Avaliação da representação das relações.pdf
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http://repositorium.sdum.uminho.pt
Universidade do Minho
Vieira, Filipa Elvira Mucha
Avaliao da representao das relaes
ntimas, comportamento didico e percepo da
vinculao : estudo exploratrio
http://hdl.handle.net/1822/8143
MetadadosData de Publicao 2008-06-09
Resumo A presente dissertao, ainda que de carcter exploratrio, pretende
contribuir para o desenvolvimento de uma leitura mais compreensiva e
multifacetada sobre a complexidade das relaes ntimas luz da teoria
da vinculao. Assente nos contributos tericos e empricos de John
Bowlby e Mary Aisnworth, considera-se o estabelecimento de vnculos
emocionais, capazes de proporcionar ao indivduo segurana e proteco,
uma necessidade bsica do ser humano. Neste sentido, o nosso trabalho
incidi...
This dissertation, although an exploratory approach, intends to
contribute to the development of a more comprehensive and multifacetedperspective on the complexity of intimate relationships regarding the
attachment theory. Based on theoretical and empirical contributions of
John Bowlby and Mary Aisnworth, it is considered the establishment of
emotional ties, which are able to provide security and protection to the
individual, a basic need of human beings. In this sense, we focused our
work...
Tipo masterThesis
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http://hdl.handle.net/1822/8143 -
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Agradecimentos
Professora Doutora Isabel Soares um agradecimento muito especial por me terconcedido a oportunidade de conhecer mais de perto a teoria da vinculao.
Agradeo a disponibilidade, a sabedoria e os ensinamentos constantes em todo o
processo de orientao cientfica desta dissertao. Foi um privilgio ter sido sua
orientanda.
Dr. Vnia Lima, pela amizade construda ao longo deste projecto. Todos os
momentos de trabalho conjunto, o apoio e o sentido de humor sempre presentesforam essenciais na concretizao deste trabalho. Pelo crescimento pessoal e
profissional conquistado e partilhado o meu mais sincero agradecimento.
A todos os colegas do Grupo de Estudos da Vinculao, em especial ao Professor
Doutor Pedro Dias e Dr. Marisa Fonseca pelo papel que tiveram na minha
integrao no grupo e pelo trabalho desempenhado na dinamizao do mesmo.
Agradeo a disponibilidade e o encorajamento constante.
Aos colegas que colaboraram na recolha da amostra e na cotao dos instrumentos:
Susana Tereno, Vera Ramalho, Joana Silva, Diogo Lamela, Antnio Castro, Filipa
Vasconcelos, Teresa Sofia Marques, John Klein, Anabela Loureno. Obrigada pela
vossa preciosa colaborao, sempre to eficaz e atempada.
Rita Soares, Ana Teresa Maia, Bruno Lima e Sofia Chaves o meu agradecimento
pela pacincia e profissionalismo no processo to pesado e moroso de transcrio de
entrevistas.
Professora Doutora Carla Martins e ao Dr. Patrcio Costa agradeo a disponibilidade
e o apoio na anlise estatstica dos dados.
Professora Doutora Marina Prista Guerra, Professora Doutora Sandra Torres e
Professora Doutora Cristina Queirs um agradecimento muito especial peladisponibilidade, aconselhamentos e ensinamentos ao longo do meu percurso
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acadmico e profissional. Agradeo a amizade e o incentivo, sempre to reforador,
ao longo da concretizao desta dissertao.
Professora Doutora Gabriela Moita por ter sido to importante na recta final deste
trabalho. com muita admirao que lhe agradeo o estmulo sempre to
eficazmente provocador de crescimento pessoal.
Ao Dr. Jos Lus, Mariana, Graa, ao Joo, ao Ricardo, Joana, Sara, Diana,
ao Vasco, Miz, Susan, Matilde. Obrigada pelo vosso incentivo, apoio e
feedback sempre to construtivo.
A todos os meus amigos que me apoiaram ao longo de todo este processo, aceitandoas minhas constantes ausncias. Cristina, pela sua incansvel amizade a qualquer
hora e em qualquer momento. Ao Tiago pela ajuda preciosa no ingls. Susana,
Samico, Magda, Sandra pelas constantes manifestaes de interesse e
encorajamento.
Aos casais um agradecimento muito especial por terem aceite participar neste
projecto e por nos terem permitido entrar um pouco na vossa intimidade epartilharem connosco um pouco das vossas histrias. Mais do que dados estatsticos
possibilitaram-nos experincias de vida muito enriquecedoras.
minha famlia, em especial aos meus pais, pelo apoio incondicional, compreenso
nos momentos de maior indisponibilidade minha, e por estarem sempre presentes.
Ao Ricardo, que em todos os momentos o sinto ao meu lado, agradeo com um
carinho muito especial a presena, a partilha, a compreenso e o incentivo
fundamentais no desenvolvimento deste projecto.
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Resumo
A presente dissertao, ainda que de carcter exploratrio, pretende contribuirpara o desenvolvimento de uma leitura mais compreensiva e multifacetada sobre a
complexidade das relaes ntimas luz da teoria da vinculao. Assente nos
contributos tericos e empricos de John Bowlby e Mary Aisnworth, considera-se o
estabelecimento de vnculos emocionais, capazes de proporcionar ao indivduo
segurana e proteco, uma necessidade bsica do ser humano. Neste sentido, o
nosso trabalho incidiu na conceptualizao das relaes ntimas na idade adulta
enquanto relaes de vinculao.
O estudo apresentado foi realizado junto de 20 casais e tem como objectivo geral
a integrao de diferentes mtodos no estudo da vinculao no contexto das relaes
ntimas. Pretende-se examinar dimenses especficas da vinculao no domnio
representacional, atravs de uma entrevista que pretende avaliar a representao da
relao ntima por parte de cada um dos elementos do casal, no domnio
comportamental, atravs de um procedimento de observao da interaco didica, e
no domnio das percepes dos sujeitos sobre a vinculao, atravs de uma medida
de auto-relato. Os resultados encontrados apontam no sentido da pertinncia da
avaliao da vinculao na idade adulta, no contexto das relaes ntimas, pelo
recurso combinao de mltiplos mtodos, assumidos como complementares.
Salientamos, a nvel representacional e da percepo, a congruncia entre dados
empricos encontrados e aspectos centrais da teoria da vinculao. Em termos
comportamentais realamos a forma como os sistemas de procura e prestao decuidados, constructos basilares na teoria da vinculao, revelam ser essenciais na
compreenso do comportamento didico, apontando designadamente para a
diferenciao de comportamentos dentro do casal. Os resultados so discutidos tendo
em conta as suas implicaes para a investigao e prtica clnica, atendendo
importncia do desenvolvimento desta abordagem multi para o estudo e
compreenso das relaes ntimas.
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Abstract
This dissertation, although an exploratory approach, intends to contribute to the
development of a more comprehensive and multifaceted perspective on the complexity
of intimate relationships regarding the attachment theory. Based on theoretical and
empirical contributions of John Bowlby and Mary Aisnworth, it is considered the
establishment of emotional ties, which are able to provide security and protection to
the individual, a basic need of human beings. In this sense, we focused our work on
the conceptualization of intimate relationships in adulthood while attachment
relationships.
The present study reports data from 20 couples and has the integration of different
methods in the study of attachment in a context of intimate relationships as its main
aim. The proposal is to examine specific dimensions of representational domain,
through an interview that intends to assess the representation of the close relationship
for each of the elements in the couple, on behaviour domain, through an observation
procedure of the dyadic interaction, and perceptions domain, through a self-reportmeasure. The results show the relevance of the assessment of the attachment in
adulthood, in the context of intimate relationships, through the use of the combination
of multiple methods, as complementary commitments. The data suggest the
congruence between empirical and theoretical data at a representational and
perception level. Regarding the behavioural domain, the careseeking and caregiving
systems, basic constructs of attachment theory, seem to be essential for
understanding the dyadic behaviour, pointing to the differentiation of behaviour within
the couple. The results are discussed based on its implications for research and
clinical practice, given the importance of the development of this "multi approach" to
the study and understanding of intimate relationships.
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vi
ndice
Agradecimentos ........................................................................................................................................... iiResumo ...................................................................................................................................................... iv
Abstract ........................................................................................................................................................v
ndice .......................................................................................................................................................... vi
ndice de Figuras ....................................................................................................................................... vii
ndice de Quadros ...................................................................................................................................... vii
Lista de Anexos .........................................................................................................................................viii
Introduo ...................................................................................................................................................1
PARTEAENQUADRAMENTOTERICO................................................................................................4
Captulo 1 Teoria da Vinculao...............................................................................................................5
1.1. Suas origens contributos de John Bowlby e Mary Ainsworth ............................................... 5
1.2.Comportamentos de vinculao .............................................................................................. 7
1.3. Modelos Internos Dinmicos ................................................................................................. 12
Captulo 2 Vinculao e Relaes Intimas na idade adulta....................................................................16
2.1. Introduo..............................................................................................................................16
2.2. Vinculao na idade adulta....................................................................................................18
2.2.1. Dimenso representacional da vinculao.................................................................. 19
2.2.2. Relao de vinculao com pares............................................................................... 22
2.3. Vinculao no contexto das relaes intimas: aspectos conceptuais ................................... 24
2.4. Vinculao contexto das relaes intimas: mtodos de avaliao........................................ 30
2.4.1. Medidas representacionais.......................................................................................... 31
2.4.2. Medidas comportamentais .......................................................................................... 33
2.4.3. Medidas de auto-relato................................................................................................35
PARTEBESTUDOEMPRICO ................................................................................................................38
Captulo 3 Objectivos e metodologia ...................................................................................................... 39
3.1. Objectivos..............................................................................................................................39
3.2. Mtodo .................................................................................................................................40
3.2.1. Desenho do estudo ..................................................................................................... 40
3.2.2. Amostra.......................................................................................................................40
3.2.2.1. Seleco da amostra.....................................................................................40
3.2.2.2. Caracterizao da amostra............................................................................42
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3.2.3. Medidas.......................................................................................................................44
3.2.3.1. Ficha de dados scio-demogrficos ..............................................................44
3.2.3.2. Representao das relaes intimas: Intimate Relationship Interview - IRI..44
3.2.3.3. Comportamento didico: Couples Interaction Task - CIT..............................49
3.2.3.4. Percepo da vinculao: Escala de Vinculao do Adulto - EVA ................52
3.2.4. Procedimentos.............................................................................................................54
3.2.4.1. Recolha dos dados........................................................................................54
3.2.4.2. Formao na administrao e cotao dos instrumentos..............................55
3.2.4.3. Anlise computacional dos dados .................................................................55
Captulo 4 Resultados.............................................................................................................................57
4.1. Representao das relaes intimas..................................................................................... 57
4.2. Comportamento didico nas relaes intimas.......................................................................61
4.3. Percepo da vinculao....................................................................................................... 67
4.4. Relaes entre representao das relaes intimas, comportamento didico epercepo da vinculao.......................................................................................................69
4.4.1. Relaes entre representao e comportamento nas relaes intimas......................69
4.4.2. Relaes entre percepo da vinculao, representao e comportamento nasrelaes intimas .................................................................................................................... 72
Captulo 5 Discusso dos Resultados e Concluses..............................................................................75
Referncias Bibliogrficas.......................................................................................................................87
Anexos.......................................................................................................................................................96
Listagem de Figuras
Figura 1 Estrutura hierrquica dos Modelos Internos DinmicosFigura 2 Desenvolvimento dos trs sistemas comportamentais no contexto de uma relao de
vinculao na idade adulta
Listagem de Quadros
Quadro 1: Caracterizao scio-demogrfica da amostraQuadro 2: Caracterizao da Relao dos casaisQuadro 3: Correlaes item-total na IRIQuadro 4: Valores de alpha de Cronbach e correlaes item-total para as dimenses avaliadas pela CITQuadro 5: Valores do alphade Cronbach para as dimenses avaliadas pela EVAQuadro 6: Medidas descritivas dos resultados da IRI para os elementos masculinos do casal
Quadro 7: Medidas descritivas dos resultados da IRI para os elementos femininos do casalQuadro 8: Teste de Wilcoxon para amostras emparelhadas relativamente s escalas da IRI
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Quadro 9: Correlaes entre escalas da IRI nos elementos masculinos do casalQuadro 10: Correlaes entre escalas da IRI nos elementos femininos do casalQuadro 11: Medidas descritivas dos resultados das escalas didicas da CITQuadro 12: Medidas descritivas dos resultados das escalas individuais da CITQuadro 13: Teste de Wilcoxon para amostras emparelhadas relativamente s escalas individuais da CITQuadro 14: Correlaes entre escalas didicas da CITQuadro 15: Correlaes entre escalas individuais da CITQuadro 16: Teste de Wilcoxon para amostras emparelhadas relativamente s escalas individuais daCIT para os dois elementos do casal separadamenteQuadro 17: Correlaes entre escalas individuais e escalas didicas da CITQuadro 18: Medidas descritivas dos resultados da EVAQuadro 19: Teste de Wilcoxon para amostras emparelhadas relativamente s dimenses da EVAQuadro 20: Correlaes entre dimenses EVAQuadro 21: Correlaes entre escalas da Representao e do Comportamento elementosmasculinos do casalQuadro 22: Correlaes entre escalas da Representao e do Comportamento elementosfemininos do casal
Quadro 23: Correlaes entre Percepo e Representao elementos masculinos do casalQuadro 24: Correlaes entre Percepo e Representao elementos femininos do casalQuadro 25: Correlaes entre Percepo e Comportamento elementos masculinos do casalQuadro 26: Correlaes entre Percepo e Comportamento elementos femininos do casal
Listagem de Anexos
Anexo 1 Ficha de Dados Scio-Demogrficos
Anexo 2 Descrio das escalas da IRIAnexo 3 Descrio das escalas da CITAnexo 4 Escala de Vinculao do AdultoAnexo 5 Inventrio de Sintomas PsicopatolgicosAnexo 6 Consentimento Informado
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Introduo
A teoria da vinculao constitui-se como um paradigma conceptual amplo, caracterizadopela incorporao de contribuies diversas, como as provindas da psicanlise ou da
etologia (Bowlby, 1958). John Bowlby, protagonista da edificao deste corpus terico,
escreve desde a primeira metade do sculo XX sobre os efeitos da privao de cuidados
maternos na disrupo da vinculao, reflexo no somente do seu interesse em torno de
temticas de cariz clnico, como do seu posicionamento alternativo face aos enunciados
psicanalticos vigentes na poca. Mais tarde, a trilogia de Bowlby (1969,1973,1980) permite
a edificao da Teoria da Vinculao enquanto quadro terico autnomo, ao evidenciar os
processos de constituio das relaes de vinculao na infncia, os efeitos da separao e
da perda.
A transposio dos postulados de Bowlby para o terreno emprico realiza-se pelo
trabalho desenvolvido por Ainsworth e assente na observao comportamental de dades de
beb-me em contexto naturalista e, posteriormente, laboratorial, enfatizando a dimenso
transcultural e longitudinal nos seus estudos de Uganda (1967) e Baltimore (1977),
congregando o que Soares (2002) definiria como abordagem-multi: multi-momentos, multi-
contextos e multi-observadores. Interessada em examinar as diferenas individuais na
organizao comportamental da vinculao, Ainsworth elabora o procedimento laboratorial e
estandardizado Situao Estranha, em que enfatiza, luz do proposto por Bowlby, a
dimenso relacional subjacente vinculao.
Derivado das premissas bowlbinianas de que as relaes precoces de vinculao
teriam impacto no desenvolvimento subsequente do indivduo, nos anos 80 assiste-se a
uma nova fase do desenvolvimento conceptual e emprico da vinculao. O enfoque assim
atribudo idade adulta, por intermdio do constructo de Modelos Internos Dinmicos,
enfatizando-se desta feita a organizao representacional (Main, Kaplan & Cassidy, 1985)
das experincias de vinculao, cuja avaliao se centra na organizao discursiva do
indivduo. Esta mudana para o nvel representacional, consubstanciada pela elaboraodaAdult Attachment Interview AAI(George, Kaplan & Main, 1985), uma entrevista clnica
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autobiogrfica semi-estruturada que permite a elicitao de organizaes de vinculao
paralelos aos padres comportamentais avaliados em bebs. A relevncia daAAIenquanto
metodologia e conceptualizao da vinculao na idade adulta evidencia-se pelo
desenvolvimento subsequente da literatura sobre psicopatologia e psicoterapia, bem comosobre o desenvolvimento normativo do adulto, especificamente no que respeita ao
estabelecimento, manuteno e ruptura de relaes ntimas de cariz amoroso.
A conceptualizao das relaes ntimas de cariz amoroso enquanto relaes de
vinculao pode ser atribuda ao trabalho pioneiro de Hazan e Shaver (1987),
operacionalizado pelo desenvolvimento de medidas de avaliao tipolgica, com razes na
psicologia social. Por outro lado, a nfase na dimenso representacional mantida por umalinha de investigadores que desenvolvem um conjunto de entrevistas dirigidas ora
avaliao da organizao da vinculao no contexto das relaes ntimas, ora avaliao
da representao da intimidade no contexto das relaes de vinculao na idade adulta. Em
qualquer dos casos, mantm-se os legados conceptuais e empricos de Bowlby e Main,
sublinhando-se os aspectos cruciais da vinculao e sua contribuio no desenvolvimento
da intimidade. Paulatinamente, o interesse dos investigadores (re)centra-se na dimenso
comportamental, atentando interaco estabelecida pelo casal, naquele que pode ser
designado como um regresso s origens da vinculao no terreno emprico desbravado
por Ainsworth. Neste sentido, e a ttulo ilustrativo, refiram-se os trabalhos longitudinais de
Minnesota coordenados por Collins ou os desenvolvidos em Stony Brook por Crowell (e.g.
Collins, Hennighausen, Madsen & Roisman, 1998; Crowell & Treboux, 2001).
A abrangncia e complexidade auferida pela teoria de Bowlby, de que a panplia de
medidas reflexo, exige que a investigao em torno da temtica da vinculao e da
intimidade na idade adulta contemple o recurso abordagem multi, num processo de
refinamento conceptual e metodolgico contnuo.
Em relao estruturao dos contedos, a presente dissertao encontra-se
organizada em dois momentos. O primeiro momento destinado ao enquadramento terico
e emprico do estudo, contemplando dois captulos. No primeiro captulo apresentada uma
perspectiva histrica da Teoria da Vinculao e seus conceitos basilares. O segundo
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captulo dedicado vinculao na idade adulta e suas contribuies na compreenso da
intimidade, abordando-se de seguida as principais metodologias de avaliao no contexto
das relaes ntimas.
O segundo momento contempla a descrio do estudo emprico, organizando-se em trscaptulos. No terceiro captulo so apresentados os objectivos e o mtodo, fazendo-se a
caracterizao da amostra e a descrio das medidas e procedimentos utilizados. No quarto
capitulo so expostos os resultados ao nvel da representao, comportamento e
percepo, realizando-se posteriormente uma integrao destes resultados. Por ultimo, o
quinto captulo corresponde discusso dos resultados luz da literatura, sendo
apresentadas as principais concluses que compreendem as limitaes do estudo e
sugestes para investigaes futuras.
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Parte A
Enquadramento Terico
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ENQUADRAMENTO TERICOCaptulo 1 Teoria da Vinculao
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CAPTULO 1
TEORIA DA VINCULAO
1.1 Suas origens contributos de John Bowlby e Mary Ainsworth
O estudo da vinculao encontra-se associado aos trabalhos pioneiros desenvolvidos
por John Bowlby e Mary Ainsworth. No percurso pessoal e profissional de Bowlby
encontramos um particular interesse pelo estudo da qualidade das interaces afectivas
na famlia e pela importncia das experincias precoces de separao, privao e perda
no desenvolvimento psicossocial da criana. Este interesse, reforado pela sua
experincia enquanto voluntrio num internato de crianas e jovens problemticos, leva-o
a especializar-se em psiquiatria infantil. Com base nos casos clnicos observados noLondon Child Guidance Center e mais tarde, aps a Segunda Guerra Mundial, na
Tavistock Clinic, Bowlby defende a importncia dos factores ambientais no
desenvolvimento nos primeiros anos de vida (Soares, 2007). Demarcando-se da grelha
terica psicanaltica na qual teve formao, que valorizava essencialmente o papel das
fantasias e dos conflitos internos na origem dos problemas emocionais (Bretherton, 1991;
1992), Bowlby teve como principal objectivo analisar o processo de construo de laos
afectivos entre criana e me e o impacto no desenvolvimento da personalidade da
criana quando estes laos so quebrados (Feeney & Noller, 1996).
Ao longo dos seus trabalhos Bowlby rejeita as explicaes psicanalticas, que
defendiam o papel primordial da satisfao das necessidades alimentares no bem-estar
psicolgico das crianas, salientando vrios estudos (Burlingham & Freud, 1942, 1944;
Heinicke, 1956; Provence & Lipton, 1962; Robertson, 1953, 1962; Schaffer, 1958; Spitz,
1946 cit in Soares, 2007) cujos resultados evidenciam crianas em situao de privao
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ENQUADRAMENTO TERICOCaptulo 1 Teoria da Vinculao
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materna que, apesar de satisfeitas as suas necessidades alimentares, apresentam sinais
de perturbao psicolgica (e.g. letargia emocional ou isolamento social) (Soares, 2007).
tambm na Etologia que Bowlby encontra muitos dos fundamentos que iro
influenciar a sua conceptualizao da Teoria da Vinculao. Ao contactar com as
investigaes realizadas em contexto animal, nomeadamente com os trabalhos de K.
Lorenz (1935) com patos e gansos recm-nascidos e com os estudos de H. Harlow com
macacos Rhesus, torna-se ainda mais evidente para Bowlby a importncia de variveis
como o conforto com a proximidade com a figura materna e os laos sociais estabelecidos,
independentemente de uma gratificao oral, no desenvolvimento da relao afectiva
beb-me (Bowlby, 1958, 1988; Ainsworth & Bowlby, 1991; Soares, 2007).As concepes tericas de Bowlby encontram robustez emprica nos trabalhos de
Ainsworth (1967; 1977), psicloga canadiana que se dedicou ao estudo da qualidade das
interaces beb-me. Os seus trabalhos de observao da interaco beb-me em
contexto naturalista, no Uganda (Ainsworth, 1967) e mais tarde em Baltimore (Ainsworth,
1977), conduziram elaborao do procedimento laboratorial conhecido como Situao
Estranha, que constitui um marco importante no desenvolvimento da Teoria da Vinculao
pois torna possvel a anlise das diferenas individuais na organizao comportamental da
vinculao. Atravs deste procedimento, constitudo por um conjunto estandardizado de
episdios de separao e reunio, Ainsworth, Blehar, Waters e Wall (1978) identificam
padres ou categorias que reflectem diferentes reaces comportamentais da criana face
figura de vinculao: Seguro, Inseguro-Evitante, Inseguro-Ambivalente. Estas reaces
comportamentais esto associadas aos comportamentos da figura de vinculao na vida
diria, particularmente sua acessibilidade e responsividade aos sinais e solicitaes de
proteco e conforto por parte da criana (Ainsworth & Bowlby, 1991; Bertherton, 1992). O
impacto dos trabalhos de Ainsworth vieram realar a importncia do conceito de
segurana na interaco beb-me, nomeadamente como referem Ainsworth e Bowlby
(1991) the use of the mother as a secure base from which to explore the world and as a
haven of safety (p. 6). Os dados da investigao emprica contriburam para a
conceptualizao de conceitos como base segura (secure base) e refgio seguro (safe
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ENQUADRAMENTO TERICOCaptulo 1 Teoria da Vinculao
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haven), essenciais na definio de vinculao e comportamento de vinculao, como
iremos ver de seguida.
1.2 Comportamento de vinculao
O primeiro trabalho formal de Bowlby sobre a Teoria da Vinculao, influenciado pelos
conceitos da Etologia e Psicologia do Desenvolvimento, foi apresentado Sociedade
Britnica de Psicanlise sob a forma de 3 artigos The Nature of the Childs Tie to his
Mother (1958), Separation Anxiety (1960a) e Grief and Mourning in Infancy and Early
Childhood (1960b) que mais tarde deram origem conhecida trilogia Attachment
(1969/1982), Separation (1973) e Loss, (1980). Ao longo destes trabalhos, Bowlby
formula a Teoria da Vinculao, na qual enfatiza a importncia da dimenso relacional no
desenvolvimento psicolgico do indivduo, realando a necessidade humana universal de
estabelecimento de uma relao de proximidade capaz de proporcionar segurana e
proteco ao longo da vida (Ainsworth & Bowlby, 1991; Bretherton, 1992). O
estabelecimento de vnculos emocionais definido como uma necessidade bsica, a partir
da qual o indivduo vai conhecendo o mundo, os outros e a si prprio.Na base desta teoria encontramos a referncia ao conceito de sistema
comportamental de vinculao, presente nos seres humanos desde o seu nascimento,
constitudo por uma srie de comportamentos de base biolgica caractersticos da espcie
e que contribuem para a sobrevivncia do indivduo (Bowlby, 1958; Bretherton, 1992;
Cassidy, 1999). Inicialmente, as crianas apresentam um reportrio de comportamentos
de procura de proximidade relativamente independentes uns dos outros e dirigidos de uma
forma indiscriminada para os seus cuidadores. No entanto, tais comportamentos (e.g.
chupar, agarrar, seguir, chorar, sorrir), geneticamente determinados, vo-se
desenvolvendo e orientando em relao a uma figura principal, percepcionada como fsica
e psicologicamente mais forte e capaz de lidar eficazmente com as dificuldades sentidas,
procurando garantir a satisfao das necessidades de segurana e proteco da criana
(Ainsworth & Bowlby, 1991; Cassidy, 1999).
Os comportamentos de vinculao desempenham assim um papel importante na
sobrevivncia do indivduo e na sua capacidade de adaptao e explorao do meio. A
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ENQUADRAMENTO TERICOCaptulo 1 Teoria da Vinculao
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explorao segura do meio envolvente regulada pela proximidade com a figura de
vinculao. Perante um estmulo percepcionado como ameaador pela criana assiste-se
activao do sistema de vinculao. O adulto ao mostrar-se disponvel e capaz de
responder regularmente a estes sinais, proporcionando um sentimento de segurana
atravs da prestao de cuidados, constitui-se para a criana uma figura de vinculao
(Ainsworth & Bowlby, 1991; Bretherton, 1991, 1992).
Neste contexto, Bowlby (1988) define comportamento de vinculao como any form of
behaviour that results in a person attaining or maintaining proximity to some other clearly
identified individual who is conceived as better able to cope with the world (p.29). Sroufe e
Waters (1977) salientam tambm que they are designated attachment behaviors becausethey are used by the infant in the service of proximity or physical or psychological contact.
They are attachment behaviors because of their role in the development of and service of
attachment and because of their organization in relation to one another (p.6). O contedo
de uma relao de vinculao est assim centrado na regulao de segurana (Soares,
1996b), sendo o resultado do comportamento de vinculao a obteno ou manuteno
da proximidade com a figura de vinculao e a sua funo o proporcionar proteco,
segurana e conforto criana. Segundo Sroufe e Waters (1977), mais do que uma
proximidade fsica, esta regulao de segurana procura atingir uma dimenso emocional
que designaram por felt security.
Os comportamentos de vinculao podem ser reforados ou activados por diversos
factores percepcionados pela criana como ameaadores e que podem ser relativos
prpria criana (e.g. situao de doena, fome), ao meio envolvente (e.g. situaes de
alarme, presena de um estranho) e figura de vinculao (e.g. ausncia, negligncia nos
cuidados) (Cassidy, 1999). No entanto, esta activao e consequente procura de
proximidade com a figura de vinculao no acontecem automaticamente, dependendo de
uma srie de factores, nomeadamente da avaliao subjectiva que a prpria criana faz
da situao, da sua familiaridade com a mesma, do seu nvel de desenvolvimento, de
experincias passadas, entre outros (Sroufe e Waters, 1977).
A desactivao do comportamento de vinculao encontra-se associada aos
comportamentos disponveis e responsivos da figura de vinculao, capazes de
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proporcionar segurana criana, reduzindo o medo ou a ansiedade provocada pela
experincia de tenso, desconforto ou mal-estar. As condies de desactivao do
sistema de vinculao variam tambm de acordo com a intensidade da sua activao.
Numa dada situao percepcionada como ameaadora, se a activao for muito intensa
provavelmente os comportamentos de contacto fsico sero os mais securizantes para a
criana, fazendo desactivar o sistema de vinculao (Cassidy, 1999). Com o
desenvolvimento scio-afectivo e cognitivo, a partir da adolescncia verifica-se uma
mudana na forma como o indivduo organiza e interpreta a informao e interage com o
outro no contexto de uma relao de vinculao. O desenvolvimento da capacidade
simblica permite uma mudana para nveis mais internos de funcionamento, que semanifesta por exemplo numa maior capacidade de tolerar perodos de separao, perda
ou ameaas e num maior controlo da expresso emocional e comportamental. Desta
forma, as condies de activao e desactivao do sistema de vinculao alteram-se ao
longo do desenvolvimento, adaptando-se s exigncias e caractersticas de cada faixa
etria.
Por vinculao entende-se o sistema de controlo que organiza e orienta estes mesmos
comportamentos para que atinjam os seus objectivos (Ainsworth et al., 1978; Bowlby,
1988; Cassidy, 1999). De acordo com Sroufe e Waters (1977) attachment refers to an
affective tie between infant and caregiver (p.2), que uma vez estabelecido tende a
persistir e a ser duradouro, existindo para alm da manifestao episdica dos
comportamentos de vinculao. Enquanto ligao emocional, vinculao no
necessariamente sinnimo de relao. O que caracteriza uma relao a sua
componente didica, enquanto que a ligao afectiva uma caracterstica do indivduo,apesar de se desenvolver num contexto relacional (Ainsworth, 1991).
No desenvolvimento de uma relao de vinculao importa salientar a qualidade das
ligaes afectivas entre criana e figura de vinculao. a qualidade dessas trocas
emocionais, sobretudo quando o sistema de vinculao est activado, que caracteriza a
qualidade da relao de vinculao (Soares, 1996a). A teoria da vinculao destaca a este
nvel a sensibilidade e a disponibilidade fsica e emocional da figura de vinculao para
dar resposta s necessidades de proximidade e proteco da criana.
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Esta dinmica entre procura de proximidade com a figura de vinculao e obteno de
proteco e segurana conduz-nos aos conceitos de base segura e refgio seguro,
essenciais na conceptualizao da Teoria da Vinculao. A figura de vinculao assume-
se como base segura para a criana quando esta se sente segura e tranquila
relativamente sua presena, sendo capaz de se envolver em comportamentos de
explorao do meio. Perante situaes de ameaa de perigo o comportamento de
vinculao activado, passando a ateno da criana a estar focada na procura de
contacto com a figura de vinculao, assumindo-se esta como refgio seguro.
Proporcionada a segurana, a criana pode regressar explorao e a figura de
vinculao ser percepcionada novamente como base segura (Soares, 1996b).Tendo subjacente esta noo de base segura, Ainsworth e cols. (1978), atravs do
procedimento da Situao Estranha, procuram activar o sistema comportamental de
vinculao da criana (episdios de separao breve da figura de vinculao e
consequente reunio e de encontro com um estranho) identificando padres de vinculao
que reflectem essencialmente diferenas individuais neste processo didico beb-me de
procura de proximidade e de proporcionar segurana e proteco. Estas diferenas
individuais constituem diferenas qualitativas na forma como os comportamentos de
vinculao so organizados, podendo ser divididas em duas grandes categorias - relao
de vinculao segura e relao de vinculao insegura - sendo esta ltima dividida em
duas subcategorias: relao insegura-evitante e relao insegura-ambivalente. O termo
seguro ou inseguro reflecte a percepo da criana sobre a disponibilidade e
responsividade da figura de vinculao em situaes de ameaa ou perigo, assim como a
forma como os seus comportamentos esto organizados em funo de tal percepo
(Weinfield, Sroufe, Egeland & Carlson, 1999).
O padro de vinculao seguro caracteriza-se por crianas capazes de explorar o
meio, que procuram activamente proteco e conforto quando confrontadas com situaes
potencialmente ameaadoras, observando-se por parte da figura de vinculao
disponibilidade e capacidade em satisfazer tais necessidades. Estas crianas confiam na
sensibilidade dos comportamentos da figura de vinculao, tornando-se
consequentemente mais confiantes e seguras nas suas interaces com o mundo. No
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padro inseguro-evitante encontramos um evitamento do contacto e da procura de
proximidade com a figura de vinculao, devido rejeio e insensibilidade que esta
manifesta perante as necessidades da criana. Predominam os comportamentos de
explorao do meio como forma de ignorar a presena da figura de vinculao e a
necessidade dos seus cuidados. No padro inseguro-ambivalente, a criana apresenta
dificuldades de regulao do afecto e comportamentos de dvida face responsividade da
figura de vinculao, oscilando entre a procura de proximidade e resistncia ao contacto,
em resposta normalmente a comportamentos insensveis ou inconsistentes da figura de
vinculao. Estas crianas so hipervigilantes face presena da figura de vinculao, o
que empobrece os seus comportamentos de explorao do meio. Uma vez que ainsegurana compromete a explorao do mundo, as crianas inseguras tornam-me
menos confiantes nelas prprias e nos outros.
Independentemente das diferenas entre os trs padres comportamentais, estes
constituem-se como estratgias organizadas por parte da criana para lidar com o distress
provocado pela situao activadora do sistema de vinculao. Contudo, Main e Solomon
(1990 cit in Soares, 1996b) identificaram um quarto grupo de crianas cujos
comportamentos no se ajustavam aos padres definidos por Ainsworth e colaboradores.
Este quarto padro, designado por desorganizado/desorientado, caracteriza-se por
sequncias de comportamentos bizarros, contraditrios e desorganizados, movimentos
despropositados, estereotipados, posturas anmalas e sinais de medo e insegurana
intensa em relao figura de vinculao. Estes comportamentos revelam uma aparente
ausncia de estratgia para lidar com o distress decorrente da separao da figura de
vinculao e, segundo as autoras, so observados sobretudo em amostra clnicas e de
risco.
Relativamente distribuio dos padres, Ainsworth e cols. (1978) encontraram nos
seus estudos cerca de 70% de crianas classificadas como seguras, 10% com o padro
inseguro-ambivalente e cerca de 20% com o padro inseguro-evitante. Van Ijzendoorn e
Kroonenberg (1988) numa meta-anlise transcultural verificaram que a distribuio dos
padres de vinculao encontrados na Situao Estranha era consideravelmente diferente
entre pases. Apesar de o padro seguro ser o mais predominante, a frequncia dos
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padres inseguros difere, observando-se mais crianas com o padro inseguro-evitante na
Europa enquanto que em Israel e no Japo a frequncia de crianas com o padro
inseguro-ambivalente maior. Estas diferenas podem estar associadas a diferenas
culturais, nomeadamente ao nvel dos cuidados maternos (Feeney & Noller, 1996).
Em sntese, Bowlby (1969/1982; 1973; 1980) considera o comportamento de
vinculao como uma componente essencial do sistema comportamental humano, a par,
por exemplo, do comportamento sexual e do comportamento alimentar, tendo como
funo biolgica a proteco, no s na infncia mas ao longo do ciclo de vida.
A vinculao manifesta-se pelo sentimento de segurana que a figura de vinculao
dever proporcionar; pela procura de proximidade com essa figura, em particular em
situaes de ameaa ou perigo, e pelas reaces de protesto face separao da figura
de vinculao e de alegria perante situaes de reaproximao. Segundo Bowlby
proximity seeking (including protest at separation), secure base and safe haven are the
three defining features and the three functions of an attachment relationship (Feeney &
Noller, 1996, p. 4).
1.3 Modelos Internos Dinmicos
As condies de activao e de desactivao do comportamento de vinculao variam
ao longo da vida. Se durante os primeiros anos o comportamento de vinculao da criana
facilmente activado, progressivamente este vai-se tornando menos intenso e frequente,
passando tambm a ser desactivado por um conjunto mais amplo de situaes (Soares,
1996b). Um dos factores que influencia esta mudana relaciona-se com o
desenvolvimento cognitivo, que torna possvel a emergncia de novas competncias que
tero impacto no modo como o indivduo interpreta e organiza as suas experincias, como
interage com os outros e como vive e exprime as emoes (Soares, 1996b).
medida que o sistema de vinculao se torna cada vez mais organizado e complexo,
influenciado pelo desenvolvimento dos processos simblicos, nomeadamente da
linguagem, a criana comea a desenvolver um conjunto de expectativas acerca do self,dos outros e do mundo, que se constituem como grelhas de leitura na percepo e
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interpretao dos acontecimentos, na antecipao do futuro e na elaborao de planos
para esse futuro (Bowlby, 1988; Soares, 2000). O desenvolvimento dessa capacidade
simblica conduz-nos emergncia da dimenso representacional do sistema de
vinculao.
O conceito de Modelos Internos Dinmicos (Internal Working Models) torna-se assim
central na teoria de Bowlby, permitindo a passagem do domnio comportamental para o
domnio representacional no estudo da vinculao ao longo do ciclo de vida. Por modelos
internos dinmicos entende-se estruturas mentais, construdas a partir das experincias de
vinculao e da interpretao das mesmas, que orientam no s os comportamentos e
sentimentos dos indivduos mas tambm a memria, a ateno e a linguagemrelacionadas com a vinculao (Main, Kaplan & Cassidy, 1985). De acordo com Collins e
Read (1994) indivduos com diferentes padres de vinculao comportam-se de modo
diferente porque pensam e sentem de forma distinta.
Sendo os modelos internos dinmicos construdos no contexto da relao de
vinculao, integram os conhecimentos do indivduo acerca do self e acerca da figura de
vinculao. Estes conhecimentos baseiam-se na avaliao que o sujeito faz em termos do
seu valor prprio e da confiana que tem na disponibilidade e na responsividade da figura
de vinculao para responder aos seus pedidos de ajuda e proteco (Bowlby, 1973;
Feeney & Noller, 1996; Soares, 1996b). Assim, crianas com um padro de vinculao
seguro constroem, a partir das suas experincias, um modelo da figura de vinculao
responsiva e acessvel e um modelo do self valorizado e merecedor de cuidados. A
criana exprime livremente as suas emoes, sentindo-se confiante e segura na relao
com a figura de vinculao. Por outro lado, num padro de vinculao inseguro, onde as
experincias so mais frustrantes, envolvendo insensibilidade, rejeio ou desvalorizao,
a criana constri modelos mais negativos de si e da figura de vinculao (Bretherton &
Munholland, 1999; Soares, 1996a). Bowlby refere que h uma relao significativa entre
as experincias de vinculao durante a infncia/adolescncia e a capacidade de
estabelecer ligaes afectivas na idade adulta, na medida em que a qualidade dessas
experincias fundamental no desenvolvimento de um sentimento de confiana e
segurana em si prprio e nos outros (Soares, 1996a).
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O desenvolvimento do modelo do self e do modelo da figura de vinculao ocorre
assim de uma forma dinmica e complementar, o que para alguns autores (Main et al.,
1985; Sroufe & Fleeson, 1986) sugere a existncia de um modelo dinmico da relao de
vinculao (working model of attachment relationship). Neste sentido, segundo Main e
cols. (1985) diferentes relaes so representadas de modo distinto, na medida em que o
que construdo um modelo da interaco e no do self e da figura de vinculao
separados dos acontecimentos relacionais. O prprio conceito de modelos internos
dinmicos remete, segundo Kobak (1994), para a natureza mltipla da vinculao em
funo da diversidade relacional. Collins e Read (1994) reforam esta ideia ao sugerirem
que o indivduo desenvolve diferentes modelos internos dinmicos em funo dediferentes relaes, estabelecendo uma hierarquia dos mesmos (Figura 1). De acordo com
os autores, no topo dessa hierarquia podemos encontrar modelos mais globais do selfe
dos outros que se adequam a uma diversidade de situaes e que influenciam os modelos
mais especficos referentes a determinadas relaes em particular, construdas ao longo
da vida do individuo. Diferentes domnios de relao (e.g. com pais, amigos, cnjuges)
implicam necessidades de vinculao distintas, que se manifestam igualmente atravs de
expectativas e comportamentos igualmente distintos (Overall, Fletcher & Frieen, 2003).
Figura 1. Estrutura hierrquica dos Modelos Internos Dinmicos (Adaptado de Collins e Read, 1994)
Estes modelos representacionais que o indivduo constri a partir das interaces
contnuas com o mundo que o rodeia vo-se tornando cada vez mais complexos,
acompanhando o desenvolvimento das suas estruturas cognitivas, emocionais e
comportamentais (Bowlby, 1973; Bretherton & Munholland, 1999). Deste modo, tendem a
Modelo Geral do Self e do Outro numaRelao de Vinculao
Modelo da RelaoPais - Criana
Modelo da Relao comos Pares
Me Pai Relaes deAmizade
Relaesamorosas
X Y Z
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tornar-se automatizados e relativamente estveis ao longo do tempo, uma vez que ao
influenciarem os comportamentos so consequentemente reforados por estes.
Cognitivamente, os modelos internos dinmicos orientam a ateno e a memria do
indivduo, que tende a ser particularmente sensvel a informao consistente com as
expectativas e sentimentos acerca do self e dos outros. No entanto, no so um mero
acumular de experincias. Conforme sugerido por vrios estudos de natureza longitudinal
(e.g., Roisman, Madsen, Hennighausen, Sroufe & Collins, 2001; Grossmann, Grossmann,
Winter & Zimmermann, 2002), os modelos internos dinmicos caracterizam-se pela
possibilidade de reelaborao e de desenvolvimento em direco a formas mais
complexas e sofisticadas de organizao da experincia e de orientao da aco,contribuindo para tal as experincias relacionais do indivduo ao longo do ciclo de vida
(Bowlby, 1988; Baldwin & Fehr, 1995; Bretherton & Munholland, 1999). Segundo Bowlby
(1988), os modelos internos dinmicos so assim um mecanismo atravs do qual as
experincias de vinculao influenciam o indivduo ao longo da sua vida, sendo que novas
relaes constituem uma oportunidade de mudana dos mesmos. O desenvolvimento de
novas relaes influenciado pelo conjunto de expectativas e significados que vo sendo
construdos ao longo da histria relacional do indivduo, ao mesmo tempo que possibilitam
a sua mudana. O impacto que estas novas experincias tm na estabilidade dos modelos
internos dinmicos depende do significado emocional que assumem para o indivduo.
Porm, no so s as novas relaes que podero originar mudanas nestas estruturas
mentais. Novas interpretaes dos acontecimentos passados (alcanadas por exemplo
atravs de um processo psicoteraputico) permitem uma integrao e reorganizao das
experincias vividas, o que poder igualmente contribuir para o desenvolvimento e
mudana dos modelos internos dinmicos.
Aps uma breve reviso dos conceitos bsicos da Teoria da Vinculao, iremos no
captulo seguinte abordar as especificidades da vinculao no contexto da idade adulta,
que constitui o foco principal do presente trabalho.
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CAPTULO 2
VINCULAO E RELAES INTIMAS NA IDADE ADULTA
2.1. IntroduoO desenvolvimento humano, concebido como um processo dinmico e em construo
contnua, ocorre de acordo com Soares (2000) atravs de sucessivas reorganizaes
qualitativas dentro e entre os sistemas biolgico, emocional, cognitivo, comportamental e
social, com base em processos de diferenciao e subsequente articulao, integrao
hierrquica e (re)organizao (p.20). Ao longo do seu desenvolvimento o indivduo
confrontado com sucessivas tarefas e desafios que vo exigir a sua adaptao e que
permitem evoluir para estdios desenvolvimentais cada vez mais diferenciados e
complexos. Neste sentido, a possibilidade de reelaborao dos modelos internos dinmicos
para formas cada vez mais complexas ao longo do ciclo de vida conduz-nos a uma ideia
base da teoria de Bowlby (1969/1982; 1973; 1980): a criao e manuteno de laos
afectivos so uma componente bsica do desenvolvimento humano, influenciando a
adaptao psicossocial do indivduo em qualquer perodo desenvolvimental. Apesar de
grande parte das concepes de Bowlby focarem essencialmente the nature of the child tieto his mother, ao longo dos seus trabalhos faz tambm referncia vinculao enquanto
fenmeno presente from the cradle to the grave, salientando que the formation of a bond
is described as falling in love, maintaining a bond as loving someone, and losing a partner as
grieving over someone (Bowlby, 1980, p.40).
A questo que se coloca quando passamos do estudo da vinculao na infncia para a
idade adulta relaciona-se com a natureza e a funo de uma relao de vinculao. Ter
uma relao de vinculao na idade adulta as mesmas funes que durante a infncia?
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Procurando responder a esta questo base salientamos a definio de Berman e Sperling
(1994):
Adult attachment is the stable tendency of an individual to make substantial
efforts to seek and maintain proximity to and contact with one or a few specific
individuals who provide the subjective potential for physical and/or psychological
safety and security. This stable tendency is regulated by internal working models of
attachment, which are cognitive-affective-motivational schemata built from the
individuals experience in his or her interpersonal world. (p.8).
Nesta citao encontramos a referncia aos conceitos definidos por Ainsworth e Bowlby(1991), descritos anteriormente, e que so essenciais na conceptualizao da teoria de
vinculao. Tal como na infncia, tambm na idade adulta a vinculao definida como uma
ligao afectiva que tem por objectivo a procura de proximidade com uma figura capaz de
proporcionar segurana, proteco e conforto, sendo esta ligao influenciada e regulada
pelas concepes que o indivduo constri acerca de si prprio e do outro, a partir das suas
experincias de vinculao. Vrios estudos (Weiss, 1975, Parkes, 1972, Glick, Weiss &
Parkes, 1974 cit in Berman e Sperling, 1994) revelam tambm que as reaces do indivduoadulto a situaes de separao da figura de vinculao (e.g. divrcio, morte) so idnticas
s encontradas por Bowlby (1973) na infncia, nomeadamente as reaces de protesto,
desespero e desapego. De acordo com Weiss (1991), semelhana do que acontece na
infncia, as relaes de vinculao continuam assim a ter um papel fundamental no
sentimento de segurana e consequentemente na estabilidade emocional do indivduo
adulto.
Apesar de conceptualmente as funes de uma relao de vinculao na idade adulta
serem semelhantes s da infncia, estas revestem-se de uma enorme variabilidade e
singularidade. A adolescncia, enquanto perodo de transio entre a infncia e a idade
adulta, remete-nos para uma mudana ao nvel das relaes afectivas. Assistimos neste
perodo desenvolvimental emergncia das relaes com os pares enquanto contexto de
partilha, conforto e segurana. Para Hazan e Zeifman (1999) a principal mudana aqui
implicada relaciona-se com a reciprocidade destas relaes. Assim, ao contrrio do quesucede na relao criana figura de vinculao, em que a complementaridade e
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hierarquizao da procura e prestao de cuidados evidente, no contexto de uma relao
entre pares, nomeadamente adulto adulto, esperado um balanceamento contnuo e
flexvel entre o procurar e o proporcionar segurana e conforto, isto , entre o recorrer ao
outro como base segura e perante ele constituir-se como tal (Collins & Sroufe, 1999;
Crowell, Fraley & Shaver, 1999; Crowell & Treboux, 1995, 2001; Hazan & Shaver , 1994;
Hazan & Zeifman, 1999). Enquanto que o sistema de vinculao na infncia caracteriza-se
por comportamentos de procura de cuidados (careseeking system) por parte da criana, que
activam na figura de vinculao os comportamentos de prestao de cuidados (caregiving
system), no adulto estes sistemas actuam de uma forma simtrica e recproca, onde ambos
os elementos da dade oferecem e recebem cuidados e apoio.No contexto das relaes com pares surge o estabelecimento da intimidade enquanto
tarefa desenvolvimental do jovem adulto. Se na infncia, sobretudo nas fases mais
precoces, o sistema de vinculao um aspecto central e primrio da relao criana
figura de vinculao, no adulto o sistema de vinculao passa a constituir apenas um dos
componentes das relaes ntimas (Faria, et al., 2007). Verifica-se, desde modo, um
alargamento do reportrio comportamental que, para alm do sistema de vinculao e do
sistema de prestao de cuidados, integra tambm o sistema sexual (Butzer & Campbell,
2008; Cassidy, 2000; Hazan & Shaver, 1987; Waters & Cummings, 2000). A ansiedade, o
desconforto e a necessidade de restabelecimento da segurana parecem ser os principais
factores que motivam a procura de proximidade e de cuidados em qualquer idade, no
entanto na idade adulta essa procura pode resultar igualmente do desejo de proteger e
confortar o outro e/ou do desejo de envolvimento sexual (Butzer & Campbell, 2008; Hazan &
Shaver, 1994). Retomaremos este tpico mais adiante quando abordarmos com maior
detalhe a vinculao no contexto das relaes ntimas.
2.2. Vinculao na idade adulta
A partir da dcada de 80, o crescente interesse da comunidade cientfica pelo estudo da
vinculao na idade adulta assume duas grandes linhas de investigao (Simpson & Rholes,
1998; Bartholomew & Shaver, 1998): os trabalhos ao nvel da representao da vinculao
com as figuras parentais, cujo objectivo essencial estudar como o adulto organiza e
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integra as suas experincias de vinculao na infncia e as abordagens que assentam no
estudo das relaes de vinculao com pares, nomeadamente com o par amoroso.
Comungando dos pressupostos bsicos da teoria da vinculao, estas linhas de
investigao oferecem contributos distintos para o estudo da vinculao na idade adulta,
como abordaremos de seguida.
2.2.1. Dimenso representacional da vinculao
Nesta linha de investigao destacamos os trabalhos de Mary Main, que partindo do
conceito de Modelos Internos Dinmicos desloca o estudo das diferenas individuais naorganizao da vinculao para o domnio representacional. Enquanto que na infncia os
estudos, nomeadamente os que recorrem ao procedimento experimental da Situao
Estranha, analisam as diferenas individuais na organizao comportamental da vinculao,
Main e cols. (1985) procuram aceder, na idade adulta, s diferenas na organizao
representacional da vinculao, ou seja, s diferenas ao nvel dos modelos internos
dinmicos. De acordo com as autoras, e com base nos contributos tericos de Bowlby, os
modelos internos dinmicos correspondem a um conjunto de regras que organizam ainformao relativa s experincias de vinculao, orientando a ateno, a memria, a
linguagem, as emoes e o prprio comportamento do indivduo. A linguagem desempenha
um papel primordial enquanto organizao discursiva do pensamento, permitindo o acesso a
informao relativa a essas experincias. Neste sentido, foi elaborada uma nova
metodologia de avaliao a Adult Attachment Interview (AAI) (George, Kaplan & Main,
1984, 1985, 1996), uma entrevista semi-estruturada que procura avaliar memrias
autobiogrficas relacionadas com as experincias de vinculao, focando essencialmente o
modo como o individuo processa e integra essas informaes. Atravs de questes
referentes s experincias na infncia com as figuras de vinculao (e.g. descrio da
relao com figuras parentais, situaes de separao, perda, ameaas, rejeio) pretende-
se que o individuo recorde episdios ilustrativos de tais experincias e que avalie o impacto
das mesmas no desenvolvimento da sua personalidade e das prprias relaes de
vinculao (Soares, 1996b). AAAI, ao dirigir a ateno e a memria do indivduo para asexperincias relacionais na infncia, procura activar o sistema de vinculao e, deste modo,
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constituir-se como uma ocasio privilegiada para avaliar o modo como o indivduo se
confronta com a temtica da vinculao e integra as suas memrias no contexto actual. Esta
entrevista procura assim avaliar a representao actual do individuo das suas relaes de
vinculao, o que Main e cols. (1985) designaram por state of mind with respect to
attachment. Deste modo, a segurana traduz-se no acesso informao relevante sobre a
vinculao e na capacidade do sujeito integrar aspectos positivos e negativos das suas
experincias num todo coerente, situando-se de um modo objectivo e reflectido face a toda
a sua histria de relaes de vinculao (Soares, 1996b, p.166). A insegurana, por seu
lado, manifesta-se pela incoerncia entre as descries semnticas (mais gerais) e os
episdios descritos e pelas dificuldades em recordar situaes do passado. Sublinha-se aqualidade da organizao discursiva relativamente s experincias, em detrimento do
contedo das mesmas. Isto , mais do que os contedos da histria pessoal, a forma e a
estrutura da narrativa que assumem um papel importante na classificao da segurana dos
indivduos. O sistema de cotao da entrevista assenta essencialmente na linguagem
utilizada e na capacidade do indivduo fornecer um relato coerente e credvel sobre as
experincias na infncia e seus significados (Crowell & Treboux, 1995).
Main e Goldwyn (1984, 1998), partindo de entrevistas realizadas a pais de crianas
avaliadas com a Situao Estranha no mbito de um estudo longitudinal, desenvolveram um
sistema de anlise e cotao que permite a identificao de quatro classificaes centrais:
Seguro/Autnomo, Inseguro/Preocupado, Inseguro/Desligado e No-Resolvido/
Desorganizado.
Na categoria seguro/autnomo em relao vinculao encontramos indivduos que
apresentam um discurso coerente e uma anlise objectiva das suas experincias de
vinculao, positivas e negativas, valorizando-as e atribuindo-lhes um papel importante no
desenvolvimento da sua personalidade. O discurso sustentado por memrias claras e
avaliaes reflectidas e integradoras. Os indivduos classificados como inseguros/desligados
tendem a rejeitar as relaes e as experincias de vinculao, idealizando a sua histria
pessoal ou desvalorizando-a. Revelam dificuldades em fornecer evidncia episdica para as
descries gerais, normalizando as suas experincias e negando o impacto destas no seu
desenvolvimento. A categoria inseguro/preocupado tem como caractersticas bsicas a
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confuso, a incoerncia, o emaranhamento nas relaes de vinculao. Estes indivduos
apresentam um discurso pouco objectivo e claro, oscilando entre atitudes de critica e
passividade em relao s figuras de vinculao. So indivduos com dificuldades ao nvel
da autonomia e desenvolvimento da identidade pessoal. Por ultimo, na categoria no-
resolvido/desorganizado o discurso caracteriza-se por lapsos na monitorizao,
desorientao e desorganizao na anlise de experincias passadas, sobretudo
relacionadas com perdas, abusos ou outros acontecimentos traumticos. Foi criada uma
categoria adicional, que integra os casos que no se podem classificar nestas quatro
categorias, designada CC (cannot classify).
Os resultados de uma meta-anlise de 33 estudos que utilizaram a AAI, indicam umadistribuio das principais categorias de vinculao, em amostras no clnicas, em que 58%
dos indivduos so classificados como seguros/autnomos, 24% so classificados como
inseguros/desligados e 18% como inseguros/preocupados (van IJzendoorn & Bakermans-
Kranenburg, 1996).
A construo desta entrevista e seu respectivo sistema de anlise permitiu comparar a
organizao da vinculao dos pais e dos filhos, testando assim a existncia de um padro
intergeracional da vinculao. O objectivo foi perceber de que modo as representaes das
experincias de vinculao na infncia dos sujeitos adultos, avaliadas atravs da AAI,
poderiam estar relacionadas com a organizao comportamental da vinculao dos seus
filhos, avaliada na Situao Estranha. Os estudos demonstram existir semelhanas entre os
padres de vinculao dos adultos e os das crianas, nomeadamente percentagens
elevadas de concordncia entre os padres da me e dos seus respectivos filhos (e.g. Main
et al., 1985; van IJzendoorn, 1995;Soares, 1996b)
No estudo da representao da vinculao em jovens e adultos tem sido igualmente
alvo de interesse a associao positiva entre a segurana da organizao da vinculao e
um conjunto de variveis de funcionamento psicolgico, como a regulao emocional, a
competncia social, a qualidade e satisfao nas relaes interpessoais, nomeadamente no
contexto das relaes ntimas (e.g. Roisman et al., 2001; Waters & Cummings, 2000). Esta
ltima linha de investigao ser alvo de anlise mais detalhada no ponto relacionado com a
Intimidade e Vinculao.
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2.2.2. Relao de vinculao com pares
Numa outra linha de investigao destacam-se os nomes de Cindy Hazan e Philipp
Shaver, que em 1987 publicam os primeiros trabalhos onde exploram o amor romntico
enquanto processo e contexto de vinculao na idade adulta.
Reconhecendo a importncia das influncias sociais e culturais, Hazan e Shaver (1987)
concebem o amor romntico tambm como um processo biolgico cuja finalidade facilitar
a vinculao entre dois adultos. Este processo regulado por dinmicas comportamentais e
emocionais semelhantes s que caracterizam a relao criana figura de vinculao. Tal
como acontece na infncia, no contexto de uma relao amorosa a progressiva atraco eenvolvimento com uma pessoa relaciona-se com a percepo subjectiva de que esta
proximidade fsica e/ou emocional poder resultar na satisfao de necessidades pessoais
(Hazan & Shaver, 1994; Pietromonaco & Barrett, 2000). Estas podero ser necessidades de
vinculao, de prestao de cuidados ou de relacionamento sexual, uma vez que, como j
foi referido, na idade adulta estes trs sistemas actuam de uma forma integrada. O adulto
sentir-se- mais seguro ao percepcionar o seu companheiro como prximo, acessvel e
responsivo, utilizando-o como base segura para comportamentos de explorao (e.g.
investimentos profissionais) e como fonte de segurana, conforto e proteco em momentos
de distress, ameaa ou perturbao (Hazan & Shaver, 1990).
Tambm ao nvel das diferenas individuais, os autores encontram semelhanas entre
as relaes amorosas e as relaes de vinculao na infncia. Esta ideia foi suportada pelo
desenvolvimento de um instrumento de auto-relato, que assenta numa avaliao categorial,
composto por trs pargrafos, ilustrando padres de relacionamento amoroso baseados nospadres de vinculao definidos por Ainsworth e cols. (1978) seguro, inseguro-
ambivalente e inseguro-evitante. pedido aos sujeitos que reflictam acerca das suas
relaes amorosas mais significativas e escolham o pargrafo que melhor define os seus
comportamentos e sentimentos nessas relaes (Hazan & Shaver, 1987). Os indivduos
seguros tendem a apresentar relaes mais duradouras e a caracteriza-las como felizes, de
confiana, de aceitao e apoio. J nos indivduos evitantes o medo da intimidade e o cime
assumem maior relevo na caracterizao das relaes, enquanto que nos indivduos
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considerados como ambivalentes prevalecem os pensamentos obsessivos relativamente
percepo de perda e abandono, desejo de posse e fuso com o outro e cime excessivo.
Nos seus estudos, Hazan e Shaver (1987) encontram distribuies similares s observadas
na infncia por Ainsworth e cols. (1978), com cerca de 56% dos sujeitos considerados como
seguros, 25% como inseguros-evitantes e cerca de 19% como inseguros-ambivalentes.
Os comportamentos de procura de proximidade fsica, essenciais no processo de
formao de uma relao amorosa, constituem-se como um elemento facilitador do
desenvolvimento de um lao emocional que contribui progressivamente para a construo
de uma relao de vinculao (Hazan & Shaver, 1994; Hazan & Zeifman, 1999). Enquanto
que na infncia a procura de proximidade tem por finalidade o restabelecimento dasegurana, na idade adulta essa procura de proximidade pode encontrar-se igualmente
associada ao desejo de envolvimento sexual (Barn, Zapiain & Apodaca, 2002; Butzer &
Campbell, 2008). No contexto das relaes amorosas o sistema sexual encontra-se assim
em estreita ligao com o sistema de vinculao, sendo possvel encontrar diferenas no
comportamento sexual em funo do padro de vinculao dos indivduos. De acordo com
os estudos de Hazan e Zeifman (1994, cit in Cassidy, 2001) indivduos seguros tendem a
envolver-se sexualmente em relaes onde a intimidade, o compromisso e a proximidade
fsica so valorizadas. Nos indivduos ambivalentes observam-se comportamentos de
voyeurismo, exibicionismo, domnio e submisso nas mulheres, enquanto que os homens
revelam ser mais reticentes ao contacto sexual. Indivduos evitantes mostram um menor
envolvimento afectivo no contexto da relao sexual, uma menor intimidade com o parceiro
e um maior desconforto com o contacto fsico.
Uma relao amorosa necessita de tempo para se tornar num relao de vinculao. Tal
como acontece na infncia, entre criana e figura de vinculao, igualmente esperado que
no contexto das relaes amorosas o processo de desenvolvimento de uma relao de
vinculao ocorra de um modo sequencial: inicialmente os comportamentos de procura de
proximidade assumem maior relevo, seguidos dos de procura de conforto e apoio e por fim
os de base segura. Enquanto que a atraco fsica e o relacionamento sexual tendem a ser
dimenses mais valorizadas em fases iniciais da relao, com o evoluir desta, a capacidade
do outro para proporcionar conforto, segurana e apoio emocional so os aspectos mais
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enfatizados (Hazan & Shaver, 1994; Hazan & Zeifman, 1999; Cassidy, 2000). Vrios
estudos (Hazan e Shaver, 1994; Hazan & Zeifman, 1999; Hazan e Zeifman, 1994, cit in
Cassidy, 2001) referem que este processo tende a demorar cerca de dois anos a
desenvolver-se, tal como possvel observar na figura 2.
Figura 2. Desenvolvimento dos trs sistemas comportamentais no contexto de uma relao de vinculao na idade
adulta (Adaptado de Hazan & Shaver, 1994)
Os contributos tericos e empricos dos trabalhos de Hazan e Shaver (1987; 1994) no
estudo dos processos envolvidos no desenvolvimento de uma relao amorosa constituem
um marco importante no estudo da vinculao na idade adulta. Sendo as relaes amorosas
consideradas o prottipo das relaes de vinculao na idade adulta, passaremos de
seguida a explorar alguns determinantes envolvidos neste processo.
2.3. Vinculao no contexto das relaes intimas: aspectos conceptuais
Na sua teoria triangular do amor, Sternberg (1986) refere que o amor pode ser
concebido como o resultado de trs componentes intimidade, paixo e
deciso/compromisso entendendo-se por intimidade o conjunto de sentimentos que
promovem a proximidade e o vnculo emocional entre os parceiros. Destes sentimentos
destaca o desejo de promover o bem-estar da pessoa amada, a capacidade de proporcionar
apoio emocional, a confiana na disponibilidade do outro em momentos de necessidade, a
comunicao aberta, a partilha de sentimentos e a compreenso mtua entre os elementos
ImportnciaIntensidade
Tempo em anos
Prestao de cuidados
Envolvimento sexual
Vinculao
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da relao (Sternberg & Grajek, 1984, cit in Sternberg, 1986). Encontramos aqui o que
podemos considerar ser um dos aspectos essenciais de uma relao de vinculao
perceber o outro como disponvel e responsivo face ao desconforto pessoal ou no confronto
com situaes percebidas como problemticas, e reciprocamente constituir-se perante o
parceiro como uma fonte de conforto e apoio emocional.
Para Collins e Feeney (2004) a teoria da vinculao permite compreender a importncia
da intimidade no desenvolvimento da confiana e do felt security no contexto das relaes
amorosas. Como j foi referido, esta teoria postula que o indivduo, ao longo do ciclo de
vida, tem a propenso para desenvolver laos emocionais com um nmero relativamente
restrito de pessoas que lhe proporcionam conforto e segurana em momentos de distressefuncionem como base segura a partir da qual podem explorar o mundo. O estabelecimento
desta segurana regulado pela proximidade fsica e emocional em relao figura de
vinculao e neste contexto que o indivduo encontra um espao onde lhe permitido
expressar e partilhar todo o tipo de emoes. Ser ento a percepo de segurana,
pertena e partilha que segundo Cassidy (2001) consubstancia o estabelecimento e o
desenvolvimento da intimidade no contexto de uma relao de vinculao:
Intimacy is making ones innermost known, sharing ones core, ones truth, ones
heart, with another, and accepting, tolerating the core, the truth, of another. It is
being able to tell both the good and the bad parts of oneself, to tell of anger,
ambivalence, love; and to accept both the good and the bad parts of another, to
accept anger, ambivalence, love. It is to share the self: ones excitements, longings,
fears and neediness, and to hear of these in another.(p.122)
Por intimidade entende-se um processo interpessoal onde os indivduos experienciam e
expressam sentimentos, partilham informaes acerca de si prprios, sentem-se
compreendidos, valorizados e aceites pelo outro (Reis & Shaver, 1988 cit in Collins & Sroufe,
1999; Prager & Roberts, 2004). De acordo com Collins e Sroufe (1999) a intimidade envolve
aspectos motivacionais, emocionais e comportamentais que se expressam no tornar-se
prximo de algum, no aceitar e partilhar as emoes e as experincias mais pessoais com
o outro, na reciprocidade dos cuidados e na sensibilidade face aos sentimentos e bem-estar
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do outro. O dar-se a conhecer numa relao de intimidade resulta tambm da percepo da
responsividade e abertura do outro. Os indivduos mostram-se mais dispostos para mostrar
vulnerabilidade e procurar apoio quando confiam que o seu parceiro capaz de aceitar e
apoiar de uma forma responsiva (Prager & Roberts, 2004). Assim, se a intimidade contribui
para o desenvolvimento do felt security, ao mesmo tempo este sentimento contribui para o
desenvolvimento da intimidade, numa dinmica interactuante (Collins & Feeney, 2004).
Assumindo como grelha de leitura a Teoria da Vinculao, Cassidy (2001) define quarto
capacidades bsicas no desenvolvimento da intimidade:
Capacidade de procurar cuidados esta capacidade constitui o que na teoria da
vinculao definido como o sistema comportamental da vinculao e corresponde aoconjunto de comportamentos que tm como objectivo conseguir e/ou manter a
proximidade com a figura de vinculao, sobretudo em situaes percepcionadas
como ameaadoras ou desconfortveis (e.g. doenas, perdas, conflitos). Esta
capacidade importante para o desenvolvimento da intimidade uma vez que envolve a
partilha de sentimentos, positivos e negativos, e o reconhecimento da necessidade de
apoio e conforto. Como vimos anteriormente, a capacidade de procurar cuidados no
contexto de uma relao ntima indica o quo confiante o indivduo est de que o seu
parceiro ser capaz de proporcionar suporte e proteco de modo eficaz e positivo.
Capacidade de prestar cuidados esta capacidade relaciona-se com as dimenses de
disponibilidade, sensibilidade e responsividade, que se reflectem no reconhecimento
das necessidades do outro, na abertura e ateno ao que est a ser partilhado e no
fornecimento do apoio e cuidados respectivos. De acordo com a teoria da vinculao
adultos que na sua infncia tiveram experincias com uma figura de vinculaosensvel e responsiva na prestao de cuidados tendem a desenvolver essa
capacidade de forma mais positiva (Cassidy, 2000; Simpson, Winterheld, Rholes &
Oria, 2007).
Conforto com a autonomia a autonomia importante no desenvolvimento de uma
relao de intimidade pois permite estar prximo do outro sem que para isso seja
necessrio aniquilar as necessidades e os objectivos do self. A autonomia traduz-se
na capacidade de experienciar crescimento pessoal como resultado do envolvimento
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numa relao, funcionando esta como base segura a partir da qual o individuo explora
e investe no mundo fora da relao.
Capacidade de negociao segundo Hoffman (1997, cit in Cassidy, 2001) intimidade
no significa proximidade mas a capacidade para negociar essa proximidade. Os
indivduos tm necessidades diferentes a este nvel, em funo de caractersticas
pessoais mas tambm como resultado das suas experincias. Numa relao de
intimidade, a negociao uma competncia crucial, que envolve a capacidade de
reconhecer e aceitar os sentimentos e as necessidades do outro e atravs de um
processo colaborativo trabalhar em conjunto na tomada de decises ou na resoluo
de conflitos.
Para alm da abordagem terica, as investigaes empricas no domnio da vinculao
tm tambm privilegiado o estudo da intimidade em amostras de jovens e adultos. Os
estudos revelam que adultos avaliados como seguros sentem-se confortveis com a
intimidade, a proximidade e a partilha, vem-se a si prprios como merecedores de
cuidados e afectos e percebem os outros como responsivos e disponveis (e.g. Collins &
Read, 1990; Feeney & Noller, 1990; Hazan & Shaver, 1987). Simpson (1990), num estudocom 144 casais, acrescenta que indivduos seguros percepcionam as suas relaes como
mais satisfatrias, com maior confiana e investimento. Indivduos evitantes tendem a
desvalorizar as situaes de intimidade e compromisso, enquanto que os indivduos
ambivalentes mostram-se mais preocupados com questes relacionadas com a
desconfiana, abandono e cime. Feeney (1998; 1999) salienta ainda que os sujeitos
seguros sentem-se confortveis com o toque enquanto veculo de afectos e com a
intimidade sexual, sendo esta perspectivada como um promotora de confiana e segurana.
Ao assumirem o papel de prestadores de cuidados mostram-se responsivos e sensveis s
necessidades do outro, sentindo-se confortveis com a interdependncia que estabelecem.
Mantm uma relao ntima sem perder a sua individualidade e autonomia. Adultos com um
padro de vinculao ambivalente apresentam uma viso insegura de si prprios, uma
grande vulnerabilidade solido, procurando no outro um sentimento de bem-estar.
Manifestam um medo intenso de abandono e um desejo de fuso com o outro. No entanto,
apresentam uma grande insatisfao pela percepo de no dependncia do outro, o que
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conduz a sentimentos de desconfiana e cime. A prestao de cuidados minada pela
ansiedade (Collins & Read, 1990; Feeney, 1998; Feeney & Noller, 1990; Hazan & Shaver,
1987; Simpson, 1990). Adultos considerados evitantes ou desligados apresentam uma
grande dificuldade em depender do outro, desvalorizando a necessidade de proximidade e
suporte e manifestando uma crena na independncia e auto-suficincia (Collins & Read,
1990; Feeney & Noller, 1990; Hazan & Shaver, 1987). H um evitamento da intimidade
atravs de um distanciamento emocional e do desconforto com a proximidade fsica
(Feeney, 1999). As relaes caracterizam-se por nveis baixos de compromisso e
interdependncia e nveis elevados de emoes negativas (e.g. hostilidade). No papel de
prestadores de cuidados mostram uma baixa responsividade s necessidades do outro(Collins & Read, 1999; Feeney & Noller, 1990). Kirkpatrick e Davis (1994) exploram
igualmente as relaes entre o estilo de vinculao e dimenses relacionais. Numa anlise
longitudinal, com uma amostra inicialmente constituda por 354 casais, verificam que os
homens com um padro de vinculao inseguro-desligado tendem, comparativamente com
os seguros, a manifestar menor satisfao, intimidade e compromisso, e comparativamente
com os homens inseguros-preocupados tendem a referir menor paixo e tambm menor
compromisso na relao. Relativamente s mulheres, so as inseguras-preocupadas que
revelam menor satisfao e carinho e ndices de conflito e ambivalncia mais elevados,
comparativamente com as mulheres seguras.
O estudo de Collins e Feeney (2000) confirma a ideia de Bowlby de que procurar e
prestar cuidados um processo didico. Numa amostra com 93 casais, os resultados
revelam que indivduos avaliados como seguros ao se confrontarem com situaes
percepcionadas como ameaadoras manifestam mais comportamentos de procura de
cuidados, o que por sua vez est associado a uma prestao de cuidados mais efectiva por
parte do parceiro. Indivduos considerados evitantes mostram-se mais ineficazes na procura
de cuidados enquanto que para os indivduos ambivalentes essa ineficcia acentua-se ao
nvel da prestao de cuidados. Tambm Simpson, Rholes e Nelligan (1992) ao avaliarem
os comportamentos de vinculao em 83 casais numa situao em que a mulher
confrontada com uma experincia geradora de ansiedade, verificam que as mulheres
evitantes procuram menos suporte dos parceiros medida que os seus nveis de ansiedade
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aumentam, ao contrrio do que acontece com as mulheres seguras. Posteriormente,
Simpson, Rholes e Phillips (1996) ao observarem uma amostra 123 pares de namorados
durante a discusso de um assunto problemtico da relao verificam que os sujeitos
ambivalentes apresentam nveis de ansiedade superiores, maior hostilidade e percepcionam
os seus parceiros de forma mais negativa. Collins e Feeney (2003, cit in Collins & Feeney,
2004) observam igualmente que os sujeitos esto mais dispostos a procurar suporte em
situaes problemticas quando sentem que o seu parceiro os ama e responsivo s suas
necessidades.
O modo como o indivduo lida com emoes negativas trata-se, segundo Feeney (1998,
1999), de uma capacidade essencial no desenvolvimento de uma relao ntima. Diferenasno estilo de vinculao podero reflectir diferentes experincias de regulao emocional. Ao
longo do desenvolvimento, o indivduo constri estratgias que lhe permitem organizar
emocionalmente as experincias, confrontando-se com os sentimentos negativos.
esperado que os indivduos seguros, com base nas suas experincias, lidem com as
emoes negativas de um modo construtivo, reconhecendo o distresse procurando suporte
na figura de vinculao. Verifica-se nestes sujeitos uma maior expressividade emocional que
resulta numa vivncia mais positiva das relaes afectivas, uma melhor comunicao e uma
maior capacidade de negociao e resoluo de conflitos (Collins & Read, 1999; Feeney &
Noller, 1990; Feeney, 1999; Fuller & Fincham, 1995). Os indivduos evitantes tendem a
negar ou minimizar a expresso e o reconhecimento de sentimentos negativos e a recorrer a
estratgias de evitamento e distanciamento face a situaes de conflito. Relativamente aos
indivduos considerados ambivalentes, estes mostram uma elevada vigilncia e expresso
de afecto negativo como forma de manter o contacto com o outro (Feeney, 1999). Tambm
Simpson (1990) no seu estudo observa que sujeitos seguros referem com maior frequncia
emoes positivas e percebem a sua relao de uma forma mais positiva do que os
ambivalente e evitantes. Pistole (1989 cit in Feeney & Noller, 1996) num estudo onde
procura analisar as implicaes dos diferentes estilos de vinculao nas situaes de
resoluo de conflitos verificou que indivduos seguros usam mais estratgias integrativas e
colaborativas do que os evitantes e os ambivalentes. O estudo de Simpson e cols. (1996)
revela que indivduos ambivalentes reagem menos positivamente em situaes onde tm
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que discutir um problema, apresentam nveis mais elevados de ansiedade durante a
interaco e raiva e hostilidade dirigidas ao parceiro.
Alguns destes estudos (e.g. Collins & Read, 1994; Feeney & Noller, 1990; Hazan &
Shaver, 1987) procuram analisar ainda em que medida as experincias de vinculao na
infncia relacionam-se com os padres de vinculao ao par amoroso. Os resultados
sugerem uma associao positiva entre a percepo da qualidade da relao estabelecida
na infncia com os pais e o padro de vinculao com o par amoroso. Isto , indivduos
avaliados como seguros na relao amorosa tendem a caracterizar a relao na infncia
com os pais como mais carinhosa, protectora e segura, quando comparados com os outros
padres de vinculao. Estes dados so consistentes com a teoria que, como j vimos,reala a influencia que os acontecimentos ocorridos durante a histria relacional do
indivduo, e em particular os modelos internos dinmicos construdos a partir das
interaces com as figuras de vinculao primrias, tm na capacidade do indivduo
estabelecer relaes afectivas na idade adulta.
Apesar da universalidade das caractersticas que definem