Autores - UEPB · Mediando o desenvolvimento destes, apresentaremos conceitos, explicações e...
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Célia Maria de Araújo
Marcos Aurélio Felipe
Educação e TecnologiaD I S C I P L I N A
O contexto tecnológico
Autores
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Araújo, Célia Maria de. Educação e tecnologia / Célia Maria de Araújo, Marcos Aurélio Felipe. – Natal, RN : EDFURN, 2007. 184 p. il.
1. Educação. 2. Tecnologia. 3. Comunicação. 4. Prática pedagógica. I. Felipe, Marcos Aurélio. II. Título.
ISBN: 978-85-7273-422-6 CDD 370RN/UF/BCZM CDU 37
2008/46
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Apresentação
Com o advento e abrangência das tecnologias, você pode identificar uma certa modernização no contexto social e educacional da atualidade. No decorrer desta disciplina, a tecnologia será estudada em seus pontos positivos e negativos, a partir
de suas possibilidades educativas como recurso pedagógico. Você também terá uma análise, em um determinado momento da disciplina, de quando as tecnologias foram apresentadas às escolas através de vários projetos governamentais (como a TV Escola, Salto para o Futuro, entre outros).
Inicialmente, apresentaremos um panorama do que alguns autores denominam de Sociedade Tecnológica. Com o tempo, as características desse contexto tecnológico definem, desenvolvem e explicam muito dos nossos pensamentos e comportamentos, assim como de espaços e práticas educacionais com as tecnologias. Na essência dessa sociedade, a informação e o conhecimento são peças-chaves para compreender os ambientes, as práticas docentes e as tecnologias de ordem: instrumental; informacional e comunicacional; do pensamento e da inteligência. Como professores em atividade ou em formação, iniciaremos juntos um percurso sobre o universo da educação na sua relação com a tecnologia, conhecendo seu contexto, espaços, práticas e possibilidades educativas.
Nesta aula, assim como nas posteriores, os conteúdos estão estruturados em tópicos. Mediando o desenvolvimento destes, apresentaremos conceitos, explicações e exemplos, intercalando resoluções de atividades e questões que visam desencadear e alicerçar intensamente as suas reflexões, bem como o seu comportamento diante da tecnologia como dado fundamental no mundo atual e nos espaços educacionais.
ObjetivosCompreender as características cotidianas e educacionais sob o contexto da Sociedade Tecnológica.
Sistematizar alternativas para trabalhar as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC’s) no âmbito educacional.
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Tecnologia, cotidiano e formação
Quantas vezes no seu cotidiano a tecnologia aparece como um componente permanente e irreversível?
Em um mundo onde a tecnologia ocupa quase todos os espaços, tornando-se peça-chave na implementação, gestão e desenvolvimento das instituições sociais (escolas, associações profissionais, instituições financeiras etc.), certamente, você já se fez, pensou ou elaborou a pergunta anterior. É dessa forma que começaremos esse percurso sobre a relação entre educação e tecnologia. Como professor, perceba que não há como se desvincular das tecnologias do cotidiano e que estas, aos poucos, acabam por entrar nos espaços institucionais de educação.
Lembramos que, em determinados contextos (como os que se delineiam, por exemplo, no campo, em cidades e em locais de algumas regiões do Brasil e do mundo), as tecnologias não aparecem de forma tão preponderante. Mas, mesmo em tais locais, direta ou indiretamente, a tecnologia ainda assim constitui um vetor de influência, já que não há qualquer contexto do cotidiano em que o homem não utilize recursos tecnológicos, seja no trabalho, seja nas demais atividades.
De outra forma, nada deixa de ser tomado pelo evento da Globalização. Após a fragmentação no início da década de 1990 da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), esse processo globalizador integrou países, regiões e cidades, basicamente, a partir das TIC’s, as quais incidem sobre os aspectos sociais, econômicos e culturais. Por isso, de acordo com Castells (2003), hoje, fala-se em uma nova estrutura social dominante (a sociedade em rede), uma nova economia (a economia informacional global) e uma nova cultura (a cultura da virtualidade real). Entrelaçados, esses fenômenos constituem e apontam para o mesmo campo, mundos geograficamente afastados, mas integrados por informação e conhecimento, que lhes são acessíveis por meio das tecnologias.
Além de as tecnologias se inserirem nas instituições, observe que estas também permeiam o cotidiano de todos nós, seja pela exigência de uma dada profissão, com as relações de trabalho sendo moldadas por instrumentos, seja apenas no nível mais banal de nossas vivências, com o uso de barbeador, aparelhos eletrônicos, entre outros recursos tecnológicos. Em outro nível, a tecnologia torna-se a base do desenvolvimento dos meios de comunicação (como o Rádio, a TV, o Cinema etc.), tanto para a produção quanto para a circulação de informações. Ao mesmo tempo, veja que as tecnologias se inserem nos processos do pensamento e no campo das idéias, quando, em certos momentos, só é possível
Tecnologia
O termo tecnologia, essencialmente, refere-se a três situações: a tecnologia
em sua dimensão instrumental, que, a serviço
das relações de trabalho ou de alguma atividade cotidiana, apresenta-se como uma extensão da
produção humana; a tecnologia como base para os meios de comunicação,
responsável pela produção e circulação de
informações; e a tecnologia em sua dimensão próxima
ao pensar e a inteligência humanas.
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dar forma a alguma reflexão ao usarmos a tecnologia. Assim, esses aspectos compõem o que chamamos cultura material e imaterial de uma dada sociedade, a partir de dimensões que não são marcadas apenas por objetos, mas por pensamentos e idéias.
Se ainda não se fez a pergunta que abre este primeiro tópico, certamente, você já sentiu e/ou se deparou como indivíduo com a presença desse universo tecnológico no seu cotidiano: universo, aparentemente, comum, dado o seu caráter já usual, utilitário e necessário para o dia-a-dia. Mas, em essência, um universo que, cada vez mais, torna-se um componente permanente e irreversível das nossas realidades, pois, direta ou indiretamente, as tecnologias batem em nossas portas sem pedir licença.
Para Sampaio e Leite (2002, p. 32):
Há duas formas de vermos a relação entre o homem e as tecnologias: primeiramente, como instrumentos do ato humano de trabalhar, abrindo espaço para a produção de bens materiais; segundo, como ferramenta do ato de pensar, usada na construção do conhecimento, de raciocínio e interpretação.
A título de exemplo, perceba que a inserção tecnológica acontece quando realizamos um saque em caixas eletrônicos, votamos durante as eleições através de urnas eletrônicas ou, simplesmente, acionamos algum dispositivo manual, elétrico e/ou eletrônico para ligarmos uma lâmpada, congelarmos um item alimentício e vermos programas ou filmes na TV através de aparelhos de DVD ou canais por assinatura via satélites. Principalmente, tal inserção ocorre à medida que moldamos nosso tempo e espaço em função da influência tecnológica. Como um pêndulo, a tecnologia impõe seu ritmo, delineia os passos de cada indivíduo e o compasso de cada hora como a ponte por onde atravessamos o cotidiano. Por outro lado, o nível tecnológico se impõe ao transformar esse tempo e espaço em uma dimensão bem distante da dimensão concreta pela virtualidade que os definem: tempos e espaços abstratos – nem sempre paralelos, contínuos e lógicos.
Considerando a natureza urbana dos grandes centros do mundo e a natureza rural das glebas do interior brasileiro, podemos, então, distinguir o tempo-espaço como sendo diametralmente diferentes nessas duas geografias. Assim, ao compará-los, nos perguntamos se é o mesmo o tempo do profissional liberal da bolsa de valores em São Paulo (onde cada segundo é decisivo e um fragmento importante em seu trabalho) e o tempo do homem do campo. Em muitas cidades interioranas do Nordeste brasileiro, homens e mulheres ainda se guiam pelas estações do ano, sendo o ritmo dos dias e das horas moldados pela produção quase imediata da produção de bens de consumo e subsistência.
No entanto, não é como indivíduo que precisamos nos posicionar diante da tecnologia no contexto contemporâneo, mas como sujeitos da área da educação que atuam em uma instituição escolar ou estão em processo de formação. De uma forma ou de outra, estudando,
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pesquisando ou por meio da própria experiência, você já percebeu que a educação institucional (as práticas educativas da escola), hoje, já não tem mais como fugir da tecnologia, conforme apontam as quatro justificativas a seguir.
1. Porque, em geral, a formação atual dos alunos, em termos de conhecimento e informação, ocorre a partir do contato com os meios de comunicação (com a televisão e, cada vez mais, com a Rede Mundial de Computadores).
2. Porque o próprio espaço escolar já se organiza para atender a esse fim tecnológico (seja, antes, com as salas de multimeios, seja, hoje, com os laboratórios de informática).
3. Porque a demanda por capacitação na área das tecnologias educacionais já se tornou uma exigência da categoria docente, diante de um mundo cada vez mais dominado por informação e sistematização de dados.
4. Porque a tecnologia está no cerne dos projetos governamentais, que chegam ao espaço escolar a partir de recursos tecnológicos a serem utilizados no processo de ensino-aprendizagem.
Assim, se atualmente, a cada ação, direta ou indiretamente, somos tomados pelas tecnologias (máquinas, instrumentos, meios de comunicação), ao nos perguntarmos quantas vezes em nosso cotidiano elas aparecem como componente permanente e irreversível, a resposta certamente não apontará apenas para um componente quantitativo na discussão sobre tecnologias no mundo contemporâneo. De modo que, neste caso, o mais importante não é o número de vezes ou a quantidade de instrumentos, máquinas ou meios que utilizamos e/ou com os quais lidamos cotidianamente (calculadoras, caixas-eletrônicos, televisores, computadores, mp4, DVD, pen-drives e outros).
A pergunta sobre a permanência e a irreversibilidade da tecnologia em nosso cotidiano que abre este tópico, antes de tudo, estabelece uma questão de ordem qualitativa. Sobretudo porque remete sua prática diária e/ou profissional para as formas e os modos de uso da tecnologia nas relações humanas. À medida que a tecnologia promove encontros, constitui-se uma ponte para o diálogo e atende sempre a uma finalidade organizada por outrem, começamos a nos perguntar “quais as formas” e “quais os modos” de uso das tecnologias: formas e modos de usar – da mais instrumental (para a produção de bens ou para a comunicação e informação) até a mais avançada em sua autonomia, resvalando no pensar, na inteligência e no raciocínio automatizados.
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Assim, o que delineia as formas e os modos de uso da TV em sala de aula, por exemplo, encontra-se imbricado de saber e técnica – essencialmente, de um sujeito que aprende, aplica conhecimento e manuseia certos objetos. Nesse sentido, importa menos o que vemos e com o que trabalhamos cotidianamente e mais a forma e o modo com que usamos as tecnologias, seja em alguma atividade profissional, seja no âmbito educativo com os nossos alunos. Nessa mediação, em que as tecnologias se interpõem entre os interlocutores, o conhecimento e a informação são elementos permanentes e presentes.
A diferença entre informação e conhecimento é sutil, porém, importante. Conhecimento é o significado que se extrai da informação, é a interpretação. Usualmente, o conhecimento é desenvolvido através de um processo interativo, através da discussão com pares ou desenvolvendo uma análise crítica da informação. Para desenvolver o conhecimento, é necessário um ambiente de aprendizagem muito mais rico e diversificado do que o utilizado para simples transmissão de informação. (WOLYNEC, 2006, p. 2)
Conseqüentemente, os processos formativos, sociais e/ou educacionais, entram em pauta, desencadeiam outras posturas e mudanças de comportamento em nós professores (em atividade ou em formação). Assim, em um contexto de comunicação mediado pela dimensão tecnológica, perceba que a aprendizagem acontece a partir das mais distintas tecnologias (“velhas” ou novas), provenientes de formatos diversos (que se utilizam da palavra ou da imagem) e que atendem a finalidades múltiplas (formativas ou instrumentais). Na base dessa discussão, cabe se perguntar a quem e quais objetivos atende a dimensão tecnológica, ou seja, a qual finalidade e função as tecnologias estão a serviço.
Portanto, perguntar-se sobre a inserção da tecnologia em nosso cotidiano (sobretudo em nosso cotidiano profissional) é fundamental para todos que, diária e irreversivelmente, utilizam as tecnologias no âmbito tecnológico: como instrumentos (recursos para o trabalho ou outra atividade qualquer) e/ou como balizadoras dos avanços na produção, transmissão e circulação de comunicação e informação dos meios (como o Rádio, TV e Cinema). Além do mais, a preocupação que você precisa ter em relação a essas tecnologias não pode ser apenas de ordem quantitativa (se o laboratório de informática “X” vai ter 15 ou 30 máquinas), mas, principalmente, de ordem qualitativa, refletindo e estabelecendo as formas e os modos de uso – incluindo, necessariamente, os conhecimentos e as finalidades.
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Atividade 1
Como componente permanente e irreversível, o universo da tecnologia, muitas vezes, constitui-se no universo pelo qual os indivíduos estruturam o seu cotidiano, elaboram as formas de pensamento e reorganizam os instrumentos tecnológicos do trabalho.
Assim, como em Tempos Modernos (1936, de Charles Chaplin), sem a prerrogativa da reflexão, nos tornaremos quase um homem-máquina, automatizados e instrumentalizados neste contexto que mais parece uma fábrica onde utilizamos e somos utilizados pela tecnologia. Portanto, se, como professores, tornarmos a tecnologia apenas um dado dos sentidos e não uma questão problematizadora, a partir de quais parâmetros educacionais será possível compreender a nossa formação permanente e a formação dos nossos alunos, cujo contato com o universo tecnológico se dá de forma imediata e, quase sempre, independente da vontade dos sujeitos? Convidamos-lhe a pensar sobre esses aspectos e, em parte, desenvolver suas problemáticas na atividade seguinte.
Considerando a discussão tecnologia e cotidiano, que desenvolvemos até o momento, elabore uma narrativa em forma de diário a partir das seguintes orientações:
a) tome um dia como unidade narrativa: da hora em que acordar até a hora em que for dormir;
b) organize a narrativa a partir de três eixos: hora, expediente (manhã, tarde e noite) e contato com as tecnologias;
c) enumere o seu contato diário com tecnologias instrumentais ou tecnologias da comunicação e informação.
Mais adiante, na auto-avaliação, retomaremos a sua narrativa.
Figura 1 - Fragmento do filme Tempos Modernos (1936)
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Sociedade Tecnológica
Compreender a Sociedade Tecnológica, na definição de Marcondes Filho (2002), é também compreender o cerne das questões que envolvem a presença e a preponderância das tecnologias no cotidiano, nas relações de trabalho e nas formas
de pensamento contemporâneos. Inserir-se como sujeito reflexivo nesse contexto, no qual os aspectos formativos cada vez mais precisam ser acompanhados de “olhos bem abertos”, permitirá a você ir além do conhecimento sensorial ou utilitário que, em princípio, os artefatos, instrumentos ou as ferramentas tecnológicas sugerem. Ir além significa, antes de tudo, estabelecer os aspectos primordiais e pensar alternativas para a formação e a inclusão neste universo ocupado pela tecnologia.
Veja como exemplo o que resultou em termos de conceitos quando, no final do século XIX, a câmera dos irmãos Lumiere, Louis e Auguste projetou imagens de uma estação de trem no subsolo de um café em Paris, na França. Aconteceu ali o encontro de duas grandes invenções tecnológicas do mundo industrial. De um lado, uma máquina a vapor cruzando a imagem em direção a sua superfície, a partir de um movimento que, aparentemente, parecia sem fim. De outro, a imagem do cinematógrafo sendo projetada em um lençol branco para uma platéia atônita com o que via, talvez por não compreender, estupefata, o que estava a sua frente: imagens tecnicamente reais – apesar de apenas serem a projeção de uma situação histórica em movimento.
Tínhamos, então, a seguinte situação:
n no primeiro caso, a automação, que apontava para um avanço nos meios de transportes, o que, em pouco tempo, permitiria o homem chegar ao espaço e, mais tarde, navegar por zonas nunca dantes imaginadas do corpo humano;
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n no segundo, um dos signos mais precisos e concretos da contemporaneidade: a imagem como espetáculo – o cerne dos meios de comunicação e informação, dos produtos de ordem econômica e política.
A partir desses casos, perceba que ainda se vivia em um mundo onde a automação e a imagem eram gestadas, desenvolvidas e controladas pelos indivíduos. Pouco tempo depois, sobretudo com os avanços tecnológicos decorrentes da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) e da corrida armamentista da Guerra Fria, os níveis de autonomia e produção de imagem chegaram a um nível no qual a tecnologia passou a ser parte do sistema de controle e a imagem o seu principal vetor: câmeras de segurança nos edifícios residenciais e comerciais; máquinas registradoras de horários nas fábricas; câmeras fotográficas no trânsito etc.
Máquinas e aparelhos substituem as pessoas no trabalho industrial, nas pequenas atividades domésticas, fazem operações matemáticas, registram a memória das pessoas [...] os sistemas computadorizados são os que definem quais os empregados que poderão ser dispensados e quais mantidos, quais os mais operantes, quais os mais eficazes. Em vez de pessoas avaliarem, agora são os aparelhos que o fazem. (MARCONDES FILHO, 2002, p. 29).
Qual o papel da educação na Sociedade Tecnológica?
Assim, você pode perceber a diferença entre mundos completamente diferentes. De um lado, o mundo industrial, cujo ápice deu-se a partir da Revolução Industrial na Inglaterra no final do século XVIII, com o surgimento das fábricas, máquinas a vapor e os recursos tecnológicos como extensão da produção humana. De outro, a sociedade pós-industrial, dominada pelas relações de serviços e os meios de comunicação balizando o cotidiano e o trabalho. Nesse contexto, de ordem mais instrumental, as tecnologias tornaram-se uma espécie de prolongamento natural do pensamento humano: as tecnologias da inteligência – na definição de Lévy (2004). Assim, observe no trecho a seguir a relação tecnologia e controle social, quando, no cotidiano, as tecnologias se tornam uma instância de regulação.
Nesse sentido, cada vez mais as tecnologias (da mais instrumental a mais autônoma) que permeiam o mundo do trabalho se ajustam a uma série de formas e modos de uso. Perceba que, ao se pensar a formação do indivíduo no contexto tecnológico, é necessário que se pense em integrá-lo às estruturas que movimentam cada peça em jogo no tabuleiro, a partir de um conjunto de passos no qual entra o saber usar (técnicas) e, sobretudo, a sistematização das informações disponíveis (conhecimento).
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Com o advento das Tecnologias da Informação e Comunicação, que, terminologicamente, resume a diversidade de tecnologias tratadas até então, a presente discussão ganha mais impulso e intensidade. Por um lado, observe que é nesse contexto que questões como domínio da técnica, virtualidade e quantidade de dados vêm à tona de forma mais abrangente. Portanto, quando algum aluno chega ao ambiente escolar com informações às quais, em outro momento, não teria acesso, o que mais nos aflige como professores é o “passo adiante” que precisaremos dar a fim de podermos acompanhar nossos alunos nessa corrida em busca da informação e do conhecimento. Sobretudo porque, hoje, a sala de aula não pode mais ser vista apenas em seu aspecto físico, geograficamente localizada, mas também virtualmente, no sentido de espaço desmaterializado, sem lugar determinado, a não ser o ciberespaço próprio da Internet.
Assim, na Sociedade Tecnológica, duas palavras são chaves para a compreensão de diversos aspectos: transformação e inclusão tecnológica. Em seu centro, o professor, que precisa (re)significar a própria prática e dar sentido ao tempo e espaço de seus alunos. Principalmente porque o ritmo da modernidade (o contexto pós-industrial) impõe uma intensidade nunca antes vista na humanidade. De modo que, hoje, vivemos e morremos em contextos completamente diversos ao longo da nossa existência, ao contrário dos nossos avós, que nasceram, viveram e morreram num mundo praticamente inalterado, versejando a mesma realidade e trabalhando ainda sob a mesma estrutura de produção, comunicação e informação.
O ritmo das mudanças foi tão intenso que o pai do primeiro astronauta a viajar pelo espaço, mal viu surgir a luz a querosene, enquanto o seu filho foi ao espaço como símbolo da corrida espacial e, conseqüentemente, tecnológica que acontecia desde meados do século XIX. Assim, a intensidade e a velocidade das transformações tornaram-se tão frenéticas que, em um curto espaço de tempo, duas gerações vivenciaram situações históricas completamente diferentes. Da lâmpada de querosene ao espaço, a família Gagarin jamais pensou que pai e filho pudessem, em trinta anos, vivenciar situações radicalmente distintas. Como coloca Sampaio e Leite (2002, p. 34), “o caráter dialético e mutável das coisas se torna patente a todo instante”.
Figura 2 - Duas gerações em mundos distintos
Yuri Gagarin, o pai. Conheceu a luz elétrica em 1931
Yuri Gagarin, o filho. Conheceu o espaço em 1961.
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Nesse contexto, a presença da informática é dominante diante das outras tecnologias, agregando-as em um só suporte e sob um mesmo modelo de ciência da comunicação e informação. Perceba que, em muitos lugares, impera o modelo de sociabilidade das Tecnologias da Informação e Comunicação e, nestas, as redes sociais de relacionamento tornam-se redes sociais virtuais, principalmente com as Novas Tecnologias que resultam da junção dos avanços das telecomunicações, dos meios eletrônicos e da informatização tecnológica. Nesse âmbito, a Internet constituiu-se como o espaço central, a partir, por exemplo, de espaços como as comunidades virtuais (Orkut, Listas de discussão temáticas, Salas de bate-papo) que moldam as novas relações e contatos entre os indivíduos.
No entanto, uma pergunta aparece no cenário: é a Sociedade Tecnológica que gera novos espaços ou são as novas relações que, crescentemente, provocam a emergência dessas novas sociabilidades propiciadas pelas Tecnologias da Informação e Comunicação?
O que pode ser identificado é que, cada vez mais, sentimos nossas experiências, vivências e sensações entrando em crise. Como afirma Marcondes Filho (2002), as tecnologias reduzem o homem a um maquinário da modernidade, com a sociedade tornando-se cada vez menos social, já que os diálogos passaram a ser tecnológicos e não mais “olho-no-olho”; os encontros abdicam de toques, abraços, entre outros contatos físicos, e as relações de trabalho (especificamente, no âmbito dos serviços) dispensam interlocutores no atendimento online em lojas e magazines, comercializando seus produtos a distância.
Por que as comunidades humanas não podem prescindir dos aspectos sensoriais?
Se a interatividade tornou-se a forma central de relação na contemporaneidade, permitindo, através de algum sistema tecnológico, a interação entre indivíduos ou com as próprias máquinas, na Sociedade Tecnológica as relações humanas são cada vez mais valorizadas se a intermediação acontecer com as tecnologias. Hoje parece não haver mais espaço para as relações interpessoais. Mesmo em comunidades formadas com base em relações de trabalho (o que acontece, pasme, no mesmo ambiente físico e com indivíduos que se vêem diariamente), a comunicação e a interação parecem necessitar dos espaços tecnológicos (blogs, MSN, Orkut e similares) para poderem acontecer.
Assim, verifique que, com uma certa intensidade, três são as formas de “relações humanas” que vão ganhando corpo, concretude e abrangência nos dias de hoje:
Homem tecnologia Homem
Homem Máquina
Máquina Máquina
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Atividade 2
Como professor, você já parou para pensar qual alternativa é possível a um modelo que tenta tornar o processo educativo mais um dos tantos objetos existentes na Sociedade Tecnológica? Se, como afirma Jameson (2001), das diversas dimensões da Globalização (política, econômica, cultural), o processo tecnológico é a sua dimensão irreversível, talvez devamos (re)significar as formas e os usos das tecnologias, sistematizar a quantidade de informações disponível e gerar novas formas de saber usar as Tecnologias da Informação e Comunicação nos espaços educativos – sejam espaços presenciais (físicos) ou virtuais (desmaterializados).
A partir da discussão sobre formas e modos de uso e considerando as características da Sociedade Tecnológica, destaque na tabela a seguir os aspectos primordiais para a utilização das tecnologias no âmbito educacional.
Aspectos positivos Aspectos negativos
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Resumo
Leitura complementarBURCH, Sally. Sociedade da informação / sociedade do conhecimento. 2006. Disponível em: <http://www.vecam.org/article519.html>. Acesso em: 14 nov. 2007.
Com este artigo, você aprofundará a leitura sobre as terminologias trabalhadas nesta aula: Sociedade Tecnológica, Sociedade da Informação e Sociedade do Conhecimento, o que é fundamental para entender o porquê, por exemplo, priorizamos o primeiro e não os outros termos.
Nesta aula, você viu que o nosso cotidiano está permeado pelo universo tecnológico. Das tecnologias mais instrumentais – voltadas para o mundo do trabalho – às tecnologias mais autônomas – que sugerem pensamento e inteligência artificiais –, observou que a Sociedade Tecnológica sustenta-se em aspectos determinantes para os processos educativos. Discutimos, então, que as tecnologias em si não definem suas próprias finalidades, mas é você quem define suas formas e modos de uso, as quais estão imbricadas de sistematização de informação e estratégias do saber usar. Viu, por fim, que na contemporaneidade, as Novas Tecnologias intensificam cada vez mais o grau das novas sociabilidades geradas pela junção das tecnologias eletrônicas com os avanços da informática.
Auto-avaliaçãoAgora, tomando como ponto de partida esta primeira aula, chegou o momento de você estabelecer as relações significativas com os objetivos, conteúdos e atividades. Na primeira atividade, sua relação foi mais quantitativa, verificando, a partir do dia como unidade narrativa, a presença das tecnologias no seu cotidiano. Na segunda, destacou os aspectos primordiais da Sociedade Tecnológica que permitem uma inserção mais reflexiva no âmbito educacional e o uso de tecnologias. A partir do que você detectou na narrativa como um diário na atividade 1 e nos aspectos destacados na atividade 2, como você avalia as relações que estabelece, como professor em atividade ou em formação, com as tecnologias do seu cotidiano? É possível, a partir de agora, abordá-las da mesma forma? Por quê?
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ReferênciasCASTELLS, Manuel. A Sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade e cultura. São Paulo: Paz e Terra, 2003. v 1.
FLORIANI, Dimas. A civilização tecnológica. In: CORDI, Cassiano. Para filosofar. São Paulo: Scipione, 1995. p. 171-190.
JAMESON, Fredric. A cultura do dinheiro. Petrópolis: Vozes, 2001.
LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. 13. ed. São Paulo: Editora 34, 2004.
MARCONDES FILHO, Ciro. Sociedade tecnológica. São Paulo: Scipione, 2002.
SAMPAIO, Marisa Narcizo; LEITE, Ligia Silvia. Alfabetização tecnológica do professor. 3. ed. Petrópolis: Vozes, 2002.
TEMPOS modernos. Direção de Charles Chaplin. Los Angeles: MGM, 1936.
WOLYNEC, Elisa. O futuro da educação superior. Techne, jun. 2006. Disponível em: <http://www.techne.com.br/artigos/Futuro_Educa%C3%A7%C3%A3o_Superior.pdf>. Acesso em: 12 dez. 2007.
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Anotações
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Anotações
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Aula 01 Educação e Tecnologia
Ementa
n Célia Maria Araújo
n Marcos Aurélio Felipe
Processos e intervenções dos novos recursos tecnológicos da comunicação e da informação na Educação.
Desenvolvimento de habilidades básicas para a produção de conhecimentos fundamentados pelo uso de tecnologias
na prática pedagógica.
Autores
Aulas
O contexto tecnológico
Nova escola / novos professores
Outros cenários, outras práticas
A dimensão imagem
Elaboração, aplicação e avaliação de projetos I
Os principais conceitos
Oficinas tecnológicas I – Fontes de informação
Oficinas tecnológicas II – O uso do filme
Oficinas tecnológicas III – O uso do blog
Elaboração, aplicação e avaliação de projetos II
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Educação e Tecnologia – GEOGRAFIA
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