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7 Sitientibus, Feira de Santana, n.35, p.7-27, jul./dez. 2006 AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NO GERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NO CAMPUS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA Sandra Maria Furiam* Wanda Risso Günther** RESUMO — O trabalho apresenta uma avaliação do projeto de Educa- ção Ambiental voltado para o Gerenciamento dos Resíduos Sólidos ge- rados no campus da UEFS. O projeto foi implantado em 1992 tendo como princípio a coleta seletiva e a valorização dos resíduos secos e a compostagem do resíduo orgânico. Foi realizada uma pesquisa documental e entrevis- tas com o objetivo de se obter a representação social de professores, alunos e funcionários da universidade sobre o projeto. Observou-se que a estratégia educacional está centrada na mudança de comportamento e, se por um lado proporcionou a formação de hábitos responsáveis no descarte do lixo - não jogar o resíduo no chão - por outro, não conseguiu promover a compreensão das causas dos hábitos consumistas nem incor- porar, de maneira geral, no dia-a-dia da comunidade universitária, a prática do descarte segregado do lixo. PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental; Resíduos Sólidos; Universi dade. 1 INTRODUÇAO Os resíduos sólidos gerados em ambientes universitários englobam, além daqueles classificados com resíduos sólidos urbanos, alguns resíduos classificados como industriais e como * Prof. Adjunto, DTEC (UEFS). Doutora em Saúde Ambiental na Área de concentração Saúde Ambiental pela FSP/USP. Integran- te da Equipe de Estudo e Educação Ambiental da UEFS. E-mail: [email protected]. ** Prof. do Dep. de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected] Universidade Estadual de Feira de Santana – Dep. de Tecnologia. Tel./Fax (75) 3224-8056 - BR 116 – KM 03, Campus - Feira de Santana/BA – CEP 44031-460. E-mail: [email protected]

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AVALIAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL NOGERENCIAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NOCAMPUS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DESANTANA

Sandra Maria Furiam*Wanda Risso Günther**

RESUMO — O trabalho apresenta uma avaliação do projeto de Educa-ção Ambiental voltado para o Gerenciamento dos Resíduos Sólidos ge-rados no campus da UEFS. O projeto foi implantado em 1992 tendo comoprincípio a coleta seletiva e a valorização dos resíduos secos e a compostagemdo resíduo orgânico. Foi realizada uma pesquisa documental e entrevis-tas com o objetivo de se obter a representação social de professores,alunos e funcionários da universidade sobre o projeto. Observou-se quea estratégia educacional está centrada na mudança de comportamentoe, se por um lado proporcionou a formação de hábitos responsáveis nodescarte do lixo - não jogar o resíduo no chão - por outro, não conseguiupromover a compreensão das causas dos hábitos consumistas nem incor-porar, de maneira geral, no dia-a-dia da comunidade universitária, aprática do descarte segregado do lixo.

PALAVRAS-CHAVE: Educação Ambiental; Resíduos Sólidos; Universi dade.

1 INTRODUÇAO

Os resíduos sólidos gerados em ambientes universitáriosenglobam, além daqueles classificados com resíduos sólidosurbanos, alguns resíduos classificados como industriais e como

* Prof. Adjunto, DTEC (UEFS). Doutora em Saúde Ambientalna Área de concentração Saúde Ambiental pela FSP/USP. Integran-te da Equipe de Estudo e Educação Ambiental da UEFS. E-mail:[email protected].

** Prof. do Dep. de Saúde Ambiental da Faculdade de SaúdePública da Universidade de São Paulo. E-mail: [email protected]

Universidade Estadual de Feira de Santana – Dep. deTecnologia. Tel./Fax (75) 3224-8056 - BR 116 – KM 03, Campus -Feira de Santana/BA – CEP 44031-460. E-mail: [email protected]

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resíduos de serviços de saúde. Dentre os resíduos sólidosurbanos, encontram-se os resíduos orgânicos provenientes damanipulação de alimentos, da manutenção e limpeza de áreasverdes (poda), embalagens de vidro, plástico, metal, papel/papelão, resíduos de varrição, entulhos provenientes de obrase demolições. Também são descartados, juntamente com es-ses resíduos sólidos classificados como resíduos comuns, car-caças de microcomputadores, aparelhos-eletrodomésticos elaboratoriais, como também, pilhas e baterias, lâmpadas fluo-rescentes e embalagens de resíduos perigosos, como, depesticidas, herbicidas, tintas e de óleos. Esses resíduos sãogerados nos setores administrativos, e de apoio às atividadesacadêmicas, tais como, restaurantes e cantinas, creches e nosetor de limpeza, manutenção e de ensino, como salas de aulae laboratórios de ensino e pesquisa na área de química, debiologia, de física, das engenharias e da saúde, onde sãogerados diversos resíduos classificados como classe I (perigo-so) (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1987),incluídos nesses, os resíduos de serviços de saúde classifica-dos, conforme Resolução CONAMA 307/2002, como biológicos,químicos e rejeitos radioativos.

Esses resíduos são gerados continuamente nas atividadesde ensino, e de forma esporádica nas atividades de pesquisa,dependendo, portanto, dos cursos oferecidos em cada univer-sidade e das pesquisas realizadas. O diagnóstico da geraçãoe da classificação dos resíduos e o acompanhamento ao longodo tempo das atividades realizadas em cada universidade, bemcomo atividades de Educação Ambiental são importantes paraorientar a segregação, a coleta, o tratamento e a destinaçãofinal desses resíduos sólidos gerados nesse ambiente, uma vezque requerem um tratamento especial.

Observa-se que a responsabilidade das universidades noadequado gerenciamento de seus resíduos, tendo em vista aminimização dos impactos no meio ambiente e na saúde públi-ca, passa pela sensibilização dos professores, alunos e fun-cionários envolvidos diretamente na geração desses resíduos,e de seus diversos setores administrativos que podem terrelação com a questão (prefeitura, compras, almoxarifado,etc.).

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Nesse contexto, em outubro de 1992, a Universidade Estadualde Feira de Santana (UEFS), por meio da Equipe de EducaçãoAmbiental (EEA), implantou no campus um sistema de gerenciamentode seus resíduos sólidos, que constava de segregação nafonte, coleta seletiva, compostagem dos resíduos orgânicos,oficina de papel, armazenamento dos recicláveis, todos elesdentro do contexto da Educação Ambiental. Os objetivos fun-damentais da Educação Ambiental são os de levar às pessoasinformações que estimulem a tomada de consciência, e aodesenvolvimento de atitudes e comportamentos para que pos-sam participar, ativa e positivamente, no seu entorno. Confor-me Sorrentino (1995), “a Educação Ambiental deve contribuirpara a conservação/proteção do Planeta e de todas as suasespécies, e para a melhoria da qualidade de vida de cadaindivíduo e de cada comunidade, por meio de processos educativosinstigantes, interativos, holísticos e que resgatem a capacida-de de autoconhecimento e de autogestão política e econômica”e deve “promover a interdisciplinaridade, a visão crítica eglobal/holística, a participação e a interação, o autoconhecimento,o resgate de saberes e a resolução de problemas, tendo comoconteúdos os problemas ambientais e de qualidade de vidaconsiderados relevantes para os grupos envolvidos”. Se oconteúdo do problema considerado relevante é a questão dolixo, as atitudes ambientais dos seres humanos em relação aessa, devem refletir sobre assuntos que vão além do ato deseparar resíduos. É um profundo exercício crítico acerca dosvalores que intervêm como suporte em sua ação.

A Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS) foiimplantada em 1976, está localizada à margem da RodoviaTransnordestina, Br 116 – km 3, na cidade de Feira de Santana,Estado da Bahia, a uma distância aproximada de 3 quilômetrosdo centro da cidade e 108 quilômetros de Salvador, capital doEstado.

Na época da pesquisa, a comunidade universitária eracomposta por 6.581 alunos matriculados em 22 cursos degraduação, 1.058 matriculados em cursos de pós-graduaçãolatu sensu. O número de docentes era de 677 e o de funcio-nários, de 447 (UEFS, 2001).

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2 METODOLOGIA

A pesquisa refere-se a um estudo descritivo, de caráterexploratório, para avaliar o projeto de Educação Ambientalvoltado para o gerenciamento do lixo gerado no campus daUEFS. A metodologia da pesquisa qualitativa apresentou-secomo abordagem adequada para contemplar os aspectos decaracterização da realidade local a ser estudada que a teoriada representação social permite abranger. Conforme Minayo(1995, p.10), “as metodologias da pesquisa qualitativa sãoaquelas capazes de incorporar a questão do significado e daintencionalidade como inerentes aos atos, às relações e àsestruturas sociais, sendo essas últimas tomadas, tanto no seuadvento, quanto na sua transformação, como construção hu-mana significativa”.

Na avaliação do programa de Educação Ambiental reali-zado no campus da UEFS, foram observadas as questõessubjetivas e objetivas presentes no tema da pesquisa. Para asprimeiras questões, utilizaram-se para a coleta de dados: entrevistas,observações de campo e análise do material impresso utilizadona sensibilização. Para as questões objetivas, buscou-se quantificaros principais indicadores de geração de resíduos sólidos nocampus da UEFS.

Entrevista individual

Para se obter a representação social dos diversos atoresenvolvidos, o instrumento de coleta de dados utilizado foi aentrevista semi-estruturada, gravada magneticamente e, pos-teriormente, transcrita integralmente. Pela representação so-cial, foi explorado um dos aspectos subjetivos: como os pro-gramas de Educação Ambiental repercutiram nos diversos atoressociais atingidos pela ação.

O roteiro das entrevistas foi construído a partir de trêseixos centrais: a construção do conhecimento, o desenvolvi-mento de valores e atitudes, o comportamento e a ação.

Foram entrevistados cinco professores, nove alunos equatro funcionários. Os professores e os funcionários entre-

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vistados estavam em atividade na UEFS, num período de 10 a26 anos. Os alunos entrevistados estavam cursando o últimosemestre dos cursos de: Geografia, Letras, Odontologia, Ciên-cias Biológicas, Pedagogia, Direito, Engenharia Civil e Mate-mática, sendo sete do sexo feminino e dois do sexo masculino,com idade variando de 21 a 31 anos. O tempo de estudo naUEFS variou de 7 a 18 semestres.

Pesquisa documental

Após análise dos documentos disponíveis, selecionaram-se, intencionalmente, aqueles que pudessem reconstruir opassado do projeto, como, diagnóstico local, projetos, relató-rios e artigos técnicos. Também foi importante selecionar omaterial utilizado nas campanhas educacionais, como, cartilhas,folder, fotos de cartazes, entre outros. Buscou-se, também, teracesso às planilhas que continham dados sobre a quantificaçãoe a qualificação dos resíduos sólidos gerados no campus.

Esses documentos subsidiaram a fase descritiva do pro-grama, como também o levantamento dos indicadores de ge-ração de resíduos sólidos. Serviram para explorar os aspectosimportantes para a avaliação encontrados nos materiais escri-tos e fotográficos utilizados com a finalidade de promover asensibilização da comunidade universitária.

Organização e Análise dos Dados

A análise das entrevistas realizadas baseou-se na metodologiado discurso do sujeito coletivo (DSC), conforme Lefèvre, Lefèvree Teixeira (2000). O autor propõe, para a elaboração dodiscurso do sujeito coletivo, que se tomem os “discursos emestado bruto e os submeta a um trabalho analítico inicial dedecomposição que consiste na seleção das principais idéiascentrais, presentes em cada um dos discursos individuais e emtodos eles reunidos, e que determinam, sob uma forma sinté-tica, a reconstituição discursiva da representação social”. ODSC é uma “agregação que reúne pedaços isolados de depo-imentos individuais de modo a formar tantos discursos-sínteses

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quanto se julgue necessário para expressar uma dada figura,ou seja, um dado pensar ou representação social sobre ofenômeno” (LEFÈVRE; LEFÈVRE; TEIXEIRA, 2000).

3 RESULTADO E DISCUSSÃO

3.1 DESCRIÇÃO DO MANEJO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS NAUEFS

Um dos princípios fundamentais do gerenciamento dosresíduos sólidos proposto para a UEFS foi a sua separação nafonte geradora e seu descarte em lixeiras identificadas por core pelo adesivo explicativo referente ao tipo de resíduo a seracondicionado. Essa separação consistiu em descartar o pa-pel, na lixeira azul, o plástico, na vermelha, o metal, na amarela,o vidro, na verde e o lixo não reciclável e sem mercado naregião, denominado de aterro, deveria ser descartado na lixei-ra de cor abóbora. Acondicionadores na cor marrom, para oresíduo orgânico, foram instalados somente nas cantinas porserem esses locais os seus maiores geradores. Nas cantinas,também foram instalados acondicionadores de maior portepara armazenar, temporariamente, o papel, metal, vidro, plás-tico e o lixo aterro. A coleta, no iníco, era realizada manualmen-te por dois funcionários da UEFS. Um deles coletava o papeldas lixeiras espalhadas pelo campus e o transportava até umabaia de armazenamento. Esse funcionário também era respon-sável pela coleta, transporte e processamento do resíduoorgânico e da coleta do vidro, metal e plástico colocados naslixeiras maiores junto às cantinas. O lixo aterro era coletadodas respectivas lixeiras, pelo segundo funcionário, e encami-nhado até uma policaçamba estacionada em local estratégico.Mais tarde, foi contratado mais um funcionário para trabalhar,especificamente, com a coleta, transporte e processamentodos resíduos orgânicos.

Essa forma de gerenciamento do lixo perdurou até outubrode 1999. Em anos anteriores, observa-se que havia problemasnessa forma de manejo, sendo apontados como causas prin-cipais:

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�O crescimento da área construída no campus, que seestendia horizontalmente, da ordem de 56%, como tambémaumento da comunidade universitária, pela criação de novoscursos de graduação e de pós-graduação. Esses dois aspectostraziam como conseqüência maior produção de lixo nos módulos,bem como, aumento da distância a ser percorrida pelos funci-onários que o coletavam.

�A policaçamba usada como recipiente para o armazenamentodo lixo-aterro era deslocada, à medida que as construçõesavançavam, ficando cada vez mais longe dos pontos de gera-ção dos resíduos. Isso causava o aumento do tempo de des-locamento do funcionário responsável pela coleta.

�O descarte das latas de refrigerante realizado de formaincorreta, isto é, no acondicionador de lixo-aterro, fez apare-cer, na Universidade, a figura do catador de latinhas no localde armazenamento desse resíduo, o qual rasgava os sacos eespalhava o lixo pelo chão.

�A grande geração de papel em pontos localizados, comono Centro de Convivência e no Centro Administrativo Univer-sitário, e o seu acondicionamento em tonéis insuficientes paraarmazenar a produção diária, além de proporcionar um aspectodesagradável, mostrava que esse tipo de coletor era inadequa-do para esses locais.

Levando em conta esses fatores, a coleta seletiva foireformulada para que pudesse ser realizada de forma satisfatória,dotando-se a Universidade com nova infra-estrutura para oprojeto, foram adquiridos acondicionadores de maior portepara o papel, e construído um espaço definitivo para o armazenamentodo lixo aterro e de lâmpadas fluorescentes, passando a utilizar-se um trator para o transporte dos resíduos sólidos.

As justificativas do projeto Coleta Seletiva e Reaproveitamentodo Lixo gerado no Campus estabelecem que “a proposta básicado projeto é utilizar a Educação Ambiental como elemento detransformação, levando a comunidade universitária (funcioná-rios, estudantes, professores) a uma mudança de comporta-mento/atitude em relação à problemática do lixo”. Para tanto,as campanhas de informação e de sensibilização envolveram:palestras, mostras de vídeos e filmes, cartazes, adesivos afi-

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xados nos acondicionadores, indicando o tipo de lixo a serdepositado em cada recipiente.

Além dessas ações descritas no projeto, são realizadas,esporadicamente, visitas da equipe responsável pela propostaàs salas de aula para divulgação da coleta seletiva, exposiçãodas peças produzidas nas oficinas de reciclagem, realização deoficinas de papel em locais com grande fluxo de pessoas epalestras semestrais para os alunos ingressantes nos cursosde graduação da UEFS.

3.2 ATIVIDADES E MATERIAIS DE SENSIBILIZAÇÃO E INFOR-MAÇÃO SOBRE A COLETA SELETIVA

3.2.1 CARTAZES

As frases utilizadas nas campanhas de sensibilização puderamser separadas em blocos de acordo com seu conteúdo normativo/participativo e reflexivo. Consideram-se como conteúdo normativo/participativo os textos que enfatizavam as normas de segrega-ção dos resíduos sólidos e as chamadas para a comunidadeuniversitária participar na coleta seletiva. Muitos desses car-tazes mostram a simbologia das cores das lixeiras com o res-pectivo tipo de lixo a ser descartado e outros chamam a atençãoem relação às cores, por exemplo: “Papel é no azul. ColetaSeletiva já”; “Lixo plástico, lixeira vermelha. Questão de memó-ria.”. Também “Faça a coisa certa. Coleta Seletiva, a melhorforma de descartar o lixo.” “Não deixe para depois o que vocêpode fazer agora. SE-PA-RE o lixo: Colabore com a coletaseletiva da UEFS.”.

Os textos considerados reflexivos apresentam conteúdossobre as conseqüências ambientais do lixo no ambiente, e aspossibilidades de seu reaproveitamento. Como exemplo, pode-se citar: “Reciclar o lixo é preservar o meio ambiente”; “Vejao que acontece com o papel seco jogado na lixeira azul: A EEARECICLA.” (Fotos do processo de reciclagem de papel reali-zado pela EEA). “Veja o que acontece com os restos de comidajogados no tonel marrom.” (Fotos mostrando o processo decompostagem EEA/UEFS).

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A sensibilização dirigida à comunidade universitária temcomo foco principal levar o gerador de resíduos a separá-lo nafonte, para atender ao gerenciamento proposto. Caso isso nãoocorra, o lixo que poderia ser inserido novamente na cadeiaprodutiva, irá para o aterro. Observa-se que a maioria dasmensagens presentes nos cartazes tem esse conteúdo normativoe chamadas para que a comunidade universitária participe dasegregação. Contudo, considerando que a Educação Ambientalnão deve apenas resolver a problemática do lixo através daação individual, observa-se que as ações educacionais reali-zadas poderiam ter ido mais além, utilizando-se, nesses car-tazes, conteúdos que refletissem as causas da existência dosresíduos sólidos, como também suas conseqüências para asaúde e o ambiente e para a relação sociedade-natureza,histórica e socialmente construída.

Ainda em relação ao caráter normativo da maioria doscartazes, Viezzer, Rodrigues e Moreira (1996, p.15) observaque essa abordagem pode “dificultar o estabelecimento darelação empática, tão necessária ao aprendizado”. Alguns protestossobre esse caráter normativo foram observados nas respostasde alguns alunos quando comentaram que a “coleta seletivanão deve ser imposta” ou “parece ser lavagem cerebral”.

Nos textos incluídos como reflexivos, observam-se conteú-dos soltos não relacionando causa efeito, como em “Reciclaro lixo é preservar o meio ambiente”. Trajber e Manzochi, ana-lisando diversos materiais impressos ditos de Educação Ambiental,cita que “poucos textos de Educação Ambiental seguem estru-turalmente um modelo de organização textual visto como “ide-al”: contextualização histórica e social do discurso; abordagemdos efeitos provocados por decisões e atitudes; reflexão queleve a uma consciência do problema; e apresentação de pro-postas e soluções” (TRAJBER; MANZOCHI, 1996). Em conteú-dos onde aparece a resolução do problema através da compostageme da reciclagem do papel, o cartaz torna-se mais rico, poisdemonstra, à comunidade, que o resíduo descartado correta-mente é valorizado, transformando-se em composto e papelreciclado, não sendo encaminhado, portanto, ao aterro.

Outra observação importante é o pouco incentivo dado àminimização dos resíduos no conteúdo dos cartazes, o que

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pode levar a sociedade a incorporar valores no sentido que areciclagem é a solução, excluindo dela a responsabilidade noenfrentamento da problemática do lixo. Os resíduos, antes deserem encaminhados para a reutilização ou reciclagem, devemter sua geração reduzida ao máximo, essa constitui uma açãopreventiva dos riscos que representam e dos danos sanitários,econômicos, sociais e ambientais que poderão acarretar devi-do à sua disposição inadequada ou mesmo na redução do custode seu gerenciamento e da não-degradação de áreas que suacolocação no solo representa.

3.2.2 ADESIVOS EXPLICATIVOS

No início do projeto, foram criados adesivos para seremcolocados nas lixeiras para a identificação do tipo de lixo a serdescartado em cada recipiente específico. O adesivo utilizadona fase inicial do projeto foi criticado pelo tamanho reduzidodas letras que compunham as palavras, fato que motivou a não-participação no descarte correto dos resíduos nas respectivaslixeiras. Em 1996, esses adesivos foram substituídos por outroscom letras maiores, e o problema deixou de ser citado nasconsultas realizadas à comunidade universitária, posterior-mente.

3.3.3 RECEPÇÃO DOS ALUNOS INGRESSANTES NOS CUR-SOS DE GRADUAÇÃO

A Universidade recebe, semestralmente, novos alunosprovenientes de diversas regiões da Bahia e de outros estadosbrasileiros. Como na maioria das cidades brasileiras a formade manejo do lixo é a coleta e disposição em lixões, os alunosnão têm o hábito da coleta seletiva tornando-se fundamentalque eles sejam informados sobre a forma de gerenciamento dolixo da UEFS. Até o ano de 1996, eram utilizados cartazes,exposição de materiais reciclados, distribuição de materiaisinformativos, palestras em sala de aula. A partir do ano de1997, além dessas atividades, são realizadas palestras duran-te o curso de capacitação dado aos calouros para a utilizaçãoda Biblioteca da UEFS.

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O curso é promovido pela Biblioteca, como pré-requisitopara obtenção da senha de acesso ao material bibliográfico e,portanto, cobre um número significativo de alunos ingressantes.

3.4 INDICADORES DE GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS NAUEFS

O acompanhamento da geração de lixo na Universidade érealizado através da pesagem diária de cada tipo de resíduosólido reciclável coletado (papel, vidro, metal, plástico e orgâ-nico) e de pesagens diárias, durante uma semana de cada mês,do lixo denominado “lixo aterro”. O valor médio do peso obtidodurante essa semana é considerado como a produção diáriado mês, para o lixo aterro. Nos meses em que não é possívelrealizar a pesagem, é considerado o valor da geração percapita encontrado no mesmo mês do ano anterior. A Tabela 1mostra a evolução dos indicadores de geração dos resíduossólidos na UEFS, durante o período de 1994 a 2001.

Considerando-se a geração total anual de resíduos sóli-dos e os dados sobre o número de pessoas que compõem acomunidade universitária (alunos de graduação + professores+ funcionários), foi calculada a geração per capita média anualdurante os anos de 1994 a 2001, bem como, o acréscimo dageração de lixo da UEFS e do valor do per capita médio anualdurante o período estudado.

Tabela 1 – Evolução dos indicadores de geração dos resíduossólidos na UEFS, de 1994 a 2001.

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Observando-se os dados relacionados na Tabela 2, veri-fica-se que a geração anual de lixo na Universidade teve, atéo ano 2001, um acréscimo que variou de 4,7 a 34,2 % ao ano,com um valor médio de 19,9%. Outro dado que chama aatenção é o valor do incremento do per capita anual que, varioude 7,2% a 30,4%, com exceção do ano de 1997, quando houveum decréscimo de 3,4%.

A média do incremento anual do per capita de lixo foi de15,5%. Esse fato é um fenômeno que ocorre em vários lugaresdo mundo, a exemplo da cidade de Porto Alegre, cuja produçãode lixo vem crescendo 5% ao ano. Contudo, deve-se ter cautelaao afirmar-se que o aumento da geração do lixo seja apenasreflexo do consumo. Esse crescimento pode ter sido devido àmelhoria da eficiência da coleta, como também, a uma maiorcobertura do serviço dentro do município, conseqüentemente,um maior volume de resíduos sólidos coletados. Também, empaíses pertencentes à Comunidade Européia, foi observadoque “nos últimos seis anos, o volume de resíduos sólidosaumentou 10% ao ano” (COMISSÃO EUROPÉIA, 2000). Paradeter esse avanço na produção de resíduos, esses países têmutilizado várias estratégias, por exemplo, limite da geração percapita anual de resíduos sólidos em cerca de 300 kg/pessoa/ano, introdução de tecnologias apropriadas, políticas ambientaisorientadas ao produto, taxação sobre a geração de resíduos

Tabela 2 – Evolução da geração, do per capita médio anual dageração de lixo na UEFS, de 1994 a 2001.

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e programas de redução de resíduos nas escolas (ÖKO-INSTITUT,1999).

Na UEFS, infere-se que a falta de incentivo à minimizaçãode resíduos na instituição, a instalação de sua gráfica, ocrescimento do número de seus cursos e a conseqüente ins-talação de novos equipamentos, como também a informatizaçãoaí ocorrida nos últimos anos, influenciaram o incremento dageração de resíduos.

Outro dado que merece atenção especial é o decréscimoda quantidade de resíduos recicláveis coletados no períodoavaliado. Isso pode ser reflexo da redução das atividadeseducacionais e da divulgação, previstas no projeto. A conse-qüência disso é o descarte incorreto do lixo pela comunidade,o qual deixa de ser reaproveitado. Além disso, outros fatoresque podem ter influenciado na diminuição da quantidade deresíduos recicláveis coletados e, conseqüentemente, no au-mento do lixo aterro: erros na pesagem e, até mesmo, a não-pesagem dos resíduos recicláveis por parte do funcionário dacoleta; ineficiência da coleta do resíduo; utilização, pelas can-tinas, de polpa de frutas industrializadas para o preparo dossucos comercializados em detrimento das frutas; resíduos resultantesda poda realizada na UEFS deixaram de ser computados nacaracterização por dificuldades operacionais.

3.5 ENTREVISTAS

Dentre os vários aspectos retirados do discurso coletivoresultante da aplicação das entrevistas com a comunidadeuniversitária, destacam-se:

�A comunidade universitária tem conhecimento do progra-ma de Educação Ambiental da UEFS e estabelece uma corre-lação forte do projeto com a coleta seletiva.

� Os acondicionadores de lixo coloridos e os adesivosexplicativos chamaram a atenção e tiveram um impacto inicialimportante, contudo, ao longo do tempo, mesmo reconhecidoscomo parte da paisagem do ambiente da Universidade, perde-ram o interesse da comunidade e, conseqüentemente, a fun-ção. Contudo, a segregação dos resíduos sólidos produzidos

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na fonte geradora não se tornou rotineira. Sawaia (2001)chama a atenção para o fato que as estratégias utilizadas paramotivar a participação são homogeneizadoras e centradas emuma única necessidade ou questão social; tal processo, embo-ra necessário para romper com o cotidiano alienador, deve serutilizado com cuidado para não prolongá-lo, gerando o empo-brecimento da percepção e das necessidades. Isso também éreforçado pela idéia central obtida de que o projeto “só mudouno início”, sentimento expresso tanto por professores com maisde dez anos na UEFS, quanto por alunos com vivência menorque cinco anos.

� Os cartazes e, principalmente, o colorido das lixeiras sãocitados como a forma de conhecimento imediato sobre o pro-jeto.

� A preocupação com a entrada de novos alunos a cadasemestre é explicitada salientando-se a importância das infor-mações sobre o projeto aos ingressantes. Contudo, observa-se que alguns professores, com muito tempo na UEFS, “per-deram”, ou não têm a prática da segregação dos resíduos nafonte. Conforme Moser (2001, p. 201), os efeitos induzidos nossujeitos, no que se refere aos comportamentos pró-ambientais,têm, além da adaptação sob a forma de adoção transitória deum novo comportamento, uma forte tendência a voltar aoshábitos comportamentais anteriores. A exposição às pressõesproduz um desequilíbrio, induzindo à tendência de se reinte-grarem comportamentos iniciais.

� Depreende-se, das falas dos entrevistados, que há poucoenvolvimento e “colaboração” relativamente ao projeto, dandoa impressão de que a coleta seletiva não lhes diz respeito.Sorrentino (1995) chama atenção sobre isso ao descreversobre a quinta dimensão da participação, que é a subjetivida-de. Não há participação, sem que as pessoas se sintam envol-vidas com aquela situação; as pessoas devem se sentir per-tencentes ao local e sentir que tudo a sua volta lhe diz respeito.

�A importância atribuída, pelos participantes, à divulgaçãodo destino dado aos resíduos sólidos após a coleta seletiva,e o retorno da informação sobre os resultados quantitativos:quantidade coletada de cada tipo de resíduo reciclável; tipos

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de operações/transformações sofridas pelos resíduos, queresultam em diferentes produtos, entre outros. Esses resulta-dos quantificáveis produzem os indicadores de desempenho doprojeto, os quais devem ser levantados, comparados perio-dicamente e divulgados para a comunidade, no sentido de,além de produzirem conhecimento e de servirem para a ava-liação do trabalho, figurarem como elementos de motivaçãopara a continuidade das ações, um estímulo visível para queo mesmo não pare.

�A pouca visibilidade das ações desenvolvidas pela Equipede Educação Ambiental e a localização da sede dessa equipe,a qual é isolada dos prédios onde se realizam as atividadesadministrativas e de ensino. No espaço dessa sede, são desen-volvidas as principais atividades relacionadas à recuperaçãodos resíduos sólidos coletados.

� O projeto influenciou na mudança de hábitos em relaçãoao descarte do lixo (não jogar o lixo no chão) e serviu parareforçar a consciência ambiental que algumas pessoas já possuíam,antes de entrar em contato com a proposta então defendida.

�Quanto à não-colocação do lixo na lixeira apropriada,afirma-se que há esquecimento, ao longo do tempo, da asso-ciação do tipo de material e a cor apropriada das lixeiras, e quemuitas dessas foram removidas. Em observações realizadas nocampus, constata-se que as lixeiras continuam espalhadas emtodos os locais e todas são identificadas com os adesivosexplicativos. Portanto, a infra-estrutura para se participar dasegregação na fonte é oferecida. Resta, apenas, jogar o lixono lugar certo, conforme concebido pelo projeto, ação quedeve ser espontânea e sem caráter punitivo. Conforme Demo(1999), “muitas desculpas são justificação do comodismo, jáque participação supõe compromisso, envolvimento, presençaem ações”. Muitas vezes, esforço físico, como no caso, ler osadesivos afixados nas lixeiras para a identificação do tipo delixo a ser descartado.

�O caráter extensionista do projeto foi lembrado, tantopelos alunos, como pelos professores.

�A atitude dos usuários das cantinas, em relação ao des-carte do lixo, e sua desorganização, chama a atenção dacomunidade universitária. Esse fato pode ser um indicativo de

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que o espaço das cantinas deve ser um local estratégico paraações de sensibilização da comunidade e de implementação depráticas de mudança de hábito.

4 CONCLUSÃO

Passados mais de nove anos da implantação do ProjetoColeta Seletiva e Reaproveitamento do Lixo na UniversidadeEstadual de Feira de Santana, observa-se que a EducaçãoAmbiental praticada na UEFS, tendo como eixo central a ques-tão dos resíduos sólidos, se por um lado proporcionou a for-mação de hábitos responsáveis no descarte do lixo - não jogaro resíduo no chão - por outro, não conseguiu promover acompreensão das causas dos hábitos consumistas e nem in-corporar, de maneira geral, no dia a dia da comunidade uni-versitária, a prática do seu descarte segregado.

Esses aspectos refletiram na redução da quantidade dosresíduos recicláveis coletados, sendo que o impacto inicial doprojeto, tanto para professores com mais de dez anos na UEFS,quanto para alunos com vivência menor que cinco anos, enfra-queceu ao longo do tempo, e a adoção de um novo compor-tamento foi transitória, voltando ao inicial. A explicação paraisso pode estar na forma como se realizaram as ações educa-cionais, que se tornaram rotineiras, levando ao empobrecimen-to da percepção e da necessidade de participação. Tambémessas ações não conseguiram envolver a comunidade univer-sitária de forma a perceber que o projeto também lhe pertence.

Portanto, a prática educacional baseada na mudança decomportamento (prática linear: informação = mudança de com-portamento) e observada no projeto de Educação Ambientaldesenvolvido na UEFS pode ter ser sido transitória, não atin-gindo a subjetividade da comunidade universitária.

Com referência às mudanças proporcionadas, os sujeitosdeclararam que foram influenciados pelo projeto na mudançade hábitos no descarte do lixo (não jogar lixo no chão) e quese sentem incomodados com a ausência de lixeiras em locaisde circulação pública. O projeto serviu, também, para solidifi-car a consciência ambiental que algumas pessoas já possuíam

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antes de entrar em contato com o mesmo. Também percebe-se, nos discursos do sujeito coletivo, que houve melhoria nalimpeza e na beleza do campus. As mudanças que ocorreramrelacionadas à limpeza e a estética local, em função do gerenciamentoadequado do lixo urbano, são importantes indicadores da salubridadeambiental e que interferem positivamente na saúde pública. Namaioria das representações sobre o lixo, observa-se pouco aquestão da minimização dos resíduos, estando muito presentea questão de sua reciclagem. Importante, pois, que, nos pro-gramas de Educação Ambiental, sejam observados esses as-pectos e suscitada, no público alvo, a representação do lixocomo questão de cidadania, para que a reciclagem não sejaapresentada como a única solução do problema. Também éimportante a renovação da programação visual dos coletorese adesivos explicativos, necessários à coleta seletiva e àdivulgação dos resultados da coleta seletiva, do processo degerenciamento do lixo na UEFS e das ações da Equipe deEducação Ambiental, o que é fundamental como retroalimentadordo processo.

Outro fator limitante do sucesso refere-se à AdministraçãoSuperior da UEFS, que não contempla, no orçamento da en-tidade a manutenção da infra-estrutura para a coleta seletivae a aquisição de lixeiras apropriadas para os novos prédios.Com isso, os locais, depois de construídos, ficam, por umperíodo, sem os acondicionadores necessários para o descar-te adequado dos resíduos;

Os pontos positivos a serem destacados são a rotina dearmazenamento diferenciado dos papéis, pelos funcionáriosadministrativos da UEFS, e a comunicação com a EEA paraviabilização da coleta desse resíduo. A limpeza do campus éuma mudança positiva observada nos discursos, sendo credi-tado ao projeto de coleta seletiva desenvolvido na UEFS.

A criação da Equipe de Educação Ambiental e a implan-tação do projeto contribuíram para a visibilidade da Universi-dade em relação à comunidade externa e a outras universida-des, quanto às questões ambientais e ao manejo de resíduossólidos urbanos em particular. Do trabalho inicial com o lixo,emergiram muitas demandas da sociedade, como, o Curso de

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Especialização em Educação Ambiental que se iniciou no anode 2000 e continua sendo oferecido, de forma regular e,também, trabalhos de capacitação e mobilização comunitária.O projeto no campus chama a atenção do alunado e temproporcionado a uma parcela de estudantes da UEFS, oriundosde diferentes cursos de graduação, estágios, tanto em pesqui-sa, como em extensão.

As atividades de extensão realizadas pela EEA foram lem-bradas como realizações positivas. O grupo, tem difundido paraa comunidade externa da UEFS, as questões de resíduossólidos por meio de: palestras, consultorias, exposição demateriais reciclados e oficinas de papel artesanal em Feiras deCultura nas escolas e em eventos ambientais nos municípios,nas indústrias e em eventos científicos, entre outros. Também,oferece no espaço de sua sede, a oportunidade de, in loco,observarem-se as principais atividades relacionadas à recupe-ração dos resíduos sólidos coletados: o armazenamento dosrecicláveis, a fabricação de produtos de papel reciclado (em-balagens, cartões, cestas...) por meio da oficina de papel, acompostagem dos resíduos orgânicos e as atividades promo-toras da Educação Ambiental, para informação, divulgação ecapacitação do público interno da Universidade e de visitantesexternos.

A continuidade do projeto, ao longo desses anos, foipossível pela dedicação de professores, funcionários e alunosestagiários que ainda acreditam na importância ambiental eeducacional que o manejo adequado dos resíduos sólidos tempara a sociedade.

5 RECOMENDAÇÕES

Recomenda-se que o projeto de Educação Ambiental parao gerenciamento dos Resíduos Sólidos do campus da UEFSutilize as estratégias operacionais e educacionais:

� Estimular a inclusão da dimensão ambiental nos diversoscursos de graduação oferecidos pela UEFS.

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� Proporcionar à comunidade universitária encontros so-bre questões ambientais relevantes para os grupos envolvidos,preferencialmente no espaço da sede da EEA.

� Realizar ações de sensibilização contínuas, renovadas ecriativas dirigidas aos alunos ingressantes nos cursos de gra-duação.

� Atrair professores e alunos dos cursos noturnos ofere-cidos pela UEFS para que haja maior mobilização e participa-ção desse público.

� Promover cursos e oficinas de capacitação de formacontinuada para o pessoal responsável pela limpeza da UEFS.

� Desenvolver parcerias entre a EEA e os Diretórios Aca-dêmicos visando a promoção de discussões com os estudantesde todos os semestres sobre as questões ambientais;

�Incentivar a minimização de resíduos nos departamentose setores administrativos (substituição de copos descartáveis,por exemplo).

� Divulgar os resultados da coleta seletiva, do processo degerenciamento do lixo na UEFS e das ações da Equipe deEducação Ambiental.

�Utilizar o espaço das cantinas para exposições do mate-rial reciclado confeccionado pela EEA e realizar oficinas dereciclagem de papel, nesses locais, semestralmente.

�Incentivar a aquisição, pela UEFS, de materiais em queo fornecedor assuma a responsabilidade sobre os resíduossólidos gerados após sua utilização (“toner” utilizado nas máquinascopiadoras, lâmpadas fluorescentes, reagentes para laborató-rios, entre outros).

� Contemplar, no gerenciamento do lixo, os resíduos ge-rados nos laboratórios e considerados perigosos, envolvendotodos os geradores no processo.

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ASSESSMENT OF THE ENVIRONMENTAL EDUCATION ONSOLID WASTE MANAGEMENT IN THE FEIRA DE SANTANASTATE UNIVERSITY CAMPUS

ABSTRACT — This paper presents the evaluation of an EnvironmentalEducation Project planned to support Solid Waste Management at UEFScampus. The project, developed since 1992, assumes as its principle theselective disposal, dry residues valorization and compost of organic waste.In order to evaluate its results the research has been carried out throughrecords on the management and interviews with lecturers, students anduniversity workers seeking their “social representation” about the project.The evaluation has pointed that the educational strategy focus on behaviorchanging and, if at one hand it has stimulated responsible habits onwaste disposal – which means “not disposing on the ground” – on theother hand it has not promoted a better consumption habit understandingnor even has it helped, in general, with the use of separated disposing.

KEY WORDS: Environmental Education; Waste Solids; University.

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