AVALIAÇÃO DA PRÁTICA DE PRECEPTORIA APÓS FORMAÇÃO … CRISTINA ROCHA.pdf · 1 Hulda Cristina...
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1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
NÚCLEO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL PARA A SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM CIÊNCIAS E SAÚDE
HULDA CRISTINA ROCHA
AVALIAÇÃO DA PRÁTICA DE PRECEPTORIA
APÓS FORMAÇÃO PEDAGÓGICA
RIO DE JANEIRO
2012
1
Hulda Cristina Rocha
Avaliação da prática de preceptoria
após formação pedagógica
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Saúde, do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na linha de pesquisa de Formação Profissional e Docente nas Ciências e na Saúde, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação em Ciências e Saúde.
Orientadora: Victoria Brant Ribeiro
Professora Associada - UFRJ
RIO DE JANEIRO 2012
Rocha, Hulda Cristina Avaliação da prática de preceptoria após formação pedagógica.
Rio de Janeiro: UFRJ / Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, 2012.
104 f. Orientadora: Victoria Maria Brant Ribeiro. Dissertação (mestrado) – UFRJ / Núcleo de Tecnologia
Educacional para a Saúde, Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Saúde, Rio de Janeiro, BR-RJ, 2012.
Referências bibliográficas: f. 88-97. 1. Preceptoria médica. 2. Educação Médica. 3. Internato e
Residência. 4. Humanos. 5. Educação em Ciências e Saúde – Tese. I Ribeiro, Victoria Maria Brant. II Universidade Federal do Rio de Janeiro, Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Saúde. III. Título.
2
Hulda Cristina Rocha
Avaliação da prática de preceptoria
após formação pedagógica
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação em Ciências e Saúde, do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, na linha de pesquisa de Formação Profissional e Docente nas Ciências e na Saúde, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Educação em Ciências e Saúde.
Aprovada em 10 de dezembro de 2012
_______________________________________________________________ Profa. Victoria Maria Brant Ribeiro
Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
_______________________________________________________________ Profa. Miriam Struchiner
Doutora em Educação pela Boston University, Estados Unidos
_______________________________________________________________ Profa. Maria Paula Cerqueira Gomes
Doutora em Psiquiatria e Saúde Mental pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
3
Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
Fernando Pessoa Dedico esta dissertação aos meus amados Guilherme, Daniel e Caio, que me ajudaram a fazer essa travessia.
4
Agradecimentos
À minha estimada orientadora, professora Victoria, pelo acolhimento e disponibilidade, por sua atuação profissional de forma firme e bem humorada, que norteou a construção de meus conhecimentos no campo da Educação. A todos os docentes do NUTES, pela minha formação em Educação em Ciências e Saúde. Aos profissionais que tornam possível a realização do Curso de Formação Pedagógica para Preceptores, por sua dedicação extrema, amor e confiança na construção de um futuro melhor para a educação médica. Ao meu esposo, amigo e grande incentivador, Guilherme, sem o qual não teria sido possível chegar até aqui. Aos meus filhos, pela compreensão, apoio e incentivo nessa empreitada. Aos meus pais, pelo exemplo e apoio que sempre deram. Aos meus colegas de trabalho do Serviço de Anestesiologia do HUCFF, pela compreensão e pelo apoio de que necessitei para realizar este trabalho. A todos os preceptores que participaram da pesquisa, dedicando uma parte do seu tempo para responder aos questionários.
5
A utopia está no horizonte, acerco-me um passo e ela se afasta dois. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos mais. Por muito que eu caminhe - Nunca a alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso. Para nos fazer caminhar.
Eduardo Hughes Galeano
6
RESUMO
Rocha, H.C. Avaliação da Prática de Preceptoria após Formação Pedagógica. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Saúde) – Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.
O homem tem experimentado transformações científicas e tecnológicas
que influenciam diretamente toda a sociedade. Cada país, de acordo com sua
cultura e grau de desenvolvimento, deve integrar essas mudanças nos vários
setores da sociedade. Na área médica não é diferente. A evolução tecnológica e
científica teve como consequência transformações no conceito de saúde, no direito
à saúde e no dever de buscá-la ativa e interativamente; o médico tem papel
fundamental como agente nestes processos. Este profissional ao ingressar no
mercado de trabalho deve ter sua formação ajustada às novas concepções, às
necessidades de uma sociedade em constante desenvolvimento. Nos dias
correntes, há uma busca por profissionais que aliem competência cognitiva e
conhecimento tecnocientífico com valores éticos e humanísticos. Para esses
objetivos serem alcançados, há que se repensar sua formação, analisando e
propondo um modelo de ensino e de aprendizagem que não se baseie no modelo
tradicional mecanicista, hospitalocêntrico, focado no professor. Tal intento só será
atingido quando forem conquistados para essa tarefa aqueles que respondem pela
formação desses novos médicos: o corpo docente das instituições de ensino. Fica
claro que é preciso mais que competência específica no exercício da prática
médica para habilitar-se na tarefa de ensinar. Assim, torna-se urgente a
capacitação dos profissionais ligados ao processo de ensino médico nas práticas
pedagógicas, qualificação rara entre docentes. Várias são as estratégias
desenvolvidas visando modificar esse panorama. Na Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ) é oferecido, para profissionais do seu complexo hospitalar,
curso de formação pedagógica para preceptores do internato médico. A função de
preceptoria possui características fundamentalmente docentes, uma vez que o
preceptor atua junto a alunos, internos e residentes, na construção de
conhecimentos específicos da sua área, em atividades que os capacitam para
exercerem atividades práticas e, frequentemente, experimentam com eles algumas
7
inserções teóricas. Desta forma as palavras preceptor e professor são
consideradas sinônimos no decorrer desta dissertação.
Tomando-se o trabalho de conclusão do curso, em que são propostas
intervenções no ambiente laboral, este trabalho avalia, por meio de questionário,
se estas intervenções foram implantadas e quais os desdobramentos desta
realização. Em uma fase seguinte, foram feitas novas entrevistas, procurando
dados que comprovem ter havido uma maior sensibilização desses profissionais no
que toca à forma de ensinar e de construir a aprendizagem em suas práticas
diárias e o que foi reconfigurado nesses cenários.
Descritores: Preceptor. Educação Médica. Internato Médico.
8
ABSTRACT
Rocha, H.C. Avaliação da Prática de Preceptoria após Formação Pedagógica. Dissertação (Mestrado em Educação em Ciências e Saúde) – Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012.
Mankind has experienced scientific and technological changes that directly
influence the whole society. Each country, according to their culture and level of
development should incorporate these changes in the various sectors of society.
The medical universe is not different. The scientific and technological developments
led to changes in the concept of health, the right to health and the duty to seek it
actively and interactively. In this aspect the doctor has a key role as agent of health
promotion. The medical professional starting a career should adjust their training to
new ideas in order to tackle the needs of a society in constant development.
Nowadays the demand for professionals that combine cognitive ability and
technical-scientific knowledge with ethical and humanistic values is increasing. In
order to achieve such goals, we must rethink the education of a preceptor,
reconstructing a model of teaching and learning, being the preceptor the physician,
lecturer or not, the person behind the specific knowledge in the area, the one who
works it with the doctors to be. That result would be reached only by conquering
those responsible for teaching the future physicians: the teachers. Clearly it takes
more than specific medical skills to qualify for the task of teaching and learning; so
it becomes urgent to train health professionals involved in the process of medical
education in teaching practices, a rare skill among teachers. Several strategies are
developed aiming to change this situation. At the Federal University of Rio de
Janeiro, a course of pedagogical training for preceptor is offered to medical
internship lecturers of the University Hospital.
The preceptorship’s function has fundamental docent characteristics, for the
preceptor works directly with the students (interns) in the building of specific
knowledge in his area through activities that enable them to perform practical
activities, and the preceptor frequently experiences with the students some
theoretical insertions. In that way the preceptor and professor’s words are
considered synonyms throughout this paper.
9
Taking the end of studies project, in which work place interventions are
proposed, this paper assesses, using a questionnaire, if such interventions have
been installed and what are its outcomes. In a next step, new interviews have been
made searching data that prove these professional’s sensitizing to have been
successful when it comes to teaching and learning building methods in their daily
practice and what has been reconfigured in these scenarios.
Keywords: Preceptor. Medical Education. Medical Internship.
10
LISTAS DE QUADROS
QUADRO 1 - Conhecimentos importantes para docência 32
QUADRO 2 - Saberes importantes para docência 32
QUADRO 3 - Competências importantes para docência 33
QUADRO 4 - Responsabilidades do professor ao promover
aprendizagem
36
QUADRO 5 - Perfil dos respondentes 70
QUADRO 6 - Análise dos conteúdos identificados nas respostas do
primeiro questionário
72
QUADRO 7 - Análise dos conteúdos identificados nas respostas do
segundo questionário
80
QUADRO 8 - Análise dos conteúdos identificados nas respostas das
entrevistas da terceira fase
81
11
LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABEM Associação Brasileira de Educação Médica
BIREME Biblioteca Regional de Medicina
CFPPIM Curso de Formação Pedagógica de Preceptores do Internato Médico
CINAEM Comissão Interinstitucional Nacional de Avaliação do Ensino Médico
CLATES Centro Latino-Americano de Tecnologia Educacional para Saúde
DCN Diretrizes Curriculares Nacionais
GAP-USP Grupo de Apoio Pedagógico da Universidade de São Paulo
HUCFF Hospital Universitário Clementino Fraga Filho
IDA Integração Docente Assistencial
LCE Laboratório de Currículo e Ensino
NUTES Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde
OMS Organização Mundial da Saúde
PPP Plano Político Pedagógico
PROMED Programa de Incentivo a Mudanças Curriculares nos Cursos de
Medicina
PRÓ-SAÚDE Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional
TCC Trabalho de Conclusão de Curso
UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
UNI Uma Nova Iniciativa na Educação dos Profissionais de Saúde
12
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 13
Capítulo 1 - REVENDO A LITERATURA 19
1.1 A Construção do profissional médico: uma viagem no tempo 19
1.2 Docência: do geral ao particular 26
1.3 Conceito de competência 30
1.4 Formação pedagógica 38
1.5 As mudanças na educação médica 40
1.6 Formando o docente médico 44
1.7 O Internato médico 52
1.8 A preceptoria 53
Capítulo 2 – TECENDO A TEIA 57
2.1 Investigando resultados 59
2.2 Sobre saberes e reflexão 61
Capítulo 3 - A PRÁXIS DA PRECEPTORIA 69
3.1 Os saberes dos preceptores 69
3.2 Refletindo sobre a prática 75
3.3 O caminho da preceptoria 79
Capítulo 4 – CONCLUSÃO 85
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 88
ANEXOS 98
13
INTRODUÇÃO
Uma educação poética é uma educação que sabe que o ser humano está de passagem no mundo, que somos convidados da vida. Uma educação poética é uma educação que sabe que a palavra humana é plural e que esta palavra, ou palavras, tem sentido não somente pelo que dizem, pelo que podem dizer, mas também e essencialmente, pelo indizível, pelo silêncio, pelo testemunho, pela alteridade, pela ausência. E também pela fragilidade e vulnerabilidade, pela mestiçagem e a fronteira pelo desaparecimento de pontos de referências estáveis e absolutos (MÈLICH, 2001, p. 279).
No ano de 1984 conclui o curso de Medicina da Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) ingressando, em
seguida, no programa de Residência Médica da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ). Dois anos após, concluí a pós-graduação em Anestesiologia. A
partir de então iniciei minhas atividades como médica estatutária na área de
Anestesiologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF), uma das
maiores instituições ligadas ao ensino médico do país, vínculo que mantenho até
os dias de hoje. A equipe de anestesiologistas é constituída por diversos
profissionais que prestam serviço assistencial aos pacientes do HUCFF, além de
atuar em atividades de ensino junto a alunos, internos e residentes. Apesar da
distinção existente entre professores e médicos assistencialistas, na prática as
atividades desempenhadas são semelhantes. Como na maioria das instituições de
ensino médico, a formação dos professores em pouco ou nada difere da formação
dos médicos, respondendo todos da mesma forma pela transmissão de
conhecimentos aos alunos que passam pelo Serviço de Anestesiologia a cada ano.
Portanto, médicos e professores desenvolvem atividades de preceptoria
entendidas como aquelas que visam estimular a aprendizagem, introduzir os
alunos na prática clínica, desenvolver o processo de formação médica ética e
humanística.
Em tempos que décadas de conhecimentos podem ser facilmente
armazenados em um pequeno dispositivo de memória eletrônica, que cabe no
bolso de um aluno, é fundamental que repensemos todo o processo de construção
do conhecimento.
Somos fruto de um ensino médico nos moldes descritos por Flexner (1910):
hospitalocêntrico, focado na doença e consubstanciado no aprender por meio do
professor, o detentor do conhecimento. A nossa percepção do que é ser professor
14
ainda está vinculada à repetição de padrões herdados de nossos mestres. Diante
das transformações tecnológicas, do desenvolvimento científico incessante
gerando obrigatoriedade de permanente atualização, cria-se a necessidade de
mudar a forma de aprender e, portanto, as formas de construção do conhecimento
e de ensinar. É fundamental que todo profissional que tenha sob sua
responsabilidade a formação de alunos obtenha os conhecimentos necessários,
aprimorando-se na arte de ensinar. A forma amadorística da docência, que
infelizmente ainda é frequente em nosso meio, deve ceder à preocupação com a
capacitação na área pedagógica.
A UFRJ, por meio do Laboratório de Currículo e Ensino (LCE) do Núcleo de
Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES), oferece aos profissionais médicos
vinculados ao complexo hospitalar, curso de capacitação em formação pedagógica
no qual matriculei-me na terceira turma, com intenção de adquirir instrumentos
para atuar nas práticas de ensino com estudantes.
São essas oportunidades de crescimento pessoal e profissional que
possibilitam momentos de reflexões e mudanças no caminho que percorremos,
quebrando a forma mecânica e impensada de nossas ações diárias, permitindo
que pequenos movimentos na conduta individual possam significar grandes
mudanças para coletividade. Estamos diante de uma reforma curricular no curso
de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro que só poderá ser
realmente implantada quando os profissionais do ensino estiverem contaminados
por essa nova forma de pensar e de ser educador. Hoje a necessidade de
formação pedagógica nem se quer é percebida pela maioria dos preceptores. A
mentalidade ainda é aquela em que o saber científico e a excelência da prática
médica são essenciais para o ensino, sem que haja necessidade de
aprofundamento na prática guiada pelo conhecimento pedagógico.
A identidade docente não é construída, é intuída, ou copiada de modos de
ser de antigos professores. Dessa forma não há uma elaboração, mas sim uma
improvisação da formação docente, que se torna limitada, pois não há discussão
e reflexão sobre as práticas executadas. Segundo Venturelli (1997) esta é a melhor
forma de eternizar as limitações de um método que o tempo ultrapassou.
O Curso de Formação Pedagógica de Preceptores do Internato Médico
(CFPPIM) constitui hoje uma das principais estratégias para difusão das ideias aqui
apresentadas. Aprovado pelo Edital Mct-CNPq/MS-SCTIE-DECIT-No 23/2006, o
15
projeto fez parte, na ocasião, da linha de apoio Gestão da Educação em Saúde.
O planejamento do curso passou por diversas fases, visando construir um modelo
inicial. Em uma primeira fase foram identificados os personagens que atuavam na
preceptoria do internato médico da UFRJ, traçando o perfil dos preceptores que
atuavam nos dois principais hospitais, Hospital Universitário Clementino Fraga
Filho e Instituto de Pediatria e Puericultura Martagão Gesteira. Na fase seguinte foi
selecionado um grupo de oito médicos preceptores que se submeteriam a um
modelo de formação em uma experiência piloto, que utilizaria o método de
aprendizagem baseado em problemas (ABP). Após vários encontros foi possível
identificar o que os preceptores apontavam como nós críticos do exercício da
função, construindo-se, então, a primeira situação problema, utilizada como ponto
de partida para a experiência piloto (RIBEIRO, 2011).
O curso tem como eixos estruturais educação, trabalho e saúde, sendo
norteado por duas preocupações centrais: problematizar o ensino tradicional e a
realidade de saúde contemporânea, e desenvolver nos participantes a competência
de ensinar e aprender de modo colaborativo. Utiliza metodologias educacionais
orientadas por problemas que estabelecem ligações entre experiências em
desenvolvimento na preceptoria, conteúdos-problemas relacionados às questões
práticas trazidas pelos preceptores, problemas que dizem respeito ora aos
diferentes modelos de ensino, ora às diversas práticas assistenciais, de modo que
sejam criadas oportunidades para refletir, discutir e sistematizar a atividade de
preceptoria. As atividades são distribuídas em sessenta horas presenciais,
destinadas à discussão de problemas, desenvolvimento e avaliação do curso,
apresentações teóricas, treinamento de técnicas de ensino e outras cento e vinte
horas à distância, utilizando a plataforma Constructore, ferramenta virtual de
aprendizagem via internet desenvolvida no Laboratório de Tecnologias Cognitivas
– NUTES/UFRJ, para troca de resultados da busca de textos e de informações,
sínteses teóricas, produção coletiva de textos e inserção de recursos didáticos,
como vídeos, imagens e outros (CERQUEIRA GOMES, 2011).
Na dinâmica do curso, os eixos de trabalho são distribuídos com intervalos
de um mês, sendo elaborado pelos alunos um trabalho final cujo objetivo é propor
uma intervenção nos distintos cenários de práticas aos quais esses preceptores
estão vinculados, sob a orientação dos tutores. O eixo Educação, será estudado
neste trabalho que ora desenvolvo, sendo os demais, trabalho e saúde, abordados
16
apenas quando estiverem imbricados na exposição das funções do médico
preceptor.
O grau de influência na atividade laboral dos alunos que realizaram o
Curso de Formação Pedagógica de Preceptores do Internato Médico precisa ser
estudado, investigando se o preceptor egresso desse curso tornou-se capaz de
reestruturar suas atividades diárias como educador de futuros profissionais, capaz
de refletir sobre suas funções docentes, modificando o ser preceptor. Em suma,
procurar estabelecer se o curso está sendo realmente um facilitador das
transformações necessárias para prática da preceptoria médica.
A desvalorização do papel dos profissionais da área educativa, segundo
Pinto (2008), decorre do desconhecimento do que está sendo feito e,
principalmente, da falta de troca de informações, tanto dos resultados positivos
alcançados quanto das dificuldades encontradas. Com a investigação da
repercussão deste curso nos cenários onde atuam esses preceptores, com
posterior divulgação dos resultados encontrados, que poderão apontar possíveis
ratificações e/ou retificações de sua metodologia, pretendo destacar a importância
da capacitação pedagógica na valorização daquele que atua na educação médica:
o preceptor.
Conforme o exposto até aqui, identifica-se um nó crítico quando se pensa
em aprimorar o ensino médico: profissionais médicos ligados ao ensino de saúde
carecem de competências pedagógicas fundamentais para o exercício de uma
docência de qualidade. Apesar de exercerem a prática docente, a maioria dos
preceptores não possui capacitação específica para o ensino, baseando suas
ações em experiências anteriores adquiridas durante sua própria formação. Ações
visando melhorar a formação de profissionais médicos vêm sendo realizadas,
como discussões sobre o currículo e formas de aperfeiçoar a capacitação
pedagógica dos profissionais docentes. O Curso de Formação Pedagógica de
Preceptores do Internato Médico é uma estratégia importante para modificar o
atual panorama de ensino médico da UFRJ, em total sintonia com as novas
exigências curriculares. Em sua quarta versão, este curso apresenta aos
responsáveis pela formação dos profissionais médicos metodologias ativas de
aprendizagem, discutindo a relação preceptor aluno-paciente, além de enfatizar os
processos de trabalho em saúde e o de ensino-aprendizagem, com foco nos
processos e técnicas de avaliação.
17
Essa pesquisa estudou as mudanças geradas na prática docente dos
preceptores que adquiriram conhecimentos e capacitação por meio do Curso de
Formação Pedagógica de Preceptores do Internato Médico. O trabalho analisou
dados que indicam se houve um movimento real e efetivo no sentido de habilitar o
preceptor a implementar novos métodos pedagógicos que possibilitam a formação
de um profissional médico que responda às necessidades da sociedade.
Buscou-se responder se o curso despertou nos preceptores a consciência
de que a atividade docente exige capacitação própria e específica, e se, de fato, os
capacitou para uma prática instrumentalizada, com domínio da formação
pedagógica, com percepção da dimensão do exercício da preceptoria e a
preocupação em formar um profissional crítico, reflexivo, com autonomia para
realizar as transformações necessárias ao ensino em saúde em nosso país.
Foram utilizados questionários para os egressos do curso, procurando
identificar se conseguiram efetivar em suas práticas as propostas de intervenção
descritas em seus Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC).
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais (MINISTÉRIO DA
EDUCAÇÃO, 2001), o ensino médico deve ter um projeto pedagógico centrado no
aluno como sujeito da aprendizagem e apoiado no professor como facilitador e
mediador do processo ensino-aprendizagem. Para tanto, o professor deverá ser
competente na utilização de metodologias ativas de aprendizagem, na inclusão das
dimensões humanísticas e éticas, integrando formações biológicas, psicológicas
sociais e ambientais; deverá promover a integração e a interdisciplinaridade
organizando a prática médica e o trabalho em equipe multiprofissional.
As condutas pessoais, as práticas médicas, as formas de pensar não são
transformadas por meio de decisões administrativas. Há necessidade de despertar
nos professores a consciência de que é preciso buscar a formação adequada às
novas orientações. Segundo Batista (2004) há necessidade de se repensar
estratégias que possibilitem aos professores uma conscientização de seu novo
papel e que, desta forma, possam assumir junto à instituição de ensino o
compromisso com a formação médica adequada por meio da dimensão mediadora
que exercem na relação existente entre os alunos e o conhecimento.
O Curso de Formação Pedagógica para Preceptores do Internato Médico
vem ao encontro desses objetivos. Ao final de sua quarta versão surgem várias
indagações. O propósito deste curso está sendo alcançado? Que impacto teve na
Acho que pode ser bem mais enriquecida teórica e conceitualmente sua justificativa; a justificativa pode ser para a Ufrj ( o que representa estudar a UFRJ) não circunscrever a Ufrj, mas ampliar; o que repesenta a Ufrj?, Há questões teórico-metodológicas inovadoras
no seu projeto Tardif e Schon por exemplo, que contribuem p este campo
18
vida prática dos preceptores que fizeram o curso? Houve uma mudança no modo
de ser, na ação do trabalho médico junto aos alunos?
A mudança no papel do docente deve ser assumida com responsabilidade
pelos dirigentes e professores; só assim avançaremos na melhoria da qualidade da
formação do profissional médico. Afinal, a formação e o aperfeiçoamento do corpo
docente devem acontecer de acordo com o planejamento curricular pretendido,
para que os objetivos sejam alcançados, pois qualquer modificação na prática
educativa só será efetiva quando impregnar os pensamentos e as ações dos
professores (SACRISTÁN, 1998).
O presente trabalho justifica-se pela importância em acompanhar o
despertar daqueles que desenvolvem funções de preceptoria para a real
importância do educador, da complexidade do ensinar em toda sua dimensão,
tanto pedagógica, quanto humana e ética.
Segundo Zabalza (2004), as universidades são instituições formativas, não
devendo, portanto, ser desprezado o papel dessa função primordial, nem tampouco
a importância daqueles que exercem a formação. Uma vez que o preceptor médico
insere-se no campo educacional como agente formador, com relevância no ensino
médico, a análise das práticas educacionais de egressos de um curso de
capacitação pedagógica oferecido na esfera pública do ensino superior poderá
levar ao entendimento da viabilidade de projetos similares no espaço universitário;
da possibilidade de, por meio deste curso, realizar educação permanente de forma
abrangente, e, mais especificamente, educação permanente em saúde,
valorizando formadores e investindo na qualidade do ensino universitário.
O aprofundamento do estudo da práxis de uma atividade profissional, após
capacitação pedagógica iniciada pelo curso, poderá ampliar a compreensão de
como se realiza a construção de um conhecimento na prática profissional e
desvelar a riqueza da construção de uma identidade profissional por meio da
reflexão, re-significando seu modo de ser e de estar na profissão.
19
1 REVENDO A LITERATURA
1.1 A construção do profissional médico: uma viagem no tempo
Os sacerdotes, desde o século VII a.C., foram os primeiros médicos que,
inspirados pelos deuses, praticavam a arte de curar. De acordo com Pesotti (1996,
p. 441) “enquanto delegados da divindade, ministros dela, os sacerdotes-médicos
eram os mesmos que decidiam e doutrinavam em matéria de ética, de convivência
humana ou, noutros termos, de ética social”. Na segunda metade do século V a.C.,
o pensamento médico de Hipócrates marcou o fim da era sacerdotal da Medicina e,
juntamente com a filosofia humanística de Sócrates, esvaziaram os poderes do
mito e do dogma e trouxeram o apego à racionalidade.
Com Hipócrates, e mais tarde Galeno, a arte médica perdeu a orientação
teológica, ganhando uma visão humanística, filosófica. As formações médica e
humanística passaram a ser indissociáveis. O médico se aprofunda nos saberes da
natureza humana e da ética.
Alguns séculos se passaram até que, com Descartes, surgiu o dualismo da
fisiologia cartesiana. No século XVII, o saber médico se afastou da filosofia do
Homem, inaugurou o florescimento das ciências naturais e do espírito científico,
instituiu a separação entre uma vida subjetiva e uma vida objetiva do corpo, regida
pelas leis da física e da química. Há uma separação do homem filosófico (que
sente, pensa e sofre) do homem anatomofisiológico. O médico competente passou
a não se remeter a sistemas éticos ou filosóficos; se ateve a eventos físicos,
materiais. A euforia científica, com triunfo da racionalidade, trouxe o método
científico como instrumento definitivo no domínio da natureza. A racionalidade
científica, técnica, surgiu nesse momento e vigora até os dias de hoje.
A base científica do saber médico trouxe prestígio social ao médico
cientista do século XVII e XVIII, tornando provável a eficácia curativa sobre os
órgãos e funções. A arte médica tinha respeitabilidade, não pela sua autoridade
moral ou por ser um ministro do divino, mas por um culto à ciência que o tornou
médico de corpos doentes e não mais de homens doentes.
As primeiras escolas médicas na era medieval traziam em seu currículo
estudos e recitações dos textos hipocráticos e galênicos, além de um ensino
prático da profissão. Com a evolução do estudo das ciências básicas, como a
20
Anatomia Patológica (Morgani no século XVII/XVIII e Virchow século XIX), da
Microbiologia (Pasteur e Koch, nos séculos XIX e XX) e da Fisiologia (Claude
Bernard, no século XIX), o ensino médico se modificou, tornando o saber médico
cada vez mais científico (NEVES, 2005).
Com a chegada do século XX, palco de grandes transformações sociais,
observou-se um desenvolvimento científico e tecnológico sem precedentes. No
cenário internacional, por encomenda do governo americano, é feito um estudo
com vistas a sistematizar o ensino médico do país, culminando, em 1910, com o
lançamento para sociedade do Relatório Flexner (FLEXNER, 1910). Esse relatório
teve repercussão internacional, influenciando o currículo das escolas médicas
nacionais. No Brasil, em 1968, durante o regime militar, a partir da Lei Federal
5.540, que tratava da reforma universitária, as escolas médicas passaram a adotar
oficialmente o modelo americano, abandonando o modelo europeu, até então
vigente (BRASIL, 1968). Houve importante avanço científico com o advento de
novas especialidades. Nos currículos dos cursos de graduação, as cátedras foram
substituídas por disciplinas, agrupadas em ciclo básico, nos dois primeiros anos, e
ciclo profissionalizante, nos últimos quatro anos. Nesse período, como Neves
(2005) recorda, aconteceu uma verdadeira explosão do número de escolas
médicas; entre 1966 e 1971 foram criadas mais de trinta e cinco novas escolas.
Em 1945, em nosso país, foram criados o Conselho Federal de Medicina e
os Conselhos Regionais, trazendo uma nova ordem à categoria médica. Na década
de sessenta, com impulso dado pelo aceleramento da industrialização no país, há
uma ampliação no campo da medicina, com melhor entendimento do processo
saúde, com grande foco na força de trabalho.
Em 1969, o Conselho Federal de Educação, alertado sobre os riscos
decorrentes do aumento não planejado do número de escolas médicas no país,
criou as diretrizes para a revisão dos currículos tradicionais e estabeleceu o
currículo mínimo. O currículo mínimo visava garantir o conteúdo básico necessário
à formação do profissional médico. Nas décadas seguintes, desacelerou-se a
criação de novas escolas médicas no país, só voltando a crescer em 1990.
Segundo Rego (2003), a política adotada pelo governo Fernando Henrique admitiu
a livre criação desses cursos, que eram avaliados por meio de um exame nacional,
com a participação de todos os graduandos: o “provão”. As escolas médicas
passaram a ter autonomia na determinação do currículo médico e o Governo
21
Federal passou apenas a limitar o perfil desejado para o estudante de medicina,
que incluía a preparação de um profissional com atitude ética, formação
humanística, consciência da responsabilidade social, capacidade de atuar em
equipe interdisciplinar e multiprofissional, dentre outros (LAMPERT, 2008).
No cenário internacional, desde a década de 60, começam a despontar
movimentos de insatisfação com o chamado paradigma flexneriano: tecnicista,
hospitlocêntrico, biologicista, baseando a aprendizagem em um conhecimento
fragmentado, apresentado por disciplinas que não dialogam entre si. Nos EUA e
Canadá, como reação ao excesso de especialização, surge uma primeira resposta
no sentido da formação do médico de família, um médico generalista. Partindo dos
modelos propostos por esses países, amplia-se a necessidade de se priorizar o
atendimento básico em saúde e de buscar os currículos entre as ofertas de saúde
em medicina geral e em especialidades, visando a universalidade e a equidade na
atenção primária (LAMPERT, 2001). Esse movimento culmina com a Conferência
em Alma Ata, em 1978, que resultou na Declaração Saúde para Todos, assinada
por representantes de 134 países, sendo a primeira declaração internacional que
despertou e enfatizou a importância da atenção primária em saúde, conclamando
todas as nações a se empenharem na garantia desse nível de atenção. Com a
evidente crise do paradigma vigente, cria-se a necessidade de construção de um
novo modelo.
Em 1988, é promulgada a nova Constituição Federal (BRASIL, 1988), a
Constituição cidadã, criando o Sistema Único de Saúde (SUS), uma vitória do
movimento da reforma sanitária. Em 1997, o edital do Ministério de Educação e
Cultura (MEC) expôs parâmetros para as instituições de ensino superior e para a
comunidade interessada apresentarem propostas de novas diretrizes curriculares,
definindo as competências e habilidades necessárias para a formação médica. No
Brasil, no final do século XX, a sociedade organizada, reunindo a ABEM, Comissão
Interinstitucional Nacional de Avaliação do Ensino Médico (CINAEM) e Rede
Unida, com a participação das escolas médicas, constroem as diretrizes
curriculares para a formação do profissional no curso de graduação, com vista ao
atendimento integral da saúde da população. Embutido neste processo surge um
novo paradigma, o paradigma da integralidade. Finalmente, em 2001, foram
homologadas as Diretrizes Curriculares Nacionais (BRASIL, 2001).
22
As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) têm por objetivo construir um
perfil acadêmico e profissional com competências, habilidades e conteúdos
contemporâneos, além de permitir aos profissionais atuarem com qualidade e
resolubilidade, no contexto do Sistema Único de Saúde do país. Procura-se, desta
maneira, abandonar a visão anterior do ensino baseado exclusivamente no
diagnóstico e tratamento. As DCN do Curso de Graduação em Medicina, de acordo
com a Resolução nº 4 da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de
Educação, de 7 de novembro de 2001, estabelecem, em seu Artigo 3º, que o Curso
de Graduação em Medicina tem como perfil a ser gerado no egresso: profissional
médico com formação generalista, humanística, crítica e reflexiva, além de estar
capacitado a atuar de forma ética nos diversos níveis de atenção do processo
saúde doença, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação à
saúde. No mesmo artigo, expressa que tais ações devem manter perspectiva de
integralidade da assistência, com senso de responsabilidade social e compromisso
com a cidadania, cabendo a esse profissional promover a saúde integral do ser
humano. Em seu Artigo 4º traça as competências e habilidades que deverão ser
desenvolvidas na formação do profissional médico.
Competência, no contexto da formação médica, é um termo complexo que
envolve a articulação de aprendizados nas esferas cognitiva, psicomotora e sócio
afetiva. O conceito de competência a ser empregado como referencial teórico deve
integrar aspectos relativos aos atributos do aprendiz, às tarefas a serem
desempenhadas e ao contexto da prática profissional, considerando suas
dimensões sócio-culturais, político-econômicas e histórico-geográficas (SANTOS,
2011).
Tais competências e habilidades são especificadas em seis tópicos:
atenção à saúde, tomada de decisões, comunicação, liderança, administração e
gerenciamento, e, por último, educação permanente. Analisando-se cada uma
dessas competências é possível estabelecer o que realmente se espera de um
médico recém-formado. Quanto à última competência – educação permanente –
assim enuncia o texto das DCN:
Educação permanente: os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática. Desta forma, os profissionais de saúde devem aprender a aprender e ter responsabilidade e compromisso com a sua
23
educação e o treinamento/estágios das futuras gerações de profissionais, proporcionando condições para que haja beneficio mútuo entre os futuros profissionais e os profissionais dos serviços, inclusive, estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmico/profissional, a formação e a cooperação através de redes nacionais e internacionais (BRASIL, 2001, DCN, art.4º, inc.VI).
Refere, portanto, que a educação deve ser buscada de maneira continua,
permanentemente, ponto imprescindível no mundo moderno, em que últimos
conhecimentos tornam-se obsoletos em pouco tempo. A única forma de o
profissional garantir a qualidade de seus serviços é manter-se em permanente
formação, o que exige a prática contínua do aprender a aprender, colocando nas
mãos do homem contemporâneo a capacidade e a responsabilidade de ser
partícipe de um projeto de aprendizagem desejado. A capacidade de aprender a
aprender equivale a “ser capaz de realizar aprendizagens, em diferentes situações
e contextos que favoreçam a aquisição de estratégias cognitivas, considerando-se
as condições individuais de cada sujeito na interação com seus pares” (ISAIA,
2006, p. 493).
Cabe ressaltar aqui que há uma diferença entre os termos de educação
continuada e educação permanente, que embora não sejam opostos, conferem
especificidade ao processo ensino-aprendizagem (MOTTA, 2004). Motta refere que
o termo permanente teria como referência uma estratégia de reestruturação e
desenvolvimento dos serviços, a partir da análise dos determinantes sociais e
econômicos, mas, em especial, de transformação de valores e conceitos dos
profissionais. Propõe transformar o profissional em sujeito, inserindo-o no centro do
processo de ensino/aprendizagem. Esse mesmo autor lembra que o termo
continuada engloba atividades de ensino após o curso de graduação, com
finalidades mais restritas de atualização, aquisição de novas informações e/ou
atividades de duração definida e por meio de metodologias tradicionais.
Segundo Zabalza (2004, p. 60), a tarefa formativa da universidade, se
efetiva, deve se estender por longo prazo, e deve ser medida pelos efeitos de: “um
desejo por aprender, abertura de possibilidades que envolvam o sujeito em
processos de busca constante por qualificação, capacitação com atitudes, técnicas
e competências que o habilitem para continuar aprendendo por si mesmo, etc”.
Essa é uma concepção que está incluída na idéia de educação permanente.
24
As DCN, no artigo 4º, inciso VI, destacam que o profissional deverá ter
responsabilidade e compromisso com sua educação e com o treinamento de
futuras gerações de profissionais. Estabelecem de forma indireta uma nova
competência a ser desenvolvida pelo profissional de saúde: a competência
pedagógica. Além disso, a prática diária faz com que o médico adote junto a seu
paciente a posição de educador, o que também é previsto no artigo 5º, inciso IV
das DCN. Assim, o formando deverá receber conhecimentos que garantam a
correta utilização de ferramentas e instrumentos de ensino, capacitando-o para o
pleno exercício de suas funções.
Depreende-se de forma clara que o profissional médico exigido pela
sociedade deve possuir conhecimentos múltiplos, que envolvam, além da
medicina, conhecimentos de administração, economia, políticas sociais,
pedagogia, enfim, conhecimentos de diversas outras áreas que serão úteis no
desempenho de sua vida profissional futura.
É óbvio que em apenas seis anos de curso a capacitação em tantas áreas
parece ser algo próximo ao utópico. Daí a grande importância de aprender a
aprender, que possibilita ao médico em formação ser capaz e corresponsável pela
construção de sua aprendizagem, que deve continuar ao longo de toda sua vida
profissional.
Esse parece ser um dos principais pontos que devem nortear o ensino
médico, como estabelecem as DCN. A busca ativa pelo conhecimento deve ser a
companheira inseparável daqueles que optam por trilhar os caminhos da Medicina.
Só assim conseguirão atuar de forma plena.
As Instituições de Ensino Médico foram apresentadas a um novo
planejamento curricular que toma como um dos pilares o paradigma da
integralidade1.
A transformação de um modelo não é tarefa fácil. Exige tempo e atenção
aos processos de mudança. Nesse contexto, as instituições médicas se viram
1 O paradigma da integralidade (LAMPERT, 2004) tem sido proposto como substituto ao paradigma
flexneriano, tradicional e dominante. Tem como características foco na saúde e não na doença; atenção ao processo ensino aprendizagem centrado no aluno, que tem participação ativa na sua própria formação; inclusão na prática no sistema de saúde em graus diferentes de complexidade; ênfase na capacitação docente com destaque tanto na competência técnico científica quanto na didático pedagógica; e acompanhamento da dinâmica do mercado de trabalho médico orientado pela reflexão crítica dos aspectos econômicos e humanísticos da prestação de serviços de saúde. (COSTA, 2007).
25
frente a frente com diversos desafios: ausência de formação pedagógica para os
professores, pouca intimidade com a área das ciências sociais, forte resistência por
parte dos professores em romper modelos tradicionais de formação, receio de
inserir os estudantes precocemente no campo prático sem os conceitos das
ciências básicas consolidados, dificuldade para integrar conhecimentos com outras
áreas do saber, problemas de ordem pedagógica, enfim, surgiram inúmeras
dificuldades a serem transpostas (RIBEIRO, 2005).
As DCN, como o próprio nome diz, não são uma imposição curricular, mas
uma direção que norteia as escolas na construção do seu Plano Político
Pedagógico (PPP). A capacitação docente é questão primordial para que se
obtenha êxito na reforma curricular, com implantação e manutenção das
mudanças. É fundamental a conscientização do corpo docente quanto à
necessidade de transformação do modelo de educação médica. Para isso, o PPP,
além de discutido e divulgado, deve procurar engajar todo o corpo docente no
processo de sua implantação.
Fica claro que para se tornar um educador de um novo profissional, o
professor também terá que buscar complementos à sua formação. Portanto, uma
das questões primordiais a considerar é como educar os educadores, para que
correspondam às necessidades e demandas sociais da área da saúde, trazendo
para o debate o saber/fazer docente e o saber/fazer profissional (AMORETTI,
2005).
Há um grande movimento nacional de mudança nos currículos de
faculdades da área da saúde trazendo possibilidades de inovação curricular, o que
provavelmente resultará em perfil do profissional médico mais adequado a atuar no
milênio que se inicia. Para tanto, há que se alterar a organização da ação
administrativa e pedagógica para que resultem em novas formas de ensino,
aprendizagem, metodologia e avaliação. (ANASTASIOU, 2007). Em decorrência
disso também os currículos precisam ser reestruturados quebrando, por exemplo, a
tradição jesuítica vigente ainda em muitas escolas.
Neste modelo, o conteúdo está pronto e definido e é de conhecimento do
docente, que deve simplesmente transmiti-lo; do ponto de vista administrativo, há
predominância da organização do currículo em grade, que divide o conhecimento
em áreas, e as disciplinas justapostas ou mesmo isoladas. Ainda neste modelo, o
ciclo básico é separado do profissionalizante, encontrando-se no primeiro as
26
disciplinas da base conceitual e, a seguir, no ciclo profissionalizante, o preparo
para as práticas. Conserva a visão da modernidade, período em que o
conhecimento foi dividido em áreas, visando aprofundamento e objetividade, mas
carregando em si um distanciamento das questões humanas (ANASTASIOU,
2007).
Como observa Anastasiou (2012, p. 48-9): “O currículo deve superar a
visão fragmentada disciplinar chegando a processos de construção integrativa do
conhecimento, organizando um [...] caminho de reconstrução articulada do todo”.
Um novo modelo curricular busca resgatar um olhar integral do homem,
recompondo o binômio corpo/mente, trazendo para formação do profissional
médico a dimensão humanística, a compreensão do homem como um ser integral.
Citando mais uma vez Lampert (2007):
O desafio se mostra para todos os que de algum modo estão comprometidos com a formação profissional na área da saúde, governo e sociedade, focalizando as escolas que, fazendo o diagnóstico situacional em busca de atender às DCN, devem mobilizar atores internos, reservando tempo e espaço para planejar e construir mudanças e indicadores que acompanhem seus processos e resultados (ações e avaliações) (LAMPERT, 2007, p. 52).
Como personagem importante neste cenário em transformação, o docente
deve ser in-formado e buscar educar-se de forma permanente, para que possa
exercer a formação de profissionais médicos atendendo a currículos inovadores,
imprimindo conceito de flexibilização às suas práticas pedagógicas, adaptando-se
à evolução do ser humano que vive na sociedade do conhecimento.
1.2 Docência: do geral ao particular
Quem forma se forma e re-forma ao formar e quem é formado forma-se e forma ao ser formado. É neste sentido que ensinar não é transferir conhecimentos, conteúdos, nem formar é ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem discência, as duas se explicam e seus sujeitos, apesar das diferenças que os conotam, não se reduzem à condição de objeto, um do outro. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender. Quem ensina ensina alguma coisa a alguém. Por isso é que, do ponto de vista gramatical, o verbo ensinar é transitivo-relativo. Verbo que pede um objeto direto
27
– alguma coisa – e um objeto indireto – a alguém (FREIRE, 2011, p. 25).
Os docentes do ensino superior, de uma forma geral, são contratados
usando-se como critério fundamental a competência na área técnica de sua
atuação. Com os preceptores médicos, que exercem junto aos graduandos de
medicina funções docentes, tendo ou não um título de professor, o processo se
passa da mesma forma. Como citado por Cunha (2004):
O professor do ensino superior, diferentemente dos outros graus de ensino, se constituiu, historicamente, tendo como base a profissão paralela que exercia no mundo do trabalho. A ideia de quem sabia fazer também sabia ensinar deu sustentação à lógica do recrutamento dos docentes (CUNHA, 2004, p. 2).
A mesma autora constata que diferente do ensino fundamental e médio, o
ensino superior é o único que não requer uma formação específica para o
magistério, bastando para ser profissional do ensino superior, ter graduação em
qualquer especialidade. Refere ainda que as instituições de ensino têm procurado
mudar esta situação, exigindo dos candidatos que concorrem a vagas de docente,
mestrado e doutorado, sem, contudo, oferecerem (ou exigirem) preparação
específica para o magistério (CUNHA, 2004). É consenso geral entre pesquisadores
que professores do ensino superior, em sua grande maioria, voltam-se
prioritariamente para os conhecimentos específicos de sua área, objetivando formar
profissionais com sólida base em sua especialidade e, mesmo os possuidores de
títulos acadêmicos de mestrado e doutorado, pouca relevância tem dado a sua
formação como professores, isto é, a sua preparação para a função de educadores,
existindo uma lacuna na formação dos docentes do ensino superior. Cunha (2009b),
referindo-se à formação docente, diz que:
Não raras vezes as avaliações realizadas pelos alunos e reafirmadas pelos coordenadores de cursos de graduação indicam que os mais prestigiosos pesquisadores não alcançam êxito como docentes. E essa não é uma situação esdrúxula; somente reafirma que a preparação para a pesquisa não contempla os saberes da docência e, muitas vezes, desestimula os professores a essa função (CUNHA, 2009b, p.10).
28
Na área médica, na maioria das escolas nacionais, como também no
cenário internacional, não há exigência de preparo pedagógico e nem a
preocupação em um preparo específico nesse campo para os professores
contratados (CINAEM, 1999; BATISTA, 1998; LAMPERT, 2002; FEUERWERKER,
2002a). O mesmo se aplica à contratação dos preceptores médicos.
Em trabalho que procura avaliar a percepção de melhoria das práticas dos
professores da Faculdade de Medicina de Notingham, no Reino Unido, Dennick
(2003) conclui que os professores afirmaram em questionário de auto avaliação,
que se sentiam mais confiantes na sua prática pedagógica, tendo posto em prática
as técnicas que tinham aprendido na formação e, por outro lado, que os estudantes
tinham se beneficiado com a melhoria da competência pedagógica dos seus
professores. Levando-se em consideração que as instituições de ensino são
basicamente formativas e que indicadores de produção científica ou técnica não
asseguram qualidade na formação do aluno, recomenda-se que a formação
pedagógica do professor universitário seja encarada como prioridade em qualquer
política de educação. De acordo com Zabalza (2004):
Uma lacuna tradicional na bagagem profissional (dos professores universitários) foi justamente a dimensão formativa. Muitas vezes, sua identidade é moldada, e os professores vêem a si mesmos mais como pesquisadores (no campo científico) ou como profissionais (no campo aplicado: médico, advogado, etc.) do que como professor de fato e, menos ainda, como formador (ZABALZA, 2004, p. 114).
Na opinião do Grupo de Apoio Pedagógico da Universidade de São Paulo
(GAP-USP) essa situação tende a se agravar na medida em que a universidade é
pressionada a atuar não como uma instituição social, mas como organização
social, preocupando-se com índices de produtividade, com ênfase em avaliações
quantitativas, perdendo o que há de essencial na docência: a formação (PIMENTA
& ALMEIDA, 2011).
Apesar da formação do professor universitário suscitar discussões no
âmbito educacional há mais de quarenta anos, só recentemente o tema tem sido
colocado em discussão no meio médico. A profissionalização docente tem sido
tema de vários autores da área educacional, como Tardif (2011), Paquay (2001),
Contreras (2002) e Perrenoud (2002).
29
O profissional médico que atua em uma universidade acumula funções. O
prestígio profissional dos docentes decorre quase exclusivamente das atividades
assistenciais, científicas e investigativas, ficando em segundo plano a atividade
docente. Segundo Cross (2001), hoje se vive uma mudança de paradigma em que
o objetivo da universidade deverá ser mais o de produzir aprendizagem do que dar
instrução. Costa (2005), analisando professores de Medicina, identificou limites na
prática pedagógica e os dilemas do cotidiano docente, indicando a importância de
estabelecer-se um programa de formação e desenvolvimento permanente do corpo
docente.
A mudança de enfoque, do ensino para a aprendizagem, exige do
professor todo um novo conjunto de competências de natureza pedagógica
(LECLERCQ, 2001). Ele deve ser capaz de aplicar aos conteúdos que quer ensinar
um saber sobre educação (HADJI, 1997), transformando-o num saber próprio do
exercício da docência.
A propósito da aplicação à prática, do saber teórico, Shulman, em 1986,
introduz o conceito de conhecimento pedagógico do conteúdo que, precisamente,
liga o domínio dos conteúdos à capacidade de os compreender e de os transmitir
aos outros de forma acessível (PINTO, 2008). Passa‑se, nas palavras de Nóvoa
(1988), da velha metáfora de Bernard Shaw “quem sabe faz, quem não sabe
ensina”, para a metáfora “quem sabe faz; quem não sabe, mas domina os
procedimentos pedagógicos, ensina”, fase, segundo Nóvoa, de valorização das
ciências da educação em detrimento dos conteúdos acadêmicos e científicos das
disciplinas, e, posteriormente para, “quem sabe faz, quem compreende ensina”.
Pimenta & Almeida (2011, p. 27) trazem a concepção ecológica de formação
docente que visa um profissional que “dá conta de enfrentar situações
problemáticas contextualizadas, em meio às quais ele saiba não só o que fazer e
como fazer, mas também por que e para que fazê-lo”.
Pachane (2005, p. 23), em seu artigo que aborda teoria e prática na
formação pedagógica do docente universitário, argumenta que “a formação
pedagógica do professor universitário constitui-se num processo de extrema
importância, pois é através dela que o docente, ou futuro docente, se qualifica para o
exercício do magistério”. Mais a frente, citando Vasconcelos (1998), dá à formação
pedagógica uma perspectiva reflexiva quando assim a aborda:
30
É por meio da formação pedagógica do professor que se dá a ele ‘o tempo, absolutamente indispensável, para ‘pensar’ a educação: seus objetivos, seus meios, seus fins, seus raios de influência, seu envolvimento com a sociedade, seu compromisso com todos os alunos que pela escola passam’, possibilitando superar práticas e crenças assumidas, muitas vezes de modo inconsciente, ainda durante seu próprio processo de formação enquanto aluno (PACHANE, 2005, p. 23).
A docência no ensino superior constitui um espaço próprio e distinto de
competências profissionais (ZABALZA, 2003), isto é, de profissionalidade docente.
Como referido por Pinto (2008, p. 114), a profissionalidade docente implica “o
domínio de um conjunto de conhecimentos e técnicas e uma prática pautada por um
referente de normas e valores e que, não sendo uma entidade estática, pode
expressar-se por diferentes maneiras de estar na profissão”.
Altet, Perrenoud e Paquay (2003) afirmam que a “profissionalidade pode ser
definida em termos de funções específicas a assumir, de competências a aplicar,
mas também em termos de identidade e de questões sociais e éticas postas em
jogo”. Sintetizando, seria “o conjunto de competências que um profissional deveria
ter ou, ainda, o conjunto de competências reconhecidas socialmente como
características de uma profissão”. Para esses autores o termo profissionalidade
engloba capacidades, saberes, cultura, identidade e refere-se às noções de
profissão e de profissionalização; citando Courtois, entendem que diz respeito mais
“à pessoa, às suas aquisições, à sua capacidade de utilizá-las em uma dada
situação, ao modo de cumprir as tarefas” (ALTET, PERRENOUD E PAQUAY, 2003,
p. 235).
O docente médico, o médico com função docente, enfim, os educadores dos
futuros profissionais médicos devem se conscientizar da necessidade de se
profissionalizarem, voltando-se para as competências necessárias para exercer a
função de formadores, construindo, assim, sua profissionalidade.
1.3 Conceito de competência
Fica claro que o professor do ensino superior tem que adquirir
conhecimentos além dos que usualmente possui, qualificando-o como profissional
de educação. Surge então a questão: quais seriam as competências pedagógicas
específicas necessárias à formação do docente universitário? Antes de abordar as
31
competências, procurou-se entender como os principais autores que estudam o
tema definem o conceito de competência. Usando como referência o artigo de
Puentes (2009) – Profissionalização dos professores: conhecimentos, saberes e
competências necessários à docência – vemos que os teóricos partem da premissa
de que existe um conjunto de conhecimento base (knowledge base) para o ensino,
que torna possível, por meio de sua validação e aperfeiçoamento, melhorar a
formação docente. Segundo levantamento feito pelo autor, a denominação dada a
esse conjunto de conhecimentos varia, de forma que vamos encontrar autores que
os nomeiam “conhecimentos necessários a docência”, “saberes necessários a
docência” e “competências necessárias a docência”. As pesquisas que foram
estudadas correspondem aos trabalhos de Shulman (1987), García (1992), Freire
(1996), Gauthier (1998), Braslavsky (1999), Pimenta (1998, 2002), Masetto (1998),
Perrenoud (2000), Tardif (2003), Cunha (2004) e Zabalza (2006). Segundo Puentes,
no Brasil, a introdução da temática dos saberes da docência deu-se, inicialmente,
pelas obras de Tardif (1991), de Gauthier (1998), de Shulman (1987) e,
posteriormente, pela divulgação dos trabalhos de autores brasileiros, como Freire
(1996), Masetto (1998), Pimenta (1998, 2002) e Cunha (2004), e europeus, como
Perrenoud (2000).
Os saberes, conhecimentos ou competências hoje estudados permitem
conceber o ensino como uma atividade de nível complexo, desde que sejam
identificados quais saberes são estes e qual importância de cada um.
Seguindo com o estudo feito por Puentes (2009), podemos correlacionar os
principais estudiosos por ele elencados com a terminologia utilizada, separando-os
naqueles que citam os conhecimentos importantes para docência, os que
descrevem os saberes e os que utilizam competências.
Assim, Shulman (2005) e Garcia (1992) utilizam a tipologia de
conhecimentos importantes para docência, agrupando-os de formas distintas
(QUADRO 1).
Outros autores, como Freire (2000) e Pimenta (2002) utilizam os termos
saberes importantes para docência. Freire propõe, em seu trabalho, dez saberes
indispensáveis ao docente, enquanto Pimenta, por sua vez, sintetiza os saberes
necessários em quatro grupos. Outros autores também são citados utilizando a
descrição de saberes, como Gauthier (1998), Tardif (2003) e Cunha (2004). O
32
Quadro 2 reúne esse grupo de estudiosos que utilizam essa mesma orientação
(QUADRO 2).
QUADRO 1 CONHECIMENTOS IMPORTANTES PARA DOCÊNCIA
Autor Descrição dos aspectos apresentados
Shulman (2005) – conhecimento: 1. do conteúdo; 2. pedagógico (que se entende por conhecimento didático geral); 3. do currículo; 4. dos alunos e da aprendizagem; 5. dos contextos educativos; 6. didático do conteúdo; e 7. dos objetivos, finalidades e valores educativos, incluindo seus
fundamentos filosóficos e históricos.
Garcia (1992) – conhecimento: 1. pedagógico geral; 2. de conteúdo; 3. do contexto, que faz referência ao lugar onde se ensina, assim
como a quem se ensina; e 4. didático do conteúdo
Fonte: Elaborado pela autora com base em Puentes, 2009.
QUADRO 2 SABERES IMPORTANTES PARA DOCÊNCIA
Autor Descrição dos aspectos apresentados
Freire (2000) – ensinar:
1. não é transferir conhecimentos; 2. exige rigorosidade metódica; 3. exige pesquisa; 4. exige respeito aos saberes do educandos; 5. exige criticidade; 6. exige estética e ética; 7. exige a corporificação das palavras pelo exemplo; 8. exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação; 9. exige reflexão crítica sobre a prática; e 10. exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural
Pimenta (2002) – saberes:
1. da experiência; 2. da área do conhecimento específico; 3. pedagógicos; e 4. didáticos.
Gauthier (1998) – saber:
1. disciplinar, 2. curricular, 3. das ciências da educação, 4. da tradição pedagógica, 5. experiencial; e 6. da ação pedagógica.
Tardif (2003) – saberes:
1. da formação profissional; 2. disciplinares; 3. curriculares; e 4. experienciais.
Cunha (2004/2011) – saberes:
1. ligados ao contexto da prática pedagógica, 2. relacionados a ambiência de aprendizagem, 3. sobre o contexto sócio histórico dos alunos, 4. ligados ao planejamento das atividades de ensino, 5. relacionados com a condução da aula; 6. da avaliação da aprendizagem; e 7. referentes à dimensão relacional e coletiva das situações de trabalho e dos
processos de formação.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Puentes, 2009, e Pimenta & Almeida 2011.
33
Masetto (1998), Braslavsky (1999), Perrenoud (2000) e Zabalza (2006)
compõem o grupo de autores que utilizam a terminologia de competências,
descrevendo em seus trabalhos, quais aquelas necessárias à boa prática da
docência (QUADRO 3).
QUADRO 3 COMPETÊNCIAS IMPORTANTES PARA DOCÊNCIA
Autor Descrição dos aspectos apresentados
Masetto (1998) – competência:
1. em uma área específica (em uma determinada área de conhecimento); 2. na área pedagógica; e 3 na área política.
Braslavsky (1999) – competência:
1. pedagógico didática; 2. institucional; 3. produtiva; 4. interativa; e 5. especificadora.
Perrenoud (2000) – competência de:
1. organizar e dirigir situações de aprendizagem; 2. administrar a progressão das aprendizagens; 3. conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação; 4. envolver os alunos em suas aprendizagens e em seu trabalho; 5. trabalhar em equipe; 6. participar da administração da escola; 7. informar e envolver os pais; 8. utilizar novas tecnologias; 9. enfrentar os deveres e os dilemas éticos da profissão; e 10. administrar sua própria formação contínua.
Zabalza (2006) – competência de:
1. planejar o processo de ensino-aprendizagem; 2. selecionar e preparar os conteúdos disciplinares; 3. oferecer informações e explicações compreensíveis e bem organizadas . . . . .
. . (competência comunicativa); 4. manejar as novas tecnologias; 5. conceber a metodologia; 6. comunicar-se e relacionar-se com os alunos; 7. exercer a tutoria; 8. avaliar; 9. refletir e pesquisar sobre o ensino; e 10. identificar-se com a instituição e trabalhar em equipe.
Fonte: Elaborado pela autora com base em Puentes, 2009.
Os autores concluem que as classificações e as tipologias analisadas são
plurais, diversas e heterogêneas, tornando-se muito difícil um estudo comparativo
entre as mesmas. O agrupamento em três diferentes famílias: conhecimentos,
saberes e competências, permite identificar que:
O significado conceitual dos termos empregados, para referir-se ao conjunto de capacidades mais ou menos sistematizadas necessárias para pôr em prática a profissão de professor (‘conhecimentos’, ‘saberes’ e ‘competências’), é quase o mesmo nos onze autores consultados. Para todos eles, a profissionalização da docência compõe-se de três ingredientes fundamentais, mas não suficientes: de saber, de saber-fazer e de saber-ser, apresentados na forma de saberes, de conhecimentos ou de competências (PUENTES, 2009, p. 182).
34
Portanto, em vista do exposto, observamos que há, entre os teóricos,
semelhanças conceituais a respeito dos termos saberes, competências e
conhecimentos. Apenas o modo como abordam esses termos, o que destacam
como capacidades essenciais para o exercício da docência e como entendem a
importância de cada um deles é que difere. Essa diversidade de enfoques, que nas
palavras de Puentes, são plurais e heterogêneas, impossibilita um estudo
comparativo. (PUENTES, 2009).
Masetto e Zabalza, no levantamento feito por Puentes, se distinguem na
abordagem das competências profissionais dos professores que exercem a
docência no âmbito do ensino superior e, juntamente com Perrenoud, fornecem a
mais ampla e completa das classificações localizadas e analisadas sobre os saberes
associados à profissionalização dos professores.
Masetto, que segundo Puentes (2009) é um especialista em questões de
formação pedagógica de professores do ensino superior no Brasil, propõe ao final da
década de 90, uma tipologia própria das competências pedagógicas para a
profissionalização da docência do ensino superior. Segundo Masetto (2003, 2009),
são três as competências específicas da docência no ensino superior, assim
descritas e explicadas:
(i) competência em uma área específica (em uma determinada área de
conhecimento), referente a um domínio dos conhecimentos
considerados básicos (cognitivos), conhecimentos e práticas
profissionais atualizados (por meio de: congressos, cursos de
aperfeiçoamento, especializações, intercâmbios, etc.) e domínio em
uma área específica de conhecimento pela pesquisa (entende por
pesquisa preparação de trabalhos preparados para apresentação em
congressos e simpósios, produção de “papers”, redação de capítulos
de livros e artigos para revistas especializadas e um nível de pesquisa
que envolve projetos maiores voltados à produção de conhecimentos
científicos novos, inéditos ou produção de tecnologia de ponta que
enriquecerá o domínio de conhecimento que se espera do docente);
(ii) competência na área pedagógica, relacionada com o conhecimento do
próprio conceito de processo de ensino-aprendizagem (acentua que o
objetivo máximo da docência é a aprendizagem dos alunos,
destacando a importância do professor entender com clareza o que
35
significa aprender atualmente, quais as teorias e pressupostos da
aprendizagem especialmente voltada às pessoas adultas, como
integrar no processo de aprendizagem o desenvolvimento cognitivo,
afetivo emocional, de habilidades e formação de atitudes, como
aprender a aprender permanentemente), dos processos de concepção
e gestão do currículo (destaca a necessidade do professor perceber a
ligação de sua disciplina com as demais do mesmo curso, a
possibilidade de interação entre elas e interroga se a
interdisciplinaridade seria uma utopia), ao conhecimento dos princípios
relacionados com a relação professor-aluno e aluno-aluno no processo
de aprendizagem (importante o professor desenvolver uma atitude de
parceria e corresponsabilidade dos alunos na sua formação
profissional), e domínio da teoria e da prática básica da tecnologia da
educação (uso de diferentes dinâmicas de grupo, técnicas de aula e
aplicação de tecnologias de informação e comunicação relacionadas
com informática e telemática num processo de educação presencial ou
à distância);
(iii) competência na área política (capacidade para o exercício da
dimensão política), associada à figura do professor como cidadão e
como alguém comprometido com seu tempo, sua civilização e sua
comunidade (destaca a necessidade do professor discutir com seus
alunos os aspectos políticos de sua profissão e de seu exercício na
sociedade, para nela saberem se posicionar como cidadãos e
profissionais).
Outro autor, Meyer (2006), afirma que:
Nos dias atuais, o problema da aprendizagem constitui-se como foco mais importante no processo e não mais no ensino. Atualmente já está bem disseminado o entendimento de que o que mais importa não é o que o professor ensina, mas o que o aluno aprende. Em países como os EUA, a avaliação da aprendizagem já é algo permanente na educação superior. O bom ensino será aquele que melhor contribua para uma maior aprendizagem do aluno (MEYER, 2006, p. 6).
36
Nesse mesmo artigo, o autor refere-se à Dressel (1978) quando este
enfatiza o que chamou de principais responsabilidades do professor ao promover a
aprendizagem (QUADRO 4).
Cunha (2009c) ao abordar o preparo docente para saber ensinar um
conhecimento específico, cita que Pimenta e Anastasiou (2002) detectam entre
docentes universitários, “o desconhecimento científico do que seja o processo de
ensino e de aprendizagem, pelo qual passam a ser responsáveis a partir do instante
em que ingressam na sala de aula” (CUNHA, 2009c, p. 95). Aponta que o
despreparo para o exercício da profissão agrava-se no trabalho solitário de
planejamento de aulas, na escolha de metodologias de ensino e da avaliação, a
partir das ementas prontas que costumam receber.
QUADRO 4 REPONSABILIDADES DO PROFESSOR AO PROMOVER APRENDIZAGEM
1. motivar o aluno, estimulando-o a estudar determinada matéria ou conteúdo; explicar a relevância de
determinada disciplina para a formação do aluno e para seus principais objetivos educacionais
2. orientar os alunos a absorver o conhecimento novo, além do comportamento e da capacidade dele
decorrentes
3. prover conteúdos/ material que possam ser completos e que tenham significado aos alunos. Muitas vezes,
esses alunos não entendem a razão de se estudar determinado conteúdo ou ler determinado texto
4. proporcionar ao aluno um sentimento de satisfação à medida que o progresso vai ocorrendo ao longo do
período de estudo. É importante que o professor identifique para os alunos os sucessos e as falhas,
comentando as razões das últimas
5. organizar as experiências de aprendizagem de forma clara e sequenciada tornando-as visíveis ao
aluno, que passa a entendê-las, já que a aprendizagem de partes isoladas de um contexto ou de um
conjunto ou habilidades isoladas de uma ação maior e mais completa geram confusão e frustração aos
alunos e devem ser evitada
6. auxiliar os alunos a definir padrões aceitáveis de desempenho, devendo o professor fornecer os meios e
critérios que serão utilizados no exame do desempenho discente em relação aos padrões
estabelecidos. Para que os alunos possam melhor acompanhar sua aprendizagem é necessário que
o docente informe como os esforços deles serão avaliados
7. estimular cada aluno a estabelecer relações entre a disciplina que está cursando e outros aspectos externos
àquela disciplina. O propósito é fazer com que o aluno, orientado pelo professor, procure desenvolver
habilidades próprias ao nível universitário. Assim, o aluno estabelece relações entre os conteúdos de uma
disciplina com outras constantes do currículo ou mesmo com o que se passa no mercado de trabalho e na
sociedade em geral
Fonte: Dressel (1978) apud Meyer (2006)
37
Mais adiante, no mesmo artigo, Cunha (2009c) destaca a possibilidade dos
professores compreenderem essa aprendizagem quando têm a oportunidade de:
[...] refletir e pesquisar de forma crítica, com os seus pares, sobre as práticas educativas e quando, além disso, explicitam as suas crenças e preocupações, analisam os contextos e a partir dessas informações, experimentam novas formas para as suas práticas pedagógicas. Esse processo possibilita a autonomia compartilhada e uma forma de articular teoria e prática, pela qual constroem saberes e competências, em busca de um aperfeiçoamento do seu fazer pedagógico (CUNHA, 2009c, p. 99).
Nessa perspectiva os cursos de pós-graduação em Educação podem ser um
lugar para a formação dos professores universitários e merecem a atenção dos
pesquisadores. Para Zabalza (2004):
O problema está em como chegar ao conjunto de alunos com que trabalhamos, já que as lições e explicações tradicionais não servem. Por isso, é evidente a necessidade de reforçar a dimensão pedagógica de nossa docência para adaptá-la às condições variáveis de nossos estudantes. Impõe-se a nós a necessidade de repensar as metodologias de ensino que propomos a nossos estudantes (considerando a condição de que estamos trabalhando para um processo de formação contínua); a necessidade de revisar os materiais e recursos didáticos que colocamos à disposição de nossos alunos a fim de que facilitem sua aprendizagem; a necessidade de incorporar experiências e modalidades diversas de trabalho. [...] Este não é, naturalmente, um trabalho fácil; ao contrário disso, exige uma reconstrução do perfil habitual dos professores universitários (ZABALZA, 2004, p. 31).
Isaia (2008) contribui com o mesmo pensamento, afirmando ser necessário
que os professores, além de considerarem seus domínios específicos, invistam na
dimensão pedagógica da docência. Essa dimensão envolve atividades e valores
traduzidos em: (a) sensibilidade frente ao aluno; (b) valorização dos saberes da
experiência; (c) ênfase nas relações interpessoais; (d) aprendizagem compartilhada;
(e) integração teoria/prática; (f) o ensinar enfocado a partir do processo de aprender
do aluno, tudo isso voltado para o desenvolvimento desse sujeito como pessoa e
profissional, constituindo, desse modo, uma pedagogia própria para esse nível de
ensino, o que chamamos de pedagogia universitária (ISAIA, 2006). O desafio é
grande, mas pode ser enfrentado, desde que se empenhem para sua realização
docentes e instituições, criando condições para que os professores possam se
38
transformar em educadores. Segundo Cunha (2007), “a pedagogia universitária se
faz em diálogo. Este envolve o conhecimento específico e o conhecimento
pedagógico, num exercício interpessoal que requer respeito e humildade” (CUNHA,
2007, p. 19).
A sociedade da informação torna cada vez mais prescindíveis instituições
universitárias e profissionais docentes como fonte para obtenção e acesso ao
conhecimento. Este fato imprime na profissionalidade docente uma urgência de
mudança, observando a ruptura do antigo paradigma que trazia o professor como
detentor do conhecimento, entendendo a nova concepção profissional que tem por
função, nas palavras de Isabel Cunha (2000) ser “ponte entre o conhecimento
disponível de todas as maneiras e as estruturas cognitivas, culturais e afetivas dos
educandos” (CUNHA, 2000, p. 48). A autora defende que é nessa direção que
precisamos reconstruir a função docente, aceitando o desafio de uma nova
perspectiva para a profissionalização.
O médico docente deverá reconstruir um conhecimento pedagógico para
que possa exercer uma pedagogia universitária apropriada à formação médica, que
vem revestida de um novo paradigma que requer a desconstrução do conceito
tradicional de educação, e revisão do modelo flexneriano.
1.4 Formação pedagógica
Uma vez aceita a ideia que a formação pedagógica para a profissionalização
é imprescindível, como proceder para que esta seja alcançada pelo corpo docente?
Em que momento o candidato a professor deve ter acesso a essa formação? Quem
se responsabilizaria por fornecer esse domínio ao profissional docente? Quanto aos
formatos a utilizar, o foco de desenvolvimento profissional dos professores tem se
deslocado do apoio a esses profissionais na aquisição de novas competências ou de
novos conhecimentos para a oferta de oportunidades para refletirem criticamente
sobre as suas práticas e para adaptarem, aos seus contextos, novos conhecimentos
e novas formas de intervenção (CHICKERING-GAMSON, 1987; DARLING
HAMMOND-MacLAUGHLIN, 1995). Poder-se-á dizer que, a partir da identificação de
novas necessidades, assistimos ao aparecimento de diferentes estratégias globais
de formação.
39
Chamlian (2003), concluindo artigo sobre docência universitária, ao abordar
professores inovadores na Universidade de São Paulo, diz acreditar que:
A primeira tarefa da formação pedagógica seria a de promover uma sensibilização à dificuldade pedagógica. Tal sensibilização tanto poderia ocorrer mediante a frequência de disciplinas ou programas com essa finalidade, bem como poderia ser desenvolvida por uma equipe que congregasse professores mais experientes e iniciantes, de modo que as experiências fossem confrontadas e analisadas. Este, tudo indica, já seria um grande passo para a reflexão sobre a atividade de ensino no contexto da universidade (CHAMLIAN, 2003, p. 62-3).
Para Masetto (2003) os cursos de pós-graduação poderiam arcar com essa
responsabilidade, uma vez que formam pesquisadores e docentes para o ensino
superior. Porém, observa-se nos dias de hoje que tais cursos primam em
desenvolver aspectos ligados à pesquisa, o que, sem dúvida, também é necessário
à formação docente, contudo, não bastam a uma formação pedagógica plena,
extremamente complexa, como apresentada pelos autores citados nesse trabalho.
Enfatizando a importância da pesquisa no desenvolvimento docente, Cunha (2007)
afirma que:
[...] ter capacidade investigativa é condição fundamental para o professor universitário. Sem realizar uma reflexão teórico-prática sobre os fundamentos da profissão docente, o professor da educação superior repete os modelos profissionais históricos, isto é, toma como base das suas decisões pedagógicas as experiências que teve ao longo de sua formação estudantil (CUNHA, 2007, p. 21).
Masetto sugere que os cursos de pós-graduação passem a organizar
também atividades de formação pedagógica para docentes do ensino superior, tanto
para os alunos quanto para aqueles que não estejam frequentando o curso no
momento, mas que façam parte de universidades ou instituições de ensino
responsáveis pela pós-graduação. Em artigo recente, Bastos (2011) conclui que:
Trata-se de ‘uma questão de grande relevância, que desafia docentes, pesquisadores, gestores, formuladores de políticas educacionais e agências – como conciliar, no âmbito de um programa de pós-graduação as missões de formar pesquisadores e docentes simultaneamente’. Interroga se haverá a possibilidade de
40
lidar, de forma articulada, com esses dois eixos de competências que, quando unidos, potenciam o bom desempenho dos nossos egressos da pós-graduação (BASTOS, 2011, p. 1153).
Isaia (2011) vê nas comunidades de prática pedagógica universitária, lócus
privilegiado de saberes docentes onde se problematiza a realidade profissional e
geram-se as prováveis soluções que são testadas e retornam como casuísticas para
a produção do conhecimento e de novas práticas.
Cunha (2009a) analisa que a universidade é o espaço indiscutível da
formação dos professores da educação superior, mas nem sempre se constitui em
lugar para essa formação, pois entende que “lugar representa a ocupação do
espaço pelas pessoas que lhe atribuem significado e legitimam sua condição”
(CUNHA, 2009a, p. 120). Enfatiza que o lugar deve se transformar em território de
formação docente, na medida em que denomina território como um lugar
reconhecido e valorizado institucionalmente por meio de dispositivos legais e
normativos.
Iniciativas isoladas de algumas universidades têm sido realizadas com intuito
de alcançar uma formação pedagógica que capacite os docentes do ensino superior.
Como ressaltado pelos docentes do GAP (Pimenta & Almeida, 2011, p. 78),
Anastasiou (2004) comenta que o tempo dispendido nesse processo é um dos
elementos essenciais da profissionalização docente e, não negando a validade de
palestras informativas, destaca que:
[...] a preparação docente envolve estabelecimento de objetivos, encaminhamentos e reencaminhamentos ao longo de tempo preestabelecido, tempo que seja suficiente para enfrentamento de problemas e diagnosticados e transformados em meta (PIMENTA & ALMEIDA, 2011, p. 78).
Na UFRJ, o Curso de Formação Pedagógica para Preceptores constitui-se
em um exemplo deste tipo de empreendimento.
1.5 As mudanças na educação médica
Toda essa transformação não passou despercebida pelo ensino médico. As
mudanças na área da saúde tiveram importantes indutores como a Organização
41
Pan-Americana de Saúde e a Fundação Kellog. Entre suas ações tivemos a criação
do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde,
também conhecido pelo nome de Biblioteca Regional de Medicina (BIREME) e o
Centro Latino-Americano de Tecnologia Educacional para Saúde (CLATES), hoje
Núcleo de Tecnologias Educacionais em Saúde, NUTES (CASOTTI, 2009).
Na década de 80 é constituída a rede IDA (Integração Docente Assistencial),
que articulava os projetos de integração docente-assistencial que existiam no Brasil
e tinha como característica principal promover o intercâmbio de experiências entre
seus membros. Nos anos 90, foi lançado o programa UNI - Uma Nova Iniciativa na
Educação dos Profissionais de Saúde - que, partindo da avaliação crítica das
experiências da rede IDA na América Latina pretendeu ir além do que já tinha sido
possível alcançar nas escolas, nos serviços e em sua relação com a comunidade.
Em 1991, outra iniciativa importante teve lugar no Brasil: em resposta à proposta de
se instituir um “exame de ordem” para a categoria médica, onze entidades ligadas
ao ensino e à prática médica instituíram a Comissão Interinstitucional de Avaliação
do Ensino Médico (CINAEM). Em 1998, houve uma fusão, com a entrada do
programa UNI na rede IDA, constituindo-se o que hoje conhecemos como rede
UNIDA (FEUERWERKER, 2002b).
Em 1997, o edital do Ministério de Educação e Cultura (MEC) expôs
parâmetros para as instituições de ensino superior e para a comunidade interessada
apresentarem propostas de novas diretrizes curriculares, definindo as competências
e habilidades necessárias para a formação médica. No final do século XX, a
sociedade organizada, reunindo a ABEM, Comissão Interinstitucional Nacional de
Avaliação do Ensino Médico (CINAEM) e Rede Unida, com a participação das
escolas médicas, constroem as diretrizes curriculares para a formação do
profissional no curso de graduação, com vista ao atendimento integral da saúde da
população.
Finalmente, em 2001, foram homologadas as Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCN) do Curso de Graduação em Medicina (BRASIL, 2001). Esta
legislação recomenda a formação de um médico generalista, humanista, crítico e
reflexivo, pautado em princípios éticos, capaz de atuar no processo saúde doença
em seus diferentes níveis de atenção, com responsabilidade e compromisso com a
cidadania (MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO, 2001).
42
As DCN constituem-se em mudança paradigmática do processo de
educação superior. O paradigma da educação médica tem sido caracterizado pelo
modelo resultante do Relatório Flexner (1910), que teve o mérito de organizar e
desenvolver o campo da saúde por meio de estudos e pesquisas, mas esse
processo se deu de forma fragmentada, por segmentos, consubstanciado nas
disciplinas. Como refere Lampert (2004, p. 23) “a fragmentação do conhecimento
nas diversas especializações ampliou e aprofundou o conhecimento, mas limitou a
visão e distanciou-se do ser humano como um todo no seu contexto”. Os
profissionais formados nesse modelo não dão conta da realidade da sociedade
atual que clama por um médico mais humano, ético, capaz de criticar e atuar na
busca de soluções de problemas. Há sinais claros de exaustão do chamado
paradigma flexneriano que, segundo Lampert:
Abre espaço para um modelo que preencha falhas e equilibre as oscilações entre tecnologia e humanismo, [...] orientando para o atendimento de necessidades sociais, sem reduzir o ritmo do desenvolvimento científico – a busca da excelência técnica com o da relevância social (LAMPERT, 2002, p. 39).
Na transição, como nos informa Perim (2009),
Passaríamos de um modelo flexneriano, biomédico e curativo para outro, orientado pelo binômio saúde doença em seus diferentes níveis de atenção, com ações de promoção, prevenção, recuperação e reabilitação da saúde, na perspectiva da integralidade da assistência; passaríamos de uma dimensão individual para uma dimensão coletiva; de currículos rígidos, compostos por disciplinas cada vez mais fragmentadas, com priorização de atividades teóricas, para currículos flexíveis, modulares, dirigidos para a aquisição de um perfil e respectivas competências profissionais, os quais exigem modernas metodologias de aprendizagem, habilidades e atitudes, além de múltiplos cenários de ensino. (PERIM, 2009, p. 71).
As escolas médicas hoje se encontram em estágios de transição que vão
desde a manutenção de um currículo tradicional, nos moldes flexnerianos,
passando por transformações graduais em direção ao currículo inovador almejando
o paradigma da integralidade.
43
Em artigo que aborda a formação médica, Perim (2009) refere que as DCN
norteiam um novo caminho onde coexiste integração de conteúdos e
desenvolvimento de competências e habilidades; apontam para o uso das
metodologias ativas de ensino que levam o estudante a aprender a aprender e se
faça sentir a necessidade da educação permanente; destacam a integração entre
ensino, serviços de saúde e comunidade, realizando a introdução do graduando à
realidade social; sinaliza a articulação entre pesquisa, ensino, extensão e
assistência; e “acima de tudo, a formação de profissionais com autonomia e
discernimento para assegurar a integralidade da atenção, além da qualidade e da
humanização do atendimento prestado aos indivíduos, famílias e comunidades”
(PERIM, 2009, p. 71).
O Ministério da Saúde, lançando mão de sua função de ordenar a
formação de recursos humanos para a saúde, instituiu em 2001 o Programa de
Incentivo a Mudanças Curriculares nos Cursos de Medicina (PROMED). Esse
programa tem o objetivo de reorientar a formação dos profissionais, reforçando as
mudanças no modelo de atenção à saúde e fortalecendo a atenção básica.
Enfatiza a necessidade de mudanças em diversos pontos de formação como:
orientação teórica, abordagem pedagógica e cenários de prática. Quanto à
abordagem pedagógica, recomenda a adoção de metodologias pedagógicas
ativas, centradas nos estudantes. Posteriormente, em 2005, os Ministérios da
Saúde e Educação lançam o Programa Nacional de Reorientação da Formação
Profissional (Pró-Saúde), com objetivo de reorientar a formação profissional, visando
à integração ensino serviço, assegurando uma abordagem integral com ênfase na
atenção básica. A partir de então as escolas médicas se voltam para utilização de
novos métodos com concentração no processo de aprender do aluno. As
metodologias ativas de ensino-aprendizagem surgem como promessa de uma
formação do estudante de medicina, em busca do perfil das DCN.
Por conta destas qualidades, vêm sendo muito utilizadas nos contextos de mudanças na formação profissional na área da saúde, sobretudo nas mudanças curriculares no ensino médico, já que pontuam que o professor ou educador deve ser um reconstrutor do conhecimento sob o ponto de vista não só da ciência e tecnologia, mas também da humanização na educação. Tais metodologias, ao compreenderem a complexidade do processo ensino-aprendizagem, assim como também seu caráter dinâmico, permitem a aprendizagem significativa, e não a memorização mecânica isolada,
44
e a real apreensão dos conceitos fundamentais ao estudo da Medicina (GOMES, 2011, p. 560).
A aplicação das metodologias ativas de ensino aprendizagem exige que o
docente tenha formação específica na área educacional, uma formação pedagógica.
Em artigo sobre desenvolvimento docente, onde são analisadas vinte e oito escolas
médicas, Perim (2009) identifica que este aspecto encontra-se distante do que é
preconizado pelas DCN. Observando a formação pedagógica oferecida por estas
escolas, conclui que 39% delas periodicamente realizam cursos de orientação
didático pedagógica, e que 28% não só oferecem como também exigem capacitação
didático pedagógica de todos os docentes. A autora deixa evidente que:
O investimento na capacitação docente, desde a formação didático pedagógica, a atualização científica até a capacidade gerencial, é fundamental para dar suporte às mudanças implementadas pelas escolas e para garantir a interação entre ensino, serviços e comunidade na formação do médico nessa nova perspectiva (PERIM, 2009, p. 81).
1.6 Formando o docente médico
Para que os egressos dos cursos de medicina tenham um novo perfil, os
Ministérios da Educação e da Saúde estão empenhados em efetivar mudanças na
formação do profissional médico. Para que tal objetivo seja alcançado, há que se
preparar aqueles que influenciarão diretamente na sua formação, os profissionais
responsáveis pelo ensino médico nos cursos de graduação em medicina. Segundo
Perim (2009):
É preciso reconsiderar os conhecimentos necessários à atuação docente, se objetivamos uma educação médica comprometida com a formação de profissionais qualificados do ponto de vista científico e humanístico para que possam cumprir seu papel na sociedade (PERIM, 2009, p. 80).
O docente do ensino superior, de maneira geral, e especificamente o
docente médico, não estão preparados para trabalhar com um currículo tão
diferente do tradicional, no qual está bem definido que ele é o responsável pela
matéria de sua disciplina assumindo a transmissão e avaliação da aquisição deste
45
conhecimento por parte do aluno, findando aí suas atribuições. Diante das novas
propostas curriculares, ele e seus colegas professores, atuando de forma
interdisciplinar, são responsáveis pela formação do novo profissional esperado
pela sociedade. Masetto (2009), em artigo que aborda a formação pedagógica dos
docentes do ensino superior, diz que “compreender essas novas propostas
curriculares e aprender como assumir suas responsabilidades de formação dos
atuais profissionais integram sua formação pedagógica” (MASETTO, 2009, p.16).
Segundo Costa (2005), o currículo tradicional, estruturado em disciplinas, é
o meio ideal para cultivar o professor que trabalha de forma isolada, independente
e sem comunicação com os demais, em suma, sem praticar a interdisciplinaridade.
A quebra de um paradigma, a aceitação de que há necessidade de se aderir a um
novo modelo educacional, não é tarefa fácil. Para superar o modelo tradicional,
adotado por longos anos, no qual a maioria dos docentes médicos foi formada, é
preciso mais do que estabelecer novas diretrizes educacionais. O paradigma da
integralidade (LAMPERT, 2004) tem sido proposto como substituto ao paradigma
flexneriano, tradicional e dominante. Tem como características foco na saúde e
não na doença; atenção ao processo ensino aprendizagem centrado no aluno, que
tem participação ativa na sua própria formação; inclusão na prática no sistema de
saúde em graus diferentes de complexidade; ênfase na capacitação docente com
destaque tanto na competência técnico científica quanto na didático pedagógica; e
acompanhamento da dinâmica do mercado de trabalho médico orientado, segundo
COSTA (2005), por uma abordagem crítica, refletindo aspectos econômicos e
humanísticos da prestação de serviços de saúde assim como de suas implicações
éticas.
Morin (1999) traduzindo toda essa complexidade, questiona como formar
os educadores se não reformarmos, nessa nova perspectiva, a educação; ou,
como reformar a educação se não formarmos novos educadores?
O docente médico, na maior parte dos casos, formado pelo modelo
hegemônico centrado no hospital, focado no professor e nas disciplinas, deverá
atuar como educador na nova proposta de formar médicos. Como nos afirma Perim
(2009), deverá ter capacidade de aprender a aprender, de entender a necessidade
de uma educação continuada e da educação permanente, de maneira que possa
atuar na formação de um profissional com as mesmas características; de interagir
46
com os demais docentes de modo interdisciplinar, com outros profissionais de
saúde, atuando com competência em equipes multidisciplinares; de compreender a
realidade do sistema único de saúde e refletir sobre ela, possibilitando a formação
de um futuro médico que compreenda e atenda às necessidades básicas de saúde
dos usuários.
Souza e Rangel (2003), pesquisando sobre avaliação nas escolas médicas,
relatam que o Projeto CINAEM – Comissão Interinstitucional de Avaliação do
Ensino Médico – constatou que o crescimento cognitivo ao longo do curso médico
é muito lento e que o resultado final fica aquém do desejável. Referem que, em dez
anos de desenvolvimento, esta comissão contou com a participação de cinquenta
escolas médicas, realizando amplos estudos que levaram a observar na prática:
A presença de elementos de um modelo pedagógico que ainda admite a fragmentação entre teoria e prática, falta de integração entre conteúdos, coexistência de disciplinas de maneira isolada e de forma hierárquica, centralização das atividades no professor, que, por sua vez, não teve uma formação específica para docência (SOUZA E RANGEL, 2003, p.215).
Segundo Lampert (2004), é preciso instituir um novo modelo pedagógico
para a educação médica, como proposto pelo paradigma da integralidade. Com
esse novo paradigma, como nos diz Carabetta (2007), pretende-se pensar e
integrar aspectos científicos, culturais, sociais, e econômicos para estabelecer uma
relação igualitária entre o social e a qualificação técnica.
Como fazer com que o professor médico assuma uma identidade docente,
mude sua postura profissional, entenda a importância de uma formação
pedagógica para atuar como docente médico? Para a reorientação da educação
médica, ampliando as perspectivas de transformações dos cursos, há que se
contar com o apoio institucional para desenvolver não apenas o conhecimento
técnico científico como também o processo de ensino aprendizagem.
Perim (2009), referindo-se ao desenvolvimento docente, enfatiza a
necessidade do corpo docente contar com esse apoio de forma permanente no
cotidiano das atividades didáticas e identifica as políticas da escola médica em
relação ao corpo docente:
47
As políticas da escola médica em relação ao corpo docente, que é o agente que orienta a formação do médico e define o perfil de assessoramento dos técnico-administrativos para desenvolver suas tarefas, e, para isto, considera-os elementos essenciais para que se favoreça o desenvolvimento docente (PERIM, 2009, p. 73).
Costa (2007), em artigo que versa sobre docência no ensino médico, cita
Batista (2004), quando este afirma haver diferentes concepções de formação
docente em saúde: a formação como processo de reflexão e a formação como
treinamento didático; entretanto, independente da concepção adotada, segue
enfatizando ser imprescindível que a formação docente se dê de modo
permanente, para que favoreça a evolução da formação médica, fato que é
reconhecido tanto pelos cursos inovadores como pelos tradicionais. Cabe aqui
destacar que as concepções de educação continuada e educação permanente
guardam algumas diferenças; para melhor compreendê-las recorro ao campo da
educação, de onde se originaram, e trago para o campo da saúde, em que foram
incorporadas. Com isso, tento demonstrar o quanto é importante alargar as
práticas de formação para além dos cursos de educação continuada, implantando
uma consciência da necessidade de se abrir espaço-tempo, nos locais de trabalho,
para que os profissionais reflitam sobre o que fazem, complementando sua
formação.
A educação continuada é definida, tanto no campo da educação como no
da saúde, como algo que engloba as atividades de ensino após o curso de
graduação, com finalidades mais restritas de atualização, aquisição de novas
informações, com duração definida e por meio de metodologias tradicionais. Na
área da saúde, entretanto, o enfoque é dado ao trabalhador, como podemos ler na
referência da Organização Mundial da Saúde, que conceitua a educação
continuada como um processo que inclui as experiências posteriores ao
adestramento inicial, que ajudam a pessoa a aprender competências importantes
para o seu trabalho (SAUPE, 2005).
Recorrendo a Saupe, temos que o conceito de educação permanente tem
inspiração em Paulo Freire, no campo da educação. Em 1980, aparece o conceito
de competência processual, incluindo tanto as experiências de nível individual
quanto coletiva. Esta abordagem contribui para a ampliação do conceito de
educação permanente, orientada para enriquecer a essência humana e suas
48
subjetividades, em qualquer etapa da existência de todos os seres humanos e não
somente de trabalhadores (Saupe, 2005).
O Ministério da Saúde adota a terminologia educação permanente
integrando múltiplas abordagens além da educação em serviço: a compreensão no
âmbito da formação técnica, de graduação e de pós-graduação; a organização do
trabalho; a interação com as redes de gestão e de serviços de saúde; e o controle
social no setor. Como nos informa Saupe, é possível observar em estudos
recentes, a ampliação do conceito de educação permanente, surgindo uma nova
nomenclatura, na área de saúde, passando a chamar esse processo de educação
em saúde como educação permanente em saúde. Relata que o uso desta
terminologia é justificado pelo fato deste processo ter passado a ser uma política
pública formulada para alcançar o desenvolvimento dos sistemas de saúde
(SAUPE, 2005).
Segundo Ceccim (2005), este estatuto se deveu à difusão, pela
Organização Pan-Americana da Saúde, da proposta de educação permanente do
pessoal da saúde para alcançar o desenvolvimento dos sistemas de saúde na
região. O autor refere que:
A identificação Educação Permanente em Saúde está carregando, então, a definição pedagógica para o processo educativo que coloca o cotidiano do trabalho – ou da formação – em saúde em análise, que se permeabiliza pelas relações concretas que operam realidades e que possibilita construir espaços coletivos para a reflexão e avaliação de sentido dos atos produzidos no cotidiano. A Educação Permanente em Saúde, ao mesmo tempo em que disputa pela atualização cotidiana das práticas segundo os mais recentes aportes teóricos, metodológicos, científicos e tecnológicos disponíveis, insere-se em uma necessária construção de relações e processos que vão do interior das equipes em atuação conjunta – implicando seus agentes – às práticas organizacionais – implicando a instituição e/ou o setor da saúde – e às práticas interinstitucionais e/ou intersetoriais – implicando as políticas nas quais se inscrevem os atos de saúde (CECCIM, 2005, p. 161).
Trata-se de uma proposta de transformar os serviços, trabalhando com
todos os indivíduos envolvidos com a saúde, oferecendo subsídios para que
consigam, no interior dos seus espaços de trabalho, resolver seus problemas e
estabeleçam estratégias que amenizem as necessidades de sua comunidade.
Segundo Saupe (2005), a educação permanente em saúde vem para aprimorar o
método educacional em saúde, tendo o processo de trabalho como seu objeto de
49
transformação, com o propósito de melhorar a qualidade dos serviços, visando
alcançar equidade no cuidado, tornando-os mais qualificados para o atendimento
das necessidades da população, e, com este intuito, parte da reflexão sobre a
realidade do serviço e das necessidades existentes, para então formular
estratégias que ajudem a solucionar estes problemas. Mantendo esta perspectiva,
a autora refere ser a educação permanente considerada como a educação no
trabalho, para o trabalho e pelo trabalho, nos serviços que objetivam melhorar a
saúde da população (SAUPE, 2005).
Perim (2009), mencionando Batista (2004), enfatiza que as pesquisas
realizadas na educação médica têm demonstrado a urgência em estabelecer uma
cultura de formação docente como processo de educação permanente. Partindo da
premissa que a educação permanente parte da reflexão sobre a realidade, há que
se proporcionar ao docente uma prática reflexiva para que este venha a
desenvolver a mesma com seus alunos, proporcionando a estes a chance de se
tornarem profissionais reflexivos, com capacidade crítica e possam manter viva a
prática da educação permanente em saúde.
Costa (2007) refere que:
O conceito mais utilizado por investigadores, formadores de professores e educadores diversos para se referirem às novas tendências da formação de professores é o da prática reflexiva, proposta por Schön e que causou grande interesse e influência nos trabalhos direcionados à prática profissional docente (COSTA, 2007, p. 26).
Partindo da análise e da interpretação de suas atividades, Schön sugere a
introdução e incrementação, na formação docente do aprendizado das práticas
reflexivas. Podemos entender que na área da saúde esse aprendizado significa
uma prática da educação permanente para os docentes.
Analisando as dificuldades de mudança nas escolas médicas, Costa (2007)
entende que entre os obstáculos à implantação da prática reflexiva encontram-se a
epistemologia dominante na universidade e o currículo prescritivo. Citando Nóvoa
(1997), refere que este autor:
Ao defender a formação docente como um processo interativo e dinâmico, apregoa a necessidade de estímulo a uma perspectiva crítico reflexiva, que forneça ao professor meios de desenvolver um
50
pensamento autônomo e de compreender a globalidade do sujeito.[...] O caminho aberto pela necessidade da reflexão como modelo de formação docente propõe uma série de intervenções que torna possível, em nível teórico e prático, um novo modo de formar professores (COSTA, 2007, p.26).
A complexidade da atuação docente na educação médica voltada ao
paradigma da integralidade insere o docente em um novo contexto, em que não
basta a qualificação do professor em relação ao conteúdo específico de sua
disciplina, o que era suficiente até meados do século passado. É necessário
ressignificar a ação educativa, aliando ao conhecimento técnico o saber
pedagógico, de forma que o docente esteja preparado para conceber e
implementar soluções pedagógicas adequadas à aprendizagem dos estudantes.
Apesar dos vários paradigmas sobre a formação inicial dos docentes,
Garcia (1995) informa existir um desenvolvimento teórico e conceptual escasso no
que diz respeito a formação permanente ou ao desenvolvimento profissional dos
docentes.
Giroux (1997) aponta como uma das maiores ameaças para a atuação dos
professores o desenvolvimento de ideologias instrumentais de formação com
ênfase na abordagem tecnocrática para a preparação docente e para as práticas
em sala de aula, que prejudicam tanto a natureza do ensino quanto os alunos que,
“em vez de aprenderem a refletir sobre os princípios que estruturam a vida e a
prática em sala de aula, [...] aprendem metodologias que parecem negar a própria
necessidade de pensamento crítico” (Giroux, 1997, p. 159). O autor propõe, como
forma de reestruturar a atividade docente, considerar os professores como
“intelectuais transformadores”, educadores e críticos das teorias tecnocráticas e
instrumentais da educação, podendo propiciar o repensar das tradições e das
condições que os têm impedido de assumir um papel ativo e reflexivo.
Os intelectuais transformadores precisam desenvolver um discurso que una a linguagem da crítica e a linguagem da possibilidade, de forma que os educadores sociais reconheçam que podem promover mudanças. Desta maneira, eles devem se manifestar contra as injustiças econômicas, políticas e sociais dentro e fora das escolas. Ao mesmo tempo, eles devem trabalhar para criar as condições que deem aos estudantes a oportunidade de tornarem-se cidadãos, que tenham o conhecimento e coragem para lutar a fim de que o desespero não seja convincente e a esperança seja viável. Apesar de parecer uma tarefa difícil para os educadores, esta é uma luta que
51
vale a pena travar. Proceder de outra maneira é negar aos educadores a chance de assumirem o papel de intelectuais transformadores (GIROUX, 1997, p 163).
O investimento na formação docente deve ampliar o desenvolvimento de
competências relacionais, afetivas, voltadas para valores éticos e ainda segundo
Carabetta,
[...] da socialização e significação dos conteúdos em diferentes contextos e de sua articulação interdisciplinar que, somados ao conhecimento pedagógico e dos processos de investigação, possibilitem o aperfeiçoamento da prática docente (CARABETTA, 2007, p. 46).
Assim, um dos itens primordiais para o aprimoramento da docência médica é
planejar uma formação pedagógica que integre experiências e vivências docentes
com a discussão e debates de princípios teóricos de educação, oferecendo aos
professores uma luz que os ajude a analisar criticamente sua ação e experiências
docentes para que eles consigam encontrar novos e melhores caminhos para seu
trabalho.
Os profissionais do ensino médico devem ser convidados a participar da
criação e da construção de uma nova consciência. É necessário redimensionar “o
que” e “como” se aprendeu a ser docente a partir de um processo de reflexão
pessoal sobre a própria experiência; é necessário desenvolver ação educativa
consciente que desenvolva o professor em suas potencialidades, em sua
capacidade de criar soluções e respostas adequadas, em sua condição básica de
agir, conjugando crenças, valores e conhecimentos (COSTA, 2010). A docência em
saúde é complexa, pois vai além do processo de ensino aprendizagem, envolve
também a assistência e os atores deste cenário são plurais, englobando professor,
aluno, pacientes, profissionais de saúde e comunidade, cada qual com uma
demanda própria.
O graduando de medicina é a razão de ser dos profissionais do ensino, pois,
como nos assegura Paulo Freire, “não há docência sem discência”. Buscando
introduzir o futuro profissional nesta prática de múltiplas interações, foi criado o
internato médico.
52
1.7 O Internato médico
O Internato médico é o período da formação médica, do último ciclo da
graduação em medicina, que visa treinamento intensivo sob supervisão docente.
Ele foi criado pela Resolução número 8 do Conselho Federal de Educação de 1969
e regulamentado pela resolução número 9, de 24 de maio de 1983, do Conselho
Federal de Educação, obrigando as escolas médicas a estabelecerem em seus
currículos de graduação um período obrigatório de ensino prático, durante o qual o
aluno deve receber treinamento intensivo contínuo em instituição vinculada ou não
a escola médica, estágio obrigatório em hospitais e centros de saúde adaptados ao
ensino das profissões de saúde em regime de internato (MINISTÉRIO DE
EDUCAÇÃO, 1984). As DCN recomendam que este período corresponda a 35% da
carga horária total da graduação médica (BRASIL, 2001, DCN, art.7º). Deve-se
considerar o Internato não apenas um campo de práticas, mas também um corpo de
conhecimentos que exige abordagens disciplinar e pedagógica inteiramente novas
(MISSAKA & RIBEIRO, 2011).
O preceptor tem importância fundamental nesse período de transição em
que o aluno passa da teoria à aplicação prática de conhecimentos adquiridos e
principalmente na vivência de conhecimentos e saberes próprios do exercício da
profissão médica. Ele fará a introdução do futuro profissional no exercício da
medicina em toda a sua complexidade e deve compreender que sua relação com o
aluno é tão importante quanto sua interação com o paciente.
Emirene Trevisan Navarro da Cruz (1997), em artigo que destaca a
formação médica, sinaliza a existência de um paralelo entre a relação médico
(preceptor) / paciente e a relação professor (preceptor) / aluno. Enfatiza que da
mesma forma que o paciente, cada aluno representa um universo, estando o
docente compromissado com ambos e devendo compreender essa singularidade
desses sujeitos. Refere que o médico docente (preceptor) deve estar ciente e
preparado para perceber que a sua interação com o aluno é tão importante quanto a
sua relação com o paciente, e esse aluno poderá desenvolver a percepção do
paciente como pessoa na medida em que ele também for considerado como pessoa
(CRUZ, 1997).
53
1.8 A preceptoria
A preceptoria em saúde é uma prática pedagógica que ocorre no ambiente
de trabalho e formação profissional, no momento do exercício clínico, conduzida
por profissionais da assistência, com cargo de professor ou não, com o objetivo de
construir e transmitir conhecimentos relativos a cada área de atuação, bem como
auxiliar na formação ética e moral dos alunos, internos e residentes, estimulando-
os a atuarem no processo saúde-doença-cuidado, em seus diferentes níveis de
atenção, com responsabilidade social e compromisso com a cidadania (BOTTI &
REGO, 2008; REGO, 2011; MISSAKA & RIBEIRO, 2011).
O preceptor médico exerce múltiplas funções e será aqui considerado em
sua forma mais ampla, ou seja, exercendo tanto as funções de profissional
docente, como de médico assistente, atuando na introdução dos alunos na prática
do exercício profissional. Sua principal função é ensinar a clinicar, mas também
aconselhar, inspirar e influenciar o aluno em seu desenvolvimento, assim como
auxiliá-lo em sua formação ética como um futuro profissional (BOTTI & REGO,
2008). Como nos diz Ribeiro (2011), ao preceptor cabe à função de auxiliar o aluno
no desenvolvimento da habilidade prática, reservando para si o lugar nada cômodo
de ativador.
O preceptor pode ser considerado uma espécie de mentor pelos internos,
pois serve como exemplo de conduta profissional, tanto técnica quanto eticamente
correta para esses graduandos. A sua relação médico-paciente é observada de
perto na prática clínica diária pelos internos que o acompanham, sendo este um
momento de grande atenção e cuidado por parte do preceptor para que saiba
administrar as relações preceptor-aluno-paciente, sem prejuízo de nenhum desses
sujeitos. “O preceptor ao mesmo tempo que presta assistência aos usuários do
serviço, precisa estar atento às oportunidades educativas que a assistência
oferece” (RIBEIRO, 2011, p.16). Seguindo com suas observações, Ribeiro afirma
que:
É desejável que o preceptor esteja apto a planejar estratégias capazes de permitir aos estudantes: articular conteúdos teóricos com a prática, superar lacunas do conhecimento, assumir responsabilidade com o serviço, e comprometer-se com o paciente (RIBEIRO, 2011, p.16).
54
Pautado nas DCN, o preceptor deve estar atento em destacar a
importância da interação multiprofissional na prestação do cuidado em saúde pela
equipe de profissionais que prestam assistência ao paciente. Há também que se
oportunizar a prática do relacionamento interdisciplinar, de modo que esses alunos
testemunhem a importância desses relacionamentos no sentido de somar esforços
para melhorar a qualidade no atendimento ao usuário.
Dentro da complexidade do trabalho em saúde, a competência relacional
deve ser abordada e desenvolvida pelos preceptores, objetivando a formação de
um profissional mais humano. Feuerwerker (2011), abordando as complexidades
envolvidas no trabalho em saúde, afirma que temas como subjetivação do usuário,
o contexto social e suas injunções, sua história de vida, seus conceitos, a
compreensão do momento vivido, devem ser elaborados nos encontros entre
preceptor, alunos e paciente; entende que há toda uma agenda de reflexão e de
aprendizagem em torno da construção das relações terapêuticas, e que esta é
parte fundamental do trabalho do preceptor. A mesma autora, referindo-se ao
relacionamento preceptor–aluno, pontua que o grau de complexidade da atenção à
saúde influencia nesse relacionamento. Mas, independente desse fato, afirma que
a prática em todos esses espaços precisa ser acompanhada e problematizada,
pois acredita que todos os territórios de competência, não discutidos de maneira
explicita, serão implicitamente informados pela atitude concreta do preceptor no
que diz respeito às relações com o usuário, sua família e com os demais membros
da equipe. Feuerwerker afirma que “a potência de aprendizagem a partir de uma
experiência depende de haver ou não reflexão acerca dela” (FEUERWERKER,
2011, p. 33). Destaca que o vínculo, a responsabilização e a continuidade do
cuidado devem ser construídos durante o processo de formação do futuro
profissional e reconhece haver uma relação direta entre essas competências, a
melhora dos resultados terapêuticos e a maior necessidade de processar os
afetamentos que um encontro intenso produz em ambas as partes, devendo,
portanto, ser objeto de reflexão em cada situação vivida.
Para dar conta de toda essa complexidade, para formar um profissional
crítico, reflexivo e humano, preconizado pelas DCN, o preceptor tem que estar
sensibilizado, pois, de pouco adianta haver diretrizes se esses profissionais não
estiverem cientes e conhecedores desses norteadores, convencidos de sua
55
importância, bem como determinados a atingi-los. Nesse aspecto cabe às
instituições tomar para si a responsabilidade de preparar esses formadores,
criando por meio da gestão, políticas que definam formação, avaliação e
monitoramento do preceptor, possibilitando assim que os requisitos das DCN
sejam atendidos. É desejável que o profissional imbuído dessa função esteja
sensibilizado e qualificado para tal. Missaka (2011) afirma que o preceptor é
fundamental na implantação de qualquer projeto curricular inovador e, sem a
devida capacitação e participação desse profissional, a eficácia do projeto
provavelmente não será alcançada. Destaca que, entre as características mais
importantes de um bom preceptor estão o compromisso com a aprendizagem do
aluno, o conhecimento do papel do preceptor como um formador e a capacidade
de incentivar o aluno em sua aprendizagem.
Trajman (2009) adverte que a formação de um preceptor deve ser vista
como uma prioridade nas instituições de ensino médico, tanto no que se refere a
sua atualização profissional quanto as suas funções de ensino.
Na prática, entretanto, observa-se justamente o contrário: os preceptores,
assim como a grande maioria dos docentes universitários, dominam os saberes
profissionais, o que é essencial para qualquer tipo de formação, mas não dominam
os saberes pedagógicos, aqueles necessários para a organização de ações
formativas, tais como os diferentes processos de ensino-aprendizagem e as
diferentes modalidades de avaliação. Atuando de maneira intuitiva, reproduzem
modelos de formação pelos quais passaram quando alunos, confundindo
transmissão de informação com ensino (MISSAKA, 2011).
Nesse contexto, Missaka e Ribeiro (2011) discutem a necessidade de
processos formativos para os preceptores, processos não fragmentados e que
contribuam para uma reflexão consistente sobre o modelo de atenção à saúde.
Para tanto, além do apoio institucional, é preciso pensar em uma estratégia
educacional que favoreça uma perspectiva emancipadora, refletindo-se
criticamente sobre os processos de trabalho, condição fundamental para ampliar
“as dimensões realizadoras do trabalho em saúde”. Os autores defendem o
desenvolvimento de cursos de formação pedagógica com o objetivo de
proporcionar a apropriação do campo da educação em saúde, de modo a ampliar o
olhar dos preceptores para questões sobre educação, trabalho e saúde.
56
Os saberes docentes cabem ao preceptor, porém não são suficientes. A
função de ensinar, que distingue a docência, é caracterizada nas sociedades
atuais, nas palavras de Roldão (2007), pela figura da dupla transitividade e pelo
lugar de mediação; ensinar configura-se assim, como a especialidade de fazer
aprender alguma coisa – que identifica como currículo – a alguém. Nesse sentido o
preceptor é um docente, que tem a função de ensinar a prática médica, no período
curricular do internato médico, ao graduando de medicina.
Entretanto, a preceptoria envolve o ensino na prática, e ensinar a prática
médica ao graduando requer maestria na prática da instrução; demanda
intensidade e duração e vai muito além das exigências de uma disciplina ou da
construção de um conhecimento teórico por um docente que não tenha a função de
instrução prática.
No que concerne às funções docentes que desempenha, o preceptor
necessita de formação pedagógica, que permitirá entender métodos e técnicas do
processo de ensino-aprendizagem.
Esta pesquisa se dedica a função docente do preceptor, sendo as demais
funções da preceptoria, que exigem outros saberes e competências, objeto de
análise para outros estudos.
57
2 TECENDO A TEIA
Na UFRJ, o Curso de Formação Pedagógica para Preceptores do Internato
Médico (CFPPIM) constitui-se em um exemplo desta empreitada. Com intuito de
colaborar com a formação dos futuros profissionais médicos, o Laboratório de
Currículo e Ensino do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde
(LCE/NUTES) deu início a um novo projeto: a realização do CFPPIM. Desde 2007,
ano de sua criação, forma turmas de preceptores com uma visão pedagógica
inovadora, esperando-se, dessa maneira, influenciar indiretamente na formação
dos futuros médicos. O curso conta com apoio da Faculdade de Medicina e dos
hospitais da UFRJ e está ligado ao projeto “Formação pedagógica dos formadores
dos profissionais de saúde: a preceptoria dos Internatos em questão”, que tem
como objetivo criar, desenvolver e avaliar um modelo de formação pedagógica
para preceptores da área da saúde, buscando assim suprir a lacuna que existe na
formação deste segmento que desempenha importante papel na formação dos
profissionais da área, seja pelo exemplo prático de suas ações no serviço, seja
pela supervisão/orientação dedicada aos alunos em estágio nas unidades de
saúde. O curso tem como finalidade contribuir com o aperfeiçoamento do ensino
médico, fortalecendo a educação em saúde e qualificando profissionais para o
SUS.
O curso é de caráter voluntário e tem a duração de quatro meses, 180
horas. O número de participantes é limitado a uma relação de dez alunos por tutor.
Nessas quatro últimas versões sessenta e três preceptores participaram do curso.
A equipe responsável pela realização do curso é composta de um
coordenador e de tutores, numa relação de um tutor para cada dez alunos. Tem
como eixos estruturantes educação, trabalho e saúde, divididos em módulos com
intervalos de um mês cada, sendo norteado por duas preocupações centrais:
problematizar o ensino tradicional e a realidade de saúde contemporânea, e
desenvolver nos participantes a competência de ensinar e aprender de modo
colaborativo. Utiliza metodologias educacionais orientadas por problemas que
estabelecem ligações entre experiências em desenvolvimento na preceptoria,
conteúdos problemas relacionados às questões práticas trazidas pelos
preceptores, problemas que dizem respeito ora aos diferentes modelos de ensino,
ora às diversas práticas assistenciais, de modo que sejam criadas oportunidades
58
para refletir, discutir e sistematizar a atividade de preceptoria. Há uma
preocupação em abordar as relações preceptor aluno, as novas formas de
interação entre os próprios estudantes e em destacar a necessidade de se
trabalhar em equipes multi e interdisciplinares, trazendo elementos para serem
desenvolvidos na tentativa de promover a elaboração da concepção do exercício
da preceptoria.
As atividades são distribuídas em sessenta horas presenciais, destinadas à
discussão de problemas, desenvolvimento e avaliação do curso, apresentações
teóricas, treinamento de técnicas de ensino, e outras cento e vinte horas a
distância, utilizando a plataforma Constructore (http://ltc.nutes.ufrj.br/constructore/),
ferramenta virtual de aprendizagem via internet desenvolvida no Laboratório de
Tecnologias Cognitivas – NUTES/UFRJ, para troca de resultados, busca de textos
e de informações, sínteses teóricas, produção coletiva de textos e inserção de
recursos didáticos, como vídeos, imagens e outros (CERQUEIRA GOMES, 2009).
De forma interativa, e de fácil implementação, esta ferramenta oferece a
possibilidade de realização de atividades educativas semipresenciais e a distância,
facilitando o registro das produções, das dificuldades encontradas, tornando
possível o aperfeiçoamento do processo ensino aprendizagem. Dentro desta
ferramenta, alguns alunos constroem seu portfólio, que proporciona oportunidade
de refletir sobre o aprendizado, possibilitando tornar significativo o processo de
construção de conhecimento. Priorizando a reflexão dos processos de trabalho do
preceptor, o curso além de aprimorar as atividades de ensino aprendizagem, atinge
também o aperfeiçoamento da atividade assistencial. Assim, trazendo para
discussão as questões do cotidiano do trabalho, permitindo que estas práticas
sejam elaboradas e, a partir desse ponto, até mesmo transformadas, proporciona
uma real educação permanente em saúde, que, como refere Ceccim: “se
permeabiliza pelas relações concretas que operam realidades e que possibilita
construir espaços coletivos para a reflexão e avaliação de sentido dos atos
produzidos no cotidiano” (CECCIM, 2005, p. 161).
Para concluírem o curso, os integrantes devem elaborar um trabalho de
conclusão contendo uma proposta de intervenção factível no seu contexto de
trabalho, sob a orientação dos tutores. Ao término do curso, os preceptores são
convidados a participar de uma avaliação usando a livre escrita individual, sendo
59
orientados a escrever sobre o que representa o curso, tanto do ponto de vista
profissional quanto pessoal.
2.1 Investigando resultados
Com uma pesquisa direcionada aos egressos do Curso de Formação
Pedagógica para Preceptores do Internato Médico procura-se averiguar o alcance
dos objetivos traçados pelo projeto do LCE-NUTES.
Como bem enfatiza Ferguson (1994):
Em nossas vidas e instituições culturais, temos remexido em qualidades com instrumentos destinados a detectar quantidades. Com que padrão de medida se avalia uma sombra, a chama de uma vela? O que é avaliado num teste de inteligência? Onde, no equipamento à disposição do médico, está a vontade de viver? Qual o tamanho de uma intenção? Qual é o peso de um aborrecimento, a profundidade de um amor? Não podemos quantificar relacionamentos, conexões, transformações. Nada no método científico pode competir com a riqueza e a complexidade das mudanças qualitativas (FERGUSON, 1994, p.167).
A pesquisa utilizada neste trabalho é do tipo qualitativa. Minayo considera
que a pesquisa qualitativa não se preocupa em quantificar, mas em conseguir
“explicar os meandros das relações sociais consideradas essência e resultado da
atividade humana criadora, afetiva e racional, que pode ser aprendida através do
cotidiano, da vivência, e da explicação do senso comum” (MINAYO, 1992, p.11),
razão pela qual uma investigação sobre o trabalho da preceptoria requer uma
análise qualitativa porque colhe aspectos que estão para além de uma simples
mensuração, envolvendo aspectos subjetivos.
Como instrumento de pesquisa foi utilizado, numa primeira fase, um
questionário (Anexo A) dirigido aos egressos do Curso de Formação Pedagógica
para Preceptores do Internato Médico das versões que foram concluídas até 2010.
Segundo Lakatos & Marconi (1985) questionários são instrumentos para recolher
informação, sendo uma técnica de investigação composta por questões
apresentadas por pessoas e escrito a pessoas.
O questionário foi composto por perguntas simples, abertas, dirigidas ao
grupo de alunos que se capacitaram no Curso de Formação Pedagógica de
60
Preceptores do Internato. São seis perguntas que visam abordar o impacto do
curso como influenciador de condutas e formas de pensar dos entrevistados. O
questionário foi enviado por meio de correspondência eletrônica (e-mail).
A primeira questão, de forma direta, avaliou a percepção do preceptor em
relação à importância do curso realizado. Em seguida foi analisada a impressão
desse profissional quanto ao relacionamento com o corpo discente, procurando
associar as mudanças nesta relação com a influência do curso.
As três perguntas seguintes procuraram avaliar se o preceptor conseguiu
aplicar em sua prática o trabalho de conclusão do curso, analisando as mudanças
decorrentes, bem como, nos casos onde não logrou êxito, as dificuldades
encontradas para implantação do projeto.
A última indagação procurou observar a opinião do entrevistado quanto à
inclusão do curso na preparação de profissionais médicos que atuem como
docentes.
Em uma segunda fase foi enviado novo questionário eletrônico (Anexo B)
para todos aqueles que, de acordo com as respostas do primeiro questionário,
haviam conseguido implantar o trabalho de conclusão do curso, ou seja, os
trabalhos que contemplaram propostas de intervenção que foram efetivamente
implantadas no cenário de atuação profissional. O propósito deste segundo
questionário foi de procurar estabelecer de forma mais detalhada aspectos ligados
a implantação do TCC.
Os dois questionários passaram pela validação de um pré-teste aplicado a
um grupo de cinco participantes, escolhidos aleatoriamente, da última turma do
Curso de Formação Pedagógica para Preceptores do Internato Médico, finalizado
em 2010. Os questionários utilizados no pré-teste, por satisfazerem os critérios
pesquisados, foram incorporados à amostra.
Os dados coletados, em uma fase final, receberam análise qualitativa.
Nesta fase procurou-se compreender os dados coletados, confirmando ou não os
pressupostos, respondendo as questões formuladas e ampliando o conhecimento
sobre o assunto pesquisado.
Com base nessa análise, foi enviado aos preceptores egressos do
CFPPIM, portanto, para a totalidade dos entrevistados nesse trabalho, solicitação
para participarem de uma entrevista individual (Anexo C), para que respondam
abertamente a questão: na hipótese de ser dado a você a responsabilidade de
61
institucionalizar a preceptoria, quais mudanças você proporia com o intuito de
melhorar a qualidade da preceptoria, visando o aperfeiçoamento do ensino médico
na nossa universidade?
Todos os participantes acordaram com o “Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido”, documento obrigatório em pesquisa que envolvem seres humanos
(Anexo D).
2.2 Sobre saberes e reflexão
O Curso de Formação Pedagógica para Preceptores tem a função de
fornecer uma visão do campo pedagógico para o médico que atua junto ao
graduando de medicina, possibilitando um momento de reflexão sobre a dimensão
de seu trabalho.
O preceptor médico, além de exercer uma função docente, acumula a
função assistencial, exercendo-a simultaneamente. Como docente, o conhecimento
médico e sua competência técnica não são suficientes para possibilitar uma prática
de ensino de qualidade: faz-se necessário uma imersão no universo das práticas
pedagógicas.
Maurice Tardif (2011) define o saber docente como “um saber plural,
formado pelo amálgama, mais ou menos coerente, de saberes oriundos da
formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experienciais”. À
noção de “saber” atribui um amplo sentido englobando competências, habilidades
e atitudes dos docentes. Deixa claro que:
Todo saber implica um processo de aprendizagem e de formação; e, quanto mais um saber é desenvolvido, formalizado, sistematizado, [...] mais se revela longo e complexo o processo de aprendizagem que exige por sua vez uma formalização e uma sistematização adequadas (TARDIF, 2011, p. 36).
Define como saber profissional o conjunto de saberes transmitidos por
instituições de formação de professores, ou seja, que iniciam o futuro professor nos
saberes oriundos das ciências da educação, que procuram mobilizar saberes
pedagógicos. Apresenta os saberes pedagógicos como “doutrinas ou concepções
provenientes de reflexões sobre a prática educativa no sentido amplo do termo,
62
reflexões racionais e normativas que conduzem a sistemas mais ou menos
coerentes de representação e de orientação da atividade educativa” (TARDIF,
2011, p. 36). Essas doutrinas serão incorporadas à formação profissional dos
professores e irão fornecer um arcabouço ideológico à profissão e também
algumas formas de saber-fazer, assim como algumas técnicas. A opção pelo
magistério, e, portanto, a capacitação para exercê-lo, não é prevista na graduação
do profissional médico, nem tão pouco existem oportunidades de cursos de
especialização e pós graduação com tal finalidade. Sem essa formação, o médico
que abraça a profissão docente não recebe conhecimentos específicos para
formação de uma identidade docente.
Seguindo com os demais saberes docentes, temos os saberes das
disciplinas, que são aqueles relacionados aos diversos campos do conhecimento
de que dispõe a sociedade, transmitidos pelas universidades, que emergem da
tradição cultural e dos grupos sociais produtores destes saberes; os saberes
curriculares correspondem aos discursos, objetivos e métodos eleitos pela
instituição de ensino e selecionados como modelo da cultura erudita e de formação
da cultura erudita que os professores devem aprender e aplicar; os saberes da
experiência são desenvolvidos na prática de seu trabalho no cotidiano e no
conhecimento do seu meio e são incorporados sob a forma de hábitos e de
habilidades, de saber fazer e saber ser.
A dimensão desses saberes como elementos constitutivos da prática
docente denota que o professor padrão, como assinalado por Tardif (2011), “é
aquele que conhece sua matéria, sua disciplina e seu programa, possui
conhecimentos das ciências da educação e da pedagogia, sem deixar de
desenvolver um saber prático fundado em sua experiência cotidiana com os
alunos” (TARDIF, 2011, p. 39). O autor ressalta ainda que há inúmeras
articulações entre a prática docente e esses saberes o que torna os professores
um grupo profissional e social “cuja existência depende, em grande parte, de sua
capacidade de dominar, integrar e mobilizar tais saberes enquanto condições para
sua prática”.
É necessário que o docente médico se identifique como pertencente a um
grupo profissional de uma subcultura, resultante da confluência da subcultura
médica e da subcultura docente. Despertar no preceptor a consciência de que ele
deve desenvolver um trabalho que traduza a interiorização dessa nova subcultura,
63
possibilitará uma real transformação não apenas da prática deste profissional, mas
também do foco de seu trabalho, o aluno aprendiz do ofício médico. Nas palavras
de Dubar (1992, apud TARDIF, 2011, p.56) “trabalhar não é exclusivamente
transformar um objeto ou situação numa outra coisa, é também transformar a si
mesmo no e pelo trabalho”. Tardif completa dizendo que em termos sociológicos, o
trabalho modifica a identidade do trabalhador, pois trabalhar não é somente fazer
alguma coisa, mas fazer alguma coisa de si mesmo, consigo mesmo. Ampliando
esse foco nos traz Schwartz quando acrescenta que o uso de si pelos outros é
uma problemática negociação entre o uso de si por si mesmo e de si pelos outros.
No caso específico do preceptor, os outros seriam o aluno, o paciente e os demais
profissionais que atuam no mesmo ambiente.
Tardif (2011) analisa a carreira, concebida como a trajetória dos indivíduos
por meio da realidade social e organizacional das ocupações, apoiando-se no
estudo de dois tipos de fenômenos interligados: a institucionalização da carreira e
sua representação subjetiva. A institucionalização de uma carreira denota tratar-se
de uma realidade social e coletiva, em que seus membros pertencem a uma
ocupação e desempenham papéis profissionais que remetem a normas adotadas
pertinentes a essa ocupação. Essas normas não são somente exigências formais
relativas às qualificações dos membros de uma ocupação, mas abrangem também
atitudes e comportamentos estabelecidos pela tradição ocupacional e sua cultura.
Muitas dessas normas são informais e devem ser aprendidas no âmbito da
socialização profissional, no contato entre seus pares e com a experiência de
trabalho. Depreende-se a importância de se institucionalizar a preceptoria,
reconhecendo assim sua importância para formação do profissional médico.
A dimensão subjetiva da carreira refere-se ao sentido que os indivíduos
dão à sua vida profissional,
[...] se entregando a ela como atores cujas ações e projetos contribuem para definir e construir sua carreira. Desse ponto de vista, a modelação de uma carreira situa-se na confluência entre a ação dos indivíduos e as normas e papéis que decorrem da institucionalização das ocupações, papéis esses que devem interiorizar e dominar para fazerem parte de tais ocupações (TARDIF, 2011, p.80-1).
64
E, como numa via de mão dupla, a ação dos indivíduos contribui para
remodelar normas e papéis institucionalizados, constituindo, dessa forma,
transações contínuas e recorrentes entre as interações interpessoais e suas
ocupações, modificando a trajetória dos indivíduos bem como as ocupações por
eles assumidas.
O Curso de Formação Pedagógica para Preceptores oferece oportunidade
de refletir a prática do médico preceptor à luz das DCN, visando a formação de um
profissional crítico, reflexivo e humano. Para formar esse profissional reflexivo, o
preceptor tem, ele mesmo, de ser um profissional reflexivo, trazendo a reflexão
para suas práticas docente assistenciais. Pérez Gómez (1995) corrobora com tal
pressuposto ao afirmar que:
A reflexão implica a imersão consciente do homem no mundo da sua experiência, um mundo carregado de conotações, valores, intercâmbios simbólicos, correspondências afetivas, interesses sociais e cenários políticos. O conhecimento acadêmico, teórico, científico ou técnico, só pode ser considerado instrumento dos processos de reflexão se for integrado significativamente, não em parcelas isoladas da memória semântica, mas em esquemas de pensamento mais genéricos ativados pelo individuo quando interpreta a realidade concreta em que vive e quando organiza a sua própria experiência (PÉREZ GÓMES, 1995, p.103).
O pesquisador Donald Alan Schön (1997) propõe um novo modelo para a
formação de profissionais baseado na reflexão sobre a prática. Na década de 70,
refinou noções do filósofo e educador John Dewey, para construir proposta que se
concentra basicamente em três ideias: o conhecimento na ação, a reflexão na ação
e a reflexão sobre a reflexão na ação. Nessa pesquisa, entende-se por ação toda
atividade profissional como a atividade exercida pelo preceptor.
Baseado nos estudos desenvolvidos por Schön, conhecimento na ação é a
resultante dos saberes interiorizados (conceitos, teorias, crenças, valores,
procedimentos), que são adquiridos por meio da experiência e da atividade
intelectual, mobilizados de forma inconsciente e mecânica nas ações cotidianas do
profissional, em situações reais. Manifesta-se no saber fazer, de forma tácita e leva
aos resultados pretendidos em situações de normalidade. Em seu livro, “Educando o
profissional reflexivo”, Schön (2000) afirma que:
65
O processo de conhecer-na-ação de um profissional tem suas raízes no contexto social e institucionalmente estruturado do qual compartilha uma comunidade de profissionais. Conhecer-na-prática é exercitado nos ambientes institucionais particulares da profissão, organizados em termos de suas unidades de atividades características e seus tipos familiares de situações práticas e limitado ou facilitado por seu corpo comum de conhecimento profissional e seu sistema apreciativo (SCHÖN, 2000, p.37).
Reflexão-na-ação é definido como o processo mediante o qual os
profissionais aprendem a partir da análise, interpretação e reflexão sobre sua própria
prática. Significa fazermos uma pausa para refletirmos sobre as nossas ações no
momento em que ela está sendo executada. Essa reflexão na ação tem função
crítica fundamental na medida em que se questiona a estrutura dos pressupostos do
ato de conhecer-na-ação. Como analisa Pérez Gómez (1992, p.104), dá-se nesse
momento “um processo de reflexão sem o rigor, a sistematização e o distanciamento
requeridos pela análise racional, mas com a riqueza da captação viva e imediata das
múltiplas variáveis intervenientes e com a grandeza da improvisação e criação”. Há
ainda como distinguir a reflexão na ação em um segundo momento, quando ela não
se dá exatamente no momento da ação, mas retrospectivamente. Então, essa
reflexão é a que se denomina reflexão sobre a ação.
A terceira divisão é a reflexão sobre a reflexão na ação; ela ajuda o
profissional a desenvolver-se e construir sua forma pessoal de conhecer. Trata-se
de olhar retrospectivamente, de refletir sobre o momento da reflexão na ação, ou
seja, o que aconteceu, o que se observou, qual o significado atribuído e se podemos
atribuir outros significados ao que aconteceu (SCHÖN,1997).
Schön argumenta que, com base na observação das práticas profissionais, a
conversa reflexiva que ocorre durante a ação junto com outros participantes ou
colegas é o centro da reflexão sobre a prática, e que essas conversas reflexivas
podem colaborar e contribuir para tomada de decisões, compreensão e troca de
conhecimento e experiências. Schön propõe, conforme destacado por Tardif (2002),
uma concepção “construcionista” da realidade, capaz de sustentar, no caso do
profissional da educação, o seu processo de reflexão na ação ao confrontar
situações problemáticas e encontrar não uma solução única para um problema
específico, mas antever várias possibilidades. O profissional competente atua
realizando reflexões constantes sobre sua ação, experimenta, cria, inventa, corrige,
num “processo dialógico” constante com a realidade. Defende ainda, a importância
66
da interação interpessoal com um aluno ou grupo de alunos: o professor precisa
aprender a ouvir os alunos e a fazer da escola um lugar em que essa postura seja
possível, desenvolvendo uma prontidão para a escuta sem se sentir “ameaçado”
pelas intervenções dos alunos.
A formação do médico como profissional reflexivo se contrapõe à concepção
tradicional, baseada na racionalidade técnica. Pérez Gómes (1995), referindo-se a
racionalidade técnica, diz que:
Trata-se de uma concepção epistemológica da prática, herdada do positivismo, que prevaleceu ao longo de todo o século XX [...] e na qual a atividade profissional é sobretudo instrumental, dirigida para a solução de problemas mediante a aplicação rigorosa de teorias e técnicas científicas (PÉREZ GÓMES,1995, p. 96).
O mesmo autor desvela a necessidade da reflexão como modelo de
formação dos profissionais, propõe intervenções que tornem possíveis em nível
teórico e prático, um novo modo de perceber, de entender e de atuar como
educador.
Schön (2000, p.25) acrescenta que as instituições de ensino devem
repensar tanto a “epistemologia da prática quanto os pressupostos pedagógicos
sobre os quais seus currículos estão baseados e devem adaptar suas instituições
para acomodar o ensino prático reflexivo como um elemento chave na educação
profissional”. Porém adverte que o ensino prático reflexivo, criando um mundo
próprio, arrisca tornar-se uma ilha isolada tanto do mundo da prática quanto do
ensino tradicional e para evitar esse caminho propõe o desenvolvimento de
atividades “que conectem a reflexão-na-ação dos profissionais competentes com as
teorias e técnicas ensinadas como conhecimento profissional nas disciplinas
acadêmicas” (SCHÖN, 2000, p. 227-228).
Entre os obstáculos à implantação da prática reflexiva encontram-se a
epistemologia dominante na universidade e o currículo prescritivo. Nóvoa
(1992) defende a necessidade de uma formação que estimule uma perspectiva
crítico reflexiva e que forneça aos educadores meios de desenvolver um
pensamento autônomo e permita compreender a globalidade do sujeito, assumindo
a formação como um processo interativo e dinâmico. Citando Schön, esse autor
destaca que “os problemas da prática profissional docente não são meramente
67
instrumentais; todos eles comportam situações problemáticas que obrigam a
decisões num terreno de grande complexidade, incerteza, singularidade e de conflito
de valores” (NÓVOA, 1992, p.27). Completa afirmando que as situações que esses
profissionais são obrigados a enfrentar exigem respostas únicas, pois possuem
características únicas, e, portanto, necessitam de um profissional competente, com
capacidade de autodesenvolvimento reflexivo. Refere que a pedagogia científica
tende a legitimar a razão instrumental, não valorizando os saberes experienciais e
as práticas dos professores. Conclui dizendo que “a lógica da racionalidade técnica
opõe-se sempre ao desenvolvimento de uma práxis reflexiva”.
No que diz respeito à formação de professores, há de se operar uma
mudança da epistemologia da prática para a epistemologia da práxis, “pois a práxis
é um movimento operacionalizado simultaneamente pela ação e reflexão, isto é, a
práxis é uma ação final que traz, no seu interior, a inseparabilidade entre teoria e
prática” (GHEDIN, 2002, p.2). Ghedin observa que a ação puramente consciente da
ação, não realiza em si uma práxis; para tanto, há que se ter consciência de uma
orientação teórica, percebendo desta forma, uma indissociabilidade entre prática e
teoria. Afirma ainda que separar os dois processos seria arriscar demasiadamente a
perda da própria possibilidade de reflexão e compreensão.
Entretanto, o que podemos notar é que, na sua maioria, os docentes não
estão preparados para a prática reflexiva, necessitando de estímulo, cooperação e
orientação. Como se encontram adaptados a um trabalho definido de ensino como
transmissão de conhecimentos, a possibilidade de mudança, retirando-os de uma
zona de conforto, gera uma sensação de insegurança, o chamado mal estar docente
(COSTA, 2009).
O Curso de Formação Pedagógica para Preceptores oportuniza a reflexão
da prática da preceptoria e propõe, ao final, que os alunos apresentem como
trabalho de conclusão do curso uma proposta de intervenção no seu cenário de
prática. Portanto, supondo-se uma instrumentalização no campo pedagógico,
espera-se que este profissional partindo das práticas de reflexão proporcionadas
pelo curso, possibilitando refletir sobre a reflexão na ação, tenha interiorizado
conhecimentos que o levem a vislumbrar sua identidade de preceptor, com funções
docentes, e esteja capacitado e motivado o suficiente para implantar esta proposta
de intervenção, consubstanciada em suas reflexões. Dessa forma, uma vez
detectada uma necessidade de mudança em sua prática, na mediação com demais
68
atores de seu ambiente de trabalho, este individuo estaria modificando a trajetória
daqueles que sofrem a influência de suas ações, assim como das ocupações
desenvolvidas por esses atores nesse cenário.
Ao término do curso, os preceptores são convidados a participar de uma
avaliação usando a livre escrita individual, sendo orientados a escrever sobre o que
representa o curso, tanto do ponto de vista profissional quanto pessoal.
Maciel & Ribeiro (2012), realizaram estudo com alunos da segunda e da
terceira versão do CFFPPIM, procurando estabelecer se os alunos do curso teriam
se apropriado de conhecimentos pedagógicos, analisando as avaliações de final de
curso feitas por eles. As autoras concluem o artigo mencionando que:
Os preceptores passaram do desconhecimento da função pedagógica do preceptor, da desvalorização de tal função pela instituição e por eles mesmos, para uma situação oposta em que foi possível explorar as possibilidades da função de preceptoria e dos recursos educacionais. Nessa perspectiva, o desenvolvimento de habilidades afetivas e cognitivas para a prática pedagógica, associado ao processo de educação permanente, em que o processo cotidiano de trabalho pôde ser objeto de reflexão, possibilitou a esses profissionais sentirem-se instrumentalizados para o exercício da função e consequentemente empoderados; o olhar e a atitude frente à preceptoria foram modificados e o papel do preceptor valorizado (MACIEL & RIBEIRO, 2012, p. 158).
Diante desta perspectiva, o próximo passo para compreendermos como
esse conhecimento está sendo trabalhado no quotidiano desses profissionais, foi
pesquisar diretamente com esses egressos do CFPPIM como estão atuando na
preceptoria.
69
3 A PRÁXIS DA PRECEPTORIA
Com base nas avaliações anteriormente mencionadas, o estudo ora
desenvolvido, parte do pressuposto que esses profissionais obtiveram as condições
necessárias para exercer a preceptoria com a devida formação pedagógica, e
procura avaliar a prática desses preceptores, ou seja, como efetivamente
conseguiram elaborar seus novos conhecimentos em seus ambientes de trabalho,
nos seus relacionamentos com os demais atores deste cenário, quais dificuldades
encontraram nesse percurso e o que melhor se aplicou à prática da preceptoria.
Para análise do material coletado no trabalho de pesquisa, foram usadas as
categorias saber profissional (técnico, pedagógico), saber experiencial
(desenvolvidos na prática de seu trabalho no cotidiano), ambas evocadas por
Tardif, e reflexões na prática abordadas por Schön.
3.1 Os saberes dos preceptores
Como instrumento de investigação do CFPPIM, foi realizado questionário,
enviado por correio eletrônico. Por meio da análise das respostas individuais de
egressos do curso, procurou-se dimensionar seu impacto sobre os preceptores,
procurando compreender se houve movimento em direção a uma prática baseada
em conhecimentos pedagógicos adquiridos. Os questionários foram estudados por
meio de técnicas de análise de conteúdo.
A definição de Bardin (2009) sintetiza os aspectos consensuais dessa
técnica: a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das
comunicações, visando obter, por procedimentos objetivos e sistemáticos de
descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que
permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção destas mensagens.
O questionário constou de cinco perguntas, enviadas aos integrantes das
três últimas versões do curso. Trinta questionários (51%) foram respondidos, em um
total de cinquenta e nove enviados, produzindo material para análise de conteúdo.
Apenas um dos respondentes faz parte do corpo docente de sua instituição, sendo
que todos os demais, funcionalmente, são médicos assistenciais. A idade média dos
70
alunos egressos que responderam aos questionários foi de 48 anos (mínimo de 31
anos e máximo de 64), sendo dezoito mulheres e doze homens. O Quadro 5 melhor
analisa o perfil dos egressos do curso que responderam ao questionário:
QUADRO 5
PERFIL DOS RESPONDENTES
Tipo de especialidade Especialidade Médica Total
Especialidades Clínicas
Pediatria
8
(17 indivíduos: 57%) Nefrologia 4
Cínica Médica 3
Medicina Social 1
Psiquiatria 1
Especialidades Cirúrgicas Anestesiologistas 4
(13 indivíduos: 43%) Ginecologia 4
Cirurgia de Tórax 1
Cirurgia Pediátrica 1
Cirurgia Vascular 1
Ortopedia 1
Urologia
1
Após leitura flutuante das respostas de cada questão, destacando as
unidades de registro, foram definidas categorias para análise, que permitiram as
inferências. As respostas do primeiro questionário foram tabuladas e sistematizadas,
procurando-se identificar, em cada uma delas, quais os principais aspectos
destacados. Dessa maneira, na análise das respostas da primeira questão, que
procurou estudar a influência do CFPPIM no relacionamento do preceptor com
alunos, internos e residentes, foram identificadas quatro categorias distintas; (a)
influência no método de ensino, (b) influência na reflexão sobre a preceptoria, (c)
influência direta na relação preceptor aluno e, por último, (d) influência na estratégia
pedagógica adotada.
71
O estudo das respostas da segunda pergunta mostrou quais os principais
pontos percebidos de mudanças decorrentes de ações mediadas pelo preceptor; tais
respostas foram categorizadas em (a) mudanças metodológicas, (b) mudanças no
relacionamento preceptor aluno; e (c) mudanças no cenário de prática.
A terceira questão procurava, de forma direta, analisar quais foram as
principais alterações decorrentes da implantação do Trabalho de Conclusão de
Curso (TCC), sendo que as categorias identificadas foram (a) implicações
metodológicas, (b) mudanças no cenário de prática, (c) capacitação pessoal e (d)
relação preceptor aluno.
A quarta questão que objetivava identificar dificuldades encontradas pelo
preceptor na implantação de seu TCC, as respostas puderam ser agrupadas em
cinco diferentes categorias, de acordo com o principal problema percebido pelo
respondentes: (a) adaptação a metodologia aplicada; (b) falta de sensibilização do
aluno; (c) escassez de tempo do preceptor; (d) problemas com a grade curricular; e
(e) aspectos relacionados a sensibilização da equipe.
A quinta e última pergunta do primeiro questionário que trouxe em suas
respostas o grau de importância do CFPPIM na formação de um preceptor, as
respostas evidenciaram diferentes características, que foram agrupadas da seguinte
forma: (a) curso imprescindível a formação; (b) ferramenta importante de educação
permanente; e (c) ação fundamental para valorizar o trabalho do preceptor.
O Quadro 6 sintetiza os achados nas respostas do primeiro questionário, de
acordo com as categoriais identificadas.
Os egressos relatam suas práticas na atualidade e fornecem uma visão do
que de fato foi significativo, o que conseguiram apropriar de informações e de
conteúdos trabalhados durante o curso e aplicar na rotina de trabalho. Seus
depoimentos dão a noção de uma produção de conhecimento pedagógico usado na
prática profissional em um processo de retro alimentação: o conhecimento
influenciando a prática, a prática construindo saberes experienciais, como se pode
comprovar em uma das respostas:
Percebo uma integração e um interesse maior dos internos com o Serviço. Tento sempre inserir o interno em alguma atividade dentro da sala de cirurgia para que ele participe ativamente do trabalho e se sinta também importante dentro do processo ali desenvolvido. Pelos portfólios tenho tido a oportunidade de observar o que eles estão
72
aprendendo e como esse aprendizado está ocorrendo. Tem sido uma experiência bastante motivadora e enriquecedora para mim.
QUADRO 6 ANÁLISE DOS CONTEÚDOS IDENTIFICADOS NAS RESPOSTAS DO PRIMEIRO
QUESTIONÁRIO
Primeira pergunta: Que influência o Curso de Formação Pedagógica de Preceptores do Internato Médico
teve em seu relacionamento com alunos, internos e residentes?
Estratégia pedagógica.............................................................................................................................. 63,3%
Reflexão................................................................................................................................................... 46,7%
Método de Ensino................................................................................................................................... 33,3%
Relação preceptor aluno......................................................................................................................... 33,3%
Segunda pergunta: No exercício da preceptoria quais mudanças ocorreram com base em ações mediadas
por você?
Mudanças metodológicas......................................................................................................................... 70,0%
Influência no cenário de prática............................................................................................................... 40,0%
Relacionamento preceptor aluno............................................................................................................. 30,0%
Terceira pergunta: Caso você tenha implantado o trabalho, quais alterações foram observadas?
Metodológicas.......................................................................................................................................... 33,3%
Cenário de prática.................................................................................................................................... 33,3%
Relação preceptor aluno.......................................................................................................................... 23,3%
Capacitação pessoal................................................................................................................................. 6,7%
Quarta pergunta: Caso você não tenha conseguido efetivar a proposta que consistiu no seu Trabalho de
Conclusão de Curso, quais as dificuldades encontradas?
Tempo escasso do preceptor................................................................................................................... 33,3%
Grade curricular desfavorável.................................................................................................................. 23,3%
Sensibilização da equipe......................................................................................................................... 16,7%
Adaptação à metodologia........................................................................................................................ 13,3%
Sensibilização do aluno............................................................................................................................ 3,3%
Não responderam ao quesito .................................................................................................................. 13,3%
Quinta pergunta: Em um ambiente universitário como você avalia a importância desse curso na formação do
profissional médico que exerce a função de preceptor?
Curso imprescindível................................................................................................................................ 83,3%
Valorização do preceptor......................................................................................................................... 66,7%
Ferramenta de educação permanente..................................................................................................... 16,7%
73
Segundo Feuerwerker (2000, p. 58) “a mudança do processo de formação
depende da mudança da prática profissional que, por sua vez, depende da mudança
do modelo de atenção e do papel dos vários sujeitos na produção de saúde”.
Identificamos, nas várias respostas, a ampliação dos conhecimentos pedagógicos
para uma mudança da prática educacional, ou seja, uma elaboração dos saberes
pedagógicos.
O curso foi fundamental para que eu desenvolvesse uma nova postura nesse relacionamento. Após o curso, verifiquei o quanto o aprendizado adquirido permitiria uma nova abordagem de ensino que, com certeza, ao ser colocada em prática poderia influenciar na melhoria do aprendizado dos alunos. O curso por meio de reflexões do processo de ensino-aprendizagem, ampliou meu entendimento da preceptoria, e certamente muito contribuiu para que eu pudesse atuar melhor. Percebi a importância de despertarmos em cada aluno a percepção da necessidade da busca contínua do conhecimento.
A preocupação em formar um profissional crítico, reflexivo, com a percepção
do contexto em que atua para melhor significar sua prática de trabalho, passa antes
pela preparação dos seus formadores: os preceptores. Portanto, esse é um dos
objetivos do curso. Podemos ler nas palavras dos respondentes a presença de uma
ação reflexiva:
Passei a incentivar mais a participação dos alunos, a deixar que tomassem mais iniciativas antes de interferir com meus saberes, a de fato escutar o que têm a dizer. A mudança inicia na minha forma de abordar o aluno. Após o curso, procuro sempre despertar a percepção do aluno diante de diversas situações-problema, estimulo que o aluno pense sobre elas, e apresente outras.
Romper o modelo tradicional de ensino no qual a grande maioria desses
preceptores foi formada, substituindo por um modelo inovador, com práticas
inovadoras, não é tarefa fácil. Problematizar essa formação, refletir sobre ela,
apropriar-se de uma tecnologia educacional que possibilite mudanças, é um
caminho com muitos obstáculos a serem vencidos. Esses obstáculos, relatados
pelos preceptores entrevistados, vão desde a resistência dos graduandos, passando
pelos membros da equipe de trabalho, até a gestão das instituições. Nos relatos
74
abaixo temos a exposição de uma construção do saber do preceptor que alia um
saber experiencial ao saber profissional (técnico, pedagógico):
As dificuldades têm referência na distância entre as atividades assistenciais e o planejamento curricular, bem como a necessidade contínua de alinhar as atribuições do preceptor com as atribuições do servidor que presta assistência. Acho que o treinamento da preceptoria deveria incluir todos os níveis de atuação dentro dos serviços, pois as coordenações dos cursos dos internatos e graduação são as chaves para as mudanças se efetivarem concretamente. É verdade que individualmente vamos mudar aos poucos, mas a mudança total vem das chefias, e esta não se concretizou efetivamente.
O curso cria o espaço e o tempo para problematizar os modos de ser e atuar
na profissão. Ao longo do curso, surgem discussões sobre o “fazer” dos preceptores;
inquietações são verbalizadas, debatidas, questionadas e revistas, proporcionando
um movimento que possibilita a percepção da possibilidade de efetuarem mudanças
que têm princípio no micro universo de seus cenários de prática. Na conclusão do
curso essa percepção se concretiza em propostas de intervenção, muitas delas já
implantadas:
Minha proposta de fim de curso consistia em mudar meu ambulatório de atendimento geral para atendimento aos pacientes do transplante renal. No ambulatório geral, atendia grande número de pacientes, talvez além da capacidade para se ter um bom atendimento, não tinha tempo para dar atenção ao paciente e ao aluno. Era tocar serviço. A minha proposta de mudança de ambulatório geral para ambulatório especializado ao atendimento aos pacientes do transplante foi implementada, o número de pacientes atendidos por vez foi reduzido e passou a ser controlado por mim, de maneira que passei a ter tranquilidade para dialogar com o paciente e discutir com ele e os familiares os seus problemas e as soluções disponíveis. Passei a poder dar atenção ao paciente, ao aluno e a condução do caso.
Um dos eixos abordados pelo curso traz a avaliação como tema para
discussão, despertando grande interesse por parte dos preceptores, pois trata de
uma questão complexa envolvendo o novo conhecimento apresentado. Alguns
Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) focaram na avaliação dos alunos e, por
meio dos questionários respondidos, pode-se ter uma visão da influência desse
aprendizado na prática dos preceptores, implementado assim o que Tardif denomina
75
saber técnico, pedagógico. Nas palavras de preceptores, sobre seus respectivos
TCC:
O trabalho consistiu na implantação do portfólio como instrumento adicional de avaliação do PCI Atenção Integral à Saúde, do curso médico. Embora parte dos professores e alunos tenha dificuldade em aceitar um instrumento de avaliação de formato diferente dos habitualmente usados, após um ano de adoção, a adesão é quase unânime. Especificamente com relação ao uso do portfólio na disciplina AIS, no terceiro período, acredito que os critérios de avaliação se tornaram mais construtivos para alunos e docentes, além de um pouco mais uniformes, quando aplicados por diferentes professores em campos de práticas diferentes.
Apesar de o resultado final ser extremamente positivo, como observado na
grande maioria das respostas analisadas, apenas 16 (53%) dos 30 alunos egressos
que responderam ao primeiro questionário conseguiram implantar seus Trabalhos de
Conclusão de Curso. Este número confirma que muito ainda há de se fazer para que
as intenções de mudanças no ensino médico possam ser realmente realizadas.
Preceptores que se vêm a si próprios com autonomia para modificar sua
prática, que passam a alterar o curso da história no seu ambiente de trabalho,
ressignificando seu fazer, passam a influenciar futuros profissionais a agirem de
forma semelhante, com responsabilidade sobre suas ações, refletindo seu modo de
ser preceptor. A influência direta na formação desses profissionais reflete-se
também nos pacientes que estarão sob seus cuidados, e, por extensão, em toda a
sociedade.
3.2 Refletindo sobre a prática
O segundo questionário foi enviado por via eletrônica aos preceptores que
conseguiram êxito na implantação do seu TCC, ou seja, dezesseis dos trinta que
responderam ao primeiro questionário (53,3%). Nove egressos responderam aos
questionários (56,2%). O restante (43,8%) não respondeu, mesmo após envio de
três convites. O instrumento foi composto por oito perguntas que tiveram o objetivo
de perceber o que houve de transformação na prática profissional, no modo de ser e
exercer a profissão, após a implantação da proposta de intervenção (TCC) nos
76
cenários de prática desses entrevistados.
Ao possibilitar a reflexão da rotina da preceptoria tanto nos momentos de
encontro presencial, nos grupos de discussão, como por meio das buscas ativas e
por solicitação de posicionamento pessoal em relação aos temas discutidos, o curso
tem a pretensão de mobilizar pensamentos críticos e de reformular posturas e
conceitos, levando o preceptor a rever suas práticas cotidianas. De acordo com
Schön (1987,1995), estaria posto neste espaço/tempo a possibilidade de se
verbalizarem reflexões que os preceptores fazem durante suas ações em seus
ambientes laborais, realizando, portanto, reflexão sobre a ação. Freire (2001)
enfatiza que na formação permanente de professores, o momento fundamental é o
da reflexão crítica sobre a prática.
Essa reformulação do fazer/ser profissional pode ser percebido nas
respostas dos preceptores, como no exemplo a seguir:
Após o curso passei a utilizar formas de ensino na qual o aluno deixa de ser passivo no processo de aprendizado e pude compreender melhor e implementar o trabalho com uma equipe multidisciplinar.
A apreensão e a experimentação de novas ferramentas pedagógicas, que
exigem reflexão da prática, com foco no processo de ensino, enriquecendo as
atividades docentes, muitas vezes deixam vislumbrar uma mudança no
entendimento do conceito de educação. Após iniciarem um processo de
aprendizagem no campo da educação, podemos constatar nas palavras de alguns
respondentes, a construção do que Tardif nomeia saber pedagógico.
A implementação do portfólio, como instrumento de acompanhamento e avaliação do curso, ampliou o espaço de reflexão e interlocução entre alunos e preceptores sobre as atividades desenvolvidas. O uso dessa ferramenta (portfólio) tem retirado alunos e professores da relação tradicional de passividade a que o docente tende a submeter o discente no processo ensino-aprendizagem. Sempre fui muito paternalista. Hoje sei que o aproveitamento do aluno é baixo desta forma. Quando solicitado, procuro trabalhar problematizando, ou seja, coloco um problema para que eles busquem a solução e acompanho o processo; os alunos aprendem mais ao vencer os obstáculos.
77
Uma das questões despertadas pelo curso é a necessidade do preceptor
assumir a sua prática docente, compreendendo a necessidade de uma formação
própria para esse exercício e partindo dessa formação desenvolver seu saber
docente. Esse entendimento encontra-se verbalizado nos relatos abaixo:
Houve uma mudança do eixo puramente empírico da prática para uma necessidade de articular a prática com estudo de fundamentos, metodologias e outros modos de produção de prática. Antes do curso minha prática como preceptora era apenas intuitiva e considerava que eu, como profissional não docente, pouco poderia contribuir para qualquer melhoria dentro da formação médica. Atualmente, percebo que, a partir das informações obtidas pelas leituras e principalmente pelas discussões durante o curso, melhorei minha prática como preceptora. Consigo perceber os resultados positivos dessa mudança pela observação do desempenho dos alunos sob minha responsabilidade.
Leite & Silva (2002, p. 608) afirmam que “O envolvimento dos agentes
educativos em processos de reflexão é gerador de uma transformação das práticas
e, portanto, de uma melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem”. Em
relatos dos respondentes podemos identificar essas transformações, como a que
segue:
Passamos a ser orientados como fazer melhor o que fazíamos sem preparo, empiricamente. Nunca havia tido formação pedagógica, no entanto lido com alunos há anos.
Há uma percepção e às vezes até mesmo uma reação de surpresa por parte
de alguns preceptores que não têm título de professor, de se perceberem
educadores, de compreenderem a importância da sua atividade como preceptor na
formação do futuro profissional médico. Segundo Nóvoa (NOVOA, 1992, p. 25), “a
formação não se constrói por acumulação (de cursos, de conhecimentos, ou de
técnicas), mais sim através de uma reflexividade crítica sobre as práticas e de
(re)construção permanente de uma identidade pessoal”.
A maior parte dos respondentes, como veremos em alguns exemplos,
pontua a necessidade premente de que sejam esclarecidas e definidas as funções
do médico que exerce essa atividade de modo que possam ser adequadamente
formalizadas e sistematizadas, favorecendo a ampliação do seu saber docente.
78
O curso desvela a legitimidade da função docente por não docentes. Penso que a função de preceptor deveria ser em primeiro lugar bem definida e estabelecida, pois muitos que já a exercem não se consideram preceptores, enquanto outros se dizem preceptores, mas não agem como tal. Os médicos, de um modo geral, desconhecem o que é ser preceptor.
Como ferramenta de educação permanente, o CFPPIM propõe uma reflexão
crítica sobre a prática, pois não basta refletir sobre a prática, ou como nos diz
Schön, refletir sobre a reflexão na ação, é preciso refletir criticamente. Fazendo uso
de suas reflexões, identifica-se uma forte crítica direcionada à instituição de ensino,
revelada pelos entrevistados:
Acredito que na nossa instituição, por exemplo, mesmo não sendo professor dou mais aulas e ensino muito mais que muitos deles (professores), sem o devido reconhecimento [...] o médico é visto como profissional de segunda classe em relação ao professor; porém ele é peça fundamental para o ensino e a assistência. Em relação à instituição, esta deveria valorizar e reconhecer a função do preceptor, começando por respeitar uma carga horária diferenciada para que o preceptor se dedique às suas tarefas nessa função.
Segundo Tardif (2011), a institucionalização de uma carreira se faz
necessária pois possibilita aos seus membros um sentido de pertencimento a uma
ocupação, desempenhando papéis profissionais que remetem a normas adotadas
pertinentes a essa ocupação. Seguindo com suas reflexões, os preceptores
entendem ser a institucionalização da preceptoria fator determinante para o ensino
médico:
A institucionalização da preceptoria em unidades de ensino médico é fundamental. As coordenações dos departamentos deveriam valorizar e respeitar esta função, estreitando o diálogo e compartilhando os espaços de discussão curricular. Acho que a institucionalização é fundamental. Nem todos os profissionais têm vontade ou perfil para ser preceptor; logo, deixar claro quem tem essa função, definido bem o papel dentro da instituição facilitaria muito o trabalho e qualificaria o ensino.
79
A Institucionalização da preceptoria é necessidade imperiosa nas carreiras, como as da saúde, em que o aprendizado se faz, necessariamente, em atividades práticas dentro dos serviços de saúde.
A profissionalização das atividades do preceptor proporcionaria a
elaboração de seus saberes curriculares e a sedimentação dos saberes
experienciais, completando o que Tardif entende por saberes docentes.
Os respondentes apontam que, profissionalizando a preceptoria,
valorizando o trabalho do preceptor médico, estaríamos investindo na melhora da
qualidade ensino médico e, portanto, do futuro profissional médico.
Assim como feito na análise do primeiro questionário, procurou-se identificar
nos textos das respostas de cada uma das questões quais os principais aspectos
elencados, separando-os em categorias, conforme discriminado no Quadro 7.
3.3 O caminho da preceptoria
Tardif analisa a carreira profissional como uma trajetória dos indivíduos, e
apoia-se no estudo da institucionalização da carreira e na sua representação
subjetiva, como mencionado anteriormente. Como outros autores que se dedicam
à formação docente, Maria Amélia Santoro Franco (2011), realça que as condições
das instituições de ensino são estruturais na determinação docente para remodelar
sua prática e afirma que “O docente que não encontra na instituição condições de
integrar-se num coletivo investigativo, num ambiente coletivo de mútuas
aprendizagens, fica sem possibilidade de organizar-se como sujeito de sua práxis”
(FRANCO, 2011, p.164). Destacando a modelação da carreira, Tardif enfatiza que
esta se situa na confluência das ações individuais e de sua institucionalização
(Tardif, 2011).
Entendendo que a institucionalização da preceptoria se constituiu em ponto
importante identificado pela análise das respostas dos questionários anteriores,
seguiu-se ao aprofundamento desta compreensão em uma terceira fase da
pesquisa. Foram enviados convites para todos os preceptores que participaram
respondendo aos questionários (trinta indivíduos) para, em entrevista, expressarem
quais medidas tomariam na hipótese de ser dado a eles, o poder de institucionalizar
80
QUADRO 7
ANÁLISE DOS CONTEÚDOS IDENTIFICADOS NAS RESPOSTAS DO SEGUNDO QUESTIONÁRIO
Primeira pergunta: As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) visam formar um profissional crítico, reflexivo, humano, comprometido com a sociedade, preparado para atuar dentro do contexto do Sistema Único de Saúde (SUS). Desta forma você considera que a implantação do seu TCC contribuiu para implantação das DCN?
Reflexão na prática ................................................................................................................................ 55,6%
Relacionamento preceptor aluno............................................................................................................ 22,2%
Estratégia pedagógica............................................................................................................................. 11,1%
Segunda pergunta: A sua atual concepção de educação e saúde sofreu influências do CFPP? Como refletiu em sua prática diária?
Educação permanente ............................................................................................................................. 77,8%
Reflexão na prática ................................................................................................................................ 33,3%
Estratégia pedagógica.............................................................................................................................. 22,2%
Terceira pergunta: Quanto aos relacionamentos entre membros de sua equipe, alunos e pacientes, você considera que o curso despertou a importância dessas mediações no ambiente de trabalho?
Educação permanente ............................................................................................................................. 44,4%
Influência no cenário de prática............................................................................................................... 33,3%
Estratégia pedagógica.............................................................................................................................. 22,2%
Relação preceptor aluno.......................................................................................................................... 11,1%
Reflexão................................................................................................................................................... 11,1%
Quarta pergunta: O curso desperta a necessidade de formação pedagógica para preceptores?
Formação pedagógica.............................................................................................................................. 77,7%
Educação permanente ............................................................................................................................. 22,2%
Influência no cenário de prática............................................................................................................... 11,1%
Quinta pergunta: Das técnicas didáticas apresentadas, qual você usa na sua prática?
Capcacitação pedagógica........................................................................................................................ 88,9%
Estratégia pedagógica............................................................................................................................. 11,1%
Sexta pergunta: Os maiores problemas citados em relação à prática de preceptoria são a falta de tempo dos preceptores e interferências do planejamento curricular. Qual sua opinião sobre a institucionalização da preceptoria em unidades de ensino médico, ou seja, a função do preceptor definida, reconhecida e valorizada pela instituição?
Necessidade de institucionalização da preceptoria................................................................................ 100,0%
Valorização do preceptor......................................................................................................................... 44,4%
Necessidade de definição da função do preceptor.................................................................................. 22,2%
Sétima pergunta: A Universidade Federal do Rio de Janeiro está passando por um processo de reforma curricular com vistas ao alinhamento com as DCN. Você participa das reuniões? Caso negativo, você gostaria de participar?
Participação no processo de reforma curricular..................................................................................... 88,9%
Não tem interesse em participar ............................................................................................................ 11,1%
Oitava pergunta: Em que o curso alterou sua visão na prática do relacionamento entre a preceptoria e a gestão acadêmica na Faculdade de Medicina?
Pouca percepção da gestão sobre a preceptoria..............................................................................................................66,7%
Importância da gestão acadêmica associada a preceptoria........................................................................................... 44,4%
81
a preceptoria nas unidades de ensino. Para todos foi feito o seguinte
questionamento: Na hipótese de ser dada a você a responsabilidade de
institucionalizar a preceptoria, quais mudanças você proporia com o intuito de
melhorar a qualidade deste trabalho, visando o aperfeiçoamento do ensino médico
na nossa universidade?
Nove preceptores (30%) responderam à solicitação, expressando sua
opinião sobre o assunto, optando pela forma escrita. Os resultados obtidos foram
analisados na ótica qualitativa, sendo agrupados de acordo com a análise de
conteúdo em: (a) remuneração da preceptoria, (b) capacitação pedagógica, (c)
monitoração da preceptoria, (d) valorização do profissional preceptor e (e) inclusão
do preceptor na gestão universitária. Todos os entrevistados apontaram a
importância da institucionalização da preceptoria. O Quadro 8 condensa os dados
encontrados.
QUADRO 8
ANÁLISE DOS CONTEÚDOS IDENTIFICADOS NAS RESPOSTAS DA ENTREVISTA DA TERCEIRA FASE
Questionamento: Na hipótese de ser dada a você a responsabilidade de institucionalizar a preceptoria, quais mudanças você proporia com o intuito de melhorar a qualidade deste trabalho, visando o aperfeiçoamento do ensino médico na nossa universidade?
Capacitação pedagógica................................................................................................................................................... 66%
Monitoração da preceptoria............................................................................................................................................... 66%
Valorização do profissional preceptor............................................................................................................................... 55%
Remuneração da preceptoria ............................................................................................................................................ 44%
Inclusão do preceptor na gestão universitária.................................................................................................................. 33%
Schön afirma que em uma instituição profissional que dê importância ao
ensino prático reflexivo, o papel e o status de um instrutor precedem os de um
professor - aqui entendido como instrutor o preceptor médico, que atua na prática,
à beira do leito, e como professor o profissional docente que atua apenas na
construção do conhecimento teórico - e para que “dê lugar central para a instrução,
ela (a instituição) deve moldar seus incentivos e planos de carreira, seus critérios
para promoção, salário e cargos acadêmicos, a fim de oferecer apoio institucional
para a função de instrução” (SCHÖN, 2000, p. 227).
Alguns trechos das entrevistas exemplificam como os respondentes
incentivariam a preceptoria valorizando esse profissional e destacando sua
82
importância na formação do profissional médico. As seguintes ações foram
marcadas:
Identificar na equipe aqueles profissionais que têm real interesse e perfil para realizar essa função; todos os profissionais selecionados na etapa anterior devem se capacitar realizando cursos de formação de preceptores para que possam entender melhor as particularidades dessa função e ter a oportunidade de conhecer os principais conceitos e técnicas pedagógicas.
Valorizar e respeitar o tempo que o preceptor deverá dispor para o desempenho dessa função, ou seja, computar esse tempo dentro de sua carga horária de trabalho contratada. Remuneração/reconhecimento específicos para os preceptores, de preferencia levando em consideração a titulação do profissional, ou seja, maior titulação com maior remuneração (à semelhança dos docentes). Essa atividade deveria ser remunerada e se traçar, na medida do possível, metas a serem alcançadas. Deveríamos ter a disponibilidade de todo um arsenal didático e equipamentos que permitissem uma busca ativa dentro da propria instituição.
Masetto (2003, p.13) observa que só recentemente os professores
universitários começaram a se conscientizar de seu papel de docente do ensino
superior e que, não se restringindo a ter diploma de bacharel, mestre ou doutor,
exigem capacitação própria e específica: exigem competência pedagógica, pois eles
são educadores. Podemos ver nas palavras dos respondentes que essa noção é
claramente retratada nas propostas para ações de institucionalização da preceptoria:
Promover um processo paulatino de capacitação para a educação em saúde de todos os docentes, latu e strictu sensu, envolvidos nas atividades de preceptoria. Estimular a educação pedagógica permanente dos docentes, preceptores da UFRJ e dos preceptores da rede de saúde. Criação de grupo permanente de Educação como divisão do Programa de Educação Médica da Faculdade de Medicina.
Segundo Cunha (2007),
[...] os saberes para a docência exigem uma preparação acadêmica numa perspectiva teórica e prática. Exigem também um
83
investimento constante que acompanhe os conhecimentos e a redefinição do mundo do trabalho. [...] que pressupõe a responsabilidade do Estado e das instituições educativas sobre o seu exercício” (CUNHA, 2007, p. 22-3).
Os egressos destacam a importância que dão a monitorização das práticas
de preceptoria, como podemos ler abaixo:
Avaliação permanente da atividade exercida, com verificação do cumprimento de objetivos e metas. Instituir avaliações periódicas do curso e dos preceptores pelos alunos.
Para Zabalza “não é a prática que aprimora a competência, mas a prática
planejada que vai crescendo à medida que vai documentando seu
desenvolvimento e sua efetividade”. Citando Schön, refere que a ideia do
profissional reflexivo transformou-se em um dos postulados básicos da nova
profissionalização e afirma que “a prática pode reforçar o hábito, mas se não for
analisada, se não for submetida a comparações e se não for modificada
poderemos passar a vida inteira cometendo os mesmos erros”, e segue dizendo
que refletir “é documentar a própria atuação, avaliá-la (ou auto avaliá-la) e
implementar os processos de ajuste que sejam convenientes” ( ZABALZA, 2004, p.
126). As ações propostas pelos egressos que se dispuseram a refletir sobre a
possibilidade de institucionalizar a preceptoria vão ao encontro das argumentações
do autor, o que possibilita nossa compreensão de como os mesmos percebem a
importância da sua prática profissional e como elaboram caminhos para que esta
prática venha a ser valorizada e desenvolvida. No exemplo abaixo podemos ter
essa noção:
Reuniões coletivas e periódicas de todos os preceptores para avaliação dos resultados atingidos e busca de mudanças para futuras melhorias que julgarem necessárias.
Segundo Nóvoa (1992, p.28-29), a mudança educacional depende dos
professores, de sua formação e das transformações das práticas pedagógicas; mas,
nenhuma inovação pode passar ao lado de uma mudança ao nível das organizações
84
escolares e do seu bom funcionamento. Os preceptores entrevistados parecem
compreender essa importância quando pontuam:
Buscar atuar conjuntamente com os departamentos da Faculdade de Medicina, responsáveis pela elaboração da grade curricular (adequar os campos da teoria e da prática).
Uma vez formada a equipe de preceptores, buscar a colaboração e o comprometimento de cada um nessa equipe para coletivamente construir um programa de ensino, adequado aos objetivos propostos, cujos conteúdos, atividades e avaliações sejam capazes de possibilitar a construção de um conhecimento sólido e duradouro pelo aluno.
A compreensão de como os preceptores percebem a importância da
institucionalização da preceptoria, nos dá a noção de como foram capazes de
entender a importância de sua função como educadores, e de perceber a
especificidade da função do preceptor que deve aliar uma dupla competência:
técnica/científica, e pedagógica.
85
4 CONCLUSÃO
O preceptor pode ser considerado um docente especial, pois além de ativar
e desenvolver conhecimentos tem que identificá-los na prática, aliando
simultaneamente outras percepções na construção do futuro médico que ali está
sendo formado, sob sua responsabilidade, no contato com pacientes, equipes
multiprofissionais, familiares e outros graduandos. Nesse sentido, é recomendável
que o preceptor se aperceba, busque e elabore, ao longo da sua prática, saberes
próprios da função que incluam um saber ser, saber fazer e saber conviver no
exercício médico; que também inclua a aptidão para avaliar a aprendizagem do
graduando tanto nas suas competências cognitivas, quanto no componente
emocional/afetivo e nas habilidades motoras desenvolvidas. Sobretudo, é esperado
que o preceptor esteja focado e consciente do perfil do profissional que está
formando e entregando à sociedade.
Partindo das referências da literatura do campo educacional, da análise das
avaliações das entrevistas realizadas com egressos do CFPPIM, pode-se concluir
que a formação pedagógica para preceptores médicos em exercício não só é
necessária, para que se venha a alcançar transformações desejáveis no ensino
médico, como é factível.
A avaliação da prática dos preceptores egressos do CFPPIM deixa claro que
assumiram um novo conceito de educação, rompendo padrões tradicionais de
ensino, passando a atuar como protagonistas de mudanças que viabilizam um
ensino médico inovador; revelaram apreensão de técnicas pedagógicas e
capacidade de refletir criticamente sobre sua prática de preceptoria, realizando
transformações em seus ambientes laborais, validando esse curso como
instrumento de educação permanente em saúde, viabilizando a formação
pedagógica daqueles que são responsáveis pela educação médica na UFRJ,
afirmando a importância de iniciativas como essa para outras instituições de ensino
em saúde.
Com os dados analisados pela presente pesquisa, podemos concluir que o
profissional capacitado pelo CFPPIM, por meio da reflexão de sua prática,
responde afirmativamente quanto à conscientização da necessidade de adquirir
competência pedagógica para exercer sua função docente e, mais do que isso,
86
está capacitado a transformar sua prática, realizando uma práxis, baseado em
novos conhecimentos pedagógicos, e entendendo a necessidade de trazer para
seu cotidiano, junto aos formandos em medicina, uma prática reflexiva, capaz de
dar significado às suas ações, produzindo aprendizagem, auxiliando o graduando a
se tornar um profissional autônomo, criativo, crítico e seguindo um modelo de
profissional reflexivo.
A mudança do paradigma educacional, a recuperação de sentido e o
conteúdo das DCN pelos preceptores foram mobilizados pelo curso e interiorizados
pelos egressos respondentes, que passam a ter como compromisso assumir sua
prática como educadores e colaboram para reverter a lógica reinante no ensino
superior, de que não é necessária uma formação pedagógica para o exercício
profissional docente. Porém, mudança exige avaliação, feedback, monitorização,
continuidade. Há premente necessidade em se estabelecer estruturas organizadas
que possibilitem a efetivação dessas ações. A vontade política institucional é
essencial para implantação dessas mudanças; a profissionalização da preceptoria,
oportunizando a construção de uma identidade, possibilitaria o desenvolvimento e
sistematização de saberes e competências específicos.
O curso, CFPPIM, inicia uma formação docente, mas a continuidade, o
desenvolvimento docente, é uma motivação pessoal que pode e deve ser
estimulada pela instituição. O elevado número de egressos que não responderam
aos questionários – 49% não responderam ao primeiro; 43,8% ao segundo e 70%
ao terceiro – pode ter várias causas, mas, muito provavelmente, passa também
pela falta de estímulo institucional: o docente tende a não dar importância ao que a
instituição não valoriza. Portanto, a construção da identidade do preceptor, a sua
implicação no desenvolvimento da preceptoria, na qualidade do profissional que a
instituição está formando, depende diretamente de um posicionamento
político/administrativo da instituição. A falta de mecanismos que possibilitem um
desenvolvimento contínuo de uma formação iniciada faz com que os efeitos
desencadeados pelo curso comecem a esmorecer, tendendo mesmo a
desaparecer na torrente de tantos desafios diários a que estão expostos esses
profissionais.
A formação pedagógica para profissionais docentes do ensino médico,
especificamente e, de forma generalizada, para o ensino superior na área de saúde,
87
deve ser um compromisso das instituições de ensino, assumindo a responsabilidade
desta capacitação.
Não existe material suficiente na literatura que aborde quais são os
conhecimentos, saberes ou competências próprias da preceptoria; esta função é
concebida na prática. O preceptor é um docente da prática, portanto, os saberes
docentes cabem ao preceptor, mas não bastam; os preceptores têm um universo
de ação, de saberes e competências que vão além dos saberes docentes e devem
ser pesquisados, sistematizados e desenvolvidos. Para tanto, é imprescindível o
suporte instituicional, que permitiria o crescimento de uma função que nasceu com
a medicina, mas não tem o reconhecimento como um saber específico, próprio de
um exercício profissional. O estudo dos saberes próprios do preceptor deve
constituir material para futuras pesquisas que aprofundem esse conhecimento.
Entendendo que a melhor universidade é aquela que consegue melhor
atender aos anseios da sociedade, o investimento na formação dos educadores, o
reconhecimento e a valorização daqueles que atuam na formação prática dos
graduandos, permitindo um desenvolvimento mais consciente de sua prática
profissional, viria ao encontro da melhoria da qualidade do ensino médico,
portanto, do profissional médico formado, lucrando o aluno, a universidade e a
sociedade. A universidade, deste modo, estaria cumprindo sua autêntica missão
institucional.
88
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Anexo A – Primeiro questionário
Prezado(a) colega,
Como um dos participantes do Curso de Formação Pedagógica de Preceptores do Internato Médico, aplicado pela equipe do Laboratório de Currículo e Ensino do NUTES, gostaria de contar com sua colaboração para coleta de dados direcionados ao trabalho que estou desenvolvendo para Mestrado em Educação do NUTES/UFRJ:
“Avaliação da prática de preceptoria após formação pedagógica”
Sua participação será fundamental para que possamos validar propostas de suma importância em projetos de formação de preceptores, procurando alinhar a nossa Universidade e a formação médica, pela qual todos somos responsáveis, aos padrões exigidos pela nossa sociedade. O estudo será realizado através de um questionário em ambiente web. Para acessá-lo basta clicar no endereço eletrônico abaixo ou copiá-lo para a barra de endereços de seu navegador. O tempo médio utilizado para responder o questionário é de 15 minutos. https://spreadsheets.google.com/viewform?formkey=dE9jdzdLVC16N1pWeEY5RmJkczJhM
VE6MQ Comprometo-me a respeitar a confidencialidade dos dados de todos os pesquisados, assim como as informações coletadas. Desde já agradeço sua participação, Hulda Cristina Rocha Médica Anestesiologista HUCFF/UFRJ
99
Questionário:
1. Qual o seu nome?
2. Qual o setor que você trabalha?
3. Que influência o Curso de Formação Pedagógica de Preceptores do
Internato Médico teve em seu relacionamento com alunos, internos e
residentes?
4. No exercício da preceptoria quais mudanças ocorreram com base em ações
mediadas por você?
5. Caso você não tenha conseguido efetivar a proposta que consistiu no seu
Trabalho de Conclusão de Curso, quais as dificuldades encontradas?
6. Caso você tenha implantado o trabalho, quais alterações foram observadas?
7. Em um ambiente universitário como você avalia a importância desse curso
na formação do profissional médico que exerce a função de preceptor?
100
Anexo B – Segundo questionário
Prezado colega, Dando continuidade ao trabalho que venho desenvolvendo para o Mestrado de
Educação do NUTES/UFRJ – “Avaliação da prática de preceptoria após
formação pedagógica” – solicito, novamente, sua colaboração. Como sua
proposta de intervenção está sendo desenvolvida em seu cenário de prática, você
foi selecionado para a segunda fase da pesquisa, que consiste em nova coleta de
dados para complementar as informações anteriores.
Como no questionário anterior, esse também será acessado através do link abaixo.
O tempo médio para resposta será de 20 minutos.
https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dGdMbnpXOEhBSzFpeHRmbTlzSC1US3c6
MQ
Agradeço sua participação! Hulda Cristina Rocha
Médica Anestesiologista HUCFF/UFRJ Mestranda do NUTES-UFRJ
101
Questionário:
1. As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) visam formar um
profissional crítico, reflexivo, humano, comprometido com a sociedade,
preparado para atuar dentro do contexto do Sistema Único de Saúde
(SUS). Desta forma você considera que a implantação do seu TCC
contribuiu para implantação das DCN?
2. A sua atual concepção de educação e saúde sofreu influências do
CFPP? Como refletiu em sua prática diária?
3. Quanto aos relacionamentos entre membros de sua equipe, alunos e
pacientes, você considera que o curso despertou a importância dessas
mediações no ambiente de trabalho?
4. O curso desperta a necessidade de formação pedagógica para
preceptores?
5. Das técnicas didáticas apresentadas, qual você usa na sua prática?
6. Os maiores problemas citados em relação à prática de preceptoria são a
falta de tempo dos preceptores e interferências do planejamento
curricular. Qual sua opinião sobre a institucionalização da preceptoria em
unidades de ensino médico, ou seja, a função do preceptor definida,
reconhecida e valorizada pela instituição?
7. A Universidade Federal do Rio de Janeiro está passando por um
processo de reforma curricular com vistas ao alinhamento com as DCN.
Você participa das reuniões? Caso negativo, você gostaria de
participar?
8. Em que o curso alterou sua visão na prática do relacionamento entre a
preceptoria e a gestão acadêmica na Faculdade de Medicina?
102
Anexo C – Entrevista da terceira fase
Caro colega preceptor, Gostaria de contar, mais uma vez, com sua contribuição, participando da última fase do meu trabalho de dissertação de mestrado, no NUTES, sob orientação da Professora Victória Brant (AVALIAÇÃO DA PRÁTICA DE PRECEPTORIA APÓS FORMAÇÃO PEDAGÓGICA).
Essa fase consiste em uma entrevista na qual você responderá abertamente sobre a
seguinte questão:
Na hipótese de ser dada a você a responsabilidade de institucionalizar a preceptoria, quais mudanças você proporia com o intuito de melhorar a qualidade deste trabalho, visando o aperfeiçoamento do ensino médico na nossa universidade?
Isso tomará poucos minutos de seu tempo e poderá ser muito importante na construção de um novo modelo de preceptoria.
Para agendarmos a entrevista, por favor entre em contato por meio de meu telefone pessoal (8849-1098) ou em meu local de trabalho (Setor de Anestesiologia do HUCFF, ramal 2663). Caso não seja possível agendarmos uma reunião presencial poderemos também realizá-la por via telefônica, ou por meio de teleconferência (via Skype ou GTalk).
Caso você prefira, o link abaixo poderá ser utilizado para respostas por escrito, de forma semelhante aos dois questionários anteriores.
https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dE1BT3pOMlV1OFFaczFiY3RMLTdmZGc6MQ
Desde já agradeço sua atenção e me disponho a esclarecer qualquer dúvida.
Hulda Cristina Rocha Médica Anestesiologista HUCFF/UFRJ Mestranda do NUTES-UFRJ
103
Anexo D – Termo de consentimento livre e esclarecido
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (TCLE)
Você está sendo convidado a participar voluntariamente do projeto de pesquisa de mestrado
acadêmico em Educação em Ciências e Saúde, desenvolvido pelo Laboratório de Currículo
e Ensino (LCE) do Núcleo de Tecnologia Educacional para a Saúde (NUTES) da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), intitulado “Avaliação da prática de
preceptoria após formação pedagógica”. O trabalho está sendo desenvolvido sob orientação
da Prof. Dra. Victoria Maria Brant Ribeiro. Sua participação será feita por meio de respostas
a questionários escritos, disponibilizados via internet, e, em alguns casos, por meio de
entrevistas pessoais gravadas. Todas as informações obtidas manterão sigilo quanto a sua
identidade, além de respeitar as normas éticas destinadas à pesquisa envolvendo seres
humanos da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP – MS). Em linhas gerais, o
estudo refere-se à efetividade dos cursos de Formação Pedagógica de Preceptores do
Internato Médico que você realizou. Os objetivos da pesquisa são estritamente acadêmicos
e os dados poderão vir a ser publicados e divulgados, mas sempre mantendo o sigilo quanto
a sua identidade. O acesso e a análise dos dados coletados serão exclusivamente utilizados
por minha pessoa. Comprometo-me também a manter a guarda de todo material pesquisado
(questionários, entrevistas gravadas e transcrições) por um período de cinco anos; após
esse prazo todo o material será destruído. Sua participação nessa pesquisa é isenta de
qualquer despesa. Você poderá deixar de responder qualquer pergunta que considere
inapropriada ou que cause constrangimento de qualquer natureza. Você também tem o
direito de retirar, a qualquer momento, o consentimento para sua participação nessa
pesquisa. Em qualquer fase do estudo você poderá terá acesso a minha pessoa ou a minha
orientadora no endereço Rua Prof. Rodolpho Paulo Rocco, Ed. CCS, Bloco A, sala 33,
subsolo, Cidade Universitária, ou por meio dos telefones e e-mails a seguir:
• Hulda Cristina Rocha (pesquisadora responsável) - telefone (21) 2562-2663 - e-mail: [email protected] • Victoria Maria Brant Ribeiro (orientadora) - telefones (21) 2562-6355 / 2562- 6356 / 2194-1617 - e-mail: [email protected] Caso você tenha dificuldade em entrar em contato com o pesquisador responsável,
comunique o fato ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do Hospital Clementino Fraga
Filho/HUCFF/UFRJ – Rua Prof. Rodolpho Paula Rocco, número 255 – Cidade
Universitária/Ilha do Fundão – Sala 01D-46/1º andar - pelo telefone 21 2562-2480, de 2ª. a
6ª. feira, das 8 as 15 horas, ou por meio do e-mail [email protected].
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CONSENTIMENTO PARA SUA PARTICIPAÇÃO NESSA PESQUISA
Acredito ter sido suficientemente informado a respeito do estudo acima citado, que foram
lidos por mim. Eu discuti com a Dra. Hulda Cristina Rocha sobre minha decisão de participar
desse estudo. Ficaram claros para mim quais são os propósitos do estudo, os
procedimentos a serem realizados, seus desconfortos e riscos, as garantias de
confidencialidade e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha
participação é isenta de despesas. Concordo voluntariamente em participar desse estudo e
poderei retirar meu consentimento a qualquer momento, sem penalidades ou prejuízos. Eu
receberei uma cópia desse Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) ficando as
demais com o pesquisador responsável por essa pesquisa. Além disso, estou ciente que eu
e o pesquisador responsável deveremos assinar todas as cópias desse TCLE.
Rio de Janeiro, em ____ de _______________ de 2011
Assinatura do(a) participante: _______________________________________
Assinatura da pesquisadora: ________________________________________