AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DO TRATAMENTO ... -...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO - UFES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FISIOLÓGICAS CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE LABORATÓRIO DE FISIOLOGIA TRANSLACIONAL AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DO TRATAMENTO COM SILDENAFIL SOBRE CÉLULAS DE MEDULA ÓSSEA DE CAMUNDONGOS HIPERCOLESTEROLÊMICOS FRANCIANE PEREIRA BERNARDES Vitória-ES 2015

Transcript of AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DO TRATAMENTO ... -...

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO - UFES

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS FISIOLGICAS

CENTRO DE CINCIAS DA SADE

LABORATRIO DE FISIOLOGIA TRANSLACIONAL

AVALIAO DOS EFEITOS DO TRATAMENTO COM SILDENAFIL SOBRE

CLULAS DE MEDULA SSEA DE CAMUNDONGOS

HIPERCOLESTEROLMICOS

FRANCIANE PEREIRA BERNARDES

Vitria-ES

2015

FRANCIANE PEREIRA BERNARDES

AVALIAO DOS EFEITOS DO TRATAMENTO COM SILDENAFIL SOBRE

CLULAS DE MEDULA SSEA DE CAMUNDONGOS

HIPERCOLESTEROLMICOS

Orientadora: Profa. Dra. Silvana dos Santos

Meyrelles

Universidade Federal do Esprito Santo Vitria-ES, Dezembro de 2015.

Dissertao apresentada ao Programa de

Ps-Graduao em Cincias

Fisiolgicas da Universidade Federal do

Esprito Santo como requisito parcial

para obteno do ttulo de Mestre

em Cincias Fisiolgicas.

FRANCIANE PEREIRA BERNARDES

Bernardes, Franciane Pereira.

Avaliao dos efeitos do tratamento com Sildenafil sobre clulas de

medula ssea de camundongos hipercolesterolmicos / Franciane Pereira

Bernardes. 2015.

89 f.

Orientador: Profa. Dra. Silvana dos Santos Meyrelles.

Dissertao (mestrado) Universidade Federal do Esprito Santo,

Programa de Ps-Graduao em Cincias Fisiolgicas.

1. Hipercolesterolemia. 2. Sildenafil. I. Meyrelles, Silvana dos Santos.

II. Universidade Federal do Esprito Santo. Centro de Cincias da Sade.

III. Avaliao dos efeitos do tratamento com Sildenafil sobre clulas de

medula ssea de camundongos hipercolesterolmicos.

FRANCIANE PEREIRA BERNARDES

AVALIAO DOS EFEITOS DO TRATAMENTO COM SILDENAFIL SOBRE

CLULAS DE MEDULA SSEA DE CAMUNDONGOS

HIPERCOLESTEROLMICOS

Aprovada em ____ de Dezembro de 2015.

COMISSO EXAMINADORA

___________________________________

Profa. Dra. Silvana dos Santos Meyrelles.

Universidade Federal do Esprito Santo

Orientadora

___________________________________

Avaliador Interno

___________________________________

Avaliador Externo

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Cincias Fisiolgicas da Universidade Federal do Esprito Santo como requisito parcial para obteno do ttulo de Mestre em Cincias Fisiolgicas.

Dedico a minha amada irm Elaine, minha me Marineth e ao

amor da minha vida, Diego Izoton.

AGRADECIMENTOS

Agradeo a todos que de alguma forma contriburam para a concretizao

deste sonho.

Agradeo professora Dra. Silvana dos Santos Meyrelles por ter aceitado me

orientar e auxiliar nesta importante etapa da minha formao, por sua pacincia

e seu tempo dedicados realizao deste projeto.

Ao professor Dr. Elisardo Corral Vasquez por sua contribuio, seu auxlio e

tempo disponibilizado durante o desenvolvimento do projeto.

professora Dra. Maria do Carmo Pimentel Batitucci por sua contribuio, sua

disponibilidade e atenciosidade no desenvolvimento dos protocolos do

microncleo, sua equipe de pesquisa por ter me recebido com muito carinho

e atenciosidade.

prof. Dr. Bianca Prandi Campagnaro por contribuir para o desenvolvimento

e a concretizao deste projeto e tambm para o meu aprendizado.

Ao prof. Dr. Breno Valentin Nogueira por sua disponibilidade e ateno e sua

equipe de pesquisa por terem me recebido muito bem.

Aos professores do Programa de Ps-Graduao em Cincias Fisiolgicas

(PPGCF) da UFES, especialmente profa. Dra. Ivanita Stefanon, aos prof. Dr.

Leonardo dos Santos e Dr. Marcelo Baldo por suas aulas maravilhosas. Com

elas a Fisiologia Cardiovascular ficou mais linda e interessante.

Aos amigos do PPGCF pela parceria, integrao e pelas brincadeiras de muito

bom gosto, em especial Girlndia Brasil ( uma simpatia!), ao Fabrcio

Bragana (oh pessoa agradvel, como pode!) e Cleciane (vamos subir o

conceito do programa! kkk), vocs so maravilhosos!

Obrigada aos professores Dr. Jones Bernardes Gracelli e Dr. Elisardo Corral

Vasquez por terem aceitado avaliar minha aula de qualificao. Todas as

sugestes foram de extrema importncia e certamente iro contribuir para o

curso de doutorado e para toda minha vida no h limite para pesquisar e

questionar.

Aos amigos do Laboratrio de Fisiologia Translacional (LFT) pelo apoio,

companheirismo, parceria e amizade. Las, Brunella, Jamila, Rossana, Camila,

Markin, Flavia, Thansia, Ananda, Brenna, Viviane, Isabela, Victor, Vincios,

Joo Victor, Eduardo; verdadeiramente vocs so maravilhosos! O carinho

ser eterno e as amizades sero mantidas. Foi um prazer trabalhar com vocs.

Alan, obrigada por tudo, suas explicaes e sua pacincia. Foi muito bom fazer

parte da dupla Chris & Grag.

Ao meu amigo Jean Carlos Vencioneck Dutra, o meu muitssimo obrigada.

Voc excedeu as expectativas do que se pode esperar de um amigo, com sua

boa vontade e disponibilidade de sempre ajudar e se preocupar junto, e

resolver junto. Voc espetacular, dogo.

Aos amigos da turma BioUfes 2008/2 que continuaram a participar dos bons e

no to bons momentos da UFES: Clber Covre, Main Mantovanelli, Sarah

Cantarino, Vincius Santi e Lorena Xavier. Vocs me fazem muito bem!

minha amada irm Elaine Bernardes pela pacincia e compreenso com a

minha ausncia, especialmente neste ltimo ano.

Ao meu namorado Diego Izoton, por seu amor, apoio, carinho e

companheirismo.

RESUMO

A hipercolesterolemia, alm de ser um dos principais fatores que levam ao

desenvolvimento da aterosclerose, provoca danos oxidativos e genotxicos em

clulas de medula ssea. O Sildenafil tem sido utilizado com sucesso em

pesquisas cardiovasculares e, no caso da aterosclerose, demonstra efeitos

positivos na diminuio do estresse oxidativo e de marcadores de danos

genotxicos em modelos experimentais de aterosclerose (camundongo

knockout para a apolipoproteina E - apoE-/-). Neste trabalho foi testada a

hiptese de que o tratamento com Sildenafil seria capaz de melhorar possveis

danos que a hipercolesterolemia comprovadamente causa nas clulas de

medula ssea de camundongos apoE-/-. Foram utilizados camundongos

machos com 03 meses de idade divididos em trs grupos: controle C57BL/6

(C57), veculo (apoE-/- V) e tratado (apoE-/- S) os quais foram submetidos ao

tratamento com Sildenafil 40mg/Kg/Dia ou Veculo por trs semanas. Durante o

perodo de tratamento foram feitas coletas de sangue perifrico e no ltimo dia

de tratamento as clulas de medula ssea dos fmures e tbias foram isoladas

e submetidas a protocolos de citometria de fluxo, dosagem de colesterol

plasmtico e teste do microncleo. O estresse oxidativo foi avaliado por meio

da determinao dos nveis das Espcies Reativas de Oxignio (EROs) nion

superxido (O2-) e perxido de hidrognio (H2O2) nos ensaios de citometria de

fluxo DHE e DCF, respectivamente. Foram adquiridas informaes acerca das

fases do ciclo celular das clulas de medula ssea por meio de marcao com

Iodeto de Propdeo (PI) e a estimativa de danos genotxicos e citotxicos foi

feita por meio do teste do microncleo de medula ssea e de sangue. Os

dados obtidos foram submetidos Anlise de Varincia (ANOVA) de uma via

seguida do post hoc de Fisher ou, quando cabvel, ao teste t de student para

amostras independentes e os resultados esto expressos como mdia EPM e

considerados estatisticamente significativos quando *p < 0,05. Os dados

relativos s EROs indicam que animais apoE-/- V apresentam maiores nveis de

nion superxido quando comparados ao grupo controle (C57) e ao grupo que

recebeu Sildenafil (apoE-/- V: 2217,6361,0* versus C57: 1128,228,0 versus

apoE-/- S: 1125,7190,8#). Os nveis de H2O2 tambm se apresentaram

aumentados no grupo apoE-/- V, com valores de 2847,0191,0* versus C57:

2181,0107,7 versus apoE-/- S: 2107,080,60#. Quanto s caractersticas do

ciclo celular, os valores obtidos apontaram para uma maior fragmentao de

DNA nos animais do grupo veculo com relao ao controle e ao tratado (apoE-

/- V: 2,140,12* versus C57: 1,590,10 versus apoE-/- S 1,310,11#). Tambm

constatou-se no grupo veculo uma maior proporo de clulas de medula

ssea no momento G0/G1 (apoE-/- V: 75,450,70* versus C57: 68,600,53

versus apoE-/- S: 67,751,60#). Alm disso, os dados de microncleo sugerem

que os animais hipercolesterolmicos que no receberam tratamento com

Sildenafil apresentam danos genotxicos expressivos na medula (apoE-/- V:

6,40,35* versus C57: 3,50,27 versus apoE-/- S: 5,00,41#) e no sangue

(apoE-/- V: 7,60,80* versus C57: 4,00,37 versus apoE-/- S: 3,950,40#) em

comparao ao grupo tratado com Sildenafil. Em conjunto, os resultados

indicam que o tratamento com Sildenafil em camundongos

hipercolesterolmicos foi capaz de produzir efeitos benficos no ambiente

medular demonstrados pela menor produo de EROs, menor quantidade de

DNA fragmentado e menor quantidade de clulas micronucleadas na medula

ssea e no sangue perifrico.

Palavras-chave: hipercolesterolemia, EROS, dano genotxico, Sildenafil.

ABSTRACT

Hypercholesterolemia, besides being a major factor leading to the development

of atherosclerosis, causes oxidative and genotoxic damage in bone marrow

cells. Sildenafil has been used successfully in cardiovascular research and in

the case of atherosclerosis, shows positive effects in the reduction of oxidative

stress and the genotoxic damage markers of atherosclerosis in experimental

models (Knockout mouse apolipoprotein E - apoE-/-). In this study we tested the

hypothesis that treatment with sildenafil would be able to improve the damage

caused by the hypercholesterolemia on the bone marrow cells from apoE-/-

mice. Male mice were used at 03 months of age divided into three groups:

C57BL/ 6 control (C57), vehicle (apoE-/- V) and treated (apoE-/- S) which were

subjected to treatment with Sildenafil 40 mg/kg/Day or vehicle for three weeks.

During the treatment period, peripheral blood samples were taken and on the

last day of treatment the bone marrow cells from the femurs and tibias were

isolated and subjected to flow cytometry protocols, dosage and serum

cholesterol micronucleus test. Oxidative stress was evaluated by determining

the levels of Reactive Oxygen Species (ROS) superoxide anion (O2-) and

hydrogen peroxide (H2O2) on cytometry flow assays DHE and DCF,

respectively. Information has been obtained on the cell cycle phases of bone

marrow cells by staining with propidium iodide (PI) and the estimation of

genotoxic and cytotoxic damage was done through the micronucleus test of

bone marrow and blood. Statistical analysis was performed using the one-way

analysis of variance (ANOVA). When the ANOVA showed significant

differences, the Fishers test was performed as a post hoc analysis. When

appropriate, the Student t test for independent samples was performed. The

results are expressed as mean SEM and the differences between means

were considered statistically significant p < 0.05. Data on ROS indicate that

apoE-/- V animals had higher levels of superoxide anion compared with the

control group (C57) and the group receiving Sildenafil (apoE-/- V: 2217.6361.0*

versus C57: 1128.228.0 versus apoE-/- S: 1125.7190.8#). Hydrogen peroxide

levels also had increased in the group apoE-/- V with values about

2847.0191.0* versus C57: 2181.0107.7 versus apoE-/- S: 2107.080.60#.

Regarding the characteristics of the cell cycle, the values obtained indicate a

greater DNA fragmentation in the animals of vehicle group compared to the

control and treated (apoE-/- V: 2.140.12* versus C57: 1.590.10 versus apoE-/-

S 1.310.11#). It was also observed in the vehicle group had a greater

proportion of bone marrow cells when G0/G1 (apoE-/- V: 75.450.70* versus

C57: 68.600.53 versus apoE-/- S: 67.751.60#). Furthermore, the micronucleus

data suggest that hypercholesterolemic animals receiving vehicle have

significant genotoxic damage in the bone marrow (apoE-/- V: 6.40.35* versus

C57: 3.50.27 versus apoE-/- S: 5.00.41#) and blood (apoE-/- V: 7.60.80*

versus C57: 4.00.37 versus apoE-/- S: 3.950.40#) compared to the group

treated with Sildenafil. Together, these results indicate that treatment with

sildenafil in hypercholesterolemic mice was able to produce beneficial effects on

the bone marrow environment demonstrated by a lower production of ROS,

smaller amount of fragmented DNA and least amount of micronucleated cells in

the bone marrow and peripheral blood.

Keywords: hypercholesterolemia, ROS, genotoxic damage, Sildenafil.

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Processos biolgicos e molculas presentes na placa

aterosclertica. ................................................................................................. 20

Figura 2 Viso geral das principais fontes endgenas de EROs. .................. 24

Figura 3 Estrutura da medula ssea e microambiente hematopoitico. ........ 26

Figura 4 Vias de diviso celular das clulas-tronco adultas. ......................... 27

Figura 5 Dot plot tpico de clulas totais de medula ssea........................... 41

Figura 6 Histograma tpico representativo do ciclo celular obtido aps

marcao com PI. ............................................................................................ 43

Figura 7 - Histograma tpico de intensidade de fluorescncia emitida por DHE

......................................................................................................................... 52

Figura 8 Histograma tpico de intensidade de fluorescncia emitida por DCF.

......................................................................................................................... 53

Figura 9 Histogramas tpicos do ciclo celular obtidos pela marcao com PI

em clulas de medula ssea nos diferentes grupos de estudo. ....................... 56

Figura 10 Microscopia ptica de EPC, ENC e EPC MN. .............................. 60

Figura 11 Microscopia ptica de ENC de sangue perifrico .......................... 63

LISTA DE GRFICOS

Grfico 1 Proporo de bitos por doena isqumica do corao. ............... 19

Grfico 2 Proporo de bitos por doena cerebrovascular......................... 19

Grfico 3 Nveis de Colesterol Plasmtico Total .......................................... 49

Grfico 4 Nveis de Triglicerdeos Plasmticos ............................................ 49

Grfico 5 Nmero de clulas contadas na Cmara de Neubauer ............... 50

Grfico 6 Dot plot das populaes de clulas de medula ssea. ................. 51

Grfico 7 Nveis de O2- em clulas de medula ssea ................................. 53

Grfico 8 Nveis de H2O2 em clulas de medula ssea.................................54

Grfico 9 Quantidade de clulas na fase Sub-G0..........................................57

Grfico 10 Quantidade de clulas na fase G0/G1 ......................................... 58

Grfico 11 Percentual de Clulas na fase S do ciclo celular ........................ 59

Grfico 12 Percentual de Clulas na fase G2/M do ciclo celular .................. 59

Grfico 13 Frequncia de EPC MN .............................................................. 61

Grfico 14 Relao de EPC/(EPC+ENC) ..................................................... 62

Grfico 15 Quantidade de ENC MN de sangue perifrico no incio do

tratamento/veculo (T0). ................................................................................... 64

Grfico 16 Quantidade de ENC MN de sangue perifrico aps 21 dias de

tratamento (TF) ................................................................................................ 64

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Dados do Colesterol Total e Triglicerdeos plasmticos ................................ 49

Tabela 2 - Frequncia de EPC MN e Relao de EPC/(EPC+ENC)............................... 61

Tabela 3 - Frequncia de ENC MN nos momentos T0 e TF ............................................. 64

LISTA DE SIGLAS E ABREVIAES

ANOVA: anlise de varincia

apoE: apolipoprotena E

apoE-/-: Camundongo nocauteado para a apoE

CAT: catalase

DHE: Diidroetdeo

DCF: Diclorofluorescena

DCV: Doena cardiovascular

EPC: Eritrcito policromtico

EPM: Erro Padro da Mdia

ENC: Eritcito normocromtico

EROs: Espcies Reativas de Oxignio

GMPc: Monofosfato cclico de guanosina

GPx: glutationa peroxidase

ICAM: Molcula de adeso intercelular

IL: interleucina

MIF: Mediana de Intensidade de Fluorescncia

MN: microncleo

PDE: fosfodiesterase

SOD: superxido dismutase

VCAM: Molcula de adeso de clula vascular

SUMRIO

1 INTRODUO .................................................................................................................. 18

1.1 Dados relevantes sobre a epidemiologia das Doenas Cardiovasculares ........... 18

1.2 Aterosclerose ............................................................................................................ 19

1.2.1 Aterosclerose Experimental ............................................................................ 21

1.3 Espcies Reativas de Oxignio .................................................................................. 23

1.4 Importncia da Medula ssea .......................................................................................... 25

1.5 Sildenafil .......................................................................................................................... 28

2 HIPTESE e JUSTIFICATIVA ...................................................................................... 33

3 OBJETIVOS ...................................................................................................................... 35

3.1 Objetivo Geral ................................................................................................................. 35

3.2 Objetivos Especficos .................................................................................................... 35

4 MATERIAIS E MTODOS .............................................................................................. 37

4.1 Animais Experimentais ............................................................................................ 37

4.2 Coleta e Isolamento das clulas de medula ssea ............................................. 38

4.3 Quantificao e Estimativa de Viabilidade Celular .............................................. 39

4.4 Ensaios realizados por citometria de fluxo ................................................................ 40

4.4.1 Determinao dos Nveis de Espcies Reativas de Oxignio (EROs) .......... 41

4.4.2 Anlise do Ciclo Celular das clulas de medula ssea .................................... 42

4.5 Determinao dos Nveis de Colesterol Plasmtico e Triglicerdeos ............... 43

4.6 Teste do Microncleo ................................................................................................... 44

4.7 Anlise Estatstica .................................................................................................... 46

5 RESULTADOS ................................................................................................................. 49

5.1 Colesterol Plasmtico e Triglicerdeos ....................................................................... 49

5.2 Quantificao e Viabilidade Celular ............................................................................ 50

5.3 Dados obtidos por citometria de fluxo ........................................................................ 51

5.3.1 Perfil das populaes de clulas de medula ssea .......................................... 51

5.3.2 Nveis de EROs...................................................................................................... 52

5.3.3 Anlise das fases do ciclo celular ........................................................................ 55

5.4 Estimativa de Dano no material gentico - Teste do Microncleo ......................... 59

5.4.1 Microncleo na Medula ssea .............................................................................. 59

5.4.2 Microncleo no sangue .......................................................................................... 62

6 DISCUSSO ......................................................................................................................... 66

6.1 Colesterol Plasmtico e Triglicerdeos ....................................................................... 66

6.2 Nveis de EROs ............................................................................................................. 67

6.3 Anlise das fases do ciclo celular ............................................................................... 69

6.4 Estimativa de Dano no material gentico - Teste do Microncleo ......................... 71

7 CONCLUSO ........................................................................................................................ 72

8 Limitaes do Estudo ........................................................................................................ 73

Introduo

18

1 INTRODUO

1.1 Dados relevantes sobre a epidemiologia das Doenas

Cardiovasculares

De acordo com a Organizao Mundial da Sade (OMS) as Doenas

Cardiovasculares s) ainda so a principal causa de morte em todo o mundo. As

DCVs so aquelas que afetam o corao e os vasos sanguneos e incluem,

por exemplo, o infarto, o acidente vascular cerebral (AVC), a aterosclerose, e

tambm arritmias cardacas, isquemias ou anginas. Segundo relatrio da OMS

do ano 2012, a doena isqumica, o AVC, a doena pulmonar obstrutiva

crnica e as infeces do trato respiratrio inferior foram as quatro

enfermidades que mais fizeram vtimas em ambos os sexos. No Brasil, as

DCVs so responsveis por cerca de 30% das mortes registradas no Pas ao

ano, das quais, mais de 308 mil ocorreram por infarto e acidente vascular

cerebral (AVC).

Estes altos nmeros colocam o Brasil entre os dez pases com maior ndice de

mortes por doenas cardiovasculares. Estudos do Instituo Dante Pazzanese de

Cardiologia (So Paulo) mostraram que 60% das vtimas so homens, com

idade mdia de 56 anos. No Esprito Santo as doenas do aparelho circulatrio

representam a primeira causa de bito para ambos os sexos, principalmente a

partir dos 50 anos de idade, prevalecendo os bitos por doena isqumica do

corao e doena cerebrovascular (Grficos 1 e 2) (PORTAL BRASIL, 2011;

WHO, 2012; SESA, 2012).

Grficos 1 e 2 - Proporo de bitos por doena isqumica do corao e doena cerebrovascular na populao adulta. Esprito Santo, 2010.

DOENA ISQUMICA DO CORAO DOENA CEREBROVASCULAR

Fonte: SIM/SESA (2012).

19

Dentre as DCVs, a doena isqumica do corao, o AVC e a hipertenso

arterial so bastante estudadas devido ao seu alto ndice de morbi-mortalidade

e por se desenvolverem em decorrncia da aterosclerose (WHO, 2014). Ainda

que avanos teraputicos na rea cardiovascular sejam frequentes, estima-se

que essa forte repercusso sobre o padro de morbi-mortalidade tende a

persistir devido, principalmente, ao aumento da populao idosa e da

expectativa de vida associados ao sedentarismo e a dietas hiperglicdicas e/ou

hiperlipdicas, que contribuem para consolidar esses dados epidemiolgicos

(BARRETO et al., 2003; V DIRETRIZ BRASILEIRA DE DISLIPIDEMIAS E

PREVENO DA ATEROSCLEROSE, 2013).

1.2 Aterosclerose

A aterosclerose uma DCV inflamatria crnica de origem multifatorial

caracterizada pela formao de placas de constituio fibrosa e lipdica

(ateroma) que diminuem progressivamente o dimetro dos vasos sanguneos

(BERLINER et al., 1995).

A Aterosclerose desenvolve-se em resposta agresso endotelial,

acometendo principalmente a camada ntima de artrias de mdio e grande

calibre, o que pode levar isquemia vascular. Cada tecido ou rgo responde

inflamao de forma dependente de suas caractersticas celulares prprias e

da arquitetura do tecido lesado, bem como do suprimento sanguneo e da

natureza dos agentes agressores. Entretanto, ainda que a resposta leso

seja caracterstica em cada local afetado, a resposta celular e a biologia

vascular da aterosclerose so similares nos diversos tecidos e rgos, e

sugerem inmeros processos moleculares como, por exemplo, ativao de

molculas de adeso, acmulo e ativao de clulas brancas do sangue,

peroxidao lipdica, apoptose, alteraes em clulas musculares lisas,

linfcitos e moncitos (Figura 1) (ROSS, 1999; LIBBY; DICARLI;

WEISSLEDER, 2010).

20

Figura 1 Processos biolgicos e molculas presentes na placa aterosclertica.

Nota: As partculas de LDL oxidadas so fagocitadas pelos macrfagos originando as clulas espumosas. Concomitantemente maior expresso de molculas de adeso celular, a produo de Espcies Reativas de Oxignio (EROs) pelos macrfagos e clulas musculares lisas aumentada no interior da placa. Fonte: Libby, Dicarli e Weissleder (2010). Adaptado.

Vrios fatores de risco podem resultar no processo aterosclertico, como, por

exemplo, hereditariedade, hipertenso arterial, dislipidemia, diabetes,

obesidade, idade, tabagismo e sedentarismo (GRUNDY et al., 1999). Esses

fatores so capazes de lesar o endotlio vascular causando disfuno

endotelial e, assim, a camada ntima fica mais permevel s lipoprotenas que

ficam retidas no espao subendotelial (PAOLETTI; GOTTO JUNIOR; HAJJAR,

2004).

As lipoprotenas so responsveis pelo transporte e pela distribuio dos

lipdeos atravs do plasma e podem ser classificadas em: lipoprotena de baixa

densidade (LDL), lipoprotena de alta densidade (HDL), ambas ricas em

colesterol, lipoprotena de densidade intermediria (IDL), lipoprotena de muito

baixa densidade (VLDL), de origem heptica e quilomcrons (QM), de origem

intestinal, sendo essas duas ltimas classes muito ricas em Triglicerdeos. O

21

componente proteico das lipoprotenas chamado apolipoprotena (apo), as

quais possuem diversas funes no metabolismo das lipoprotenas, como a

formao intracelular de partculas lipoproteicas (apo B100 e apo B48),

cofatores enzimticos (apo CII, CIII e apo AI) e ligantes a receptores de

membrana, como o caso das apo B100 e apoE. (NOVAK; BYDLOWSKI,

1996; JAWIN; NASTALEK; KORBUT, 2004).

A dislipidemia (isto , LDL-colesterol elevado e HDL-colesterol diminudo) um

evento que marca o incio da formao da placa aterosclertica (processo de

aterognese), pois, os altos nveis de colesterol (hipercolesterolemia)

aumentam a possibilidade de passagem das LDL para o espao subendotelial.

Dessa forma, aps o dano endotelial e o aprisionamento do LDL, este sofre

oxidao e torna-se imunognico causando, assim, a liberao de fatores

inflamatrios. Comea ento haver aumento da expresso de molculas

glicoproteicas de adeso celular (VCAM-1) e intercelular (ICAM-1), e de

protenas quimioatrativas de moncitos sintetizadas na superfcie endotelial,

que resulta no recrutamento de moncitos que so atrados para o local da

placa. Logo que os moncitos so recrutados pelas molculas de adeso, as

clulas T tambm so estimuladas a entrarem no local da leso e assim,

tambm participam da formao da leso aterosclertica (HANSSON et al.,

2002). Uma vez na camada ntima, os moncitos so transformados em

macrfagos que possuem receptores especiais chamados scavengers que

fagocitam as molculas de LDL oxidado. A estrutura formada por macrfagos

com LDL oxidado chamada de clula espumosa e esta componente das

estrias gordurosas, as quais caracterizam a leso inicial da aterosclerose

(LIBBY; RIDKER; MASERI, 2002; PAOLETTI; GOTTO JR; HAJJAR, 2004; V

DIRETRIZ BRASILEIRA DE DISLIPIDEMIAS E PREVENO DA

ATEROSCLEROSE, 2013).

1.2.1 Aterosclerose Experimental

Diversas espcies animais tm sido utilizadas no estudo da patognese e do

tratamento das leses da aterosclerose. O camundongo representa o grupo de

vertebrados geneticamente modificados mais utilizados em pesquisas

22

cientficas de diversas doenas e, no caso das doenas cardiovasculares,

mesmo sendo eles, geralmente, resistentes aterosclerose, a linhagem

C57BL/6 uma exceo regra e vem sendo trabalhada em vrias frentes de

pesquisas cardiovasculares (JAWIN; NASTALEK; KORBUT, 2004;

CHORILLI; MICHELIN; SALGADO, 2007).

O camundongo membro da classe Mammalia, ordem Rodentia, famlia

Muridae, gnero Mus, espcie Mus musculus. Uma grande vantagem do

modelo murino, alm de ser relativamente de fcil aquisio e manuteno,

que no camundongo possvel silenciar ou substituir genes de interesse. Na

pesquisa sobre a aterosclerose, isso foi realizado concomitantemente por duas

equipes de pesquisa, as quais apresentaram o camundongo knockout para

apolipoprotena E (apoE-KO/apoE-/-) que possui fundo gentico C57BL/6J e foi

desenvolvido para representar um modelo de estudo da aterosclerose

(PIEDRAHITA et al., 1992; PLUMP et al., 1992; NEVES et al., 2013).

A apoE uma glicoprotena de aproximadamente 34 kD sintetizada

primariamente no fgado, mas que tambm pode ser produzida no crebro,

corao, bao, nos rins, ovrios, testculos, pulmes e ainda na pele e em

macrfagos (DRISCOL; GETZ, 1984; ELSHOURBAGY et al., 1985; LIN et al.,

1986; NAKAI et al., 1996; MAHLEY; RALL JUNIOR, 2000). A apoE integrante

da membrana das lipoprotenas e localiza-se preferencialmente nas VLDL, IDL

e HDL, respectivamente, mas pode tambm ser encontrada no plasma. A

apoE est envolvida na redistribuio de triglicerdeos e colesterol em

diferentes tecidos; ela funciona como um ligante de alta afinidade para os

receptores apoB e apoE (receptores de LDL) e receptor de remanescentes de

quilomcrons e tem a funo de retirar do plasma as VLDL e IDL via receptor

de LDL. Logo, deficincias da apoE causam inmeras doenas envolvidas com

o aumento nos nveis de colesterol e triglicerdeos na circulao, devido ao

no-reconhecimento dessas molculas pelos receptores de membrana dos

quilomcrons e pelas molculas de VLDL, responsveis por sua captao no

fgado (OJOPI; BERTONCINI; DIAS NETO, 2004).

O camundongo apoE-/- considerado um dos modelos de aterosclerose mais

relevantes por apresentar colesterol plasmtico com valores superiores a

500mg/dl, a maioria de VLDL, IDL e LDL; assim ele possui nveis

23

colesterolmicos cerca de 5-6 vezes maior que os camundongos controles

C57BL/6J e desenvolve hipercolesterolemia e leses arteriais de forma

espontnea, sem necessidade de dieta rica em colesterol (PIEDRAHITA et al.,

1992; PLUMP et al., 1992; VASQUEZ et al., 2012).

1.3 Espcies Reativas de Oxignio

Em situaes fisiolgicas, a utilizao de oxignio (O2) molecular para a

gerao de energia via cadeia respiratria mitocondrial produz, ao final do

processo, adenosina trifosfato (ATP) e espcies qumicas altamente reativas

conhecidas como Espcies Reativas de Oxignio (EROs), as quais atuam

como agentes oxidantes no meio celular (TURRENS, 2003; SAMPAIO;

MORAES, 2010). So exemplos de EROs: nion superxido (O2-), radical

hidroxila (OH), perxido de hidrognio (H2O2), alm das espcies reativas de

nitrognio (xido ntrico (NO) e peroxinitrito (ONOO-)) as quais tambm so

consideradas como EROs por muitos pesquisadores e ainda o cido

hipocloroso e o oxignio singlete (HALLIWELL, 2006; MURPHY et al., 2011).

As EROs podem ser formadas por causas endgenas, a partir do metabolismo

normal da mitocndria e tambm por enzimas como, por exemplo, NADPH

oxidase, Xantina oxidase, Lipoxigenase, Cicloxigenase, Citocromo P450

(COOPER et al., 2002) e ainda podem ser produzidas durante processos

patolgicos como, por exemplo, o que ocorre na resposta inflamatria (BERRA;

MENCK, 2006).

Alm das causas endgenas as EROs podem ser formadas a partir do

estmulo de fatores externos como poluentes, agentes qumicos, radiaes

ultravioleta, herbicida, metais pesados (BERRA; MENCK, 2006; XU et al.,

2011).

Vrios estudos realizados nos ltimos anos tm demonstrado que as EROs

participam ativamente em diversos processos biolgicos, incluindo o

crescimento normal da clula, a diferenciao celular, apoptose e senescncia

celular (FINKEL, 2003). Segundo Ribeiro e outros (2005), as EROs podem ser

consideradas molculas com funes de mensageiros secundrios, atuando

24

em vias de regulao de expresso de genes sensveis aos sinais redox e de

alteraes da homeostase celular, atravs da sntese de molculas

fisiologicamente ativas.

Normalmente a produo de EROs contrabalanceada por vias enzimticas

como, por exemplo: superxido dismutase (SOD), glutationa peroxidase (GPx),

catalase (CAT) e por vias no enzimticas como as vitaminas A, C e E

(RAHMAN, 2007; NAKA et al., 2008). Entretanto, quando o organismo excede

a capacidade protetora antioxidante, ocorre o estresse oxidativo (STOCKER;

KEANEY, 2004). Com o estresse oxidativo, as EROs podem interagir com

vrios componentes celulares como cidos nucleicos, protenas e lipdeos e

causar danos moleculares e, conforme assinalado na Figura 2, esses efeitos

variam de acordo com a quantidade de EROS produzida, com a permanncia,

a fonte e localizao do estresse e o tipo de espcie formada (SCANDALIOS,

2005; URAO; USHIO-FUKAI, 2013). A primeira ERO produzida em quase todos

os casos relacionados com o estresse oxidativo o nion superxido (O2-)

(GALARIS et al., 2008).

Figura 2 Viso geral das principais fontes endgenas de EROs.

Legenda: SOD: Superxido Dismutase, GPx: Glutationa peroxidase, Trx-Prx: Thioredoxina-peroxiredoxina. Fonte: URAO e USHIO-FUKAI (2013). Adaptado.

25

Segundo Madamanchi e outros (2005), h evidncias de que clulas

endoteliais, clulas musculares lisas e macrfagos so fontes de EROs que

modificam fosfolipdeos e oxidam as LDL, alm de estarem envolvidas na

sinalizao vascular durante a formao da leso aterosclertica, na disfuno

endotelial, na proliferao celular e na apoptose. Alm disso, o estresse

oxidativo tem sido apontado como um importante fator para a iniciao e

progresso de muitas doenas vasculares incluindo hipertenso, aterosclerose

e acidentes vasculares (CAI; HARRISON, 2000; BRITO, 2007).

1.4 Importncia da Medula ssea

A medula ssea um rgo difuso, porm volumoso e muito ativo, encontrada

no canal medular dos ossos longos e nas cavidades dos ossos esponjosos. A

medula ssea pode ser do tipo vermelha, assim denominada devido

numerosa presena de eritrcitos em diversos estgios de maturao e do tipo

amarela, rica em clulas adiposas e que no produz clulas sanguneas.

Apesar de no recm-nascido toda a medula ssea ser vermelha, no adulto ela

transformada em medula ssea amarela, ficando a medula ssea vermelha

restrita ao osso esterno, s vrtebras, costelas, dploe dos ossos do crnio e

epfises do fmur e do mero (JUNQUEIRA; CARNEIRO, 2008; KRAUSE,

2008).

Desde a vida pr-natal, medida que a ossificao do esqueleto avana, a

medula ssea se torna cada vez mais importante como rgo hematopoitico,

ou seja, aquele que atua na produo das clulas do sangue, processo

denominado hematopoese (ou hemocitopoese). Na vida ps-natal, eritrcitos,

granulcitos, linfcitos, moncitos e plaquetas se originam a partir de clulas-

tronco da medula ssea vermelha; os linfcitos B se diferenciam na medula,

enquanto os linfcitos T provm de clulas que migram da medula para o timo

e ali se diferenciam (ROSS; ROMRELL, 1993; TRAVLOS, 2006).

A medula ssea vermelha constituda por clulas reticulares associadas

colgeno, vasos sanguneos, capilares sinusides (unidades especializadas de

vasos sanguneos) e por uma rede esponjosa de clulas hematopoiticas

26

(Figura 3); e a medula ativa contm principalmente clulas sanguneas em

desenvolvimento e megacaricitos, alm de macrfagos, mastcitos,

plasmcitos e alguns adipcitos. Diante de toda sua dinmica e complexidade,

a hematopoese depende do microambiente adequado e de fatores de

crescimento como, por exemplo, interleucinas e citocinas que regulam a

proliferao, diferenciao e a apoptose das clulas imaturas bem como a

atividade funcional das clulas maduras. Todas as clulas do corpo so

derivadas primariamente da medula ssea e tanto a medula como o timo so

chamados rgos linfoides primrios (TRAVLOS, 2006; JUNQUEIRA;

CARNEIRO, 2008).

Figura 3 Estrutura da medula ssea e microambiente hematopoitico.

Fonte: Travlos (2006). Modifidada.

Dessa forma, no microambiente medular possvel encontrar clulas-tronco

pluripotentes indiferenciadas, clulas-tronco progenitoras multipotentes, clulas

progenitoras comprometidas com uma nica linhagem celular, clulas

precursoras (geralmente constituem os diversos blastos representando a etapa

inicial de maturao das clulas) e tambm as clulas sanguneas em

diferentes momentos de maturao. As clulas-tronco progenitoras podem ser

do tipo mesenquimal (estromais) ou hematopoiticas (CTH). As clulas

progenitoras mesenquimais podem se diferenciar em adipcitos, osteoblastos,

condrcitos, mioblastos e em algumas clulas do tecido conjuntivo. As clulas

hematopoiticas geram a linhagem linfoide (linfcitos T e B) pelo processo de

linfocitopoese e a linhagem mielide (demais clulas sanguneas) pelos

27

processos de eritrocitopoese, leucocitopoese, plaquetocitopoese. Sendo que

moncitos, linfcitos e granulcitos so consideradas as trs principais

categorias de clulas brancas do sangue (ALBERTS et al., 2010; DOTSENKO,

2010).

As clulas-tronco indiferenciadas so capazes de auto-renovao e de se

diferenciar, sob certos estmulos, em pelo menos um tipo de clula madura

(especializada). Apesar de muitos rgos adultos como fgado, crebro, tecido

gorduroso, pele e intestino delgado manterem um reservatrio de clulas-

tronco indiferenciadas, a medula ssea considerada a principal fonte de

clulas-tronco adultas. Essas clulas-tronco adultas realizam uma diviso

assimtrica originando uma clula comprometida com a diferenciao e outra

que mantm as caractersticas primitivas da clula original, repondo o nmero

de clulas indiferenciadas; geralmente o ambiente medular determinante no

destino da clula produzida na diviso assimtrica (Figura 4). As clulas-tronco

adultas tornam possvel a regenerao de danos e a reposio de clulas

senescentes ao longo da vida (KAJI; LEIDEN, 2001; ARAUJO et al., 2009;

ALBERTS et al., 2010).

Figura 4 Vias de diviso celular das clulas-tronco adultas.

Nota: Representao esquemtica das possveis variveis de diviso celular assimtrica das clulas-tronco adultas Fonte: Alberts e outros (p. 1420, 2010). Adaptado.

28

Face ao exposto, a medula ssea vem sendo fortemente estudada sob seu

aspecto imprescindvel manuteno da vida dos organismos, tanto pela

formao das clulas sanguneas pelo processo de hamatopoiese como pela

auto-renovao e manuteno das clulas-tronco indiferenciadas inclusive nos

indivduos adultos, fornecendo possibilidades de transplantes e tratamentos de

diversas doenas. Suas caractersticas, sua funcionalidade e capacidade

plstica so investigadas em situaes fiolgicas e inmeras fisiopatolgicas

como, por exemplo, Cncer, Diabetes, Nefropatias, Cardiopatologias, Doenas

que atingem o sistema nervoso central etc (KAJI; LEIDEN, 2001; WEIMANN et

al., 2003; GUARITA-SOUZA et al., 2005; SAMBUCETI et al., 2009; PORTO et

al., 2011; LIMA et al., 2012; YANG et al., 2015; XIAO WANG et al., 2015).

De acordo com LIU, CAO e FINKEL (2011) o fato de as clulas-tronco adultas

serem fonte de inmeros tipos diferentes de clulas maduras e tambm de

persistirem por longos perodos de tempo sugere que essas clulas

multipotentes podem demandar de um mecanismo de proteo especfico

contra os efeitos das EROS a longo prazo e do dano oxidativo, sendo que,

uma adaptao a esse favor pode ser o metabolismo intrinseco das clulas-

tronco.

Segundo Wessely (2010) desbalanos na regulao da proliferao celular e

no equilbrio com a morte celular programada (isto , apoptose) desempenham

importante papel no contexto das doenas cardiovasculares; e para Soehnlein

e Swirski (2013) as vias envolvidas no metabolismo do colesterol controlam a

proliferao de clulas hematopoiticas e progenitoras.

J Tonini e outros (2013) relataram que clulas mononucleares de medula

ssea de camundongos hipercolesterolmicos apresentam aumento na

produo de espcies reativas de oxignio, danos ao DNA e apoptose.

1.5 Sildenafil

O Citrato de Sildenafil foi sintetizado por um grupo de qumicos farmacuticos

investigadores da Pfizer e, inicialmente, estudado na hipertenso e na angina

de peito, porm, os estudos clnicos iniciais demonstraram que o frmaco

apresentava pouco efeito na angina de peito e induzia ereo do pnis. Logo

29

que foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) em 1998, o

Sildenafil (Viagra Pfizer, Nova York, EUA) passou a ser utilizado para o

tratamento da disfuno ertil (FINK et al., 2002; AVERSA et al., 2007;

SCHWARZ et al., 2007; AU et al., 2013)

A excitao sexual estimula vias neurais que resultam na liberao de xido

ntrico (NO) de nervos e de clulas endoteliais diretamente no pnis. O NO

penetra no citoplasma das clulas do msculo liso e se liga guanilil ciclase

solvel (GCs), essa interao estimula a GCs a produzir monofosfato de

guanosina cclico (GMPc) a partir de guanosina trifosfato (GTP). O GMPc,

segundo mensageiro responsvel por regular diversas respostas fisiolgicas,

ativa a protena kinase dependente de GMPc (PKG) que, por sua vez, ir atuar

na fosforilao de diversas protenas, resultando em uma diminuio dos nveis

intracelulares de clcio e, consequentemente, em relaxamento do msculo liso,

dilatao arterial e constrio venosa, rigidez e ereo peniana (ZUSMAN et

al., 1999; CORBIN, 2004).

O equilbrio da via NO/GMPc/relaxamento se d por meio da degradao do

GMPc, a qual feita por enzimas da famlia das fosfodiesterases (PDEs), que

compreendem uma gama de enzimas as quais inibem a atividade dos

segundos mensageiros nas clulas por hidrolisarem a ligao fosfodister do

GMPc e, dessa forma, modularem os nveis intracelulares de GMPc (RAJA;

NAYAK, 2004; SARAIVA, 2010).

A fosfodiesterase tipo 5 (PDE5) a principal responsvel pela hidrlise de

GMPc em diversos tipos de tecidos ou clulas e est presente em grande

concentrao no corao, crebro, pulmo, rins, msculo liso vascular

sistmico, corpo cavernoso do pnis, nas plaquetas e no msculo liso visceral

e pode ser considerada como um dos principais reguladores da resposta

muscular ativao da cascata NO/GMPc (SODERLING; BAYUGA; BEAVO,

1998; ESSAYAN, 1999; GLOSSMANN; PETRISCHOR; BARTSCH, 1999;

WALLIS et al., 1999; GIORDANO et al., 2001). Em 2007 Foresta e outros

demonstraram, por meio da reao em cadeia da polimerase (rtPCR) e

posterior sequenciamento, que o RNAm para PDE5 tambm expresso na

medula ssea humana.

30

Nesse cenrio, o Sildenafil aumenta a biodisponibilidade do GMPc e estimula a

via do xido ntrico (NO/GMPc) por meio da inibio da PDE5, promovendo

efeitos de vasodilatao e relaxamento (TERRETT et al., 1996).

Alm da Disfuno Ertil, o uso do Sildenafil vem sendo aplicado de forma

importante no tratamento da Hipertenso Arterial Pulmonar, Fenmeno de

Raynauds e tambm em diversas pesquisas sobre doenas cardiovasculares

(GUIMARES et al., 1999; ZHAO et al., 2001; KUKREJA et al., 2011; DONATO

et al., 2013).

O sildenafil tambm atua como vasodilatador, produzindo um balano

hemodinmico entre a diminuio da resistncia arterial e o aumento da

complacncia venosa (JACKSON et al., 1999). Segundo Chau e outros (2011)

o Sildenafil atenua a progresso da insuficincia cardaca quando administrado

trs dias aps o infarto do miocrdio.

Nos processos inflamatrios o Sildenafil desempenha funo anti-inflamatria

por meio da preveno e/ou diminuio de peroxidao lipdica, da formao

de oxidantes e da produo de citocinas e acmulo de neutrfilos (ISERI et al.,

2009; KARAKOYUN et al., 2011).

Diversos estudos apontam o Sildenafil como um fator antioxidante,

relacionando-o com a diminuio do estresse oxidativo (DUSSAULT et al.,

2009; GOKAKIN et al., 2013).

Em um experimento com camundongo hipercolesterolmico (modelo apoE-/-)

tratados com Sildenafil na dose de 40 mg/kg corporal/dia na gua de beber,

Dussault e outros (2009) anunciaram o aumento significativo do nmero de

clulas progenitoras endoteliais (EPCs) e tambm uma modulao positiva das

atividades funcionais dessas clulas como, por exemplo, o aumento da

capacidade de migrao. Nesse mesmo trabalho o autor tambm demonstrou

que o Sildenafil foi capaz de melhorar a neovascularizao induzida por

isquemia.

Recentemente, Balarini e outros (2013) demonstraram que o tratamento

crnico com Sildenafil no modelo experimental de aterosclerose, o

camundongo apoE-/- apresentou benefcios com relao biodisponibilidade

de xido ntrico e funo endotelial, proporcionando reduo da deposio

de placa aterosclertica por meio da diminuio do estresse oxidativo.

31

Alm disso, o tratamento por trs semanas com Sildenafil no modelo murino de

aterosclerose (apoE-/-) tambm foi eficaz na reduo de marcadores

genotxicos, evidenciado pela menor fragmentao de DNA em clulas

mononucleares do sangue e clulas do fgado dos animais tratados com

Sildenafil (RODRIGUES et al., 2013).

O tratamento crnico com Sildenafil em modelo apoE-/- tambm teve efeito

protetor contra a vasoconstrio via mecanismos de sinalizao da cascata

NO/GMPc, o que foi acompanhado pela reduo do estresse oxidativo e da

deposio lipdica (LEAL et al., 2015).

Sendo assim, o Sildenafil tem se mostrado uma escolha teraputica

promissora no tratamento de doenas cardiovasculares acompanhadas do

aumento de colesterol circulante.

Hiptese

33

2 HIPTESE e JUSTIFICATIVA

Dada a importncia das clulas-tronco na renovao e manuteno das

populaes de clulas de todo o corpo, inclusive daquelas que participam do

processo inflamatrio envolvido na aterosclerose e, levando em considerao

os avanos e as descobertas sobre a atuao do Sildenafil nas doenas

cardiovasculares e observando que a fosfodiesterase 5 tambm expressa

em clulas de medula ssea, a hiptese desse trabalho foi de que o Sildenafil

poderia amenizar ou at mesmo prevenir alguns dos efeitos da

hipercolesterolemia/aterosclerose refletidos nas clulas de medula ssea de

camundongos apoE knockout.

Objetivos

35

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo Geral

Avaliar os efeitos do tratamento crnico com sildenafil sobre as clulas de

medula ssea de camundongos apoE-/- machos.

3.2 Objetivos Especficos

Nas clulas de medula ssea de camundongos apoE-/- machos de 3 meses e

seus respectivos controles:

a. Avaliar a Viabilidade Celular

b. Verificar os nveis citoplasmticos de espcies reativas de oxignio

c. Avaliar as fases do ciclo celular e possvel fragmentao do DNA

d. Verificar se h dano no material gentico

Materiais e Mtodos

37

4 MATERIAIS E MTODOS

4.1 Animais Experimentais

Foram utilizados camundongos (Mus musculus) machos, com 03 meses de

idade, provenientes do biotrio do Laboratrio de Fisiologia Translacional

(LFT), pertencente ao Programa de Ps-Graduao em Cincias Fisiolgicas

do Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal do Esprito Santo

(UFES). Os animais foram mantidos em gaiolas com at 5 animais em cada

gaiola, onde receberam gua e rao ad libitum e tiveram ciclo de 12 horas

claro/escuro controlado, bem como temperatura (222C) e umidade (70%) do

ambiente. A utilizao dos animais foi realizada de acordo com normas

estabelecidas pelo conselho nacional de controle de experimentao animal

CONCEA e pela Lei brasileira que regulamenta procedimentos para o uso

cientfico de animais (Lei Arouca) N 11.794 e aprovado pela Comisso de

tica em Pesquisa com Animais da UFES/CEUA-UFES (Protocolo 008/15).

Os animais foram aleatoriamente divididos em trs grupos: controle (C57BL/6;

n=8), veculo (ApoE-/- V; n=8) e tratado (ApoE-/- S; n=8).

Para o grupo que recebeu tratamento com Sildenafil (Viagra - Pfizer, SP,

Brasil) foi feita gavagem do medicamento, na dose de 40 mg/Kg/dia, durante 3

semanas, a partir da 9 semana de vida. Essa dose foi escolhida com base em

estudos prvios em animais e humanos, levando em considerao que a

biodisponibilidade do Sildenafil reduzida e sua eliminao mais rpida em

camundongos, comparado ao homem (WALKER et al., 1999).

Ao grupo controle (C57) e ao grupo veculo (apoE-/- V) foi feita gavagem com

gua destilada pelo mesmo perodo de 3 semanas, iniciando-se na 9 semana

de vida.

A linha do tempo abaixo esquematiza o perodo em que foram realizadas as

gavagens e coletas de sangue caudal nos trs grupos:

38

4.2 Coleta e Isolamento das clulas de medula ssea

Para o isolamento das clulas de medula ssea os animais foram anestesiados

com injeo intraperitoneal de tiopental sdico (0,15M) e submetidos

toracotomia para exposio do corao e demais rgos. Primeiramente foi

coletado cerca de 1mL de sangue do ventrculo direito (VD) para a dosagem de

colesterol plasmtico. Posteriormente foi feita inciso na regio acima do

acetbulo do membro inferior, permitindo a remoo de fmures e tbias que

imediatamente foram postos em meio de cultura DMEN (Dulbeccos Modified

Eagle Medium; GIBCO) onde foi feita a retirada do msculo e limpeza dos

ossos. Foi feito um corte rente s extremidades epifisrias do fmur e da tbia a

fim de expor o canal medular e, assim, foi possvel realizar o flush utilizando-se

uma agulha de 26 gauge e seringa com meio de cultura DMEM (GIBCO). Por

meio do flush obteve-se uma suspenso de medula ssea a qual foi

homogeneizada e centrifugada a 1200 rotaes por minuto (rpm) por 10

minutos (Eppendorf: Centrifuge 5702). O sobrenadante foi desprezado, as

clulas ressuspendidas em 2 mL de soluo de lise de hemcias 1x (BD Pharm

Lyse, Lysing Buffer, # 555899) e as amostras foram misturadas e deixadas 5

minutos a 37C; aps esse tempo, reao foram adicionados 4 mL PBS 1x e

centrifugado por 5 minutos a 1200 rpm. Aps essa centrifugao, o

sobrenadante foi aspirado cuidadosamente com a pipeta e descartado. Ao

pellet foi adicionado 2 mL de PBS 1x, homogeneizado e novamente

centrifugado a 1200 rpm por 5 minutos. Esse ltimo procedimento foi repetido e

uma alquota foi separada para a contagem de clulas na cmara de

Neubauer. As amostras de clulas de medula ssea eram mantidas na

geladeira (aproximadamente 4C) por, no mximo, duas horas at o momento

da realizao dos ensaios de citometria.

39

4.3 Quantificao e Estimativa de Viabilidade Celular

Para estimar o nmero obtido de clulas no isolamento da medula ssea, foi

estabelecida uma diluio de 40 vezes da amostra de clulas, de modo que

foram pipetados 10 l da suspenso de clulas isoladas e adicionados 90 l

de PBS 1x (GIBCO). Em seguida, uma alquota de 10 l desta soluo foi

pipetada e adicionada em outro microtubo contendo 10 l de soluo de Turck

(cido actico 2% com azul de metileno). A soluo de Turck realiza a lise das

hemcias e plaquetas contidas na amostra. Uma alquota de 10 l da soluo

Clulas/Turck foi novamente pipetada e adicionada em 10 l soluo de azul

de Trypan 0,4%. A soluo (clulas/Turck/Trypan) foi homogeneizada,

colocada na cmara de Neubauer e quantificada com auxlio do microscpio

ptico no aumento de 40X. As clulas foram contadas nos quatro quadrantes

externos da cmara seguindo sempre a mesma direo para que a mesma

clula no fosse contada duas vezes. O nmero de clulas da amostra foi

obtido pela equao: Q = 40 x 104 x 1 mL x (N clulas / 4).

Na qual:

Q significa a Quantidade de clulas

40 corresponde ao fator de diluio

104 indica o fator de correo da Cmara de Neubauer

1 mL o volume amostra.

N clulas o nmero total de clulas contadas na Cmara

O objetivo deste clculo verificar se as amostras de clulas de medula ssea

apresentavam pelo menos 106 clulas na suspenso, para que pudessem ser

utilizadas nos ensaios de citometria de fluxo. Os valores obtidos para as clulas

de medula ssea ficavam na faixa de 107 clulas/mL.

A estimativa da viabilidade das clulas de medula ssea foi realizada

simultaneamente pelo o mtodo de excluso do corante azul de Trypan durante

40

a contagem em cmara de Neubauer. O corante azul de Trypan auxilia na

estimativa de viabilidade celular da amostra a ser trabalhada, pois, por este

mtodo, as clulas mortas coram em azul, uma vez que sua membrana

permevel ao corante, j a membrana das clulas vivas no permevel e,

portanto, estas no coram. Desta forma, ao visualizar as clulas ao

microscpio observou-se que as clulas mortas apresentaram-se com uma

colorao azul escuro e as clulas vivas ficaram translcidas. Para calcular a

viabilidade celular, a mdia de clulas vivas foi dividida pela mdia total de

clulas (vivas e mortas) contadas na cmara de Neubauer e o valor obtido

multiplicado por 100, fornecendo um valor em porcentagem. As amostras eram

consideradas viveis quando o valor em porcentagem da viabilidade obtida na

contagem era superior a 90% e assim seguiam para os protocolos de

citometria.

4.4 Ensaios realizados por citometria de fluxo

A fim de determinar as espcies reativas de oxignio e analisar o Ciclo Celular

das clulas de Medula ssea, foi utilizado o citmetro de fluxo FACSCanto II

(Becton Dickson Immnunocytometry Systems, San Jose, CA, USA) acoplado a

um computador onde era possvel visualizar os histogramas e dot plots

diversos gerados na aquisio das amostras.

A anlise das clulas por meio do citmetro de fluxo feita com base em

informaes sobre as caractersticas celulares, como tamanho e

complexidade/granulosidade, as quais so fornecidas em forma de grficos de

Dot plots (grfico de pontos) e histograma. Alm disso, possvel determinar a

intensidade de fluorescncia emitida de acordo com cada sonda utilizada nos

diferentes ensaios como, por exemplo, DHE, DCF-DA, PI as quais emitem um

determinado comprimento de onda que lido e interpretado pelos filtros do

citmetro de fluxo.

Em todas as amostras adquiridas no citmetro, sempre era gerado um grfico

dot plot caracterstico do tipo celular que representa as populaes celulares

41

presentes na amostra e suas posies relativas no grfico (Figura 5) de acordo

com o tamanho (FSC) e a complexidade celular (SSC).

Figura 5 Dot plot tpico de clulas totais de medula ssea.

Para todos os ensaios de citometria de fluxo foram adquiridos 20.000 eventos

em cada amostra e os dados coletados foram analisados por meio dos

softwares BD FACS Diva e FCS Express 4 (De Novo Software, Los Angeles,

CA, USA).

4.4.1 Determinao dos Nveis de Espcies Reativas de Oxignio (EROs)

Os nveis de EROs foram medidos por citometria de fluxo atravs da

fluorescncia emitida por sondas especficas para cada ensaio.

Para a deteco do nion superxido (O2-) foi realizado o ensaio do

dihidroetdeo (DHE) da seguinte forma: as amostras foram lavadas e

ressuspendidas em 1 mL de PBS na concentrao de 1x106 clulas/ml.

Posteriormente foram incubados com soluo de DHE 1,25 mM por 30 minutos

a 37C e no escuro. Para o controle positivo foi utilizado 2 L de perxido de

hidrognio (H2O2) por 5 minutos; j o controle negativo foi constitudo de

amostra apenas com a suspenso celular.

42

A reao que ocorre nesse perodo de incubao a seguinte: o DHE entra

livremente na clula, reage com o nion superxido (O2-) e forma o etdeo;

este se liga ao DNA causando a amplificao da fluorescncia vermelha (518-

605nm). No Citmetro os sinais foram obtidos utilizando filtro de 585nm para

DHE.

Desta forma a oxidao do DHE proporcional quantidade de (O2-) presente

na clula e perceptvel por meio da intensidade de fluorescncia.

Para a determinao do perxido de hidrognio (H2O2) foi realizado o ensaio de

diclorofluorescena (DCF) da seguinte forma: as amostras foram lavadas e

ressuspendidas em 1 mL de PBS na concentrao de 1x106 clulas/ml.

Posteriormente foram incubadas com soluo de 20mM diacetato de

diclorodihidrofluorescena (H2DCFDA) por 30 minutos a 37C e no escuro. Para

o controle positivo foi utilizado 2 L de perxido de hidrognio (H2O2) por 5

minutos; j o controle negativo foi constitudo de amostra apenas com a

suspenso celular.

O H2DCFDA um ster no-fluorescente, internalizado pelas clulas e que se

incorpora s regies hidrofbicas. Dentro da clula o H2DCFDA perde o grupo

diacetato pela ao de esterases intracelulares, resultando na formao de

diclorodihidrofluorescena (DCFH), que pode ser oxidado pelo (H2O2) e formar

diclorofluorescena (DCF), composto altamente fluorescente. Assim, a oxidao

do DCFH-DA proporcional quantidade de (H2O2) presente na clula e

perceptvel por meio da intensidade de fluorescncia emitida. Os sinais foram

obtidos utilizando filtros de 530 nm para DCF.

4.4.2 Anlise do Ciclo Celular das clulas de medula ssea

O ciclo celular foi analisado por meio do ensaio com Iodeto de Propdeo (PI)

que um agente intercalante do DNA e, por essa caracterstica, a quantidade

de DNA intercalado diretamente proporcional fluorescncia emitida pela

sonda, que detectada no citmetro de fluxo pelo filtro de 585nm.

43

Para que o PI pudesse entrar na clula e se intercalar ao DNA, ele foi

preparado em soluo de trabalho contendo RNAse, Triton X-100 e Tris-Cl 3,4

mM (pH 7,6), a qual foi adicionada em 1 mL de amostra em PBS 1X e incubado

por 10 minutos a -20C.

Na aquisio dos dados pela citometria de fluxo aproximadamente 200 clulas

por segundo foram adquiridas para que fosse possvel determinar em qual fase

do ciclo celular cada clula se encontrava. As fases do ciclo celular foram

visveis em histograma de anlise de DNA disponvel no software FACS Diva,

com coordenadas PI versus quantidade de clulas (PI vs Count.); pelo

histograma (Figura 6) possvel identificar a proporo de clulas com DNA

fragmentado (regio Sub-G0), com DNA caracterstico de clula diploide

(regio G0/G1), com DNA em duplicao (regio S) e com DNA j duplicado

(regio G2/M). A porcentagem de clulas em cada fase do ciclo foi calculada

pelo software FCS Express 4.

Figura 6 Histograma tpico representativo do ciclo celular obtido aps marcao com PI.

4.5 Determinao dos Nveis de Colesterol Plasmtico e Triglicerdeos

A anlise de lipdeos plasmticos bem como a de Triglicerdeos foi feita com o

sangue coletado do ventrculo direito imediatamente antes da eutansia, sendo

o animal previamente anestesiado com Tiopental sdico (40mg/kg) ip. O

sangue em eppendorf heparinizado foi centrifugado por 10 minutos a 4000 rpm

44

para a separao do plasma. O colesterol e os triglicerdeos plasmticos foram

medidos com o uso de kits enzimticos comerciais (Bioclin, Brasil) e a

aquisio dos dados foi feita pela leitura das amostras em espectrofotmetro a

500 nm.

4.6 Teste do Microncleo

O teste do microncleo um protocolo padronizado por Von Ledebur e Schmid

em 1973 e vem sendo amplamente utilizado como mtodo de estimativa de

danos mutagnicos e citogenticos.

O microncleo (MN) um ncleo adicional e separado do ncleo principal de

uma clula, formado por cromossomos ou fragmentos de cromossomo que no

so includos no ncleo principal durante a mitose (Von Ledebur; Schmid,

1973). Geralmente os microncleos possuem dimenses de cerca de 1/3 a 1/5

do tamanho do ncleo principal, possuem membrana nuclear e material

cromatnico distribudo de forma similar ao do ncleo; so formados durante o

perodo de diviso celular em consequncia de quebras cromossmicas ou de

cromossomos inteiros que, por no se ligarem s fibras do fuso, no so

includos nos ncleos das clulas filhas (Schmid, 1975).

O ensaio do microncleo detecta alteraes cromossmicas/genmicas e de

dano ao aparato mittico, sendo os microncleos indicativos de perdas

irreversveis de DNA (VALADARES; CASTRO; CUNHA, 2007).

Os eventos que levam formao de MN podem ser induzidos pelo estresse

oxidativo, exposio a agentes clastognicos ou aneugnicos, defeitos

genticos nos checkpoints do ciclo celular e/ou nos genes de reparo do DNA e

tambm pela deficincia de nutrientes requeridos como co-fatores no

metabolismo do DNA e na maquinaria da segregao cromossmica

(BONASSI et al., 2007).

O teste de microncleo em medula ssea de roedores vem sendo amplamente

utilizado como teste citogentico vivo para estimar o potencial clastognico

(que provoca quebra cromossmica) e aneugnico (que induz aneuploidia ou

45

segregao cromossmica anormal) de novos frmacos (HAYASHI; SOFUNI;

ISHIDATE JR, 1984).

Na medula, os eritrcitos policromticos (EPC) so clulas que ainda esto em

estgio imaturo de desenvolvimento e quando sofrem maturao se

transformam em eritrcitos normocromticos (ENC) os quais so lanados na

corrente sangunea. Em um organismo considerado sadio, a proporo de

EPC:ENC de 1:1, significando que a produo desse tipo celular est em

equilbrio. Em situaes de dano celular/citotxico, a proporo de EPC

diminui, refletindo numa diminuio na relao EPC/ENC ou EPC/(EPC+ENC).

Por ainda apresentarem resqucios de material gentico em seu interior, os

EPC costumam corar em um tom azulado/roxo com corantes bsicos como

Leishman/Giensa. Na medula possvel verificar a diferena entre o EPC (em

roxo) e o ENC (mais rosado).

A fim de realizar o teste do microncleo, durante o perodo de

tratamento/veculo foram feitas coletas de sangue da veia caudal em dois

momentos diferentes, sendo um acesso no primeiro dia de tratamento/veculo e

outro no ltimo dia de tratamento, imediatamente antes da eutansia, sob

anestesia com Tiopental sdico intraperitoneal (ip) 40mg/kg.

Para o teste do microncleo de medula ssea, os ossos dos membros

anteriores (meros) tiveram suas extremidades epifisrias cortadas e uma

agulha foi inserida na cavidade medular e feito flush utilizando-se Soro Fetal

Bovino (SFB), a fim de retirar a medula ssea. Em seguida a medula foi

centrifugada por 10 minutos a 1000 rpm, descartado o sobrenadante,

ressuspendida com 0,5 mL de SFB e centrifugado novamente. Aps essa

centrifugao a medula foi distribuda nas lminas histolgicas as quais foram

fixadas com metanol 24 horas depois do procedimento. O corante utilizado foi o

Leishman (Eosina azul de metileno). As lminas foram analisadas em

microscpio de Luz Olympus CX40 com aumento de 100x (por imerso).

Na avaliao da citotoxicidade foi considerada a razo EPC/(EPC+ENC) sendo

que, durante a contagem das duzentas primeiras clulas observadas na

lmina, foi anotado quantas dessas clulas eram ENC e quantas eram EPC.

46

Para avaliar a genotoxicidade/mutagenicidade nos grupos de estudo, foram

contados 2000 EPC por animal, sendo 1000 EPC por lmina e registrado

quantos destes EPC apresentaram microncleo em seu interior.

No sangue o tipo celular que h em abundncia so os ENC, pois, os EPC da

medula ssea duram apenas algumas horas aps a diviso celular e,

geralmente, no chegam ao sangue. Desta forma, a anlise de microncleo no

sangue feita pela contagem de ENC e de microncleos.

A fim de realizar o teste do microncleo no sangue realizou-se coleta de uma

gota de sangue da veia caudal no primeiro dia e ao final do perodo de

tratamento/veculo. Por meio da tcnica do esfregao, o sangue foi espalhado

em lmina de histologia, fixado em metanol 24 horas aps o esfregao e

corado com o corante Leishman no momento da anlise. A leitura das lminas

foi realizada em microscpio de luz Olympus CX40 com aumento de 100x (por

imerso).

Foram contados 2000 ENC por animal, sendo 1000 ENC por lmina e

registrado quantos destes ENC apresentaram microncleo em seu interior.

4.7 Anlise Estatstica

Para anlise estatstica dos ensaios de citometria de fluxo os dados da

Mediana de Intensidade de Fluorescncia (MIF) obtidos no software FCS

Express 4 foram submetidos Anlise de Varincia (ANOVA) de uma via,

seguida do post hoc de Fisher.

Na anlise do perfil lipdico foi realizada ANOVA de uma via seguida do post

hoc de Tukey.

As anlises estatsticas relacionadas ao teste do microncleo foram feitas por

meio da ANOVA de uma via, seguida do post-hoc de Tukey a fim de verificar as

diferenas entre os grupos. Quando o objetivo era comparar o mesmo grupo

em dois momentos de tratamento (T0 e TF) realizou-se o teste t de Student

para amostras independentes.

47

Em todos os casos, os resultados foram considerados estatisticamente

significativos quando o p-valor foi inferior a 5%, ou seja, *p < 0,05. Os dados

esto expressos como a mdia dos valores mais ou menos o erro padro da

mdia (mdia EPM).

Resultados

49

5 RESULTADOS

5.1 Colesterol Plasmtico e Triglicerdeos

A anlise dos nveis de colesterol plasmtico e Triglicerdeos fornece

informaes acerca do modelo de aterosclerose utilizado nesse estudo, e

conforme a literatura, esperado que os camundongos dos grupos apoE-/-

apresentem nveis colesterolmicos mais elevados do que os animais do grupo

controle (C57 BL/6J). Os valores obtidos por meio da dosagem de colesterol

plasmtico e de triglicerdeos esto sumarizados na Tabela 1 e dispostos nos

Grficos 3 e 4 abaixo:

Tabela 1 Dados do Colesterol Total e Triglicerdeos plasmticos indicados pela mdia EPM.

Grficos 3 e 4 Nveis de Colesterol Total e Triglicerdeos plasmticos.

Dados expressos como mdia EPM. *p

50

5.2 Quantificao e Viabilidade Celular

O mtodo de contagem celular pela cmara de Neubauer oferece uma boa

estimativa sobre a quantidade e viabilidade das clulas em suspenso na

amostra a ser utilizada nos ensaios de citometria de fluxo. A anlise da

viabilidade celular foi feita pelo mtodo de excluso do corante azul de Trypan.

Todas as clulas foram contadas e foi registrado o nmero de clulas mortas

observado na amostra, desta forma, foi possvel calcular o percentual de

clulas vivas e a viabilidade da amostra. Todas as amostras de clulas isoladas

da medula ssea nos trs grupos de estudo (C57, apoE-/- V e apoE-/- S)

apresentaram viabilidade superior a 95%.

Conforme os dados demonstrados no Grfico 5 a contagem de clulas vivas

indicou uma diferena significativa na quantidade de clulas observadas entre

os grupos, sendo que o grupo apoE-/- veculo apresentou menor quantidade de

clulas contadas: C57 156,85,0 versus apoE-/- V 110,84,7* versus apoE-/- S

173,03,0# (ANOVA uma via, post hoc Tukey).

Grfico 5 Nmero de clulas contadas na Cmara de Neubauer.

Dados expressos como mdia EPM. *p

51

5.3 Dados obtidos por citometria de fluxo

5.3.1 Perfil das populaes de clulas de medula ssea

Todas as amostras de clulas de medula ssea com viabilidade superior a 95%

foram utilizadas nos ensaios de citometria de fluxo, no mximo duas horas

aps o isolamento.

Em cada ensaio foi gerado um grfico dot plot tpico contendo informaes

acerca das caractersticas celulares das populaes presentes na amostra.

Cada populao apresenta tamanho e complexidade caractersticos do seu tipo

celular e, por isso, possvel identificar os diferentes tipos celulares presentes

na amostra de clulas de medula ssea obtida aps isolamento e lise de

hemcias.

O Grfico 6 indica as populaes das sries linfoctica (L), monoctica (M) e

granuloctica (G) observadas nas amostras de clulas de medula ssea

dispostas de acordo com seus tamanhos relativos (FSC) e suas complexidades

(SSC).

Grfico 6 - Dot plot representando as populaes de clulas de medula ssea.

Nota: FSC (forwards cattered light) corresponde luz desviada frontalmente ao passar atravs da clula e SSC (side scattered light) luz desviada lateralmente. Marcaes representam L: linfcitos, M: moncitos, G: granulcitos.

52

5.3.2 Nveis de EROs

Os nveis de EROs das amostras de clulas de medula ssea foram obtidos

por citometria de fluxo pela marcao com DHE e com DCF-DA para avaliar a

presena de nion superxido (O2-) e de perxido de hidrognio (H2O2),

respectivamente.

A quantidade de nion superxido nas clulas proporcional fluorescncia

emitida pelo dihidroetdeo (DHE) e quanto mais fluorescncia emitida mais o

histograma gerado na aquisio dos dados deslocado para a direita (Figura

7).

Figura 7 - Histograma tpico de intensidade de fluorescncia emitida por DHE (eixo X, interpretado pelo filtro PE-A) pela quantidade de clulas marcadas (eixo Y, Count).

Nota: Histogramas dos grupos representados por cores diferentes, sendo controle (em preto), tratado (em azul) e veculo (em vermelho). Escala logartmica.

Como demonstrado no Grfico 7, onde os valores indicam a Mediana de

Intensidade de Fluorescncia (MIF) emitida pelo DHE, possvel perceber os

nveis elevados de O2- no grupo veculo em comparao aos grupos controle e

tratado (apoE-/- V: 2217,6361,0* versus C57: 1128,228,0 versus apoE-/- S:

1125,7190,8#).

53

Grfico 7 Nveis de O2- em clulas de medula ssea.

Valores indicam MIFEPM. *p

54

interpretado pelo filtro FITC-A) pela quantidade de clulas marcadas (eixo Y, Count). Escala logartmica.

Os nveis de H2O2 detectados na citometria pela fluorescncia do DCF tambm

se apresentaram aumentados no grupo apoE-/- V, com valores de

2847,0191,0* versus C57: 2181,0107,7 versus apoE-/- S: 2107,080,60#

(Grfico 8).

Grfico 8 Nveis de H2O2 em clulas de medula ssea.

Valores indicam MIFEPM. *p

55

5.3.3 Anlise das fases do ciclo celular

O ciclo celular corresponde ao conjunto de eventos que ocorrem com qualquer

clula viva que possui ncleo e confere informaes importantes com respeito

normalidade funcional-fisiolgica e a propriedades celulares.

A anlise do ciclo celular em nossa pesquisa visou identificar a proporo de

clulas com DNA fragmentado nas amostras de clulas isoladas de medula

ssea e tambm estimar o percentual de clulas nos diferentes momentos do

ciclo celular.

As fases do ciclo celular (Sub-G0,G0/G1, S e G2/M) das clulas de medula ssea

foram analisadas por citometria de fluxo pelo mtodo de marcao com iodeto

de propdeo (PI) o qual se intercala no DNA e nos permite identificar em que

fase do ciclo cada clula nica se encontra. Por esse motivo a aquisio das

amostras no citmetro foi feita no modo Low, no qual um valor mximo de 200

eventos por segundo eram adquiridos e os histogramas gerados em escala

linear. A avaliao dos histogramas e dos valores percentuais de clulas nas

diferentes fases foram analisados e calculados com o auxlio do software FCS

Express 4.

Como representado pelos histogramas da Figura 9, o perfil geral do ciclo

celular o mesmo nos diferentes grupos, sendo possvel identificar as

diferentes fases do ciclo celular em sua sequncia esperada (Sub-G0 seguida

da fase G0/G1, seguida da fase S, que antecipa a G2/M). Alm disso, a

porcentagem de clulas que se encontra em cada fase do ciclo fica acessvel.

56

Figura 9 Histogramas tpicos do ciclo celular obtidos pela marcao com PI em clulas de medula ssea nos diferentes grupos de estudo.

Nota: Histogramas dos grupos representados por cores diferentes, sendo controle (em preto no preenchido), veculo (vermelho) e tratado (azul). Eixo X: intensidade de fluorescncia emitida por PI (interpretado pelo filtro PE-A); eixo Y, nmero de clulas marcadas (Count). Escala linear.

Ao analisar as fases do ciclo celular separadamente, nota-se que existem

diferenas importantes entre os grupos. Com relao fase Sub-G0 a qual

57

indica DNA fragmentado, os valores obtidos pela marcao com PI apontaram

para uma maior fragmentao de DNA nos animais do grupo veculo com

relao ao controle e ao tratado (apoE-/- V: 2,140,12* versus C57: 1,590,10

versus apoE-/- S 1,310,11#) (Grfico 9).

Grfico 9 Quantidade de clulas na fase Sub-G0.

Valores expressos como mdia EPM. *p

58

Grfico 10 Quantidade de clulas na fase G0/G1.

Valores expressos como mdia EPM. *p

59

Grficos 11 e 12 Percentual de Clulas na fase S e na fase G2/M do ciclo

celular.

Valores expressos como mdia EPM. *p

60

Figura 10 Microscopia ptica em maior aumento de EPC, ENC e EPC MN. Clulas acompanhadas da letra a so EPC; clulas acompanhadas da letra b so ENC; as setas indicam os EPC MN.

Na Medula ssea, concomitantemente anlise de mutagenicidade, foi feita a

estimativa de citotoxicidade adquirida pelo clculo da frequncia de EPC e

ENC nas primeiras 200 clulas observadas na lmina. Os resultados obtidos

nas leituras das lminas esto sumarizados na Tabela 2 e demonstrados nos

Grficos 13 e 14 abaixo:

61

Tabela 2 - Frequncia de EPC MN em 1000 EPC e Relao de EPC/(EPC+ENC). Contadas 2000 clulas por animal (1000 cls/lmina). Dados expressos como Mdia EPM.

Grfico 13 - Frequncia de EPC MN observada em 1000 EPC contados.

Dados expressos como Mdia EPM. *p

62

Grfico 14 Relao de EPC/(EPC+ENC) obtida pela contagem das 200 primeiras clulas observadas na lmina.

Dados expressos como Mdia EPM. *p

63

Figura 11 Microscopia ptica em maior aumento de ENC obtidos por esfregao de sangue perifrico. As setas indicam os ENC MN presentes nas amostras.

Os dados obtidos na anlise do sangue esto sumarizados na Tabela 3 e

representados pelos Grficos 15 e 16 abaixo:

64

Tabela 3 - Frequncia (Mdia EPM) do nmero de ENC MN em 1000 ENC de camundongos C57, apoE-/- V e apoE-/- S nos momentos T0 (1 dia de tratamento/veculo) e TF (ltimo dia de tratamento). Contados 2000 ENC por animal, 1000 por lmina.

Grficos 15 e 16 - Quantidade de ENC MN encontrados em esfregao de sangue perifrico no incio do tratamento/veculo (T0) e aps 21 dias de tratamento (TF).

Dados expressos como Mdia EPM. *p

DISCUSSO

66

6 DISCUSSO 6.1 Colesterol Plasmtico e Triglicerdeos Recentemente dados publicados por nosso grupo de pesquisa demonstraram

que as clulas mononucleares de medula ssea de camundongos apoE-/-

apresentaram danos oxidativos relativos ao aumento de nion superxido e de

perxido de hidrognio em animais jovens e idosos, bem com danos

genotxicos no DNA, evidenciando a influncia da hipercolesterolemia sobre o

estresse oxidativo (TONINI et al., 2013).

No presente trabalho ns testamos a hiptese de que o tratamento com

Sildenafil seria capaz de melhorar alguns danos que a hipercolesterolemia

comprovadamente causa nas clulas de medula ssea de camundongos apoE-

/- knockout.

Em nosso estudo os animais dos grupos experimentais (apoE-/- V e apoE-/- S)

apresentaram nveis de colesterol total e triglicerdeos plasmticos bastante

elevados em comparao ao grupo controle (C57), indicando que os animais

apoE-/- utilizados nesta pesquisa eram de fato hipercolesterolmicos.

Interessantemente, os animais que receberam Sildenafil (grupo apoE-/- S) por

trs semanas no tiveram seus nveis lipdicos e de triglicrides alterados em

comparao ao grupo apoE-/- que recebeu veculo, indicando que o

medicamento provavelmente no age por vias do metabolismo lipdico.

Em nosso grupo de pesquisa tambm j foi demonstrado que animais apoE-/-

tratados com Sildenafil (40 mg/kg/dia) por trs semanas no apresentaram

alteraes lipdicas em comparao ao grupo experimental que recebeu

veculo (BALARINI et al., 2013; LEAL et al., 2015).

Est mais do que demonstrado em animais, estudos epidemiolgicos e

investigaes clnicas que altas concentraes de colesterol circulante

promovem a aterosclerose (HANSSON; HERMANSSON, 2011) e podem

ocasionar danos nos mais diferentes rgos como, por exemplo, na medula

ssea.

67

6.2 Nveis de EROs

Neste estudo, os resultados relativos as EROs demonstraram que tanto o

nion superxido, avaliado pela marcao com DHE, como o perxido de

hidrognio, avaliado pela marcao com DCF-DA estavam aumentados em

animais com hipercolesterolemia (grupo apoE-/- V). Em contrapartida, o grupo

hipercolesterolmico que recebeu Sildenafil por trs semanas apresentou

quantidades similares de O2- e H2O2 ao controle (grupo C57).

Esses resultados indicam que animais com nveis lipdicos elevados realmente

apresentam maior produo de EROs, pelo menos de O2- e H2O2 em

especfico e possuem uma tendncia ao desenvolvimento do estresse

oxidativo.

Concomitantemente tambm fica perceptvel o fato de o Sildenafil, de alguma

forma, ter interferido no estabelecimento do estresse oxidativo nos animais

tratados, seja ao prevenir a formao dessas EROs em questo seja ao agir

como fator antioxidante, retirando as EROS formadas.

O Sildenafil, utilizado em maior escala no tratamento da disfuno ertil e da

hipertenso pulmonar, desenvolve outros efeitos mais abrangentes no

organismo. Um dos efeitos benficos do Sildenafil est no balano oxidativo,

por diminuir o estresse oxidativo nos eventos inflamatrios (MORANO et al.,

2007; YILDIRIM et al., 2010) e inibir a gerao de EROs (HEMNES; ZAIMAN;

CHAMPION, 2008).

Dados publicados recentemente por nosso grupo de pesquisa confirmam e

reforam o efeito antioxidante do Sildenafil, pela diminuio da produo de

EROs (BALARINI et al., 2013; DIAS et al., 2014; LEAL et al., 2015; ALMEIDA,

2015) e tambm dos nveis de peroxidao lipdica, que est diretamente

relacionada ao estresse oxidativo (FAHNING et al., 2015).

O acmulo de GMPc proporcionado pelo Sildenafil pode ser um dos motivos

pelo qual ocorre diminuio do estresse oxidativo, pois, de acordo com

Curatola, Xu e Hendricks-Munoz (2011) o GMPc possui efeito protetor contra o

estresse oxidativo.

68

Em nveis fisiolgicos as EROs funcionam como molculas mensageiras que

sinalizam respostas biolgicas como, por exemplo, a proliferao celular,

migrao, sobrevivncia, diferenciao e a expresso gnica. Por outro lado, o

excesso de EROs que culmina com o estresse oxidativo pode ser prejudicial e

induzir vrias patologias como, a aterosclerose, insuficincia cardaca, diabetes

e cncer (USHIO-FUKAI; REHMAN, 2014).

No ambiente da medula ssea a ao das EROs varia grandemente de acordo

com o microambiente de cada linhagem celular, chamado por diversos autores

de nicho celular. A saber, geralmente nveis baixos de EROs podem manter a

quiescncia de clulas hematopoiticas, enquanto altos nveis de EROs

contribuem para a proliferao, senescncia ou apoptose, levando a uma

exausto prematura do processo de auto-renovao nesse tipo celular. Em

contrapartida, nveis fisiolgicos de EROs tambm so cruciais para processos

de reparo que envolvem diferenciao celular e mobilizao das clulas

tronco/progenitoras da medula ssea, bem como para a manuteno da

imunidade celular durante o estado de equilbrio e tambm durante condies

de estresse (PERVAIZ; TANEJA; GHAFFARI, 2009).

O nicho das clulas-tronco hematopoiticas (CTH) quiescentes, que so

consideradas as clulas-tronco hematopoiticas mais primitivas e responsveis

por manter a populao em longo prazo, caracterizado por baixo teor de

oxignio. Esse microambiente hipxico supostamente assegura s CTH uma

proteo contra o estresse oxidativo e a maior capacidade de manter a

caracterstica de auto-renovao (JANG; SHARKIS, 2007).

Nas clulas-tronco mesenquimais no h produo substancial de EROs e,

por esse motivo, muitas vezes elas so utilizadas para se estudar o acmulo de

EROs (LAVADO et al., 2015).

importante lembrar que a medula ssea fonte de todos os outros tipos

celulares, inclusive dos leuccitos sanguneos que participam do processo

inflamatrio e dos fatores e clulas, como as progenitoras endoteliais, que so

recrutados na tentativa de prevenir danos permanentes no organismo em

diferentes situaes. Assim, a produo de EROs na medula ssea implica em

69

eventos adversos e importantes no destino das CTH e o excesso de EROs

considerado txico para as clulas da medula ssea.

As clulas-tronco, tanto as pluripotentes como as multipotentes, mantm sua

identidade genmica por meio da manuteno dos nveis de EROs sob

controle, o que alcanado pela defesa antioxidante, bem como pela alta

expresso de genes antioxidantes, por um sistema de reparo de DNA mais

potente e pela expresso de protenas heat shock, induzidas em situaes de

estresse (CHAUDHARI; YE; JANG, 2014).

6.3 Anlise das fases do ciclo celular

Em nossos resultados, a maior produo de EROs no grupo apoE-/- V foi

refletida nas diversas fases do ciclo celular das clulas de medula ssea.

Primeiramente houve no grupo apoE-/- V maior quantidade de DNA

fragmentado.

Os animais do grupo veculo tambm apresentaram maior porcentagem de

clulas em G0/G1 e menor proporo de clulas entrando na fase S e na mitose

(fase G2/M). Ou seja, nos animais doentes (apoE-/-) que no receberam

tratamento, maior proporo de clulas no est conseguindo entrar no

processo de diviso celular, nem mesmo na sntese de DNA realizada na fase

S do ciclo.

Esses eventos podem estar diretamente relacionados ao maior estresse

oxidativo observado nos resultados do grupo veculo, devido aos altos nveis de

O2- e H2O2 detectados por citometria de fluxo.

Como dito anteriormente EROs podem afetar as caractersticas das clulas ao

ponto de modificar a taxa proliferativa, de diferenciao, apoptose e

envelhecimento e/ou exausto da auto-renovao.

As EROs, especialmente o radical hidroxil, reagem com os componentes da

molcula de DNA, danificando as bases purinas e pirimidinas e a estrutura da

desoxirribose, levando a quebras em fita simples ou em fita dupla e a ligaes

70

cruzadas na estrutura do DNA (GUTTERIDGE; HALLIWELL, 2010; VALKO et

al., 2007). As EROs podem ainda influenciar modificaes epigenticas por

meio da oxidao do DNA (SARDINA et al., 2012).

Notadamente, o aumento na produo de O2- induz a danos no DNA, alm de

inflamao e envelhecimento vascular (CSISZAR et al., 2009). Os danos no

DNA podem levar tanto parada quanto induo da transcrio, e tambm

induo de vias sinalizadoras de traduo, a erros de replicao e instabilidade

genmica (MARNETT, 2000).

Como visto em nossos resultados, animais com maior produo de H2O2 (apoE-

/- v) apresentaram menos clulas proliferando e entrando em diviso celular,

informao que apoia os resultados encontrados por Xiao e outros (2014), os

quais mostraram que o perxido de hidrognio inibe a proliferao e a

diferenciao endotelial de clulas tronco de medula ssea parcialmente via

produo de EROs.

Em reviso detalhada sobre o assunto, Sart, Song e Li (2015) fizeram um

levantamento de vrios aspectos relacionados influencia do estresse

oxidativo na sobrevivncia das clulas-tronco e reafirmam que nveis basais de

EROS so requeridos na ativao de diversas vias celulares de proliferao e

sobrevivncia enquanto o acmulo excessivo de EROs leva ao dano celular.

Todos esses fatos permitem-nos especular que as clulas de medula ssea

dos animais apoE-/- de fato esto sob influncia da maior quantidade de

EROs, de modo que