ao pH do solo e à

capacidade tampão, ou CTC do solo. A capacidade tampão reflete quão fortemente o solo resiste à mudança do pH. A quantidade total de argila, o tipo de argila e a matéria orgânica influenciam a capaci-dade tampão do solo. Solos arenosos têm baixa CTC e pouco efeito tampão; assim, eles requerem menos calcário para elevar o pH.

• Cultura a ser cultivadaAlgumas culturas são mais tolerantes à acidez do solo do

que outras. Mirtilo, batata e melancia tendem a ser mais tolerantes à acidez do que milho, soja, trigo, alfafa e trevo. À medida que a meta de pH para a cultura a ser cultivada aumenta, a exigência em calcário também aumenta.

• RegiãogeográficaOs tipos de argila presentes no solo podem variar entre as

regiões geográficas. Geralmente, regiões úmidas têm solos alta-mente intemperizados, contendo argilas com baixa CTC.

Solos localizados em regiões menos úmidas, que foram expostos a processos atmosféricos menos intensos, bem como aqueles das regiões glaciais, tendem a ter argilas com CTC mais elevada. Consequentemente, as regiões que apresentam alta precipitação anual requerem calagem mais frequente do que as regiões semi-áridas.

3. Aplicação de calcário em condições de campo

• TempoefrequênciaO calcário reage com o solo apenas quando existe umidade

disponível. No entanto, os materiais calcários têm baixa solubili-dade em água. Por isso, os agricultores devem aplicar o calcário com antecedência no solo, antes da semeadura da cultura, visto que o tempo e a umidade podem facilitar a reação do calcário e corrigir o pH do solo para a cultura alvo. Geralmente, o intervalo de tempo mínimo para uma boa reação do calcário é de dois a três meses antes da semeadura. No caso de não se dispor de um período tão longo, os agricultores devem planejar a aplicação de materiais calcários que apresentam reação mais rápida no solo (por exemplo, CaO, Ca(OH)2 ou produtos similares podem reagir com o solo em duas semanas se a umidade do solo for adequada). Para culturas perenes e forrageiras recomenda-se aplicar o calcário dois meses antes do período tradicional de início das chuvas. A calagem dos solos ácidos geralmente é necessária a cada três a cinco anos, depen-dendo de vários fatores, como manejo, precipitação, características do solo, entre outros. Solos localizados em áreas com padrão de precipitação moderada a alta tendem a se tornar ácidos (ou mais ácidos) com o tempo.

• Localização e profundidade do soloA aplicação uniforme e a incorporação completa do calcário

no solo são essenciais para um bom programa de calagem. Os agri-cultores devem escolher as máquinas e a mão de obra com cuidado para tão importante operação. Experimentos têm mostrado que a aplicação localizada do calcário geralmente é menos eficiente do que a sua incorporação em todo o campo. Em diversas situações específicas, como em plantio direto bem estabelecido, culturas perenes, pastagens, prados de feno, gramado e turfa, não é possível a incorporação do calcário no solo. Em tais casos, experiências locais devem definir a metodologia para amostragem do solo e a melhor forma de aplicação.

Em propriedades que apresentam áreas heterogêneas quanto ao pH do solo, os conceitos e as ferramentas da agricultura de pre-

cisão podem ajudar a elaborar um plano de aplicação de calcário. Este plano incluirá coleta adequada de amostras de solo, criação de mapas e aplicação de calcário em taxa variável.

As recomendações de calcário geralmente são realizadas pressupondo-se que o material calcário será incorporado na pro-fundidade de cultivo representada pela amostra de solo submetida ao laboratório que, na maioria das vezes, é de 0 a 20 cm. Para culturas cultivadas e novas pastagens, para as quais são utiliza-das profundidades de incorporação diferentes da usual (preparo profundo do solo, plantio direto e outros), a taxa recomendada de calcário deverá ser ajustada através da multiplicação da taxa recomendada por um fator, que é calculado dividindo-se a pro-fundidade real de incorporação por 20 cm.

• Quantidade a aplicarA dose máxima de calcário a ser aplicada em uma única vez

é de cerca de 10 t ha-1. Recomendações acima desta dose devem ser divididas em duas aplicações distintas.O parcelamento das altas doses em duas aplicações, com incorporações separadas, ajudará a garantir a distribuição mais uniforme do calcário na zona radicular da planta pelo preparo adequado.

A divisão da dose também pode ser necessária nos casos em que o calcário dolomítico é importante (por exemplo, onde o magnésio também é necessário para o desenvolvimento da cultura), mas o calcário calcítico está disponível em menor preço na região. Neste caso, por meio do parcelamento, será possível aplicar o cal-cário dolomítico ao menos em uma das aplicações, fornecendo o Mg para o desenvolvimento da cultura.

OUTRAS PRÁTICAS UTILIZADAS PARA CORRIGIR A ACIDEZ DO SOLO

A calagem é, sem dúvida, a melhor alternativa para cor-rigir a acidez superficial do solo, o que proporciona condições para o adequado desenvolvimento da cultura. Nenhuma outra prática é tão eficiente e econômica como a calagem. No entanto, outras alternativas podem ser úteis em situações específicas para o manejo dos efeitos prejudiciais da acidez do solo sobre o cres-cimento das plantas.

• uso de gesso ou fosfogessoQuimicamente, o gesso (CaSO4 • 2H2O) é um sal neutro

que não apresenta efeito direto sobre o pH do solo. No entanto, muitos pesquisadores têm demonstrado que o fosfogesso, um subproduto da fabricação do ácido fosfórico, pode amenizar a acidez do subsolo, com efeitos positivos sobre o desenvolvimento das raízes das plantas. Isto é especialmente importante em siste-mas de cultivo de sequeiro, onde a absorção radicular de água e nutrientes pode ser limitada, afetando o crescimento das plantas, caso as raízes não se desenvolvam bem e não atinjam as camadas mais profundas do solo.

Os critérios para determinar quando aplicar gesso para diminuir a acidez do subsolo devem ser baseados, principalmente, nos valores de Ca2+ e Al3+ trocáveis do solo, ou, às vezes, no teor de argila do solo (determinado a partir de amostras de solo coletadas na profundidade de 40 a 60 cm, ou maior). Teores de cálcio inferiores a 5 mmolc/dm3 e/ou teores de Al3+ superiores a 5 mmolc/dm3 indicam uma boa chance de resposta ao gesso.

Em alguns casos, o teor de argila do solo é utilizado para recomendação da dose de fosfogesso a ser aplicada. Nos latossolos brasileiros, onde o uso de fosfogesso tornou-se uma prática rotineira, a dose a ser aplicada é calculada pela seguinte expressão:

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NG = argila x 50em que, NG = necessidade de fosfogesso, em t ha-1, e argila = teor de argila, em %, na camada de 40 a 60 cm de profun-didade do solo.

• Seleção de cultivaresComo discutido anteriormente, a disponibilidade de Al para as

plantas aumenta em baixo pH e a toxicidade de Al é o principal fator que limita a produção das culturas nos solos ácidos. A calagem do solo é uma prática natural para superar os problemas da acidez. No entanto, em situações ou regiões onde a disponibilidade de calcário é baixa e/ou o custo do calcário é elevado, pode-se utilizar cultivares tolerantes à acidez do solo e, sobretudo, tolerantes à toxicidade de Al.

Entre as espécies de plantas há uma grande variabilidade quanto à tolerância ao Al. Esta variabilidade tem sido útil aos geneticistas, para o desenvolvimento de cultivares tolerantes ao alumínio em diversas culturas, assim como aos pesquisadores, no estudo da fisiologia e bioquímica da tolerância ao Al. O trigo tem provado ser particular-mente útil nesses estudos, pois apresenta uma diferença de 10 vezes na tolerância ao Al entre os seus diferentes genótipos.

Assim, é importante investigar na sua região se existem cultivares locais disponíveis que são menos suscetíveis à acidez do solo e à toxidez de Al. Na verdade, o uso de cultivares adequadas muitas vezes leva, também, a um maior grau de sucesso em qualquer programa de calagem.

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MITE, F.; MEDINA, L. Efecto de la corrección del pH en el rendimiento de la piña en la zona de valle hermoso, Santo Domingo de los Tsáchilas, Ecuador. In: CONGRESO ECUATORIANO DE LA CIENCIA DEL SUELO, 11., 2008. Quito, Equador. Memorias... Asociación Argentina de la Ciencia del Suelo, 2008.

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RAIJ, B. van. Fertilidade do solo e manejo de nutrientes. Piracicaba: IPNI Brasil, 2011. 420 p.

PRÊMIO IPNI BRASIL EM NUTRIÇÃO DE PLANTAS

O Prêmio IPNI Brasil em Nutrição de Plantas tem por objetivo reconhecer pesquisadores do país que contribuem com pesquisas relevantes em assuntos relacionados à missão do Instituto. A premiação conta com o apoio da Sociedade Brasi-leira de Ciência do Solo, a qual é responsável pela escolha dos ganhadores.

O Prêmio é entregue anualmente durante as atividades da FertBio (anos pares) e do Congresso Brasileiro de Ciência do Solo (anos ímpares), em duas categorias:

a) Prêmio Jovem Pesquisador – destinado a estudantes inscritos na FertBio ou no Congresso Brasileiro de Ciência do Solo, cujos trabalhos estão relacionados às áreas de Fertilidade do Solo, Nutrição de Plantas e/ou Adubos e Adubação e estão em consonância com a missão do IPNI.

b) Prêmio Pesquisador Sênior – destinado a pesquisado-res com relevante destaque científico no manejo responsável da nutrição das plantas.

A premiação consiste nas quantias de R$ 1.500,00 e R$ 1.000,00 para o pesquisador sênior e o jovem pesquisador, respectivamente. Os ganhadores recebem, ainda, uma placa honorária.

A comissão julgadora é composta por cinco membros, sendo dois da comissão organizadora do evento e três indicados pela Sociedade Brasileira de Ciência do Solo (SBCS).

Os candidatos ao Prêmio Pesquisador Sênior são indica-dos on-line por sócios da SBCS que atuam na área de nutrição de plantas. Nominações próprias não são aceitas.

Até cinco candidatos ao Prêmio Jovem Pesquisador são indicados pela Comissão Científica do evento com base na avaliação dos resumos ou resumos expandidos submetidos para apresentação em seções de pôster ou orais. Juntamente com os nomes, os resumos ou resumos expandidos são disponibilizados à comissão julgadora do prêmio IPNI Brasil até 20 (vinte) dias antes do evento.

São necessárias pelo menos três indicações no ano para que o prêmio seja concedido nas duas categorias. Os contem-plados não serão elegíveis ao mesmo prêmio.

Este ano, o prêmio será entregue na FERTBIO 2014, a ser realizada em Araxá, MG, de 15 a 19/09/2014. As inscrições estão abertas até 05 de Agosto/2014.

Mais informações estão disponibilizadas no site do IPNI: http://brasil.ipni.net/article/BRS-3156.