AVALIAÇÃO DO POTENCIAL NATURAL EROSIVO DA … · diferentes: geológica e acelerada. A erosão...

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LONDRINA 2005 CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS AVALIAÇÃO DO POTENCIAL NATURAL EROSIVO DA MICROBACIA DO RIBEIRÃO TAQUARA-PR JÚLIO BANDEIRA GUERRA

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LONDRINA 2005

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATASDEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL NATURAL EROSIVO DA MICROBACIA DO RIBEIRÃO

TAQUARA-PR

JÚLIO BANDEIRA GUERRA

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JÚLIO BANDEIRA GUERRA

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL NATURAL EROSIVO DA MICROBACIA DO RIBEIRÃO TAQUARA-PR

Monografia apresentada ao curso de Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Londrina como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Geografia. Orientador: Prof. Dr. Omar Neto Fernandes Barros

Londrina 2005

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JÚLIO BANDEIRA GUERRA

AVALIAÇÃO DO POTENCIAL NATURAL EROSIVO DA MICROBACIA

DO RIBEIRÃO TAQUARA-PR

Monografia apresentada ao curso de Graduação em Geografia da Universidade Estadual de Londrina como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Geografia.

:

COMISSÃO EXAMINADORA

Prof. Dr. Omar Neto Fernades Barros - orientador Universidade Estadual de Londrina

Prof. Msc. Oswaldo Coelho Pereira Neto Universidade Estadual de Londrina

Prof. Dr. Ricardo Ralisch Universidade Estadual de Londrina

Londrina, _____de ___________de 20___.

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AGRADECIMENTOS

Aos meus pais, irmãos e avó pela educação e apoio.

Aos meus amigos.

Ao meu orientador Prof. Dr. Omar Neto Fernandes Barros.

Ao Engenheiro Agrônomo João Henrique Caviglione e ao IAPAR (Instituto

Agronômico do Paraná) por ter disponibilizado dados os quais foram imprescindíveis

para o desenvolvimento deste trabalho.

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GUERRA, J. B. Avaliação do potencial natural erosivo da microbacia do Ribeirão Taquara-PR. Monografia (Bacharelado em Geografia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, PR, 2005.

RESUMO

O processo erosivo é um tema que a muito desperta o interesse de pesquisadores. Muitos estudos têm sido realizados com o objetivo de entender este processo e assim pode-lo combater, em sua forma acelerada, para fins de manutenção da fertilidade do solo ou da conservação de uma forma geral. O presente trabalho objetivou avaliar o potencial natural erosivo laminar na microbacia do Ribeirão Taquara-PR, a partir do uso da Equação Universal de Perda de Solos, e com o apoio do Sistema de Informação Geográfica Idrisi Kilimanjaro, como subsidio a projetos de planejamento ambiental e de uso do solo. Sua bacia tem 898,7km2 de área e está localizada entre as coordenadas 51º 27’ 32,4” W e 23º 44’ 54,9” S; e 50º 56’ 52,17” W e 23º 29’ 26,68” S. Para o desenvolvimento do trabalho foram necessários a estimativa e mapeamento, e em seguida o cruzamento, segundo as regras da Equação Universal de Perda de Solos, dos valores dos fatores naturais erosividade, erodibilidade e fator topográfico. Para executar estas etapas do trabalho foram utilizados os sistema de informação geográfica Idrisi Kilimanjaro, o software de modelagem numérica de terreno e geoestatística Surfer 8, o software USLE2D 4.1 e o Microsoft Excel. As áreas consideradas com potencial natural erosivo baixo, segundo classificação de Valério Filho (1996), ocupam uma área de 292,59km2, o que representa 28,16% da área total. As áreas de potencial moderado se estendem por 170,43km2, o que representa 19% da microbacia do Ribeirão Taquara. A classe de potencial natural erosivo moderado a forte ocupa uma área de 203,93km2 (22,73%). As áreas com perdas de solo maiores que 1600t/ha/ano, consideras com potencial natural erosivo forte, abrangem uma área de 231,76km2, o que representa 25,83% da microbacia. Palavras-chave: Erosão. Equação Universal de Perda de Solos. Sistema de Informação Geográfica. Planejamento conservacionista. Microbacia.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Localização da microbacia do Ribeirão Taquara na bacia hidrográfica do

Rio Tibagi-PR.............................................................................................................20

Figura 2 – Mapa da microbacia hidrográfica do Ribeirão Taquara............................43

Figura 3 – Mapa hisométrico da microbacia do Ribeirão Taquara ............................45

Figura 4 – Mapa de declividade e caracterização do relevo da microbacia do

Ribeirão Taquara de acordo com classificação proposta por Lemos e Santos (1996)

..................................................................................................................................45

Figura 5 – Imagem sombreada (representação do relevo) da microbacia do Ribeirão

Taquara.....................................................................................................................46

Figura 6 - Mapa de solos da microbacia do Ribeirão Taquara...................................51

Figura 7 - Mapa de localização dos postos metereológicos selecionados.................54

Figura 8 - Mapa de erosividade da microbacia do Ribeirão Taquara.........................64

Figura 9 - Mapa de erodibilidade da microbacia do Ribeirão Taquara.......................65

Figura 10 - Mapa de fator topográfico (LS) da microbacia do Ribeirão Taquara.......67

Figura 11 - Histograma dos valores do fator LS (valores de 0.1 a 111,89)................68

Figura 11a - Histograma dos valores do fator LS (valores de 0.1 a 30.1)..................68

Figura 12 - Mapa de potencial natural erosivo da microbacia do Ribeirão Taquara de

acordo com classificação proposta por Valério Filho (1994)......................................79

Figura 13 – Síntese dos resultados obtidos...............................................................74

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Médias mensais e anuais de precipitação (mm) nas estações

selecionadas ............................................................................................................62

Tabela 2 – EI30 (TM.mm/ha.h.ano) e erosividade mensal e anual (penúltima coluna –

sistema métrico - TM.mm/ha.h.ano – última coluna – sistema internacional –

MJmm/hahano) ........................................................................................................63

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LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Coeficientes linear e angular de equação de regressão linear (y = a + bx)

e coeficiente de correlação para as regiões 3, 4 e 5 para cálculo de índice de erosão

da chuva (EI30) na microbarcia do Ribeirão Taquara.................................................28

Quadro 2 - Postos metereológicos selecionados.......................................................53

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÂO........................................................................................................11 1.1 Aproblemática ambiental......................................................................................11

1.2 Erosão dos solos..................................................................................................13

2 FUNDAMEMENTOS TEÓRICOS...........................................................................21 2.1 Mecanismo de erosão laminar.............................................................................21

2.2 Equação Universal de Perda de Solos (EUPS)....................................................22

2.3 Erosividade (fator R).............................................................................................24

2.4 Erodibilidade (fator K)...........................................................................................28

2.5 Fator topográfico (fator LS)..................................................................................34

2.6 Fator antrópico (fatores C e P).............................................................................38

2.7 Sistema de Informação Geográfica (SIG)............................................................40

3 MATERIAIS E MÉTODOS......................................................................................43 3.1 Caracterização física da área de estudos............................................................43

3.2 Procedimentos metodológicos.............................................................................52

3.2.1 Materiais e procedimentos metodológicos utilizados para estimativa e

mapeamento do fator R (erosividade)...............................................................53

3.2.2 Materiais e procedimentos metodológicos utilizados para estimativa e

mapeamento do fator LS (fator topográfico)......................................................56

3.2.3 Materiais e procedimentos metodológicos utilizados para estimativa e

mapeamento do fator K (erodibilidade)..............................................................59

3.2.4 Procedimento metodológico utilizado para estimativa e mapeamento do

Potencial Natural Erosivo (PNE)........................................................................60

4 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS..............................................61 4.1 Erosividade (fator R).............................................................................................61

4.2 Erodobilidade (fator K)..........................................................................................64

4.3 Fator topográfico (fator LS)..................................................................................65

4.4 Potencial Natural Erosivo (PNE)..........................................................................68

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................71 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS.......................................................................75

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1 - INTRODUÇÃO

1.1 - A problemática ambiental

Os recursos naturais são a base da existência da humanidade. O

homem necessita desses para desenvolver desde atividades fisiológicas, como a

respiração, até atividades produtivas racionais, como o desenvolvimento de

materiais dos quais faz uso, o aço, por exemplo.

A exploração dos recursos naturais deu-se, em um momento inicial,

de maneira rudimentar, com intuito único da subsistência. Porém, com o passar do

tempo, e com o desenvolvimento de novas técnicas, o homem começou a consumir

os recursos de maneira mais sistemática e intensiva, em maior escala, até atingir um

estágio de exploração que pode ser considerado predatório.

Durante muito tempo a sociedade ocidental preocupou-se somente

com o desenvolvimento de tecnologias que facilitassem o acesso aos recursos e

promovessem maior produtividade. Porém, não se deu conta de que a fonte utilizada

é finita. Sendo assim, pressionou o meio sem respeitar seu potencial e fragilidade.

Este tipo de ação demonstra o sentimento de não pertencimento ao

meio. Agindo desta maneira, o homem da sociedade ocidental demonstra não se

entender como parte do ambiente em que vive, mas sim como um agente externo

que pretende controlar e modelar o meio a maneira que entende, unicamente para o

bem próprio.

Esta conduta reflete o modo como à sociedade ocidental concebe o

meio ambiente e seus recursos. A cultura ocidental entende a Terra como algo ao

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homem designado. Como se ela fosse a ele pertencente, exclusivamente para seu

usufruto.

Esta concepção leva ao estabelecimento de relações do homem

com o meio que proporcionam desequilíbrios nos sistemas naturais. Estes

desequilíbrios podem ser representados pelos processos de desertificação, de

poluição e assoreamento de corpos d’água, aquecimento global, extinção de

espécies animais e vegetais, etc, que muitos pesquisadores tem apontado como

causa a exploração desmedida do meio ambiente pela sociedade moderna.

Foi frente a esses processos de degradação ambiental, e também

social, que já são detectados há décadas, e a outros que estão previstos para um

futuro próximo, que surgiram, na década de 1970, grupos ativistas e partidos

políticos em defesa da causa ambiental. Neste momento alguns grupos começam a

questionar a legitimidade e a necessidade do modelo de desenvolvimento ao qual

estamos submetidos até hoje. O homem passa a se questionar sobre o que

conhecemos sobre o mundo e se o que fazemos é realmente o correto e necessário.

Segundo Leff (apud Carvalho, 2003, p. 13)

A crise ambiental é a crise do nosso tempo. O risco ecológico questiona o conhecimento do mundo. Esta crise apresenta-se a nós como um limite do real que ressignifica e reorienta o curso da história: limite do crescimento econômico e populacional, limite do desequilíbrio ecológico e das capacidades de sustentação da vida, limite da pobreza e da desigualdade social. Mas também crise do pensamento ocidental.

Neste momento, início do século XXI, e desde os anos 1970, a

humanidade questiona, frente a desastres ambientais, fome e pobreza, vendo sua

própria existência em risco, o modelo de desenvolvimento estabelecido, calcado na

super produtividade e na busca de lucros ilimitados.

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Atrelado a este modelo de desenvolvimento estão os modos de

exploração do meio adotados. Estes também passam a ser revistos, já que podem

estar ultrapassando os limites de capacidade de sustentação da qualidade de vida

no planeta.

São estes questionamentos e preocupações que levaram as

ciências, inclusive a geografia, ao desenvolvimento de diversos estudos com o

objetivo de entender a dinâmica dos recursos naturais frente a ação antrópica e suas

conseqüências no âmbito social, econômico e ambiental.

1.2 - Erosão dos solos

O processo erosivo é um tema que a muito desperta o interesse de

pesquisadores. Muitos estudos têm sido realizados com o objetivo de entender este

processo e assim pode-lo combater, em sua forma acelerada, para fins de

manutenção da fertilidade do solo ou da conservação de uma forma geral.

A erosão é o processo de desprendimento e arraste das partículas

do horizonte superficial do solo pela ação da água ou do vento (Bertoni e Lombardi

Neto, 1999, p. 69). Em geral, este processo pode ocorrer de duas maneiras

diferentes: geológica e acelerada.

A erosão geológica é tão antiga quanto a Terra. Iniciou muito antes

do surgimento do homem, quando as primeiras camadas de ar começaram a se

agitar na atmosfera a as primeiras gotas de chuva caíram sobre a superfície do

planeta.

A erosão geológica, ou natural, é o desgaste da superfície da Terra por água, gelo, vento, ou outro agente natural, sob condições de meio ambiente natural em termos de clima e vegetação, sem perturbações provocadas pelo homem, sendo possível estabelecer o ciclo dessa erosão. Verifica-se uma seqüência de fases evolutivas

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das formas de relevo a partir da dissecação e aplainamento vertical da paisagem. (ACIESP apud Camargo, 2004, p. 25).

Esta modalidade de erosão é controlada somente por fatores

naturais. Estes fatores podem ser ativos ou passivos. Os ativos são os que inserem

energia no sistema, são eles, a chuva ou vento e as condições topográficas

(declividade e comprimento de encosta). O fator passivo é o solo, que, de acordo

com suas propriedades químicas, físicas e morfológicas, têm maior ou menor

resistência a erosão.

A erosão acelerada, ou induzida, é muito mais rápida que a natural,

primariamente como resultado da influencia das atividades do homem. Esta

modalidade de processo erosivo está relacionada, além dos fatores naturais, ao

modo como o homem ocupa o solo. Em muitos casos a ocupação se dá sem a

devida preocupação com o potencial natural erosivo do terreno, o que pode deflagrar

um processo de resposta incontinente do meio em busca de nova condição de

estabilidade. Este processo de resposta ocorre em forma de erosão. Deste modo, a

ação antrópica constitui o principal fator de desencadeamento da erosão acelerada.

Em áreas rurais, o processo de transformação de um local com

vegetação natural em área de pastagem ou alguma cultura agrícola pode gerar, com

o tempo, feições erosivas marcadas no terreno. Mesmo não havendo muita

alteração no regime hidrológico, ao contrário do que ocorre em áreas urbanas, pois

na pior das hipóteses ainda ocorre alguma infiltração no solo, e esta tende a

aumentar conforme aumenta a porcentagem de cobertura vegetal (viva ou morta),

dependendo do tipo de cultura instalada e do manejo, com exposição de superfície,

pode haver a geração de um processo erosivo catastrófico.

Situações de uso do solo intensivo, sem considerar suas

características naturais e sem aplicar as devidas práticas conservacionistas, podem

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levar a um cenário de desgaste absoluto e diminuição da fertilidade natural do solo.

Bertoni e Lombardi Neto (1999, p. 69) apresentaram resultados de pesquisa que

objetivaram relacionar perda de solos e diminuição da produtividade de diferentes

classes de solo de diversas localidades do Estado de São Paulo. De acordo com o

estudo sobre a produção de milho, com a remoção de 5 cm da camada superficial do

solo ocorre uma redução de 15% na produção, com a remoção de 10cm há

diminuição de 22% na produção da cultura. Por fim, com a retirada de uma camada

de 25 cm a produção sofre uma queda de 50%.

Isto ocorre porque, nas camadas superficiais dos solos estão

concentrados os macro e micronutrientes dos quais a planta necessita para se

desenvolver. Portanto, com a retirada do horizonte superficial ocorre a lavagem de

nutrientes como fósforo, potássio, sódio, cálcio, etc.

Além da perda da fertilidade natural dos solos, os processos

erosivos acelerados causam diminuição da resistência física do solo, e em casos

mais extremados, como em voçorocamentos, a erosão expõe o lençol freático, que

desta maneira tem sua contaminação por agrotóxicos facilitada, e altera a

configuração topográfica do terreno, e conseqüentemente, a dinâmica de

escoamento da água. O processo de assoreamento dos cursos d’água se intensifica

nessas condições. Estes resultados refletem o prejuízo causado pela erosão

acelerada aos produtores rurais e a toda sociedade.

No Brasil, após a revolução verde na década de 1970, a agricultura

se intensificou de maneira nunca antes vista. Neste período a importação e

introdução, por grandes produtores, de novas técnicas e insumos passou a

pressionar ainda mais os solos agricultáveis.

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A tecnificação da agricultura, acessível a poucos produtores,

aumentou ainda mais a concentração da terra, pois os que não tinham capacidade

para adquirir insumos e competir com os grandes proprietários foram obrigados a

desfazer-se de suas propriedades. O resultado deste processo foi um intenso fluxo

migratório em direção às cidades.

O rápido aumento da população urbana, a partir da década de 1970,

exigiu maior produção agrícola para abastecer as cidades, o que tende a se

intensificar ainda mais devido a pressões demográficas futuras. Segundo Lopes

(apud. Camargo et al., 2004, p. 55) o grande desafio da produção mundial de grãos,

por exemplo, é passar dos atuais 2 bilhões para 4 bilhões de toneladas até o ano de

2025, o que significa elevar a produtividade média mundial de 2,5 toneladas por

hectare em 1990 para 4,5 toneladas por hectare, para atender uma população que

deverá atingir 8,3 bilhões de habitantes em 2025.

Além da questão populacional, os altos gastos com uso intenso de

insumos agrícolas e as pressões e exigências do mercado internacional levam o

agricultor a uma busca contínua pelo aumento da produtividade, para que consiga

manter seus lucros e continuar produzindo.

Estes fatos são determinantes para a intensificação do uso do solo

agrícola e para a busca de novas áreas de cultivo, o que pressiona ainda mais o

potencial dos terrenos e demanda maior consumo dos solos. Em muitos casos estas

condições causam excessivo desgaste e perda de solo que ultrapassam os limites

de tolerância de erosão.

Em função destas circunstâncias, surge a necessidade de uma

planificação territorial, que tem como objetivo a organização do espaço físico de

modo que a utilização da terra seja compatível com o potencial da mesma (Mafra,

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1999, p. 311). Planificação é a ação de organizar e gerir a ocupação do espaço,

determinando os tipos de uso de acordo com o potencial dos terrenos. Só assim

será possível atender a demanda de alimento e matéria prima, e não extrapolar os

limites de erosão tolerados pelas diferentes classes de solos.

Para que se possa planificar o uso do solo, antes se faz necessário o

desenvolvimento de projetos de planejamento ambiental, ou territorial. Cendrero

(apud Botelho, 1999, p. 274) define planejamento ambiental como uma atividade

intelectual por meio da qual se analisam os fatores físico-naturais, econômicos,

sociológicos e políticos de uma zona (país, região, município, bacia hidrográfica,

etc.), propõem formas de uso do território e de seus recursos na área considerada.

A bacia hidrográfica é um recorte espacial da paisagem muito

utilizado como unidade de planejamento ambiental. De acordo com Coelho Neto

(1994, p. 98) a bacia de drenagem é uma área da superfície que drena a água,

sedimentos e materiais dissolvidos para uma saída comum, num determinado ponto

de um canal fluvial. O limite da bacia é conhecido como divisor de águas ou divisor

de drenagem. Muitos pesquisadores chamam a atenção para a bacia hidrográfica

como unidade natural de análise da superfície terrestre, onde é possível estudar as

inter-relações existentes entre os diversos elementos da paisagem e os processos

que atuam na sua esculturação. Entendida dessa forma, a bacia hidrográfica passa

também a representar uma unidade ideal de planejamento ambiental. Tendo sua

delimitação baseada em critérios geomorfológicos, as bacias de drenagem levam

vantagem sobre as outras unidades, pois tem seu limite traçado com maior precisão

(Botelho, 1999, p. 270).

Em sua definição de planejamento ambiental, Cendrero (op cit)

destaca o conhecimento e análise dos fatores naturais e antrópicos que agem em

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determinado local e controlam os processos existentes. Sem entendimentos destes

fatores não é possível apreender a dinâmica do ambiente, apontar problemas e

propor possíveis soluções.

Em muitos estudos de avaliação de processos ambientais são

usados modelos que simulam a atuação dos fatores que compõem e controlam o

meio e a dinâmica de suas relações. Desta maneira é possível entender como cada

um desses fatores desempenha sua função e, desenvolver projetos de planejamento

ambiental e de uso do solo para fins de conservação dos recursos naturais.

O fenômeno erosivo é um destes processos ambientais, controlado

por fatores como chuva, topografia, solo e uso e ocupação do solo. Para estudar o

fenômeno erosivo dispõe-se de métodos diretos, baseados na coleta do material

erodido, em estações experimentais e/ou em laboratório, ou ainda de métodos

indiretos, por meio de modelos matemáticos, com os quais é possível predizer as

perdas de solo e avaliar o potencial erosivo dos terrenos e ação erosiva da

ocupação humana. A partir do conhecimento dos fatores que influenciam a erosão é

possível quantificá-los, e por fim calcular a quantidade de material erodido por

unidade de área em determinado período de tempo. Dentre os modelos de predição

de perda de solos está a Equação Universal de Perda de Solos, revista por

Wischmeier e Smith (1978), que tem como variáveis os fatores erodibilidade (K),

erosividade (R), declividade (S), comprimento de encosta (L), uso e ocupação do

solo (C) e práticas conservacionistas (P).

Este modelo pode ser associado às técnicas de geoprocessamento,

que permitem análises espaciais do fenômeno, visando o planejamento racional do

uso e ocupação do solo e a exposição das áreas que necessitam de adoção de

práticas de controle da erosão. Os valores resultantes da aplicação da Equação

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Universal de Perda de Solos, quando espacializados por meio de um Sistema de

Informação Geográfica (SIG), permitem uma análise mais eficiente da perda de solo

por erosão laminar, possibilitando contextualizar os resultados obtidos com as

características do terreno e o tipo de uso do solo.

Por Sistema de Informação Geográfica entende-se:

Software capaz de armazenar, recuperar, integrar, manipular e visualizar diferentes informações da superfície terrestre, tal como a ocorrência de determinado tipo de solo sob determinada condição topográfica do relevo, bem como de outros tipos de informações. Estes dados geográficos descrevem objetos do mundo real em termos de posicionamento com relação a um sistema de coordenadas (Burrough; Smith et al, apud Pereira Neto, 1994).

Por isso, um SIG pode ser utilizado em estudos relativos ao meio

ambiente e aos recursos naturais, na pesquisa de previsão de determinados

fenômenos ou no apoio às decisões de planejamento, considerando o fato de que os

dados armazenados representam um modelo do mundo real.

O presente trabalho objetivou avaliar o potencial natural erosivo

laminar da microbacia do Ribeirão Taquara-PR (figura 1), a partir do uso da Equação

Universal de Perda de Solos, e com o apoio do Sistema de Informação Geográfica

Idrisi Kilimanjaro, como subsídio a projetos de planejamento ambiental e uso do solo.

Para isto se fez necessário:

- estimar e mapear os índices relativos aos fatores naturais da Equação Universal

de Perda de Solos (erodibilidade, erosividade e fator topográfico);

- quantificar e mapear as perdas de solo por t/ha/ano na microbacia do Ribeirão

Taquara, referentes somente aos fatores naturais (potencial natural erosivo);

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- classificar e mapear diferentes áreas da microbacia do Ribeirão Taquara de

acordo com o seu potencial natural erosivo, segundo as classes propostas por

Valério Filho (1994);

- identificar e analisar os fatores naturais que mais contribuem com as perdas de

solo na microbacia do Ribeirão Taquara.

A escolha dessa área deve-se a sua importância no contexto

regional, fato determinado pela sua ocorrência em seis diferentes municípios, nos

quais a produção agrícola é intensa, tecnificada e muito importante em suas

economias. Além disso, ao abordar a questão da erosão na microbacia do Ribeirão

Taquara, o trabalho aponta para a importância do planejamento ambiental e do uso

do solo, e utilização de práticas consevacionaistas de maneira integrada entre os

municípios pertencentes a uma mesma microbacia.

Figura 1 – Localização da microbacia do Ribeirão Taquara na bacia hidrográfica do Rio Tibagi-PR. Fonte: SUDERHSA. Org.:GUERRA, J.B.

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2 - FUNDAMENTOS TEÓRICOS

2.1 - Mecanismo de erosão laminar

A erosão hídrica pode ocorrer de várias formas, entre elas

destacamos a erosão hídrica laminar. Esta acontece quando a água que se acumula

nas depressões do terreno começa a descer pela encosta no momento em que o

solo está saturado e as poças não conseguem mais conter essa água, o que gera, a

princípio, um fluxo difuso, ou seja, um escoamento em lençol (GUERRA, 1999, p.

30). Este escoamento superficial ocorre de maneira quase homogênea, como uma

capa sobre o solo, que remove camadas finas e relativamente uniformes.

A erosão laminar é praticamente imperceptível em seu início, porém

quando ocorre de maneira acelerada, devido à atuação de fatores antrópicos, em

fase avançada é possível nota-la a partir da observação de raízes expostas e

árvores e estacas de cercas inclinadas no terreno, já que a seguida extração de

camadas de solo diminui sua capacidade de sustentação. Neste estágio as perdas

de solo já foram grandes e, a partir daí, sua recuperação torna-se cada vez mais

difícil e onerosa.

Os solos expostos a este processo normalmente tomam coloração

mais clara, e a produtividade vai diminuindo progressivamente. A erosão laminar

arrasta primeiro as partículas mais leves do solo, e considerando que a parte mais

ativa do solo de maior valor, é a integrada pelas menores partículas, pode-se julgar

os seus efeitos negativos sobre a fertilidade do solo (Bertoni e Lombardi Neto, 1999,

p. 76).

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2.2 - Equação Universal de Perda de Solos (EUPS)

A estimativa de perda de solos para uma determinada área é o

princípio para planejar as ações corretivas, contudo, há dificuldades para se avaliar

de forma precisa a extensão, magnitude e taxas de erosão acelerada, assim como

seus impactos sociais e econômicos. Além das dificuldades técnicas, a pesquisa em

erosão é cara e, morosa, pois os processos erosivos variam no tempo e no espaço

sobre a forma de numerosas variáveis físicas e de manejo que determinam as

condições de um terreno.

Os fatores erosivos mais importantes, ou seja, condições naturais ou

antrópicas que interferem no aparecimento, desenvolvimento e resultado dos

processos erosivos, incluem condições naturais climáticas, hidrológicas, geológicas,

pedológicas, geomorfológicas e de vegetação, assim como das condições sociais,

econômicas e técnicas. A construção de modelos com fatores erosivos mais

significativos tem sido realizada para estimar a perda de solos em condições atuais e

simuladas para predizer e controlar a erosão.

O modelo empírico mais utilizado no mundo todo hoje é a Equação

Universal de Perda de Solos - EUPS (Universal Soil Loss Equation) desenvolvido a

partir da observação e coleta de dados de perda de solo em dez mil parcelas

unitárias distribuídas em todo o território norte americano. A EUPS é utilizada para

predizer a perda de solos por erosão hídrica laminar. A EUPS foi desenvolvida em

1954 no National Runof and Data Soil Loss Center pela Agricultural Resarch Service

em colaboração com a Universidade de Purdue (EUA), e posteriormente revisada

por Wischmeier e Smith (1965) e Wischmeier e Smith (1978), sendo esta última a

mais difundida.

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A EUPS, ainda que apresente limitações, tem como vantagem ser

uma equação bastante conhecida e estudada, e que exige um número de

requerimentos relativamente pequeno, quando comparado ao exigido pelos modelos

mais complexos.

Segundo Wischmeier e Smith (1978) a primeira equação conhecida

para estimar a perda de solos foi desenvolvida por Zingg, que relacionava a perda

de solos com a declividade e o comprimento da vertente. Nos anos seguintes foram

acrescentados os fatores de influência da cobertura do solo e de práticas

conservacionistas, e definiram limites de perda de solo. Seguiram-se a adição dos

fatores de solo e de manejo, e quando finalmente foi incluído o fator de chuva, foi

largamente utilizada sendo conhecida pelo nome de Equação de Musgrave. Com a

publicação do trabalho de Wischimeier e Smith (1965) a equação passou a ser

denominada EUPS e utilizada mundialmente com adaptações regionais, inclusive no

Brasil.

A Equação Universal de Perda de Solos é a seguinte:

A = R.K.L.S.C.P

A= perda de solos calculada por unidade de área (t/ha);

R= fator chuva, erosividade (MJmm/hahano);

K= fator erodibilidade do solo em (Tha/Mj);

L= comprimento de encosta em metros (adimensional);

S= declividade em % (adimensional);

C= fator ocupação e manejo do solo (adimensional);

P= práticas conservacionistas (adimensional).

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2.3 - Erosividade (fator R)

O processo erosivo natural é causado por fatores ativos, como a

chuva, declividade e comprimento de encosta, e fatores passivos, como a resistência

exercida pelas diferentes classes de solos e suas características específicas. A

erosão também pode ser controlada por fatores antrópicos, a partir dos padrões de

uso do solo que o homem pratica.

Para que se possa entender o processo erosivo e encontrar

soluções para combatê-lo, quando em sua forma acelerada, se faz necessário o

conhecimento e análise detalhada dos agentes que o influencia.

A chuva é um dos fatores climáticos de maior importância na erosão

do solo. Ela é a causadora da erosão hídrica, principal modalidade de erosão nas

regiões tropicais e sub-tropicais, a partir do impacto das gotas sobre o solo e dos

escoamentos superficial e sub-superficial. Segundo Bertoni & Lombardi Neto (1999,

p. 46), no que se refere à erosão hídrica dos solos, a unidade deve ser a chuva,

definida como a quantidade que cai em forma contínua em um período mais ou

menos longo, individualizada através de suas características de intensidade,

duração e freqüência.

A intensidade, medida em mm/h, é a característica mais importante

da chuva em relação ao processo erosivo. Quanto maior a intensidade, maior a

perda de solos. Valores de totais pluviométricos são pouco significativos em relação

e erosão, já que nem sempre as chuvas são uniformes. Em um longo evento

chuvoso pode haver alguns curtos períodos de maior concentração de volume de

precipitação. São nestes períodos que ocorrem as maiores perdas de solo. Desta

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maneira, ao analisarmos apenas médias e totais pluviométricos não somos capazes

entender a realidade da ação erosiva da chuva.

A intensidade também está diretamente ligada ao escoamento

superficial. Quando a intensidade da chuva é maior que a capacidade de infiltração

do solo inicia-se o escoamento superficial, responsável pela retirada e carreamento

de partículas do solo.

A duração também é uma característica importante, diretamente

relacionada à intensidade e volume da chuva. No momento inicial da precipitação a

água infiltra no solo ainda pouco úmido. Com o passar do tempo, o solo entra em

estado de saturação e a água começa a escoar superficialmente. Quanto maior for a

duração da chuva, maior a probabilidade de se desenvolver o escoamento

superficial.

A freqüência da chuva é outro fator que controla o processo erosivo.

Se o período entre dois eventos chuvosos é muito curto o solo sempre estará

saturado ou com alto teor de umidade. Essas condições favorecem a geração de

enxurrada, e conseqüentemente maior perda de solos.

As características das gotas de água que caem durante um evento

chuvoso também são importantes. São as gotas as responsáveis pela desagregação

de solo, a partir do desprendimento das partículas pelo impacto por elas causado;

pelo transporte (por salpicamento) das partículas e pela turbulência da enxurrada. A

magnitude da ação das gotas é função de seu tamanho e forma.

Outra característica da chuva, dependente da intensidade, é a força

com que as gotas atingem o solo. Esta “força” representa a energia cinética da

chuva, que é função da massa e velocidade das gotas. De acordo com Guerra

(1999, p. 18) a energia cinética da chuva está relacionada à intensidade da chuva,

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porque é a energia das gotas existentes em um evento de precipitação. Na medida

em que uma grande porcentagem das gotas maiores (>4,0mm) situa-se na

intensidade entre 50 mm/h e 100 mm/h, as maiores energias cinéticas estão nesse

intervalo de intensidade.

A partir desta relação (intensidade e energia cinética) pode-se

calcular a energia cinética da chuva natural com a equação (Wischimeieir & Smith,

1958),

Ec=11,87 + 8,73log10 I

na qual

Ec = energia cinética (joules/m2mm) e

I = intensidade da chuva (mm/h)

O potencial erosivo da chuva, ou EI30 (índice de erosão da chuva)

expressa a relação entre a energia cinética da chuva (Ec) e sua intensidade máxima

em trinta minutos (I30). Deste modo pode-se obter o índice a partir da equação:

EI30=Ec x I30

na qual

EI30 = índice de erosão (Megajoule/hectare multiplicado por

milímetros hora);

Ec = energia cinética da chuva (joules/m2mm);

I30 = intensidade máxima em trinta minutos (mm/h).

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Na Equação Universal de Perda de Solos, entre outros fatores, a

“erosividade é um índice que expressa a capacidade da chuva de causar erosão em

uma área sem proteção” (Bertoni & Lomberdi Neto, 1999, p. 250).

O fator R (erosividade) da Equação Universal de Perda de Solos,

para um dado local, é simplesmente a média anual de EI30 em um período de no

mínimo vinte anos.

Devido a escassa rede de pluviógrafos da qual se dispõe e da

grande demanda de tempo e trabalho para análise dos diagramas dos pluviógrafos,

fez-se necessário a criação de um outro modo de estimativa do fator R, que não

dependesse diretamente da variável intensidade da chuva no cálculo.

Vários pesquisadores encontraram alto coeficiente de correlação (r)

entre o índice de erosão da chuva (EI30) e o coeficiente de precipitação (razão entre

o quadrado da precipitação média mensal e a precipitação média anual) para vários

locais do Brasil. Sendo assim, foi possível a criação de uma equação de regressão

linear que tem como variáveis o índice de erosão da chuva e o coeficiente de

precipitação.

Rufino et. al. (1993, p. 440) desenvolveram equações para o cálculo

de erosividade para 8 diferente regiões do Estado do Paraná. Inicialmente foram

calculados os índices de erosão da chuva com uso de diagramas de pluviógrafos. A

partir do somatório mensal e das médias mensais do EI30 calculou-se e erosividade.

Para os mesmos dados das estações metereológicas utilizadas, foi calculado o

coeficiente de precipitação (coeficiente de ralação de chuva - RC). A relação destas

duas variáveis (índice de erosão da chuva e coeficiente de precipitação) determinou

uma equação de regressão linear simples do tipo y = a + bx, na qual y é o índice de

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erosão (MJ.mm/ha.h.ano), x o coeficiente de precipitação, a o coeficiente linear e b o

coeficiente angular.

Posteriormente obteve-se o fluxo de energia radiante (energia

emitida ou recebida por unidade de tempo numa área unitária) a partir da relação

entre índice de erosão (MJ.mm/ha.h.ano) e precipitação média anual (mm/ano). Esta

relação resulta em valores com unidade MJ/hah, análogos ao conceito de fluxo de

energia radiante, que neste caso representa a energia cinética da chuva. Os valores

de fluxo de energia foram utilizados para dividir o Estado do Paraná em oito regiões,

cada uma delas com equações de cálculo de erosividade com coeficientes linear e

angular específicos.

Região Localidades Coeficiente

Linear (a) Coeficiente Angular (b)

Coeficiente de Correlação (r)

3 Bela Vista do Paraíso e Ibiporã

22,05 4,21 0,93

4 Paranavaí, Cambará, Londrina, Bandeirantes e Apucarana

16,73 4,02 0,93

5 Cianorte, Nova Cantu e Marilândia do Sul.

19,55 4,94 0,90

Quadro 1 – Coeficientes linear e angular de equação de regressão linear (y = a + bx) e coeficiente de correlação para as regiões 3, 4 e 5 para cálculo de índice de erosão da chuva (EI30) na microbarcia do Ribeirão Taquara (adaptado de Rufino et. al., 1993, p. 443).

2.4 - Erodibilidade (fator K)

As propriedades físicas, principalmente estrutura, textura,

permeabilidade e densidade aparente, assim como, as características químicas,

biológicas e mineralógicas do solo exercem diferentes influências na erosão.

A textura, ou seja, a dimensão das partículas é uma das

características do solo que mais influencia o processo erosivo. Em solos arenosos

os poros são grandes, deste modo, em eventos chuvosos de baixa intensidade

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quase toda água infiltra e percola no interior do solo. Porém em ocasiões de chuvas

mais intensas e prolongadas, mesmo quando ocorrem pequenas enxurradas, há

arraste de grande quantidade de solo, pois a deficiência de argila, elemento de

ligação entre as partículas, torna o solo frágil à atuação dos agentes erosivos.

Em solos de textura argilosa os poros são menores, o que dificulta a

absorção de água e beneficia o desenvolvimento do escoamento superficial.

Entretanto, a força de coesão entre as partículas faz aumentar sua resistência.

A estrutura é a forma como os agregados do solo estão dispostos.

Segundo Curi et al. (apud Silva, 1999, p. 105) agregado é um conjunto coerente de

partículas primárias do solo com forma e tamanho definidos. Há três tipos básicos de

agregados de acordo com sua forma: arredondados, angulares e laminares. Cada

uma destas classes influencia o processo erosivo de maneira diferente.

De acordo com Silva (1999, p. 107) a presença de estruturas

arredondadas significa um meio poroso onde a água pode circular livremente.

Normalmente esses agregados são estáveis em água, o que indica uma boa

resistência à erosão.

Os agregados angulares, por terem face plana, vértices mais

angulosos e se desenvolverem verticalmente, restringem a atividade biológica. A

água só consegue circular com mais facilidade nas fissuras entre os agregados. Em

função da expansão dos argilo-minerais no período úmido a circulação se torna

ainda mais restrita. Este fato dificulta a percolação vertical da água, o que pode

gerar o aparecimento de feições erosivas no terreno.

Nas estruturas laminares as partículas estão dispostas de forma

mais horizontal. Isto representa forte impedimento a circulação vertical da água

(Silva, 1999, p. 107).

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Ainda há as estruturas contínuas, que ocorrem quando não há

presença de agregados individualizados. As estruturas contínuas podem ser

particulares ou maciças. A estrutura particular não apresenta aderência entre os

grãos, devido a ausência de elementos agregadores, o que torna o solo muito

suscetível à erosão. A estrutura maciça é reconhecida quando as partículas estão

cimentadas, sem, formar um agregado. Este tipo de estrutura não representa muito

riso a erosão pois, ocorre em áreas rebaixadas, onde geralmente há alto teor de

umidade.

A porosidade, definida como “o volume não ocupado pelos

constituintes sólidos do solo” (Silva, 1999, p. 108), tem grande importância em se

tratando de erosão dos solos. Em função do diâmetro os poros podem ser

classificados como macro e microporos.

Nos macroporos ocorre a circulação rápida da água pelo efeito da

gravidade. Este tipo de poro é de origem estrutural, ou seja, devido ao arranjo das

partículas entre si. Nos microporos a circulação da água é mais lenta pelo efeito da

capilaridade. É nesses poros que fica retida a água utilizada pelas plantas.

A intercomunicabilidade entre os poros é um fator que influencia a

capacidade do solo de resistir aos agentes erosivos. As mudanças verticais bruscas

no diâmetro e na morfologia dos poros podem acarretar sérios problemas de erosão.

Em casos nos quais há mudança de poros maiores, no horizonte superficial, para

poros menores, no horizonte subsuperficial, pode ocorrer uma redução brusca na

infiltração de água, que satura rapidamente o solo e provoca escoamento superficial

e subsuperficial. “Uma porosidade eficiente permite maior quantidade de água

infiltrando a grandes profundidades, propiciando uma reserva permanente para as

nascentes e para os vegetais” (Silva, 1999, p. 110).

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A permeabilidade, que determina a capacidade de percolação da

água, e a densidade aparente são duas características do solo diretamente

relacionadas à porosidade. A densidade aparente é um bom indicador do grau de

compactação do solo. Quanto maior a densidade aparente mais compactado e

menos poroso é o solo.

As propriedades, químicas, biológicas e mineralógicas do solo

influem no estado de agregação entre as partículas, aumentando ou diminuindo a

resistência do solo a erosão.

A matéria orgânica tem a função de “cimentar” o solo, ou seja,

agregar as partículas. Além disso, a matéria orgânica contribui para o aumento da

porosidade e da estabilidade do solo em água. Segundo Guerra (1994, p. 158) a

matéria orgânica proporciona mais estabilidade aos agregados que a argila.

A composição química é outra característica do solo relevante em

relação à erosão. Solos pobres em bases (Ca, Na, Mg), como os latossolos, e ricos

em sesquióxidos de ferro ou alumínio, em geral, têm estrutura microagregada

arredonda, o que propicia maior estabilidade e porosidade. Solos saturados por

bases normalmente apresentam estrutura angular, com baixa porosidade e

permeabilidade.

De acordo com o argilo-mineral, o solo pode ser mais ou menos

estável em contato com a água, o que gera diferentes comportamentos erosivos. As

argilas do tipo 1:1, caulinuta, por exemplo, são mais estáveis em água, o que

confere ao solo maior resistência à erosão. As argilas do tipo 2:1, esmectitas, por

exemplo, são instáveis e sofrem expansão quando em contato com a água. Esta

característica expansiva pode gerar fissuras e crostas no solo, o que implica em

maior suscetibilidade a erosão.

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Espessura e gradiente textural também são aspectos importantes.

Solos pouco espessos e mal formados são rapidamente saturados por água, o que

provoca facilmente o surgimento do escoamento superficial. “O gradiente textural

entre os horizontes superiores é uma das características pedológicas mais

importantes em relação ao comportamento erosivo” (Salomão, 1999, p. 235). O

gradiente textural representa a relação entre os teores de areia e argila nos

horizontes A e B. Em solos com horizonte Bt (textural), como os argissolos, há

concentração de argila no horizonte subsuperficial em relação ao horizonte A

(superficial). Este aspecto influencia a dinâmica da circulação da água no interior do

solo. Em casos de alto gradiente textural a água infiltra e percola facilmente no

horizonte A (arenoso), porém quando chega ao horizonte B (argiloso), encontra uma

barreira que dificulta sua movimentação vertical. Este processo promove a saturação

rápida do solo e a circulação horizontal da água, o que pode gerar erosão por piping.

Todas estas características do solo avaliadas conjuntamente

determinam sua capacidade de propiciar erosão, ou seja, sua erodibilidade (fator K).

Segundo Bertoni e Lombardi Neto (1999, p. 258) as propriedades do solo que

influenciam a erosão pela água são as que: afetam a velocidade de infiltração,

permeabilidade e capacidade total de armazenamento de água; resistem às forças

de dispersão, salpico, abrasão e transporte pela chuva e escoamento. Desta forma,

por afetarem infiltração e armazenamento de água, e os mecanismos de

despredimento e transporte das partículas, as características anteriormente

destacadas são de suma importância para a avaliação da suscetibilidade dos solos a

erosão.

O fator erodibilidade é a relação entre a intensidade de erosão por

unidade de índice de erosão da chuva (EI30) para um solo específico mantido

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continuamente sem cobertura, mas que sofre as operações culturais normais, em

um declive de 9% e comprimento de rampa de 25m. No Sistema Internacional é

expressa em Th/Mj (Camargo et. al., 2004, p. 40).

O fator erodibilidade tem seu valor quantitativo determinado

experimentalmente em parcelas unitárias, sendo expresso como a perda de solo (A)

por unidade de índice de erosão da chuva. Deste modo, quando as condições

topográficas são encontradas em campo, cada um dos outros fatores (L, S, P e C)

têm valor 1 e K é igual a A/EI30.

Medições do fator K em parcelas unitárias demandam muito tempo e

recursos, tornando-se praticamente inviável. A fim de simplificar este processo foram

desenvolvidas diversas maneiras de determinação fator K. Wischmeier e Smith

(1978) apresentaram um nomograma para determinação da erodibilidade. Este foi

desenvolvido com base em uma equação que tem como variáveis classes de textura

(combinação de silte e areia muito fina; e areia), permeabilidade, estrutura e

porcentagem de matéria orgânica.

No Brasil, Bertoni e Lombardi Neto (1975) utilizaram a metodologia

de Middleton (1930), uma das primeiras para determinação indireta do fator K, para

calcular valores de erodibilidade de 66 perfis de solos no Estado de São Paulo.

Foram consideradas para cada horizonte as seguintes propriedades: argila natural,

argila dispersa e umidade equivalente, tendo sido estudados somente os horizontes

A e B de solos com B textural e B latossólico, estabelecendo-se as seguintes

relações: relação de dispersão (definida como a relação de teor de argila natural e

teor de argila dispersa), relação argila dispersa e umidade equivalente e razão de

erosão, correspondente a erodibilidade (relação entre a relação de dispersão e a

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relação de argila dispersa e umidade equivalente) (Bertoni e Lomberdi Neto, 1999, p.

85).

2.5 - Fator topográfico (LS)

De acordo com Bertoni e Lombardi Neto (1999, p. 56) a topografia

do terreno, representada pela declividade e pelo comprimento da rampa, exerce

acentuada influência sobre a erosão. O tamanho e quantidade do material em

suspensão arrastado pela água dependem da velocidade com que ela escorre, e

essa velocidade é um resultado do comprimento de rampa e do grau de declividade

do terreno.

Da declividade dependem diretamente o volume e a velocidade do

escoamento superficial. Quanto maior o gradiente, maior será a velocidade da

enxurrada, o que a confere mais capacidade erosiva.

O comprimento de rampa é importante pois, à mediada que o

caminho percorrido vai aumentando, não somente as águas se tornam mais

volumosas, como também a velocidade do escoamento aumenta progressivamente,

e a maior energia resultante se traduz em maior erosão (Camargo et. al., 2004, p.

19).

Muitas vezes o comprimento da vertente é negligenciado nos

estudos de perda de solo, que consideram mais importante o grau de declividade do

terreno. Porém, Bertoni (1959) mostrou que se pode encontrar o mesmo valor para

perda de solos em um terreno com 20% de declividade e 20m de comprimento de

rampa e em outro com 180 m de comprimento de rampa e 1% de declividade. Em

outro trabalho o mesmo autor demonstra que em uma rampa de 50 metros , os

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primeiros 25 metros perdem 13, 9 t/ha; os segundos 25 metros perdem 25,9 t/ha, ou

seja, quase o dobro; em uma rampa de 75 metros, os terceiros 25 metros perdem

38,8 t/ha, quase três vezes mais que nos primeiros 25 metros. Numa rampa de 100

metros, os últimos 25 metros perdem 51,4 t/ha, quase quatro vezes mais que os

primeiros 25 metros (Bertoni e Lombardi Neto 1999, p. 58). Isto demonstra o efeito

de sinergia gerado pelo comprimento de encosta, além da importância de se

parcelar a vertente com terraços ou cordões de vegetação para frear o escoamento

em declives extensos.

Outro aspecto importante referente à topografia é a geometria da

vertente. Ao longo de toda a extensão de uma vertente podem-se observar

variações em sua declividade e orientação (exposição). Além das variáveis

declividade e comprimento, uma rampa também pode ser analisada por sua

curvatura horizontal e vertical. Este tipo de analise determina se a vertente é

côncava, convexa ou retilínea horizontalmente e/ou verticalmente. Tomando-se

somente o perfil longitudinal, se forem considerados apenas três valores de

declividade, sendo um na parte baixa, outro na média vertente e ainda outro no topo

da encosta, pode-se encontrar perfis longitudinais convexos, nos quais o trecho

baixo apresenta gradiente elevado, o trecho médio apresenta gradiente mais baixo e

o topo da encosta é praticamente plano. Nos perfis longitudinais côncavos ocorre o

contrário, pois no trecho baixo, onde há a deposição do material erodido, estão os

gradientes mais baixos, e nas regiões de média vertente e, próximas ao topo da

encosta os gradientes mais elevados.

As variações de orientação ao longo da extensão da vertente é outro

fato relevante, pois controla a curvatura horizontal da rampa. Este aspecto deve ser

avaliado, pois a curvatura horizontal influencia diretamente a dinâmica do

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escoamento sobre a vertente. Em vertentes muito côncavas horizontalmente, como

nas cabeceiras de drenagem, há maior concentração do fluxo de água, o que

propicia o desenvolvimento de incisões no terreno por erosão linear.

Na Equação Universal de Perda de Solos a declividade e o

comprimento de encosta são representados pelos fatores S e L, respectivamente.

Para aplicação na equação são considerados de maneira conjunta, o fator

topográfico (LS).

O fator LS é adimensional, e expressa a relação esperada de perdas

de solo por unidade de área em uma parcela unitária de 25m de comprimento e 9%

de declividade. Para o cálculo do fator LS em rampas retilíneas (uniformes) Bertoni e

Lombardi Neto (1999, p. 259) propuseram a seguinte equação:

LS = l /100 (1,36 + 0,97 s + 0,1385 s2)

Onde:

LS = fator topográfico (adimensional);

l= comprimento do declive (m);

s= declividade (%).

Wischmeier e Smith (1978, p. 12) apresentaram outra equação para

cálculo do fator LS

LS = (λ / 72,6)m (65,41 sen2 ө + 4,56 sen ө+ 0,065)

Onde:

LS= fator topográfico (adimensional);

λ = comprimento de encosta (m);

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ө= declividade (%);

m= 0,5 se a declividade for igual, ou maior que 5%, 0,4 se a

declividade for de 3,5% a 4,5%, 0,3 se a declividade variar entre 1% e 3% e 0,2 se o

gradiente for uniforme e, menor que 1%.

Ambas não consideram as variações de declive e orientação ao

longo da vertente. Deste modo, se forem usados gradientes médios em rampas

convexas os valores do fator LS serão subestimados, principalmente no trecho

baixo, onde o grau de declividade é maior. Em vertentes côncavas, se usados

gradientes médios, os valores do fator LS serão superestimados na baixa encosta,

onde o gradiente é mais baixo.

Para resolver este problema Wischmeier e Smith (1978) propuseram

que deveria ser divida a vertente em segmentos menores de igual comprimento e

com declividade praticamente uniforme. Mas os segmentos não podem ser avaliados

como declives independentes quando a água escoa de um segmento da vertente

para o outro.

Sendo assim Foster e Wischmeier (apud Wischmeier e Smith, 1978)

desenvolveram uma equação para estimar o valor relativo de perda de solos de

sucessivos segmentos:

Fração de perda de solo = im+1 – (i – 1)m+1 / Nm+1

Onde:

i= número do segmento (o segmento 1 é sempre o do topo da

encosta);

m= 0,5 se a declividade for igual, ou maior que, 5%, 0,4 se a

declividade for de 3,5% a 4,5%, 0,3 se a declividade variar entre 1% e 3% e 0,2 se o

gradiente for uniforme e, menor que 1%;

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N = número de segmentos.

Com esta equação é possível quantificar a participação de cada

segmento na perda de solos de toda a vertente.

Por fim deve-se multiplicar o valor do fator LS, calculado para o

segmento com a equação proposta por Wischmeier e Smith (1978), pelo valor

encontrado a partir da equação de Foster e Wischimeier (apud Wischmeier e Smith,

1978) para o mesmo segmento. Em seguida, somam-se os resultados das

multiplicações de todos os segmentos para então estimar o fator LS final para toda a

vertente irregular.

2.6 - Fator antrópico (fatores C e P)

As perdas de solo de um terreno mantido descoberto podem ser

estimadas com a aplicação dos fatores naturais da EUPS (R, K, L e S). Porém se a

área é mantida coberta por vegetação natural, ou por algum tipo de cultivo, a erosão

também será influenciada pelos fatores antrópicos C e P.

O fator C representa o uso e manejo do solo, e é a relação esperada

entre as perdas de solo de um terreno com certo tipo de cobertura e as perdas

correspondentes de um terreno mantido descoberto, isto é, nas mesmas condições

em que o fator K é avaliado (Bertoni e Lombardi Neto, 1999, p. 262).

A cobertura vegetal é a defesa de um terreno contra a erosão.

Segundo Bertoni e Lombardi Neto (1999, p. 59) o efeito da vegetação pode ser

assim caracterizado: proteção direta contra o impacto das gotas de chuva; dispersão

da água, interceptando-a e evaporando-a antes que atinja o solo; decomposição das

raízes das plantas, formando pequenos tubos que aumentam a infiltração;

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melhoramento da estrutura do solo pela adição de matéria orgânica, aumentando

assim sua capacidade de retenção de água e diminuição da velocidade do

escoamento da enxurrada pelo aumento do atrito na superfície.

O grau de proteção da vegetação depende do tipo de cobertura e de

seu estágio de desenvolvimento. Quando cai em uma floresta, a água da chuva é

interceptada pelas árvores antes de chegar ao solo. Parte da água é absorvida pelas

folhas, ainda não saturadas, ou é evaporada, outra parte pode escoar pelo caule e

por fim chegar ao solo, que ainda estará protegido por galhos e folhas em

decomposição. Em terrenos descobertos, ou com culturas em estágio inicial de

desenvolvimento, a chuva faz desprender e salpicar as partículas, que são

facilmente transportadas pela água.

O fator P é referente às práticas conservacionistas. Pode ser

definido como a relação entre as perdas de solo esperadas de um terreno que foi

cultivado adotando-se determinadas práticas conservacionistas e as perdas quando

se planta no rumo do declive (neste caso o fator P assume o valor 1) (Camargo et.

al. 2004, p. 74).

Estes dois valores são obtidos em campo a partir de observações e

coleta de dados em parcelas unitárias, o que torna sua avaliação onerosa e

demorada.

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2.7 - Sistema de Informação Geográfica (SIG)

Os Sistemas de Informação Geográfica (SIG) são caracterizados por

possuírem instrumentos capazes de desenvolver análises que envolvem dados

espaciais e seus atributos. Sendo assim, como coloca Silva (1999, pg. 27), “estes

estão inseridos no universo das Geotecnologias, ao lado do Processamento Digital

de Imagens e da Geoestatística”.

Ainda hoje muito se discute sobre qual seria a melhor definição de

SIG. Algumas definições têm uma visão restrita, que ressalta o aspecto tecnológico,

como a do Departamento de Meio Ambiente da Inglaterra (1987): “um sistema para

capturar, armazenar, checar, manipular, analisar e exibir dados, os quais são

espacialmente referenciados a Terra”. Porém há outras extremamente abrangentes,

como a de Carter (1989): “uma entidade institucional refletindo uma estrutura

organizacional que integra a tecnologia com um banco de dados, especialistas e um

contínuo suporte financeiro” (apud Silva, 1999, p. 30)

Silva (1999, pg. 45) define SIG de forma mais completa, pois leva em

conta os diversos aspectos desta tecnologia. Para ele

“os SIG’s necessitam usar o meio digital, portanto o uso intensivo da informática é imprescindível; deve existir uma base de dados integrada, estes dados precisam estar georeferenciados e com controle de erro; devem conter funções de análise destes dados que variam de álgebra cumulativa (adição, subtração, divisão, multiplicação, etc.) até álgebra não cumulativa (operações lógicas)”.

Neste caso, mesmo estando atento a várias características dos

SIG’s, o autor enfatiza o georeferenciamento e a análise espacial, fatores que

distinguem os SIG’s de outros sistema de informação.

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De acordo com Silva (1999, pg. 40) os SIGs modernos são formados

por quatro componentes: hardware, dados, software e profissional.

O hardware é qualquer plataforma computacional e outros

equipamentos acoplados a ela, como drivers de fita, instrumentos topográficos, GPS,

scanner, mesa digitalizadora, etc.

Há dois tipos gerais de dados em SIG: os dados espaciais, e os

dados alfanuméricos. Os dados espaciais são as entidades gráficas, representadas

de forma vetorial (x,y) ou matricial (linha, coluna). Os dados alfanuméricos fornecem

descrições às entidades gráficas. Ambos devem ser referenciados ao mundo real.

Os dados, alfanuméricos e espaciais, são inseridos no sistema de diferentes formas,

como a partir de cartas e mapas, fotografias aéreas, dados geodésicos,

coordenadas levantadas por GPS, dados censitários, imagens de satélite, etc.

Estes dados são armazenados em um banco de dados geográfico,

que “é um conjunto de arquivos estruturados de forma a facilitar o acesso a algumas

informações do mundo real” (Moreira, 2003, pg. 255). Os bancos de dados de um

SIG sempre são georeferenciados. Os dados espaciais e os dados alfanuméricos

são armazenados em diferentes bancos de dados e cabe ao software estabelecer

relações dentro de um mesmo banco e entre diferentes bancos de dados. Sendo

assim, estes softwares são capazes de relacionar entidades gráficas (dados

espaciais) e estas com seus atributos (dados alfanuméricos).

Para transformar os dados em informações úteis, os SIG’s têm

ferramentas com diferentes funções. Em geral são elas: o próprio sistema de

aquisição e conversão de dados, sistema de gerenciamento de banco de dados,

sistema de consulta e análise geográfica, sistema de processamento de imagens de

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satélite, sistema de modelagem numérica de terreno, sistema de análise estatística e

sistema de apresentação cartográfica.

Todos estes sistemas juntos devem ter a capacidade de

“coletar e processar dados espaciais obtidos a partir de diversas fontes; de armazenar, recuperar, atualizar e corrigir os dados processados de uma forma eficiente e dinâmica; de permitir a manipulação e realização de procedimentos de análise de dados armazenados, com possibilidade de executar diversas tarefas e de controlar a exibição e saída de dados de ambos os formatos”. (Silva, 1999, pg. 45).

E por fim, o profissional, que é a peça fundamental, pois é ele quem

comanda as ações e faz as interpretações finais dos dados.

Atualmente os SIG’s são aplicados com sucesso em diversas áreas,

como: geologia e mineração, meio ambiente, redes de transmissão de energia

elétrica, saneamento básico, telecomunicações, transporte, planejamento urbano,

gestão municipal, engenharia, agricultura, etc.

O desenvolvimento de sistemas computacionais para aplicações

gráficas e de imagem permite a automatização de algumas tarefas e ainda facilita a

realização de análises complexas. A aplicação da EUPS pode ser combinada com

SIG´s para estimar a erosão laminar em bacias hidrográficas e em nível regional

com bons resultados e com maior agilidade (Chaves apud Camargo et al., 2004, p.

74).

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3 - MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 – Caracterização física da área de estudos

O Ribeirão Taquara é tributário da margem esquerda do Rio Tibagi.

A microbacia do Ribeirão Taquara está localizada entre as coordenadas 51º 27’

32,4” W e 23º 44’ 54,9” S, e 50º 56’ 52,17” W e 23º 29’ 26,68” S. Esta é ocupada por

partes dos municípios de Londrina, Arapongas, Apucarana, Tamarana, Marilândia do

Sul e Califórnia conforme depreende-se da Figura 2.

Figura 2 – Mapa da microbacia hidrográfica do Ribeirão Taquara. Fonte: SUDERHSA. Org.: GUERRA, J. B.

A microbacia do Ribeirão Taquara está inserida no Planalto de

Apucarana, parte do Terceiro Planalto Paranaense, que abrange o Planalto Central

da Bacia do Paraná, assim denominado na classificação do relevo da região Sul do

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Brasil. (Herrman e Rosa, 1990, p. 69). O Terceiro Planalto representa o plano de

declive que forma a encosta da escarpa da Serra Geral do Paraná, sendo também

denominada Escarpa Mezozóica, por ser constituída por arenitos desta era

geológica (Maack, 1981, p. 418).

A microbacia está inserida na área de derrames de “trapp” do

Paraná, processo de cobertura dos arenitos do Grupo Rio do Rasto e Botucatu da

Era Mezozóica por camadas de rochas efusivas básicas (basalto), que terminou no

início do Cretácio Inferior (Maack, 1981, p. 420).

Na microbacia do Ribeirão Taquara a altitude varia de 420m, na

região da foz, a 872m, na região das nascentes. O relevo pode ser considerado

ondulado na maior parte de sua área, o que corresponde à superfície de topografia

pouco movimentada, constituída por conjunto de colinas e/ou outeiros, apresentando

declives acentuados (8% a 20%). Os interflúvios são constituídos por topos

aplainados, com declividades menores que 3%. As regiões de baixas encostas e

fundos de vale também são superfícies de topografia horizontal, onde os

desnivelamentos são muito baixos. Na região das nascentes predominam relevos

planos a suave ondulados, nos quais a superfície topográfica é pouco movimentada,

com algumas colinas e presença de declives suaves (3% a 8%). Na porção oeste da

microbacia há uma faixa de relevo forte ondulado, formada por morros e/ou outeiros

alongados com fortes declives na média vertente (20% a 45%). Este tipo de

configuração topográfica também ocorre em áreas menores na porção leste da

microbacia e até mesmo próximo a foz do Ribeirão Taquara.

Os mapas e a imagem que seguem caracterizam a topografia da

microbacia do Ribeirão Taquara. Representam a distribuição da altimétrica (figura 3)

e da declividade na microbacia (figura 4).

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Figura 3 – Mapa hisométrico da microbacia do Ribeirão Taquara. Fonte: http//:seamless.usgs.gov. Org: GUERRA, J. B.

Figura 4 – Mapa de declividade e caracterização do relevo da microbacia do Ribeirão Taquara de acordo com classificação proposta por Lemos e Santos (1996). Fonte: http//:seamless.usgs.gov. Org: GUERRA, J. B.

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Figura 5 – Imagem sombreada (representação do relevo) da microbacia do Ribeirão Taquara. Fonte: http//:seamless.usgs.gov. Org: GUERRA, J. B.

De acordo com Maack (1981, p. 184) a microbacia do Ribeirão

Taquara está inserida na Zona Tropical Marginal do Paraná, com classificação

climática Cfa (h), e periodicamente Cwa, segundo Köppen. Este tipo de classificação

representa clima pluvial temperado, com temperaturas do mês mais frio variando

entre 18ºC e –3ºC e do mês mais quente maior que 22ºC, sendo sempre úmido com

chuva em todos os meses.

O símbolo Cfa caracteriza as regiões de matas tropicais e

subtropicais, como sendo quente-temperadas, sempre úmidas. Acrescentando a

esse símbolo a letra minúscula “h”, caracterizam-se as regiões das matas pluviais do

Norte do Paraná como variação de altitude (Maack, 1981, p. 191).

A zona climática do Norte do Paraná, da qual faz parte a microbacia

do Ribeirão Taquara, ocupa uma posição especial. Primitivamante, o rio

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Paranapanema constituía um nítido limite climático entre a mata pluvial-tropical e a

estepe arbustiva, seca no inverno, do Oeste do Estado de São Paulo. Desde que as

extensas matas primárias pluviais-tropicais desapareceram no Norte do Paraná,

dando lugar a cultura cafeeira, a zona Cwa (seca no inverno; tendo o mês mais

chuvoso do verão com dez vezes mais precipitação que o mês mais frio) de estepe

arbustiva, estende-se progressivamente duas a três vezes num período de dez anos

para o Sul do Rio Paranapanema, ocasionando os grandes extremos dentro da série

de um decênio. A região Norte do Paraná, na qual ocorrem extremos climáticos,

desde o desmatamento que cedeu lugar aos cafeeiros, é atingida durante um

decênio por duas ou três entradas da frente polar de ar frio em julho e agosto, as

quais determinam a queda da temperatura na segunda metade da noite de –0,1ºC a

-3ºC (Maack, 1981, p. 192).

De acordo com o levantamento de solos do estado do Paraná,

realizado pelo Instituto Agronômico do Paraná e pelo Serviço Nacional de

Levantamento de Solos - EMBRAPA, que gerou uma mapa pedológico na escala

1:300.000 (Brasil, Ministério da Agricultura, 1970) utilizado neste trabalho, há três

diferentes classes de solo na microbacia do Ribeirão Taquara: Latossolo Roxo, Terra

Roxa Estruturada e Brunizem Avermelhado. Embora a partir de 1999 a própria

EMBRAPA tenha sugerido nova denominação aos solos, como em termos

cartográficos ainda não tenha havido adequação dos mapas de solos iremos

continuar adotando a terminologia antiga como aparece no documento de 1970.

O Latossolo Roxo é constituído por solos minerais, não

hidromórficos, com horizonte B latossólico, formados a partir de rochas eruptivas

básicas. São de coloração arroxeada, muito profundos, porosos, muito friáveis,

acentuadamente drenados, com argila de baixa capacidade de troca catiônica e

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elevados teores de sesquióxidos de ferro, alumínio e óxidos de titânio e manganês.

Possuem seqüência de horizontes A, B e C, sendo que as transições são menos

nítidas entre A e B nas regiões de clima mais quente. A textura do horizinte A e B é

muito argilosa, ocasionando, portanto, um baixo gradiente textural. O horizonte A

apresenta estrutura pequena e/ou média granular, fraca ou moderadamente

desenvolvida, enquanto que no horizonte B é comum a existência de estruturas

fracas, de tamanho médio, em blocos subangulares e/ou forte ulrapequena granular.

Apesar da grande estabilidade da estrutura, o grau que une os agregados nos

horizontes inferiores do perfil é muito fraco. O alto grau de floculação das argilas

(100% no horizonte B), e alta porosidade (acima de 60%), a boa permeabilidade e o

fato de ocorrerem em áreas de relevo suave, conferem aos solos dessa classe uma

inerente resistência a erosão em estado natural.

As unidades de mapeamento de Latossolo Roxo identificadas no

mapa na área da microbacia são: Latossolo Roxo Eutrófico com A moderado, textura

argilosa, fase floresta tropical perenifólia, relevo suave ondulado e praticamente

plano (LRe1). Latossolo Roxo Eutrófico com A moderado, textura argilosa, fase

floresta subperenifólia, relevo suave ondulado e praticamente plano (LRe2).

Latossolo Roxo Distrófico com A moderado textura argilosa, fase floresta tropical

perenifólia, relevo suave ondulado (LRd1). Latossolo Roxo Distrófico com A

moderado, textura argilosa, fase floresta tropical subperenifólia, relevo suave

ondulado (LRd2). Latossolo Roxo Distrófico com A proeminente, textura argilosa,

fase floresta subtropical perenifólia, relevo suave ondulado (LRd4)

Sob a denominação de Terra Roxa Estruturada estão

compreendidos solos minerais, não hidromórficos, com horizonte B textural, com

argila de baixa capacidade de troca catiônica, predominantemente cauliníticas, com

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baixo gradiente textural (B/A), ricos em sesquióxidos de ferro e alumínio e derivados

de rochas eruptivas básicas. São de coloração avermelhada, profundos, argilosos,

bem drenados, porosos e com seqüência de horizontes A, Bt e C. A textura do

horizonte A é argilosa ou muito argilosa. A maior concentração de argila ocorre no

horizonte B2t, diminuindo gradativamente para o C. A estrutura do horizonte A é do

tipo granular, moderada e fortemente desenvolvida e a do Bt é prismática, composta

de blocos angulares e subangulares. A presença de um horizonte subsuperficial de

acumulação de argila, a grande diferença nas percentagens de argila dispersa em

água entre os horizontes A e Bt e a situação topográfica em que ocorrem, são

algumas das causas relacionadas com a menor resistência desses solos a erosão,

comparativamente aos Latossolos Roxos.

As unidades de mapeamento de Terra Roxa Estruturada existentes

no mapa na área da microbacia são: Terra Roxa Estruturada Eutrófica com A

chernozêmico, textura argilosa, fase floresta tropical perenifólia e relevo ondulado

(Tre1) . Terra Roxa Estruturada Distrófica com A proeminente, textura argilosa, fase

floresta subtropical perenifólia e relevo ondulado (TRd1).

Sob a denominação de Brunizem Avermelhado estão compreendidos

solos minerais, não hidromórficos, com horizonte A chernozêmico, com B textural,

argila de atividade alta e saturação de bases alta. No Estado do Paraná estes solos

são derivados de rochas eruptivas básicas. São de coloração avermelhada,

argilosos, bem drenados e com seqüência de horizontes A, Bt e C, bem

diferenciados. Estes solos são moderadamente profundos com espessura do solum

(A+Bt) estando compreendida entre 60 a 120 centímetros. A textura do horizonte

superficial enquadra-se normalmente na classe de franco argiloso e argila, enquanto

que os horizontes inferiores são argilosos ou muito argilosos. Os teores de silte são

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relativamente elevados. A estrutura da camada superficial é do tipo grande granular

fortemente desenvolvida e a do Bt é prismática, composta de blocos angulares e

subangulares, recoberta por filmes de argila (cerosidade), fortes e abundantes. São

características marcantes destes solos a alta fertilidade natural, o pH próximo da

neutralidade e a alta capacidade de troca de cátions. Com relação à constituição

mineralógica da fração argila, há predominância de caulinita sobre os outros

minerais como montmorilonita, mica, vermiculita. Por ocorrerem em áreas

descontínuas, muito declivosas e normalmente associadas a solos mais rasos e

pedregosos, a mecanização torna-se impraticável. Além disso, a declividade entre

15% e 40%, contribui para sua forte suscetibilidade à erosão. Os solos desta classe

não foram mapeados como unidade simples, estando sempre associados a Solos

Litólicos e Terra Roxa Estruturada.

A seguir está o mapa de solos da microbacia do Ribeirão Taquara.

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Figura 6 – Mapa de solos da microbacia do Ribeirão Taquara. Fonte: Brasil, Ministério da Agricultura, 1970. Org: GUERRA, J. B.

3.2 – Procedimentos metodológicos

Neste trabalho foi aplicada a Equação Universal de Perda de Solos

(EUPS), com a finalidade de avaliar-se o potencial natural erosivo da microbacia do

Ribeirão Taquara. Sendo assim, foram necessários à estimativa e mapeamento, e

em seguida o cruzamento, segundo as regras da referida equação, dos fatores

naturais da EUPS. Para executar estas etapas do trabalho foram utilizados o sistema

de informação geográfica Idrisi Kilimanjaro, o software de modelagem numérica de

terreno e geoestatística Surfer 8, o software USLE2D 4.1 e o Microsoft Excel.

Nos itens que seguintes são expostos os procedimentos

metodológicos e os materiais utilizados no desenvolvimento deste trabalho.

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3.2.1 – Materiais e procedimentos metodológicos utilizados para estimativa e

mapeamento do fator R (erosividade)

O trabalho teve início com a seleção dos postos metereológicos

com menor número de falhas. De acordo com estes critérios, dos 23 postos

disponíveis para área, foram escolhidos 19.

Os dados utilizados correspondem a totais diários de precipitação

com série histórica média de 1970 até 1999. A partir da análise dos dados foi

escolhida uma série histórica de 1979 até 1998, por se apresentar quase completa,

com poucas falhas.

Após a escolha dos postos, e a determinação da série histórica,

procedeu-se a organização do banco de dados de precipitação para cálculo do EI30 e

da erosividade, no software Microsoft Excel. Para o cálculo do índice de erosão

foram utilizadas equações de três diferentes regiões do Paraná desenvolvidas por

Rufino et. al. (1993).

A equação de regressão linear padrão utilizada é a seguinte

EI30 = a + b(p2/P)

na qual EI30, índice de erosão da chuva (MJ.mm/ha.h.ano), a é o coeficiente linear, b

é o coeficiente angular, p (mm) é a precipitação média mensal e P (mm) é a

precipitação média anual. No quadro que seguinte (quadro 2) estão relacionadas os

postos selecionados e os coeficientes linear e angular utilizados para o cálculo do

índice de erosão para cada um deles.

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COD NOME MUNICIPIO X

(UTM22S) Y (UTM22S) Coe.

linear (a)

Coe angular (b)

Entidade Responsável

2350015 USINA APUCARANINHA LONDRINA 508493.33 7375285.1 16,73 4,02 COPEL 2350016 CACHOEIRA SALTO FIU LONDRINA 505096 7375286.7 16,73 4,02 COPEL 2350020 ASSAI ASSAI 515330.46 7415872.5 16,73 4,02 SUDERHSA 2350035 VOLTA GRANDE LONDRINA 503403.78 7402964.4 16,73 4,02 SUDERHSA 2351008 FAZ UBATUBA APUCARANA 445545.83 7401018.6 16,73 4,02 IAPAR 2351035 SAO LUIZ LONDRINA 476179.49 7399255.2 16,73 4,02 SUDERHSA 2351037 CALIFORNIA CALIFORNIA 464305.23 7384469.7 16,73 4,02 SUDERHSA 2351048 ARAPONGAS ARAPONGAS 455722.82 7412123.8 16,73 4,02 SUDERHSA 2350032 CERRO LEAO ASSAI 515328.55 7414027.4 16,73 4,02 SUDERHSA 2351003 EST ACROCLIMATO LONDRINA 484661.89 7423252.8 16,73 4,02 IAPAR 2351038 FIGUEIRINHA CALIFORNIA 472804.03 7384488 16,73 4,02 SUDERHSA 2351011 FAZ CRIACAO ESTADO IBIPORA 498295.34 7426950.8 22,05 4,21 IAPAR 2351033 CAMBE CAMBE 471024.34 7425077.5 16,73 4,02 SUDERHSA 2351040 FABRICA DE PAPELAO TAMARANA 496603.53 7371596.8 16,73 4,02 SUDERHSA 2351053 SAO MARTINHO ROLANDIA 453951.04 7434259.9 16,73 4,02 SUDERHSA 2350037 TERRA NOVA S. J. DA

SERRA 518678.21 7369740 16,73 4,02 SUDERHSA

2351027 SAO JOSE MARILA DO S.

472838.6 7366036.1 19,55 4,94 SUDERHSA

2351064 SETE CASAS ARAPONGAS 467774.7 7353109.1 16,73 4,02 SUDERHSA 2350010 SALTO SAO PEDRO S. J. DA

SERRA 518690.09 7378965.9 16,73 4,02 SUDERHSA

Quadro 2 – Postos meteorológicos selecionados. Fonte: IAPAR; Rufino et. al. (1993)

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Figura 7 – Mapa de localização dos postos meteorológicos selecionados. Fonte: IAPAR. Org.: GUERRA, J. B.

No mapa de localização das estações meteorológicas (figura 7)

podemos observar a distribuição dos postos meteorológicos. Há somente três deles

no interior da microbacia: Estação São Luiz, Estação Califórnia e Estação

Figueirinha. O restante está distribuído em todo o entorno da microbacia, com maior

concentração a Norte a e Sudeste.

Os valores das médias mensais e anuais de precipitação, o índice

de erosão da chuva e a erosividade foram calculados no software Microsoft Excel.

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Depois de calculada a erosividade para cada um dos postos meteorológicos, os

dados foram transferidos para o software Surfer 8 para serem interpolados por

krigagem. Na krigeagem, o procedimento é semelhante ao de interpolação por

média móvel ponderada, exceto que aqui os pesos são determinados a partir de

uma análise espacial, baseada no semivariograma experimental. Além disso, a

krigeagem fornece, em média, estimativas não tendenciosas e com variância

mínima. A interpolação gerou uma grade numérica regular com valores de

erosividade com resolução de 89,96m. A partir daí foi possível produzir o mapa de

isoerodentes para a área da microbacia do Ribeirão Taquara.

3.2.2 – Materiais e procedimentos metodológicos utilizados para estimativa e

mapeamento do fator LS (fator topográfico)

Toda a geração dos produtos cartográficos relativos à topografia da

microbacia do Ribeirão Taquara teve como fonte de dados imagens do projeto

Shuttle Radar Topography Mission (SRTM). O Projeto SRTM faz parte de um

programa que visa examinar a superfície terrestre, oceanos, atmosfera, gelo e a vida

como um sistema integrado. Os dados da Shuttle Radar Topography Mission são o

resultado de um projeto cooperativo entre a NASA (National Aeronautics and Space

Administration), NGA (National Geospatial-Intelligence Agency), DLR (Agência

Espacial Alemã) e ASI (Agência Espacial Italiana) com o objetivo de gerar um

Modelo Digital de Elevação (MDE) da Terra através da interferometria. O sistema

SRTM apresenta a capacidade de registrar em simultâneo a fase e a intensidade,

permitindo não só determinar algumas características dos objetos através da

intensidade, como a distância entre o sensor e o objeto através da fase.

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56

O cálculo da diferença de fase, a partir de duas imagens obtidas com geometrias de

aquisição diferentes, para um elemento sobre a superfície terrestre, permite a

determinação automática da altitude. Esta técnica designa-se por interferometria.

O Jet Propulsion Laboratory (JPL) da NASA, na Califórnia é o

responsável pela pesquisa de qualidade dos dados produzidos, a NGA promove

processamentos adicionais para gerar produtos de mapeamento e o United States

Geological Survey (USGS) provê o arquivamento final e a distribuição dos dados do

SRTM.

O Projeto SRTM representa a primeira experiência de interferometria

a bordo de uma nave espacial. No período de 11 a 22 de fevereiro de 2000, a bordo

do Space Shuttle Endeavour, numa altitude de vôo de 233 km e uma inclinação de

57º, um conjunto composto por duas antenas coletou 14 Terabytes de dados que

permitiram a avaliação do perfil de altitude para criação de modelo digital tri-

dimensional da Terra entre as latitudes 60ºN e 58ºS.

Este arranjo de antenas consiste em uma principal, americana do

sistema SIR-C, que opera na banda C com comprimento de onda de 6,0cm colocada

no compartimento de carga da nave com função de transmissão e recepção, e outra

antena secundária, germano-italiana, do sistema X-SAR operando na banda X com

comprimento de onda de 3,1cm com função de recepção, colocada na extremidade

de uma haste de 60m de comprimento fora da nave, configurando a linha de base

interferométrica que garante a observação a partir de dois pontos ligeiramente

diferentes (Koch; Heipke; Lohmann, apud Crepani; Medeiros, 2003).

A alternativa para se obter imagens fotográficas derivadas de dados

SRTM foi utilizar os dados disponíveis para download gratuito em

http://seamless.usgs.gov, na forma de Modelos Numéricos do Terreno com

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resolução de 90m. O recorte da área de interesse, para geração da grade numérica

com valores de altitude em metros, foi realizado a partir da entrada das coordenadas

geográficas do retângulo envolvente.

O uso das imagens SRTM deveu-se a falta de dados topográficos

digitalizados da área de estudos e a compatibilidade com o nível de detalhe

requerido pela escala de trabalho, além de ser um dado confiável e de fácil

manipulação.

O primeiro passo para trabalhar com as imagens SRTM foi a

conversão do sistema de coordenadas de WGS para UTM, pois todos os outros

dados já estavam georeferenciados neste sistema, na zona 22 (meridiano central

51º W) e datum horizontal SAD69.

A etapa seguinte foi de eliminação de ruídos da imagem. Na imagem

utilizada no trabalho, alguns pixels tinham valores absurdos (-9999m), que não

correspondiam à realidade. Desta maneira, foi necessário eliminá-los e realizar uma

interpolação por krigagem, executada no software Surfer 8, porém com a

manutenção da resolução original (90m), para que os valores retirados fossem

substituídos por outros mais coerentes.

Em seguida foi delimitada a área da microbacia do Córrego Taquara

com base na imagem SRTM. Esta etapa foi realizada no software Idrisi Kilimanjaro,

com uso do módulo watershed. A geração dos mapas hipsométrico e clinográfico da

microbacia, além de uma imagem sombreada, a qual facilita a visualização do

relevo, também foi realizado no software Idrisi Kilimanjaro. A caracterização do

relevo foi realizada com a classificação da declividade definida por Lemos e Santos

(apud. Silva et. al., 2004, 37).

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A estimativa e mapeamento do fator topográfico (LS) da Equação

Universal de Perda de Solos foram obtidos com uso do software USLE2D, o qual é

composto por vários algoritmos computacionais de cálculo automatizado e

compatível com o Idrisi 32. No uso do USLE2D, foi aplicada a seguinte equação de

Wischmeier e Smith (1978) para cálculo do fator S (declividade):

S = 65,41 sen2 ө + 4,56 sen ө+ 0,065

na qual S é o fator declividade (adimensional) e ө é a declividade

(%). A estimativa do fator L (comprimento de encosta) foi executada com base em

um modelo hidrológico de decomposição de fluxo, o qual considera a área de

contribuição da bacia e os fluxos convergentes, paralelos e divergentes. O aplicativo

requisita, para o cálculo do fator LS, o arquivo do modelo digital de elevação

juntamente com um segundo arquivo o qual contém a área da parcela, o que define

a área da bacia.

O uso do software USLE2D, e do cálculo automatizado, deveu-se

principalmente a facilidade de operação, compatibilidade com sistema de informação

geográfica e aos bons resultados apresentados por alguns pesquisadores na

obtenção do fator LS. Schulz e Silva (2003) e Fujihara (2002) alcançaram resultados

satisfatórios ao aplicarem os algoritmos contidos no aplicativo em seus estudos.

Porém ambos indicaram que os valores resultantes podem ser superestimados. Isto

se deve a não adaptação dos algoritmos às características topográficas encontradas

no Brasil. Este fato reflete principalmente no fator L, pois as equações utilizadas

foram desenvolvidas considerando declives de pouco mais de 100m, enquanto que

no Brasil são facilmente encontradas encostas com quilômetros de extensão.

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3.2.3 - Materiais e procedimentos metodológicos utilizados para o mapeamento

do fator K (erodibilidade)

O fator K foi obtido a partir da atribuição dos valores de erodibilidade

correspondente a cada classe de solo da área de estudos. Os valores de

erodibilidade foram obtidos por Baptista (1997) utilizando o nomograma

desenvolvido por Wischmeier et al (1978).

Para tanto, foi utilizado um mapa de solos da região Nordeste do

Paraná na escala 1:300.000 em meio digital, originado a partir de levantamento de

solos realizado pelo Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) e pelo Serviço de

Levantamento de Solos - EMBRAPA na década de 1970. O mapa, em formato

vetorial, foi convertido para formato raster para que os valores de erodibilidade

pudessem ser atribuídos a cada classe e para que o cruzamento com os outros

mapas pudesse ser feito.

A inexistência de valores de variáveis utilizadas para estimar a

erodibilidade dos solos nos relatórios dos levantamentos de solos da região não

permitiu o cálculo deste fator. Este fato contribuiu para uma grande redução da

precisão do trabalho, o que tornou irrelevante seu caráter quantitativo.

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3.2.4 – Procedimento utilizado para estimativa e mapeamento do potencial

natural erosivo (PNE)

O potencial natural erosivo (PNE) representa o potencial erosivo da

microbacia do Ribeirão Taquara relativo somente aos fatores naturais da EUPS

(erosividade, erodibilidade, e fator topográfico), ou seja, não considera os fatores

antrópicos (uso e manejo do solo e práticas conservacionistas), como se o terreno

estivesse descoberto e nenhuma prática conservacionista fosse aplicada. Portanto,

seu valor é estimado com a equação:

PNE=R.K.L.S

Na qual PNE é o potencial natural erosivo (t/ha), R é a erosividade

(MJ.mm/ha.h.ano), K é a erodibilidade (th/MJmm), L é o fator comprimento de

encosta (adimensional) e S é o fator declividade (adimensional). Para realização da

estimativa e mapeamento do potencial natural erosivo, procedeu-se o cruzamento

das imagens referente aos fatores naturais da EUPS com uso do módulo image

calculator.

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4 - APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS OBTIDOS

4.1 – Erosividade (fator R)

A partir da tabulação dos dados pluviométricos coletados nas 19

estações de influência sobre área de drenagem do Ribeirão Taquara, verificou-se

que no período de 20 anos a precipitação média anual foi de 1663,5mm, sendo que

o maior índice médio mensal ocorre em janeiro com 217,6mm e o menor índice

médio mensal em agosto com 53,4mm. A precipitação tem maior concentração no

verão, entre os meses de dezembro e março, intervalo no qual chove 45,42% do

volume total.

É possível verificar que existe uma variação do índice EI30 entre

7.300 MJ.mm/ha.h.ano, na região da foz do Ribeirão Taquara, próximo ao posto

pluviométrico Volta Grande, e 9500 MJ.mm/ha.h.ano, na região extremo centro-sul

da microbacia, no município de Marilândia do Sul. Esses índices estão de acordo

com os encontrados por Rufino et. al. (1993) para esta região do Estado do Paraná.

O fator de erosividade médio para 20 anos é 8292,98

MJ.mm/ha.h.ano. Entre os meses de dezembro e março está concentrado pouco

mais da metade (50,72%) do potencial erosivo total anual. Neste intervalo é

necessária maior atenção com a adoção de práticas que procuram minimizar as

perdas de solo.

A estimativa e mapeamento do EI30 e da erosividade são de suma

importância para o desenvolvimento de projetos de planejamento conservacionista

em microbacias, pois estes índices expressam a capacidade que a chuva tem de

erodir o solo. No caso da microbacia do Ribeirão Taquara este trabalho é ainda mais

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importante, pois segundo classificação proposta por Carvalho (1994), a erosividade

da microbacia pode ser caracterizada como forte em toda sua extensão (classe de

erosividade com valores entre 7300 MJ.mm/ha.h.ano e 9810 MJ.ma.h.ano).

Nas tabelas que seguem abaixo são apresentados os dados

pluviométricos (tabela 1) e os valores do índice de erosão e de erosividade (tabela 2)

de cada posto meteorológicos.

NOME JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ ANUAL USINA APUCARANINHA 207,0 188,3 139,4 122,2 130,2 115,2 64,7 58,9 142,9 160,0 159,7 195,9 1684,3 CACHOEIRA SALTO FIU 231,3 188,2 137,4 116,2 133,3 117,3 62,6 58,9 138,8 146,0 154,4 214,6 1698,8 ASSAI 210,5 152,3 142,3 113,5 122,7 96,9 47,2 42,2 115,0 131,0 134,0 188,5 1496,0 VOLTA GRANDE 188,1 171,4 124,0 114,0 119,8 91,0 48,9 41,9 113,5 120,4 116,7 180,4 1430,2 FAZ UBATUBA 198,2 172,9 149,2 125,4 145,4 118,7 56,4 57,0 140,2 161,3 152,5 196,5 1673,7 SAO LUIZ 218,8 187,9 157,9 125,4 127,6 133,2 52,5 47,7 139,0 155,3 158,8 204,6 1708,4 CALIFORNIA 224,4 163,6 148,5 123,4 136,0 106,4 53,9 58,0 139,2 152,5 133,6 195,6 1635,0 ARAPONGAS 202,9 200,2 171,3 133,5 123,5 118,8 58,3 50,9 140,8 150,0 161,4 212,5 1724,1 CERRO LEAO 214,9 171,8 145,9 127,9 134,4 109,3 44,5 43,0 126,3 135,0 152,2 203,5 1608,6 EST ACROCLIMAT 202,9 196,2 144,2 124,7 120,8 102,9 51,3 50,4 124,6 136,5 169,0 219,8 1643,3 FIGUEIRINHA 242,3 202,3 174,7 115,0 142,6 114,4 58,7 58,5 141,3 166,3 152,1 216,3 1784,6 FAZ CRIACAO ESTADO 225,6 183,1 139,1 112,9 118,3 95,0 45,7 42,7 121,5 133,5 158,0 195,1 1570,5 CAMBE 213,1 180,8 134,0 108,9 114,5 99,8 49,6 53,0 123,2 136,1 140,8 217,1 1571,0 FABRICA DE PAPELAO 248,4 210,3 170,9 125,3 141,4 128,4 61,0 65,8 156,0 167,4 172,5 221,6 1869,0 SAO MARTINHO 199,7 183,0 131,1 120,4 110,9 101,7 46,2 44,1 123,8 157,6 159,1 190,9 1568,6 TERRA NOVA 258,9 205,1 155,6 117,5 150,0 122,1 83,6 66,1 163,4 167,2 158,3 246,4 1894,1 SAO JOSE 231,2 196,6 160,0 137,2 151,5 117,8 62,0 59,6 152,2 160,3 161,1 195,9 1785,5 SETE CASAS 187,4 183,7 126,6 109,7 129,1 126,3 67,1 64,7 134,2 137,3 148,2 181,3 1595,6 SALTO SAO PEDRO 228,9 191,9 148,6 117,8 129,9 111,1 70,3 50,7 115,9 153,7 129,2 217,0 1664,9 MÉDIA 217,6 185,8 147,4 120,6 130,6 111,9 57,1 53,4 134,3 148,8 151,1 204,9 1663,5 REPRESENTATIVIDADE (%)

13,08 11,17 8,86 7,25 7,85 6,73 3,43 3,21 8,07 8,95 9,09 12,32 100

Tabela 1 - Médias mensais e anuais de precipitação (mm) nas estações selecionadas. Fonte: IAPAR.

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Tabela 2 - EI30 (TM.mm/ha.h.ano) e erosividade mensal e anual (penúltima coluna – sistema métrico - TM.mm/ha.h.ano – última coluna – sistema internacional – MJmm/hahano).

NOME EI30J EI30F EI30M EI30A EI30M EI30J EI30J EI30A EI30S EI30O EI30N EI30D EROS. SIST. INT.

USINA APUCARANINHA

119,0 101,3 63,1 52,4 57,2 48,4 26,7 25,0 65,5 77,8 77,6 108,3 822,3 8067,2

CACHOEIRA SALTO FIU

143,3 100,5 61,4 48,7 58,8 49,3 26,0 24,9 62,3 67,2 73,1 125,7 841,2 8252,2

ASSAI 135,8 96,2 71,1 51,4 57,2 41,9 22,7 21,5 52,3 62,8 65,0 112,2 790,1 7750,6 VOLTA GRANDE 116,2 99,3 60,0 53,3 57,1 40,0 23,4 21,7 52,9 57,5 55,0 108,2 744,6 7304,6 FAZ UBATUBA 111,0 88,5 70,2 54,5 67,5 50,6 24,4 24,5 64,0 79,2 72,6 109,5 816,5 8009,9 SAO LUIZ 129,3 99,8 75,4 53,7 55,0 58,5 23,2 22,1 62,2 73,4 76,0 115,2 843,9 8278,7 CALIFORNIA 140,5 82,5 71,0 54,2 62,2 44,6 23,9 25,0 64,4 73,9 60,6 110,8 813,5 7980,0 ARAPONGAS 112,7 110,2 85,2 58,3 52,3 49,7 24,6 22,8 63,0 69,2 77,5 122,0 847,4 8312,7 CERRO LEAO 132,1 90,5 69,9 57,6 61,8 46,6 21,7 21,4 56,6 62,3 74,6 120,2 815,3 7998,1 EST ACROCLIMAT 117,5 135,2 67,6 54,8 52,4 42,6 23,2 22,9 54,7 62,3 86,6 134,9 854,8 8385,6 FIGUEIRINHA 149,0 108,9 85,5 46,5 62,6 46,2 24,5 24,4 61,7 79,0 68,9 122,1 879,3 8626,3 FAZ CRIACAO ESTADO

158,5 111,9 73,9 56,2 59,5 46,3 27,6 26,9 61,6 69,9 89,0 124,0 905,4 8882,2

CAMBE 132,9 100,4 62,7 47,1 50,3 42,2 23,0 23,9 55,6 64,2 67,4 137,4 807,1 7917,3 FABRICA DE PAPELAO

149,5 111,8 79,6 50,5 59,8 52,2 24,7 26,0 69,1 77,0 80,7 122,3 903,2 8860,5

SAO MARTINHO 118,9 102,5 60,8 53,9 48,2 43,3 22,2 21,7 56,0 80,4 81,6 110,2 799,7 7845,3 TERRA NOVA 159,0 106,0 68,1 46,0 64,5 48,3 31,6 26,0 73,4 76,0 69,9 145,6 914,4 8970,6 SAO JOSE 167,5 126,5 90,4 71,6 83,0 57,9 30,2 29,4 83,7 90,6 91,4 125,7 1047,9 10280,4 SETE CASAS 105,2 101,8 57,1 47,1 58,7 56,9 28,1 27,3 62,1 64,2 72,0 99,6 780,1 7652,3 SALTO SÃO PEDRO

143,2 105,6 70,0 50,3 57,5 46,5 28,7 22,9 49,2 73,8 57,0 130,4 835,1 8192,1

MÉDIA 133,7 104,2 70,7 53,0 59,2 48,0 25,3 24,2 61,6 71,6 73,5 120,2 845,4 8293,0 (%) 15,8 12,3 8,4 6,3 7,0 5,7 3,0 2,9 7,3 8,5 8,7 14,2 100,0 100,0

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Figura 8 – Mapa de erosividade da microbacia do Ribeirão Taquara. Fonte: IAPAR. Org: GURRA, J. B. 4.2 – Erodibilidade (fator K)

As nove unidades de mapeamento foram agregadas em duas

classes de erodibilidade, cada uma representando um valor. Aos Latossolos Roxos,

tanto distróficos quanto eutróficos (LRd1, LRd2, LRd4, LRe1 e LRe2) e as Terras

Roxas Estruturadas, tanto eutróficas quanto distróficas (TRe e TRd), foi atribuído

0,013 th/MJmm, de acordo com Baptista (1997). Esta classe de erodibilidade ocupa

uma área de 611,27km2, o representa 68,15% da área da microbacia do Ribeirão

Taquara.

Aos solos Brunizem Avermelhado foi atribuído valor de erodibilidade

igual a 0,038 th/MJmm, de acordo com Baptista (1997). Esta classe de erodibilidade

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ocupa uma área de 285, 63Km2, o que representa 31,85% da área total da

microbacia.

Figura 9 – Mapa de erodibilidade da microbacia do Ribeirão Taquara. Fonte: Baptista (1997). Org: GUERRA, J. B.

4.3 – Fator topográfico (LS)

A topografia é um dos fatores mais importantes em relação à erosão

de solos. Como observamos no mapa de declividade (figura 4), o relevo da

microbacia do Ribeirão Taquara é predominantemente ondulado (ocupa uma área

de 512,05Km2, o que representa 57,56% da área da microbacia) com grau de

inclinação do terreno variando entre 8% e 20%, o que significa risco a erosão

hídrica. Ainda há áreas na microbacia, principalmente na região Oeste, com relevo

forte ondulado (esta classe ocupa uma área de 73,3km2, o que representa 8,20% da

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área da microbacia), com grau de inclinação de terreno entre 20% e 45%, o que as

torna muito suscetíveis à perda de solos.

O fator topográfico também é composto pelo comprimento de

encosta, porém este não foi mapeado neste trabalho. Entretanto, Vizintim e Barros

(1991, p. 110), em estudo realizado sobre o macrozoneamento do Município de

Londrina, apresentam dados que podem servir como indicativos sobre este aspecto

da topografia da microbacia do Ribeirão Taquara. No trabalho destes pesquisadores

podemos observamos que o relevo da área da microbacia do Ribeirão Taquara

pertencente ao município de Londrina foi classificado como ondulado, e

caracterizado por ter comprimentos curtos, com apenas alguns centenas de metros.

Este fato amenizaria o potencial erosivo da topografia na área de estudos. Porém

para se confirmar esta hipótese seriam necessários estudos mais detalhados a

respeito; em escalas compatíveis.

O fator topográfico, estimado e mapeado de maneira automatizada,

apresentou valores condizentes com as características da topografia da microbacia

do Ribeirão Taquara, já expostas e analisadas anteriormente. Porém, ainda assim,

esses valores foram superestimados pelo sistema de cálculo do fator LS. Podemos

notar este fato ao observarmos o mapa de fator topográfico (figura 10), que

apresenta ocorrência de valores altos (acima de 10) em diversas partes da

microbacia, principalmente nas médias vertentes. Os valores de LS variam entre 0,1

e 111,89, com média de 8,68 e desvio padrão igual a 7,74.

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Figura 10 – Mapa de fator topográfico (LS) da microbacia do Ribeirão Taquara. Fonte: http//:seamless.usgs.gov. Org: GUERRA, J. B.

Porém, ao analisarmos a distribuição dos valores de LS (figuras 10 e

11) podemos perceber que há predomínio dos valores menores. Os pixels com valor

igual a 0,1 são os que ocorrem com maior freqüência, representando cerca de 12%

do total. Os pixels com valor igual ou maior que 10 têm representatividade igual ou

menor do que cerca de 5%.

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Figura 11 – Histograma dos valores do fator LS (valores de 0.1 a 111,89).

Figura 11a – Histograma dos valores do fator LS (valores de 0.1 a 30.1).

4.4 – Potencial natural erosivo (PNE)

O fator topográfico é o principal determinante de perda de solos

quando da aplicação da Equação Universal de Perda de Solos. A erodibilidade

também é outro fator com forte controle sobre a erosão. A interação desses dois

fatores é marcada nos resultados de estudos de perdas de solos com uso da EUPS.

Os mapas de potencial natural erosivo e de perda de solos, em t/ha, normalmente

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apresentam feições e distribuição dos valores que remete ao resultado da interação

erodibilidade/LS, mas ainda assim com maior destaque para o fator topográfico.

No caso da microbacia do Ribeirão Taquara isso também acontece.

A ocorrência dos solos Brunizem Avermelhado em declives acentuados, que

coincidem com áreas com altos valores de LS, torna o terreno muito suscetível a

erosão. Esses solos são moderadamente profundos e têm horizonte B textural,

normalmente com estrutura prismática. Quando com declividades mais acentuadas,

os Brunizem Avermelhado ocorrem em associação aos solos Litólicos, que são

pouco espessos e pedregosos, o que contribui para maiores perdas de solo.

Ao observarmos o mapa de potencial natural erosivo (figura 12)

percebemos que as maiores perdas de solo estão exatamente nas áreas de

intersecção entre os Brunizem Avermelhado e os valores de fator topográfico igual

ou maiores que 10. As áreas consideradas com potencial natural erosivo baixo,

segundo classificação de Valério Filho (1996), ocupam uma área de 292,59km2, o

que representa 28,16% da área total. As áreas de potencial moderado se estendem

por 170,43km2, o que representa 19% da microbacia do Ribeirão Taquara. A classe

de potencial natural erosivo moderado a forte ocupa uma área de 203,93km2

(22,73%). As áreas com perdas de solo maiores que 1600t/ha, consideras com

potencial natural erosivo forte, abrangem uma área de 231,76km2, o que representa

25,83% da microbacia.

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Figura 12 – Mapa de potencial natural erosivo da microbacia do Ribeirão Taquara de acordo com classificação proposta por Valério Filho (1994). Org: GUERRA, J. B.

A ocorrência expressiva de potencial natural erosivo forte deve-se

principalmente às características topográficas do terreno, que podem restringir seu

uso. Porém, a estimativa exagerada do fator topográfico, feita de maneira

automatizada, teve influência nos valores finais da perda de solos.

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5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

O primeiro passo no desenvolvimento de um projeto de

planejamento ambiental e de uso do solo é o conhecimento das características dos

fatores naturais que controlam os processos do meio. Neste trabalho objetivou-se

compreender e analisar os fatores naturais que controlam os processos erosivos

hídricos laminares de maneira integrada, de modo a entender a dinâmica erosiva

natural na área de estudos, com a finalidade de gerar informação que possa

subsidiar futuros projetos de planejamento conservacionista na área de estudos.

Para tanto, utilizou-se da Equação Universal de Perda de Solos,

modelo empírico de predição de erosão, que permite a quantificação das perdas por

unidade de área em determinado período de tempo, e possibilita a identificação dos

fatores que mais influenciam o processo erosivo e a classificação dos terrenos de

acordo com seu potencial natural erosivo, ou seja, sua suscetibilidade natural à

perda de solos.

Deste modo, os fatores estudados foram erosividade, erodibilidade e

fator topográfico. Os índices de erosividade da microbacia do Ribeirão Taquara são

classificados, de acordo com Carvalho (1994), como fortes, o que se deve

principalmente a elevada intensidade das chuvas nesta área, principalmente no

verão.

A erodibilidade é baixa na maior parte da bacia, onde há ocorrência

de Latossolo Roxo e Terra Roxa Estruturada, solos pouco suscetíveis a erosão que

normalmente se encontram em terrenos pouco declivosos. Porém, há porções

suscetíveis da microbacia onde ocorrem os Brunizem Avermelhado, em alguns

casos associados aos solos Litólicos. Estes apresentam altos índices de

erodibilidade, devido principalmente ao caráter textural do horizonte B, a estrutura

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prismática e subangular do mesmo horizonte subsuperficial, associação com outros

solos pouco espessos e pedregosos e por normalmente ocorrerem em áreas

descontínuas, muito declivosas.

O destaque de valores altos de fator LS, em boa parte da microbacia

do Ribeirão Taquara, deve-se principalmente a característica ondulada do relevo, e

até fortemente ondulada, em algumas partes em média vertente. Porém, os valores

menores que 10 representam a maior parte do total estimado, cerca de 70%.

A partir da estimativa e mapeamento dos fatores naturais foi possível

avaliar o potencial natural erosivo da área. Dentre as classes propostas por Valério

Filho (1996), a que ocupa maior parte da microbacia é a classe de potencial fraco

(28,16%), seguida da classe de potencial natural erosivo forte (25,83%). A classe de

potencial forte abrage, principalmente áreas onde há intersecção entre os solos

Brunizem Avermelhado e os valores de Fator LS maiores que 10. A importância

deste trabalho está em identificar e mapear essas áreas, as quais devem ser

preservadas do uso agrícola intensivo e mecanizado. Sobre essas áreas devem-se

desenvolver estudos mais detalhados, que abordem outros aspectos, como o uso do

solo, para que se possa promover uma ocupação mais adequada e, que se possam

recuperar possíveis áreas já degradadas.

Mesmo tendo algumas limitações, o uso da Equação Universal de

Perda de Solos se mostrou bastante eficiente na identificação de áreas com alto

potencial natural erosivo. Sua aplicação é relativamente fácil, em relação a outros

modelos mais atuais, pois suas variáveis já são bem conhecidas e estudadas.

Porém, o uso de valores genéricos de erodibilidade, devido a impossibilidade de se

levantar as variáveis e a inexistências de dados cartográficos e de análise de solos

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mais precisos e detalhados, diminuiu a precisão do trabalho, o que limita seu caráter

quantitativo.

A associação da EUPS a um Sistema de Informação Geográfica foi

de grande valia para este trabalho. O uso do SIG Idrisi Kilimanjaro permitiu a

estimativa e mapeamento dos dados de maneira mais simples e rápida. Em casos

nos quais se trabalha com grande volume de dados com caráter espacial a aplicação

do SIG é imprescindível.

O uso do cálculo automatizado neste trabalho também demonstrou

resultados positivos. Mesmo tendo superestimado os valores de LS (o que é normal

para as condições topográficas do Brasil, mesmo quando se calcula o fator

topográfico de maneira manual), o uso do software USLE2D com a equação de

Wischimeier (1978) é recomendado por ter aplicação simples e apresentar

resultados satisfatórios rapidamente, desde que os dados de entrada sejam

suficientemente confiáveis.

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Figura 13 – Síntese dos resultados obtidos. Org.: GUERRA, J. B.

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6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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