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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO TRIÂNGULO MINEIRO Campus Uberaba MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS FERNANDA MARIA FARIAS CUNHA AVALIAÇÃO DO MANEJO PRÉ-ABATE E QUALIFICAÇÃO DE FUNCIONÁRIOS EM RELAÇÃO AO BEM-ESTAR ANIMAL UBERABA, MG 2014

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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO

TRIÂNGULO MINEIRO – Campus Uberaba

MESTRADO PROFISSIONAL EM CIÊNCIA E TECNOLOGIA DE ALIMENTOS

FERNANDA MARIA FARIAS CUNHA

AVALIAÇÃO DO MANEJO PRÉ-ABATE E QUALIFICAÇÃO DE

FUNCIONÁRIOS EM RELAÇÃO AO BEM-ESTAR ANIMAL

UBERABA, MG

2014

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FERNANDA MARIA FARIAS CUNHA

Avaliação do manejo pré-abate e qualificação de funcionários em relação ao bem-estar

animal

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Ciência e Tecnologia de

Alimentos, do Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro,

como requisito para conclusão e obtenção do

Título de Mestre em Ciência e Tecnologia de

Alimentos.

Orientador:

Prof. Paulo Cezar Bastianello Campagnol

UBERABA, MG

2014

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FERNANDA MARIA FARIAS CUNHA

AVALIAÇÃO DO MANEJO PRÉ-ABATE E QUALIFICAÇÃO DE FUNCIONÁRIOS

EM RELAÇÃO AO BEM-ESTAR ANIMAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Ciência e Tecnologia de

Alimentos, do Instituto Federal de Educação,

Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro,

como requisito para conclusão e obtenção do

Título de Mestre em Ciência e Tecnologia de

Alimentos.

Aprovada em 4 de Dezembro de 2014

Banca Examinadora

______________________________________________________________________

Prof. Dr. Paulo Cezar Bastianello Campagnol (Orientador) – IFTM, Campus Uberaba

______________________________________________________________________

Prof. Dr. Edsom Roberto Lorenci Toneto

______________________________________________________________________

Profa. Dra. Fernanda Barbosa Borges Jardim – IFTM, Campus Uberaba

UBERABA, MG

2014

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“Quando me perguntam como posso justificar a

matança de animais para o consumo de sua

carne, minha resposta é a seguinte: o gado não

teria nascido se não os tivéssemos criado com

fins alimentícios. Devemos dar a eles uma vida

boa e uma morte sem dor.”

Temple Grandin

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Essa dissertação é dedicada à minha filha Eduarda Maria Quatrin.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, quero agradecer a Deus por me dar forças, esperança, me abençoar e me dar o

dom da vida.

Gostaria de agradecer também a minha filha Eduarda Maria Quatrin, que quando nos

despedíamos para eu viajar para Uberaba, através do seu olhar me enchia de força e

determinação para cumprir com os meus deveres o mais rápido e o melhor possível e assim

poder voltar e reencontra-la. Filha amada, que me fez acreditar em meus sonhos e ideais.

Filha querida, que entendeu e aceitou a minha ausência e se orgulhou das minhas vitórias

durante esse caminhar. Filha linda, que a cada retorno meu, me renovava às energias com seu

amor e carinho. Filha iluminada, que é minha fonte inspiração.

À minha mãe Euza Maria Farias Araujo Cunha, meu mais sincero e eterno agradecimento

pelo apoio, pelo incentivo, por acreditar em mim, por não me deixar desistir, por estar sempre

ao meu lado, por me dar exemplo de ética e determinação, por ser meu exemplo de mãe, de

mulher, por ser minha mãe e por me amar incondicionalmente.

Ao meu pai Walterson Araujo Cunha, o meu eterno agradecimento pelo incentivo, pelo

exemplo, pelo apoio nas horas difíceis, por ser meu exemplo de profissional digno e ético,

pelo amor incondicional e por ser meu pai.

À minha avó Maria de Jesus Santana Farias, que me colocou em suas orações e que me serve

de exemplo como mulher, mãe e como exemplo de pessoa integra e honesta. Vó Maria, por

favor, desculpe minha ausência.

Ao meu avô, José Menino de Farias, que está ao lado do Senhor há 18 anos, mas que em vida

me ensinou ser determinada e me ensinou amar os bovinos.

Ao meu avô Orcelino José da Cunha e a minha avó Guiomar Araujo Cunha, que agora se

encontram ao lado do Criador, mas quando em vida me deram exemplo de dignidade e

determinação.

Ao meu tio Jaffer Fernandes de Farias, que sempre acreditou em mim e sempre me

incentivou.

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Ao meu amigo, ex-marido e pai da minha filha, Agnaldo Quatrin, pelo apoio durante esse

trajeto e por ter sido pai e mãe da nossa filha durante as minhas ausências por causa dos

estudos.

Ao William Costa, pessoa especial pela qual tenho enorme carinho e que me ajudou a ter

serenidade quando escrevia minha discussão.

À Jailda Maria Muniz, por ser uma amiga maravilhosa e por ter me ajudado nos momentos

difíceis. Jailda, obrigada por me acolher em sua casa.

Aos meus familiares, que aceitaram e entenderam a minha ausência.

Aos amigos, que me trouxeram um sorriso acalentador nos momentos difíceis.

Ao Professor Doutor Paulo Cézar Bastianello Campagnol, que acreditou no meu projeto, me

apoiou, me orientou com grande maestria e me confortou, mesmo sem saber, com suas

palavras nos momentos difíceis.

Ao Professor Doutor Edsom Roberto Lorenci Toneto, que em momentos nos quais achava

que nada daria certo me acalmou com sábias palavras.

Aos alunos do curso de Zootecnia do IFTM- Uberaba, Marco Aurélio da Silva Rocha Junior,

Altieries Gabriel Garcia Nepomuceno, Carolina Moreira Araújo, Erica Reis Carvalho, que me

auxiliaram nas coletas de dados. Vocês foram os meus olhos e cumpriram com louvor as

minhas solicitações. Sei que estão faltando nomes dos integrantes da minha equipe. Por favor,

me perdoem essa minha falha. Esses últimos dias foram difíceis para mim. Mas tenham

certeza, vocês estarão sempre na minha memória.

Ao frigorífico onde foi desenvolvido o estudo.

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RESUMO

Durante o manejo pré-abate os bovinos são expostos a vários fatores estressantes que irão

interferir diretamente na qualidade final da carne, pois as reservas de glicogênio dos músculos

dos animais podem ser parcialmente ou totalmente exauridas nesse período. A carne oriunda

desses animais será escura, com uma alta capacidade de retenção de água, seu pH será maior

que 5,8 e sua vida útil será menor. O bem-estar animal é indispensável aos profissionais que

trabalham em torno da interação entre humanos e animais. O objetivo desse estudo foi

verificar e avaliar os procedimentos de manejo pré-abate e qualificar os funcionários visando

à melhoria do Bem Estar Animal. O estudo foi conduzido em um frigorífico localizado no

estado de Minas Gerais, em dois períodos específicos que foram antes e após o treinamento

dos funcionários, sendo nesses períodos avaliados dois lotes de 100 animais que eram

compostos por bovinos independentes de raça, sexo, idade e procedência. No frigorífico,

durante o estudo, foram acompanhados: o tempo de espera nos currais, a condução dos

bovinos dos currais de espera até o boxe de atordoamento a insensibilização e sangria. Foram

também avaliados os hematomas das carcaças, com o intuito de investigar a procedência das

contusões e medição do pH após 24 horas. Para essas avaliações foram desenvolvidos dois

check lists, um baseado nos conceitos de bem-estar animal e outro baseado na Instrução

Normativa N° 3 de 7 de janeiro de 2000 e Instrução Normativa N° 56 de 6 de novembro de

2008, ambas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e uma planilha de

avaliação de hematomas em carcaças. Com a aplicação dos check lists, foram apontados os

problemas existentes no manejo e na infraestrutura do estabelecimento. Em relação à

infraestrutura, foram encontrados buracos e grande acúmulo de água no piso de todo o trajeto

entre os currais e o box de insensibilização, os quais podem ter ocasionado escorregões e

quedas aos animais avaliados. Quando avaliado o manejo dos bovinos, observou-se que os

manejadores usavam o bastão elétrico de forma compulsiva. O Treinamento ministrado aos

funcionários foi focado nos conceitos de bem-estar animal e em manejo racional. Não houve

melhorias na infraestrutura da primeira avaliação para a segunda avaliação. Em relação ao

manejo racional, não houve melhoria no comportamento dos funcionários, pois os mesmos se

recusavam a seguir os conceitos de bem-estar animal. Em relação à avaliação dos hematomas

das carcaças e seu pH final, verificou-se que existem sérios problemas relacionados com

transporte e manejo pré-abate na instalação frigorifica. Os resultados desta pesquisa indicaram

que de nada adiantará treinar os funcionários em relação ao manejo racional do gado se os

seus superiores e os funcionários responsáveis por monitorar as operações realizadas por eles

não se comprometerem com os conceitos de bem-estar animal que dever ser respeitados na

hora do abate.

Palavras chave: Bem estar animal, abate humanitário, qualidade da carne, hematomas em

carcaças, check list de bem-estar animal.

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ABSTRACT

During the pre-slaughter management, the cattle are exposed to several stressing factors that

will directly affect the final quality of the meat because the glycogen stores of the animals’

muscles may be partially or fully depleted in this period. The result meat from these animals

will have dark color, with a high capacity to retain water; its pH will be higher than 5.8 and it

will have a lower shelf life. The animal welfare is essential to those professionals who work

with the interaction between animals and humans. The aim of this study was to verify and

evaluate the pre-slaughter handling procedures and trained staff in order to improve animal

welfare. The study was conducted in a slaughterhouse located in the state of Minas Gerais in

two specific periods, before and after the training of employees, and two batches of 100

animals, composed of cattle regardless breed, sex, age and origin, were evaluated during these

periods. At the slaughterhouse, during this study, it was checked: the waiting time in the

stalls and the managing of the cattle from the waiting pens to the stunning cabinet until the

stunning and bleeding. In order to investigate the origin of bruises and measuring the pH after

24 hours, the bruises of carcasses were also evaluated. Two checklists for these evaluations

were developed, one based on animal welfare concepts and the other based on Normative

Instruction No. 3 of 7 January 2000 and Normative Instruction No. 56 of November 6, 2008,

both by the Ministry of Agriculture, Livestock and Supply. An assessment worksheet of

bruises on carcasses was also developed. Through the application of the two checklists, the

existing problems in managing and establishing infrastructure were pointed out. Regarding

infrastructure, holes and large water collecting in the floor all the way between the stalls and

the box of stunning were found, which may have caused, to the evaluated animals, slips and

falls. The managers used the electric prod in a compulsively way when cattle management

was investigated. The training given to employees was focused on animal welfare concepts

and rational management. There were no improvements between the first evaluation of the

infrastructure and the second evaluation. Regarding the rational management, there was no

improvement in the employees’ behavior, as they refused to follow the animal welfare

concepts. Regarding the assessment of the bruising of carcasses and the final pH, there are

serious problems with transport and pre-slaughter management in the slaughterhouse. These

results indicate that to train employees will not help in relation to rational management of

cattle if their superiors and officials responsible for monitoring the operations are not

committed to animal welfare concepts that should be respected in time of slaughter.

Keywords: Animal welfare, humane slaughter, meat quality, bruises on carcasses, animal

welfare checklist.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 14

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................... 16

2.1 Manejo ante-mortem ............................................................................................ 16

2.1.1 Transporte .......................................................................................................... 16

2.1.1.1 problemas ocorridos durante o transporte ...................................................... 17

2.1.1.1.1 mortalidade ................................................................................................... 17

2.1.1.1.2 privação de alimentos ................................................................................... 17

2.1.1.1.3 contusões ....................................................................................................... 18

2.1.1.1.4 estresse e pH final da carne .......................................................................... 19

2.1.2.1 procedimentos .................................................................................................. 20

2.1.2.2 edificação e finalidade dos currais .................................................................. 21

2.1.2.3 descanso e dieta hídrica ................................................................................... 22

2.1.3 Banho de aspersão e rampa de acesso ao box de atordoamento ................... 23

2.1.4 Insensibilização .................................................................................................. 25

2.1.5 Sangria ................................................................................................................ 27

2.1.6 Normativas sobre bem-estar animal ................................................................ 28

2.2 Treinamento dos funcionários ............................................................................. 29

3.1. Diagnóstico do bem-estar animal antes do treinamento .................................. 33

3.1.1 Comportamento dos funcionários .................................................................... 34

4.1.2 Comportamento dos bovinos ............................................................................ 35

4.1.3 Insensibilização .................................................................................................. 35

4.1.4 Avaliação de hematomas em carcaças ............................................................. 35

4.1.5 Medição de pH ................................................................................................... 36

3.2 Treinamento em manejo racional ....................................................................... 36

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3.3 Diagnóstico do bem-estar animal após o treinamento....................................... 37

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................ 38

4.1 Descrição do estabelecimento ............................................................................. 38

4.1.1 Descrição da infraestrutura do curral e da sala de matança do

estabelecimento ........................................................................................................... 38

4.1.2 Forma de aquisição dos animais destinados à matança ................................. 45

4.1.3 Relação entre empresa e funcionários ............................................................. 45

4.1.4 Relação entre a pesquisadora e a empresa e seus funcionários ..................... 46

4.2 Resultados da avaliação do manejo pré-abate antes do treinamento .............. 46

4.2.1 Acontecimentos relacionados diretamente com o gado .................................. 46

4.2.2 Eventuais acontecimentos que causam estresse aos animais e que estão

relacionados ao ambiente: .......................................................................................... 48

4.2.3 Eventuais acontecimentos que causam estresse aos animais e que estão

relacionados à estrutura física e equipamentos: ...................................................... 51

4.2.4 Resultado da avaliação realizada através do check list baseado na instrução

normativa n°3 de 2000 do MAPA ............................................................................. 57

4.2.4.1 requisitos aplicados aos estabelecimentos de abate em relação à

infraestrutura e comportamento dos funcionários do setor do curral ....................... 57

4.2.4.2 contenção no box de insensibilização, insensibilização e sangria dos

animais..........................................................................................................................61

4.3 Coleta quantitativa de dados: .............................................................................. 62

4.4 Avaliação de hematomas em carcaças realizada antes do treinamento .......... 66

4.5 Valores de pH obtidos antes do treinamento ..................................................... 72

4.6 Treinamento .......................................................................................................... 73

4.7 Resultados obtidos com os check lists aplicados após o treinamento .............. 74

4.7.1 Check list baseado nos conceitos de bem-estar animal .................................. 74

4.7.2 Check list baseado na Instrução Normativa n°3 de 2000 do MAPA ............ 77

4.8 Coleta quantitativa de dados realizada após o treinamento ............................. 81

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4.9 Avaliação de hematomas em carcaças realizada após o treinamento .............. 85

4.10 Valores de pH obtidos após o treinamento ....................................................... 91

4.11 Comparativo entre os resultados obtidos nas avaliações realizadas antes e

após treinamento ......................................................................................................... 91

6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 117

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 118

ANEXO A – CHECK LIST BASEADO NOS CONCEITOS DE BEM-ESTAR

ANIMAL .................................................................................................................... 124

ANEXO B – CHECK LIST PARA AVALIAÇÃO INDIVIDUAL DE

ANIMAIS...................................................................................................................128

ANEXO C – CHECK LIST BASEIADO NA IN n°3 DE 2000 DO MAPA ......... 129

ANEXO D - AVALIAÇÃO DE HEMATOMAS EM CARCAÇAS .................... 131

ANEXO E .................................................................................................................. 132

ANEXO F .................................................................................................................. 139

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 143

2.1 Curral da fazenda ............................................................................................... 144

2.3 Transporte ........................................................................................................... 145

2.4 Descarregamento ................................................................................................ 146

2.5 Dieta hídrica e estrutura dos currais ................................................................ 146

2.6 Manejo pré-abate no frigorífico e estrutura do corredor, banho de aspersão e

seringa ........................................................................................................................ 148

2.6.1 Zona de fuga ..................................................................................................... 149

2.7 Insensibilização, box de insensibilização e praia de vômito ............................ 150

2.8 Sangria ................................................................................................................. 152

2.9 Funcionários ........................................................................................................ 153

3 CHECK LISTS E CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DO MANEJO PRÉ-

ABATE ....................................................................................................................... 154

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 157

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ANEXO A .................................................................................................................. 158

ANEXO B .................................................................................................................. 164

ANEXO C .................................................................................................................. 165

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1 INTRODUÇÃO

Algumas décadas atrás, o abate de animais era considerado uma operação tecnológica

de baixo nível científico e não se constituía em um tema pesquisado seriamente por

universidades, institutos de pesquisa e indústrias. A tecnologia do abate de animais destinado

ao consumo somente assumiu importância científica quando observou-se que os eventos que

se sucedem desde a propriedade rural até o abate do animal, tinham grande influência na

qualidade da carne (SWATLAND, 1999 apud ROÇA, 2001).

Para Broom; Molento (2004 apud OLIVEIRA; BORTOLI; BARCELLOS, 2008), o

bem-estar animal é uma nova ciência, indispensável aos profissionais que trabalham em torno

da interação entre humanos e animais e deve estar relacionado com conceitos como:

necessidades, liberdades, felicidade, adaptação, controle, capacidade de previsão, sentimentos,

sofrimento, dor, ansiedade, medo, tédio, estresse e saúde.

Nos últimos anos houve uma crescente demanda por processos denominados abates

humanitários com o objetivo de reduzir sofrimentos inúteis ao animal a ser abatido. Abate

humanitário pode ser definido como o conjunto de procedimentos técnicos e científicos que

garantem o bem-estar dos animais desde as operações de embarque na propriedade rural até a

operação de sangria (ROÇA, 1999 apud ROÇA, 2001).

É dever moral do homem, o respeito a todos os animais e evitar os sofrimentos inúteis

àqueles destinados ao abate. Cada país deve estabelecer regulamentos em frigoríficos, com o

objetivo de garantir condições para a proteção humanitária a diferentes espécies (CORTESI,

1994, LAURENT, 1997 apud ROÇA 2001).

O essencial é que o abate de animais seja realizado sem sofrimentos desnecessários e

que a sangria seja eficiente. As condições humanitárias não devem prevalecer somente no ato

de abater e sim nos momentos precedentes ao abate (GRACEY; COLLINS, 1992 apud

ROÇA, 2001).

Fatores como espécie, peso, sexo, calor, umidade, luz, ruídos, o espaço disponível para

cada animal durante o transporte e as acomodações que precedem ao abate, podem exercer

influência negativa sobre os animais, levando-os ao estresse ou reproduzindo condições

desfavoráveis quanto à qualidade, ao aspecto comercial e à conservação da carne, dadas as

transformações provocadas no metabolismo muscular (PARDI et al, 2006).

Quando os bovinos são acometidos de estresse pré-abate, a reserva de glicogênio dos

músculos desses animais pode ser parcial ou totalmente exaurida. Como consequência, o

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estabelecimento do rigor mortis se dá na primeira hora, mesmo antes da carcaça ser levada à

câmara fria, porque a reserva energética não é suficiente para sustentar o metabolismo

anaeróbio e produzir ácido lático capaz de fazer baixar o pH a 5,5 nas primeiras 24 horas post

mortem (FELÍCIO, 1997).

Em relação às lesões, sabe-se que podem ocorrer em qualquer fase do manejo pré-abate,

levam à danificação das carcaças e contribuem para a redução nos atributos de bem-estar e

qualidade da carne (WARRISS, 1990 apud ANDRADE, 2008).

Segundo Grandin (2000), a indústria norte-americana perde por ano aproximadamente

26 milhões de dólares de dólares, prejuízo causado em decorrência de hematomas retirados

das carcaças bovinas.

Em estudo realizado por Andrade et al (2008), onde foi avaliado os hematomas em 88

carcaças bovinas, apurou-se que 83 (94,3%) tiveram uma ou mais lesões, sendo removidos

39,988 kg de carne, com média geral de 0,454 kg por animal, ou de 0,481 kg por animal

considerando-se apenas os animais que tiveram lesões. Nesse estudo realizado por Andrade et

al (2008) notou-se que os cortes comerciais mais lesionados foram os da porção caudal da

carcaça, correspondendo ao quarto traseiro especial.

Há vários critérios que definem um bom método de abate (SWATLAND, 1999 apud

ROÇA, 2001): a) os animais não devem ser tratados com crueldade; b) os animais não podem

ser estressados desnecessariamente; c) a sangria deve ser a mais rápida e completa possível;

d) as contusões na carcaça devem ser mínimas; e) o método de abate deve ser higiênico,

econômico e seguro para os operadores.

Esse estudo teve como objetivo geral verificar e avaliar os procedimentos de manejo

pré-abate e qualificar os funcionários visando o Bem Estar Animal. Seus objetivos específicos

foram: analisar a influência do manejo pré-abate na qualidade final da carne; ministrar

treinamento de funcionários em relação às Boas Praticas de Manejo Pré-Abate; desenvolver

informe técnico sobre o Manejo Racional de Bovinos; desenvolver cartilha educativa sobre

Boas Práticas de Manejo Pré-Abate.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Manejo ante-mortem

A fase ante-mortem inclui as condições e práticas que se aplicam durante o período em

que o animal é manejado para o transporte, transportado e manejado no curral até o momento

da sangria. Durante este período, os animais podem ser expostos a uma gama de estímulos

desafiadores, incluindo: manipulação e aumento de contato humano, transporte, novos e

desconhecidos ambientes, privação de alimentos e água, mudanças na estrutura social

(mudanças através da separação e de mistura de lotes) e nas condições climáticas

(FERGUSON; WARNER, 2008).

O manejo do gado no frigorífico é extremamente importante para a segurança dos

operadores, qualidade da carne e bem-estar animal. As instalações dos matadouros-

frigoríficos bem delineadas também minimizam os efeitos do estresse e melhoram as

condições do abate (GRANDIN 1996, 1999a, 1999b, 1999d, 1999e, 1999f apud ROÇA,

2001).

Os problemas de bem-estar animal estão sempre relacionados com instalações e

equipamentos inadequados, distrações que impedem o movimento do animal, a falta de

treinamento de pessoal, falta de manutenção dos equipamentos e manejo inadequado

(GRANDIN, 1996 apud ROÇA, 2001).

2.1.1 Transporte

O processo de comercialização inicia-se pelo deslocamento dos rebanhos dos seus

locais de produção. O estresse dos animais destinados ao abate começa com o abandono dos

locais aos quais se habituaram e onde, por vezes, nasceram (PARDI et al., 2006).

O transporte rodoviário é o meio mais comum de condução de animais de corte para o

abate (TARRANT et al., 1988 apud ROÇA 2001). No Brasil, o transporte é realizado nos

chamados "caminhões boiadeiros", com carroçaria medindo 10,60 x 2,40 metros, com três

divisões: anterior com 2,65 x 2,40 metros, intermediária com 5,30 x 2,40 metros e posterior

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com 2,65 x 2,40 metros. A capacidade de carga média é de 5 animais na parte anterior e

posterior e 10 animais na parte intermediária, totalizando 20 bovinos (ROÇA, 2001).

O principal aspecto a ser considerado durante o transporte de bovinos é o espaço

ocupado por animal, ou seja, a densidade de carga, que pode ser classificada em alta

(600kg.m2), média (400Kg.m

2) e baixa (200Kg.m

2) (TARRANT et al., 1988 apud ROÇA,

2001).

Teoricamente, do ponto de vista econômico, procura-se transportar os animais

empregando alta densidade de carga, no entanto, este procedimento tem sido responsável pelo

aumento das contusões e estresse dos animais, sendo inadmissível densidade superior a

550Kg.m2 (TARRANT et al., 1988, 1992 apud ROÇA, 2001). No Brasil, a densidade de

carga utilizada é em média de 390 a 410Kg.m2

(ROÇA, 2001).

2.1.1.1 problemas ocorridos durante o transporte

2.1.1.1.1 mortalidade

A mortalidade de bovinos durante o transporte é extremamente baixa. Novilhos são

mais susceptíveis a mortalidade que animais adultos (KNOWLES, 1995 apud ROÇA, 2001) e

os animais gordos mais susceptíveis que os animais magros. As altas temperaturas, as maiores

distâncias de transporte e a diminuição do espaço ocupado por animal também contribuem

para que ocorram problemas de transporte (THORNTON, 1969 apud ROÇA, 2001).

2.1.1.1.2 privação de alimentos

Para a maioria dos bovinos que vão diretamente da fazenda ao matadouro, o período de

privação de alimento e água é provável que seja maior que 24 horas. No entanto, pode haver

situações, em que este período se estende para 36-48 hs (por exemplo, gado de abate

adquiridos através de leilão). Um dos impactos mais evidentes da privação de alimentos e

água, é a perda de peso. A perda de peso vivo é mais rápida durante as primeiras 12 hs de

restrição alimentar e líquida e mais lento depois disso (SHORTHOSE, 1988 apud

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FERGUSON; WARNER, 2008). Tipicamente em bovinos, durante o jejum inicial de 24-48

horas, a maioria de peso perdido é originado de excreção de conteúdo do trato gastrointestinal

e urina (FERGUSON; WARNER, 2008).

Em relação à privação de alimento e água, a última é mais crítica em relação ao bem-

estar animal, dado o risco de ocorrer desidratação. Em geral, os animais têm a oportunidade

de reidratar após a chegada ao matadouro, pois enquanto estiverem no curral, terão acesso a

água. Embora se reconheça que, mesmo com acesso à água, nem todos os animais irão beber.

Acesso limitado a e falta de familiaridade com instalações de água irá contribuir para que os

animais não bebam água. Não tomar água quando a mesma está disponível é um problema

comum em jovens bezerros (GREGORY, 2003 apud FERGUSON; WARNER, 2008).

Algumas propostas são recomendadas para a redução da perda de peso do animal e da

carcaça que ocorre durante o transporte, como a utilização de soluções eletrolíticas via oral

(SCHAEFER et al., 1997 apud ROÇA, 2001), no entanto, a administração de soluções

injetáveis de vitaminas A, D e E não apresentam efeito na redução da perda de peso (JUBB et

al., 1993b apud ROÇA, 2001).

2.1.1.1.3 contusões

O transporte também é responsável – em algumas circunstâncias mais graves que em

outras – por contusões que danificam a pele e a carne, refletindo no agravamento do estresse

(PARDI et al., 2006).

A extensão das contusões nas carcaças representa uma forma de avaliação da qualidade

do transporte, afetando diretamente a qualidade da carcaça, considerando que as áreas

afetadas são aparadas da carcaça, com auxílio de faca, resultando em perda econômica e

sendo indicativo de problemas com o bem-estar animal (JARVIS & COCKRAM, 1994 apud

ROÇA, 2001). A extensão das contusões aumenta com o aumento da densidade de carga,

principalmente com valores superiores a 600kg/m2

(TARRANT et al., 1992 apud ROÇA,

2001).

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2.1.1.1.4 estresse e pH final da carne

A influência do transporte no estresse do gado irá variar dependendo do tipo de animal e

as condições prevalecentes durante a viagem (TARRANT, 1992 apud FERGUSON;

WARNER, 2008). Os resultados de estudos sobre transporte de gado, indicam que é

improvável que o transporte sobre distâncias moderadas (<400 km) afetem o pH final da

carne (ELDRIDGE & WINFIELD, 1988; TARRANT, 1989 apud FERGUSON; WARNER,

2008). No entanto, quando o gado é transportado a distâncias muito maiores (por exemplo,

2000 km) ou durações (por exemplo, 24 h), pequenos aumentos de 0,1-0,2 unidades de pH

podem ocorrer no pH final da carne (TARRANT, 1989; WYTHES et al, 1981 apud

FERGUSON; WARNER, 2008).

Transporte por tempo superior a 15 horas é inaceitável do ponto de vista de

comportamento e bem-estar animal (WARRISS, et al., 1995 apud ROÇA, 2001).

Quando o animal é submetido a situações estressantes, seu rigor mórtis se dá na

primeira hora após o abate e a carne resultante desse processo terá pH > 5,8 (TARRANT,

1989 apud FELICIO, 1997), que proporciona às proteínas musculares uma alta capacidade de

retenção de água, mas será escura, com vida de prateleira mais curta, que, segundo GIL &

NEWTON (1981 apud FELICIO 1997), se dá porque na ausência de ácido lático e glicose

livre as bactérias utilizam os aminoácidos da carne com produção de odores desagradáveis.

Para SHORTHOSE (1989 apud FELICIO 1997), essa carne com pH alto também pode

apresentar uma descoloração esverdeada, causada por bactérias que produzem H2S. A esse

tipo de anomalia dá-se o nome de “Dark-cutting beef” (carne bovina de corte escuro) ou DFD

(“dark , firm and dried”, ou escura, firme e seca).

Níveis de pH acima de 5,9 tendem a produzir carnes mais escuras, firmes e seca (

D.F.D. – dark, firm and dry), reduzindo drasticamente o tempo de vida útil do produto

(CHIQUITELLI NETO, 2004 apud MARSON et al, 2009).

O pH 6,0 tem sido considerado como linha divisória entre o corte normal e o do tipo

DFD, porém alguns autores também utilizam valores de 6,2 a 6,3. No Brasil, os frigoríficos só

exportam carne com pH < 5,8, avaliado diretamente no músculo Longissimus dorsi, 24 horas

post-mortem (ROÇA,2001 apud ALVES 2005).

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2.1.2 Currais

As operações de embarque e desembarque dos animais, se bem conduzidas, não

produzem reações estressantes importantes (KENNY & TARRANT 1987 apud ROÇA,

2001). O ângulo formado pela rampa de acesso ao veículo em relação ao solo não deve ser

superior a 20º, sendo desejável um ângulo de 15º (CORTESI, 1994 apud ROÇA, 2001).

Chegando ao matadouro, os bovinos são conduzidos aos currais de chegada ou seleção

de onde, após inspeção ante mortem, passam aos currais de matança (ou curral de observação,

caso haja suspeita de que o animal esteja doente), onde aguardam o momento do abate

(PARDI et al., 2006).

O tempo e as condições do curral são importantes em relação ao estresse pré-abate. Em

muitos países europeus e na América do Norte, é comum animais serem abatidos no dia de

chegada enquanto na Austrália, Nova Zelândia e outros países, os animais são mais

tipicamente abatidos no dia seguinte à chegada. Nestes últimos países, a estadia no curral

proporciona ao animal uma oportunidade para hidratar e descansar e se recuperar dos

transportes. Portanto, é muito importante garantir que os locais para estabulação e suas

condições sejam favoráveis para que isso ocorra (FERGUSON; WARNER, 2008).

2.1.2.1 procedimentos

Os animais devem ser descarregados o mais rapidamente possível após a chegada. Se

for inevitável uma espera, os animais devem ser protegidos contra condições climáticas

extremas e beneficiar-se de uma ventilação adequada. Os animais que corram o risco de se

ferirem mutuamente devido à sua espécie, sexo, idade ou origem devem ser mantidos em

locais adequados e separados. Os animais acidentados ou em estado de sofrimento durante o

transporte ou à chegada ao estabelecimento de abate devem ser submetidos à matança de

emergência. Para tal, os animais não devem ser arrastados e sim transportados para o local do

abate de emergência por meio apropriado, meio este que não acarrete qualquer sofrimento

inútil. A recepção deve assegurar que os animais não sejam acuados, excitados ou

maltratados. Não será permitido espancar os animais ou agredi-los, erguê-los pelas patas,

chifres, pelos, orelhas ou cauda, ocasionando dores ou sofrimento. Os animais devem ser

movimentados com cuidado. Os bretes e corredores por onde os animais são encaminhados

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devem ser concebidos de modo a reduzir ao mínimo os riscos de ferimentos e estresse. Os

instrumentos destinados a conduzir os animais devem ser utilizados apenas para esse fim e

unicamente por instantes. Os dispositivos produtores de descargas elétricas apenas poderão

ser utilizados, em caráter excepcional, nos animais que se recusem mover, desde que essas

descargas não durem mais de dois segundos e haja espaço suficiente para que os animais

avancem. As descargas elétricas, com voltagem estabelecidas nas normas técnicas, que

regulam o abate de diferentes espécies, quando utilizadas serão aplicadas somente nos

membros. Os animais mantidos nos currais, pocilgas ou apriscos devem ter livre acesso a

água limpa e abundante e, se mantidos por mais de 24 (vinte e quatro) horas, devem ser

alimentados em quantidades moderadas e a intervalos adequados. Nas espécies que

apresentarem acentuada natureza agressiva, não deve haver reagrupamento ou mistura de

lotes animais de diferentes origens, evitando assim que corram o risco de ferirem-se

mutuamente (BRASIL, 2000).

2.1.2.2 edificação e finalidade dos currais

Como exige a Padronização de Técnicas, Instalações e Equipamentos I – Bovinos

(BRASIL, 1971 apud PARDI et al., 2006), os currais deverão ser construídos de maneira que

os ventos predominantes não levem em direção ao estabelecimento poeiras e emanações,

devendo ainda estar afastados a não menos de 80 metros de prédio industrial. Os currais

devem ser classificados em currais de chegada ou seleção, curral de observação e currais de

matança.

Os currais de chegada ou seleção são destinados ao recebimento e apartação dos

bovinos para abate e à formação de lotes, de acordo com sexo idade e categoria (PARDI et al.,

2006).

O curral de observação destina-se a receber, para observação e exame mais minucioso,

os bovinos que, na inspeção ante mortem, foram excluídos da matança por suspeita de doença

(PARDI et al., 2006). Deve ser localizado próximo aos currais de chegada e seleção e

afastados destes no mínimo três metros. Sua área deve corresponder a 5% da área dos currais

de matança. Deve ser totalmente construído em alvenaria e identificado com os dizeres:

“Curral de Observação – Privativo da Inspeção Federal”. Próximo ao curral de observação

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deve ser construído um matadouro sanitário e um departamento de necropsia (PARDI et al.,

2006).

Os currais de matança destinam-se a receber os animais preparados para se submeterem

à matança normal (PARDI, 2006).

Todos os currais devem ter iluminação adequada, piso pavimentado, com declive de

2%, no mínimo, cercas duplas com dois metros de altura e sem cantos vivos ou

proeminências, cordão sanitário com 0,30m de largura ao longo e sob as cercas, bebedouros,

água para facilitar o exame ante mortem. Cada curral deve ter ainda porteiras com a mesma

largura do corredor central, para facilitar a entrada e saída dos animais. A área do curral é

calculada na razão de 2,5m2 por bovino (PARDI, 2006).

2.1.2.3 descanso e dieta hídrica

O período de descanso ou dieta hídrica no matadouro é o tempo necessário para que os

animais se recuperem totalmente das perturbações surgidas pelo deslocamento desde o local

de origem até ao estabelecimento de abate (GIL & DURÃO, 1985 apud ROÇA, 2001). Este

repouso é preconizado para reposição de glicogênio muscular consumido pelo gado durante o

embarque, transporte e descarregamento no abatedouro, objetivando conseguir a necessária e

suficiente acidificação da carne e, consequentemente, um maior prazo de vida comercial para

ela. O jejum e a dieta hídrica devem perdurar durante o tempo de repouso afim de não apenas

facilitar a evisceração como também reduzir a possibilidade de contaminação da carcaça

durante a evisceração e tornar a sangria mais abundante. A dieta hídrica facilita a remoção da

pele e faz com que a sangria seja mais eficiente (PARDI et al., 2006).

Deve-se ter atenção às condições de repouso, jejum e dieta hídrica regulamentares,

tomado cuidado atentamente para que sejam mantidas a qualidade e disponibilidade da água

de bebida. O repouso previsto no RIISPOA (BRASIL, 1951) para bovinos é de 24 horas,

podendo ser reduzido para um tempo mínimo de 6 horas, quando o tempo de viagem não for

superior a duas horas e os animais procederem de campos próximos, mercados ou feiras, sob

controle sanitário permanente (PARDI et al., 2006).

A Argentina também adota este procedimento (ARGENTINA, 1971 apud ROÇA,

2001). As disposições oficiais portuguesas determinam também um mínimo de 24 horas para

descanso dos animais nos currais (GIL & DURÃO, 1985 apud ROÇA, 2001). Na Austrália

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tem sido empregado o tempo de retenção de 48 horas, sendo 24 horas com alimentação e 24

horas em dieta hídrica (SHORTHOSE, 1991 apud ROÇA, 2001). No Canadá, o tempo de

descanso é de 48 horas com alimentação (GRANDIN, 1994 apud ROÇA, 2001). De maneira

geral, é necessário um período mínimo de 12 a 24 horas de retenção e descanso para que o

gado que foi submetido a condições desfavoráveis durante o transporte por um curto período,

se recupere rapidamente. Os animais submetidos a essas mesmas condições, mas por período

prolongado, exigirão vários dias para readquirirem sua normalidade fisiológica

(THORNTON, 1969 apud ROÇA, 2001).

Basicamente há cinco causas de problemas do bem-estar animal nos matadouros-

frigoríficos (GRANDIN, 1996, 1996b apud ROÇA, 2001): a) estresse provocado por

equipamentos e métodos impróprios que proporcionam excitação, estresse e contusões; b)

transtornos que impedem o movimento natural do animal, como reflexo da água no piso,

brilho de metais e ruídos de alta frequência; c) falta de treinamento de pessoal; d) falta de

manutenção de equipamentos, como conservação de pisos e corredores; e) condições

precárias pelas quais os animais chegam ao estabelecimento, principalmente devido ao

transporte. O bem-estar também é afetado pela espécie, raça, linhagem genética (GRANDIN,

1996 apud ROÇA 2001) e pelo manejo inadequado como reagrupamento ou mistura de lotes

de animais de origem diferente promovendo brigas entre os mesmos (KNOWLES, 1999; apud

ROÇA, 2001).

A retenção dos animais, o manejo adotado e as inovações que o animal recebe são

causas de estresse psicológico, enquanto que os extremos de temperatura, fome, sede, fadiga e

injúrias, são as principais causas do estresse físico (GRANDIN, 1997 apud ROÇA, 2001).

Muito pouco se sabe sobre os efeitos específicos de cada estressor pré-abate e as interações

entre eles e as mudanças biofísicas do músculo e os efeitos consequentes nas características

de qualidade de carne (FERGUSON; WARNER, 2008).

2.1.3 Banho de aspersão e rampa de acesso ao box de atordoamento

No Brasil, os animais após o descanso regulamentar seguem comumente por uma rampa

de acesso ao box de insensibilização dotado de comportas tipo guilhotina. Nessa rampa é

realizado o banho de aspersão. O local deve dispor, segundo o Ministério da Agricultura

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(BRASIL, 1968; 1971), de um sistema tubular de chuveiros dispostos transversal, longitudinal

e lateralmente, orientando os jatos para o centro da rampa (ROÇA, 2001).

Os banhos de aspersão devem ser realizados sob pressão (3 atm.), com água potável

preferencialmente hiperclorada e contendo fungistático, tendo em vista a redução da perigosa

flora contaminante da pele (PARDI et al., 2006). O banho de aspersão antes do abate não

afeta a eficiência da sangria nem o teor de hemoglobina retido nos músculos (ROÇA;

SERRANO, 1995 apud ROÇA, 2001), mas segundo PARDI et al. (2006), durante o banho de

aspersão há a vasoconstrição periférica e vasodilatação interna, o que propiciaria uma sangria

mais eficiente.

Na rampa de acesso ao box de insensibilização, devem ser realizadas as avaliações do

estresse provocado no período ante-mortem. GRANDIN (1999k apud ROÇA, 2001) propõe

avaliação dos deslizamentos e quedas dos animais bem como das vocalizações ou mugidos

dos animais na rampa de acesso ao box de insensibilização. A avaliação dos deslizamentos e

quedas (quando o animal toca com o corpo no piso) deve ser realizada no mínimo em 50

animais com a seguinte pontuação:

Excelente: sem deslizamento ou quedas;

Aceitável: deslizamentos em menos de 3% dos animais;

Não aceitável: 1% de quedas;

Problema sério: 5% de quedas ou mais de 15% de deslizamentos.

Com um manejo tranquilo que proporcione bem-estar dos animais torna-se quase

impossível que eles escorreguem ou sofram quedas. Todas as áreas por onde os animais

caminham devem, obrigatoriamente, possuir pisos não derrapantes (GRANDIN, 1999k apud

ROÇA, 2001).

As vocalizações, ou mugidos, são indicativos de dor nos bovinos. O número de vezes

que o bovino vocaliza durante o manejo estressante tem relação com o nível de cortisol

plasmático. A utilização do bastão elétrico para conduzir os animais é um dos motivos do alto

índice de mugidos. A avaliação deve ser realizada no mínimo em 100 animais, também na

rampa de acesso ao boxe de insensibilização. O critério para avaliação, segundo GRANDIN

(1999k apud ROÇA, 2001) é:

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Excelente: até 0,5% dos bovinos vocalizam;

Aceitável: 3% dos bovinos vocalizam;

Inaceitável: 4 a 10% vocalizam;

Problema sério: mais de 10% vocalizam.

A necessidade da utilização do bastão elétrico para conduzir os animais também

constitui um sinal que o manejo está inadequado. O bastão elétrico não deve ser utilizado nas

partes sensitivas dos animais como olhos, orelhas e mucosas. Os bastões não devem ter mais

que 50 volts. Ao reduzir o uso do bastão elétrico, melhorará o bem-estar animal. Os critérios

para avaliar a utilização do bastão elétrico em bovinos, segundo GRANDIN (1999k) são (em

% de bovinos conduzidos com a utilização do bastão) demonstrados na tabela 1:

Tabela 1 - Critérios para avaliar a utilização do bastão elétrico em bovinos.

Rampa de acesso ao boxe de

insensibilização

Entrada no boxe de

insensibilização Total de bovinos

Excelente 0% ≤ 5 % ≤ 5%

Aceitável ≤ 5% ≤ 20% ≤ 25%

Problema sério ─ ─ ≥ 50%

Fonte: GRANDIN, 1999k.

2.1.4 Insensibilização

Após o banho de aspersão, os bovinos são conduzidos à seringa através de rampa com

piso antiderrapante, dividida por porteiras, de preferência do tipo guilhotina, para facilitar o

manejo. Ao final, a rampa se afunila dando origem à seringa, onde os animais recebem novo

banho de aspersão com água sob pressão de 3 atm., por meio de borrifadores para economizar

água e, daí, têm acesso ao box de insensibilização (PARDI et al., 2006).

Segundo a Instrução Normativa nº3 de 2000, do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (BRASIL, 2000), os animais devem ser imediatamente conduzidos ao

equipamento de insensibilização, logo após a contenção que deverá ser feita conforme o

disposto na regulamentação de abate de cada espécie animal. Os animais não serão colocados

no recinto de insensibilização se o responsável pela operação não puder proceder a essa ação

imediatamente após a introdução do animal no recinto.

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A insensibilização pode ser considerada a primeira operação do abate propriamente dito.

Determinado pelo processo adequado, a insensibilização consiste em colocar o animal em um

estado de inconsciência, que perdure até o fim da sangria, não causando sofrimento

desnecessário e promovendo uma sangria tão completa quanto possível (GIL; DURÃO, 1985

apud ROÇA, 2001).

Os artigos do RIISPOA (BRASIL, 1951), constantes da Seção II – Matança Normal,

merecem reparos no que respeita à insensibilização, sobretudo ao se vislumbrar a

possibilidade de tolerância quanto à picada do bulbo, exceção que, aliás, não se tem notícia de

ter sido permitida na prática. A não-destruição do bulbo visa, em particular, manter o

funcionamento do coração e dos pulmões para dar maior eficácia à sangria (PARDI et al.,

2006).

Os instrumentos ou métodos de insensibilização que podem ser utilizados são: martelo

pneumático não penetrante, armas de fogo, pistola pneumática de penetração, pistola

pneumática de penetração com injeção de ar, pistola de dardo cativo acionada por cartucho de

explosão, corte da medula ou choupeamento, eletronarcose e processos químicos. O abate

também pode ser realizado através da degola cruenta (método kasher) sem atordoamento

prévio (ROÇA, 2001). Para os bovinos, atualmente, recomenda-se o uso de pistola

pneumática acionada no osso frontal. O uso da pistola pneumática produz uma grave

laceração encefálica promovendo inconsciência rápida do animal e pode ser considerado um

método eficiente de abate de bovinos (ROÇA, 1999 apud ROÇA, 2001).

FORREST et al. (1979 apud PARDI, 2006) acreditam que, muito embora o processo de

insensibilização não esteja completamente livre de estresse, provavelmente reduz as respostas

a procedimentos depende do cuidado com que se haja desenhado e utilizado o equipamento

empregado, afirmando que, para uma sangria adequada, há necessidade de os animais

perderem a consciência sem que haja paralisia cardíaca.

THORNTON (1969 apud PARDI, 2006) entende como fator favorável o fato de a

insensibilização do animal por qualquer meio produz uma elevação da pressão sanguínea no

sistema arterial, venoso e capilar, seguido de um aumento transitório na taxa cardíaca. Afirma

ainda que, por mais eficiente que seja a sangria, ainda ficam retidos no organismo 50% do

sangue total.

Com relação aos efeitos dos métodos de insensibilização na eficiência da sangria, os

trabalhos científicos são escassos. O atordoamento do animal, por qualquer método, produz

uma elevação da pressão sanguínea no sistema arterial, venoso e capilar, e dá um aumento

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transitório nos batimentos cardíacos (THORNTON, 1969 apud ROÇA, 2001), fatores que

favorecem a sangria. O volume de sangue colhido também é maior se a sangria é realizada

imediatamente após a insensibilização. A esse respeito, VIMINI et al (VIMINI; FIELD;

RILEY, 1983, VIMINI; FIELD; RILEY, 1983ª apud ROÇA, 2001) estabeleceram que o

volume de sangue colhido é inversamente proporcional ao intervalo entre o atordoamento e a

sangria.

O método de abate, afeta sensivelmente, o processo de sangria, sendo a eficiência maior

no abate kasher e menor no abate realizado através da insensibilização por pistola

pneumática, seguida imediatamente pela estimulação elétrica. A sangria é menos eficiente em

animais de maior peso (ROÇA et al., 2001).

O box de insensibilização é de construção metálica. O fundo e o flanco que confina com

a área de vômito são móveis, possuindo o primeiro, movimento basculante lateral e o

segundo, movimento de guilhotina, acionados mecanicamente e em sincronismo, depois de

abatido o animal. Assim ocasionam a ejeção deste animal para a área de vômito (BRASIL,

1971 apud ROÇA, 2001).

Após a insensibilização, o animal desliza sobre a grade tubular da área de vômito e é

suspenso ao trilho aéreo por um membro posterior, com o auxílio de um gancho e uma

roldana. Neste momento, pode ocorrer regurgitação, devendo o local ter água em abundância

para lavagem (MUCCIOLO, 1985 apud ROÇA 2001).

2.1.5 Sangria

A operação de sangria deve ser iniciada logo após a insensibilização do animal, de

modo a provocar um rápido, profuso e mais completo possível escoamento do sangue, antes

que o animal recupere a sensibilidade. A operação de sangria é realizada pela seção dos

grandes vasos do pescoço, no máximo 1 minuto após a insensibilização. Após a seção dos

grandes vasos do pescoço, não serão permitidas, na calha de sangria, operações que envolvam

mutilações, até que o sangue escoe ao máximo possível, tolerando-se a estimulação elétrica

com o objetivo de acelerar as modificações post-mortem (BRASIL, 2000).

Na canaleta de sangria deve ser observada a eficiência da insensibilização. Os sinais de

uma insensibilização deficiente são: vocalizações, reflexos oculares presentes, movimentos

oculares, contração dos membros dianteiros. GRANDIN (1999k apud ROÇA) adota o

seguinte critério para análise do processo de insensibilização em bovinos:

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Excelente: menos que 1 por 1000 de animais insensibilizados parcialmente;

Aceitável: menos que 1 por 500 de animais insensibilizados parcialmente.

Como regra, para uma sangria completa e eficiente, ela deve ser feita logo em seguida à

insensibilização. A duração da sangria é de três minutos, tempo este ajustado ao comprimento

da canaleta, a ponto de permitir o extravasamento do sangue durante o curso normal da noria

transportadora (PARDI, 2006).

2.1.6 Normativas sobre bem-estar animal

Desde o ano de 1934, o Governo Brasileiro apresenta preocupação com o bem estar

animal, tanto que promulgou o DECRETO Nº 24.645, de 10 de julho de 1934 (BRASIL,

1934). Este decreto determinava aplicações de multas aos cidadãos que aplicassem ou

fizessem maus tratos aos animais. O artigo 3° deste decreto define maus tratos. O parágrafo

VI, do artigo 3º, considera mau trato não dar morte rápida, livre de sofrimento prolongado, a

todo animal cujo extermínio seja necessário para consumo ou não. Nota-se que fala do abate.

O parágrafo XIX considera mau trato transportar animais em cestos, gaiolas ou veículos sem

as proporções necessárias ao seu tamanho e números de cabeças, e sem que o meio de

condução em que estão encerrados esteja protegido por uma rede metálica, ou idêntica, que

impeça a saída de qualquer membro animal. Já o artigo XX considera mau trato encerrar em

curral ou outros lugares, animais em número tal, que não lhes possibilita movimentarem

livremente, ou deixá-los sem água e alimento por mais de 12 horas.

As empresas baseiam os seus procedimentos relacionados ao abate humanitário na

Normativa n° 3 de 7 de janeiro de 2000 do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento. Esta normativa é o regulamento técnico de métodos de insensibilização para o

abate humanitário de animais de açougue. Tem como objetivo estabelecer, padronizar e

modernizar os métodos humanitários de insensibilização dos animais de açougue para o abate,

assim como o manejo destes nas instalações dos estabelecimentos aprovados para esta

finalidade (BRASIL, 2000).

Em relação ao bem estar animal, há a Normativa n° 56 de 6 de novembro de 2008 do

Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Ela estabelece os procedimentos gerais

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de Recomendações de Boas Práticas de Bem-Estar para Animais de Produção e de Interesse

Econômico - REBEM, abrangendo os sistemas de produção e o transporte (BRASIL, 2008).

2.2 Treinamento dos funcionários

Owens et al. (1981, apud GRANDIN, 1988) realizou um estudo sobre a psicologia dos

técnicos de eutanásia responsáveis por matar cães e gatos em depósitos do governo de animais

abandonados. Eles descobriram que esses técnicos muitas vezes se sentiam culpados, e

também sentiam que estavam a cumprir um serviço necessário. Um comentou que ele preferia

eliminar animais a deixá-los para alguém que não saberia o que fazer. Empregados de

frigoríficos fazem o mesmo tipo de afirmação. Alguns disseram que havia escolhido a função

de insensibilização para evitar que pessoas sádicas realizassem a operação.

Para Grandin (1988), as pessoas que trabalham no manejo pré-abate, principalmente os

que trabalham na seringa e no box de insensibilização, possuem três tipos diferentes de

abordagem ao seu trabalho: o sádico; o ritual sagrado e a atitude mecânica.

A atitude mecânica, segundo Grandin (1988), é o mais comum. A pessoa que se dedica

a matar o animal faz o seu trabalho sem emoções sobre seu ato de forma eficiente e sem dor.

Já na atitude sádica, a pessoa começa a desfrutar de matar, e às vezes fará coisas aos animais

extremamente cruéis e que os atormentam deliberadamente. São comentários típicos de

alguém com este comportamento: "eles são apenas animais e isso não irá machucá-los", ou

"se vão morrer em cinco minutos, não importa como eu os trato." Na terminologia da

psicologia social, estas declarações são exemplos de desvalorização do ser humano. Quando

se converte o ato de matar em um ritual sagrado, como por exemplo, o abate judaico, há um

controle das más condutas, evitando assim atitudes mecânicas ou sádicas.

Segundo a FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação

(2009), além dos benefícios práticos e econômicos, a atenção para o bem-estar animal pode

gerar mais benefícios sociais, pois pode contribuir para o ensino de uma ética do cuidado,

além ser uma força para a coesão social no seio de uma família, uma comunidade ou um

negócio e a definição de relações positivas com os animais é um importante fator para o bem-

estar humano (bem como para o bem-estar animal).

Para a FAO (2009), a capacitação para implementar boas práticas de bem-estar animal

envolve quatro elementos:

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Educação, para criar consciência sobre bem-estar animal e um entendimento de sua

importância para o sucesso da produção animal;

Compromisso de conseguir a participação ativa das pessoas que trabalham com animais;

Treinamento em procedimentos específicos;

Comunicação entre as diferentes organizações internacionais, entre as partes

interessadas e os provedores de informação e conhecimento, assim como, entre os

diferentes departamentos do governo e de outras organizações envolvidas no bem-estar

animal.

A FAO (2009) diz também, que a capacitação deve ser solidária com os conhecimentos

e recursos locais e deve facilitar a habilidade na resolução de problemas, proporcionando aos

participantes a capacidade de cumprir as normas no futuro, ao invés de tentar impor padrões

que não podem ser atingidos imediatamente.

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3. MATERIAL E MÉTODOS

O estudo foi conduzido em um frigorífico localizado no estado de Minas Gerais. O

frigorífico abatia em média 100 bovinos por dia, entre machos e fêmeas de diferentes

categorias e raças. O estabelecimento apresentava supervisão do Serviço de Inspeção Federal

(SIF) e seguia o protocolo de abate humanitário definido pela Instrução Normativa n° 3 de 7

de janeiro de 2000 do Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2000).

No frigorífico, para desenvolvimento do estudo, foram acompanhados: o tempo de

espera nos currais, a condução dos bovinos dos currais de espera até o boxe de atordoamento

(com enfoque na interação humano x bovino) e a insensibilização (composto por eficácia no

atordoamento e insensibilidade após atordoamento). Foram também avaliadas as carcaças,

com o intuito de investigar a procedência das contusões e feita a medição do pH após 24

horas. Para acompanhamento destes parâmetros foi desenvolvido e aplicado um check list

(ANEXO A) baseado nos conceitos de bem estar animal e um check list (ANEXO B) baseado

na Instrução Normativa N° 3 de 7 de janeiro de 2000 do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento (BRASIL, 2000). As avaliações foram realizadas ao longo dos dias de

trabalho em dois momentos, antes do treinamento e após o treinamento dos funcionários que

atuam nos currais do frigorífico, nas operações de insensibilização e sangria dos bovinos, com

foco na adoção de manejos que minimizassem riscos de prejuízos ao bem-estar dos animais.

Nos diagnósticos antes e após treinamento referentes ao tempo de descanso no curral e

ao manejo do curral ao boxe de atordoamento, avaliação de carcaça e medição de pH, foram

acompanhados 2 lotes com 100 animais.

Para as avaliações relacionadas à eficácia da insensibilização dos animais, foi observado

os mesmo números de animais antes e após treinamento, ou seja, 2 lotes de 100 animais. Estes

itens foram observados logo após o animal ser insensibilizado, ou seja, na praia de vômito, no

trajeto até a sangria e após sangria, mas precisamente na canaleta de sangria.

Referente à avaliação de carcaças, a coleta de dados foi realizada na plataforma de

toalete, sendo que no frigorífico, onde o estudo foi realizado, a atividade de retirada dos

hematomas era exercida por funcionários do Serviço de Inspeção Federal. Nessa avaliação foi

feita a medição das contusões, avaliação e classificação da sua coloração e apontamento dos

locais onde estavam presentes.

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Os hematomas foram classificados em relação a sua localização seguindo os padrões da

AUS-MEAT (2004), como:

Escore 1: para as carcaças que possuíam um hematoma localizado nos cortes que

compõem a região próxima a região pélvica, que são os cortes coxão duro e

coxão mole;

Escore 2: para as carcaças que possuíam um hematoma localizado na região

pélvica que é composta pelos cortes alcatra, picanha e maminha;

Escore 3: para as carcaças que possuíam um hematoma localizado na região

lombar, onde temos o contrafilé;

Escore 4: para as carcaças que possuíam um hematoma localizado na pá ou no

peito, que são cortes do quarto dianteiro;

Escore 5: para carcaças com hematomas de grande importância em dois locais

do quarto traseiro;

Escore 6: para carcaças que apresentavam 3 hematomas de grande importância

localizados nas regiões do quarto traseiro;

Escore 7: para carcaças que possuíam um hematoma de grande importância no

quarto dianteiro e um hematoma de grande importância no quarto traseiro;

Escore 8: para carcaças que possuíam uma contusão séria no quarto dianteiro e

duas contusões sérias no quarto traseiro;

Escore 9: para carcaças que apresentavam uma contusão séria no quarto

dianteiro e três contusões sérias no quarto traseiro.

Em relação ao seu tamanho, os hematomas foram classificados como:

Tamanho 1: para aqueles que mediam entre 1 a 5 centímetros;

Tamanho 2: para aqueles que mediam entre 6 e 10 centímetros;

Tamanho 3: para aqueles que mediam entre 11 e 15 centímetros;

Tamanho 4: para aqueles que mediam entre 16 e 20 centímetros;

Tamanho 5: para aqueles que mediam mais de 21 centímetros (ANDERSON et

al.,1979 apud ANDRADE, 2008).

Hematomas com menos de um centímetro não foram contabilizados (ANDERSON et

al.,1979 apud ANDRADE, 2008).

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Em relação a sua coloração, os hematomas foram classificados como:

Escore 1: para aqueles hematomas que possuíam coloração vermelho/azulado ou

púrpura, indicando que foram feitas em menos de um dia;

Escore 2: para aqueles hematomas que possuíam coloração marrom para púrpuro

escuro, indicando que foram feitas entre 1 e 2 dias;

Escore 3: para aqueles hematomas que possuíam coloração verde para marrom,

indicando entre 3 e 5 dias;

Escore 4: para aqueles hematomas que apresentavam coloração amarela e com

efeito exsudativo, indicando entre 5 e 7 dias;

Escore 5: para aqueles hematomas com coloração entre amarelo e marrom e com

efeito exsudativo, indicando que foram feitos a mais de uma semana

(ANDRADE, 2008).

Para a avaliação dos hematomas, foi elaborada planilha especifica (ANEXO C) onde

anotou-se os dados necessários. Os hematomas retirados por auxiliares da linha de produção

ou Serviço de Inspeção Federal foram coletados e depois pesados para realização de uma

estimativa da quantidade de carne proveniente de hematomas foi retirada.

3.1. Diagnóstico do bem-estar animal antes do treinamento

A metodologia adotada para o diagnóstico de bem-estar animal foi através de

observações do comportamento dos funcionários e dos bovinos durante os procedimentos de

manejo, acompanhando da rotina de trabalho do frigorífico e aplicação de check-list.

As avaliações e registros dos comportamentos referentes ao manejo dos bovinos

iniciaram com a chegada dos mesmos ao frigorífico, e finalizaram com a insensibilização do

último animal do grupo observado na canaleta de sangria. Os lotes foram acompanhados

independentemente de sexo, idade e origem dos animais e de forma aleatória.

As observações realizadas antes do treinamento foram feitas durante uma semana no

estabelecimento onde se desenvolveu o estudo. Durante o primeiro dia, foi analisada a rotina

do estabelecimento, foram feitas observações do local com objetivo de avaliar a estrutura do

curral e dos equipamentos, foi feito o registro fotográfico e conversou-se com os funcionários

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com o intuito de desenvolver um ambiente agradável para o desenvolvimento do estudo. No

primeiro dia também foi aplicado check list no setor do curral até a canaleta de sangria.

Durante o segundo e terceiro dia foram realizadas observações relacionadas ao manejo

(interação homem x animal), eficiência da insensibilização e sangria. O comportamento dos

funcionários e dos bovinos tiveram suas avaliações baseadas nos critérios indicados por

Grandin (1999k), sendo reconhecidos como indicadores de bem-estar dos animais.

No quarto dia foi realizada a avaliação dos hematomas nas carcaças com utilização de

planilha própria e paquímetro digital para medição do tamanho dos mesmos. Os hematomas

retirados pelos funcionários do frigorífico foram separados e pesados para que se pudesse

fazer uma estimativa da perda de carne com a retirada dos mesmos.

No quinto dia realizou-se a medição do pH das carcaças após 24 horas de abate com

equipamento próprio para a função.

3.1.1 Comportamento dos funcionários

A avaliação do comportamento dos funcionários seguiu a metodologia utilizada em

estudo realizado por BARBALHO (2007). Durante a avaliação foram observadas, de forma

quantitativa, as seguintes ações humanas:

Utilização de bastão elétrico: O uso do bastão elétrico para manejar os bovinos,

sendo anotado o número de vezes que os funcionários tocaram os animais com o

mesmo.

Utilização da bandeira: Toda vez que a bandeira foi utilizada para estimular o

deslocamento dos animais de forma inadequada, ou seja, o seu cabo tocou o

corpo do bovino de forma agressiva independentemente da força exercida contra

o animal.

Utilização do bastão ou outros instrumentos: Quando utilizou o bastão ou outro

instrumento para estimular o deslocamento dos animais no manejo.

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4.1.2 Comportamento dos bovinos

O registro quantitativo do comportamento dos bovinos, durante o manejo pré-abate

seguiu a metodologia utilizada por BARBALHO (2007) e foi realizado considerando o

número de ocorrência dos seguintes acontecimentos:

Escorregões: desequilíbrio do animal devido ao deslocamento involuntário de

algum membro inferior.

Quedas: quando o animal atingiu a posição de decúbito involuntariamente,

tocando qualquer parte do corpo no chão, inclusive os joelhos.

Vocalizações: qualquer som audível que o animal emitiu desde que estivesse

associado a um estímulo estressante (choque, queda ou deslize) e foi

quantificado após os animais saírem do curral, ou seja, no trajeto do corredor

que levava o animal ao box de insensibilização.

4.1.3 Insensibilização

Para a avaliação do processo de insensibilização dos animais foram utilizados dois

indicadores, sendo eles:

Eficácia da insensibilização: quantidade de animais atordoados com apenas um

disparo da pistola pneumática. Foram utilizados como indicadores de bem-estar

animal os critérios indicados por Grandin (1999k).

Insensibilidade dos animais: foram observados os seguintes sinais de

insensibilidade deficiente: vocalização, presença de reflexos e movimentos

oculares e movimentos involuntários dos membros dianteiros indicados nos

critérios de avaliação de Grandin (1999k) para análise do processo de

insensibilização em bovinos.

4.1.4 Avaliação de hematomas em carcaças

Durante o abate, cada carcaça foi avaliada em planilha individual, onde foram

registrados o tamanho das lesões, sua coloração e localização, conforme formulário próprio.

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As lesões de carcaça foram visualmente identificadas e classificadas. As classificações das

lesões foram realizadas durante as avaliações das carcaças.

Foi adotado um sistema próprio de classificação baseado no Australian Carcass Bruise

Scoring System (ACBSS) de Anderson e Holder (1979).

Os hematomas retirados das carcaças pela produção foram separados e pesados

posteriormente em balança industrial contida no estabelecimento onde se realizou o estudo.

4.1.5 Medição de pH

A medição do pH foi realizada 24 horas após o abate, sendo medido no músculo

longíssimus dorsi, entre a décima e décima primeira costela das meias carcaças. O pH foi

medido com auxílio de um pHmetro de penetração (Modelo AD11, Adwa, Hungria).

3.2 Treinamento em manejo racional

O treinamento dos funcionários, em relação ao manejo racional, foi realizado através de

treinamento teórico e treinamento prático. O objetivo era treinar todos os funcionários que

trabalhavam no setor do curral, o funcionário que realizava a insensibilização dos animais, o

funcionário responsável por içar os animais e o funcionário responsável pela operação de

sangria, totalizando, assim, 6 funcionários.

O treinamento teórico durou aproximadamente 4 horas e meia. Durante esse período

foram ministradas palestras e utilizados vídeos para a transmissão de conhecimento sobre

bem-estar animal de bovinos aos funcionários. O material didático utilizado foi direcionado à

realidade do frigorífico, dando-se ênfase aos seguintes temas: conceitos de bem-estar animal e

suas aplicações ao manejo de bovinos; comportamento dos bovinos; boas práticas de manejo

pré-abate e instalações frigoríficas. Também utilizou-se fotos do frigorífico para levantamento

de possíveis problemas em relação as instalações e ao manejo. Desta forma, foi possível

despertar o senso crítico dos funcionários em relação ao seus comportamentos e conscientizá-

los em relação ao comportamento animal e aos métodos de manejo racional.

O treinamento prático teve duração de aproximadamente 22 horas. Nesta etapa foi dada

grande atenção aos problemas encontrados durante a aplicação de check list e que estão

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relacionados com o manejo dos animais. Também foram aplicados na prática os conceitos de

bem-estar animal demonstrados durante o treinamento teórico, através de demonstrações do

uso correto da bandeirola e posicionamento em relação aos animais para tocá-los.

3.3 Diagnóstico do bem-estar animal após o treinamento

O diagnóstico após treinamento em bem estar animal no manejo pré-abate seguiu a

mesma metodologia do diagnóstico realizado antes do treinamento. Teve como objetivo

avaliar o resultado do treinamento ministrado aos funcionários envolvidos diretamente no

manejo pré-abate. O período de observação na planta frigorífica também foi de uma semana.

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4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Descrição do estabelecimento

4.1.1 Descrição da infraestrutura do curral e da sala de matança do estabelecimento

O estabelecimento situava-se em uma cidade do interior de Minas Gerais. Foi

construído em 1957. Estava localizado em uma região movimentada de um bairro misto de

uma cidade do Triângulo Mineiro. Nos últimos anos sua edificação passou por reformas para

adequar-se às normas vigentes.

Foi construído no centro do terreno e estava afastado das vias públicas. Possuía entrada

para automóveis dos funcionários, visitantes e caminhões de distribuição separada da entrada

dos animais destinados à matança.

Sua área externa só era pavimentada nos locais onde havia fluxo de automóveis. O

estacionamento para visitantes e funcionários, que ficava dentro da área do estabelecimento,

não era pavimentado, mas possuía britas. Havia áreas que se encontravam sem nenhum tipo

de pavimentação, o que facilitava o crescimento vegetação.

O desembarcador, (Figura 1), foi construído de forma elevada ficando no mesmo nível

dos currais. Ele estava a 1,25m de altura do nível do chão. Sua porteira era vertical, com

1,23m de largura, de metal e pintada de cor branca.

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Figura 1 – Desembarcador de gado.

O estabelecimento possuía 1 curral de observação e 10 currais de espera. Cada curral

media 2,85x5,60 metros, tendo capacidade para 30 animais, segundo a direção do

estabelecimento. Os currais não possuíam cobertura e suas cercas eram de metal com 2 m de

altura, pintadas com tinta de cor branca que não refletia luz. Possuíam piso pavimentado,

antiderrapante com declive para rede de esgoto e sem ângulos de 90°. Possuíam bebedouros

de alvenaria confeccionados de forma que não houvesse ângulos de 90° e chuveiros de

aspersão. Durante a realização da coleta de dados, o estabelecimento estava providenciando

instalações adequadas para abate emergencial e necropsia. Os currais estavam localizados a

uma distância de aproximadamente 134 m da edificação do frigorífico. Todos os currais

possuíam iluminação artificial. Todas as porteiras possuíam sistema de fechamento

automático.

O corredor que comunicavam os currais até o box de insensibilização era praticamente

reto, como pode ser observado na Figura 2. Da saída dos currais, era possível observar o

corredor que antecede o box de insensibilização.

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Figura 2 – Visão obtida ao sair dos currais em direção ao box de insensibilização.

O corredor entre os currais e o chuveiro era pavimentado e com piso antiderrapante,

possuindo 62 metros de comprimento, sua largura inicial era de 2,5 metros e no final era de

2,15 metros. Possuía cerca de metal vasada e pintada com tinta sem brilho na cor cinza do

lado esquerdo e do lado direito, parede de alvenaria na cor branca e cerca de metal pintada

com tinta sem brilho na cor cinza. A parede de alvenaria possuía colunas de sustentação de

madeira. A porteira que dava acesso a esse corredor e isolava o curral possuía abertura

horizontal e tinha a mesma largura do corredor. Esta porteira era pintada na cor vermelha, não

refletindo luz. Na parede de alvenaria desse corredor havia uma antiga placa de metal pintada

da cor branca. No piso foi encontrado um buraco de tamanho considerável. Antes da porteira

que dava acesso ao chuveiro encontrava-se a rampa de acesso para animais que sofreriam

abate emergencial.

O setor do chuveiro, apresentado na Figura 3, possuía piso pavimentado e

antiderrapante, paredes laterais com 2 metros de altura, possuía 10 metros de comprimento e

iniciava-se com 2,95 metros de largura e terminava com 2,86 metros de largura. Seus

chuveiros possuíam água com pressão de 3 atm. (atmosferas) e 0,5 – 2 ppm de cloro e

localizavam-se na parte superior do setor de banho de aspersão. Sua entrada e saída possuíam

porteiras horizontais de metal com 2,5 metros de largura. Quando o estudo foi realizado, as

chapas metálicas das porteiras não estavam pintadas, mas mesmo assim não refletiam luz.

Havia uma passarela que passa pela parte superior do chuveiro e uma plataforma lateral que

iniciava na lateral direita do chuveiro e ia até o box de insensibilização e era por onde os

funcionários do setor transitavam.

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Figura 3 – Imagem da entrada do setor do chuveiro.

O corredor entre o chuveiro e o início da seringa (Figura 4), possuía piso pavimentado e

antiderrapante. No lado direito havia uma cerca de metal pintada na cor cinza e com tinta que

não refletia luz e possuía uma parte feita em alvenaria. No lado esquerdo havia uma cerca de

metal, pintada na cor cinza que não refletia luz, muro de alvenaria e uma parte de madeira.

Iniciava com 2,86 metros de largura e ia afunilando até encerrar com 1 metro de largura.

Possuía 23,85 metros de comprimento. Também era nesse corredor que iniciava-se a rampa de

acesso a seringa e box de insensibilização.

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Figura 4 – Imagem do corredor entre o chuveiro e o início da seringa.

O início da seringa, apresentada na Figura 5, iniciava-se com uma porteira de abertura

vertical. A largura do seu corredor era de 0,80 metros e tinha 24,5 metros de comprimento.

Suas laterais possuíam uma parte fechada de 1,16 metros de altura e sua parte superior, que

era vasada, possuía 0,75 metros de altura, sendo pintada de cinza com tinta que não refletia

luz. A cerca era de madeira na parte superior do lado direito e do lado. Seu piso era de

alvenaria e antiderrapante. Seu ângulo de inclinação era menor que 20°. No final da seringa

havia um poste do lado esquerdo do corredor. Também havia no final da primeira parte da

seringa uma segunda porteira, de abertura vertical, que dava acesso a um pequeno corredor

que antecedia o box de insensibilização, que também foi chamado nesse estudo de “final da

seringa” (Figura 6). Nesse corredor que antecedia o box de insensibilização, encontrava-se um

segundo chuveiro, onde a água possuía 3 atm. de pressão e 0,5 - 2 ppm de cloro. O corredor

que antecedia o box de insensibilização possuía piso antiderrapante. A sua lateral esquerda

consistia da parede do prédio do estabelecimento e a sua lateral direita era fechada por muro

de alvenaria. Na parte superior possuía cerca de metal pintada de cinza e com tinta que não

refletia luz. Sua iluminação era apenas natural e havia formação de sombras.

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Figura 5 – Imagem do início da seringa.

Figura 6 – Imagem do início corredor que encerra a seringa.

O box de insensibilização, apresentado na Figura 7 e na Figura 8, tinha sua estrutura

fabricada de metal. Seu piso era antiderrapante, não era pintado, mas mesmo assim não

refletia luz. Suas laterais eram pintadas em azul. Sua lateral esquerda se abria mecanicamente

para que o animal deslizasse para a praia de vômito. Sua porteira de entrada abria

verticalmente, possuindo 0,90 metros de altura e havia um vão entre a porteira e o piso de

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0,50 metros. O box possuía pouca iluminação. Havia formação de sombras na sua entrada.

Possuía entrada com 0,75 metros de largura, sua largura interna era de 0,80 metros, seu

comprimento era de 2,30 metros e sua altura era de 1,55 metros.

Figura 7 – Imagem da entrada do box de insensibilização.

Figura 8 – Imagem de dentro do box de insensibilização.

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A praia de vômito era construída com piso de alvenaria e antiderrapante e com sistema

hidráulico com água abundante para lavar a área em caso de regurgitação dos animais na hora

que eram içados para serem enviados para a sala de abate. A calha de sangria possuía 9,70

metros de comprimento e o tempo de 3 minutos de escoamento do sangue foi ajustado ao seu

comprimento. A sala de matança foi construída seguindo as regras descritas do D.I.P.O.A.

4.1.2 Forma de aquisição dos animais destinados à matança

A empresa trabalhava com o sistema de marchante, ou seja, criadores e compradores de

gado denominados no ramo como marchantes pagavam ao estabelecimento para utilizarem a

sua estrutura e sua mão de obra para o abate dos animais. Por trabalhar com esse sistema, no

momento da compra de gado nas propriedades rurais não havia uma seleção rigorosa dos

animais que seriam abatidos. Chegavam para abate não apenas animais jovens e saudáveis,

mas também animais idosos, descartes de animais leiteiros e animais de várias raças. Notou-se

que os marchantes que compravam esses animais dos criadores não eram seletivos na hora de

adquiri-los.

4.1.3 Relação entre empresa e funcionários

Estudar a relação entre empresa e funcionários não era o foco da pesquisa. Então não

foram realizados questionários para coletar dados sobre esse assunto. O que foi observado é

que havia uma grande rotatividade de funcionários, principalmente aqueles que trabalhavam

no setor do curral.

A empresa não foi questionada em relação aos salários e benefícios pagos aos

funcionários. Os horários são comuns nesse tipo de indústria. O único inconveniente eram as

paradas ocasionadas por manutenções de equipamentos e infraestrutura durante a jornada de

trabalho que acabavam ocasionando estresse nos funcionários porque, às vezes, a jornada de

trabalho tornava-se maior que oito horas diárias.

Os funcionários que trabalhavam no curral e na insensibilização eram treinados pelo

responsável desse setor. O responsável não possuía conhecimentos técnicos em relação ao

bem estar animal e utilizava da agressividade para manejar os animais.

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4.1.4 Relação entre a pesquisadora e a empresa e seus funcionários

Quando firmado a parceria de pesquisa, não houve dificuldades de acesso à empresa. A

pesquisadora teve total liberdade para circular pelos setores da indústria. A empresa sempre

dispôs de um funcionário do controle de qualidade para acompanhar a pesquisadora. Quando

não era possível o acompanhamento desse funcionário, ele era substituído por um estagiário.

O frigorífico também não se indispôs em relação à equipe montada pela pesquisadora para

auxiliar na coleta de dados.

Apesar de concordar com o desenvolvimento da pesquisa em suas instalações, a

gerência não demostrou pleno interesse em implantar boas práticas de manejo pré-abate. Não

houve envolvimento da gerência da empresa e da gerência do controle de qualidade com o

projeto.

A relação com os funcionários do setor do curral iniciou-se amistosa. Nos primeiros

dias de coleta de dados do primeiro momento antes do treinamento, os funcionários foram

cordiais e demonstraram boa vontade em ajudar. Apenas um funcionário apresentou

resistência, sendo ele o responsável pelo setor. Durante o treinamento, houve muita resistência

dos funcionários em assistir palestras e manejar o gado de forma a respeitar as boas práticas

de manejo pré-abate. Já na segunda coleta de dados realizada após treinamento, houve

resistência dos funcionários em aderir às novas práticas de manejo pré-abate ensinadas

durante o treinamento.

4.2 Resultados da avaliação do manejo pré-abate antes do treinamento

4.2.1 Acontecimentos relacionados diretamente com o gado

Ao aplicar o check list baseado nos conceitos de bem-estar animal, observou-se que:

Animais vocalizaram durante o trajeto do curral até o box de insensibilização;

Os funcionários utilizaram bastão elétrico durante o trajeto do curral até o box de

insensibilização;

Animais escorregaram durante o trajeto do curral até o box de insensibilização;

Animais caíram durante o trajeto do curral até o box de insensibilização;

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Alguns animais só foram insensibilizados após o segundo disparo;

Alguns animais apresentaram sinais de consciência após insensibilização;

Os animais não apresentaram consciência durante a sangria.

Só foram consideradas as vocalizações ocorridas durante o trajeto entre o curral e o box

de insensibilização. Durante esse trajeto, 22% de um total de 100 animais observados,

vocalizaram.

Os funcionários utilizaram bastões elétricos durante todo o trajeto. O funcionário

responsável pelo setor e por manejar os animais para saírem dos currais possuía um bastão

elétrico portátil e utilizava sem receio e em qualquer parte do animal. Durante o trajeto entre o

curral e o chuveiro, o bastão elétrico foi utilizado em 22% dos animais. No chuveiro foi

utilizado excessivamente o bastão elétrico para retirar os animais do local. Foi utilizado

excessivamente no corredor após o chuveiro, no corredor que dá acesso a seringa, na seringa e

dentro do box de insensibilização. Foi utilizado também após o animal insensibilizado. O

bastão de choque foi usado 200 vezes em um lote com 100 animais.

Em um lote de 100 animais, observou-se que 14% dos animais escorregaram, sendo que

2% escorregaram após saírem do chuveiro, 5% escorregaram no final da seringa, antes de

entrarem no box de insensibilização e 7% escorregaram dentro do box insensibilização. Os

escorregões que ocorreram na saída do chuveiro podem ter sido causados por acúmulo de

água e fezes no corredor. No final da seringa havia um segundo banho de aspersão nos

animais, o que ocasionava certo acúmulo de água no piso. Também havia acúmulo de água do

piso do box de insensibilização, ocasionando os deslizamentos dos animais.

No lote de 100 animais observado para coletar os dados da pesquisa, 30% dos animais

sofreram queda ao longo do percurso entre o curral e o box de insensibilização, sendo que 7%

caíram antes de entrarem no chuveiro, 5% animais caíram após saírem do chuveiro, 2%

animais caíram no início da seringa, 11% animais caíram no final da seringa e 5% animais

caíram dentro do box. Havia acúmulo de fezes na entrada do chuveiro, e buracos no piso, o

que pode ter ocasionado essas quedas nesse setor. Na saída do chuveiro, como descrito

anteriormente, havia acúmulo de fezes e água no piso, o que ocasionou essas quedas. As

quedas ocorridas no início da rampa da seringa podem ter sido ocasionadas pelo acumulo de

água e fezes juntamente com a dificuldade dos animais idosos em se locomoverem. No final

da seringa, antes de entrar no box de insensibilização, havia um segundo banho de aspersão,

que ocasionava acúmulo de água no piso, fazendo com que ocorressem as quedas. Os animais

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que caíram dentro do box de insensibilização, provavelmente sofreram quedas devido a água

do segundo banho de aspersão que se acumulava no seu piso.

A pistola pneumática do frigorífico apresentava-se com problemas. Ela não estava

regulada adequadamente e por esse motivo o funcionário responsável pela insensibilização

dava mais de um disparo na maioria dos animais. Eram realizadas manutenções praticamente

todos os dias que se estava no estabelecimento, porém seria necessária a troca da pistola.

Do lote de 100 animais, 28% apresentaram algum vestígio de consciência após

insensibilização. Nenhum animal apresentou consciência no momento da sangria.

4.2.2 Eventuais acontecimentos que causam estresse aos animais e que estão relacionados ao

ambiente:

Ao aplicar o check list baseado nos conceitos de bem-estar animal, observou-se que:

Havia formação de poças de água no piso do curral e no corredor que dá acesso ao box

de insensibilização que poderiam refletir luz;

Havia formação de sombras no piso e em outras partes da estrutura do frigorífico;

Não havia excesso de luminosidade sobre os animais (brilho diretamente nos olhos dos

animais);

Não havia presença de odores fortes;

Havia excesso de ruídos;

Havia sons agudos.

Observou-se formação de poças de água principalmente dentro do chuveiro e no

corredor posterior ao chuveiro. Havia formação de sombra em vários locais do

estabelecimento. Ao longo do corredor, várias partes das suas laterais eram vazadas,

ocasionando assim, sombras no piso. A entrada do box de insensibilização era mal iluminada,

o que acarretava formação de sombra no piso e parede conforme pode ser visto na Figura 9.

Devido ao posicionamento do local do box de insensibilização em relação ao sol, havia

formação de sombra na parede da lateral esquerda do corredor que antecede o box de

insensibilização conforme mostrado na Figura 10.

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Figura 9 – Imagem da sombra existente na entrada do box de insensibilização.

Figura 10 – Imagem de sombras projetadas na parede lateral do final da seringa.

Não foi observado nenhum objeto refletindo luz ou lâmpada que tivesse luminosidade

intensa que pudesse estressar os animais ou que brilhassem diretamente nos olhos dos

mesmos. Nos dias que se desenvolveu o estudo no frigorífico, não foi observado a presença de

odores fortes.

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Como citado anteriormente, o estabelecimento foi construído em meados do século XX.

Quando construído, ficava afastado da cidade. Com o crescimento da cidade, o

estabelecimento foi envolvido por construções e a encontrava-se numa região movimentada,

com tráfego intenso de meios de transportes. Devido a esses fatores, a área externa do

frigorífico possuía barulho excessivo que acabava estressando os animais. Outro agravante

relacionado a ruídos era a localização da caldeira bem ao lado do corredor da seringa e box de

insensibilização. Foi observado também, que no local onde fica o box de insensibilização

escutava-se os ruídos provenientes de dentro da sala de matança, principalmente os ruídos

agudos das carretilhas usadas.

No primeiro dia de observação, foi encontrada uma mochila, de um funcionário do

setor, pendurada na cerca do lado esquerdo no final da rampa da seringa (Figura 11). Objetos

deixados ao longo do trajeto entre o curral e o box de insensibilização podem causar

distrações, assustar os animais e deixá-los estressados. Quando os animais visualizam esses

objetos estranhos para eles ao longo do trajeto, ficam distraídos ou assustados e se agitam e

assim se negarão em continuar o trajeto e tentarão voltar ao local de onde saíram, causando

tumulto durante o manejo (GRANDIN, 2009).

Figura 11 - Imagem da mochila encontrada ao longo do trajeto entre o curral e o box de insensibilização.

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4.2.3 Eventuais acontecimentos que causam estresse aos animais e que estão relacionados à

estrutura física e equipamentos:

Ao aplicar o check list baseado nos conceitos de bem-estar animal, observou-se que:

Não havia presença de ruídos provenientes de equipamentos ou da estrutura do curral

(porteiras);

Não havia equipamentos que exerciam demasiada pressão ao imobilizar o gado;

Havia presença de porteiras que quando fechadas poderiam pressionar acidentalmente

o animal;

Havia cercas e porteiras com pontas que poderiam machucar os animais;

Havia irregularidades no piso que poderiam causar escorregões ou quedas aos animais;

Não havia presença de material que refletia luz;

Não havia ar de equipamentos que poderiam assustar os animais.

Quando o estudo foi realizado, não foram observados ruídos provenientes de

equipamentos e da estrutura do curral. As porteiras não faziam ruídos quando manuseadas. As

porteiras só provocavam ruídos quando fechadas de forma brusca. Havia porteiras com

abertura vertical que podiam pressionar os animais se fechadas acidentalmente.

Durante todo o trajeto entre os currais e o box de insensibilização foram encontrados

irregularidades que poderiam machucar os animais. Foram encontrados pregos em um pilar de

madeira que se encontra na parede lateral esquerdo do corredor que antecede o chuveiro. Em

uma placa que está fixada nessa parede lateral esquerda do corredor que antecede o chuveiro

(Figura 12 e 13), foi observado que suas pontas inferiores estavam retorcidas. Caso o gado

fique agitado nesse corredor e durante o tumulto causado por eles algum animal for de

encontro a essa placa, poderá se ferir. A porteira de saída do chuveiro encontrava-se retorcida

(Figuras 14 e 15) e havia uma parte de uma coluna de madeira no corredor após o chuveiro

(Figura 16). Foram encontradas pontas na madeira da cerca da lateral esquerda no início da

seringa (Figura 17).

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Figura 12 – Imagem na placa de metal encontrada na lateral esquerda do corredor que antecede o

chuveiro.

Figura 13 - Imagem das pontas inferiores retorcidas da placa encontrada na lateral esquerda do corredor

que antecede o chuveiro.

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Figura 14 – Imagem da porteira de saída do chuveiro que encontrava-se com placas de metal retorcidas.

Figura 15 – Imagem da chapa metálica retorcida da porteira de saída do chuveiro.

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Figura 16 – Imagem da parte de uma coluna de madeira encontrada no corredor após o chuveiro.

Figura 17 – Imagem das pontas na madeira da cerca da lateral esquerda encontradas no início da seringa.

Foram observadas irregularidades no piso em vários locais do setor do curral. Foram

encontrados dois buracos (Figuras 18 e 19) e outras irregularidades no corredor que antecede

o chuveiro. Na seringa foram encontrados 2 buracos no seu início (Figura 20) e 1 buraco no

final do setor (Figura 21). Também foram observados irregularidades ao longo da seringa. O

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piso do corredor onde está o segundo chuveiro que antecede o box de insensibilização

apresentava-se com irregularidades.

Figura 18 – Imagem do buraco encontrado no corredor que antecede o chuveiro.

Figura 19 – Imagem de buraco encontrado no corredor que antecede o chuveiro.

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Figura 20 - Imagem dos buracos encontrados no início da seringa.

Figura 21 – Imagem do buraco encontrado na seringa.

O único equipamento que utilizava ar comprimido era a pistola pneumática. Esse

equipamento não produzia jatos de ar que poderiam direcionar-se sobre os animais e assim

estressá-los.

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4.2.4 Resultado da avaliação realizada através do check list baseado na instrução normativa

n°3 de 2000 do MAPA

4.2.4.1 requisitos aplicados aos estabelecimentos de abate em relação à infraestrutura e

comportamento dos funcionários do setor do curral

Ao aplicar o check list baseado na Instrução Normativa n°3 de 2000 do Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2000) para avaliar a infraestrutura do curral

e comportamento dos funcionários, observou-se que:

O estabelecimento possuía instalações apropriadas para o desembarque de animais dos

meios de transporte;

Os animais eram descarregados o mais rapidamente possível;

Em caso de espera, os animais não eram protegidos contra condições climáticas

extremas e beneficiados de uma ventilação adequada;

Os animais não eram acuados, excitados ou maltratados quando ainda se encontravam

no caminhão;

Animais que corriam o risco de se ferirem mutuamente devido à espécie, sexo, idade

ou origem, eram separados em locais adequados;

Animais acidentados durante o transporte ou em estado de sofrimento quando

chegavam ao estabelecimento de abate eram submetidos à matança de emergência;

Os animais não eram transportados e sim arrastados, ainda conscientes, para o abate

emergencial;

Os animais eram agredidos fisicamente;

Os animais não eram movimentados com cuidado;

Os bretes e corredores por onde os animais eram encaminhados, não foram concebidos

de modo a reduzir ao mínimo os riscos de ferimento e estresse;

Os instrumentos destinados a conduzir os animais não eram utilizados unicamente

para esse fim e por instantes;

Os dispositivos produtores de descargas elétricas não eram utilizados apenas em

caráter excepcional em animais que se recusavam mover-se;

O dispositivo elétrico era usado por apenas dois segundos;

Utilizava-se o dispositivo elétrico em espaço insuficiente para os animais avançarem;

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A descarga elétrica não era utilizada apenas nos membros posteriores;

Utilizava-se descarga elétrica com voltagem específica de 60V;

Os animais mantidos no curral tinham acesso à água limpa e abundante;

Os animais mantidos no curral por mais de 24 horas eram alimentados com

quantidades moderadas de alimentos e em intervalos adequados.

O curral possuía instalação apropriada para o desembarque de animais dos meios de

transporte. O curral não possuía rampa para desembarque, pois o mesmo foi construído de

forma que ficasse no mesmo nível dos caminhões, porém esse método de desembarque não é

muito eficaz, pois pode formar degrau entre o caminhão e o corredor do curral devido às

diferenças nas alturas dos caminhões que descarregavam nesse estabelecimento. Observou-se

que ocorria essa formação de degrau em caso de desembarque de gado transportado por

caminhões menores (Figura 22). O frigorífico não possuía nenhum plano de ação para evitar a

formação de degrau causado pela diferença entre a altura da rampa de descarregamento e o

caminhão. Um funcionário relatou que já houve caso de animal quebrar uma pata ao

desembarcar.

Figura 22 – Imagem do degrau formado entre o caminhão e o desembarcador.

Os animais eram descarregados logo que chegavam ao frigorífico e isso só era possível

porque o estabelecimento recebe pequenos lotes de animais durante todo o dia. Ao serem

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recepcionados, não eram acuados, excitados ou maltratados. O estabelecimento não possuía

estrutura com sombra e ventilação adequada caso houvesse a necessidade de espera para

descarregamento.

Após o desembarque, os animais eram manejados para os currais de espera. Nos currais

eram separados por lote de origem e se necessário eram apartados em relação à espécie, sexo

e idade para evitar que ocorressem riscos de se ferirem. Eram acomodados no máximo 30

animais por curral. Não era sempre que se alcançava essa lotação de 30 animais por curral,

pois a maioria dos lotes eram inferiores a esse valor. Porém quando alcançava a lotação

máxima indicada pela empresa a densidade dos currais chegava ao limite indicado como

confortável por PARDI et al. (2006) que é de 2,5m2 por bovino. A área dos currais era de

72m² sendo 2,4m² a área disponível para cada animal em caso de lotação máxima.

Animais que precisavam de abate emergencial ficavam em um curral separado (curral

de emergência) até a hora que seriam abatidos. O frigorífico não possui prédio próprio para

abate emergencial, ou seja, sala de necropsia. Os animais que precisavam de abate de

emergência eram levados em carrinhos até a base da rampa e então eram puxados para o box

de insensibilização para serem sacrificados. Eles eram arrastados ainda conscientes para o box

de insensibilização, pois o frigorífico não possuía pistola para abate emergencial. Depois de

sacrificados as carcaças desses animais eram enviadas para a graxaria.

Durante o período de observação e coleta de dados, viu-se que os funcionários agrediam

os animais com bastões usados para manejar os mesmos e com pedaços de madeira; usavam

excessivamente o bastão elétrico e animais eram puxados por rabos e orelhas. Flagrou-se

agressões nos currais e em todo trajeto entre currais e box de insensibilização. Também se

notou que funcionários gritavam excessivamente na hora do manejo. Principalmente por um

funcionário antigo do frigorífico que ficava nos currais e era o responsável pelo setor. Esse

funcionário utilizava um varão e um dispositivo elétrico para manejar os animais. Muitas das

vezes utilizavam esses mecanismos de forma abusiva. Além do bastão elétrico portátil

utilizado por esse funcionário, o setor possuía mais dois dispositivos elétricos. Um se

encontrava no setor do chuveiro e o outro no corredor que antecede o box de insensibilização.

Esses dispositivos eram excessivamente utilizados pelos funcionários que ficavam manejando

o gado durante o banho de aspersão e manejando o gado na extensão da seringa. Mesmo com

orientações do Controle de Qualidade da empresa e cobrança do fiscal do Serviço de Inspeção

Federal, não havia critério para uso do bastão elétrico em relação ao motivo, quantidade de

uso, local onde usar e tempo de uso. Usavam o dispositivo elétrico nos animais em espaços

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insuficientes para os mesmos avançarem. A sua voltagem era específica, estando entre 50 –

60V.

Os corredores, como descrito anteriormente, foram construídos em linha reta, o que

pode causar estresse aos animais, pois ao passar por esses locais eles não eram induzidos a

pensarem que estariam voltando ao local de onde saíram. Currais curvos funcionam melhor

do que currais construídos em linha, porque o gado quando faz uma curva de 180°, pensa

estar voltando para o seu lugar de origem (GRANDIN, 1998).

Foram encontrados ao longo do trajeto entre curral e box de insensibilização vários

riscos de ferimentos aos animais, os quais já foram descritos anteriormente.

Os animais ficavam em dieta hídrica por no mínimo seis horas. Durante esse período

ficavam nos curais de espera, os quais possuíam piso antiderrapante e sem acúmulo de água,

porém havia formação de poças d’água, suas cercas eram de metal e com pintura sem brilho,

as porteiras eram da largura do corredor, possuíam bebedouros de alvenaria e lisos, porém não

eram higienizados diariamente, como pode ser observado na Figura 23. Os currais possuíam

chuveiro de aspersão, mas esses não eram usados frequentemente. Não possuíam cobertura,

mas possuíam iluminação artificial.

Figura 23 – Imagem dos bebedouros que não eram higienizados diariamente.

Os animais mantidos nos currais por mais de 24 horas, eram alimentados com

quantidades moderadas de alimentos e intervalos adequados.

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4.2.4.2 contenção no box de insensibilização, insensibilização e sangria dos animais

Ao aplicar o check list baseado na Instrução Normativa n°3 de 2000 do MAPA

(BRASIL, 2000) para avaliar a contenção no box de insensibilização, a insensibilização e a

sangria dos animais, observou-se que:

Os animais não eram imediatamente insensibilizados logo após a sua contenção;

Animais eram colocados no box de insensibilização sem a presença do responsável

pela operação;

Método de insensibilização utilizado era o Percussivo Penetrativo com dardo cativo;

A pistola era posicionada de modo a assegurar que o dardo penetrasse no córtex

cerebral através da região frontal;

Não se fazia a imobilização da cabeça do animal para que o funcionário pudesse

efetuar a insensibilização;

O operador do equipamento de insensibilização era devidamente treinado;

A operação de sangria não era iniciada logo após a insensibilização do animal;

A operação de sangria era realizada pela seção dos grandes vasos do pescoço;

Após a secção dos grandes vasos do pescoço, eram realizadas na calha de sangria

operações de mutilações antes do sangue escorrer o máximo possível;

Não ocorria estimulação elétrica com o objetivo de acelerar as modificações post-

mortem;

O colaborador responsável pela sangria era devidamente treinado.

Durante a aplicação do check list realizado antes do treinamento, observou-se que era

corriqueira a prática de deixar os animais aguardando no box de insensibilização. Isso ocorria

quando o funcionário responsável por içar os animais ficava com acúmulo de serviço e

quando aconteciam problemas com a pistola pneumática. Acontecia, também, de animais

ficarem esperando por algum tempo no corredor que antecede o box de insensibilização.

Tempo que durava, às vezes, mais de 10 minutos.

O funcionário responsável pela insensibilização se ausentava várias vezes do setor para

levar o equipamento de insensibilização para a manutenção. O responsável pela atividade de

insensibilizar os animais era devidamente treinado e apresentava experiência na função.

Após realizada a insensibilização, ocorreu de animais aguardarem mais de um minuto

para serem içados e enviados para a calha de sangria, correndo assim o risco de retornarem a

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consciência. Durante a sangria, o funcionário responsável pela atividade costumava iniciar a

esfola ainda na calha de sangria sem esperar o tempo mínimo de 3 minutos para escoamento

total do sangue.

4.3 Coleta quantitativa de dados:

Para facilitar a coleta quantitativa de dados, o trajeto entre curral e box de

insensibilização e posterior sangria, foi dividido em partes, sendo:

Curral (Setor A);

Corredor antes do chuveiro (Setor B);

Chuveiro (Setor C);

Corredor após sair do chuveiro (Setor D);

Início da seringa (Setor E);

Final da seringa (Setor F);

Box de insensibilização (Setor G);

Após insensibilização (Setor H);

Sangria (Setor I).

Foi observado um lote de 100 animais, sendo esses de várias origens, de ambos os sexos

e de várias raças e idades. Os resultados da avaliação do manejo pré-abate realizada antes do

treinamento são apresentados na Tabela 2.

Dos 100 animais observados, 63% foram açoitados, sendo 19% açoitados no Setor A,

20% açoitados no setor B, 17% açoitados no Setor E, 5% açoitados no Setor F e 2% açoitados

no setor G. Nenhum animal foi açoitado no Setor C e no Setor D. Os animais açoitados no

Setor A, foram agredidos na hora em que o manejador iniciava o manejo para o abate, ou seja,

quando retirava os animais dos currais de espera. Eram agredidos principalmente os animais

idosos. Foram açoitados com pedaços de madeira, bastões e pedaços de corda. Os animais

açoitados no Setor B, ou no corredor entre os currais e o banho de aspersão, foram agredidos

pelo manejador com pedaços de madeira e bastões. Foram agredidos principalmente os

animais mais idosos e aqueles que se recusam, por algum motivo, a andar. Nenhum animal foi

açoitado no Setor C e no Setor D, ou seja, durante o banho de aspersão e no corredor existente

após o banho de aspersão. Os animais açoitados no setor E, foram agredidos no início da

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seringa. Os manejadores batiam e puxavam o rabo ou orelha dos animais idosos que deitavam

no piso e se negavam a subir a rampa da seringa. Também foram usados pedaços de madeira

para agredir os animais. Os animais açoitados no Setor F foram agredidos no final da seringa.

Foram agredidos os animais que se negavam a caminhar em direção ao box de

insensibilização. Os manejadores puxaram animais pelo rabo e chutaram os mesmos.

Dos 100 animais observados, 3% animais se jogaram contra as cercas durante o início

do manejo no Setor A. Os animais que se jogaram contra as cercas do curral na hora de iniciar

o manejo eram principalmente da raça nelore e machos. Apresentavam-se bastante agitados.

Dos 100 animais observados, 14% dos animais deslizaram durante o trajeto que

iniciava-se nos currais de espera encerrava-se no box de insensibilização. Não houve deslizes

de animais no Setor A, no Setor B, no Setor C, no Setor E, porém 2% dos deslizamentos

ocorreram no Setor D, 5% dos deslizamentos foram no Setor F e 7% dos deslizamentos

aconteceram no setor G. Os deslizamentos ocorridos no Setor D ocorreram devido ao

acumulo de água e fezes presente no piso. Os deslizamentos ocorridos no Setor F eram

provenientes da água acumulada no piso, pois nesse setor ficava o segundo banho de

aspersão. Os deslizamentos ocorridos dentro do box de insensibilização, ou Setor G, também

foram causados por acúmulo de água no piso.

Dos 100 animais observados durante o manejo, 29% caíram durante o trajeto que ia dos

currais até o box de insensibilização. Nenhum animal caiu no Setor A e Setor C, porém 7%

dos animais caíram no Setor B, 5% dos animais caíram no Setor D, 2% dos animais caíram no

Setor E, 11% dos animais caíram no Setor F e 4% animais caíram no Setor G. As quedas

ocorridas no Setor B foram causadas por acumulo de fezes presentes na entrada no banho de

aspersão, por manejo inadequado e pela idade avançada de alguns animais. As quedas

ocorridas no Setor D foram ocasionadas pelo excesso de água e fezes acumulados no piso do

corredor que se encontrava após a saída do banho de aspersão e devida à idade avançada de

alguns animais. As quedas ocorridas no Setor E também foram ocasionadas devido ao

acumulo de água no piso. As quedas ocorridas no Setor F foram ocasionadas devido ao

acumulo de água no piso causado pelo segundo banho de aspersão, pela agitação dos animais

e pela idade avançada de alguns animais. As quedas ocorridas no Setor G foram ocasionadas

por causa da água presente no piso no box de insensibilização e era proveniente do banho de

aspersão que antecede o momento da insensibilização. Alguns animais chegavam agitados

dentro do box de insensibilização devido a vários fatores estressantes encontrados durante o

trajeto e isso pode ter influenciado nas quedas.

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Dos 100 animais observados durante o manejo, 22% vocalizaram ao longo do trajeto

que iniciava nos currais e finalizava no box de insensibilização. Nenhum animal vocalizou no

Setor A, Setor D, Setor H e Setor I. A ausência de vocalização no Setor H e Setor I era devido

ao fato dos animais estarem insensibilizados. Um por cento vocalizou no Setor B, 1% dos

animais vocalizou no Setor C, 1% dos animais vocalizou no Setor E, 11% dos animais

vocalizaram no Setor F e 8% dos animais vocalizaram no Setor G. A vocalização ocorrida no

Setor B aconteceu logo após os animais saírem dos currais de espera e foi ocasionada por uso

de bastão elétrico. A vocalização ocorrida no Setor C aconteceu durante o banho de aspersão

e foi ocasionada devido ao uso de bastão elétrico. A vocalização ocorrida no Setor E

aconteceu quando os animais encontravam-se no início da seringa que dá acesso ao box de

insensibilização e pode ter sido ocasionada devido ao uso de bastão, devido a deslizamento ou

devida a quedas ocorridas naquele local. As vocalizações ocorridas no Setor F aconteceram

durante o banho de aspersão e podem ter sido ocasionadas devido ao uso de bastão elétrico,

deslizes ou quedas ocorridas naquele local e devido ao fato dos animais ficarem parados

esperando para entrar no box de insensibilização e assim, ficando agitados. As vocalizações

ocorridas no Setor G aconteceram durante o período que os animais ficavam esperando dentro

do box de insensibilização.

Durante a coleta de dados realizada antes e após o treinamento onde foi avaliado lotes

de 100 animais, observou-se que o bastão elétrico foi utilizado 200 vezes durante o manejo

entre os currais e o box de insensibilização. O bastão elétrico não foi utilizado quando o

manejador retirava os animais dos currais de observação no Setor A, porém foi utilizado em

22% dos animais no Setor B, em 28% dos animais no Setor C, em 48% dos animais no Setor

D, em 5% dos animais no Setor E, em 89% dos animais no Setor F e em 8% dos animais no

Setor G. No Setor B o bastão elétrico foi utilizado para fazer os animais avançarem pelo

corredor que existia entre os currais e o banho de aspersão.

Durante o banho de aspersão no Setor C, o bastão elétrico foi utilizado para fazer com

que os animais saíssem do chuveiro e para fazer com que animais que haviam caído se

levantassem. No Setor D o bastão elétrico foi utilizado para fazer os animais que caíram se

levantar, para fazer com que os animais entrassem no início da seringa e nos animais que

tentavam voltar para dentro do banho de aspersão. O bastão elétrico foi utilizado no Setor E

para fazer com que os animais avançassem pelo trajeto do início da rampa da seringa e em

animais, que mesmo dentro do corredor, tentavam retornar para o chuveiro. O bastão elétrico

foi utilizado no Setor F para fazer com que os aninais fossem em direção ao box de

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insensibilização e fazer com que os animais que haviam caído se levantarem. No Setor G o

bastão elétrico foi utilizado de forma inconsequente para testar, segundo o funcionário, a

eficiência da insensibilização.

Dos 100 animais observados durante a coleta de dados realizada antes do treinamento

para avaliar a eficiência do manejo entre os currais e o box de insensibilização, apenas 1%

caiu devido a buracos encontrado ao longo do trajeto, sendo a queda ocorrida no Setor B.

Dos 100 animais observados durante a coleta de dados realizada antes do treinamento,

76% dos animais levaram mais de um disparo da pistola pneumática. Isso ocorreu devido aos

problemas do equipamento.

Dos 100 animais observados durante a coleta de dados realizada antes do treinamento,

28% movimentaram os membros dianteiros após a insensibilização e antes de ser realizada a

sangria. Esses movimentos demonstram que o animal ainda apresenta consciência e isso

provavelmente ocorreu devido aos problemas de regulagem da pistola pneumática, ao mau

posicionamento da pistola na cabeça do animal na hora da insensibilização, ao choque dado

após a insensibilização e a demora em realizar a sangria. Nenhum animal apresentou

movimento dos membros dianteiros após a sangria.

Dos 100 animais observados durante a coleta de dados realizada antes do treinamento,

nenhum animal apresentou movimentos oculares antes ou após a sangria.

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66

Tabela 2 – Valores obtidos durante a avaliação do manejo pré-abate realizada antes do treinamento.

Setor

A

Setor

B

Setor

C

Setor

D

Setor

E

Setor

F

Setor

G

Setor

H

Setor

I

Total

Animais açoitados durante

o manejo

19 20 0 0 17 5 2 - - 63

Animais que se jogaram

contra as cercas durante o

manejo

3 0 0 0 0 0 - - - 3

Animais que deslizaram

durante o manejo

0 0 0 2 0 5 7 - - 14

Animais que caíram

durante o manejo

0 7 0 5 2 11 4 - - 29

Animais que vocalizaram

durante o manejo

0 1 1 0 1 11 8 0 0 22

Animais que levaram

choque durante o manejo

0 22 28 48 5 89 8 - - 200

Animais que caíram em

buracos existentes durante

o manejo

0 1 0 0 0 0 - - - 1

Animais que levaram mais

de um tiro da pistola

pneumática

- - - - - - 76 - - 76

Animais que apresentaram

movimento dos membros

dianteiros antes sangria

- - - - - - - 28 - 28

Animais que apresentaram

reflexos e movimentos

oculares antes sangria

- - - - - - - 0 - 0

Animais que apresentaram

reflexos e movimentos

oculares após sangria

- - - - - - - - 0 0

Animais que apresentaram

movimento dos membros

dianteiros após sangria

- - - - - - - - 0 0

4.4 Avaliação de hematomas em carcaças realizada antes do treinamento

A classificação das contusões em relação a sua localização na carcaça é apresentada no

Gráfico 1. Foram contabilizados 247 hematomas distribuídos nas 100 carcaças. Observou-se

que a maior concentração de hematomas, 32%, é na região de escore 2, ou seja, região

composta pelos cortes alcatra, picanha e maminha. Em seguida vêm os hematomas que

receberam escore 5, sendo 25% dos mesmos. Fazem parte do escore 5, os hematomas de

importância que aparecem em dois locais da meia carcaça traseira bovina. Durante a avaliação

visual, observou-se que a maioria das meias carcaças que receberam escore 5, possuíam 2

hematomas na região pélvica que possui os cortes alcatra, picanha e maminha.

Onze por cento das meias carcaças receberam escore 6, pois apresentavam uma

contusão séria em 3 locais da meia carcaça traseira bovina. Normalmente eram dois

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hematomas na região da alcatra e um hematoma na região do coxão duro. Algumas meias

carcaças apresentavam dois hematomas na região da alcatra e um hematoma na região do

contrafilé.

Dez por cento receberam escore 1. Os hematomas dessas meias carcaças estavam

localizados na região próxima da região pélvica que é composto pelos cortes coxão duro,

coxão mole, lagarto e patinho. Nove por cento das meias carcaças receberam escore 7, pois

haviam contusões sérias em 3 locais do quarto traseiro e sempre com a presença de

hematomas na região onde se encontra a alcatra.

Quatro por cento das meias carcaças receberam escore 4, pois havia uma contusão séria

no dianteiro, sendo estes na região composta pelo corte denominado pá ou no corte

denominado peito. Observou-se que 3% das meias carcaças apresentavam contusões sérias na

região do contrafilé, recebendo assim, escore 3.

Viu-se também, que 3% das meias carcaças apresentavam hematomas de grande

relevância em um local do quarto dianteiro e em dois locais do quarto traseiro, recebendo

assim escore 8. Dessas meias carcaças com escore 8, as contusões no quarto traseiro se

encontravam na região da pelve, ou seja, região onde se encontra a alcatra, na região próxima

a pelve, na região da pá e pescoço no quarto dianteiro.

Dois por cento das meias carcaças receberam escore 9, pois as contusões sérias estavam

presentes em um ponto do quarto dianteiro e em 3 pontos do quarto traseiro. Dessas meias

carcaças com escore 9, as contusões sérias no quarto dianteiro localizavam-se na região da pá

ou peito e na região do contrafilé, na região da pelve e próximo à pelve no quarto traseiro.

Provavelmente, o transporte pode ter sido o responsável por essa grande quantidade de

hematomas na região pélvica, pois normalmente contusões com essas características

acontecem devido à densidade de carga irregular. Ou a densidade está alta e os animais estão

espremidos, ou a densidade está baixa e os animais estão se apoiando nas laterais do

caminhão para se equilibrarem. ELDRIDGE (1988, apud GRANDIN 1995) diz que uma

pesquisa realizada na Austrália mostrou que caminhões com excesso de carga e com carga

insuficiente aumentava a quantidade de contusões. Para GRANDIN (1995), estes estudos

demonstram que há uma densidade ideal para o carregamento do caminhão para realizar o

transporte do gado.

Já as contusões do dianteiro na região do peito e região da pá podem ter sido causadas

pela porteira de saída do chuveiro, a qual se encontrava danificada e durante as observações

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no curral foram presenciadas tentativas dos animais escaparem por ela quando se

encontravam assustados.

Gráfico 1 – Classificação das contusões em relação a sua localização na carcaça. Escore 1:

carcaças que possuíam um hematoma localizado nos cortes que compõem a região próxima a

região pélvica, que são os cortes coxão duro e coxão mole. Escore 2: carcaças que possuíam um

hematoma localizado na região pélvica que é composta pelos cortes alcatra, picanha e maminha.

Escore 3: carcaças que possuíam um hematoma localizado na região lombar, onde temos o

contrafilé. Escore 4: carcaças que possuíam um hematoma localizado na pá ou no peito, que são

cortes do quarto dianteiro. Escore 5: carcaças com hematomas de grande importância em dois

locais do quarto traseiro. Escore 6: carcaças que apresentavam 3 hematomas de grande

importância localizados nas regiões do quarto traseiro. Escore 7: carcaças que possuíam um

hematoma de grande importância no quarto dianteiro e um hematoma de grande importância no

quarto traseiro. Escore 8: carcaças que possuíam uma contusão séria no quarto dianteiro e duas

contusões sérias no quarto traseiro. Escore 9: carcaças que apresentavam uma contusão séria no

quarto dianteiro e três contusões sérias no quarto traseiro.

A porcentagem da classificação das contusões em relação ao seu tamanho é apresentada

no Gráfico 2. Ao avaliar o tamanho das 247 contusões, 51% dos hematomas receberam escore

2, ou seja, com tamanho entre 6 e 10 cm de diâmetro; 21% dos hematomas receberam escore

1, tendo entre 1 e 5 cm de diâmetro; 19% dos hematomas receberam escore 3, tendo eles entre

11 e 15 cm de diâmetro; 6% receberam escore 4, tendo entre 16 e 20 cm de diâmetro e 3%

receberam escore 5, tendo entre 20 e 25 cm de diâmetro. Hematomas com menos de 1 cm não

foram quantificados.

10%

32%

3%

4%

25%

11%

9%

4% 2%

Localização dos hematomas na carcaça antes do treinamento

Escore 1

Escore 2

Escore 3

Escore 4

Escore 5

Escore 6

Escore 7

Escore 8

Escore 9

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69

Os hematomas que possuíam tamanho entre 6 e 10 cm e tamanho entre 1 e 5 cm podem

ser originários de agressões físicas por parte dos funcionários ou podem ser originários de

algo com formato tubular de pequeno diâmetro. Durante o estudo, no período de observação

do comportamento dos funcionários, foram observadas atitudes agressivas por parte dos

mesmos em relação aos animais. Foram encontrados bastões e pedaços de madeiras que os

funcionários utilizavam para manejar o gado e também agredi-los. Para Grandin (1995) Os

tubos de pequeno diâmetro tendem a causar lesões com mais de quatro centímetros. Podem

ser também originários das porteiras com abertura vertical, principalmente se forem na região

do contrafilé. Segundo Grandin (1995), frigoríficos que possuem box de insensibilização com

porteiras de acesso com abertura vertical devem treinar seus funcionários para ter cuidado na

hora de manuseá-la. Se ela se fecha sobre o dorso do animal, eles sofrem ferimentos graves.

Grandin(entre 1990 e 2010) diz que a contusão causada durante a estadia nos currais de espera

estará presente no mesmo local do corpo de animais de diferentes origens.

Os hematomas com diâmetro entre 11 e 15cm, diâmetro entre 16 e 20cm e diâmetros

entre 20 e 25 cm podem ser originários do transporte, do período de estadia nos currais no

estabelecimento ou até mesmo causadas pelo chifre de outros animais. Esses hematomas

podem ocorrer devido ao fato dos animais pisarem um nos outros e isso acontece muito

durante o transporte e nos currais de espera. Segundo Grandin (entre 1990 e 2010) ferimentos

graves, em que uma parte significativa de carne e seus vasos estão completamente arruinados,

é uma indicação de que o animal tenha sido pisoteado durante o transporte devido a

sobrecarga, pois em um caminhão sobrecarregado quando o animal cai não tem espaço para

ficar de pé novamente. Esse fato ocorre bastante com os animais abatidos nesse frigorífico,

pois o mesmo trabalha com sistema de marchante o que ocasiona o abate de animais de

descarte, ou seja, animais idosos e fracos. Esses animais, devido as suas condições físicas, não

conseguem ficar em pé e acabam sendo pisoteados pelos animais sadios. Para Grandin (entre

1990 e 2010), maus hábitos de condução como a frenagem brusca ou aceleração repentina

causam contusões nos animais devido ao fato dos mesmos perderem o equilíbrio. Grandin

(entre 1990 e 2010) diz também que se parte dos animais provenientes da mesma origem possuir

contusões, mas outros animais da mesma origem não possuírem, pode-se suspeitar do

motorista que fez essa viagem. Afirma também que as lesões profundas com diâmetro que

atinge 20 cm, geralmente são causadas pelos chifres.

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Gráfico 2 – Classificação das contusões em relação ao seu tamanho. Tamanho 1: hematomas

que mediam entre 1 a 5 centímetros. Tamanho 2: hematomas que mediam entre 6 e 10

centímetros. Tamanho 3: hematomas que mediam entre 11 e 15 centímetros. Tamanho 4:

hematomas que mediam entre 16 e 20 centímetros. Tamanho 5: hematomas que mediam mais de

21 centímetros.

A porcentagem da classificação das contusões em relação a sua coloração é apresentada

no Gráfico 3. Em relação à coloração dos hematomas, verificou-se que 65,2% dos 247

hematomas contabilizados possuíam coloração vermelho/azulado ou púrpuro, o que indica,

segundo Anderson (1979), que foram feitos em menos de 24 horas. Os restantes dos

hematomas são de coloração marrom para púrpuro escuro, indicando 1-2 dias de idade.

Grandin (entre 1990 e 2010) afirma que lesões mais antigas são observados facilmente um muco

amarelo, que não existe nas lesões recentes e que se você encontrar esse tipo de mucosa

amarelada a contusão ocorreu dias ou mesmo semanas antes do abate.

Devido as suas colorações, nota-se que esses hematomas foram feitos durante o manejo

pré-abate. Desses hematomas, 65,2% podem ser originários do descarregamento ou do

manejo dentro do curral, pois foram feitos em menos de 24 horas. Os outros hematomas,

34,8%, podem ser originários do momento em que o gado foi reunido no curral para

embarque, durante o embarque ou transporte.

Deve-se lembrar de que devido ao fato do frigorífico onde foi realizado o estudo

trabalhar com sistema de marchante, os animais podem vir em pequena quantidade ou

sozinhos dentro do caminhão boiadeiro. A empresa não tem horário fixo para recebimento dos

animais que foram abatidos. Os animais são entregues no frigorífico principalmente no

período da tarde e noite. Não há empresa própria para transporte dos animais e nem um

modelo próprio para o caminhão boiadeiro.

21%

51%

19%

6% 3%

Tamanho dos hematomas das carcaças

Tamanho 1

Tamanho 2

Tamanho 3

Tamanho 4

Tamanho 5

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Gráfico 3 – Classificação das contusões em relação a sua coloração. Escore 1: hematomas que

possuíam coloração vermelho/azulado ou púrpura, indicando que foram feitas em menos de um

dia. Escore 2: hematomas que possuíam coloração marrom para púrpuro escuro, indicando que

foram feitas entre 1 e 2 dias. Escore 3: hematomas que possuíam coloração verde para marrom,

indicando entre 3 e 5 dias. Escore 4: hematomas com coloração amarela e com efeito exsudativo,

indicando entre 5 e 7 dias. Escore 5: hematomas com coloração entre amarelo e marrom e com

efeito exsudativo, indicando mais de uma semana.

Entre as 100 carcaças avaliadas, foram contabilizadas 37 contusões causadas por uso de

bastão elétrico distribuídas em várias regiões, porém sendo mais comum na área da região

pélvica ou próxima desta. Essas contusões têm características próprias. Possuem uma

coloração clara, com tonalidade rosada a avermelhada, formas arredondadas e parecidas com

o formato de uma aranha. Seu diâmetro é de no máximo 2 cm. Já eram aguardadas essas

contusões, pois o bastão elétrico foi utilizado indevidamente de forma excessiva pelos

funcionários do curral.

Das 100 carcaças avaliadas, apenas 15% não apresentaram hematomas. Os hematomas

retirados das carcaças pela equipe responsável foram separados e pesados posteriormente em

balança industrial contida no estabelecimento onde foi realizado o estudo. Foram retirados

32,8 kg de hematomas, dando uma média de 0,328 kg por carcaça. No entanto, cabe salientar

que o peso de carne retirada devido aos hematomas deveria ser maior, já que o toalete foi

realizado pela equipe responsável e devido aos interesses financeiros da empresa e dos

marchantes que contratam seus serviços, ele não foi feito de forma satisfatória. Em um estudo

realizado por Andrade (2008) foi retirado em média 0,454 kg por animal ou 0,481 kg por

animal que apresentou hematomas. No estudo de Andrade(2008) foi avaliado 88 carcaças e 83

apresentaram contusões.

65%

35%

0% 0%

0%

Coloração dos hematomas das carcaças

Escore 1

Escore 2

Escore 3

Escore 4

Escore 5

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4.5 Valores de pH obtidos antes do treinamento

Foi realizada a medição do pH de 100 carcaças após 24 horas do abate e seus valores

são apresentados no Gráfico 4. O pH foi medido no músculo longíssimus dorsi,

preferencialmente entre a décima e décima primeira costela das meias carcaças.

Das 100 carcaças, 10% apresentaram pH 5,7, 16% apresentaram pH 5,8, 33% carcaças

apresentaram pH 5,9, 18% apresentaram pH 6,0, 15% apresentaram pH 6,1, 5% apresentaram

pH 6,2, 1% apresentou pH 6,3, 1% apresentou pH 6,4 e 1% apresentou pH 6,5.

Segundo Tarrant (1989), carcaças com pH acima de 5,8 possuem carne com alta

capacidade de retenção de água, escura e com vida de prateleira mais curta, recebendo essa

anomalia o nome de “Dark-cutting beef” (carne bovina de corte escuro) ou DFD (“dark, firm

and dried”, ou escura, firme e seca). Das 100% carcaças avaliadas, 74% apresentaram pH

acima de 5,8.

Gráfico 4 – Porcentagem de pH retirados das carcaças 24 horas após o abate.

10%

16%

33%

18%

15%

5%

1% 1% 1%

pH das carcaças total

pH 5,7

pH 5,8

pH 5,9

pH 6

pH 6,1

pH 6,2

pH 6,3

pH 6,4

pH 6,5

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73

4.6 Treinamento

O treinamento em manejo racional foi realizado através de treinamento teórico e

treinamento prático.

O material utilizado nas palestras ministradas durante o treinamento teórico foi

direcionado especificamente a realidade do frigorífico. Foram utilizados vídeos da WSPA

(World Society for the Protection of Animals) e vídeos e fotos das instalações do frigorífico,

principalmente do setor do curral. Com esses vídeos e fotos feitos na empresa, eram

levantados os pontos críticos das instalações e do manejo. Desta forma os funcionários

conseguiram visualizar, em sua própria realidade, o comportamento dos animais, além de seu

próprio comportamento, o que tem um impacto motivador.

A proposta inicial era de um treinamento de 10 horas, porém devido à dificuldade de

manter os funcionários na empresa após o expediente, esse tempo foi reduzido. Foi ministrado

um treinamento de duas horas no final do mês de agosto de 2013. No dia seguinte, quando

seria iniciado o treinamento prático, observou-se que os funcionários do setor do curral

demonstravam falta de vontade em adquirir conhecimento prático em manejo animal. Então

optou-se em ministrar mais um treinamento teórico de aproximadamente duas horas e meia.

Esses treinamentos teóricos foram ministrados a todos os funcionários do curral, ao

funcionário responsável pela insensibilização, ao funcionário responsável por içar os animais

e para o funcionário responsável pela sangria.

Durante a realização deste treinamento, ocorreram dificuldades de colaboração de

alguns funcionários, que dificultaram a obtenção plena da transmissão de informações

proposta pela pesquisadora.

O treinamento prático constituiu na aplicação dos conceitos teóricos nas práticas de

manejo através de demonstrações sobre o uso ideal de instalações e equipamentos utilizados

no manejo racional, como por exemplo: uso da bandeira e posicionamento correto em relação

aos animais para tocá-los.

A proposta inicial era que o treinamento prático durasse 20 horas, mas devido ao fato da

empresa não ter um horário fixo para a saída dos funcionários, pois o volume de abate não é

constante, o treinamento durou três dias de expediente, durando aproximadamente 22 horas.

Durante o treinamento, tentou-se uma interação maior entre palestrante e expectadores, para

auxiliar no desenvolvimento de mudanças relacionadas à atitude dos funcionários. Nessa

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74

etapa, foi dada grande atenção aos problemas operacionais presentes no dia-a-dia dos

funcionários.

4.7 Resultados obtidos com os check lists aplicados após o treinamento

4.7.1 Check list baseado nos conceitos de bem-estar animal

Ao aplicar o check list baseado nos conceitos de bem-estar animal após o treinamento

dos funcionários, observou-se que:

Os funcionários continuavam utilizando bastão elétrico durante o trajeto do curral até

o box de insensibilização;

Animais escorregaram durante o trajeto do curral até o box de insensibilização;

Animais caíram durante o trajeto do curral até o box de insensibilização;

Alguns animais só foram insensibilizados após o segundo disparo;

Alguns animais apresentaram sinais de consciência após insensibilização;

Alguns animais apresentaram consciência durante a sangria.

Como na primeira coleta de dados, só foram consideradas as vocalizações ocorridas

durante o trajeto entre o curral e o box de insensibilização. Durante esse trajeto, 6 animais

vocalizaram de um total de 100 animais observados. Desses 6 animais que vocalizaram, um

vocalizou após insensibilização.

Os funcionários continuavam utilizando bastões elétricos durante todo o trajeto entre os

currais e o box de insensibilização, utilizaram-no excessivamente, ultrapassando os valores

quantificados no período antes do treinamento. No trajeto entre os currais e o chuveiro, o

bastão elétrico foi utilizado em 18 animais. Durante o banho de aspersão, o bastão elétrico foi

utilizado em 19 animais. Após saírem do chuveiro, 16 animas levaram choque. No início da

seringa, o bastão elétrico foi utilizado em 75 animais. Na seringa antes do box de

insensibilização, o bastão elétrico foi utilizado em 92 animais. No box de insensibilização, o

choque foi utilizado em 48 animais após a insensibilização. O bastão elétrico foi utilizado 268

vezes em um lote com 100 animais.

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75

Em um lote de 100 animais, observou-se que 14 animais escorregaram. Desses 14

animais, 2 escorregaram durante o banho de aspersão, 3 animais escorregaram após saírem do

chuveiro, 2 escorregaram no final da seringa, antes de entrarem no box de insensibilização, e

4 escorregaram dentro do box insensibilização. Os escorregões que ocorreram dentro do

chuveiro e na saída do chuveiro foram causados por acúmulo de água e fezes no piso. No final

da seringa há um segundo banho de aspersão nos animais, o que ocasiona certo acúmulo de

água no piso. Devido ao fato de haver um segundo banho de aspersão antes do box de

insensibilização, acaba que acumula água dentro do box, ocasionando os escorregões.

No lote de 100 animais observados para coletar os dados da pesquisa, 14 animais

sofreram queda ao longo do percurso entre o curral e o box de insensibilização. Desses 14

animais, 1 animal caiu durante o banho de aspersão, 2 animais caíram após saírem do

chuveiro, 4 animais caíram no final da seringa e 7 animais caíram dentro do box.

Quando realizou-se a coleta de dados após o treinamento, a pistola pneumática do

frigorífico ainda apresentava-se com problemas. Ela continuava sem regulagem adequada e

por esse motivo o funcionário responsável pela insensibilização continuava dando mais de um

disparo na maioria dos animais. As manutenções continuavam sendo realizadas praticamente

todos os dias e isso foi observado durante a coleta de dados no estabelecimento. Observou-se

também que do lote de 100 animais, 14 apresentaram consciência após insensibilização. Um

animal apresentou movimento dos membros após a sangria.

Após o treinamento, ao aplicar o check list baseado nos conceitos de bem-estar animal,

observou-se que:

Havia formação de poças de água no piso do curral e corredor que poderiam refletir

luz;

Havia formação de sombras no piso e em outras partes da estrutura do frigorífico;

Não havia excesso de luminosidade sobre os animais (brilho diretamente nos olhos

dos animais);

Não havia presença de odores fortes;

Havia excesso de ruídos;

Havia sons agudos.

Observou-se ainda que havia formação de poças de água no piso, principalmente dentro

do chuveiro e no corredor posterior ao chuveiro. Essas poças de água poderiam refletir luz e

esses reflexos poderiam assustar os animais deixando-os estressados.

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76

Notou-se que após o treinamento ainda havia formação de sombra em vários locais do

estabelecimento. Ao longo do corredor, várias partes das suas laterais continuavam sendo

vazadas, ocasionando assim, sombras no piso. A entrada do box de insensibilização

continuava sendo mal iluminada, o que acarretava a formação de sombra no piso e parede.

Na segunda avaliação do frigorífico, realizada através de check list, não foi observado

nenhum objeto refletindo luz ou lâmpada que tivesse luminosidade intensa que pudesse

estressar os animais ou que brilhasse diretamente nos olhos dos mesmos. Também não foi

observado a presença de odores fortes.

O frigorífico continuava apresentando barulho excessivo proveniente das ruas ao seu

redor, da caldeira ao lado do corredor da seringa e box de insensibilização e ruídos

provenientes de dentro da sala de matança, principalmente ruídos agudos das carretilhas

usadas.

Após o treinamento, ao aplicar novamente o check list baseado nos conceitos de bem-

estar animal, observou-se que:

Não havia presença de ruídos provenientes da estrutura do curral (porteiras);

Não havia equipamentos que exerciam demasiada pressão ao imobilizar o gado;

Havia presença de porteiras que quando fechadas poderiam pressionar acidentalmente

o animal;

Havia cercas e porteiras com pontas que poderiam machucar os animais;

Havia irregularidades no piso que poderiam causar deslizes ou quedas aos animais;

Não havia presença de material que refletia luz;

Não havia ar de equipamentos que poderiam assustar os animais.

Quando realizou-se a segunda avaliação da estrutura física e equipamentos através de

check list, não foram observados ruídos provenientes de equipamentos e da estrutura do

curral. As porteiras continuavam não fazendo ruídos quando manuseadas, só provocaram

ruídos quando fechadas de forma brusca. Ainda haviam porteiras com abertura vertical que

poderiam pressionar os animais quando fechadas acidentalmente.

Algumas irregularidades encontradas na primeira avaliação da estrutura do curral

continuavam presentes na segunda avaliação. Durante o trajeto entre os currais e o box de

insensibilização, foi observado que ainda haviam pregos em um pilar de madeira que se

encontra na parede lateral esquerdo do corredor que antecede o chuveiro. Em uma placa que

está fixada nessa parede lateral esquerda do corredor que antecede o chuveiro, foi observado

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77

que suas pontas inferiores continuavam retorcidas. Ainda havia uma parte de uma coluna de

madeira no corredor após o chuveiro. A cerca lateral esquerda do início da seringa ainda

possuía pontas de madeira. Apenas a porteira de saída do chuveiro havia recebido reparos.

Na segunda avaliação da estrutura do curral, observou-se que ainda haviam

irregularidades em vários locais do piso desse setor, como: dois buracos e outras

irregularidades no corredor que antecede o chuveiro; 2 buracos no início e 1 buraco no final

do setor da seringa; bem como irregularidades no piso ao longo da seringa e no segundo

chuveiro que antecede o box de insensibilização. A pistola pneumática continuava não

produzindo jatos de ar direcionados sobre os animais.

4.7.2 Check list baseado na Instrução Normativa n°3 de 2000 do MAPA

Ao aplicar, na segunda avaliação da infraestrutura do curral e comportamento dos

funcionários, o check list baseado na Instrução Normativa n°3 de 2000 do MAPA (Ministério

da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), observou-se que:

O estabelecimento possuía instalações apropriadas para o desembarque de animais dos

meios de transporte;

Os funcionários do curral descarregavam os animais o mais rápido possível;

A empresa ainda não possuía instalações para proteger os animais, em caso de espera,

contra condições climáticas extremas e beneficiados de uma ventilação adequada;

Não foi observado acuação, excitação ou maltratados aos animais durante a recepção;

Animais que corriam o risco de se ferirem mutuamente devido à espécie, sexo, idade

ou origem, eram separados em locais adequados.

Animais acidentados durante o transporte, ou em estado de sofrimento, ao chegarem

ao estabelecimento de abate eram submetidos à matança de emergência;

Após o treinamento os animais continuavam sendo arrastados para o abate

emergencial;

Os animais, mesmo após treinamento, continuavam sendo agredidos fisicamente;

Após o treinamento os animais continuavam sendo movimentados sem cuidado;

Os bretes e corredores por onde os animais eram encaminhados, não foram concebidos

de modo a reduzir ao mínimo os riscos de ferimento e estresse;

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Os instrumentos destinados a conduzir os animais não eram utilizados unicamente

para esse fim e por instantes, mesmo após o treinamento;

Os dispositivos produtores de descargas elétricas, mesmo após treinamento, não eram

utilizados apenas em caráter excepcional em animais que se recusam a mover-se;

O dispositivo elétrico era usado por apenas dois segundos;

Continuavam utilizando o dispositivo elétrico em espaço insuficiente para os animais

avançarem;

A descarga elétrica, mesmo após o treinamento, não era utilizada apenas nos

membros;

Utilizava-se descarga elétrica com voltagem específica;

Os animais mantidos no curral tinham acesso a água limpa e abundante;

Os animais mantidos no curral por mais de 24 horas eram alimentados com

quantidades moderadas e intervalos adequados.

Não houve modificações na infraestrutura do curral. Os animais continuavam sendo

descarregados logo que chegavam ao frigorífico, pois o estabelecimento recebia pequenos

lotes de animais durante todo o dia. Quando recepcionados, não foram acuados, excitados ou

maltratados.

Após o desembarque, assim como na primeira avaliação antes do treinamento, os

animais eram manejados para os currais de espera, sendo separados por lote de origem e se

necessário eram apartados em relação à espécie, sexo e idade para evitar que corressem o

risco de ferimentos.

Animais que precisavam de abate emergencial ficavam em um curral separado (curral

de emergência) até a hora de serem abatidos. Quando realizada a segunda avaliação, o

frigorífico ainda não havia terminado a construção do prédio próprio para o abate

emergencial. Os animais que precisavam de abate de emergência continuavam sendo levados

em carrinhos até a base da rampa e então eram puxados para o box de insensibilização para

serem sacrificados. Após sacrificados as carcaças desses animais eram enviadas para a

graxaria. O estabelecimento não adquiriu uma pistola portátil para abate emergencial.

Durante o período de observação e coleta de dados após treinamento, notou-se que,

mesmo assim, os funcionários continuavam agredindo os animais com bastões usados para

manejar os mesmos; com pedaços de madeira; usando excessivamente o bastão elétrico e

puxando os animais por rabos e orelhas. Agressões foram flagradas durante todo período pré-

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abate. Houve um dia em que os funcionários quebraram o cabo de uma bandeirola (Figura 24

e 25) fornecida pela pesquisadora para o manejo dos animais e utilizaram-na para agredir os

mesmos através de cutucões e pauladas. Observou-se também que os funcionários

continuavam, mesmo após treinamento, gritando excessivamente na hora do manejo,

utilizando o bastão elétrico de forma excessiva, tanto o bastão elétrico portátil como os outros

dois dispositivos elétricos encontrados no setor do chuveiro e no corredor antes do box de

insensibilização.

Figura 24 – Imagem da bandeirola utilizada para o manejo após ser quebrada.

Figura 25 – Imagem da ponta criada e usada para açoitar os animais da bandeirola quebrada.

Os bretes e corredores não sofreram modificações, continuando com sua construção em

linha reta que causavam dificuldades na hora de manejar os animais e estressando os mesmos.

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Não foram excluídos do trajeto entre curral e box de insensibilização os fatores que poderiam

causar ferimentos nos animais.

A empresa respeitava o tempo mínimo de dieta hídrica de seis horas, mantendo os

animais com acesso à água abundante, porém os bebedouros continuavam não recebendo

higienização diária. A infraestrutura dos currais de espera continuava a mesma e ainda haviam

formação de poças d’água do piso do setor. Os animais mantidos nos currais por mais de 24

horas, eram alimentados com quantidades moderadas e intervalos adequados.

Ao aplicar, na segunda avaliação do estabelecimento, o check list baseado na Instrução

Normativa n°3 de 2000 do MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) com

o qual avaliou-se a contenção no box de insensibilização, a insensibilização e a sangria dos

animais, observou-se que:

Os animais não eram imediatamente insensibilizados logo após a sua contenção;

Animais continuavam sendo colocados no box de insensibilização sem a presença do

responsável pela operação;

Não houve mudança do método de insensibilização utilizado pela empresa, que era o

percussivo penetrativo com dardo penetrante;

A pistola era posicionada de modo a assegurar que o dardo penetrasse no córtex

cerebral através da região frontal;

A cabeça do animal não era imobilizada para que o magarefe pudesse fazer a

insensibilização;

O operador do equipamento de insensibilização não era o mesmo da primeira

avaliação e não era devidamente treinado;

A operação de sangria não era iniciada logo após a insensibilização do animal;

A operação de sangria era realizada pela secção dos grandes vasos do pescoço;

Após a secção dos grandes vasos do pescoço, continuavam sendo realizadas na calha

de sangria operações de mutilações antes do sangue escorrer o máximo possível;

Não ocorria estimulação elétrica com o objetivo de acelerar as modificações post-

mortem;

O colaborador responsável pela sangria era devidamente treinado.

Durante a aplicação do check list, realizado após o treinamento, observou-se que a

prática de deixar os animais aguardando no box de insensibilização ainda existia e nas

mesmas circunstâncias descritas anteriormente. O responsável pela atividade de insensibilizar

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os animais recebeu treinamento para realizar sua função, porém não demonstrava possuir

experiência na função.

4.8 Coleta quantitativa de dados realizada após o treinamento

A segunda coleta quantitativa de dados seguiu a mesma metodologia da primeira coleta,

na qual se dividia o trajeto entre o curral e o box de insensibilização em setores. Sendo:

Curral (Setor A);

Corredor antes do chuveiro (Setor B);

Chuveiro (Setor C);

Corredor após sair do chuveiro (Setor D);

Início da seringa (Setor E);

Final da seringa (Setor F);

Box de insensibilização (Setor G);

Após insensibilização (Setor H);

Sangria (Setor I).

Foi observado um lote contendo 100 animais, provenientes de várias origens, sendo de

ambos os sexos e de várias raças e idades. Os resultados da avaliação do manejo pré-abate

realizada após do treinamento são apresentados na Tabela 3.

Dos 100 animais observados para avaliar o manejo pré-abate após o treinamento, viu-se

que todos foram açoitados, sendo 22% açoitados no Setor A, 26% açoitados no setor B, 10%

açoitados no Setor D, 2% açoitados no Setor E, 12% açoitados no Setor F e 28% açoitados no

setor G. Nenhum animal foi açoitado no Setor C.

Os animais açoitados no Setor A, foram agredidos na hora em que o manejador iniciava

o manejo para o abate, ou seja, quando retirava os animais dos currais de espera. Eram

agredidos principalmente os animais idosos. Foram açoitados com pedaços de madeira,

bastões e pedaços de corda. O manejador apresentava o mesmo comportamento observado

antes do treinamento e esse funcionário se negou participar dos treinamentos teóricos e

práticos.

Os animais que foram açoitados no Setor B, o qual corresponde ao corredor entre os

currais e o banho de aspersão, foram agredidos pelo manejador com pedaços de madeira e

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bastões. Foram agredidos principalmente os animais mais idosos e aqueles que se recusam,

por algum motivo, a andar. Normalmente o manejo nesse trajeto era feito pelo mesmo

funcionário que retirava os animais dos currais.

Nenhum animal foi açoitado no Setor C que corresponde ao local onde era realizado o

banho de aspersão.

Os animais açoitados no Setor D foram agredidos logo após saírem do banho de

aspersão em um corredor que ficava entre o banho de aspersão e o início da seringa. Animais

idosos que deitavam no piso porque tinham dificuldades de locomoção foram puxados por

rabos e orelhas pelos funcionários responsáveis por maneja-los nesse setor.

Os animais açoitados no setor E, foram agredidos no início da seringa. Os manejadores

batiam e puxavam o rabo ou orelha dos animais idosos que deitavam no piso ao se negarem

subir a rampa da seringa. Foram observados também chutes e agressões com pedaços de

madeira.

Os animais açoitados no Setor F foram agredidos no final da seringa. Foram agredidos

os animais que se negavam a caminhar em direção ao box de insensibilização. Os

manejadores puxaram animais pelo rabo e chutaram os mesmos.

Nenhum dos 100 animais observados durante a coleta de dados realizada após o

treinamento se jogou contra as cercas que existiam ao longo do trajeto entre os currais de

espera e o dos de insensibilização.

Dos 100 animais observados, 12% dos animais deslizaram durante o trajeto que ia dos

currais de espera até o box de insensibilização durante a coleta de dados realizada após o

treinamento. Não houve deslizes de animais no Setor A e no Setor B, porém 2% dos animais

deslizaram Setor C, 3% dos animais deslizaram no Setor D, 2% dos animais deslizaram no

Setor E, 2% dos animais deslizaram no Setor F e 3% dos animais deslizaram no setor G. Os

deslizamentos que ocorreram no Setor C e Setor D foram ocasionados por acúmulo de água e

fezes no piso do chuveiro e no corredor após o chuveiro. Já os deslizamentos ocorridos no

Setor E foram ocasionados pelo acúmulo de água no piso da rampa que dava acesso ao box de

insensibilização. Essa água era proveniente do segundo banho de aspersão que ficava

localizado no final da seringa. Os deslizamentos ocorridos no Setor F eram provenientes da

água acumulada no piso, pois era nesse setor que ficava o segundo banho de aspersão. Os

deslizamentos ocorridos dentro do box de insensibilização, ou Setor G, também foram

causados por acúmulo de água no piso.

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83

Dos 100 animais observados durante o manejo, 14% caíram durante o trajeto que ia dos

currais até o box de insensibilização. Nenhum animal caiu no Setor A, Setor B e Setor E,

porém 1% dos animais caiu no Setor C, sendo essa queda ocasionada por acúmulo de água

que havia no piso do setor do banho de aspersão. No Setor D caíram 2% dos animais. Essas

quedas provavelmente foram ocasionadas pelo acúmulo de água e fezes que havia no piso do

corredor existente após o chuveiro. No Setor F caíram 4% dos animais. Era nesse setor onde

se encontrava o segundo banho de aspersão e no seu piso havia acúmulo de água. No Setor G

caíram 7% dos animais devido, provavelmente, ao acumulo de água existente no piso do box

de insensibilização, sendo essa água proveniente do segundo banho de aspersão. A agitação

dos animais e a idade avançada de alguns animais também podem ter influenciado nas quedas.

Dos 100 animais observados durante a coleta de dados realizada após o treinamento,

16% vocalizaram ao longo do trajeto que iniciava nos currais e finalizava no box de

insensibilização. Nenhum animal vocalizou no Setor A, porém 1% dos animais vocalizou no

Setor B, logo após sair dos currais de espera e provavelmente foi ocasionada pelo uso do

bastão elétrico. Dois por cento dos animais vocalizaram no Setor C, onde ocorria o primeiro

banho de aspersão. Essas vocalizações ocorreram, provavelmente, devido ao uso abusivo do

bastão elétrico durante o banho. Já no Setor D 1% dos animais vocalizou. Essa vocalização foi

ocasionada, provavelmente, pelas agressões físicas ou pelo uso do bastão elétrico após o

banho de aspersão. Essa vocalização também pode ter sido influenciada pelos deslizes e

quedas que ocorreram nesse local. No Setor E, onde iniciava a rampa de acesso ao box de

insensibilização, 1% dos animais vocalizou, sendo ocasionada devido ao uso de bastão

elétrico, devido a deslizamentos ou devido a quedas ocorridas naquele local. Seis por cento

dos animais vocalizaram no Setor F, local onde se encontrava o segundo banho de aspersão.

Provavelmente foram ocasionadas devido ao uso de bastão elétrico, deslizes ou quedas

ocorridas naquele local e devido ao fato dos animais ficarem parados esperando para entrar no

box de insensibilização e assim ficando agitados. No Setor G 4% dos animais vocalizaram e

aconteceram durante o período que os animais ficavam esperando dentro do box de

insensibilização. No Setor H, que era o local onde se encontrava a praia de vomito, 1% dos

animais vocalizou e provavelmente aconteceu devido à má insensibilização do animal, devido

ao choque que o funcionário dava nos animais após insensibilizados que pode ter feito com

que esse animal voltasse à consciência, ou devido à longa espera entre a insensibilização e a

sangria.

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Durante a coleta de dados realizada após o treinamento, observou-se que o bastão

elétrico foi utilizado 268 vezes em um lote de 100. O bastão elétrico não foi utilizado quando

o manejador retirava os animais dos currais de observação no Setor A, porém foi utilizado em

18% dos animais no Setor B para fazer com que os animais avançassem pelo corredor que

ficava entre os currais e o banho de aspersão. O bastão elétrico foi utilizado em 19% dos

animais no Setor C, para fazer com que os animais saíssem do chuveiro e para fazer os

animais que caíram se levantar. No Setor D, o bastão elétrico foi utilizado em 16% dos

animais. Foi utilizado para fazer os animais que caíram no corredor após o chuveiro se

levantar, para fazer com que os animais entrassem no início da seringa e foi utilizado nos

animais que tentavam voltar para dentro do banho de aspersão. No início da seringa, ou Setor

E, o bastão elétrico foi utilizado em 75% dos animais no intuito de fazê-los avançar pelo

trajeto do inicio da rampa de acesso ao box de insensibilização, em animais que mesmo

dentro do corredor tentavam retornar para o chuveiro. O bastão elétrico foi utilizado no Setor

F em 92% dos animais para fazer com que os mesmos fossem em direção ao box de

insensibilização, para fazê-los levantar após caírem durante o segundo banho de aspersão. No

Setor G o bastão elétrico foi utilizado em 48% dos animais de forma inconsequente para

testar, segundo o funcionário, a eficiência da insensibilização.

Durante a coleta de dados realizada após o treinamento, nenhum dos 100 animais

observados caiu nos buracos que existiam no trajeto entre os currais de observação e o box de

insensibilização.

Dos 100 animais observados nesta coleta de dados, 76% levaram mais de um disparo da

pistola pneumática. Isso ocorreu devido aos problemas de regulagem do equipamento.

Dos 100 animais observados durante a coleta de dados realizada após o treinamento,

14% dos animais movimentaram os membros dianteiros e 1% dos animais apresentou

movimentos oculares após a insensibilização e antes da realização a sangria. Esses

movimentos dos membros dianteiros e oculares demonstraram que os animais ainda

apresentavam consciência e isso ocorreu, provavelmente, devido aos problemas de regulagem

da pistola pneumática, ao mau posicionamento da pistola na cabeça do animal na hora da

insensibilização, ao choque dado após a insensibilização e a demora em realizar a sangria.

Durante a coleta de dados realizada após o treinamento, nenhum animal apresentou

movimentos oculares durante a sangria, porém um animal apresentou movimentos dos

membros dianteiros, sendo ocasionado, provavelmente, devido à má insensibilização.

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Tabela 3 – Valores obtidos durante a avaliação do manejo pré-abate realizada após do treinamento.

Setor

A

Setor

B

Setor

C

Setor

D

Setor

E

Setor

F

Setor

G

Setor

H

Setor

I

Total

Animais açoitados durante o

manejo

22 26 0 10 2 12 28 - - 100

Animais que se jogaram

contra as cercas durante o

manejo

0 0 0 0 0 0 - - - 0

Animais que deslizaram

durante o manejo

0 0 2 3 2 2 3 - - 12

Animais que caíram durante

o manejo

0 0 1 2 0 4 7 - - 14

Animais que vocalizaram

durante o manejo

0 1 2 1 1 6 4 1 0 16

Animais que levaram choque

durante o manejo

0 18 19 16 75 92 48 - - 268

Animais que caíram em

buracos existentes durante o

manejo

0 0 0 0 0 0 - - - 0

Animais que levaram mais de

um tiro da pistola pneumática

- - - - - - 54 - - 54

Animais que apresentaram

movimento dos membros

dianteiros antes sangria

- - - - - - - 14 - 14

Animais que apresentaram

reflexos e movimentos

oculares antes sangria

- - - - - - - 1 - 1

Animais que apresentaram

reflexos e movimentos

oculares após sangria

- - - - - - - - 0 0

Animais que apresentaram

movimento dos membros

dianteiros após sangria

- - - - - - - - 1 1

4.9 Avaliação de hematomas em carcaças realizada após o treinamento

A classificação das contusões em relação a sua localização na carcaça é apresentada no

Gráfico 5. Foram contabilizados 274 hematomas distribuídos nas 100 carcaças. Observou-se

que a maior concentração de hematomas, 51%, é na região de escore 2, ou seja, região

composta pelos cortes alcatra, picanha e maminha.

Em seguida vem os hematomas que receberam escore 5, sendo 27% dos mesmos.

Fazem parte do escore 5, os hematomas de importância que aparecem em dois locais da meia

carcaça traseira bovina. Durante a avaliação visual, observou-se que a maioria das meias

carcaças que receberam escore 5, possuíam 2 hematomas na região pélvica que é composto

pelos cortes alcatra, picanha e maminha.

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Sete por cento das meias carcaças receberam escore 6, pois apresentavam uma contusão

séria em 3 locais da meia carcaça traseira bovina. Normalmente eram dois hematomas na

região da alcatra e um hematoma na região do coxão duro. Seis por cento das carcaças

receberam escore 1. Os hematomas dessas meias carcaças estavam localizados na região

próxima da região pélvica que é composto pelos cortes coxão duro, coxão mole, lagarto e

patinho.

Três por cento das meias carcaças receberam escore 7, pois haviam uma contusão séria

em um dos 3 locais do quarto traseiro e uma contusão séria no dianteiro e sempre com a

presença de hematomas na região onde se encontra a alcatra.

Viu-se também, que 2% das meias carcaças apresentavam hematomas de grande

relevância em um local do quarto dianteiro e em dois locais do quarto traseiro, recebendo

assim escore 8. Dessas meias carcaças com escore 8, as contusões no quarto traseiro se

encontravam na região da pelve, ou seja, região onde se encontra a alcatra, na região próxima

a pelve, na região da pá e pescoço no quarto dianteiro.

Observou-se que 2% das meias carcaças apresentavam contusões sérias na região do

contrafilé, recebendo assim, escore 3.

Um por cento das meias carcaças receberam escore 4, pois havia uma contusão séria no

dianteiro, sendo estes na região composta pelo corte denominado pá ou no corte denominado

peito.

Um por cento das meias carcaças receberam escore 9, pois as contusões sérias estavam

presentes em um ponto do quarto dianteiro e em 3 pontos do quarto traseiro. Dessas meias

carcaças com escore 9, as contusões sérias no quarto dianteiro localizavam-se na região da pá

ou peito e na região do contrafilé, na região da pelve e próximo à pelve no quarto traseiro.

Nesta segunda avaliação de carcaças, feita após treinamentos, observou-se que houve

um aumento dos hematomas na região pélvica e região próxima a região pélvica e uma

considerável diminuição de hematomas em outras localizações das carcaças, como o

dianteiro. A maioria das contusões continuava sendo na região pélvica e, provavelmente como

na primeira avaliação, o transporte pode ter sido o responsável por essa grande quantidade de

hematomas nesta região. As contusões do dianteiro na região do peito e região da pá podem

ter sido causadas por agressões físicas provenientes dos funcionários ou devido ao transporte,

pois havia vários animais idosos e eles podem ter sido pisoteados por animais mais jovens

durante o transporte, durante o período de espera nos currais e durante o manejo.

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Gráfico 5 – Classificação das contusões em relação a sua localização na carcaça. Escore 1:

carcaças que possuíam um hematoma localizado nos cortes que compõem a região próxima à

região pélvica, que são os cortes coxão duro e coxão mole. Escore 2: carcaças que possuíam um

hematoma localizado na região pélvica que é composta pelos cortes alcatra, picanha e maminha.

Escore 3: carcaças que possuíam um hematoma localizado na região lombar, onde temos o

contrafilé. Escore 4: carcaças que possuíam um hematoma localizado na pá ou no peito, que são

cortes do quarto dianteiro. Escore 5: carcaças com hematomas de grande importância em dois

locais do quarto traseiro. Escore 6: carcaças que apresentavam 3 hematomas de grande

importância localizados nas regiões do quarto traseiro. Escore 7: carcaças que possuíam um

hematoma de grande importância no quarto dianteiro e um hematoma de grande importância no

quarto traseiro. Escore 8: carcaças que possuíam uma contusão séria no quarto dianteiro e duas

contusões sérias no quarto traseiro. Escore 9: carcaças que apresentavam uma contusão séria no

quarto dianteiro e três contusões sérias no quarto traseiro.

A porcentagem da classificação das contusões em relação ao seu tamanho é apresentada

no Gráfico 6. Ao avaliar o tamanho das 274 contusões, 45% dos hematomas receberam escore

2, ou seja, com tamanho entre 6 e 10 cm de diâmetro; 32% dos hematomas receberam escore

1, tendo entre 1 e 5 cm de diâmetro; 14% dos hematomas receberam escore 3, tendo eles entre

11 e 15 cm de diâmetro; 5% receberam escore 4, tendo entre 16 e 20 cm de diâmetro e 4%

receberam escore 5, tendo entre 20 e 25 cm de diâmetro. Hematomas com menos de 1 cm não

foram quantificados.

Os hematomas que possuem tamanho entre 6 e 10 cm e tamanho entre 1 e 5 cm podem

ser originários de agressões físicas por parte dos funcionários. Durante o estudo realizado

após o treinamento, no período de observação do comportamento dos funcionários, foram

observadas atitudes agressivas por parte dos mesmos em relação aos animais. Os funcionários

6%

51%

2%

1%

27%

7%

3% 2% 1%

Localização dos hematomas na carcaça após treinamento

Escore 1

Escore 2

escore 3

Escore 4

Escore 5

Escore 6

Escore 7

Escore 8

Escore 9

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foram flagrados agredindo os animais com o bastão da bandeirola usada no treinamento a qual

foi quebrada pelos mesmos. Essa bandeirola danificada foi retirada imediatamente dos

funcionários assim que foram flagrados agredindo os animais com a mesma, porém suspeita-

se que no dia que foram avaliadas as carcaças, os funcionários possam ter usado as outras

bandeirolas cedidas pela pesquisadora para agredir os animais durante o manejo. Podem ser

também originários das porteiras “tipo guilhotinas”, principalmente se forem na região do

contrafilé.

Os hematomas com diâmetro entre 11 e 15 cm, diâmetro entre 16 e 20 cm e diâmetro

entre 20 e 25 cm podem ser originários do transporte ou até mesmo do período de estadia nos

currais no estabelecimento. Esses hematomas, como explicado anteriormente, normalmente

ocorrem quando animais pisam um nos outros e isso acontece muito durante o transporte e

nos currais de espera. Houve uma redução dos hematomas com que receberam escore 2,

escore 3 e escore 4 e um aumento dos hematomas que receberam escore 1 e escore 5, quando

comparados com os resultados da primeira avaliação de tamanhos de hematomas das

carcaças. O aumento de hematomas com escore 1 podem ser originárias de agressões físicas

causadas pelo uso indevido do cabo das bandeirolas. O aumento de hematomas com escore 5

podem ser devido ao fato dos animais idosos terem sido pisoteados por animais mais jovens.

Durante essa segunda coleta de dados, a quantidade de animais idosos nos lotes a serem

abatidos era muito grande.

Gráfico 6 – Classificação das contusões em relação ao seu tamanho. Hematomas que mediam

entre 1 a 5 centímetros. Tamanho 2: hematomas que mediam entre 6 e 10 centímetros. Tamanho

3: hematomas que mediam entre 11 e 15 centímetros. Tamanho 4: hematomas que mediam entre

16 e 20 centímetros. Tamanho 5: hematomas que mediam mais de 21 centímetros.

32%

45%

14%

5% 4%

Tamanho dos hematomas das carcaças após treinamento

Tamanho 1

Tamanho 2

Tamanho 3

Tamanho 4

tamanho 5

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A porcentagem da classificação das contusões em relação a sua coloração é apresentada

no Gráfico 7. Em relação à coloração dos hematomas, verificou-se que 76% dos 274

hematomas contabilizados receberam escore 1 (coloração vermelho/azulado ou púrpuro), o

que indica que foram feitos em menos de 24 horas. Vinte e dois por cento dos hematomas

receberam escore 2 (coloração marrom para púrpuro escuro), indicando 1-2 dias de idade.

Dois por cento dos hematomas receberam escore 3 (coloração verde para marrom), indicando

3-5 dias de idade.

Devido as suas colorações, nota-se que a maior parte desses hematomas foram feitos

durante o manejo pré-abate, pois foram feitos em menos de 24 horas. Os hematomas com

escore 2 podem ser originários do momento em que o gado foi reunido no curral para

embarque, durante o embarque ou transporte. Os hematomas com escore 3 podem ser

originários do momento em que o gado foi reunido no curral para embarque, pois não se sabe

quanto tempo esses animais esperaram para serem embarcados quando ainda estavam nas

propriedades rurais, como também podem ser originários do manejo animal habitual da

propriedade rural.

Quando realizado a segunda avaliação, o frigorífico continuava trabalhando com

sistema de marchante, então os animais continuavam sendo transportados em pequenas

quantidades ou sozinhos dentro do caminhão e sem restrições devido a suas idades.

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Gráfico 7 – Classificação das contusões em relação a sua coloração. Escore 1: hematomas que

possuíam coloração vermelho/azulado ou púrpura, indicando que foram feitas em menos de um

dia. Escore 2: hematomas que possuíam coloração marrom para púrpuro escuro, indicando que

foram feitas entre 1 e 2 dias. Escore 3: hematomas que possuíam coloração verde para marrom,

indicando entre 3 e 5 dias. Escore 4: hematomas com coloração amarela e com efeito exsudativo,

indicando entre 5 e 7 dias. Escore 5: hematomas com coloração entre amarelo e marrom e com

efeito exsudativo, indicando mais de uma semana.

Entre as 100 carcaças avaliadas, foram contabilizadas 48 contusões causadas por uso de

bastão elétrico distribuídas em várias regiões, porém sendo mais comum na área da região

pélvica ou próxima desta. Já eram aguardadas essas contusões, pois o bastão elétrico foi

novamente utilizado indevidamente e de forma excessiva pelos funcionários do curral. Das

100 carcaças avaliadas, apenas 8 não apresentaram nenhum hematoma.

Os hematomas retirados das carcaças pela produção foram separados e pesados

posteriormente em balança industrial contida no estabelecimento onde foi realizado o estudo.

Foram retirados 37,6 kg de hematomas, dando uma média de 0,376 kg por carcaça. No

entanto, cabe salientar que o peso de carne retirada devido aos hematomas deveria ser maior,

já que o toalete foi realizado pela produção e devido aos interesses financeiros da empresa e

dos marchantes que contratam seus serviços, continuava sendo realizado de forma

insatisfatória.

76%

22%

2% 0% 0%

Coloração dos hematomas das carcaças após o treinamento

Escore 1

Escore 2

Escore 3

Escore 4

Escore 5

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91

4.10 Valores de pH obtidos após o treinamento

Assim como na primeira avaliação, foi realizada a medição do pH de 100 carcaças após

24 horas do abate. O pH foi medido no músculo longíssimus dorsi, preferencialmente entre a

décima e décima primeira costela das meias carcaças.

Os valores de pH das carcaças, que foram medidos após o treinamento, são

apresentados no Gráfico 8. Das 100 carcaças avaliadas, 4% apresentaram pH 5,7, 5%

apresentaram pH 5,8, 6% apresentaram pH 5,9, 11% apresentaram pH 6,0, 13% apresentaram

pH 6,1, 17% apresentaram pH 6,2, 28% apresentaram pH 6,3 e 17% apresentaram pH 6,4.

No dia que antecedeu o dia em que foram retirados os pHs das carcaças, foram abatidos

muitos animais idosos e, como comentado antes, houve excesso de uso de bastão elétrico e

foram desrespeitados alguns dos conceitos de bem-estar animal durante o manejo pré-abate.

Valores elevados de pH já eram esperados, porém não se esperava que 85% das carcaças

apresentaram valores acima de 6,0.

Gráfico 7 – Porcentagem de valores de pH medidos nas carcaças 24 horas após o abate.

4.11 Comparativo entre os resultados obtidos nas avaliações realizadas antes e após

treinamento

Os resultados dos animais açoitados no curral antes e após treinamento são apresentados

no Gráfico 9. Nota-se que houve aumento no número de animais açoitados no curral após

treinamento. O funcionário responsável pelo setor dos currais e por manejar os animais dentro

dos currais demonstrava possuir um perfil agressivo, pois o mesmo foi flagrado utilizando

4% 5%

6%

11%

13%

17%

28%

16%

pH final das carcaças após o treinamento

pH 5,7

pH 5,8

pH 5,9

pH 6

pH 6,1

pH 6,2

pH 6,3

pH 6,4

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92

pedaços de madeira para açoitar os animais e também orientava os funcionários do setor a

fazer o mesmo. Na Figura 26, tem-se um dos funcionários do curral manejando gado com um

ferrão. Na imagem ele não estava agredindo o animal, mas esse ato foi presenciado durante o

estudo.

Gráfico 9 – Quantidade de animais açoitados no curral, antes e após o treinamento, em um lote de 100

animais.

Figura 26 – Imagem do funcionário usando ferrão dentro do curral para manejar o gado.

A quantidade de animais que se jogaram contra as cercas e porteiras do curral no

momento do manejo, durante a coleta de dados realizada antes e após o treinamento está

demonstrado no Gráfico 10. Na primeira coleta de dados 3 animais se jogaram contra as

cercas e porteiras. Tal ato foi cometido por animais da raça nelore, jovens e machos que

seriam abatidos no dia em que foram coletados os dados.

19

22

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais açoitados no curral antes e após treinamento

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93

Gráfico 10 – Quantidade de animais que se jogaram contra cercas e porteiras, antes e após o treinamento,

em um lote de 100 animais.

No Gráfico 11, é apresentado a quantidade de quedas de animais no corredor antes do

chuveiro ocorridas durante a coleta de dados realizada antes e após o treinamento. Como

descrito anteriormente, essas quedas ocorridas na primeira coleta de dados podem ser

provenientes do acúmulo de fezes na entrada do chuveiro, e buracos no piso desse setor. Os

valores quantificados na primeira coleta de dados são elevados e, segundo os conceitos de

bem-estar animal e critério de avaliação indicado por Grandin (1999k), indicam que o

estabelecimento tem um problema sério, pois foi avaliado um lote de 100 animais e 7%

caíram nesse setor. Números superiores a 5% em um lote de 50 animais, indicam problema

sério de manejo.

Gráfico 11 – Quantidade de animais que caíram no corredor antes do chuveiro, antes e após o

treinamento, em um lote de 100 animais.

No Gráfico 12, tem-se a quantidade de animais açoitados no corredor antes do chuveiro

durante as coletas de dados realizadas antes e após o treinamento. Como foi descrito, as

laterais do corredor que davam acesso ao banho de aspersão, eram vazadas, causando

3

0

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que "se jogaram" contra cercas e porteiras durante o manejo

7

0

Antes do treinamento Após o treinamento

Queda de animais no corredor antes do chuveiro

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94

distrações aos animais. Uma vez distraídos, eles irão se negar em seguir em frente. Outro

agravante era o fato do corredor não ser curvo. Segundo Grandin (1998), quando o animal é

manejado em currais com corredores curvos com voltas de 180°, ele tem a sensação de estar

voltando para o local de onde saiu e caminha calmamente pelo trajeto.

Esses fatores podem ter influenciado no comportamento do animal e devido a esse

comportamento, os funcionários, que não possuem perfil para trabalhar com manejo,

excederam-se nas agressões. Após o treinamento houve um aumento de animais açoitados no

corredor existente antes do chuveiro. Esse aumento foi causado devido à relutância dos

funcionários em aceitarem a trabalhar usando as regras de manejo racional.

Gráfico 12 – Quantidade de animais que foram açoitados no corredor ante do chuveiro, antes e após o

treinamento, em um lote de 100 animais.

No Gráfico 13, são apresentados os valores quantitativos coletados antes e após o

treinamento, quando foi observado o uso do bastão elétrico nos animais durante o trajeto do

corredor existente antes do chuveiro. Houve uma pequena queda no uso de choque após o

treinamento, mas mesmo assim a quantidade continua excessiva. No critério indicado por

Grandin (1999k), só é avaliado o uso do bastão elétrico na rampa de acesso ao box de

insensibilização e na entrada do box de insensibilização. Quando realizado um comparativo

entre os valores do critério indicado por Grandin (1999k) para avaliar o manejo na rampa de

acesso ao box de insensibilização e os valores quantificados no corredor antes do chuveiro,

pode-se dizer que o estabelecimento possuía um problema sério de manejo, pois eles

ultrapassavam os 5% indicados como aceitável. Qualquer valor superior a 5%, quando

avaliado a rampa de acesso ao box de insensibilização, indica problema sério de manejo.

20

26

Antes do treinamento Após o treinamento

Quantidade de animais açoitados no corredor antes do chuveiro

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95

Gráfico 13 – Quantidade de animais que foram estimulados elétricamente no corredor antes do chuveiro,

antes e após o treinamento, em um lote de 100 animais.

No Gráfico 14, temos a quantidade de animais que vocalizaram no corredor antes do

chuveiro. Esses valores foram obtidos durante a coleta de dados realizada antes do

treinamento e após o treinamento. Grandin (1999k) recomenda que a avaliação seja feita na

rampa de acesso ao box de insensibilização. Ao se fazer um comparativo com os valores

utilizados nos critérios de Grandin (1999k) para avaliar o manejo na rampa de acesso ao box

de insensibilização e os valores coletados antes e após treinamento, pode-se dizer que seus

números são aceitáveis. Uma porcentagem inferior a 3% de vocalizações é aceitável e indica

um bom manejo animal. A porcentagem de vocalização foi de 1%, tanto na avaliação antes do

treinamento como na avaliação após treinamento.

Gráfico 14 – Quantidade de animais que vocalizaram no corredor antes do chuveiro, antes e após o

treinamento, em um lote de 100 animais.

No Gráfico 15 são apresentados os valores coletados, durante a avaliação realizada

antes e após o treinamento, de animais que levaram choque durante o banho de aspersão. Da

primeira avaliação para a segunda avaliação, houve uma redução de 32% do uso do bastão

elétrico nos animais durante o banho de aspersão. Mas se comparado com os valores

indicados nos critérios de Grandin (1999k), está muito elevado e demonstra que havia um

22

18

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que foram estimulados elétricamente no corredor

antes do chuveiro

1 1

Antes do treinamento Após o treinamento

Quantidade de animais que vocalizaram no corredor antes do chuveiro

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96

problema sério na qualidade do manejo animal, pois o uso de bastão elétrico é superior a uma

porcentagem de 5% de um lote de 100 animais.

Gráfico 15 – Quantidade de animais que foram estimulados eletricamente durante o banho de aspersão,

antes e após o treinamento, em um lote de 100 animais.

Os valores coletados, antes e após o treinamento, de animais que caíram durante o

banho de aspersão são apresentados no Gráfico 16. Quando aplicado os critérios sugeridos por

Grandin (1999k) para avaliar o manejo na rampa de acesso ao box de insensibilização no

banho de aspersão, têm-se um resultado excelente para a avaliação feita antes do treinamento

e um resultado aceitável para a avaliação feita após o treinamento. Durante a segunda coleta

de dados, os animais abatidos eram idosos e fracos, e já foi comentado que havia acumulo de

água e fezes no local, fatores que somados podem ter ocasionado essa queda.

Gráfico 16 – Quantidade de animais que caíram durante o banho de aspersão, antes e após o treinamento,

em um lote de 100 animais.

Os valores coletados, antes e após o treinamento, de animais que escorregaram durante

o banho de aspersão são apresentados no Gráfico 17. Ao utilizar os critérios de Grandin

(1999k) para avaliação de quedas e deslizes na rampa de acesso ao box de insensibilização,

para avaliar as quedas e deslizes durante o banho de aspersão, têm-se um resultado excelente

para a avaliação feita antes do treinamento e um resultado aceitável para a avaliação feita após

28

19

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que foram estimulados elétricamente durante o

banho de aspersão

0

1

Antes do treinameno Após o treinamento

Quantidade de animais que caíram durante o banho de aspersão

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97

o treinamento. O critério estabelece que o excelente é que não haja deslizes ou quedas e que

deslizamentos com valores menores que 3% num lote de no mínimo 50 animais são

aceitáveis. No setor de banho de aspersão havia fezes e acúmulo de água, o que ocasionou

esses deslizes.

Gráfico 17 – Quantidade de animais que deslizaram durante o banho de aspersão, antes e após o

treinamento, em um lote de 100 animais.

No Gráfico 18, é representada a quantidade de vocalizações ocorridas durante a coleta

de dados realizada antes e após o treinamento dos funcionários. Quando utilizado os critérios

de Grandin (1999k) usados para avaliar as vocalizações durante o manejo na rampa de acesso

ao box de insensibilização, para avaliarmos as vocalizações que ocorreram durante o banho de

aspersão, os resultados obtidos serão aceitáveis para os valores coletados antes e após o

treinamento. Os critérios de Grandin (1999k) dizem que se houver menos de 3% de

vocalizações em um lote de no mínimo 100 animais, o manejo estará com um índice aceitável.

Gráfico 18 – Quantidade de animais que vocalizaram durante o banho de aspersão, antes e após o

treinamento, em um lote de 100 animais.

Os valores coletados antes do treinamento e após treinamento são demonstrados no

Gráfico 19 e representam a quantidade de animais açoitados no corredor após o banho de

aspersão. Quando os animais saíam do banho de aspersão e entravam no corredor, deparavam

0

2

Antes do treinamento Após o treinamento

Quantidade de animais que deslizaram durante o banho de aspersão

1

2

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que vocalizaram durante o banho de aspersão

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98

com uma rampa com grau de inclinação menor que 20°, com as laterais do corredor abertas e

o mesmo construído em linha reta. Esses fatores dificultavam o manejo dos animais, pois os

mesmos, dependendo da idade, tinham dificuldade em subir essa rampa mesmo sendo sua

inclinação menor que 20°, distraíam com o que havia fora do corredor ou se assustavam com

algo que acontecia na área externa das suas laterais e não tinham a sensação de estarem

voltando para o local de onde saíram que é provocado por corredores curvos, e assim ficavam

assustados e estagnados. Como comentado anteriormente, os funcionários tiveram relutância

em aceitar trabalhar seguindo os conceitos de bem-estar animal e assim se excederam e

agrediram os animais.

Gráfico 19 – Animais açoitados após o banho de aspersão antes e após o treinamento, em um lote de 100

animais.

Os resultados obtidos na coleta de dados realizada antes do treinamento e após o

treinamento, quando foi observado o uso do bastão elétrico nos animais após saírem do banho

de aspersão, são demonstrados no Gráfico 20. Da primeira avaliação para a segunda

avaliação, houve uma redução de 66,7% do uso do bastão elétrico nos animais após saírem do

banho de aspersão. Mas mesmo assim, se comparado aos valores indicados nos critérios de

Grandin (1999k) para avaliar o manejo na rampa de acesso ao box de insensibilização, os

valores obtidos estão muito elevados e demonstram que havia um problema sério na qualidade

do manejo dos animais, pois antes do treinamento, o bastão elétrico foi utilizado em 48% dos

animais e após o treinamento foi utilizado em 16% dos animais. Os critérios indicam que

havia um problema sério de manejo, pois o bastão elétrico foi usado em uma porcentagem

superior a 5% de um lote de 100 animais.

0

10

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais açoitados no corredor após o banho de apersão

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99

Gráfico 20 – Animais estimulados eletricamente no corredor após o banho de aspersão, antes e após o

treinamento, em um lote de 100 animais.

No Gráfico 21, é apresentado os valores obtidos, durante as coletas de dados

realizadas antes e após o treinamento, dos animais que caíram no corredor após o banho de

aspersão. Houve uma redução no número de quedas, porém continuavam com números

insatisfatórios. Nos critérios utilizados por Grandin (1999k) para avaliar o manejo na rampa

de acesso ao box de insensibilização, o excelente seria se não houvesse quedas ou deslizes.

Quando 1% dos animais de um lote de 100 cabeças cai já passa a ser inaceitável. Antes do

treinamento 5% de um lote de 100 animais caíram, indicando um problema sério e após o

treinamento 2% de um lote de 100 animais caíram, indicando que o manejo ainda possuía

irregularidades. Essas quedas foram provocadas pelo excesso de água e fezes presentes nesse

corredor que ficava entre o banho de aspersão e o início da rampa de acesso ao box de

insensibilização.

Gráfico 21 – Quantidade de animais que caíram após saírem do banho de aspersão, antes e após o

treinamento, em um lote de 100 animais.

No Gráfico 22, é apresentado os valores obtidos durante as coletas de dados realizadas

antes e depois do treinamento, dos animais que deslizaram no corredor localizado após o

banho de aspersão. Ao comparar esses valores obtidos com os valores do critério de avaliação

48

16

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais estimulados eletricamente após sairem do banho de

aspersão

5

2

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que caíram no corredor após o banho de aspersão

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100

indicado por Grandin (1999k) para avaliar o manejo do gado na rampa de acesso ao box de

insensibilização, pode-se dizer que e os resultados obtidos são aceitáveis. No critério indicado

por Grandin (1999k), é considerado aceitável o deslize de até 3% de um lote com no mínimo

50 animais. No estudo, quando coletado os dados antes do treinamento, 2% de 100 animais

deslizaram e após o treinamento, 3% de um lote de 100 animais deslizaram. Como no caso

das quedas, esses deslizes foram provocados pelo excesso de água e fezes no piso do local.

Gráfico 22 – Quantidade de animais que deslizaram após saírem do banho de aspersão, antes e após o

treinamento, em um lote de 100 animais.

As vocalizações ocorridas após os animais saírem do banho de aspersão e que foram

observadas durante as coletas de dados realizadas antes e após o treinamento são apresentadas

no Gráfico 23. Foi avaliado um lote de 100 animais antes do treinamento e um lote de 100

animais após o treinamento. Se comparar os resultados obtidos durante as coletas com os

critérios indicados por Grandin (1999k) para avaliar o manejo na rampa que dá acesso ao box

de insensibilização em um lote de no mínimo 100 animais, tem-se um resultado excelente na

coleta realizada antes do treinamento e um resultado aceitável na coleta realizada após o

treinamento.

Gráfico 23 – Animais que vocalizaram após saírem do banho de aspersão, antes e após o treinamento, em

um lote de 100 animais.

2

3

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que deslizaram após saírem do banho de aspersão

0

1

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que vocalizaram após sairem do banho de aspersão

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101

O Gráfico 24 apresenta a quantidade de animais que levaram choque no início da

seringa durante as coletas de dados realizadas antes e após o treinamento. Para realização

desse estudo, como foi explicado anteriormente, a seringa foi dividida em dois setores, sendo

denominados: início da seringa, que era composta de uma rampa com inclinação com ângulo

de inclinação menor que 20°, com suas laterais abertas e piso antiderrapante; e final da

seringa, que se encontra antes do box de insensibilização e onde havia um segundo banho de

aspersão.

Quando observa-se os resultados obtidos na coleta realizada antes e após o treinamento,

percebe-se que houve um aumento de 1.400% de utilização do uso do bastão elétrico em

animais durante o manejo no início da seringa. Ao comparar esses resultados com os

parâmetros indicados por Grandin (1999k) para avaliar o manejo na rampa de acesso ao box

de insensibilização, ou seja, na seringa, nota-se que o manejo obteve resultado considerado

aceitável antes do treinamento, mas obteve um resultado considerado como problema sério

após o treinamento, pois o bastão foi utilizado em 75% do lote de 100 animais. Esse valor

exorbitante obtido na segunda coleta de dados deve-se: ao fato de terem muitos animais

velhos no lote avaliado que não conseguiam subir facilmente a rampa de acesso ao box de

insensibilização; ao fato de terem animais da raça nelore e machos no lote; ao fato da rampa

de acesso ao box de insensibilização não ser curva e com as laterais totalmente fechadas e ao

fato do funcionário que era responsável por ficar nessa parte do trajeto demostrar ser uma

pessoa intolerante e com dificuldades em aceitar trabalhar utilizando os conceitos de manejo

racional. Esse funcionário foi flagrado utilizando o bastão elétrico em animais que

apresentavam estar tranquilos apenas para afrontar a pesquisadora e sua equipe. É importante

ressaltar que esses animais foram estimulados eletricamente logo após saírem do banho de

aspersão. Esse fato pode ter influenciado no pH final das carcaças.

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102

Gráfico 24 – Animais que estimulados eletricamente no início da seringa em lotes de 100 animais

avaliados antes e após o treinamento.

A quantidade de animais açoitados no início da seringa durante as coletas de dados

realizadas antes e após o treinamento é apresentada no Gráfico 25. Houve uma redução muito

significativa na quantidade de animais açoitados durante o manejo no início da seringa, porém

essa agressão física foi substituída pelo uso indiscriminado do bastão elétrico.

Gráfico 25 – Animais açoitados no início da seringa em lote de 100 animais observados antes e após o

treinamento.

No Gráfico 26, é representado a quantidade de animais que sofreram queda no início da

rampa de acesso ao box de insensibilização durante a coleta de dados realizada antes do

treinamento e depois do treinamento. Quando comparados os resultados obtidos com os

critérios indicados por GRANDIN (1999k) para avaliar o manejo na rampa de acesso do box

de insensibilização, pode-se dizer que havia um problema sério durante a coleta realizada

antes do treinamento e que obteve um resultado excelente após o treinamento. Os critérios

indicam que até 5% de quedas em um lote de 100 animais representa que o manejo está com

problemas sérios e que a ausência de quedas representa um excelente manejo.

5

75

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais estimulados eletricamente no início da seringa

17

2

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais açoitados no início da seringa

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103

Gráfico 26 – Animais que sofreram queda no início da seringa em lotes de 100 animais avaliados antes e

após o treinamento.

No Gráfico 27, é apresentado a quantidade de animais que deslizaram na rampa de

acesso ao box de insensibilização durante a coleta de dados realizadas antes e após o

treinamento. Quando comparados os valores obtidos durante as coletas com os critérios

indicados por Grandin (1999k) para avaliar o manejo na rampa de acesso ao box de

insensibilização, observa-se que os resultados obtidos antes do treinamento eram excelentes e

os resultados obtidos após o treinamento eram considerados aceitáveis. Os critérios de

Grandin (1999k) indicam que é aceitável que haja até 3% deslizamentos em um lote de 100

animais.

Figura 27 – Quantidade de animais que deslizaram no início da seringa em lotes de 100 animais

avaliados antes e após o treinamento.

A quantidade de animais que vocalizaram na rampa de acesso ao box de

insensibilização durante as coletas de dados realizadas antes e após o treinamento são

apresentados no Gráfico 28. Quando comparados os resultados obtidos com os critérios

indicados por Grandin (1999k) para avaliar o manejo na rampa de acesso ao box de

insensibilização, observa-se que os valores quantificados mostram que havia um manejo

aceitável tanto para antes como para depois do treinamento. Os critérios de Grandin (1999k)

indicam que é considerável aceitável que até 3%, de um lote de 100 animais, vocalize durante

o manejo na rampa de acesso ao box de insensibilização.

2

0

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que sofreram queda no início da seringa

0

2

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que deslizaram no início da seringa

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104

Gráfico 28 - Quantidade de animais que vocalizaram no início da seringa em lotes de 100 animais

avaliados antes e após o treinamento.

A quantidade de animais açoitados no final da seringa durante a coleta de dados

realizada antes e após o treinamento é representada pelos valores apresentados no Gráfico 29.

Como explicado anteriormente, o trajeto foi dividido em setores e a rampa de acesso ao box

de insensibilização, também conhecido como seringa, foi dividido em início e final da

seringa. No final da seringa havia o segundo banho de aspersão. Havia também formação de

sombras na parede lateral esquerda e na entrada do box de insensibilização e suas laterais

eram fechadas. Havia uma porteira entre o início e o final da seringa e entre essa porteira e a

porteira de entrada do box de insensibilização cabiam aproximadamente 5 animais.

Provavelmente as sombras da parede lateral esquerda e a sombra da entrada do box de

insensibilização influenciaram no comportamento dos animais, pois alguns se negavam a

movimentar-se. Nesse local também se ouve os ruídos vindos de dentro da sala de matança.

Quase duplicou o número de animais açoitados na segunda coleta de dados em relação à

primeira coleta. Esse aumento se deve a idade, sexo e raça dos animais, aos problemas

estruturais e ao temperamento dos funcionários. O mesmo funcionário que manejou os

animais no início da seringa, também manejou os animais no final da seringa e como foi dito

anteriormente, ele demonstrou ser uma pessoa intolerante e com dificuldades em aceitar

trabalhar utilizando os conceitos de manejo racional. Os funcionários responsáveis pela

insensibilização também ajudavam no manejo dos animais nesse setor. O funcionário que

trabalhou nessa função durante a primeira coleta de dados demonstrava ser mais tranquilo que

o funcionário que trabalhou nessa função durante a segunda coleta de dados. O funcionário

que trabalhou insensibilizando os animais durante a segunda coleta de dados apresentou ser

intolerante e com dificuldades de aceitar trabalhar utilizando os conceitos de manejo racional.

1 1

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que vocalizaram no início da seringa

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105

Gráfico 29 – Quantidade de animais açoitados no final da seringa em lotes de 100 animais avaliados

antes do treinamento e após o treinamento.

No Gráfico 30, é apresentado a quantidade de animais que levaram choque no final na

seringa durante as coletas de dados realizadas antes e após o treinamento. Se comparado os

resultados obtidos durante essas coletas com os critérios indicados por Grandin (1999k) para

avaliar o manejo na entrada do box de insensibilização, nota-se que havia problemas sérios de

manejo. Antes do treinamento, 89% de um lote de 100 animais receberam choque e após o

treinamento 92% de um lote de 100 animais levaram choque. Os critérios indicados por

Grandin (1999k) aconselham que na entrada do box de insensibilização o bastão elétrico deve

ser usado em até 5% dos animais de um lote de 100 para que o manejo seja considerado

excelente. Esse uso excessivo e indiscriminado deve-se principalmente ao perfil intolerante

dos funcionários que trabalhavam nessa parte do setor do curral. Vale ressaltar que esses

animais levaram choque após receberem o segundo banho de aspersão. Esse fato,

provavelmente, também influenciou na grande quantidade de pH alto retirados das carcaças

após 24 horas.

5

12

Antes do treinamento Após treinamento

Animais açoitados no final da seringa

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106

Gráfico 30– Quantidade de animais estimulados eletricamente no final da seringa em lotes de 100 animais

avaliados antes do treinamento e após o treinamento.

A quantidade de animais que deslizaram no final da seringa, ou entrada do box de

insensibilização, durante a coleta de dados realizada antes e após o treinamento é apresentada

no Gráfico 31. Quando se compara esses resultados com os critérios indicados por Grandin

(1999k) para avaliar o manejo na rampa de acesso ao box de insensibilização, nota-se que o

manejo apresentou resultado inaceitável antes e após o treinamento. São considerados

aceitáveis até 3% de deslizamentos em um lote de no mínimo 50 animais. No final da seringa

havia um segundo banho de aspersão, que fazia com que se acumulasse água no piso desse

setor fazendo com que os animais deslizassem.

Gráfico 31 – Quantidade de animais que deslizaram no final da seringa em lotes de 100 animais avaliados

antes e após o treinamento.

No Gráfico 32, é apresentada a quantidade de animais que caíram no final da seringa

durante a coleta de dados realizada antes e após o treinamento. Se os resultados obtidos

durante a coleta forem comparados com os critérios indicados por Grandin (1999k) para

89

92

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais estimulados eletricamente no final da seringa

5

8

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que deslizaram no final da seringa

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107

avaliar o manejo na rampa de acesso ao box de insensibilização, observa-se que antes do

treinamento a empresa apresentava um problema sério de manejo nessa parte do setor e que

após o treinamento a quantidade de quedas continuava sendo inaceitável. Essas quedas foram

ocasionadas por causa do acúmulo de água no piso e pela idade avançada dos animais. Os

animais que caíram no final da seringa, antes de entrarem no box de insensibilização foram

pisoteados por outros animais e esse acontecimento pode ser o causador de alguns dos

hematomas observados nas carcaças na região pélvica e próxima a região pélvica.

Gráfico 32 – Quantidade de animais que caíram no final da seringa em lotes de 100 animais avaliados

antes e após o treinamento.

Para apresentar a quantidade de animais que vocalizaram no final da seringa durante a

coleta de dados realizada antes e após o treinamento, tem-se o Gráfico 33. Quando

comparamos os resultados obtidos durante as coletas com os critérios indicados por Grandin

(1999k) para avaliar o manejo na rampa de acesso ao box de insensibilização, nota-se que na

primeira coleta de dados o manejo apresentou um problema sério, pois 11% de um lote de 100

animais vocalizaram e durante a segunda coleta de dados o manejo apresentou uma redução

na quantidade de vocalizações, mas mesmo assim foi classificado como inaceitável. Esses

mugidos foram causados pelo uso excessivo do bastão elétrico que deixava os animais

estressados, fato que, segundo Roça (2001), pode aumentar o nível de cortisol plasmático e

prejudicar a qualidade da carne. Grandin (1998a e 1998b, apud GRANDIN 2000), descobriu

que as vocalizações desagradáveis estão correlacionadas com a utilização de bastões elétricos.

Ao diminuir o uso de choque elétrico, diminui a porcentagem de animais vocalizando.

11

4

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que caíram no final da seringa

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108

Gráfico 33 – Quantidade de animais que vocalizaram no final da seringa em lotes de 100 animais

observados antes e após o treinamento.

No Gráfico 34, é apresentada a quantidade de animais açoitados dentro do box de

insensibilização durante a coleta de dados realizada antes e após o treinamento. Houve um

aumento de 1.350% na quantidade de açoitamentos da primeira coleta para a segunda coleta.

Gráfico 34– Quantidade de animais açoitados dentro do box de insensibilização em lotes de 100 animais

observados antes e após o treinamento.

No Gráfico 35, é apresentada a quantidade de animais que caíram dentro do box de

insensibilização durante a coleta de dados realizada antes e após o treinamento. Não há

critérios para avaliar o manejo no momento em que o gado está dentro do box de

insensibilização, por isso optou-se por comparar os resultados obtidos durante as coletas com

os critérios indicados por Grandin (1999k) para avaliar o manejo durante a rampa de acesso

ao box de insensibilização. Quando se realiza essa comparação, observa-se que antes do

treinamento a quantidade de quedas classificava o manejo como inaceitável em relação aos

conceitos de bem-estar animal e após o treinamento esse manejo apresentou problemas sérios

em relação aos conceitos de bem-estar animal. Os animais entravam no box de

11

6

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que vocalizaram no final da seringa

2

28

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais açoitados dentro do box de insensibilização

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109

insensibilização molhados, pois haviam acabado de tomar o segundo banho de aspersão.

Devido a esse fato, o piso do box de insensibilização ficava molhado, causando as quedas. Os

animais entravam no box de insensibilização muito agitados devido aos choques que levavam

e aos açoitamentos que ocorriam no final da seringa.

Gráfico 35– Quantidade de animais que caíram dentro do box de insensibilização em lotes de 100

animais avaliados antes e após o treinamento.

Para demonstrar a quantidade de animais que deslizaram dentro do box de

insensibilização durante a coleta de dados realizada antes e após o treinamento, tem-se o

Gráfico 36. Também não há critérios para avaliar os deslizes dentro no box de

insensibilização, então foi feita uma comparação dos resultados obtidos com os critérios

indicados por Grandin (1999k) para avaliar o manejo na rampa de acesso ao box de

insensibilização. Ao realizar essa comparação, observa-se que antes do treinamento o manejo

apresentou 7% de deslizamentos em um lote de 100 animais, resultados inaceitáveis em

relação ao bem-estar animal e após o treinamento, o manejo apresentou 3% de deslizamentos

em um lote de 100 animais, níveis aceitáveis de deslizamentos em relação ao bem-estar

animal. A causa desses deslizamentos também era o acúmulo de água no piso do box de

insensibilização.

Gráfico 36 – Quantidade de animais que deslizaram dentro do box de insensibilização em lotes de 100

animais avaliados antes do treinamento e após o treinamento.

4

7

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que caíram dentro do box de insensibilização

7

3

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que deslizaram dentro do box de insensibilização

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110

No Gráfico 37, é apresentada a quantidade de animais que vocalizaram dentro do box

de insensibilização durante a coleta de dados realizada antes e após o treinamento. Não há

critérios para avaliar as vocalizações dentro do box de insensibilização, então foi realizada

uma comparação com os critérios indicados por Grandin (1999k) para avaliar as vocalizações

durante o manejo do gado na rampa de acesso ao box de insensibilização. Quando realizada

essa comparação, nota-se que antes do treinamento o manejo apresentou 8% de vocalizações

em um lote de 100 animais e após o treinamento apresentou 4% de vocalizações em um lote

de 100 animais, níveis inaceitáveis de vocalizações em relação ao bem-estar animal.

Gráfico 37– Quantidade de animais que vocalizaram dentro do box de insensibilização em lotes com 100

animais avaliados antes do treinamento e após o treinamento.

A quantidade de animais que levaram mais de um disparo de pistola pneumática no

momento da insensibilização é apresentada no Gráfico 38. Nota-se que os valores de animais

que receberam mais de um disparo da pistola pneumática são elevados na coleta realizada

antes e após o treinamento, indicando sérios problemas nesse procedimento. A pistola

pneumática estava com problemas e não insensibilizava com eficiência no primeiro disparo.

Como descrito anteriormente, a pistola era levada várias vezes durante a jornada de trabalho

para a manutenção, porém os reparos realizados não sanavam o problema. A pistola reserva

também apresentava problemas.

8

4

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que vocalizaram dentro do box de insensibilização

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111

Gráfico 38 – Quantidade de animais que levaram mais de um disparo da pistola pneumática no momento

da insensibilização em lotes de 100 animais avaliados antes e após o treinamento.

Durante a coleta de dados realizada antes e após o treinamento foi quantificado os

animais que levaram choque após a insensibilização e esses valores são apresentados no

Gráfico 39. Houve um aumento de 500% do uso do bastão elétrico da primeira coleta de

dados para a segunda coleta de dados. Segundo os funcionários responsáveis pela

insensibilização, o bastão elétrico era utilizado nos animais insensibilizados para verificar a

sua eficiência. Essa prática não é aconselhável, pois o choque pode fazer com que os animais

voltem à consciência, causando-lhes assim, dor e estresse.

Gráfico 39 – Quantidade de animais estimulados eletricamente depois de insensibilizados em lotes de

100 animais avaliados antes e após o treinamento.

Vocalizações, reflexos oculares e movimentos oculares e contrações dos membros

dianteiros são sinais de deficiência da insensibilização. No Gráfico 40, é apresentada a

76

54

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que levaram mais de um disparo da pistola pneumática no

momento da insensibilização

8

48

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais estimulados eletricamente depois de

insensibilizados

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quantidade de animais que apresentaram consciência antes da sangria, através de contrações

de membros dianteiros, durante a coleta de dados realizada antes e após o treinamento.

Segundo Grandin (1999k), a eficiência da insensibilização deve ser avaliada na calha de

sangria, porém avaliou a sua eficiência antes da sangria e na calha de sangria. Para essa

avaliação, usou-se os critérios indicados por Grandin (1999k) para avaliar a eficiência da

insensibilização na calha de sangria e nele é indicado que o processo de insensibilização é

excelente quando menos que 1 animal apresenta sinais de consciência em um lote de 1000

animais insensibilizados parcialmente e aceitável quando menos que 1 animal apresenta sinais

de consciência em um lote de 500 animais insensibilizados parcialmente. Como foi avaliado

um lote de 100 animais, para considerar o processo de insensibilização excelente, apenas 0,1

animal poderia apresentar sinais de consciência e para ser considerado aceitável, 0,2 animal

poderia apresentar sinais de consciência. Na a coleta de dados realizada antes do treinamento,

28% de um lote de 100 animais apresentaram contrações dos membros dianteiros e na

segunda coleta de dados 14% de um lote de 100 animais apresentaram contrações dos

membros dianteiros. Através desses resultados pode-se afirmar que o processo de

insensibilização era ineficiente. Essa ineficiência era causada pelos problemas apresentados

pela pistola pneumática, pela estimulação elétrica realizada inconsequentemente após a

insensibilização, pela longa espera entre a insensibilização e a sangria e pelo mau

posicionamento da pistola na cabeça do animal na hora da insensibilização.

Gráfico 40 – Quantidade de animais que apresentaram consciência através de contrações dos membros

dianteiros em lotes de 100 animais avaliados antes e após o treinamento.

No Gráfico 41, é apresentada a quantidade de animais que apresentaram consciência

antes da sangria através de vocalização, durante a coleta de dados realizada antes e após o

treinamento. Os resultados obtidos foram comparados com os critérios indicados por Grandin

(1999k) para avaliar a eficiência da insensibilização na calha de sangria. Como descrito nos

28

14

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que apresentaram consciência através de

contrações dos membros dianteiros

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comentários do Gráfico 40 foi feita uma comparação dos resultados obtidos com os critérios

indicados por Grandin (1999k). Os critérios e a forma como foi realizada a comparação já

foram descritos anteriormente. Na coleta realizada antes do treinamento nenhum animal

vocalizou antes da sangria, sendo a insensibilização considerada excelente. Na coleta

realizada após o treinamento, 1 animal vocalizou antes da sangria, sendo a insensibilização

considerada ineficiente, pois valores acima de 0,2 em um lote de 100 animais são inaceitáveis.

Essa vocalização ocorrida na segunda coleta de dados nos mostra a ineficiência do processo

de insensibilização, pois indica que o animal estava consciente e sentindo dor. Vocalizações

são indicativos de dor e estresse. Essa consciência demonstrada através da vocalização era

causada pelos mesmos fatores indicados nos comentários do Gráfico 40.

Gráfico 41 – Quantidade de animais que vocalizaram antes da sangria em lotes de 100 animais avaliados

antes de após a sangria.

A quantidade de animais que apresentaram consciência antes da sangria através de

reflexos e movimentos oculares durante a coleta de dados realizada antes do treinamento e

após o treinamento, é apresentada no Gráfico 42. Os resultados obtidos foram comparados

com os critérios indicados por Grandin (1999k) para avaliar a eficiência da insensibilização na

calha de sangria. Como no Gráfico 40 foi feita uma comparação dos resultados obtidos com

os critérios indicados por Grandin (1999k). Os critérios e a forma como foi realizada a

comparação já foram descritos anteriormente. Na coleta realizada antes do treinamento

nenhum animal apresentou reflexos ou movimentos oculares antes da sangria, sendo a

insensibilização considerada excelente. Na coleta realizada após o treinamento 1 animal

apresentou reflexos e movimentos oculares antes da sangria, sendo a insensibilização

considerada ineficiente, pois valores acima de 0,2 em um lote de 100 animais são inaceitáveis.

Essa consciência demonstrada através de movimentos e reflexos oculares era causada pelos

mesmos fatores indicados nos comentários do Gráfico 40.

0

1

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que vocalizaram antes da sangria

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114

Gráfico 42 – Quantidade de animais que aparentaram reflexos e movimentos oculares antes da sangria

em lotes de 100 animais avaliados antes e após o treinamento.

Observando os resultados dos Gráficos 40, 41 e 42, pode-se supor que o procedimento

de insensibilização não era plenamente eficiente, pois houve vários indícios de parcial

consciência nos animais que foram avaliados no momento que antecede a sangria.

No Gráfico 43, é apresentada a quantidade de animais que apresentaram consciência

após sangria, através de vocalizações, durante a coleta de dados realizada antes do

treinamento e após o treinamento. Como citado anteriormente, os critérios indicados por

Grandin (1999k) avaliam a eficiência da insensibilização na calha de sangria. São observados

se há vocalizações, reflexos e movimentos oculares e movimentos dos membros dianteiros.

Em um lote com 100 animais, para considerar o processo de insensibilização excelente,

apenas 0,1 animal poderia apresentar sinais de consciência e para ser considerado aceitável,

0,2 animal poderia apresentar sinais de consciência. Com relação às vocalizações, pode-se

dizer que a insensibilização foi eficiente, pois as mesmas não ocorreram após a sangria.

Gráfico 43 – Quantidade de animais que vocalizaram após a sangria em lotes de 100 animais avaliados

antes e após o treinamento.

No Gráfico 44, é apresentada a quantidade de animais que apresentaram consciência

após sangria através de movimentos dos membros dianteiros, durante a coleta de dados

realizada antes do treinamento e após o treinamento. Em um lote com 100 animais, para

considerar o processo de insensibilização excelente, apenas 0,1 animal poderia apresentar

0

1

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que aparentaram reflexos e movimentos

oculares antes da sangria

0 0

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que vocalizaram após a sangria

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115

sinais de consciência e para ser considerado aceitável, 0,2 animal poderia apresentar sinais de

consciência. Ao comparar os valores obtidos durante as coletas realizadas antes do

treinamento e após o treinamento com os critérios indicados por Grandin (1999k) para avaliar

a o processo de insensibilização na calha de sangria, observa-se que antes do treinamento

obteve-se valores excelentes, porém após o treinamento um animal apresentou sinais de

consciência, o que torna o processo de insensibilização ineficiente.

Gráfico 44 – Quantidade de animais que apresentaram movimentos dos membros dianteiros após a

sangria em lotes de 100 animais avaliados antes e após o treinamento.

A quantidade de animais que apresentaram consciência através de reflexos oculares e

movimentos oculares, durante a coleta de dados realizada antes e após o treinamento é

apresentado no Gráfico 45. Em um lote com 100 animais, para considerar o processo de

insensibilização excelente, apenas 0,1 animal poderia apresentar sinais de consciência e para

ser considerado aceitável, 0,2 animal poderia apresentar sinais de consciência. Com relação

aos reflexos oculares e aos movimentos oculares, pode-se dizer que a insensibilização foi

eficiente, pois as mesmas não ocorreram após a sangria.

Gráfico 45 – Quantidade de animais que apresentaram consciência através de movimentos e reflexos

oculares após a sangria em lotes de 100 animais avaliados antes e após o treinamento.

0

1

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que apresentaram movimento dos membros dianteiros

após a sangria

0 0

Antes do treinamento Após o treinamento

Animais que apresentaram movimentos e reflexos oculares

após a sangria

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116

Observando os resultados dos Gráficos 43, 44 e 45, pode-se supor que o procedimento

de insensibilização era ineficiente, pois houve indícios de consciência em um animal do lote

de 100 animais que foram avaliados na calha de sangria. Outro grave incidente é o fato do

funcionário encarregado pela sangria também realizar o início da esfola, que seria a o corte

das patas dianteiras, quando o animal ainda estava na calha de sangria, o que pode contribuir

para a desconformidade encontrada.

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117

6 CONCLUSÃO

A empresa não é responsável pela compra de gado e por isso não pode ser

responsabilizada pela qualidade dos bovinos abatidos e nem pelo transporte realizado da

propriedade rural até o estabelecimento, pois esses são de responsabilidade dos marchantes

que contratam os seus serviços. No entanto, é responsável pela contratação e treinamento dos

funcionários responsáveis pelo manejo e abate do gado e responsável pelas suas edificações.

Os resultados desta pesquisa indicaram que de nada adiantará treinar os funcionários em

relação ao manejo racional do gado se os seus superiores e os funcionários responsáveis por

monitorar as operações realizadas por eles não se comprometerem com os conceitos de bem-

estar animal que devem ser respeitados na hora do abate dos animais. Para melhorar a

qualidade final da carne e sanar os problemas relacionados ao bem-estar animal, a empresa

deve investir na conscientização e qualificação dos seus funcionários, resolver os problemas

estruturais identificados no curral e na rampa de acesso ao box de insensibilização e,

principalmente, se comprometer com o tema, pois assim terá credibilidade para futuras

cobranças, tanto da parte dela em relação aos funcionários, como das possíveis cobranças

feitas por órgãos de inspeção.

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124

ANEXO A – CHECK LIST BASEADO NOS CONCEITOS DE BEM-ESTAR ANIMAL

ACONTECIMENTOS RELACIONADOS DIRETAMENTE COM O GADO:

C NC

Vocalização durante o trajeto do gado do curral até a insensibilização e posterior sangria.

Uso de bastão elétrico durante o trajeto do curral até a seringa de insensibilização.

Deslizes durante o trajeto do curral até a seringa de insensibilização.

Queda durante o trajeto do curral até a seringa de insensibilização.

Insensibilização na primeira tentativa.

Ausência de sinais que indiquem que o animal esta consciente após insensibilização.

Ausência de consciência durante a operação de sangria

C= Conforme; CN= Não conforme.

EVENTUAIS ACONTECIMENTOS QUE POSSAM ACARRETAR ESTRESSE AO ANIMAL E QUE ESTÃO

RELACIONADOS AO AMBIENTE:

C NC

Presença de poças de água no piso do curral e corredor que possam refletir luz.

Presença de sombras no piso ou outra parte da estrutura.

Excesso de luminosidade (brilho diretamente nos olhos dos animais).

Odores fortes.

Excesso de ruídos.

Sons agudos.

C= Conforme; CN= Não conforme.

EVENTUAIS ACONTECIMENTOS QUE POSSAM ACARRETAR ESTRESSE AO ANIMAL E QUE ESTÃO

RELACIONADOS À ESTRUTURA FÍSICA E EQUIPAMENTOS:

C NC

Presença de ruídos provenientes de equipamentos ou da estrutura (porteiras).

Presença de equipamentos que exercem demasiada pressão ao imobilizar o gado (brete de contensão).

Presença de porteiras que quando fechadas podem pressionar acidentalmente o animal.

Equipamentos, cercas ou porteiras com pontas que possam machucar o animal.

Presença de irregularidades no piso que possam causar escorregões ou quedas ao animal.

Presença de materiais que refletem luz (brilham).

Equipamentos que liberam jatos de ar diretamente nos animais.

C= Conforme; CN= Não conforme.

ATITUDES DO FUNCIONÁRIO QUE PODEM CAUSAR ESTRESSE AO ANIMAL:

C NC

Utilizar-se de gritos para manejar o animal.

Agir de forma agressiva quando manejar o animal.

Açoitar os animais durante o manejo.

Possuir o habito de utilizar excessivamente o bastão elétrico.

C= Conforme; CN= Não conforme.

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125

AVALIAÇÃO DA ESTRUTURA FÍSICA DO CURRAL E SEUS EQUIPAMENTOS:

C NC

Dispõem de currais cobertos.

Presença de curral de chegada.

Presença de curral de observação.

Curral de observação afastado em 3 metros.

Presença de curral de matança.

Iluminação adequada.

Piso pavimentado.

Piso com declive de 2%.

Cercas duplas com 2m de altura.

Espaço de 30 cm entre as barras das cercas do curral.

Cercas sem cantos vivos ou proeminências.

Cordão sanitário com 30 cm ao longo e sob as cercas.

Comedouros.

Bebedouros.

Água para lavagem de piso com pressão de 3 atm.

Corredor central.

Plataforma elevada.

Porteira com a mesma largura do corredor central.

Área de 2,5 m² por bovino.

Identificação do curral de observação.

Matadouro Sanitário.

Departamento de necropsia.

Área coberta.

Corredor curvo para acesso a seringa.

Paredes dos corredores fechadas.

Passarela para funcionários na parte interna da curva do corredor.

Piso antiderrapante.

C= Conforme; CN= Não conforme.

AVALIAÇÃO DO MANEJO PRÉ ABATE:

o RAMPA DE ACESSO AO VEÍCULO

C NC

O ângulo formado pela rampa de acesso ao veículo em relação ao solo não é superior a 20°.

Material antiderrapante.

Possui frestas que possam causar a “sensação de abismo” aos animais.

C= Conforme; CN= Não conforme.

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126

o DESCANSO E DIETA HÍDRICA

C NC

Animais sendo abatidos sem permanecer pelo menos 24 (vinte e quatro) horas em descanso,

jejum e dieta hídrica nos currais de estabelecimentos. (Animais que viajaram por mais de 2 horas)

Período reduzido para 6 horas quando a viagem do local de origem até o frigorífico é inferior a 2 horas.

Presença de equipamentos e métodos impróprios que proporcionam excitação, estresse e contusão.

Presença de transtornos que impedem o movimento natural do animal, como reflexo da água no piso,

brilho de metais e ruídos de alta frequência.

Mistura de lotes de origens diferentes.

C= Conforme; CN= Não conforme.

o BANHO DE ASPERSÃO

C NC

Piso antiderrapante.

Afunilamento final da rampa de acesso (seringa).

Passagem por chuveiro.

A água com pressão não inferior a 3 atmosferas (3,03 Kgf/cm2).

Seringa simples ou dupla , até o boxe de atordoamento em forma "V".

Utilização do bastão elétrico para conduzir os animais.

o INSENSIBILIZAÇÃO

o TIPO DE ABATE

C NC

Método kasher com uso de faca específica para degola judaica.

Uso de pistola pneumática.

Uso de martelo pneumático não penetrante.

Arma de fogo.

Pistola pneumática de penetração com injeção de ar.

Pistola de dardo cativo acionada por cartucho de explosão.

Corte da medula ou choupeamento.

Eletronarcose.

Processo químico.

Funcionário treinado para promover a insensibilização.

É (são) sempre o(s) mesmo(s) funcionário(s)?

C= Conforme; CN= Não conforme.

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127

o SANGRIA

C NC

Operação de sangria deve ser iniciada logo após a insensibilização do animal.

Operações de mutilação são realizadas após a sangria enquanto ocorre o escoamento do sangue.

Os animais apresenta respiração rítmica.

Ocorrem vocalizações dos animais enquanto pendurado no trilho durante sangria.

Animais reflexos oculares em resposta ao toque.

Animais apresentam palpitações.

Animais apresentam eretos e com a cabeça solta.

Animais não apresentam movimentos dos membros.

Animais apresentam língua pendida para baixo.

C= Conforme; CN= Não conforme.

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128

ANEXO B – CHECK LIST PARA AVALIAÇÃO INDIVIDUAL DE ANIMAIS

N

NC

N

C

Animal escorregou durante o manejo.

Animal encostou alguma parte do corpo no chão durante o manejo devido a escorregões.

Animal sofreu queda durante manejo.

Animal vocalizou durante manejo (após sair do curral).

Animal excitou-se devido presença de sombras.

Animal excitou-se devido presença de brilho causado por poças de água ou algum metal.

Animal foi açoitado durante manejo.

Animal sofreu uso do bastão elétrico.

Animal chocou-se com a estrutura do curral durante manejo.

Animal chocou-se contra equipamentos durante o manejo.

Animal não foi insensibilizado na primeira tentativa.

Animal apresentou respiração rítmica após sangria.

Animal vocalizou enquanto pendurado no trilho durante sangria.

Animal apresentou reflexos oculares em resposta ao toque após efetuada operação de sangria.

Animal apresentou palpitação após sangria.

Animal manteve-se ereto e com a cabeça solta após sangria.

Animal não apresentou movimentos dos membros após sangria.

Animal manteve a língua pendida para baixo após sangria.

C= Conforme; CN= Não conforme.

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ANEXO C – CHECK LIST BASEIADO NA IN n°3 DE 2000 DO MAPA

REQUISITOS APLICADOS AOS ESTABELECIMENTOS DE ABATE

C NC

Possuí instalações apropriadas para o desembarque de animais dos meios de transporte.

Os animais são descarregados o mais rapidamente possível após a chegada.

Em caso de espera, os animais são protegidos contra condições climáticas extremas e beneficiados de uma ventilação adequada.

Separação em local adequado de animais que corram o risco de se ferirem mutuamente devido à espécie, sexo, idade ou origem.

Os animais acidentados durante transporte ou à chegada ao estabelecimento de abate são submetidos à matança de emergência.

O animal é transportado e não arrastado para o abate emergencial para evitar sofrimento inútil.

Durante a recepção os animais não são acuados, excitados ou maltratados.

Manejo sem agressão física (agredi-los, erguê-los pelas patas, chifres, pelos, orelhas ou cauda, ocasionando dores ou sofrimento).

Os bretes e corredores por onde os animais são encaminhados são concebidos de modo a reduzir ao mínimo os riscos de ferimentos

e estresse.

Os dispositivos produtores de descargas elétricas são usados apenas em caráter excepcional em animais que recusam mover-se e com

tempo máximo de dois segundos.

Utilização de descarga elétrica apenas nos membros e com voltagem específica.

Animais mantidos nos currais com água limpa e abundante.

Animais mantidos nos currais por mais de 24 horas recebem alimentação em quantidade moderada e com intervalos adequados.

Mistura de lotes de diferentes origens.

C= Conforme; CN= Não conforme.

CONTENÇÃO DOS ANIMAIS

C NC

Os animais são imediatamente conduzidos ao equipamento de insensibilização logo após a contenção.

Os animais são colocados no recinto de insensibilização apenas quando o responsável pela operação esta presente.

Operador do equipamento de sensibilização é devidamente treinado.

C= Conforme; CN= Não conforme.

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130

MÉTODOS DE INSENSIBILIZAÇÃO PARA O ABATE HUMANITÁRIO

Método mecânico

o Percussivo penetrativo

C NC

A pistola é posicionada pelo operador de modo a assegurar que o dardo penetre no córtex cerebral, através da região frontal.

Animais são colocados no recinto de insensibilização sem o responsável pela operação.

Ocorre a imobilização da cabeça do animal sem a presença do magarefe que efetua a insensibilização.

Operador de equipamento de insensibilização devidamente treinado.

C= Conforme; CN= Não conforme.

o Percussivo não penetrativo

C NC

A pistola é posicionada pelo operador de modo a assegurar que o dardo penetre no córtex cerebral, através da região frontal.

Animais são colocados no recinto de insensibilização sem o responsável pela operação.

Ocorre a imobilização da cabeça do animal sem a presença do magarefe que efetua a insensibilização.

Operador de equipamento de insensibilização devidamente treinado.

C= Conforme; CN= Não conforme.

SANGRIA

C NC

A operação de sangria é iniciada logo após a insensibilização do animal.

Após a seção dos grandes vasos do pescoço, não são realizadas, na calha de sangria, operações que envolvam mutilações, até

que o sangue escoe o máximo possível.

Colaborador responsável pela sangria devidamente treinado.

C= Conforme; CN= Não conforme.

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131

ANEXO D - AVALIAÇÃO DE HEMATOMAS EM CARCAÇAS

1. CARCAÇA NÚMERO:___________

2. LOCALIZAÇÃO DO HEMATOMA NA CARCAÇA:

3. ESCORE DO HEMATOMA POR

LOCALIZAÇÃO:___________________________________________

4. TAMANHO DO HEMATOMA: ________________________________________________________

Tamanho 1 - de 1 a 5 cm em diâmetro;

Tamanho 2 - de 6 a 10 cm em diâmetro;

Tamanho 3 - de 11 a 15 cm em diâmetro;

Tamanho 4 - de 16 a 20 cm em diâmetro;

Tamanho 5 - de diâmetro maior que 21 cm;

Lesão abaixo de 1 cm de diâmetro não foi registrada.

5. COLORAÇÃO DO HEMATOMA: ______________________________________________________

Posição Corte Escore Número de

contusões sérias

Região Proximal do

membro pélvico

Inside, Outside (coxão mole e duro) 1 1

Região da Pelve Rump (alcatra) 2 1

Região Lombar Striploin (contrafilé) 3 1

Dianteiro Blade, Brisket (peito e pá) 4 1

Quarto Traseiro Uma contusão séria em dois locais do

traseiro 1,2,3

5 2

Quarto Traseiro Uma contusão séria em três dos locais

do traseiro

6 3

Meia carcaça Uma contusão séria no dianteiro e uma

contusão séria no traseiro em qualquer

um dos locais 1,2,3

7 2

Meia carcaça Uma contusão séria no dianteiro e duas

contusões sérias no traseiro em

qualquer um dos locais 1,2,3

8 3

Meia carcaça Uma contusão séria no dianteiro e três

contusões sérias no traseiro em

qualquer um dos locais 1,2,3

9 4

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ANEXO E

CARTILHA DE MANEJO PRÉ-ABATE DE BOVINOS

Autora: Fernanda Maria Farias Cunha

CARTILHA DE MANEJO PRÉ-ABATE DE BOVINOS

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Fernanda Maria Farias Cunha

Discente do Programa de Pós-Graduação Scricto Sensu em Ciência e Tecnologia de

Alimentos; Instituto Federal do Triangulo Mineiro; Uberaba, Minas Gerais;

[email protected]

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134

MANEJO RACIONAL NO PRÉ-ABATE DE BOVINOS

O manejo pré-abate se inicia quando o rebanho é reunido no curral da fazenda para

realizar o embarque para o frigorífico, sendo concluído no momento da sangria.

Durante essa atividade e, também, nas outras que ocorrerão até o momento do abate,

vários acontecimentos, como agressões físicas e quedas, podem deixar os animais estressados,

influenciando diretamente na qualidade final da carne.

Por isso, o manejo racional no pré-abate de bovinos tem como objetivo, através dos

conceitos de bem-estar animal, minimizar as causas do estresse.

Quais são os principais conceitos de bem-estar animal?

Os conceitos de bem-estar animal estão relacionados com: as necessidades, liberdades,

felicidade, adaptação, controle, capacidade de previsão, sentimentos, sofrimento, dor,

ansiedade, medo, tédio, estresse e saúde dos animais. Nada mais é do que respeitar o direito

do animal a ter uma morte com o mínimo de sofrimento possível.

Você que trabalha diretamente com o gado pode minimizar esse sofrimento, sabia? E

se você usar as técnicas certas de manejo racional de bovinos, seu trabalho ficará fácil de ser

realizado.

A primeira coisa que você tem que fazer, é manter a calma! Quando estamos bravos,

irritados e vamos trabalhar com o gado, perdemos a paciência facilmente e fazemos muita

coisa errada. Um exemplo é quando se começa a gritar com o animal começa a agredi-lo

fisicamente. Você se sente bem ao ser xingado, ouvir gritos ou ser agredido fisicamente? Não!

O boi também não. O animal não sabe o que está acontecendo com você, e, provavelmente,

também não é o culpado por você ter chegado ao seu local de trabalho estressado. Essa atitude

agressiva, só lhe trará mais problemas, pois o animal ficará assustado e nervoso com seus

gritos. Por causa de situações de estresse os animais começam ver seus tratadores como

ameaças, e passam a ter reações agressivas, na tentativa de se auto-defender.

A segunda coisa é não fazer o seu serviço às pressas. Achamos que quando fazemos o

nosso serviço com o gado rapidamente estaremos ganhando tempo. Isso está completamente

errado! Quando tentamos apressar o animal ou forçamos a uma determinada situação, ele fica

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135

estressado e acaba criando certa resistência para ser manejado. Então tente manejar o gado de

forma que ele troteie ao se movimentar. Manejando o gado calmamente, você e o animal não

ficarão estressados.

A terceira coisa a fazer é seguir algumas dicas de manejo racional que irá ajudá-lo a

trabalhar com o gado mais facilmente.

Dicas:

Gritos e barulhos: Quando for manejar o gado tente fazer essa atividade sem gritar.

Evite fazer barulhos, principalmente barulhos altos e irritantes. O gado possui uma

audição muito sensível e barulhos muito altos e irritantes podem estressá-los. Um grito

estridente na orelha do animal causa nele o mesmo estresse que um cutucão por bastão

elétrico ou ferrão. Se você falar calmamente e num tom agradável, acalmará o animal.

O gado pode diferenciar a voz humana do barulho de uma porteira ou de qualquer

outro barulho causado por equipamentos e infraestrutura do curral ou frigorífico.

Talvez a porteira batendo não assuste os animais, mas o barulho feito por uma moto

poderá assustá-los, deixando-os muito estressados.

Visão do animal: O gado possui seus olhos nas laterais da cabeça. Isso faz com que ele

tenha uma visão ampla de tudo que está ao seu redor. Eles examinam continuamente o

ambiente ao seu redor. Eles percebem facilmente movimentos ao seu redor.

Movimentos bruscos podem assustá-los, assim como contrastes entre escuro e claro. O

brilho intenso é estressante para o animal. A sombra é assustadora. Então caminhe

calmamente em direção ao animal e preste atenção nas sombras que os equipamentos e

a infraestrutura do curral ou frigorífico podem criar. Evite poças de água no trajeto que

o animal faz, pois elas podem refletir luz e assustar o gado.

Quando o animal, durante o manejo no curral, fica estressado ele ergue a cabeça e fica

em estado de alerta. Às vezes isso ocorre por causa de sombras ou brilhos intensos

presentes no trajeto. Quando isso acontecer, tente não empurrar, cutucar ou bater no

animal. O animal irá verificar o que está lhe assustando e prosseguirá. Isso levará

aproximadamente um minuto. Se você não deixar o animal verificar o local, ele se

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assustará e sua tendência é retornar para o local de onde partiu. Evite também deixar

objetos estranhos no local onde o gado está sendo manejado.

Zona de fuga: Durante o manejo do gado, fique atento para a zona de fuga do animal.

Zona de fuga é uma área invisível que o animal cria em torno de si e na qual ele se

sente seguro. Quando o manejador invade essa área, o animal tende a escapar ou se

assustar. Quando o manejador anda próximo ao animal, mas não invade a zona de

fuga, o mesmo tende a se movimentar assim, evitando a aproximação do manejador. É

como se fosse uma forma de se proteger, pois o animal vê o manejador como uma

ameaça, um predador. Para o animal virar em uma direção, basta se posicionar na

altura da pata dianteira dele. Ou seja, para o animal virar para a direita, você deve se

posicionar na altura da para esquerda e sem invadir a zona de fuga. Você perceberá

que ele virará para a direita de uma forma tranquila. Para virar à esquerda, basta se

posicionar na altura da pata direita.

Quando o animal estiver na seringa e negando a se movimentar, caminhe em sua

direção lentamente. Vá de encontro a ele. Para o animal, ao fazer isso, você estará

invadindo a sua zona de fuga e sua tendência será ir em frente.

Uso de bandeirolas: As bandeirolas podem ser usadas para guiar os animais. Deve-se

usa-las de forma lenta e sem bater nos animais. Balance-a de forma suave ao longo do

corpo do animal para fazer com que ele caminhe e ao lado da cabeça para fazê-lo

virar. Lembre-se de não tocar o animal. Dependendo da intensidade do toque, ele pode

entender como uma agressão, ficando assustado e estressado.

As bandeirolas podem ser confeccionadas de plástico ou de tecido e devem ter um

varão de aproximadamente 2 metros.

Bastão elétrico: Ele causa dor, assusta e estressa o animal. É o último recurso a ser

usado no animal. Só deve ser usado depois de ter tentado a bandeirola ou outros

meios. Deve ser usado apenas no traseiro do animal e nunca dever ser usado em partes

sensíveis do animal como: reto, genitais, olhos, orelhas, nariz, úbere.

Usar apenas uma vez no animal. Você gosta de levar choques? Não, não é mesmo? O

animal também não gosta de levar choques.

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Alimentação e água: Não deixe os animais passarem fome ou sede. No curral do

frigorífico, os animais devem ter acesso abundante à água, e só deverão ser

alimentados se a espera para abate passar de 24 horas. Os bebedouros devem estar

sempre limpos.

Estrutura do curral: Observe se o curral tem suas porteiras funcionando corretamente,

e se alguma cerca está quebrada. Cercas de madeira podem quebrar e criarem pontas

que machucarão os animais. A melhor estrutura de curral é a de metal. Verifique se

existem buracos no piso. Os animais podem cair por causa desses buracos e podem até

quebrar uma pata.

Lotes: Nunca misture lotes de animais de fazendas diferentes. Se o lote for muito

grande, não coloque todos os animais em um só curral. Divida em dois ou mais currais

se necessário. Quando o curral fica muito cheio ao ponto dos animais não conseguirem

se mexer direito, eles acabam se machucando e ficando estressados. Se um animal cair

dentro de um curral superlotado, ele será pisoteado pelos outros animais.

Embarque e desembarque: Ao posicionar o caminhão para embarcar ou desembarcar o

animal, confira se o veículo está no mesmo nível que a rampa. Quando o caminhão

não se encontrar no mesmo nível da rampa, o animal pode cair ao embarcar ou

desembarcar. Evite também frestas entre o caminhão e a rampa. Essa fresta causa uma

sensação de abismo no animal e ele se recusará a andar. O gado não possui noção de

profundidade, então qualquer vão existente entre o caminhão e a rampa se tornará um

obstáculo.

Lembre-se sempre:

Quando o animal fica agitado, ele leva aproximadamente 20 minutos para se acalmar.

Ele leva o mesmo tempo de aproximadamente 20 minutos para se acostumar com um

novo ambiente.

Nunca arraste, puxe pela pelagem, chifres, orelhas ou rabo o animal. Nunca cutuque

ou bata no animal com varões ou pedaços de madeira ou qualquer outro material.

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Como reconhecer o medo nos animais?

Os animais demonstram alguns sinais quando estão com medo. Alguns deles são:

O gado quando está assustado costuma bater o rabo igual faz quando há moscas.

Quanto mais nervoso o animal está, maior a velocidade das batidas.

Quando apavorado, o animal ergue a cabeça e fica olhado para o que lhe causa medo.

A parte branca dos seus olhos fica visível.

Começam defecar em abundância ou suas fezes ficam moles.

Sua respiração fica alterada e o animal começa a tremer.

Os animais quando assustados, apontam suas orelhas para o que está lhe causando

medo ou são colocadas para traz. Quando muito nervosos ou agressivos, colocam as

orelhas para baixo.

Seja o melhor manejador.

Quando estiver manejando o gado, fale baixo.

Um bom manejador deixa o gado examinar visualmente o trajeto que está fazendo.

Evite o uso de bastão elétrico.

Use bandeirolas para manejar os animais.

Utilize-se da zona de fuga do animal.

Seja paciente.

Entenda o comportamento natural dos bovinos.

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ANEXO F

MANEJO RACIONAL DE BOVINOS NO MOMENTO PRÉ-ABATE.

Conceitos e Modelo de avaliação do comportamento dos funcionários e da

infraestrutura do frigorífico

Fernanda Maria Farias Cunha

Paulo Cezar Bastianello Campagnol

Edsom Roberto Lorenci Toneto

UBERABA, MG.

2014.

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MANEJO RACIONAL DE BOVINOS NO MOMENTO PRÉ-ABATE.

Conceitos e Modelo de avaliação do comportamento dos funcionários e da

infraestrutura do frigorífico

Fernanda Maria Farias Cunha, Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos – IFTM,

[email protected], 34-9197-6960.

Paulo Cezar Bastianello Campagnol, Doutor em Tecnologia de Alimentos - Unicamp,

[email protected], 34-3319-6060.

Edsom Roberto Lorenci Toneto, Doutor em Tecnologia de Alimentos - Unicamp,

[email protected], 34-3319-6060.

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APRESENTAÇÃO

Esse informe técnico tem como objetivo ajudar os profissionais da área frigorífica a

compreender os conceitos de bem-estar animal no manejo pré-abate de bovinos, a identificar

irregularidades em suas plantas frigoríficas que possam comprometer o bem-estar dos animais

e a avaliar o comportamento dos funcionários, animais e o manejo do gado.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 143

2.1 Curral da fazenda ............................................................................................... 144

2.3 Transporte ........................................................................................................... 145

2.4 Descarregamento ................................................................................................ 146

2.5 Dieta hídrica e estrutura dos currais ................................................................ 146

2.6 Manejo pré-abate no frigorífico e estrutura do corredor, banho de aspersão e

seringa ........................................................................................................................ 148

2.6.1 Zona de fuga ..................................................................................................... 149

2.7 Insensibilização, box de insensibilização e praia de vômito ............................ 150

2.8 Sangria ................................................................................................................. 152

2.9 Funcionários ........................................................................................................ 153

3 CHECK LISTS E CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DO MANEJO PRÉ-

ABATE ....................................................................................................................... 154

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................... 157

ANEXO A .................................................................................................................. 158

ANEXO B .................................................................................................................. 164

ANEXO C .................................................................................................................. 165

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1 INTRODUÇÃO

O bem-estar animal no manejo pré-abate nada mais é que a aplicação de conceitos

relacionados às necessidades, liberdades, felicidade, adaptação, controle, capacidade de

previsão, sentimentos, sofrimento, dor, ansiedade, medo, tédio, estresse e saúde, ao manejo do

animal desde o momento em que reunimos o gado no curral da propriedade rural para realizar

o embarque em caminhões boiadeiros até o momento em que ele é insensibilizado para

realização do abate na indústria frigorífica.

Quando estudamos esses conceitos, vemos que muitos deles já eram usados pelas

pessoas mais antigas quando elas trabalhavam com o gado. Com o passar do tempo, o meio

científico percebeu a importância desses conceitos e notou que fatores como sexo, idade,

peso, ruídos, umidade, calor e o espaço disponível para cada animal durante o transporte e

durante o período de dieta hídrica exerciam influência direta sobre a qualidade final da carne.

Ao manejar o gado respeitando os conceitos de bem-estar animal melhoramos a

segurança e a rotina de trabalho nos currais. Também melhoramos a qualidade final da carne,

pois diminuímos os fatores que causam estresse aos animais e os problemas relacionados ao

alto pH final da carne também são reduzidos. Além disso, também é reduzida a ocorrência de

hematomas e defeitos no couro, aumentando assim a lucratividade da empresa.

Para trabalharmos respeitando o bem-estar animal, além do nosso bom senso,

podemos contar com inúmeras publicações sobre o assunto, que vão de artigos científicos a

livros e informes técnicos e instruções normativas elaboradas pelo Ministério da Agricultura,

Pecuária e Abastecimento. Em relação às instruções normativas, temos a Normativa n°3 de 7

de janeiro de 2000, que regulamenta os métodos de insensibilização para o abate humanitário

de animais de açougue e a Normativa n°56 de 6 de novembro de 2008, que estabelece

procedimentos gerais de Recomendações de Bem-Estar para Animais de Produção e de

Interesse Econômico - REBEM, abrangendo os sistemas de produção e o transporte.

Este informe técnico abordará a relação dos acontecimentos que antecedem o abate e

sua influência no comportamento do animal de uma forma que abranja todas as indústrias

frigoríficas independentemente do mercado para o qual atuam.

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2 MANEJO PRÉ-ABATE

Como descrito anteriormente, a fase de pré-abate envolve as atividades e os

acontecimentos que ocorrem durante o manejo dos animais para reuni-los no curral e para

iniciar as operações de embarque, de transporte até o frigorífico, às operações de

desembarque, de manejo no curral de espera e de manejo até o momento da insensibilização e

posterior sangria. Durante esses eventos os animais são expostos a vários acontecimentos que

podem deixá-los estressados.

2.1 Curral da fazenda

Ainda na fazenda, os bovinos entram em contanto com os humanos durante o manejo

do pasto para o curral e, dependendo da raça e sexo, podem se sentir ameaçados. Uma vez no

curral, os animais são expostos ao barulho do caminhão, aos gritos dos boiadeiros, ao uso do

ferrão e do bastão elétrico, as sombras das cercas projetadas no chão e outros acontecimentos

que lhes parecem desafiadores. Dessa forma, os animais acabam ficando agitados e

dificultando o manejo.

Para se ter uma manejo correto, deve-se separar os animais que serão embarcados com

antecedência e em lotes com proximidade de peso, idade e sexo. Deve-se evitar colocar dois

animais que se comportam como líderes no mesmo lote. Também evitar colocar animais com

grandes chifres no mesmo lote, pois eles podem interagir de forma agressiva e se

machucarem.

Não se deve usar o auxílio de cães, ferrões ou bastões elétricos no manejo dos animais

dentro do curral para encaminha-los para dentro do caminhão. Estes procedimentos causam

estresse aos animais. É aconselhado que se use bandeirolas para movimentá-los. As

bandeirolas são vistas pelo animal como uma extensão do corpo do manejador. Usando-as, o

animal será manejado de forma fácil e tranquila e também será garantida uma distância segura

dos mesmos. Deve-se usá-las de forma lenta e sem bater nos animais. A bandeirola deve ser

balançada de forma suave ao longo do corpo do animal para fazer com que ele caminhe e ao

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lado da cabeça para fazê-lo virar. O animal não deve ser tocado pela bandeirola. Dependendo

da intensidade do toque, ele pode entender como uma agressão, ficando assustado e

estressado.

2.2 Carregamento

Deve-se evitar gritos durante o manejo para embarque. A audição dos bovinos é muito

sensível e por isso eles se assustam com gritos e barulhos, principalmente os agudos. Um

grito estridente na orelha do animal causa nele o mesmo estresse que um cutucão por bastão

elétrico ou ferrão. Deve-se falar calmamente e num tom agradável, pois assim acalmará o

animal. Os bovinos podem diferenciar a voz humana do barulho de uma porteira ou de

qualquer outro barulho causado por equipamentos e infraestrutura do curral ou frigorífico.

Talvez a porteira batendo não assuste os animais, mas o barulho feito por uma motocicleta

poderá assustá-los e deixá-los muito estressados.

O embarcadouro deve atender as recomendações técnicas, não tendo ângulo de

inclinação superior a 20°, piso antiderrapante e não deve haver formação de vãos e degraus

entre ele e o caminhão.

Uma vez dentro do caminhão, deve-se esperar 20 minutos para os animais se

acalmarem e assim iniciar a viagem.

2.3 Transporte

No Brasil o meio de transporte mais utilizado para transportar os animais para o

frigorífico é o rodoviário. Há vários tamanhos de caminhões boiadeiros. Por isso, é importante

que se dê atenção a densidade da carga. Cargas com densidades alta são prejudiciais aos

animais, pois eles se estressam e há o aumento de hematomas nas carcaças. A densidade ideal

seria em média de 390 a 410 kg / m 2

.

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Durante o trajeto, o motorista deverá fazer paradas regulares, para que os animais

descansem na sombra. Também é aconselhável que o transporte seja feito com uma

velocidade controlada e nas horas mais frescas do dia.

Viagens com tempo superior a 15 horas são indesejáveis, pois transportes prolongados

afetam de forma negativa o bem-estar animal, fazendo com que fiquem estressados e assim

influenciando diretamente na qualidade final da carne.

2.4 Descarregamento

O estabelecimento de abate deve ter uma rampa apropriada para o desembarque dos

animais dos caminhões. Essa rampa não deve formar degrau e nem vãos quando o caminhão

estiver encostado para descarregar os animais. O ângulo da rampa de descarregamento deve

ser inferior a 20° e com piso antiderrapante.

É proibido açoitar, excitar, puxar pelo rabo ou pelas orelhas os animais durante o

descarregamento, é proibido também o uso de ferrões. O bastão elétrico só deverá ser usado

depois de esgotadas todas as alternativas para retirar o animal do caminhão com tranquilidade.

Se algum animal se recusar a descer do caminhão, deve-se aguardar 20 minutos e

depois tentar novamente. Os bovinos demoram cerca de 20 minutos para se acostumarem a

um novo ambiente.

2.5 Dieta hídrica e estrutura dos currais

A dieta hídrica é usada no período que o animal fica nos currais de espera até o

momento do abate. Recomenda-se que a dieta hídrica dure 24 horas, porém quando a viagem

até o frigorífico é menor que duas horas, a dieta hídrica pode ser reduzida para 6 horas.

Durante esse período o animal deve ter acesso à água abundante, fresca e limpa oferecida em

bebedouros de alvenaria que deverão ser higienizados diariamente. Quando o período de dieta

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hídrica for maior que 24 horas, deverá ser oferecida aos animais quantia moderada de

alimento.

É muito importante que não haja a mistura de lotes de origem diferentes. Os animais

que se destacam como líderes poderão brigar, e os demais se estranharão e acabarão brigando

também e, consequentemente, se ferindo, o que gera um grande estresse e a perda comercial

da carne e couro.

Animais que se feriram gravemente durante o transporte ou que apresentem qualquer

outra forma de sofrimento, sejam eles causados por doenças ou acidentes ocorridos durante o

transporte, deverão ser levados após o descarregamento para os currais de observação. Depois

do médico veterinário do Serviço de Inspeção Federal avaliá-los, os mesmos deverão ser

abatidos seguindo as normas de abate humanitário, sendo o abate realizado em uma planta

separada que será denominada “abatedouro sanitário”, onde também haverá uma sala de

necropsia. O estabelecimento deverá possuir uma pistola pneumática móvel para realizar a

insensibilização dos animais que se encontram em sofrimento dentro dos currais e que não

conseguem se movimentar.

Os currais de espera e os currais de observação deverão ser construídos em uma área

onde haja o mínimo de ruídos provenientes das áreas externas do estabelecimento. Deverão

possuir piso construído com material antiderrapante, resistente e com declive de no mínimo 2

% para que não ocorra acúmulo de água. Deverão ser iluminados natural e artificialmente.

Suas cercas deverão ser duplas, com 2 metros de altura, sendo de material resistente e sem

cantos vivos ou pontas que possam ferir os animais. As porteiras dos currais deverão possuir a

mesma largura do corredor entre os currais. Sendo construídos dessa forma, evitarão acidentes

que possam ocorrer com os funcionários do setor. Deverão possuir chuveiros de aspersão

para aliviar o estresse causado pelo calor e melhorar a qualidade higiênico-sanitária do couro

dos animais. Também deverão possuir uma área coberta para abrigar os animais do sol.

Deve-se observar se há formação de sombras ou se existe algo que brilha

intensamente, pois o gado possui seus olhos nas laterais da cabeça e isso faz com que ele

tenha uma visão ampla de tudo que está ao seu redor. Os bovinos examinam continuamente o

ambiente onde se encontram e percebem facilmente movimentos ao seu redor. Contrastes

entre escuro e claro irão assusta-los assim como os movimentos bruscos. O brilho intenso é

estressante para o animal. Deve-se prestar atenção nas sombras que os equipamentos e a

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infraestrutura do curral ou frigorífico podem criar. Também deve-se evitar a formação de

poças de água ao longo do trajeto que os bovinos fazem, pois elas podem refletir luz e

assustar os animais.

Quando o animal, durante o manejo no curral, fica estressado ele ergue a cabeça e fica

em estado de alerta. Às vezes isso ocorre por causa de sombras ou brilhos intensos presentes

no trajeto. Quando isso acontecer, não se deve empurrar, cutucar ou bater no animal. O

animal, por instinto, irá verificar o que está lhe assustando e prosseguirá. Isso levará

aproximadamente um minuto. Se não deixarmos o animal verificar o local, ele se assustará e

sua tendência é retornar para o local de onde partiu. Deve-se evitar deixar objetos estranhos

no local onde o gado será manejado, pois eles assustarão os animais.

2.6 Manejo pré-abate no frigorífico e estrutura do corredor, banho de aspersão e seringa

O manejo pré-abate no frigorifico é compreendido das atividades que antecedem o

abate. Compreende a retirada dos animais dos currais de espera e posterior manejo até o box

de insensibilização.

É fundamental que os funcionários que trabalham nesse setor, manejando o gado,

tenham um perfil calmo.

Durante esse manejo deverão ser evitados gritos, assovios, movimentos bruscos e

atitudes violentas por parte dos funcionários. Os manejadores não devem agredir em hipótese

alguma os animais com ferrões, pedações de madeiras, cordas ou até mesmo chicotes. O

bastão elétrico só poderá ser usado em última hipótese, após todos os recursos para um

manejo tranquilo serem esgotados, pois ele causa dor, assusta e estressa o animal. Deve-se

usar o bastão elétrico apenas no traseiro do animal e nunca deverá ser usado em partes

sensíveis do animal como: reto, genitais, olhos, orelhas, nariz, úbere. Usá-lo apenas uma vez

no animal.

Para manejar o gado durante esse trajeto é indicado o uso de bandeirolas

confeccionadas com plástico ou tecido branco e com um varão que possua aproximadamente

2 metros de comprimento para garantir a segurança do manejador. O manejador nunca deverá

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tocar o animal com a bandeirola, ele deverá balançá-la de forma suave ao longo do corpo do

animal para fazer com que ele caminhe e ao lado da cabeça para fazê-lo virar.

O corredor que dá acesso à seringa deverá ser construído de forma curva e seu piso

deverá possuir material antiderrapante, com inclinação de 2 % para que não haja acúmulo de

água. Suas laterais deverão ser fechadas, para que os animais não se distraiam com

acontecimentos que ocorram fora do corredor e para que, juntamente com o fato de ser curvo,

dê a sensação que estão voltando para o local de onde saíram. Os funcionários deverão, para

sua segurança, manejar os animais pelo lado de fora do corredor, usando apenas a bandeirola.

O banho de aspersão deverá ser realizado com água com pressão de 3 atm e

hiperclorada para diminuir os agentes contaminantes da superfície do couro dos animais. A

área do chuveiro deverá ser construída de alvenaria, com piso resistente, antiderrapante e com

declive de 2 % para que não haja acúmulo de água. As suas laterais deverão ser fechadas.

Após o banho de aspersão, inicia-se à seringa que deve possuir uma rampa com até

20° de inclinação, com piso antiderrapante e resistente, dividida por porteiras, de preferência

do tipo guilhotina para facilitar o manejo. Essa deverá apresentar um espaço reduzido no final

da sua extensão de aproximadamente 0,90 metros. No final da seringa haverá um segundo

banho de aspersão com água sob pressão de 3 atm., que será realizado por meio de

borrifadores. Nestes ambientes, os animais deverão ser manejados com calma e usando

apenas a bandeirola.

2.6.1 Zona de fuga

Durante o manejo de bovinos, é muito importante que os manejadores fiquem atentos

para a zona de fuga do animal. Zona de fuga é uma área invisível que o animal cria em torno

de si e na qual ele se sente seguro. Quando o manejador invade essa área, o animal tende a

escapar ou fica assustado. Quando o manejador anda próximo ao animal, mas não invade a

zona de fuga, o mesmo tende a se movimentar, evitando assim a aproximação do manejador.

É semelhante a uma forma de se proteger, pois o animal vê o manejador como uma ameaça ou

como um predador. Para o animal virar em uma direção, basta se posicionar na altura da pata

dianteira dele. Ou seja, para o animal virar para a direita, deve-se posicionar na altura da para

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esquerda e sem invadir a zona de fuga. Nota-se que dessa forma o bovino virará para a sua

direita de uma forma tranquila. Para fazer com que o animal vire à esquerda, basta se

posicionar na altura da pata direita.

Quando o animal estiver na seringa e negando a se movimentar, deve-se caminhar

lentamente em sua direção, indo de encontro a ele. Para o animal, ao se fazer isso, a sua zona

de fuga está sendo invadida e sua tendência será ir em frente.

2.7 Insensibilização, box de insensibilização e praia de vômito

A insensibilização é considerada por muitos pesquisadores como a primeira etapa do

abate propriamente dito. Consiste em fazer com que o animal fique inconsciente para que não

sinta dor na próxima etapa, que é a sangria e a auxiliar no escoamento do sangue, pois o

animal ainda terá sinais vitais na hora que se realizar a secção dos grandes vasos. É muito

importante que este procedimento seja feita de forma eficiente, pois influenciará diretamente

na qualidade final da carne.

O primeiro passo para uma boa insensibilização é não deixar o animal esperando para

entrar no box de insensibilização e nem para ser insensibilizado. Caso isso aconteça, os

animais ficarão agitados, podendo até se ferirem. Ao esperarem dentro do box, poderão se

debater, aumentando seu nível de estresse.

O segundo passo é ter um funcionário devidamente treinado e com temperamento

calmo para realizar a operação.

O terceiro passo, para uma boa insensibilização, é a eficiência do método de

insensibilização. No Brasil, atualmente, é indicado o uso de pistola pneumática acionada no

osso frontal para a insensibilização de bovinos. Essas pistolas podem ser penetrantes ou não

penetrantes. A pistola pneumática penetrante produz uma laceração encefálica promovendo

inconsciência rápida ao animal. A pistola pneumática não penetrante causa uma pancada

muito forte na cabeça do animal, deixando-o sem coordenação motora, porém mantém

atividade cardíaca e respiratória. Para maior eficiência, tanto a pistola penetrante como a não

penetrante devem estar reguladas e devem ser posicionadas no local correto da cabeça do

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animal. Para encontrar esse local, deve-se traçar e cruzar duas linhas, sendo que cada uma

delas saíra de uma das orelhas e irá até os olhos. Onde essas linhas se cruzarem é o local

correto para insensibilizar o animal. Quando utilizar a pistola penetrante, ela deverá ser

posicionada na cabeça do animal de forma que forme um ângulo reto, pois assim terá como

destino o córtex cerebral em direção ao tronco cerebral. Segundo GRANDIN (1994) a pistola

não deve ser posicionada entre os olhos ou atrás da cabeça, porque assim a sua eficiência é

menor em relação a posição sobre o osso frontal. Quando o disparo é feito no local errado, o

bulbo cerebral poderá ser atingido, levando o animal à morte no momento da insensibilização

e isso influenciará diretamente na sangria e na qualidade final da carne, pois não haverá

batimentos cardíacos para auxiliar na expulsão do sangue.

Quando os animais são abatidos através do ritual judaico, ou abate kasher, não há

insensibilização. Os animais sofrem uma incisão transversal na altura do pescoço causada por

uma faca afiadíssima. Nessa incisão são atingidos: as artérias carótidas, a veia jugular,

músculos esôfagos e traqueia. Para realização desse tipo de abate, é aconselhado treinamento

intenso do funcionário responsável pela contenção do animal no box e treinamento intenso do

funcionário que fará a incisão transversal no pescoço do animal.

Após sofrer a insensibilização, os bovinos escorregam para um local denominado área

de vômito, onde são içados pela pata traseira para que possam se dirigir a sangria. Essa

operação deverá ser realizada o mais rápido possível. Quando a insensibilização for realizada

com pistola penetrante, o animal deve estar na calha de sangria um minuto após ser

insensibilizado e caso tenha sido realizada com pistola não penetrante, esse tempo deverá ser

de no máximo 30 segundos. Se houver atrasos para içar o animal, o mesmo poderá retornar a

consciência e sentirá dor, além de ficar assustado, comprometendo, assim, a segurança dos

funcionários.

O box de insensibilização deve ser construído de estrutura metálica, sem brilho e

possuir piso antiderrapante. O fundo e uma de suas laterais devem ser móveis, para que,

depois de insensibilizar o animal, o operador abra por acionamento mecânico essas partes e o

animal escorregue para a área de vômito.

A área de vômito deverá possuir água em abundância para que façam lavagens do

local ou do animal em caso de regurgitação após a insensibilização.

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É muito importante que não haja brilho intenso ou formação de sombras na entrada no

box de insensibilização, pois esses acontecimentos poderão assustar os animais e eles se

negarão entrar no compartimento.

Deve-se evitar, ao máximo, o uso de bastão elétrico para manejar o gado para dentro

do box de insensibilização e nunca usá-lo para verificar a eficiência da insensibilização, pois

isso poderá ajudar o animal a retornar à consciência dos animais.

Após a insensibilização, os animais não deverão demonstrar sinais de consciência,

como: vocalizações, reflexos oculares presentes, movimentos oculares, contração dos

membros dianteiros.

2.8 Sangria

A sangria é a operação de secção dos grandes vasos do pescoço do animal. Ela é

realizada na calha de sangria e deve durar 3 minutos para que haja o máximo possível de

escoamento de sangue, sendo esse tempo ajustado ao comprimento da calha de sangria, para

que o extravasamento do sangue seja realizado durante o curso normal da noria transportadora

pela calha de sangria.

Durante o momento da sangria é proibido qualquer ato de mutilação dos animais,

como: retiradas de chifres, corte das patas. Durante a sangria é tolerável à estimulação elétrica

da carcaça dos animais com o intuito de acelerar as modificações post-mortem.

No momento da sangria os animais não deverão demonstrar sinais de consciência,

como: vocalizações, reflexos oculares presentes, movimentos oculares, contração dos

membros dianteiros.

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2.9 Funcionários

Os funcionários, responsáveis pelas atividades realizadas no manejo pré-abate,

deverão possuir uma personalidade tranquila. Quanto mais calmo for o manejador, mais

tranquilo será o manejo. Este deverá ter a sensibilidade de percepção para verificar quando o

animal estará estressado e tentar tranquilizá-lo. As atividades realizadas pelos funcionários

deverão ser cumpridas sem movimentos bruscos, gritos e sem o uso de instrumentos com

finalidade de agressão aos animais. Não se deve usar o bastão elétrico inconsequentemente.

Funcionários com personalidade agressiva, costumam descontar suas frustrações

pessoais nos animais, além de não apresentarem paciência para manejar calmamente os

bovinos, além de açoitá-los e usar o bastão elétrico indevidamente.

É recomendado que todos os funcionários envolvidos no manejo pré-abate recebam

treinamento voltado para os conceitos de bem-estar animal e manejo racional através de

palestras e aulas práticas. Esses treinamentos devem ser realizados no momento em que estes

profissionais são contratados pela empresa e sempre que necessário. A conscientização dos

manejadores em relação ao bem-estar animal é imprescindível para que haja um bom manejo.

Os contratantes e equipes de controle de qualidade também deverão demonstrar envolvimento

com o bem-estar dos animais. Pois se o manejador não perceber o empenho dos seus

superiores, ele também não se comprometerá em respeitar os conceitos de bem-estar animal.

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3 CHECK LISTS E CRITÉRIOS PARA AVALIAÇÃO DO MANEJO PRÉ-ABATE

Os check lists presentes no anexo desse informe técnico têm a finalidade de orientar os

gestores de indústrias frigoríficas a identificar os problemas presentes em sua infraestrutura e

no comportamento dos seus funcionários que poderão interferir no bem-estar animal dos

bovinos e influenciar na qualidade final da carne.

Dois check list são baseados nos conceitos de bem-estar animal, sendo um para

avaliação individual de bovinos e o outro para avaliação do manejo e infraestrutura do

estabelecimento e o terceiro check list é baseado na Instrução Normativa n°3 de 7 de janeiro

de 2000 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e tem como objetivo de

regulamentar os métodos de insensibilização para o abate humanitário de animais de açougue.

Ao aplicar os check lists, no momento em que se fará avaliação da infraestrutura do

curral, é interessante que a realize na hora mais calma do dia, quando não estiver ocorrendo o

manejo do gado. Procure caminhar pelo trajeto que os animais fazem para que possa ter a

mesma visão que eles têm e para que possa identificar fatores estressantes como: sombras,

incidência de luzes fortes, poças de água, materiais brilhantes, objetos deixados em locais

desapropriados, etc. É de suma importância que você percorra o trajeto do descarregamento

até o box de insensibilização. Avalie o piso para ver se é antiderrapante e se não há buracos.

Observe as cercas e as laterais dos corredores para ver se não há nenhum fator estressante.

Fique em silêncio para identificar possíveis ruídos que possam causar estresse nos animais.

Após aplicar o check list, veja quais são os problemas encontrados na infraestrutura e

procure saná-los através da adequação do curral com as normas vigentes do Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

Quando for avaliar o comportamento dos manejadores e dos animais através dos check

lists, é aconselhável que se faça observações de todo o manejo pré-abate sem interferir nas

atividades. Preste atenção no que pode estar influenciando no comportamento dos bovinos.

Fique atento a forma como os manejadores desenvolvem suas atividades.

Para fazer uma avaliação mais detalhada do manejo pré-abate, pode-se determinar um

lote com uma quantia de no mínimo 100 animais, sendo composto por animais de ambos os

sexos, sem distinção de raça, idade e procedência.

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Quando os animais estiverem sendo manejados, principalmente na rampa de acesso ao

box de insensibilização, quantifique quantos animais vocalizaram, deslizaram, caíram e

levaram choque durante esse trajeto.

Após coletados os dados, utilize os critérios a seguir que foram indicados por

GRANDIN (1999) para avaliar o manejo pré-abate.

Avaliação do manejo em relação às vocalizações:

o Excelente: até 0,5 % dos bovinos vocalizam;

o Aceitável: 3 % dos bovinos vocalizam;

o Inaceitável: 4 a 10 % vocalizam;

o Problema sério: mais de 10 % vocalizam.

Avaliação do manejo em relação aos deslizes e quedas:

o Excelente: sem deslizamento ou quedas;

o Aceitável: deslizamentos em menos de 3 % dos animais;

o Não aceitável: 1 % de quedas;

o Problema sério: 5 % de quedas ou mais de 15 % de deslizamentos.

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Avaliação do manejo em relação ao uso do bastão elétrico:

TABELA 1: Critérios para avaliar a utilização de bastão elétrico durante o manejo de bovinos.

Manejo Rampa de acesso ao box de

insensibilização

Entrada do box de

insensibilização

Total de

bovinos

Excelente 0 % ≤ 5 % ≤ 5 %

Aceitável ≤ 5 % ≤ 20 % ≤ 25 %

Problema

sério - - ≥ 50 %

Fonte: GRANDIN (1999).

Após a aplicação dos check lists e da avaliação realizada através dos critérios

indicados por GRANDIN (1999), terá identificado os possíveis fatores que estão causando

estresse aos bovinos durante o manejo pré-abate e assim solucionar esses problemas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUARIA E ABASTECIMENTO.

Instrução Normativa nº. 3, de 07 de janeiro de 2000. Regulamento técnico de métodos de

insensibilização para o abate humanitário de animais de açougue. S.D.A./M.A.A. Diário

Oficial da União, Brasília, p.14-16, 24 de janeiro de 2000, Seção I.

BRASIL. MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO.

Instrução normativa nº56 de 6 de novembro de 2008. Recomendações de Boas Práticas de

Bem-Estar para Animais de Produção e de Interesse Econômico – REBEM. Diário Oficial da

União de 07 de novembro de 2008, Seção I.

GRANDIN, T. Farm animal welfare during handling, transport, and slaughter. Journal of

American Veterinary Medical Association, Schaumburg, v.204, n.3, p.372-377, 1994.

GRANDIN, T. Buenas practicas de manejo para el arreo e insensibilizacion de animales.

Disponível em: http:www.grandin.com/spanish/buenas.practicas.html. 1999. 10p. Acesso em

14 de novembro de 2014.

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ANEXO A

CHECK LIST

AVALIAÇÃO BASEADA NOS CONCEITOS DE BEM-ESTAR ANIMAL

ACONTECIMENTOS RELACIONADOS DIRETAMENTE COM O GADO:

C

C

N

CN

Vocalização durante o trajeto do gado do curral até a insensibilização e posterior sangria.

Uso de bastão elétrico durante o trajeto do curral até a seringa de insensibilização.

Deslizes durante o trajeto do curral até a seringa de insensibilização.

Queda durante o trajeto do curral até a seringa de insensibilização.

Insensibilização na primeira tentativa.

Ausência de sinais que indiquem que o animal esta consciente após insensibilização.

Ausência de consciência durante a operação de sangria

C= Conforme; CN= Não conforme.

EVENTUAIS ACONTECIMENTOS QUE POSSAM ACARRETAR ESTRESSE AO

ANIMAL E QUE ESTÃO RELACIONADOS AO AMBIENTE:

C

C

N

NC

Presença de poças de água no piso do curral e corredor que possam refletir luz.

Presença de sombras no piso ou outra parte da estrutura.

Excesso de luminosidade (brilho diretamente nos olhos dos animais).

Odores fortes.

Excesso de ruídos.

Sons agudos.

C= Conforme; CN= Não conforme.

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EVENTUAIS ACONTECIMENTOS QUE POSSAM ACARRETAR ESTRESSE AO

ANIMAL E QUE ESTÃO RELACIONADOS À ESTRUTURA FÍSICA E

EQUIPAMENTOS:

C

C

N

NC

Presença de ruídos provenientes de equipamentos ou da estrutura (porteiras).

Presença de equipamentos que exercem demasiada pressão ao imobilizar o gado (brete de contensão).

Presença de porteiras que quando fechadas podem pressionar acidentalmente o animal.

Equipamentos, cercas ou porteiras com pontas que possam machucar o animal.

Presença de irregularidades no piso que possam causar escorregões ou quedas ao animal.

Presença de materiais que refletem luz (brilham).

Equipamentos que liberam jatos de ar diretamente nos animais.

C= Conforme; CN= Não conforme.

ATITUDES DO FUNCIONÁRIO QUE PODEM CAUSAR ESTRESSE AO ANIMAL:

C

C

N

NC

Utilizar-se de gritos para manejar o animal.

Agir de forma agressiva quando manejar o animal.

Açoitar os animais durante o manejo.

Possuir o habito de utilizar excessivamente o bastão elétrico.

C= Conforme; CN= Não conforme.

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160

AVALIAÇÃO DA ESTRUTURA FÍSICA DO CURRAL E SEUS EQUIPAMENTOS:

N

C

N

NC

Dispõem de currais cobertos.

Presença de curral de chegada.

Presença de curral de observação.

Curral de observação afastado em 3 metros.

Presença de curral de matança.

Iluminação adequada.

Piso pavimentado.

Piso com declive de 2 %.

Cercas duplas com 2 m de altura.

Espaço de 30 cm entre as barras das cercas do curral.

Cercas sem cantos vivos ou proeminências.

Cordão sanitário com 30 cm ao longo e sob as cercas.

Comedouros.

Bebedouros.

Água para lavagem de piso com pressão de 3 atm.

Corredor central.

Plataforma elevada.

Porteira com a mesma largura do corredor central.

Área de 2,5 m² por bovino.

Identificação do curral de observação.

Matadouro Sanitário.

Departamento de necropsia.

Área coberta.

Corredor curvo para acesso a seringa.

Paredes dos corredores fechadas.

Passarela para funcionários na parte interna da curva do corredor.

Piso antiderrapante.

C= Conforme; CN= Não conforme.

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161

AVALIAÇÃO DO MANEJO PRÉ ABATE:

TRANSPORTE

o TEMPO DE TRANSPORTE

C

C

N

NC

Tempo superior a 15 horas.

Tempo inferior a 15 horas.

C= Conforme; CN= Não conforme.

o DENSIDADE DA CARGA

c

C

N

NC

Alta (600 kg / m²).

Média (400 kg / m²).

Baixa (200 kg / m²).

C= Conforme; CN= Não conforme.

o CONDIÇÕES DESFAVORÁVEIS

C

C

N

NC

Privação de alimentos.

Privação de água.

Alta humidade.

Alta velocidade do ar.

Densidade da carga.

C= Conforme; CN= Não conforme.

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162

o RAMPA DE ACESSO AO VEÍCULO

C

C

N

NC

O ângulo formado pela rampa de acesso ao veículo em relação ao solo não é superior a 20 graus.

Material antiderrapante.

Possui frestas que possam causar a “sensação de abismo” aos animais.

C= Conforme; CN= Não conforme.

o DESCANSO E DIETA HÍDRICA

C

C

N

NC

Animais sendo abatidos sem permanecer pelo menos 24 (vinte e quatro) horas em descanso,

jejum e dieta hídrica nos currais de estabelecimentos. (Animais que viajaram por mais de 2 horas)

Período reduzido para 6 horas quando a viagem do local de origem até o frigorífico é inferior a 2 horas.

Presença de equipamentos e métodos impróprios que proporcionam excitação, estresse e contusão.

Presença de transtornos que impedem o movimento natural do animal, como reflexo da água no piso,

brilho de metais e ruídos de alta frequência.

Mistura de lotes de origens diferentes.

C= Conforme; CN= Não conforme.

o BANHO DE ASPERSÃO

C

C

N

NC

Piso antiderrapante.

Afunilamento final da rampa de acesso (seringa).

Passagem por chuveiro.

A água com pressão não inferior a 3 atmosferas (3,03 kgf / cm²).

Seringa simples ou dupla, até o boxe de atordoamento em forma "V".

Utilização do bastão elétrico para conduzir os animais.

C= Conforme; CN= Não conforme.

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163

o INSENSIBILIZAÇÃO

o TIPO DE ABATE

C

C

N

NC

Método kasher com uso de faca específica para degola judaica.

Uso de pistola pneumática.

Uso de martelo pneumático não penetrante.

Arma de fogo.

Pistola pneumática de penetração com injeção de ar.

Pistola de dardo cativo acionada por cartucho de explosão.

Corte da medula ou choupeamento.

Eletronarcose.

Processo químico.

Funcionário treinado para promover a insensibilização.

É(são) sempre o(s) mesmo(s) funcionário(s)?

C= Conforme; CN= Não conforme.

o SANGRIA

C

C

N

NC

Operação de sangria deve ser iniciada logo após a insensibilização do animal.

Operações de mutilação são realizadas após a sangria enquanto ocorre o escoamento do sangue.

Os animais apresentam respiração rítmica.

Ocorrem vocalizações dos animais enquanto pendurado no trilho durante sangria.

Animais reflexos oculares em resposta ao toque.

Animais apresentam palpitações.

Animais apresentam eretos e com a cabeça solta.

Animais não apresentam movimentos dos membros.

Animais apresentam língua pendida para baixo.

C= Conforme; CN= Não conforme.

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164

ANEXO B

CHECK LIST

PARA AVALIAR ANIMAIS INDIVIDUALMENTE

N

C

N

NC

Animal escorregou durante o manejo.

Animal encostou alguma parte do corpo no chão durante o manejo devido a escorregões.

Animal sofreu queda durante manejo.

Animal vocalizou durante manejo (após sair do curral).

Animal excitou-se devido presença de sombras.

Animal excitou-se devido presença de brilho causado por poças de água ou algum metal.

Animal foi açoitado durante manejo.

Animal sofreu uso do bastão elétrico.

Animal chocou-se com a estrutura do curral durante manejo.

Animal chocou-se contra equipamentos durante o manejo.

Animal não foi insensibilizado na primeira tentativa.

Animal apresentou respiração rítmica após sangria.

Animal vocalizou enquanto pendurado no trilho durante sangria.

Animal apresentou reflexos oculares em resposta ao toque após efetuada operação de sangria.

Animal apresentou palpitação após sangria.

Animal manteve-se ereto e com a cabeça solta após sangria.

Animal não apresentou movimentos dos membros após sangria.

Animal manteve a língua pendida para baixo após sangria.

C= Conforme; CN= Não conforme.

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ANEXO C

CHECK LIST

BASEADO NA INSTRUÇÃO NORMATIVA N°3 DE 2000 DO MINISTÉRIO DA

AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO.

REQUISITOS APLICADOS AOS ESTABELECIMENTOS DE ABATE

C

C

N

NC

Possui instalações apropriadas para o desembarque de animais dos meios de transporte.

Os animais são descarregados o mais rapidamente possível após a chegada.

Em caso de espera, os animais são protegidos contra condições climáticas extremas e beneficiados de uma ventilação

adequada.

Separação em local adequado de animais que corram o risco de se ferirem mutuamente devido à espécie, sexo, idade ou

origem.

Os animais acidentados durante transporte ou à chegada ao estabelecimento de abate são submetidos à matança de

emergência.

O animal é transportado e não arrastado para o abate emergencial para evitar sofrimento inútil.

Durante a recepção os animais não são acuados, excitados ou maltratados.

Manejo sem agressão física (agredi-los, erguê-los pelas patas, chifres, pelos, orelhas ou cauda, ocasionando dores ou

sofrimento).

Os bretes e corredores por onde os animais são encaminhados são concebidos de modo a reduzir ao mínimo os riscos de

ferimentos e estresse.

Os dispositivos produtores de descargas elétricas são usados apenas em carater excepcional em animais que

recusam mover-se e com tempo máximo de dois segundos.

Utilização de descarga elétrica apenas nos membros e com voltagem específica.

Animais mantidos nos currais com água limpa e abundante.

Animais mantidos nos currais por mais de 24 horas recebem alimentação em quantidade moderada e com intervalos

adequados.

Mistura de lotes de diferentes origens.

C= Conforme; CN= Não conforme.

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166

CONTENÇÃO DOS ANIMAIS

C

C

N

NC

Os animais são imediatamente conduzidos ao equipamento de insensibilização logo após a contenção.

Os animais são colocados no recinto de insensibilização apenas quando o responsável pela operação está presente.

Operador do equipamento de sensibilização é devidamente treinado.

C= Conforme; CN= Não conforme.

MÉTODOS DE INSENSIBILIZAÇÃO PARA O ABATE HUMANITÁRIO

Método mecânico

o Percursivo penetrativo

c

C

N

NC

A pistola é posicionada pelo operador de modo a assegurar que o dardo penetre no córtex cerebral, através da região frontal.

Animais são colocados no recinto de insensibilização sem o responsável pela operação.

Ocorre a imobilização da cabeça do animal sem a presença do magarefe que efetua a insensibilização.

Operador de equipamento de insensibilização devidamente treinado.

C= Conforme; CN= Não conforme.

o Percursivo não penetrativo

C

C

N

NC

A pistola é posicionada pelo operador de modo a assegurar que o dardo penetre no córtex cerebral, através da região frontal.

Animais são colocados no recinto de insensibilização sem o responsável pela operação.

Ocorre a imobilização da cabeça do animal sem a presença do magarefe que efetua a insensibilização.

Operador de equipamento de insensibilização devidamente treinado.

C= Conforme; CN= Não conforme.

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167

SANGRIA

c

C

N

NC

A operação de sangria é iniciada logo após a insensibilização do animal.

Após a seção dos grandes vasos do pescoço, não são realizadas, na calha de sangria, operações que envolvam

mutilações, até que o sangue escoe o máximo possível.

Colaborador responsável pela sangria devidamente treinado.

C= Conforme; CN= Não conforme.