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10 Avaliação de Desempenho Organizacional Auster Nascimento; Luciane Reginato; Daiane Lerner. Controladoria: um enfoque na eficácia organizacional. São Paulo: Atlas, 2013. Introdução A avaliação de desempenho organizacional é um instrumento de con- trole das atividades que são desenvolvidas na empresa. Por meio dela, é possível verificar se a empresa está alcançando ou não os seus obje- tivos ou se são necessárias mudanças de percurso que a permitam alcançá-los ou, pelo menos, deles se aproximar. Este capítulo aborda a avaliação de desempenho organizacional sob dois prismas: o operacional e o dos gestores. Além disso, o tema é dis- cutido considerando-se a visão dimensional do controle organizacional. Como já visto no Capítulo 1 desta obra, o ambiente de controle empre- sarial pode ser segmentado em três dimensões de controles: a de gestão; a de dados e informações; e a de controles e procedimentos internos. A proposta, portanto, é inserir a avaliação de desempenho operacional e dos gestores nestas três dimensões do controle organizacional. A controladoria tem um importante papel neste processo de avalia- ção de desempenho, pois ela é responsável por monitorar o resultado da empresa e as contribuições prestadas por cada gestor para o al- cance deste resultado, reportando informações úteis para este proces- so de avaliação, tanto para a alta administração quanto para os avali- ados, auxiliando os administradores do negócio, em ambos os casos, a conduzirem o processo decisório com vista ao alcance da eficácia organizacional. 10.1 O ambiente organizacional e a avaliação de desempenho Uma organização é administrada por pessoas, individualmente respon- sáveis por atividades específicas e, coletivamente, por seu funciona- mento sistêmico. Essa administração ocorre sob a influência da forma particular de cada um gerenciar suas áreas, embora a sua essência deva ser congruente com o estilo de gestão que caracteriza a organi- zação como um todo, isto é, com o seu modelo de gestão que, em síntese, orienta cada membro organizacional em sua postura, estilo e na realização de suas atividades, sejam estas as de tomar decisões ou simplesmente as de implementá-las. As variáveis que caracterizam o modelo de gestão de uma empresa são, assim, determinantes para a forma como os seus gestores a admi-

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10 Avaliação de Desempenho Organizacional Auster Nascimento; Luciane Reginato; Daiane Lerner. Controladoria: um enfoque na eficácia organizacional. São Paulo: Atlas, 2013. Introdução A avaliação de desempenho organizacional é um instrumento de con-trole das atividades que são desenvolvidas na empresa. Por meio dela, é possível verificar se a empresa está alcançando ou não os seus obje-tivos ou se são necessárias mudanças de percurso que a permitam alcançá-los ou, pelo menos, deles se aproximar. Este capítulo aborda a avaliação de desempenho organizacional sob dois prismas: o operacional e o dos gestores. Além disso, o tema é dis-cutido considerando-se a visão dimensional do controle organizacional. Como já visto no Capítulo 1 desta obra, o ambiente de controle empre-sarial pode ser segmentado em três dimensões de controles: a de gestão; a de dados e informações; e a de controles e procedimentos internos. A proposta, portanto, é inserir a avaliação de desempenho operacional e dos gestores nestas três dimensões do controle organizacional. A controladoria tem um importante papel neste processo de avalia-ção de desempenho, pois ela é responsável por monitorar o resultado da empresa e as contribuições prestadas por cada gestor para o al-cance deste resultado, reportando informações úteis para este proces-so de avaliação, tanto para a alta administração quanto para os avali-ados, auxiliando os administradores do negócio, em ambos os casos, a conduzirem o processo decisório com vista ao alcance da eficácia organizacional. 10.1 O ambiente organizacional e a avaliação de desempenho Uma organização é administrada por pessoas, individualmente respon-sáveis por atividades específicas e, coletivamente, por seu funciona-mento sistêmico. Essa administração ocorre sob a influência da forma particular de cada um gerenciar suas áreas, embora a sua essência deva ser congruente com o estilo de gestão que caracteriza a organi-zação como um todo, isto é, com o seu modelo de gestão que, em síntese, orienta cada membro organizacional em sua postura, estilo e na realização de suas atividades, sejam estas as de tomar decisões ou simplesmente as de implementá-las. As variáveis que caracterizam o modelo de gestão de uma empresa são, assim, determinantes para a forma como os seus gestores a admi-

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nistram, mas não apenas por isto; são também o elemento que delineia o formato de como as atuações dos referidos gestores são acompanha-das por seus líderes, isto é, como são avaliados o desempenho e a ca-pacidade de contribuição que cada um deveria ter para o progresso da organização, contraposto àquilo que efetivamente tiveram. Embora se saiba que a postura e a atuação dos gestores sejam constan-temente avaliadas por seus líderes, nem sempre isso ocorre formal-mente. A forma como o resultado dessa avaliação se expressa depende das características do modelo de gestão da empresa. Assim, o estabe-lecimento de regras segundo as quais as atuações de funcionários são avaliadas, e o rigor aplicado no reconhecimento do nível de suas con-tribuições, diferem entre as empresas. Dessa forma, aspectos relacionados à centralização ou não do proces-so decisório da empresa, à atuação proativa ou não de seus gestores e às suas capacidades empreendedoras, entre outros, são estímulos de-terminantes para o tipo de avaliação de desempenho que lhes será aplicado e o grau em que eles são responsabilizados pelos produtos de suas ações. Tais aspectos também norteiam o formato do processo de gestão da empresa, ou o nível de formalização exigido dos membros organizacionais na realização das atividades de planejamento, execu-ção e controle dos resultados inerentes a esse processo. Saliente-se que é o grau de formalização do processo de gestão da empresa o elemento que formará a base para o monitoramento e a ava-liação de seus resultados e, como decorrência, do desempenho de seus gestores. Por essa razão, esse aspecto pode ser o núcleo do adequado desempenho organizacional, tanto sob a perspectiva específica da em-presa quanto sob a de seus membros, devendo, por isso, receber análi-se e cuidado da administração, por ser um dos itens que diferenciam um modelo de gestão favorável à pujança e ao desenvolvimento de um negócio em comparação com outro que não usufrua desta condição. Assim, o processo de gestão ganha relevo e sua compreensão passa pela análise de seu escopo, que envolve o planejamento do negócio e os seus desdobramentos. O planejamento do negócio pode ser classificado em duas etapas, co-mo já visto em capítulos precedentes: a) planejamento estratégico: cujo fruto é a escolha de diretrizes estra-tégicas que possibilitem a criação de objetivos a serem alcançados pela organização, sendo as suas características qualitativas; e

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b) planejamento operacional: com base nas diretrizes estratégicas, elabora-se o plano operacional de curto, médio e longo prazo, onde são detalhadas as ações e as metas quantitativas que levem aos resul-tados desejados. Tais metas têm características monetárias e não mo-netárias e se constituem nos padrões usados para a avaliação do de-sempenho da empresa e de seus gestores. Considerando que o plano operacional seja formal, após a sua aprova-ção começa a sua execução, isto é, as ações são colocadas em prática, transações são realizadas, recursos são consumidos e resultados são gerados. É inócuo planejar se não ocorrer controle sobre a execução do plane-jamento. É nesta fase que os resultados realizados e alcançados são cotejados com aqueles esperados, possibilitando-se a identificação de desvios, suas causas e correções. Essa atividade é uma das principais funções da área de controladoria. É nesse contexto em que se processa a avaliação de desempenho da empresa e que assume um papel relevante à avaliação de desempenho dos gestores, pois são estes os responsáveis pelos resultados alcança-dos. De forma genérica, o planejamento pode ser desmembrado em indicadores que estão interligados sistemicamente, onde o desequilí-brio de um pode comprometer outros. Os gestores são os responsáveis pela manutenção de tais indicadores nos níveis desejados. Dessa for-ma, o monitoramento de suas ações, e o estabelecimento de regras claras para recompensas e punições pelo alcance ou não de objetivos, podem ser uma proteção sistêmica para a organização e é justamente isso o que se busca com a avaliação de desempenho destes gestores. Avaliar significa julgar alguma atitude ou atividade de forma qualita-tiva, podendo-se transcrever essa percepção com o auxílio de informa-ções quantitativas de ordem física, econômica e financeira. A avaliação de desempenho da empresa e de seus gestores é um pro-cesso dinâmico, presente em todo o processo de gestão, mas, particu-larmente, mais relacionado à fase de execução e controle do planeja-mento, gerando informações para os gestores subsidiarem tomadas de decisões que permitam a correção de eventuais desvios detectados entre os resultados realizados e os planejados, possibilitando ao mes-mo tempo a avaliação de seus próprios desempenhos. A simples existência de um processo de planejamento pode ser ine-ficiente se não houver um monitoramento das ações dos gestores,

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através do acompanhamento das atividades que estão realizando e dos resultados daquelas que já realizaram. 10.2 Por que avaliar? A organização realiza avaliação de desempenho para se certificar de que o sistema-empresa esteja funcionando da melhor forma possível, isto é, para ter um absoluto controle de que os recursos estejam sendo consumidos na medida exata para a obtenção dos resultados espera-dos, e que seu consumo esteja relacionado estritamente com os seus objetivos. A empresa é um sistema composto por diversos subsistemas que de-vem estar funcionando harmonicamente para que toda ela atinja ao seu objetivo macro, ou seja, se alguma de suas partes não estiver execu-tando suas atividades de forma satisfatória, toda a empresa pode ser prejudicada. Esta visão sistêmica da organização é abordada no Capítulo 2 deste livro e é o que explica a necessidade da avaliação de desempenho. Nessa visão, não é suficiente que uma das partes do sistema-empresa funcione bem, pois um sistema deve funcionar de forma sincronizada para que o seu objetivo seja atingido de maneira ideal. Também pode ser negativo que outra de suas partes imprima um ritmo diferente das demais, pois essa diferença pode significar prejuízo para o todo. As-sim, para que o resultado dos esforços se traduza em um resultado otimizado, é necessário que todas as partes funcionem equilibrada-mente. O resultado de uma empresa é o somatório do resultado de todas as suas atividades. Entretanto, um excelente resultado de uma área parti-cular não significa que o resultado do todo organizacional seja ótimo. Por essa razão, o acompanhamento do funcionamento de cada ativida-de pode permitir o ajuste do sistema-empresa no sentido em que este trabalhe da forma esperada. Assim, a avaliação do resultado de cada uma de suas áreas é um fator preponderante para que a empresa atinja os seus objetivos. Os objetivos de uma organização são traçados por seus líderes com base nas condições existentes no entorno do negócio. A partir da análise do ambiente externo, com a constatação de prováveis amea-ças ou oportunidades, e do interno, com a ponderação de seus pontos fortes e fracos, criam-se expectativas que se convertem em planos e metas que se atendidas permitem que as perspectivas de resultados se tornem realidade. Nesse sentido, a avaliação de desempenho opera-

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cional da empresa é fundamental para que os gestores consigam con-trolar suas atividades de forma congruente com as mencionadas me-tas, através da comparação do desempenho planejado com aquele realizado. Com esse controle e análises inerentes, eles podem obter subsídios para tomar decisões acertadas que permitam que os objeti-vos estabelecidos sejam satisfatória ou plenamente atingidos. Por meio do processo de avaliação do desempenho operacional da empresa, os gestores podem tomar conhecimento de detalhes operaci-onais que de outra forma poderiam lhes escapar à atenção, e adotarem ações corretivas antes que determinada variação observada entre dado resultado esperado e o efetivamente realizado comprometa toda a ex-pectativa contida no planejamento. Do outro lado, a avaliação dos gestores permite à administração a correção de posturas ou mesmo a identificação de inadequação de suas habilidades e competências com relação àquilo que lhes é exigido, o que também pode ser corrigido, seja na forma de treinamento do gestor, de sua orientação ou mesmo de sua substituição. Conforme Miranda e Silva (2002, p. 132), as principais razões para as empresas investirem em instrumentos de avaliação de desempenho são: a) controlar as atividades operacionais da empresa; b) alimentar os sistemas de incentivo dos funcionários; c) controlar o planejamento; d) criar, implantar e conduzir estratégias competitivas; e) identificar problemas que necessitem de intervenção dos gesto-res; e verificar se a missão da empresa está sendo alcançada. Ao criar uma sistemática de avaliação, tanto para seu desempenho operacional quanto para atuação de seus gestores, a empresa deve divulgá-la de forma clara e objetiva para todos aqueles que de algu-ma forma sejam afetados por esse processo. A divulgação, entretan-to, pode não ser suficiente para que o procedimento seja eficaz. Me-tas claras, exequíveis e compatíveis com as habilidades e competên-cias do avaliado podem corroborar para que os objetivos pretendidos com a adoção de tal procedimento sejam atendidos. Aqueles que são avaliados podem não concordar necessariamente com o resultado de suas avaliações, mas certamente se sentirão melhor se julgarem ser justo o processo segundo o qual ela se realizou.

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Assim, a instituição ou remodelagem de um sistema de avaliação, seja ele relacionado às próprias operações ou aos gestores, deve se pautar em princípios claramente definidos. Entre outros, destacam-se: a) critérios de avaliação: quando é formatada a avaliação de desempe-nho, deve-se saber exatamente o que será avaliado, de que forma e qual o objetivo pretendido com sua realização; b) entendimento dos critérios de avaliação pelos avaliados: não basta apenas que os criadores do método de avaliação de desempenho conhe-çam os critérios usados. É crucial que aqueles que são avaliados saibam de que forma os seus desempenhos são observados. O processo deve levar em consideração que os objetivos pessoais e institucionais devem ser congruentes e isto deve estar claro para os seus participantes; c) medidas justas de mensuração: as formas de mensuração do desem-penho, tanto do resultado empresarial quanto às relacionadas ao com-portamento dos gestores, devem ser percebidas como justas por todos os participantes do processo. Os gestores devem responder apenas por ações que estejam sob o seu controle; d) comportamento dos gestores: a empresa deve estabelecer um pa-drão de comportamento que espera dos seus gestores. Buscar identifi-car situações que os motivem na execução de suas tarefas, contribuin-do para um melhor desempenho; e) prestação de contas: a avaliação de desempenho serve para que o próprio gestor demonstre como o seu trabalho contribuiu para a for-mação do resultado organizacional; f) disponibilização de recursos: os recursos necessários para a conse-cução de metas devem ser disponibilizados para os responsáveis pela sua realização; g) recompensas e punições: devem-se estabelecer princípios claros de recompensa e punição para os casos de boas ou más atuações percebi-das; h) interação entre as áreas: a inclusão de fatores que estimulem a inte-ração justa entre áreas deve ser um dos itens constantes do modelo de avaliação. Assim, a avaliação não deve ser apenas quantitativa, mas também qualitativa; e i) coerência da avaliação: antes da discussão do resultado da avaliação com quem estiver sendo avaliado, a coerência da avaliação deve ser discutida entre o avaliador e pessoa neutra em relação ao avaliado, por exemplo, um profissional da área de desenvolvimento de pessoal da organização.

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Estes são alguns princípios que devem estar presentes quando do esta-belecimento das regras que serão utilizadas para avaliar o desempenho das operações da empresa e dos gestores. Eles por si não garantem que o processo seja bem-sucedido. Para isso, deve ser acompanhado de imparcialidade e capacidade de julgamento do avaliador, sendo um elemento importante a comprovação disto ao avaliado, isto é, que lhe sejam apresentados no momento da comunicação da avaliação exem-plos que justifiquem claramente a percepção que o avaliador tem de sua atuação. 10.3 Desempenho operacional O desempenho das operações da empresa se origina no âmbito de cada uma de suas áreas e assim deve ser acompanhado. No processo deci-sório, materializam-se ações que se traduzem em resultados. O plane-jamento dessas ações em um nível detalhado é o que caracteriza o orçamento, que é a tradução dos objetivos da empresa em metas quan-titativas estabelecidas para um período mais curto, normalmente o de um ano. De acordo com Pereira (2001), para que um orçamento seja um ins-trumento de controle são necessários alguns requisitos: a) integração ao processo de gestão: ele deve estar relacionado às fa-ses do processo de gestão (planejamento, execução e controle). Deve ser derivado dos planos operacionais sendo fundamental para a avalia-ção e controle dos desempenhos; b) flexibilidade: o orçamento deve ser adaptável a novas situações, permitindo revisões e alterações sempre que necessárias; c) universalidade: todas as áreas da empresa devem ser abrangidas pelo orçamento; d) amplitude dos efeitos das decisões: deve compreender aspectos operacionais, econômicos e financeiros; e) orientação dos objetivos: objetivos individuais e setoriais devem ser congruentes com os da empresa; f) realidade: o orçamento deve considerar a verdadeira realidade em-presarial, não devem ser propostas metas ilusórias que a empresa não tenha a mínima chance de atingir; g) capacidade de avaliação e acompanhamento dos aspectos qualitati-vos do desempenho: permitir a comparabilidade do que foi planejado com o que está sendo realizado; h) abrangência de uma perspectiva de tempo: é fundamental a defini-ção temporal a que os planos se referem;

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i) permanência: os objetivos das empresas são permanentes e por isso o sistema de controle também deve ser constante; j) planejamento, execução e controle do processo orçamentário: assim como a empresa deve ter um processo de planejamento, execução e controle, no processo orçamentário isso também se faz necessário. Entretanto, existe um período de maturação para que as pessoas con-sigam trabalhar bem com esse instrumento. De nada adianta implantar um sistema de controle orçamentário se as variações ocorridas entre o resultado planejado e o efetivamente reali-zado não forem cuidadosamente investigadas e o resultado dessa in-vestigação discutido com os responsáveis pela execução do orçamen-to. Essa é a forma de uso dessa ferramenta que a reveste de importân-cia, por permitir a correção constante e tempestiva de eventuais desvi-os entre o que foi planejado e o que se realizou, ou mesmo a observa-ção de mudanças de variáveis ambientais que requeiram um processo mais complexo de reavaliação dos objetivos da organização, traçados quando da elaboração dos planejamentos estratégico e operacional. O planejamento deve, filosoficamente, estar orientado para o futuro, assim, saliente-se não ser suficiente apenas a consideração de dados históricos obtidos durante a execução do orçamento para se determina-rem mudanças na essência do planejamento global efetuado. Os desvios eventualmente existentes entre aquilo que foi planejado e o que foi rea-lizado devem ser vistos à luz das razões que os causaram e das variáveis existentes no contorno do negócio da empresa, pois os mencionados desvios podem ser em decorrência de mudanças nas variáveis ambien-tais, mas também podem ser causados por imperfeições na execução daquilo que foi planejado. É justamente esse aspecto o que diferencia e complementa as avaliações de desempenho da empresa e a de seus gestores. Diversas são as métricas e os padrões, tanto econômico-financeiros como não financeiros, que podem ser utilizados na avaliação de de-sempenho operacional, e cada empresa pode adotar aquelas que se adaptem melhor aos seus objetivos e modelo de gestão. 10.4 Desempenho dos gestores Apenas a avaliação de desempenho das operações da empresa pode não ser suficiente para garantir que sua missão seja alcançada. Este instrumento deve ser combinado com o monitoramento do desempe-nho dos gestores, que é o fator que pode explicar a qualidade do resul-tado alcançado pela organização. Por essa razão, um modelo de gestão

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ideal deve prever que os gerentes sejam avaliados, tanto no aspecto quantitativo quanto qualitativo, isto é, devem ser observados quanto à aplicação de seus atributos gerenciais, técnicos e comportamentais. O desempenho dos gestores compreende o monitoramento das toma-das de decisão, junto com a análise de comportamento e os reflexos das ações dos gestores no resultado da empresa. Em suma, verifica a performance dos funcionários, o encontro de suas potenciais habilida-des e competências com a real aplicação desses atributos. A capacidade gerencial da empresa pode ser determinante para que ela atinja os seus objetivos e a avaliação de desempenho de gestores tem justamente como uma de suas funções medir o nível desta capacidade. O desempenho da organização não depende somente dos fatores da economia mundial, dos seus consumidores ou do seu mercado. A for-ma como os gestores administram as suas atividades e, como conse-quência, o negócio, também é imprescindível para a boa performance organizacional. A avaliação de desempenho dos gestores pode ser realizada com as mesmas métricas e padrões utilizados para avaliar o resultado da em-presa. Adicionalmente, ainda podem ser consideradas as questões comportamentais que impliquem no acompanhamento da postura e do comprometimento dos gestores com os objetivos da organização e também suas aptidões em fortalecerem e renovarem sua capacidade gerencial, através do estilo que adotam na condução de suas equipes. O seu desempenho será considerado adequado quando as suas atitudes estiverem favorecendo o cumprimento das metas estabelecidas pela administração e também para o pleno e satisfatório cumprimento da missão empresarial. A avaliação de desempenho operacional da empresa e dos responsá-veis por seu alcance, os gestores, é um processo que auxilia sistemi-camente o ambiente interno da empresa, pois proporciona a todos os envolvidos em sua operação uma contínua aprendizagem e evolução, conseguida através da análise dos meios utilizados para a obtenção dos resultados, o que estimula a repetição futura de atos benéficos para a organização ou a correção de ações e posturas do passado cujas reproduções lhe dificultariam alcançar os seus objetivos. 10.4.1 Desempenho relacionado à motivação de funcionários Tanto o desempenho das operações quanto o de seus membros estão relacionados ao nível de motivação que todos na empresa têm ao rea-lizarem suas atividades. Isso é válido para a execução das tarefas ope-

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racionais, do “chão de fábrica” à administração, pois em todos os ní-veis organizacionais são tomadas decisões que afetam o resultado econômico da empresa e podem facilitar ou não que ela alcance seus objetivos. Para Robbins (2002, p. 151), “motivação é o processo responsável pela intensidade, direção e persistência dos esforços de uma pessoa para o alcance de uma determinada meta”. A motivação não é uma característica constante na pessoa. Dependendo do encontro de seus aspectos pessoais, de suas habilidades e competên-cias com as atividades que está desenvolvendo, ela pode se sentir moti-vada ou não. Portanto, a motivação está relacionada aos objetivos e características pessoais. Assim, ela pode ser considerada um fator ca-racterístico e intrínseco à essência do ser humano. É natural que na empresa exista um ambiente de acordo com as cren-ças e valores de seus donos, ou líderes que os representem, que têm o poder de determinar o perfil daqueles que considerem aptos e alinha-dos às suas linhas mestras, isto é, daqueles que se sintam motivados a trabalharem no tipo de ambiente que lhes é apresentado no momento de suas contratações. A motivação pessoal é um dos fatores que con-tribuem para o desenvolvimento satisfatório das atividades operacio-nais e, como consequência, para o resultado da empresa. Dessa forma, há de se atentar para que a contratação de novos colaboradores preve-ja o alinhamento do perfil dos candidatos com as características do modelo de gestão da empresa. Já foram criadas diversas teorias com o propósito de se compreender como a motivação é percebida e desenvolvida pelos indivíduos, tais como a teoria dos dois fatores motivacionais, a teoria da hierarquia das necessidades, teoria X e teoria Y e teoria das expectativas (ROB-BINS, 2002; ATKINSON et al., 2000). O desempenho dos funcionários na realização de suas tarefas possui relação com as teorias motivacionais, cujos propósitos são melhorar a compreensão das razões que estimulam pessoas a desempenharem melhor as suas atividades. Destaque-se que cada teoria motivacional deve ser entendida no contexto das características do modelo de ges-tão da empresa, não se podendo prescrever com exatidão qual delas seja mais ou menos apropriada, tendo em vista que o modelo é que determina o tipo de teoria que explica os critérios de avaliação adota-dos pela empresa, e não o inverso.

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Um sistema de avaliação de desempenho sugere a expressão formal de satisfação ou insatisfação de um avaliador, relacionada à atuação de alguém que está sendo avaliado. Por isso, o mecanismo deve estar alicerçado em formas de recompensas e punições ao avaliado, que também interferem na motivação dos funcionários. 10.4.2 Recompensas e punições A organização institui indicadores para parametrizar o seu próprio desempenho operacional e também a atuação de seus gestores, que são os agentes que permitem que os resultados sejam alcançados. Nesse sentido, os indicadores precisam ser complementados pela determina-ção clara de regras de recompensas para aqueles que realizam seu tra-balho conforme o esperado e, inversamente, punições para os que não o fazem. Ressalte-se que a punição não representa necessariamente o desligamento do funcionário, mas ela pode ser expressa na negativa de um aumento de salário espontâneo, ou de promoção, na mudança de funções, através de uma nova delimitação do papel a ser exercido pelo gestor, entre outros aspectos. Outra questão a ser considerada no momento de se instituírem recom-pensas e punições para aqueles aos quais se estabeleceram objetivos, como já mencionado, é a adequação do nível de complexidade desig-nada a eles com as suas habilidades e competências, isto é, o processo de avaliação deve ser justo para que se consiga o efeito esperado. Essas regras de recompensas e punições devem ser determinadas e clarificadas para todos os participantes do processo de avaliação de desempenho organizacional no início de cada período que servirá de base para a avaliação, até que a cultura a isso relacionada seja consi-derada uma das características permanentes e intrínsecas ao seu mode-lo de gestão. A primeira ideia que se tem quando se fala em recompensa baseada no desempenho leva ao pagamento de bônus, de participação nos lucros, enfim, de honorários extras, ou seja, uma recompensa monetária. En-tretanto, existem diversas formas de se recompensar um funcionário: proporcionar horas de treinamento, conceder bolsas de estudos, permi-tir-lhe ocupar função de maior responsabilidade (promoção), presente-ar o funcionário campeão de vendas etc. Considera-se mais apropriado que as empresas tenham um sistema de recompensa misto, parte com fatores monetários e parte não. Muitas vezes, apenas o reconhecimento formal por ter desempenhado um bom trabalho já é considerado uma forma de recompensa.

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Normalmente, a recompensa é obtida em função do cumprimento de metas. Por isso, deve-se prever a possibilidade de existência de confli-tos de interesses daquele funcionário sob avaliação. Pode haver casos em que resultados sejam criados para garantir o prêmio do responsável por sua geração, através, por exemplo, de postergação da realização de um negócio, em função de a meta do período de determinado gestor já ter sido cumprida. A controladoria deve estar atenta a estes movimen-tos e ponderar sobre a cultura organizacional a esse respeito, evidenci-ando em seus relatórios os casos conhecidos. Nos próximos tópicos, serão apresentadas algumas formas de recom-pensa praticadas pelas organizações. A adoção de mais de um compo-nente de recompensa pela empresa é possível e pode ser interessante, desde que de acordo com a cultura residente, ou seja, desde que o mo-delo de gestão e as características dos membros organizacionais, bem como as circunstâncias que cerquem o negócio, o permitam. 10.4.2.1 Programas de reconhecimento dos funcionários De acordo com a Teoria do Reforço, “recompensar um comportamento com o reconhecimento é o mesmo que estimular sua repetição” (ROB-BINS, 2002, p. 186). Para muitas pessoas, o fato de seu trabalho ser reconhecido pelos seus chefes, através de uma simples mensagem eletrônica ou em uma reu-nião geral, já é considerado uma recompensa que lhes trará motivação para continuar desenvolvendo aquela tarefa cada vez melhor. Um exemplo claro da utilização da avaliação de desempenho como uma filosofia é o fato de muitas empresas adotarem práticas de promoção da imagem daqueles que se destacam no desempenho de suas atividades. É comum visualizar-se isso em lojas varejistas, onde os melhores vende-dores têm as suas fotos estampadas em um lugar de destaque no estabe-lecimento, para que tanto seus colegas como os clientes o percebam como um colaborador modelo para toda a organização. Dependendo do ambiente organizacional, esse reconhecimento é visto por muitos funcionários como uma forma de recompensa que os moti-va a desenvolverem suas atividades cada vez melhor. 10.4.2.2 Programas de envolvimento dos funcionários Não é raro o caso de empresas que adotam programas específicos de envolvimento para que seus funcionários sintam-se parte da organiza-ção e com isto produzam melhores resultados. Gestão participativa, autonomia para desenvolver suas tarefas, estímulo à inovação e partici-pação no quadro acionário da empresa são formas encontradas para

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fazer com que os funcionários se envolvam com a organização e se dediquem a suas atividades com prazer e comprometimento. A partir desse envolvimento, eles podem se sentir mais motivados para desempenharem suas tarefas e serem mais comprometidos com a organização. Como decorrência, em princípio, a empresa teria maior facilidade para alcançar seus objetivos. Essa constatação pode ser vinculada às teorias motivacionais. Os pro-gramas de envolvimento dos funcionários, especialmente a gestão participativa, podem ser associados à Teoria Y. Essa teoria preconiza que os funcionários são comprometidos com a organização e têm ca-pacidade de tomarem decisões inovadoras. Também existe relação com a Teoria dos Dois Fatores, pois esses programas de envolvimento podem aumentar a responsabilidade e as oportunidades de crescimento dos funcionários, motivando-os a administrarem suas atividades como se estivessem gerenciando o seu próprio negócio (ROBBINS, 2002). Convém, entretanto, alertar para a possibilidade de que os objetivos de cada funcionário, quando da execução de suas atividades, não sejam congruentes com os da empresa. Isto justifica a existência de área es-pecífica, a controladoria, que minimize tal risco através do monitora-mento dos resultados de cada área, da identificação de eventuais dis-torções e da sugestão dos ajustes necessários. 10.4.2.3 Programas de remuneração variável O funcionário, além de ter um salário fixo, pode receber uma remune-ração variável conforme o seu desempenho, que normalmente está atrelado ao alcance das metas individuais, departamentais e/ou organi-zacionais, de acordo com aquilo que for estabelecido pela alta admi-nistração. Relacionam-se, a seguir, algumas formas de remuneração variável de acordo com Robbins (2002). a) programa de remuneração por unidade produzida: os funcioná-rios recebem um valor por unidade produzida. É mais utilizado na área de produção e pode ser acompanhado de um salário fixo ou não; b) programa de bonificações: pode ser pago só para os adminis-tradores ou para todos os funcionários. Normalmente, são estabeleci-das metas específicas e claras para que os funcionários por elas se orientem e façam jus ao bônus; c) programa de participação nos lucros: baseado na lucratividade da empresa confrontando com a meta estabelecida. Normalmente, a remuneração é paga para toda a organização; e

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d) programa de participação nos resultados: diferentemente da participação nos lucros, esses planos recompensam de acordo com a produtividade dos funcionários. Normalmente, é concedida a todos os níveis hierárquicos. Ao se examinarem as teorias motivacionais apresentadas, verifica-se que, em princípio, a mais favorável em termos de gestão pode ser a Teoria das Expectativas, pois de acordo com ela a filosofia relaciona-da à remuneração variável permite que os funcionários estabeleçam ligação entre os seus desempenhos e a recompensa recebida (ROB-BINS, 2002). Essa relação pode estimulá-los a, progressivamente, alcançarem ou superarem as metas para eles definidas. 10.4.2.4 Programas de remuneração por habilidades Nesses programas, o salário do funcionário é baseado nas suas habili-dades e competências, não requerendo que as pessoas sejam necessa-riamente especialistas em suas atividades. Em algumas organizações, os funcionários que, além das suas, conheçam e saibam executar as atividades de seus colegas podem ser mais valorizados. Isso pode tra-zer vantagens para a organização e também para ele próprio, que, dada a sua multifuncionalidade, pode tornar-se mais atrativo em termos de mercado de trabalho. Em outras palavras, o plano premia o funcioná-rio com características generalistas. Os planos de remuneração por habilidades auxiliam na motivação dos funcionários, pois contemplam a ideia de que eles devem estar em constante aprendizado, buscando desenvolver atividades novas de forma científica, isto é, com treinamento focado no desenvolvimento de habilidades e competências. Uma promoção, por exemplo, não de-veria depender do tempo que o funcionário trabalha na empresa, o que deveria ser levado em conta são suas habilidades. Esse conceito pro-porciona ao grupo funcional a ideia que todos estão disputando as possibilidades de progresso profissional oferecidas pela empresa em iguais condições, o que, em princípio, pode aumentar a motivação do grupo. A importância do entendimento dos conceitos nos quais se apoiam os programas de incentivo e avaliação de desempenho pela área de con-troladoria é essencial, pois eles orientam esta área para a formatação do sistema de mensuração que é a base usada para o acompanhamento das metas estabelecidas para os avaliados em relação aos resultados reais alcançados. 10.5 Avaliação de desempenho e controle organizacional

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No Capítulo 1 deste livro, apresentou-se uma visão do controle organi-zacional sob uma perspectiva dimensional, com o propósito de melho-rar a compreensão do leitor sobre as interações existentes entre os di-versos tipos de controles, o processo decisório e os resultados a ele ine-rentes. A mesma abordagem pode ser utilizada para se estabelecer uma conexão entre a avaliação de desempenho empresarial e o mencionado controle organizacional, conforme pode ser apreciado na Figura 1.

Figura 1 Visão geral da avaliação de desempenho organizacional. Como ilustrado na Figura 1, e destacado no Capítulo 3 deste livro, o modelo de gestão orienta todo o ambiente empresarial, influenciando o formato do controle organizacional e a forma como ele é avaliado. Por sua vez, a avaliação de desempenho organizacional é realizada sob o prisma operacional, ou seja, das operações da empresa e de seus gestores. Esta avaliação de desempenho tem por base o resultado eco-nômico da organização, que é impactado por tudo o que ocorre nas dimensões de controle organizacional. As dimensões de controle organizacional recebem e produzem infor-mações que são utilizadas nas avaliações de desempenho operacional e de seus gestores. Em função disso, ganham relevo ainda maior os atributos relacionados à tempestividade e fidedignidade das informa-ções geradas pelo sistema próprio para isto. A avaliação de desempe-nho das operações organizacionais proporciona dados que são ele-mentos facilitadores do processo decisório, possibilitando para aque-les nele envolvidos a medição do “pulso” da organização, através

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dos indicadores de desempenho extraídos dos planos de suas áreas, com os quais se torna possível o acompanhamento da gestão do ne-gócio, por meio da comparação de cada um deles com dados reais. O pleno controle e o equilíbrio organizacional podem ser obtidos ape-nas se os indicadores de todas as dimensões de controle funcionarem sistêmica e perfeitamente. Por exemplo, não se pode afirmar que o indicador relacionado ao giro de estoques, cujos dados são obtidos da contabilidade, pudesse ser útil se ele não fosse confiável, e não se po-de contar que ele seja fidedigno se o indicador de controle interno relacionado aos estoques, contemplado pela dimensão de controles e procedimentos internos, não estiver funcionando da forma esperada, ou seja, não detectando e apresentando eventuais falhas de controle. É na dimensão de controle de gestão que se estabelecem os objetivos econômicos de longo, médio e curto prazos da empresa, através do pla-nejamento, criando-se métricas físico-financeiras que têm como função orientar a atuação dos gestores, cujas ações devem ter seus resultados cotejados com aqueles planejados, isto é, a expectativa contida no plano confrontada com aquilo que de fato aconteceu. A obtenção dos dados usados para a aferição desse processo, entretan-to, se apoia na dimensão de controle de dados e informações, que é a sustentação para a mensuração dos indicadores utilizados na dimensão de gestão. Para que as informações da dimensão de controle de dados e informações sejam consideradas tempestivas e fidedignas, torna-se necessário que a dimensão, que a apoia, a de controles e procedimen-tos internos, funcione adequadamente. Esta dimensão contempla os controles internos da empresa, que são a plataforma que assegura que os sistemas de mensuração produzam informações apropriadas para o apoio do processo de aferição de desempenho, tanto das operações da empresa quanto dos gestores. Dada a sua importância, como as outras, ela também deve produzir indicadores que assegurem que ela cumpra com aquilo que dela se espera. As dimensões de controle organizacional têm as suas rotinas e proce-dimentos gerados a partir da ação humana, o que as torna suscetíveis a imperfeições. Desse modo, destaca-se a importância da avaliação dos gestores também no que tange ao impacto que eles causam em cada uma das dimensões, em termos de aumentar a sua segurança e sincro-nia, e não apenas observados os seus desempenhos no que concerne as suas atuações especificamente relacionadas à administração dos recur-sos econômicos e financeiros consumidos por suas atividades. Isto é, a

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avaliação não deve se restringir ao processo de gestão; não deve en-volver apenas aspectos quantitativos, mas também qualitativos relaci-onados ao perfeito funcionamento das dimensões de controle organi-zacional. De maneira geral, para aferir o desempenho do controle organizacio-nal como um todo e promover a sinergia nas suas três dimensões, as seguintes perguntas devem ser respondidas: a) quanto à performance da empresa: Como se espera que ela esteja? Como ela efetivamente está? b) quanto ao desempenho dos gestores: O que se esperava que eles realizassem? O que eles de fato realizaram? Para responder a essas questões, são usados os indicadores padrões estabelecidos na dimensão de controle de gestão, especificamente no planejamento. Entretanto, volta-se a mencionar que a sinergia desta dimensão com a de controle de dados e informações se dá na medida em que é nesta na qual são mantidos os registros para o monitoramen-to dos mencionados padrões, e cujo funcionamento depende funda-mentalmente que os controles internos e normas contemplados na dimensão de controles e procedimentos internos também tenham seus indicadores e que esses sejam monitorados, completando-se, assim, a relação de interdependência entre as dimensões no que se refe-re também ao processo de avaliação de desempenho. 10.5.1 Avaliação de desempenho na dimensão de controle de gestão Na dimensão de controle de gestão, os gestores estabelecem um obje-tivo geral pretendido pela empresa e outros particulares para cada uma de suas áreas. Tais objetivos são desdobrados nos indicadores que norteiam o processo decisório. A necessidade de um processo de ava-liação de desempenho surge justamente para assegurar que os resulta-dos das decisões tomadas durante a execução do planejamento convir-jam para aqueles que foram planejados. A avaliação de desempenho no conceito defendido por esta obra deve, então, se realizar sob os seus dois prismas: operacional e de gestores. Em síntese, a avaliação de desempenho na dimensão de controle de gestão pressupõe a definição de algumas premissas: a) fixação de objetivos compatíveis com a capacidade de realização da empresa e dos gestores; b) a expectativa de que serão tomadas as melhores decisões, isto é, que os recursos consumidos pelas atividades produzam os melhores resultados possíveis;

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c) que as responsabilidades dos gestores sejam compatíveis com suas experiências; d) que o modelo de gestão da empresa permita um ambiente de dele-gação de autoridade e responsabilidade para os gestores no cumpri-mento das suas funções; e) que a empresa possua sistema de informação e de registros compa-tíveis com o modelo de avaliação de desempenho adotado; e f) que os registros de informações usados no cotejamento dos resulta-dos reais com os planejados sejam apropriadamente processados e conservados. Tais registros são mantidos na dimensão de controle de dados e informações, estabelecendo uma relação de interdependência entre esta e a de gestão. Entre os indicadores que podem ser utilizados para a avaliação na di-mensão de controle de gestão, encontram-se os econômico-financeiros e os não financeiros. Os indicadores econômico-financeiros podem ser classificados em quatro categorias, de acordo com Gitman (2001), estabelecidos con-forme a informação que eles proporcionam aos gestores:

a) Indicadores de Liquidez: são indicadores utilizados para avali-ar o desempenho e a tomada de decisões de curto prazo. Indi-cam a capacidade da empresa em cumprir com as suas obriga-ções. Entre outros exemplos se destacam os ilustrados no Qua-dro 1:

Quadro 1 Indicadores de liquidez. Indica-dor Cálculo O que representa Interpretação

Capital Circulan-te Líqui-do

AC – PC

O CCL representa a folga financeira que a empresa possui.

O ideal é que o CCL seja positivo.

Liquidez Geral

AC + ARLP PC + PNC

Quanto a empresa possui de AC e ARLP para cada R$ 1,00 da dívida total.

O ideal é que seja maior que 1 (um).

Liquidez Corrente

AC PC

Capacidade da empresa em cumprir com as obri-gações de curto prazo.

O ideal é que seja maior que 1 (um), pois a partir desse índice o CCL pas-sará a ser positivo.

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Liquidez Seca

AC – Es-toque PC

Capacidade da empresa em cumprir com as obri-gações de curto prazo, excluindo os estoques.

O ideal é que seja maior que 1 (um), pois a partir desse índice o CCL pas-sará a ser positivo.

Legenda: AC = Ativo Circulante ARLP = Ativo Realizável a Longo Prazo PC = Passivo Circulante PNC = Passivo Não Circulante b) Indicadores de Atividade: indicam o tempo que leva para a em-presa transformar bens ou direitos, como estoques e clientes, em recei-ta de vendas ou caixa. Entre outros, apresentam-se os exemplos do Quadro 2: Quadro 2 Indicadores de atividade. Indicador Cálculo O que representa

Giro de Estoque CPV Estoque médio

Indica a liquidez do estoque.

Prazo Médio de Cobrança

DR VM por dia

Indica o tempo médio que a em-presa concede para receber suas vendas realizadas a prazo.

Prazo Médio de Pagamento

DP CM por dia

Indica o tempo médio que a em-presa possui para pagar suas compras realizadas a prazo.

Giro do Ativo To-tal

Vendas Ativo Total

Indica a eficiência com a qual a empresa usa seus ativos para gerar vendas.

Giro do Ativo Permanente

Vendas (Investimento + Imobilizado + Intangível)

Indica a eficiência com a qual a empresa usa seu ativo perma-nente para gerar vendas.

Legenda: CPV = Custo dos Produtos Vendidos

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DR = Duplicatas a Receber VM por dia = Venda Média por dia DP = Duplicatas a Pagar CM por dia = Compra Média por dia c) Indicadores de Endividamento: informam o quanto a empresa está se utilizando de recursos de terceiros para gerar lucros. Destacam-se os seguintes: Quadro 3 Indicadores de endividamento.

Indicador Cálculo O que repre-senta

Interpretação

Índice de Endivida-mento Geral

Passivo Total Ativo Total

Indica o quanto os credores da empresa estão financiando os ativos.

Quanto maior o índice, maior o endividamento da empresa e a alavan-cagem financeira.

Índice de Cobertura de Juros LO

DJ ano

Indica a capaci-dade da empresa em pagar os ju-ros de financia-mento.

Quanto maior o índice, maior a capacidade da empresa em pagar os juros.

Composição do Endivi-damento

Passivo Circu-lante Passivo Total

Indica o percen-tual de obriga-ções de curto prazo em relação às obrigações totais.

Quanto maior o índice, maior o endividamento de curto prazo da em-presa.

Legenda: LO = Lucro Operacional (lucro antes dos juros e do Imposto de Ren-da) DJ ano = Despesas com Juros no ano d) Indicadores de Lucratividade: avaliam o lucro da empresa contra-posto a diferentes parâmetros, tais como vendas, ativos, patrimônio líquido. Para ilustrar esta categoria de indicadores, apresenta-se o Quadro 4: Quadro 4 Indicadores de lucratividade.

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Indicador Cálculo O que representa Interpretação

Margem Bruta

Lucro Bruto Receita

Indica o quanto sobra da receita após a empresa pagar por seus pro-dutos (CPV).

Quanto maior, melhor. Depende do setor em que a empresa atua.

Margem Operacional

Lucro Opera-cional Receita

Indica o quanto sobra da receita após a dedução de todos os custos e despesas, exceto juros e Imposto de Renda.

Quanto maior, melhor. Depende do setor em que a empresa atua.

Margem Líquida

LLIR Receita

Indica o quanto sobra da receita após a dedução de todos os custos e despesas, inclusive juros e Imposto de Renda.

Quanto maior, melhor. Depende do setor em que a empresa atua.

Taxa de Retorno sobre o Ati-vo Total (ROA)

LLIR Ativo Total

Indica a eficiência da empresa em gerar lucros com seus ativos. Tam-bém conhecida por Retorno sobre o Investimento (ROI).

Quanto maior, melhor. Para verificar se o índi-ce calculado é aceitá-vel, deve-se analisar o setor em que a empresa atua e realizar séries temporais.

Taxa de Retorno sobre o Pa-trimônio Líquido (ROE)

LLIR Patrimônio Líquido

Indica o retorno sobre os investi-mentos dos propri-etários da empresa.

Quanto maior, melhor. Para verificar se o índi-ce calculado é aceitá-vel, deve-se analisar o setor em que a empresa atua e realizar séries temporais.

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Legenda: LLIR = Lucro Líquido antes do Imposto de Renda Os indicadores não financeiros também são utilizados pelas empresas, embora o uso daqueles de natureza econômico-financeira ainda seja maior. Isso pode ser explicado em função dos não financeiros estarem mais relacionados com a estratégia empresarial e por isso terem menor visibilidade para parte da gestão e do próprio mercado. Embora a empresa possa ter indicadores não financeiros especifica-mente relacionados à sua atividade, observa-se entre os que podem ser utilizados: evolução do número de clientes, do volume de vendas dos produtos, da participação no mercado, da capacidade de produção, do tempo médio de lançamento de novos produtos, do índice do conhe-cimento da marca, da rotatividade de funcionários, entre outros. Quanto à avaliação do gestor sob a perspectiva desta dimensão, de-vem-se colocar sob observação as suas habilidades gerenciais. A em-presa espera que ele seja capaz de cumprir as suas expectativas, que apresente um comportamento racional, que tome as decisões corretas e que elas ocorram à luz de todas as alternativas de escolha existentes na ocasião. Pode existir um hiato entre o que o gestor realizou e aquilo que pode-ria ter feito. Sua avaliação de desempenho, sob a perspectiva da di-mensão de gestão, tem como objetivo verificar se este hiato é decor-rência de erros de planejamento ou de falhas em sua execução. Este fator permite identificar correções necessárias ao plano ou a necessi-dade de mudança do comportamento do gestor em relação à execução de suas atividades. Assim, os indicadores utilizados para a avaliação das operações de empresa na dimensão de controle de gestão também são válidos para acompanhar o desempenho dos gestores. A partir destas constatações, as recompensas, ou punições, devem ser atribuídas aos responsáveis. Mas como ter certeza de que os indicadores utilizados na avaliação de desempenho operacional e dos gestores na dimensão de controle de gestão estão mensurados corretamente? E que eles irão fornecer in-formações adequadas para a execução estratégica da empresa? Para isso, é necessária também a adoção de indicadores para a dimen-são de controle de dados e informações, pois ela é a base informacio-nal utilizada para a obtenção de outros indicadores. Nela são registra-dos os dados dos sistemas contábil, de custos, de controle de ativos, entre outros, demonstrando mais uma vez a relação de interdependên-cia entre a dimensão de gestão e esta.

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10.5.2 Avaliação de desempenho na dimensão de controle de dados e informações Na dimensão de controle de dados e informações, são registradas to-das as operações realizadas no dia-a-dia empresarial por meio do con-trole contábil, de custos, fiscal, de ativos e outros. Esses registros ge-ram informações úteis para os gestores realizarem suas atividades ge-renciais. Esta dimensão é a plataforma informacional que subsidia a avaliação da dimensão de gestão. Por meio dos registros feitos nessa dimensão, os gestores podem men-surar e avaliar como as atividades sob a sua responsabilidade estão sendo desempenhadas e como contribuem para o resultado da empre-sa. Também é possível avaliar o desempenho operacional da empresa e de seus gestores, quanto às suas contribuições para a apropriada rea-lização destes registros. As informações geradas nessa dimensão de controle são produtos das ações dos gestores; além disso, devem ter características como quali-dade, tempestividade e oportunidade. Esses atributos são importantes, porque o perfeito funcionamento da dimensão de controle de dados e informações trará reflexos na determinação dos indicadores econômi-co-financeiros e não financeiros utilizados na dimensão de gestão. A empresa, como já tratado nesta obra, é um sistema, onde cada sub-sistema tem a sua função e produz informações. Considerando-se isso, cada área organizacional tem participação na formação dos dados re-fletidos na dimensão de controle de dados e informações. Dessa for-ma, estimula-se a adoção de indicadores que traduzam objetivos tam-bém para ela e, por consequência, tais métricas se constituam no pa-drão a ser seguido pelos geradores de informação, que servem não apenas para avaliar os elementos da dimensão, como também os pró-prios envolvidos em sua operação. Para exemplificar esta situação, pode-se estabelecer que a empresa tenha como um de seus objetivos o fechamento contábil no primeiro dia útil do mês; para isso ocorrer, cada área deve seguir um cronogra-ma previamente definido. Outro objetivo que pode ser estabelecido nesta dimensão é de que o controle de estoques reflita sua posição real a qualquer tempo; para isso, todas as entradas e saídas de mercadorias precisam ser registradas no momento em que estes eventos ocorrerem. Um outro exemplo é o de que não se admite pagamento de encargos por atraso na liquidação de débitos com fornecedores ou governo; para isso, é necessário ter-se um efetivo controle do fluxo de contas a pa-

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gar. Baseado em cada um desses objetivos, têm-se os parâmetros ne-cessários para se estabelecerem indicadores que sirvam para avaliar os gestores e a empresa sob a perspectiva da dimensão de controle ora discutida. Entretanto, como verificar se os registros mencionados nos exemplos ilustrados acima estão sendo feitos corretamente? Como identificar se o comportamento dos gestores está contribuindo para o cumprimento dos objetivos da dimensão de dados e informações e até mesmo para a de gestão? Para oferecer sustentabilidade aos registros realizados nesta dimensão e para que os objetivos planejados estejam de acordo com o que foi realizado, são instituídos os controles internos que formam a dimensão de controles e procedimentos internos. 10.5.3 Avaliação de desempenho na dimensão de controles e proce-dimentos internos Nesta dimensão, encontram-se os controles internos e normas de pro-cedimento, que são padronizações estabelecidas para a realização das atividades e também para o comportamento esperado de cada indiví-duo da organização. Toda essa padronização é para garantir que as informações geradas na dimensão de controle de dados e informações e utilizadas na tomada de decisão sejam precisas e fidedignas. O esta-belecimento de normas sobre como as operações devem ser realizadas e da forma de conduta esperada de todos os colaboradores permite a observância do cumprimento de metas e objetivos organizacionais. Portanto, nesta dimensão também é essencial o estabelecimento de objetivos, o monitoramento e a avaliação de desempenho operacional e dos gestores. A dimensão de controle de dados e informações é o principal suporte para que um processo de avaliação de desempenho operacional e de gestores se dê de forma consistente e atinja os objetivos da adminis-tração da empresa. Para ser útil, a dimensão de controles e procedimentos internos deve induzir ao perfeito comportamento sistêmico da organização, pois ela é a base para a manutenção da integridade dos dados que se convertem nas informações utilizadas durante a execução das atividades operaci-onais, e o seu funcionamento sincronizado e eficiente depende de in-dicadores que permitam observar o funcionamento da própria dimen-são, de forma a se monitorar a sua eficácia.

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Além dos tais indicadores, a eficácia dessa dimensão poderá ser cons-tatada quando respondidas as seguintes questões: a) Todos os eventos com algum impacto econômico presente ou futuro na empresa estão de fato contemplados nesta dimensão? b) Os negócios foram realizados observando-se as melhores condições para que os objetivos da empresa fossem atingidos? c) Existem meios de detecção de erros operacionais que eventualmen-te ocorram? d) Há segurança de que os eventos registrados tenham relacionamento de fato e tão-somente com os objetivos da organização? Para esta dimensão, podem ser utilizados indicadores que se relacionam com o monitoramento dos controles internos. O Capítulo 7 desta obra aborda com profundidade este assunto. A partir da análise dos ciclos operacionais da empresa (vendas, compras, produção, recursos huma-nos, patrimônio e sistema de informações), é possível estabelecerem-se indicadores para verificar o desempenho do sistema de controles internos e daqueles gestores cujas atividades o afetam, bem como aqueles que sejam os responsáveis por sua manutenção. Podem-se estabelecer objetivos relativos ao processo de conferência de valor e quantidade do pedido com a nota fiscal de venda e, a partir disso, criar-se um indicador para mensurar e eleger o nível de falha admissível neste processo. Outros processos podem ser considerados para o estabelecimento de objetivos e indicadores, como, entre outros procedimentos: a) o confronto de saldos contábeis da conta clientes com o relatório do setor de contas a receber; b) verificar se o prazo de entrega acordado entre o fornecedor e com-prador está sendo cumprido; c) o estabelecimento de revisão periódica dos cálculos de custos; d) a verificação contínua da observância dos critérios estabelecidos para a contratação de pessoal; e e) a constatação de se as alçadas definidas para aprovação de novos investimentos estão sendo cumpridas, entre outros. No que se refere à dimensão de controles e procedimentos internos, para avaliação dos gestores devem ser analisados aspectos referentes à sua qualificação e ao seu comportamento. O gestor deve saber o que a empresa espera dele e como ela quer que seja a sua postura, tanto nos aspectos relacionados aos controles internos, quanto nos ligados ao registro das operações e da administração de recursos propriamente

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dita. Com relação a isso, estabelece-se um padrão esperado de com-portamento que deve estar relacionado com o modelo de gestão e que vise à criação de situações construtivas. Abaixo, citam-se alguns exemplos de características que podem ser esperadas do comporta-mento dos gestores: a) interagir com as demais áreas da empresa; b) agir em benefício de toda a organização; c) realizar adequadamente as atividades sob sua responsabilidade; d) contribuir para o sistema de controles internos; e) participar de um sistema de comunicação interativo e transpa-rente; e f) inexistência de erros de inputs de informações no sistema corpo-rativo. Estes quesitos comportamentais também podem ser considerados para a avaliação de desempenho dos gestores na dimensão de contro-les e procedimentos internos. Uma forma que está sendo bastante difundida para avaliar o comporta-mento dos funcionários é a avaliação de desempenho 360

o. Neste mode-

lo, o gestor não é avaliado apenas pelo seu superior. Ele é avaliado, também, pelos seus subordinados, seus pares (colegas em um mesmo nível hierárquico) e por si mesmo. Resumo Após análise da avaliação de desempenho nas três dimensões, perce-be-se que elas estão interligadas e que a ação em determinado nível influencia as demais dimensões. Isso comprova a importância da si-nergia que deve existir entre as três dimensões de controle e que todas devem funcionar perfeitamente para que o resultado planejado seja alcançado. Não basta apenas monitorar o desempenho das operações das empre-sas, é essencial acompanhar, também, o desempenho dos gestores, pois eles são os responsáveis pela realização das atividades empresari-ais e, consequentemente, pelo resultado da organização. Cabe salientar, também, que a controladoria, além de ter um importan-te papel neste processo, é considerada uma área organizacional normal e por esta razão também deve ter o seu desempenho avaliado, assim como o desempenho do gestor por ela responsável.