Avaliação Docente: Caminhada para a...

12
1 Avaliação Docente: Caminhada para a Mudança Universidade Feevale (FEEVALE) Eixo I - Criação de estratégias e metodologias para o trabalho das CPA Marcelo Marques Soares (Universidade Feevale) Adriel Scheffer Amado (Universidade Feevale) Ana Maria Argenton Woltz (Universidade Feevale) Claudia Denicol Winter (Universidade Feevale) Marta Oliveira dos Santos (Universidade Feevale) Tereza Cristina Gazzotti Mayborod (Universidade Feevale) Uelinton Telmo Ermel (Universidade Feevale) Resumo A avaliação docente em Instituições de Ensino Superior é uma ferramenta fundamental na busca pela qualidade do ensino, visto que propicia aos gestores uma análise do seu quadro docente e aos professores suas ações pedagógicas. Um dos aspectos essenciais neste processo é o envolvimento dos acadêmicos e para isso os diversos contextos educacionais têm o desafio de motivá-los a participar, de forma representativa, na avaliação dos seus professores. Na Universidade Feevale, a avaliação docente é realizada desde 1994 e no transcorrer dos anos constatou-se o declínio na participação dos estudantes o qual originou o presente estudo que teve como objetivo identificar as causas desta baixa adesão e promover o aumento da participação do corpo discente neste processo de avaliação. Para isso foram formados grupos focais, com acadêmicos e professores, que em reuniões mediadas pela CPA discutiram, sugeriram e subsidiaram a elaboração de um plano de ações participativo. As ações de recuperação iniciaram no ano de 2010 e, a partir daí, observou-se um aumento significativo na adesão dos estudantes, passando da faixa de 30% para 90%. Além do aumento do número de participantes na avaliação também se constatou a melhora da satisfação dos estudantes com seus professores. Por meio deste estudo pode-se concluir também que a participação coletiva nas discussões sobre os processos de avaliação institucional, especificamente a avaliação docente, além de oportunizar a vivência democrática, contribuiu para a conscientização dos acadêmicos sobre o seu papel na busca pela melhoria na qualidade do ensino. Palavras-chave: Avaliação Docente, Cultura de Mudança, Avaliação Institucional. INTRODUÇÃO A Universidade Feevale é uma entidade comunitária, sem fins lucrativos e com forte compromisso regional situada na cidade de Novo Hamburgo/RS. Instalada em 1970 a instituição conta hoje com 16.500 alunos em todos os níveis de ensino. Historicamente a autoavaliação na Feevale é parte inerente e orgânica à sua missão e natureza, tendo em vista o compromisso social com a coletividade que a mantém. Os processos avaliativos na instituição ocorrem desde 1994, instituídos pelo Programa de Avaliação das Universidades Comunitárias Gaúchas (PAIUNG), uma das primeiras iniciativas de avaliação da educação superior no Brasil. Até o ano de 2003 o

Transcript of Avaliação Docente: Caminhada para a...

Page 1: Avaliação Docente: Caminhada para a Mudançadownload.inep.gov.br/.../avaliacao_docente_caminhada_mudanca.pdf · pessoas e nos processos que norteiam a caminhada institucional em

1

Avaliação Docente: Caminhada para a Mudança

Universidade Feevale (FEEVALE)

Eixo I - Criação de estratégias e metodologias para o trabalho das CPA

Marcelo Marques Soares (Universidade Feevale)

Adriel Scheffer Amado (Universidade Feevale)

Ana Maria Argenton Woltz (Universidade Feevale)

Claudia Denicol Winter (Universidade Feevale)

Marta Oliveira dos Santos (Universidade Feevale)

Tereza Cristina Gazzotti Mayborod (Universidade Feevale)

Uelinton Telmo Ermel (Universidade Feevale)

Resumo A avaliação docente em Instituições de Ensino Superior é uma ferramenta fundamental na busca pela qualidade do ensino, visto que propicia aos gestores uma análise do seu quadro docente e aos professores suas ações pedagógicas. Um dos aspectos essenciais neste processo é o envolvimento dos acadêmicos e para isso os diversos contextos educacionais têm o desafio de motivá-los a participar, de forma representativa, na avaliação dos seus professores. Na Universidade Feevale, a avaliação docente é realizada desde 1994 e no transcorrer dos anos constatou-se o declínio na participação dos estudantes o qual originou o presente estudo que teve como objetivo identificar as causas desta baixa adesão e promover o aumento da participação do corpo discente neste processo de avaliação. Para isso foram formados grupos focais, com acadêmicos e professores, que em reuniões mediadas pela CPA discutiram, sugeriram e subsidiaram a elaboração de um plano de ações participativo. As ações de recuperação iniciaram no ano de 2010 e, a partir daí, observou-se um aumento significativo na adesão dos estudantes, passando da faixa de 30% para 90%. Além do aumento do número de participantes na avaliação também se constatou a melhora da satisfação dos estudantes com seus professores. Por meio deste estudo pode-se concluir também que a participação coletiva nas discussões sobre os processos de avaliação institucional, especificamente a avaliação docente, além de oportunizar a vivência democrática, contribuiu para a conscientização dos acadêmicos sobre o seu papel na busca pela melhoria na qualidade do ensino. Palavras-chave: Avaliação Docente, Cultura de Mudança, Avaliação Institucional. INTRODUÇÃO

A Universidade Feevale é uma entidade comunitária, sem fins lucrativos e com forte compromisso regional situada na cidade de Novo Hamburgo/RS. Instalada em 1970 a instituição conta hoje com 16.500 alunos em todos os níveis de ensino. Historicamente a autoavaliação na Feevale é parte inerente e orgânica à sua missão e natureza, tendo em vista o compromisso social com a coletividade que a mantém.

Os processos avaliativos na instituição ocorrem desde 1994, instituídos pelo Programa de Avaliação das Universidades Comunitárias Gaúchas (PAIUNG), uma das primeiras iniciativas de avaliação da educação superior no Brasil. Até o ano de 2003 o

Page 2: Avaliação Docente: Caminhada para a Mudançadownload.inep.gov.br/.../avaliacao_docente_caminhada_mudanca.pdf · pessoas e nos processos que norteiam a caminhada institucional em

2

processo era desenvolvido através de questionários distribuídos em sala de aula e respondidos manualmente pelos estudantes. No ano de 2004 o programa de autoavaliação da instituição passou por um processo de reconstrução para alinhar-se ao Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), Lei no. 10.861/2004.

Como resultado desta reconstrução foi criada a Comissão Própria de Avaliação (CPA), e o programa de autoavaliação passou a abranger o conjunto das dimensões propostas pelo SINAES agrupadas em: missão e Projeto de Desenvolvimento Institucional (PDI), ensino, pesquisa, extensão, gestão, responsabilidade social, e planejamento. Cada uma das dimensões é avaliada por meio de instrumento próprio e frequências distintas, porém articuladas entre si, sistemáticas e conduzidas com rigor metodológico. A coleta de dados passou, a partir deste marco, a ser feita por meio de sistema on-line.

A Instituição acompanha atentamente os resultados das avaliações e propõe ações não somente no que se refere aos resultados apurados, mas também quanto aos níveis de adesão do seu corpo social aos processos avaliativos das diferentes dimensões. Neste sentido, constatou-se no decorrer dos anos, o declínio acentuado na participação dos estudantes na avaliação do corpo docente de seus cursos chegando ao menor índice, 31%, nos anos de 2007 e 2008.

A experiência institucional de já ter passado por vários processos de avaliação docente permitia a CPA refletir sobre o problema que se apresentava e apontar caminhos que poderiam solucioná-lo, porém consideraram-se dois aspectos de grande relevância: a avaliação docente em uma instituição de ensino é muito significativa, é através dela que o professor reflete sobre o seu fazer pedagógico e adéqua ações que permitem superar as dificuldades apontadas; a aprendizagem ocorre através da interação entre os seus atores. Portanto a reflexão sobre a falta de interesse dos estudantes no processo e a busca pelas melhores alternativas para mudar esta realidade era de responsabilidade de todos os envolvidos.

Partindo destes princípios conduziu-se o estudo que ora apresenta-se e que teve como objetivo geral identificar as causas da baixa adesão dos acadêmicos e promover ações para aumentar a participação dos mesmos no processo de avaliação docente na instituição.

O CAMINHO PARA A MUDANÇA

A pesquisa realizada caracteriza-se como descritiva, de abordagem qualitativa a partir de um estudo de caso adotando o grupo focal como instrumento de coleta de dados. O estudo iniciou no ano de 2010, com a formação de grupo de estudos compostos por representantes dos professores, dos acadêmicos por meio do Diretório Central dos Estudantes (DCE) e Diretórios Acadêmicos dos Cursos (DAs), Comissão Própria de Avaliação (CPA) e Pró-reitoria de Ensino (PROEN).

A formação dos grupos foi de forma voluntária e a convite da CPA e PROEN, que atuaram como coordenadoras dos trabalhos. Atenderam ao chamamento 27 acadêmicos e 22 professores de diferentes cursos que participaram de cinco reuniões nos meses de julho e agosto de 2010. As quatro primeiras foram realizadas entre seus pares e a quinta em conjunto, professores e estudantes. A partir das discussões e questões levantadas nas reuniões a CPA elaborou um plano de ação em conjunto com a PROEN, apoiado pelos acadêmicos e professores. Estas ações também foram norteadas pela compreensão teórica da avaliação institucional, avaliação docente e Projeto Pedagógico Institucional (PPI).

Page 3: Avaliação Docente: Caminhada para a Mudançadownload.inep.gov.br/.../avaliacao_docente_caminhada_mudanca.pdf · pessoas e nos processos que norteiam a caminhada institucional em

3

DIÁLOGO COM O CONHECIMENTO JÁ CONSTRUIDO

Avaliação é uma atitude que permeia o cotidiano de todas as pessoas à medida que proporciona a tomada de consciência de como a trajetória pessoal ou profissional está ocorrendo e que medidas devem ser adotadas para possíveis mudanças. Sendo, portanto um processo de reflexão que induz a tomada de decisões e implementação de ações de mudanças em determinado contexto. Assim como no campo particular as instituições de um modo geral necessitam de avaliação permanente, com enfoque nas pessoas e nos processos que norteiam a caminhada institucional em busca de seus objetivos.

Neste sentido, Ribeiro (2000, p.15) reforça o papel da avaliação como instrumento de desenvolvimento e promoção da qualidade e ainda esclarece que,

Para a universidade, instituição cuja razão de ser encontra-se na prestação de serviços de qualidade à sociedade, buscando sempre a excelência na produção, sistematização e democratização do saber, o propósito da Avaliação Institucional deve ser o de conduzir ao aperfeiçoamento constante dos empreendimentos humanos.

A avaliação nas instituições de ensino é um processo global que envolve as

dimensões do ensino, da pesquisa, da extensão e da gestão, tendo como objetivo a análise destas dimensões constituídas a partir das relações que se concretizam no dia a dia institucional, em busca da excelência. Análise esta, que deve partir dos objetivos e missão da instituição sem perder de vista as especificidades do seu entorno como contexto social, político, econômico e cultural. Consiste, portanto em analisar os processos avaliativos e seus resultados, buscando ações que levem a superação das fraquezas observadas. (BELLONI, 2000).

Atualmente, a avaliação institucional é entendida como um processo de autoavaliação que tem por objetivo a melhoria da qualidade de ensino e do desempenho institucional sendo uma exigência da democratização. Este enfoque, segundo Belloni (1998, p 41) busca o “autoconhecimento e tomada de decisões”, objetivos básicos da autoavaliação.

A avaliação institucional deve refletir com clareza se as ações propostas no Projeto Pedagógico Institucional (PPI), também no PDI estão sendo concretizadas no cotidiano da instituição. Por meio da análise dos dados obtidos na avaliação os gestores poderão tomar decisões sobre os redirecionamentos necessários para a viabilização do PPI e do PDI. Desse modo, uma prática de avaliação guiada pelo rigor metodológico como afirma Luckesi (2012, p.21),

Permite ao gestor, se ele o desejar, tanto corrigir possíveis insatisfatoriedades da ação em curso, como mudar de rumo (inovar), caso conclua que as decisões anteriormente tomadas não conduzirão à obtenção dos resultados desejados, pela sua própria constituição e não somente pela sua execução.

Fazendo um recorte no processo de avaliação institucional aborda-se a avaliação

docente, na perspectiva de que a visão do conjunto é possibilitada pela análise das múltiplas relações que constituem qualquer fato, processo ou fenômeno, como afirma Macedo (2001). A avaliação docente é um processo que contribui, de forma marcante, para a busca do objetivo máximo de uma instituição de ensino que é a excelência acadêmica. Dessa forma, ela deve ser conduzida com isenção, objetivos claros de conhecer a realidade estudada, aprender com ela e transformá-la por meio de ações participativas e formativas, particularizadas de acordo com as necessidades de cada docente e sem intenções punitivas.

Page 4: Avaliação Docente: Caminhada para a Mudançadownload.inep.gov.br/.../avaliacao_docente_caminhada_mudanca.pdf · pessoas e nos processos que norteiam a caminhada institucional em

4

A avaliação docente realizada pelos acadêmicos encontra, ainda hoje, resistência por parte de alguns educadores, entretanto quando planejada, orientada e administrada com competência é de grande valor. Segundo Scriven (1995), os discentes são considerados aptos para a realização da avaliação do ensino que recebem, sendo vozes importantes que devem ser ouvidas em busca da melhoria da qualidade do ensino e aprendizagem. No entanto, os acadêmicos, muitas vezes, omitem-se dificultando o processo de avaliação docente. Para enfrentar esta realidade faz-se necessário promover no meio acadêmico a cultura de avaliação com responsabilidade, entendendo a cultura no sentido de que com o passar do tempo o hábito se incorpora na vida dos indivíduos, e passa a fazer parte do seu cotidiano.

A compreensão da avaliação institucional, considerando todas as suas dimensões, como oportunidade de manifestação da autonomia intelectual dos acadêmicos e instrumento de mudanças positivas pode ser fator de motivação e incentivo à participação efetiva no processo. A REALIDADE EM TRANSFORMAÇÃO

A condução e mediação dos trabalhos nos grupos focais foram feitas pela CPA centrando as discussões em eixos norteadores, discutidos em cada reunião, sendo eles: situação atual do processo de avaliação docente, características requeridas para o docente Feevale, importância e objetivos da avaliação, metodologia e divulgação dos resultados e indicadores de avaliação. Situação atual do processo de avaliação docente

Na primeira reunião dos grupos de trabalho, em ambos os grupos, questionou-se a respeito da situação atual do processo, de como professores e estudantes percebiam a avaliação docente na Universidade Feevale e a que atribuíam a baixa participação dos estudantes. Dentre as principais percepções dos estudantes destacaram-se: processo nebuloso, receio de retaliações por parte dos professores, falta de divulgação dos resultados, falta de objetividade do instrumento de avaliação, não visualizam mudanças e descrédito o processo.

No grupo de professores os relatos apontam o desconhecimento, por parte dos alunos, da importância da avaliação para o professor, a falta de divulgação dos resultados e a dificuldade no preenchimento do instrumento de avaliação como as principais causas da baixa adesão dos acadêmicos. Os professores também manifestaram que avaliar a prática docente somente pelo do olhar do estudante é reduzir o processo.

Nos dois grupos ficou evidente a falta de maturidade em relação ao processo de avaliação docente, tanto por parte de professores, quanto de estudantes. Foram relatadas situações em que a avaliação era utilizada como instrumento punitivo em sala de aula: estudantes ameaçavam professores e estes coagiam os estudantes quando eram mal avaliados. Ambos os grupos concluíram que faltava diálogo entre os sujeitos, faltava discutirem de forma aberta os objetivos e a importância da avaliação.

A opção pela aplicação da técnica de grupos focais se mostrou acertada já na primeira reunião, pois este recurso para coleta de dados é ancorado na perspectiva de interlocução entre os sujeitos, propicia uma melhor compreensão do processo grupal, bem como para o desenvolvimento das analises dos resultados encontrados. (MINAYO, 2009). O ambiente informal e a condução da reunião pelo moderador de forma a manter o foco do grupo e registrar as contribuições de todos os participantes, como é característico nesta técnica de coleta de dados, foi fundamental para a credibilidade do estudo.

Page 5: Avaliação Docente: Caminhada para a Mudançadownload.inep.gov.br/.../avaliacao_docente_caminhada_mudanca.pdf · pessoas e nos processos que norteiam a caminhada institucional em

5

Características requeridas para o docente Feevale Na reunião seguinte, à luz do perfil docente da Feevale descrito no PPI, os

grupos apontaram as características requeridas ao professor. O grupo de estudantes ressaltou a necessidade de professores que se comunique bem, fazendo-se entender em sala de aula. Uma comunicação que, na visão do grupo, passa pela capacidade de abordar o conhecimento por meio de uma linguagem clara e acessível ao ambiente universitário. Para os estudantes, vários aspectos do docente são importantes, como características pessoais, conhecimento do conteúdo, conhecimento profissional e contextual. No entanto, reconhecem que as características pessoais, da personalidade envolvendo a empatia entre professor/aluno não devem interferir no processo de avaliação do docente. O grupo de professores também ressalta que o professor deve estabelecer uma boa comunicação com os alunos. Esta percepção é um dado importante visto que foi apontado em ambos os grupos. Como destacam Carnevale et al. (2013) as manifestações da linguagem dentre elas a fala, modalidade priorizada na maioria das relações sociais, incluídas aquelas que permeiam o universo escolar, funcionam como instrumento de comunicação. Portanto, é importante que o perfil do professor apresente a característica de ser comunicativo, de saber expressar o conhecimento oralmente de forma clara e esclarecedora.

Os professores também apontaram que o instrumento de avaliação usado avaliava predominantemente as características relativas à prática em sala de aula. Neste sentido, Peres e Boscarioli (2004) destacam que as metodologias de avaliação docente em geral estão voltadas para analise de desempenho em relação às atividades de ensino, porém a avaliação terá seu sentido mais significativo quando houver articulação com o projeto pedagógico do curso, analisando o processo de ensino-aprendizagem sob diferentes óticas. Este também é o pensamento de Boclin (2004) que sugere a participação dos alunos no processo, a adoção da metodologia de avaliação pelo projeto político-pedagógico do curso, e a sua utilização como instrumento para elevação da qualidade dos cursos de graduação.

Quando questionados sobre a importância da avaliação, os dois grupos enfatizaram a necessidade de continuidade do processo, promovendo-se as devidas reestruturações, sob pena de que caia em descrédito maior. Importância e objetivos da avaliação Na sequência das reuniões abordaram-se os objetivos e importância da avaliação docente no contexto universitário. Na opinião dos estudantes, nem sempre a solução dos problemas está ao alcance dos coordenadores de curso e, portanto, o momento da avaliação é importante, pois permite a exposição das suas necessidades e opiniões. A avaliação aproxima o estudante da Universidade. O objetivo da avaliação, segundo os estudantes, é oferecer um retorno à instituição sobre os métodos e ações pedagógicas dos professores.

Na perspectiva dos professores, a avaliação tem como objetivo identificar oportunidades de melhoria para, a partir disso, redirecionar ou modificar as suas práticas. O posicionamento, tanto dos professores como dos estudantes vai ao encontro do pensamento de Santos (2007), de que a avaliação tem o potencial de promover a qualidade do ensino e que o desempenho docente é um importante indicador ou elemento de avaliação como referem Embiruçu, Fontes e Almeida (2010).

Em relação a adesão dos estudantes, os professores também enfatizaram a importância de que os percentuais de participação tenham validade estatística, evitando assim que o professor reveja suas práticas de forma equivocada, seguindo a manifestação da minoria.

Page 6: Avaliação Docente: Caminhada para a Mudançadownload.inep.gov.br/.../avaliacao_docente_caminhada_mudanca.pdf · pessoas e nos processos que norteiam a caminhada institucional em

6

Metodologia e divulgação dos resultados No que se refere aos aspectos metodológicos, foram questionados: instrumento

utilizado para a avaliação (layout e escala), aplicação on-line, período de aplicação, percentual de adesão dos respondentes e formas de divulgação do processo.

Os estudantes disseram que o formulário de avaliação não é amigável. É extenso, cansativo e a escala de valores é confusa. Em relação ao percentual de participação, os estudantes ventilaram a possibilidade da obrigatoriedade de optar por avaliar ou não de forma explicita, pois, segundo eles, os dados precisam ter validade, serem representativos para que o processo seja reconhecido. Evidenciaram que, em geral, os estudantes da Feevale não ocupam os espaços que lhe são oferecidos para que participem mais ativamente do contexto institucional.

Para os estudantes, a chave do processo é o professor. Pensam que é dele a tarefa de sensibilizar os estudantes em sala de aula, para que participem do processo de avaliação. Segundo os estudantes, os professores não falavam da avaliação em sala de aula porque também não tinha interesse em serem avaliados e entendiam que essa relação precisava ser modificada.

Analisando esta percepção dos estudantes sob a ótica da comunicação não verbal estabelecida em sala de aula infere-se, segundo Silva (2011), que o professor está informando através da sua corporeidade uma imagem desfavorável ao processo e coincide com o que os professores argumentam, de que uma avaliação cuja participação não alcança representatividade não tem valor significativo estatisticamente.

Quanto à divulgação do processo e dos resultados, enfatizaram que precisava ser melhorada. Os estudantes não sabiam como os resultados da avaliação eram informados ao professor e que providencias eram tomadas a partir deles. Os professores por sua vez manifestaram que a avaliação só era discutida na época de coleta dos dados. Entendiam que essa discussão deveria ser permanente. Para eles, a divulgação ampla dos resultados da avaliação traria benefícios para a Universidade uma vez que propicia tomada de decisões para melhoria da qualidade do trabalho docente. Como refere Belloni (1998), este é um dos objetivos básicos da autoavaliação institucional.

Para a divulgação do processo de avaliação os alunos sugeriram a utilização de todos os canais de comunicação disponíveis na Instituição (TV, rádio, Jornal, Internet), de espaços como aulas inaugurais dos cursos e semanas acadêmicas. Além disso, sugeriram que os DAs e o DCE fossem envolvidos nas ações de sensibilização e que os coordenadores de curso conscientizassem os professores sobre a importância da avaliação. Sugeriam ainda que a instituição promovesse reuniões com grupos de estudantes por curso para que atuassem como multiplicadores do processo nas salas de aula.

Quanto à divulgação dos resultados, os alunos sugeriram uma discussão mais ampla sobre a gestão dos dados. Para eles, deveria ser criada uma dinâmica mais efetiva, a qual não deixasse a gestão apenas sob a responsabilidade do coordenador de curso, mas que ela fosse compartilhada com outros gestores. Uma das justificativas apontadas para isso foi que, em alguns casos, o próprio coordenador não era bem avaliado.

Os professores alegaram que a forma de apresentação dos resultados dificultava sua compreensão e os conceitos estatísticos presentes na visualização dos resultados, por exemplo, precisassem ser esclarecidos. Também questionaram a ordem como a escala de avaliação era apresentada no instrumento preenchido pelos estudantes. Segundo os professores, estava em ordem inversa, o que pode causar enganos no momento do preenchimento e prejudicar a avaliação.

Page 7: Avaliação Docente: Caminhada para a Mudançadownload.inep.gov.br/.../avaliacao_docente_caminhada_mudanca.pdf · pessoas e nos processos que norteiam a caminhada institucional em

7

Sugeriram ainda que os resultados da avaliação de cada docente fossem analisados pelos gestores em seu contexto histórico, ou seja, o número de reincidências do docente com avaliação negativa. Também disseram que as respostas às questões abertas que constavam no instrumento de avaliação devem ser incentivadas, pois, em geral, trazem informações complementares que facilitavam o entendimento dos dados quantitativos.

A divulgação dos resultados, segundo professores e alunos, não era feita de forma clara e precisava ser repensada. Estas informações precisavam ter mais visibilidade e clareza em seu conteúdo e sugeriram a divulgação por meio do site institucional. De acordo com Torres, Ziviani e Silva (2012) este é um instrumento de comunicação que merece destaque, pois cumpre o papel de socializar as informações da instituição.

Para professores e estudantes, o período em que a avaliação ocorria deveria ser modificado. Sugeriram que o processo ocorresse no final do semestre, já que na configuração atual não havia tempo hábil para redimensionar as ações docente dentro do mesmo semestre letivo. Em relação ao formato como era realizada, tanto os estudantes quanto os professores concordaram que a metodologia on-line era a mais adequada. Indicadores de avaliação

A última reunião foi realizada de forma conjunta, entre alunos e professores, para definir quais seriam os indicadores de avaliação que consideravam importantes constar no instrumento de avaliação. Os dois grupos fizeram várias sugestões no sentido de torná-los objetivos e coerentes com as expectativas em relação a ação docente. Os indicadores sugeridos estão apresentados no Quadro 1.

Quadro1 – Indicadores de avaliação docente

O(a) professor(a): 1. Oportuniza espaços que consideram os conhecimentos e experiências dos alunos, adotando uma

postura conciliadora. 2. Compromete-se com a aprendizagem da turma. 3. Planeja as situações de ensino/aprendizagem, otimizando o tempo da aula. 4. Aborda o conteúdo da disciplina de forma atual e organizada. 5. Desenvolve o plano de ensino, esclarecendo os objetivos, critérios de avaliação e conteúdo das

disciplinas. 6. Aplica instrumentos de avaliação diversificados, contemplando os conteúdos trabalhados em

aula. 7. Possui habilidade didático-pedagógica. 8. Relaciona teoria e prática, demonstrando a importância da disciplina para a formação

acadêmico-profissional. 9. Contextualiza os conteúdos da disciplina em relação a outras áreas do conhecimento.

Fonte: CPA – Feevale

Como resultados mais significativos das reuniões de estudo frente às percepções dos grupos destacam-se: a criação de um novo instrumento de avaliação com perguntas mais objetivas, estabelecimento de novo período de retorno dos resultados da avaliação para os professores, passando do meio para depois do encerramento do semestre letivo; e ações diferenciadas de incentivo à participação discente como campanhas de sensibilização; envolvimento dos professores esclarecendo a importância do processo aos alunos; adequação da forma de divulgação dos resultados e a opção de querer ou não avaliar como um exercício de autonomia do acadêmico.

Uma das estratégias para conscientizar, esclarecer e aproximar os estudantes do processo de avaliação docente foi planejado pela Agência Experimental de

Page 8: Avaliação Docente: Caminhada para a Mudançadownload.inep.gov.br/.../avaliacao_docente_caminhada_mudanca.pdf · pessoas e nos processos que norteiam a caminhada institucional em

8

Comunicação da Universidade: uma campanha que teve como mote “Você já decidiu o futuro do país. Agora chegou a hora de avaliar o seu ensino.”, fazendo referência às eleições que ocorriam na ocasião. A campanha foi composta por diversas estratégias como: ações teaser1 nos intervalos das aulas nos dias que antecediam a avaliação; cartazes e faixas distribuídos pelos espaços acadêmicos como mostra a Figura 1 e um vídeo intitulado “Os 10 mitos e verdades da Avaliação Docente”.

Figura 1: Peças da campanha

Fonte: Arquivo da Agencia Experimental Feevale

O vídeo contendo respostas para dez questionamentos feitos pelos estudantes durante as reuniões de estudos foi uma das ações de maior impacto. A questões apresentadas no Quadro 2 resumem as principais dúvidas e receios dos estudantes em relação a avaliação e a utilização dos seus resultados por parte dos professores. As perguntas foram respondidas por professores, coordenadores de institutos e setores, e pelo reitor da Universidade..

Quadro 2: Os 10 mitos e verdades da Avaliação Docente. Questionamento Resposta

1 - O professor sabe quem fez a avaliação? Mito. O professor apenas tem acesso ao número de pessoas que avaliaram e aos dados, mas não aos nomes dos respondentes.

2 - A avaliação é usada como instrumento punitivo Mito. A partir desse semestre, os resultados da

1 Teaser é uma técnica usada para chamar a atenção para uma campanha publicitária, aumentando o interesse de um determinado público alvo a respeito de sua mensagem, por intermédio do uso de informação enigmática no início da campanha publicitária.

Page 9: Avaliação Docente: Caminhada para a Mudançadownload.inep.gov.br/.../avaliacao_docente_caminhada_mudanca.pdf · pessoas e nos processos que norteiam a caminhada institucional em

9

em sala de aula? avaliação só serão divulgados após o término do período letivo.

3 - Só devo avaliar quando estou insatisfeito? Mito. Você deve avaliar sempre, ser consciente e responsável nas suas respostas.

4 - O objetivo da avaliação é só a prestação de contas ao MEC.

Mito. O objetivo da avaliação é verificar se na visão dos estudantes, a prática dos professores em sala de aula está adequada.

5 - Só devo avaliar quando estou insatisfeito.

Mito. Você deve avaliar sempre, ser consciente e responsável nas suas respostas.

6 - É importante que todos os alunos participem?

Verdade. Os alunos precisam ter consciência que a avaliação é um dos instrumentos para melhorar a qualidade do ensino e proporcionar informação para a tomada de decisões. E, para que os dados sejam validados, todos devem participar.

7 - O resultado da avaliação está relacionado com o grau de exigência do professor.

Mito. O resultado da avaliação não está relacionado com o fato do professor exigir mais ou menos da turma. O importante é que haja uma boa comunicação entre o professor e a turma, ou seja, que haja espaço para o diálogo.

8 - Os resultados da avaliação permitem que o professor melhore a sua prática em sala de aula.

Verdade. A avaliação serve para que o professor reflita a respeito do seu trabalho e redimensione sua prática quando necessário.

9 - Os resultados da avaliação não são utilizados.

Mito. Os resultados da avaliação são disponibilizados tanto aos professores quanto aos coordenadores de curso. A partir deles, se planejam ações de melhoria como, por exemplo: cursos de formação pedagógica, novas monitorias para disciplinas, investimentos em laboratórios para qualificar as aulas práticas, investimento em novas tecnologias para o professor poder diversificar suas aulas.

10- Os principais beneficiados com a avaliação são os professores e os alunos.

Verdade. Os professores são beneficiados porque podem, a partir da avaliação, rever sua prática. E, os alunos, ajudam a melhorar o ensino do seu curso e, consequentemente, de toda a Universidade.

Fonte: Planejamento de Comunicação – Agência Experimental de Comunicação Feevale.

Em decorrência destas estas ações, guiadas pelos resultados das discussões nos

grupos focais, o percentual de adesão ao referido processo avaliativo subiu significativamente como mostra o Gráfico 1, especialmente na avaliação docente em 2011, semestre seguinte a realização do estudo.

Gráfico 1 – Percentual de adesão à avaliação docente por semestre

Page 10: Avaliação Docente: Caminhada para a Mudançadownload.inep.gov.br/.../avaliacao_docente_caminhada_mudanca.pdf · pessoas e nos processos que norteiam a caminhada institucional em

10

Fonte: CPA-Feevale

A divulgação dos resultados da avaliação docente, para alunos e professores, passou a ser feita pelo ambiente virtual acadêmico, de forma mais atrativa e compreensível, com gráficos comparativos entre as disciplinas do curso e também do curso em relação ao instituto ao qual está vinculado e em relação à instituição como um todo. A Figura 2 mostra exemplos de como esta a divulgação aos docentes. Os acadêmicos recebem informações sobre a média do seu curso, instituto e da instituição.

Figura 2 – Exemplos de divulgação de resultados da avaliação docente

Fonte: CPA-Feevale Os resultados individuais da avaliação dos professores são acompanhados pelos coordenadores dos respectivos cursos e sempre que o professor não atingir o conceito mínimo estabelecido pela instituição, juntos elaboram um plano de ação com o objetivo de melhorar a qualidade nos indicadores que não foram bem avaliados pelos estudantes. CONSIDERAÇÕES FINAIS

74%

59%

45%

31% 31% 33%43%

97% 96% 91%

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

AVALIAÇÃO DOCENTE

Adesão

Page 11: Avaliação Docente: Caminhada para a Mudançadownload.inep.gov.br/.../avaliacao_docente_caminhada_mudanca.pdf · pessoas e nos processos que norteiam a caminhada institucional em

11

O estudo realizado permitiu a livre manifestação dos acadêmicos demonstrando suas percepções, sugestões, críticas e contribuições com o objetivo de aprimorar e qualificar o processo de ensino e aprendizagem e a prática profissional do professor. Da mesma forma em relação aos professores, que tiveram a oportunidade de externar suas inquietações em relação ao processo de avaliação de suas ações pedagógicas.

No caso em estudo, a técnica dos grupos focais possibilitou conhecer bem mais sobre o contexto do que se esperava inicialmente. As principais causas da baixa adesão dos estudantes ao processo de avaliação docente emergiram por meio das discussões conduzidas nos respectivos grupos focais bem como outros indicativos que permitiram elaborar um plano de ação que atendesse as expectativas dos estudantes e dos professores.

Alguns caminhos que permitiram obter um maior engajamento dos estudantes à avaliação podem ser enunciados como: a sensibilização dos alunos com campanhas que desmistificassem os “fantasmas da avaliação”, por meio de diversas mídias, a melhora do instrumento de avaliação e da divulgação dos resultados e a melhor compreensão da avaliação por porte dos acadêmicos.

Outro aspecto fundamental para o alcance dos objetivos deste estudo foi o comprometimento dos representes acadêmicos por meio do DCE e DAs que juntos conseguiram canalizar esforços para informar e motivar os estudantes em relação ao processo de avaliação docente. Destaca-se também a inserção da possibilidade do estudante se manifestar não querendo avaliar o professor. Entende-se que neste momento de decisão oportuniza-se aos acadêmicos um espaço de autonomia para decidir se quer ou não de avaliar.

Pode-se concluir por meio da analise dos dados e das ações implementadas que os objetivos traçados para este estudo foram plenamente atingidos, visto que os índices de adesão dos estudantes à avaliação docente na Universidade Feevale se mantém acima de 90% desde o ano de 2011.

Mesmo com estes resultados animadores a Comissão Própria de Avaliação tem consciência de que a avaliação docente é um processo que se constrói e se aperfeiçoa com o tempo, e que se conduzido de maneira democrática e transparente, com objetivos pedagógicos e formativos, será capaz de contribuir para produzir uma cultura de avaliação institucional que fará parte do cotidiano dos processos acadêmicos e administrativos. REFERENCIAS BELLONI, Isaura. A função social da avaliação institucional. Avaliação, Campinas, v.3, n.34, 1998. -----------------------. A função social da avaliação institucional. In SOBRINHO, José Dias e RISTOFF, Dilvo I. (orgs). Universidade desconstruída: avaliação institucional e resistência. Florianópolis, 2000. BOCLIN, R. Avaliação de docentes do ensino superior: um estudo de caso. Ensaio: Avaliação de Políticas Públicas, Educ., Rio de Janeiro, v. 12, n. 45, p. 959-980, out – dez, 2004. CARNEVALE, L; BERERIAN, AP; MORAES, PD; KRUGER, S. Comunicação alternativa no contexto educacional: conhecimento de professores. Revista Brasileira de Educação, v.19, n.2, Marília, Abr – Jun, 2013.

Page 12: Avaliação Docente: Caminhada para a Mudançadownload.inep.gov.br/.../avaliacao_docente_caminhada_mudanca.pdf · pessoas e nos processos que norteiam a caminhada institucional em

12

EMBIRUÇU, M; FONTES, C; ALMEIDA, L. Um indicador para a avaliação do desempenho docente em instituições de ensino superior. Avaliação de Políticas Públicas, Educ., v.18, n. 69, Rio de Janeiro, Out – Dez, 2010. LUCKESI, C.C. Educação, Avaliação Qualitativa e Inovação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2012. (Série Documental. Textos para Discussão). MACEDO, S. G. Desempenho Docente pela Avaliação Discente: uma proposta metodológica para subsidiar a gestão universitária. Tese. Pós-Graduação em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2001. MINAYO, M.C.S. Construção de indicadores qualitativos para avaliação de mudanças. Bras Educ Med. 2009, 33, Supl 1:83-91. PERES, S. M.; BOSCARIOLI, C. Avaliando disciplinas de graduação pela ótica do docente, do discente e do egresso. Varia Scientia, Cascavel, v. 4, n. 7, p. 25- 41, 2004. RIBEIRO, Célia Maria et al. Projeto de Avaliação Institucional da Universidade Federal de Goiás. 2000. SANTOS, S. M. Avaliação e acreditação. [S. l.], 2007. Disponível em: http:// jvcosta.planetaclix.pt/ artigos. Acesso em: 26 ago, 2013. SCRIVEN, M. Student ratings offer useful input to teacher evaluations. 1995. Disponível em: http://pareonline.net. Acesso em: 26 ago, 2013. SILVA, AFL . Corporeidade e representações sociais: agir e pensar a docência. Psicologia Social, v.23, n.3, Florianópolis, Set – Dez, 2011. TORRES, AA; ZIVIANI, F; SILVA, SM. Mapeamento de competências: ferramenta para a comunicação e a divulgação científica. Transinformação, v.24, n.3, Campinas, Set – Dez, 2012.