Autodefesa Psíquica (Dion Fortune).pdf

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AUTODEFESA PSÍQUICA Dion Fortune Editora Pensamento PREFÁCIO Problemas concernentes à redação de um livro sobre autodefesa psíquica / Os ataques psíquicos são mais comuns do que pensamos / Os anúncios dos cursos que desenvolvem o poder mental / A experiência pessoal da autora com um ataque psíquico / Psicologia e ocultismo / Ligação entre o abuso dos poderes mentais e o culto das bruxas. Foi com consciência dos problemas implicados que me entreguei à tarefa de escrever um livro sobre o ataque psíquico e sobre os melhores métodos de defesa contra ele. O empreendimento está cercado de armadilhas. É praticamente impossível fornecer informação prática sobre os métodos de defesa psíquica sem ao mesmo tempo fornecer informação prática sobre os métodos de ataque psíquico. Não é sem razão que os iniciados sempre guardaram sua ciência secreta atrás de portas fechadas. Revelar o suficiente para perfeito entendimento sem ao mesmo tempo revelar demais que se torne perigoso, eis o meu problema. Mas como muito já se tornou conhecido a respeito dos ensinamentos esotéricos, e como o círculo de estudantes do oculto está se tornando mais amplo a cada dia, pode bem ser que tenha chegado a hora de falar sem rodeios. Não procurei a tarefa, mas, visto que ela me veio às mãos, farei o melhor que puder para cumpri-la honradamente, tornando acessível o

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  • AUTODEFESA PSQUICA Dion Fortune

    Editora Pensamento

    PREFCIO Problemas concernentes redao de um livro sobre autodefesa psquica / Os ataques psquicos so mais comuns do que pensamos / Os anncios dos cursos que desenvolvem o poder mental / A experincia pessoal da autora com um ataque psquico / Psicologia e ocultismo / Ligao entre o abuso dos poderes mentais e o culto das bruxas. Foi com conscincia dos problemas implicados que me entreguei tarefa de escrever um livro sobre o ataque psquico e sobre os melhores mtodos de defesa contra ele. O empreendimento est cercado de armadilhas. praticamente impossvel fornecer informao prtica sobre os mtodos de defesa psquica sem ao mesmo tempo fornecer informao prtica sobre os mtodos de ataque psquico. No sem razo que os iniciados sempre guardaram sua cincia secreta atrs de portas fechadas. Revelar o suficiente para perfeito entendimento sem ao mesmo tempo revelar demais que se torne perigoso, eis o meu problema. Mas como muito j se tornou conhecido a respeito dos ensinamentos esotricos, e como o crculo de estudantes do oculto est se tornando mais amplo a cada dia, pode bem ser que tenha chegado a hora de falar sem rodeios. No procurei a tarefa, mas, visto que ela me veio s mos, farei o melhor que puder para cumpri-la honradamente, tornando acessvel o

  • conhecimento que acumulei durante a experincia de muitos anos com as estranhas veredas da mente que o mstico partilha com o luntico. Este conhecimento no foi obtido sem algum custo, nem, como suspeito, ser a sua divulgao inteiramente isenta de encargos. Procurei evitar, na medida do possvel, a utilizao de material de segunda mo. Todos conhecemos a pessoa que tem um amigo cujo amigo viu um fantasma com os seus prprios olhos. Isso no de muita utilidade a ningum. O que precisamos ter a testemunha sob rigorosa investigao. Por esse motivo, no recorri vasta literatura sobre o assunto em busca de ilustraes para a minha tese, preferindo contar com os casos que se alinharam no mbito de minha prpria experincia, e que fui capaz de examinar. Penso que posso reivindicar a posse de qualificaes prticas, e no apenas tericas, para a tarefa. Minha ateno voltara-se inicialmente para a psicologia, concentrando-se depois no ocultismo como a chave real para a psicologia, devido experincia pessoal de um ataque psquico que me deixou com a sade arruinada por um perodo considervel. Conheo por mim mesma o horror peculiar de tal experincia, sua insdia, sua potncia e seus desastrosos efeitos sobre a mente e o corpo. No fcil conseguir que as pessoas se apresentem e testemunhem os ataques psquicos. Em primeiro lugar, porque elas sabem que h pouqussima probabilidade de que acreditem nelas e que mais provvel receberem a pecha de desequilbrio mental. Em segundo lugar, porque qualquer intromisso nas bases da personalidade uma experincia horrorosa de tal modo peculiar e singular que a mente procura evit-la e o indivduo no consegue falar sobre o assunto. Sou da opinio de que os ataques psquicos so mais comuns do que geralmente acreditamos, e mesmo os ocultistas no avaliam a sua extenso. O pblico em geral no imagina absolutamente as coisas que so feitas pelas pessoas que tm um conhecimento dos poderes da mente humana, e que se do ao trabalho de explor-los. Os estudantes do ocultismo sempre tiveram o conhecimento desses poderes, mas atualmente eles so conhecidos e utilizados por pessoas que ficariam sobremodo surpresas ao descobrirem quem so os seus colegas de prtica. A Sra. Eddy, fundadora da Cincia Crist, topou com esses mtodos empiricamente, sem jamais ter adquirido qualquer conhecimento racional de seu modus operandi. Ela procurou ensin-los de tal modo que eles pudessem ser utilizados apenas para o bem, e que seus poderes para o mal no viessem tona; mas que ela prpria teve conhecimento de suas possibilidades malignas, testemunha-o o terror por aquilo que ela chamava de Magnetismo Animal Malvolo e que ensombreceu toda a sua vida.

  • Os mtodos da Cincia Crist, sem a sua disciplina estrita e a sua cuidadosa organizao, foram desenvolvidos e explorados pelas inmeras escolas e seitas do Movimento do Novo Pensamento. Em muitos desses desdobramentos, o aspecto religioso foi esquecido e os mtodos se tornaram simplesmente uma coleo de regras de manipulao mental para fins pessoais, embora no para fins deliberadamente malignos. Seus representantes informaram que poderiam ensinar a arte de vender, de tornar o indivduo popular e influente na sociedade, de atrair o sexo oposto, de obter dinheiro e sucesso. O nmero surpreendente desses cursos anunciados mostra a sua popularidade; numa publicao recente de uma revista americana, contei anncios de sessenta e trs diferentes cursos de treinamento em vrias formas de poder mental. Eles no seriam to populares se no obtivessem nenhum resultado. Consideremos alguns desses anncios e vejamos o que eles indicam, lendo nas entrelinhas e tirando as nossas prprias concluses. Transmita seus pensamentos aos outros. Pea folheto grtis. Telepatia ou Rdio Mental Problemas com sade, amor, dinheiro? Deixe-me ajud-lo. No haver falhas, se voc seguir as instrues. Estritamente pessoal e profissional. Cuidadoso como o mdico da famlia. Remeta cinco dlares ao fazer o pedido. Devolveremos o dinheiro se voc no ficar satisfeito. O que voc deseja? Seja o que for, podemos ajud-lo a conseguir. D-nos a chance de ajud-lo escrevendo para Nuvens Limpas. Absolutamente grtis. Voc ficar encantado. HIPNOTISMO. No possuir voc esse estranho e misterioso poder que encanta e fascina homens e mulheres, influencia seus pensamentos e controla seus desejos, e que o torna mestre supremo de todas as situaes? A vida est repleta de possibilidades sedutoras para aqueles que dominam os segredos da influncia hipntica e para aqueles que desenvolvem seus poderes magnticos. Voc pode aprender em casa a curar doenas e maus hbitos sem drogas, a conquistar a amizade e o amor, a aumentar seus rendimentos, a realizar seus desejos, a afastar os aborrecimentos e as preocupaes de sua mente, a aperfeioar sua memria, a superar as dificuldades domsticas, a dar o mais emocionante entretenimento jamais testemunhado e a desenvolver uma fora de vontade prodigiosamente magntica, que lhe permitir superar todos os obstculos ao seu sucesso. Voc pode hipnotizar as pessoas instantaneamente to rpido quanto um relmpago pode conseguir que voc mesmo ou qualquer outra pessoa durma

  • em qualquer hora do dia ou da noite, ou acabar com a dor e o sofrimento. Nosso livro grtis conta para voc os segredos dessa cincia maravilhosa. Ele explica exatamente como voc pode utilizar esse poder para melhorar suas condies de vida. Nosso livro foi entusiasticamente aprovado por ministros evanglicos, doutores, executivos e mulheres da sociedade. Ele traz benefcios a todos. E no custa nada. Ns o distribumos para informar sobre a nossa instituio. Tais so alguns poucos exemplos escolhidos dentre os sessenta e trs anncios includos nessa nica publicao de uma popular revista semanal. Eles foram reproduzidos in extenso, e sem alteraes, exceto pela omisso dos endereos. Consideremos agora o que anncios como esses significam do ponto de vista das pessoas a quem no so dirigidos, as pessoas sobre quem se presume que o leitor procura adquirir poder. Qual ser a sua posio se este quebrar o dcimo mandamento e cobiar a mulher alheia, ou seu gado, ou seu asno, ou qualquer outro de seus valores? Suponhamos que o estudante diligente desses mtodos deseje algo que no deveria ter. Suponha-mos que ele esteja do outro lado da lei. Ou que sofreu uma injria e deseja vingar-se. Ou que apenas gosta do poder para seu prprio benefcio. Qual ser o destino da bucha de canho que fornece ao estudante da fora mental a munio para as suas experincias? Qual a sensao de ser dominado por esses mtodos, e quais os resultados que podem ser finalmente obtidos por um experimentador experiente? Deixem-me contar-lhes a minha prpria experincia, por mais penosa que ela seja, pois algum deve apresentar-se pela primeira vez e revelar os abusos que podem florescer quando no se compreende o significado desses poderes. Quando eu era uma jovem de vinte anos, entrei para o servio de uma mulher que, hoje sei, devia possuir um considervel conhecimento de ocultismo, obtido durante uma longa estada na ndia, e a respeito do qual ela costumava dar indiretas que eu no podia entender naquela poca, mas que, luz dos conhecimentos posteriores, eu viria a compreender muito bem. Ela costumava controlar os empregados por meio de seu conhecimento do poder mental, e as pessoas que trabalhavam para ela apresentavam uma constante sucesso de colapsos muito peculiares. Eu no estava empregada h muito quando ela precisou de mim para testemunhar numa ao judicial. Ela era uma mulher de temperamento violento e havia demitido um empregado sem aviso prvio, sem pagar-lhe o que devia, e ele a estava acionando para receber o dinheiro a que tinha direito. Ela precisava de mim para dizer que o comportamento desse homem havia sido de tal ordem que ela tinha justificativas para demiti-lo daquela maneira. Seu mtodo para obter meu testemunho foi fixar os meus olhos com um olhar fixo e concentrado

  • e dizer tais e tais coisas aconteceram. Felizmente para todos os envolvidos, eu mantinha um dirio e havia registrado diariamente todos os incidentes. Se no fosse por isso, no sei o que me teria acontecido. Ao fim da entrevista, eu estava atordoada e exausta, e sem me despir ca em minha cama e dormi o sono da exausto absoluta at a manh seguinte. Acredito que tenha dormido por cerca de quinze horas. Pouco depois disso, ela precisou novamente de meu testemunho. Ela desejava livrar-se de meu superior imediato, e precisava encontrar provas suficientes para justificar a sua ao. Ela repetiu as manobras anteriores, mas dessa vez eu no tinha um registro dirio a que recorrer, e para minha inteira surpresa me vi concordando com ela numa srie de acusaes inteiramente infundadas contra o carter de um homem que eu no tinha razo alguma para acreditar que no fosse absolutamente honesto. A mesma exausto e o mesmo sono de morte me assaltaram imediatamente depois dessa entrevista, como na vez anterior, mas um novo sintoma ento se manifestou. Quando sa da sala ao trmino da entrevista, experimentei a curiosa sensao de que meus ps no estavam no lugar em que eu esperava que estivessem. Todo aquele que andou sobre um tapete que apresenta calombos devido aos tacos soltos compreender o que eu quero dizer. Os ocultistas reconhecero um caso de extruso do duplo etreo. O incidente seguinte nesse curioso mnage no envolveu a mim, mas a outra moa, uma rf de meios considerveis. Minha empregadora estava sempre em sua companhia e finalmente a persuadiu a confiar-lhe todo o seu capital. Entretanto, os curadores ficaram encolerizados, foraram a minha empregadora a restituir os bens, e levaram imediatamente a moa consigo, deixando todos os seus pertences para serem empacotados e enviados ao novo endereo. Um outro incidente ocorreu logo a seguir. Havia no estabelecimento uma mulher idosa que era um tanto quanto rebaixada mentalmente. Uma boa velhinha, mas infantil e excntrica. Minha empregadora voltou a sua ateno para ela, e assistimos ao incio do mesmo processo de domnio. Nesse caso no havia curadores para interferir, e a pobre e velha senhora foi persuadida a retirar seus negcios das mos do irmo, que at ento os administrava, e a confi-los s boas graas de minha empregadora. Minhas suspeitas se confirmaram ento completamente. Como no podia suportar a idia de ver a velha Tia trapaceada, meti minha colher no assunto, coloquei a Tia a par da situao, coloquei seus pertences numa caixa, e a enviei aos seus parentes, numa ocasio em que a minha empregadora no estava presente. Eu esperava que a minha cumplicidade no negcio no fosse descoberta, mas logo perdi as esperanas. A secretria de minha empregadora veio uma noite ao meu quarto, depois de apagadas as luzes, e avisou-me que a diretora, que

  • como a chamvamos, havia descoberto quem engendrara a fuga da Tia, e que eu deveria esperar pelo pior. Sabendo da sua natureza extremamente vingativa, compreendi que a minha nica sada era fugir, mas uma fuga no era algo inteiramente fcil de realizar. A instituio em que eu estava era de natureza educacional, e cumpria formalizar o aviso prvio antes de sair. No entanto, eu no desejava de modo algum trabalhar durante esse prazo sob a tutela sem controle de uma mulher rancorosa. De modo que esperei uma oportunidade que justificasse a minha sada. Com o temperamento irascvel de minha empregadora, eu no precisaria esperar muito tempo. Na noite seguinte, estando eu empenhada at tarde em preparar os meus pacotes na perspectiva de minha fuga, outro membro do grupo veio ao meu quarto uma moa que falava raramente, no tinha amigas e fazia seu trabalho como um autmato. Eu jamais me relacionara com ela, e estava muito surpresa com a sua visita. Contudo, ela logo se explicou. Voc pretende sair?, perguntou-me. Admiti que de fato pretendia. Ento v sem ver a Diretora. Voc no sair se o fizer. Eu tentei por vrias vezes, e no pude sair. No entanto, eu era jovem e confiava em minha fora juvenil e no tinha meios de avaliar os poderes dispostos contra mim, e na manh seguinte, em roupas de viagem, valise nas mos, desci e enfrentei a minha formidvel empregadora em sua toca, determinada a dizer-lhe o que ou pensava dela e de seus mtodos, sem suspeitar de maneira alguma que outra coisa alm de patifaria e intimidao estava preparada. No pude, no entanto, iniciar o meu discurso cuidadosamente preparado. Assim que ela soube que eu pretendia sair, disse-me: Pois bem, se quer ir, voc ir. Mas antes que saia deve admitir que incompetente e que no tem nenhuma autoconfiana. Estando disposta a lutar, perguntei-lhe por que no me demitia, j que eu era incompetente, e, de mais a mais, eu era apenas o produto de sua prpria escola de treinamento. Este comentrio naturalmente no melhorou a situao. Iniciou-se ento uma extraordinria litania. Ela recorreu ao seu velho truque de fixar-me com um olhar atento e disse:

  • Voc incompetente e sabe disso. Voc no tem nenhuma auto-confiana e tem que admiti-lo. Isso no verdade. Eu conheo meu trabalho, e a senhora sabe que eu sei, respondi. Ora, no havia dvida de que muito poderia ser dito a respeito da minha competncia em meu primeiro emprego na idade de vinte anos, tendo inmeras responsabilidades sobre os ombros e s voltas com um departamento desorganizado; mas nada podia ser- dito contra a minha autoconfiana, exceto que eu a tinha em excesso. Minha empregadora no fez objees nem me ofendeu. Ela continuou a pronunciar as duas frases, repetindo-as como as respostas de uma litania. Eu entrara em sua sala s dez horas e a deixei s duas horas da tarde. Ela deve ter repetido as duas frases vrias centenas de vezes. Quando entrei, eu era uma moa forte e saudvel, mas sai arrasada e fiquei doente por trs anos. Algum instinto me advertiu que, caso admitisse que eu era incompetente e que no tinha nenhuma autoconfiana, as minhas foras se quebrariam e eu jamais poderia me recuperar depois, e reconheci que essa manobra peculiar de minha empregadora era um ato de vingana. Por que eu no segui o remdio bvio de fugir, eu no sei, mas na hora em que percebemos que um fato anormal est para acontecer somos mais ou menos atrados para ele, e assim como o pssaro diante da serpente no pode utilizar suas asas, no podemos do mesmo modo nos mover ou fugir. Aos poucos, tudo comeou a parecer irreal. Tudo que eu sabia era que precisava manter a todo custo a integridade de minha alma. Uma vez que eu concordasse com as suas sugestes, eu estaria liquidada. De modo que continuamos com a nossa litania. Mas eu estava chegando perto do fim de minhas foras. Eu tinha a curiosa sensao de que o meu campo de viso estava se estreitando. Esse fenmeno , como acredito, caracterstico da histeria. Pelo canto dos olhos, eu podia ver dois muros de trevas avanando atrs de mim em ambos os lados, como se eu estivesse de costas para um biombo e este se fosse lentamente fechando sobre mim. Eu sabia que quando aqueles dois muros de trevas se encontrassem eu estaria perdida. Aconteceu ento uma coisa curiosa. Eu ouvi claramente uma voz interior dizer-me:

  • Finja que est derrotada antes de o estar realmente. Ela cessar ento o ataque e voc poder sair. O que era essa voz, eu jamais o soube. Segui imediatamente seu conselho. Mentindo, pedi desculpas minha empregadora por tudo que havia feito ou que ainda faria. Prometi permanecer em meu posto e andar s direitas por todos os dias de minha vida. Lembro-me que cai de joelhos diante dela, e ela ronronou complacentemente para mim, satisfeitssima com o trabalho da manh, e ela bem tinha razo para assim estar. Minha empregadora deixou-me sair, e eu entrei em meu quarto e me deitei na cama. Mas no pude descansar at escrever-lhe uma carta. O que continha essa carta eu no sei. Assim que a escrevi e a coloquei num local em que ela a encontraria, senti uma espcie de estupor, e permaneci nesse estado com a minha mente em estado de absoluta suspenso at a tarde seguinte. Ou seja, das duas da tarde at por volta das vinte horas do dia seguinte trinta horas. Era um frio dia de primavera e ainda caia neve. Uma janela junto cabeceira da cama estava completamente aberta e o quarto no havia sido aquecido. Eu estava descoberta, mas no sentia nem frio nem fome, e todos os processos do corpo estavam em suspenso. Eu no me movia. As batidas do corao e a respirao eram muito lentas, e continuaram assim por muitos dias. Fui encontrada por acaso pela governanta, que me reviveu com a simples aplicao de uma boa sacudida e uma esponja fria. Eu estava tonta e sem vontade de me mover ou mesmo de comer. Fiquei deitada na cama e meu trabalho ficou entregue a si mesmo, e a governanta vinha me ver de tempos em tempos, mas no fez nenhum comentrio sobre o meu estado. Minha empregadora jamais apareceu. Cerca de trs dias depois, minha estranha amiga, que pensava que eu havia deixado a casa, soube que eu ainda l me encontrava, e veio me ver; eis um ato que exigia alguma coragem, pois a nossa empregadora mtua era um adversrio formidvel. Ela me perguntou o que havia ocorrido em minha entrevista com a Diretora, mas eu no pude contar-lhe. Minha mente era um espao em branco e toda a lembrana dessa entrevista havia desaparecido como quando passamos o apagador sobre uma lousa. Tudo que eu sabia era que das profundezas de minha mente provinha um pnico terrvel que me obsediava. No medo de qualquer coisa ou pessoa. Um medo simples sem um objeto definido, mas no h nada mais terrvel do que isso. Fiquei na cama com todos os sintomas fsicos que experimentamos sob medo intenso. Boca seca, mos transpirando, corao palpitante e respirao superficial e acelerada. Meu corao batia to forte que a cada batida uma maaneta de bronze cada sobre a armao da cama chocalhava. Felizmente para mim, minha amiga viu que algo estava seriamente

  • errado e avisou a minha famlia, que veio buscar-me. Eles ficaram naturalmente muito desconfiados. A Diretora estava embaraadssima, mas ningum podia provar coisa alguma, de modo que nada foi dito. Minha mente era um espao vazio. Eu estava completamente assustada e muito exausta, e meu nico desejo era ir embora. Eu no me recuperei, contudo, como era de se esperar. A intensidade dos sintomas diminuiu gradualmente, mas eu continuava a me cansar com muita facilidade, como se toda a minha vitalidade tivesse sido drenada. Eu sabia que, em algum lugar no fundo de minha mente, estava oculta a lembrana de uma terrvel experincia, e eu no me atrevia a pensar nela, porque, se o fizesse, o choque e o esforo seriam to severos que minha mente ficaria completamente arrasada. Minha consolao principal era um velho livro escolar de aritmtica, e eu costumava passar horas e horas fazendo contas simples para evitar que a minha mente se fragmentasse perguntando o que me haviam feito e esgueirando-se em direo memria, e dessa maneira eu me afastava da lembrana como um cavalo assustado. Por fim, ganhei um pouco de paz chegando concluso de que eu tinha simplesmente um esgotamento por excesso de trabalho, e que todo o estranho ocorrido era fruto de minha imaginao. E no entanto restava a sensao de que tudo era real e de que essa sensao no me deixaria descansar. Cerca de um ano depois desse incidente, como minha sade ainda estivesse precria, eu fui ao campo me recuperar, e l entrei em contato com uma amiga que estivera em dificuldades exatamente por ocasio do meu colapso. Isso nos dava evidentemente bons assuntos para a conversa, e eu encontrara algum que no procurava explicar minha experincia, mas, ao contrrio, fazia perguntas pertinentes. Outra amiga interessou-se por meu caso e arrastou-me ao mdico da famlia, que rudemente diagnosticou que eu havia sido hipnotizada. Esse incidente ocorreu antes dos dias da psicoterapia, e para auxiliar uma mente doente ele se limitou a administrar-me algumas palmadas nas costas e a receitar-me um tnico e brometo. O tnico foi til, mas o brometo no, pois baixou meus poderes de resistncia, e eu rapidamente o pus de lado, preferindo suportar o meu desconforto a ficar inerme. Durante todo o tempo, eu estava obsediada pelo medo de que essa estranha fora que fora aplicada sobre mim de modo to efetivo novamente me atacasse. Mas embora eu temesse esse misterioso poder, que estava bem mais difundido pelo mundo do que eu imaginara, no posso dizer que alvio foi para mim descobrir que todo o ocorrido no era uma alucinao, mas um fato real que podia ser discutido e enfrentado. Obtive minha libertao desse medo encarando toda a situao e determinada a descobrir exatamente o que me havia acontecido e como eu podia me proteger

  • contra a repetio da experincia. Foi um processo extremamente desagradvel, pois a reao causada por recuperar as lembranas foi um pouco menos violenta do que a original; mas eu finalmente consegui libertar-me de minha atormentada condio de medo, embora tenha decorrido um longo tempo antes de minha sade fsica tornar-se normal. Meu corpo era como uma bateria que tivesse sido completamente descarregada. Levava muito tempo para carreg-la novamente, e toda vez que ela era utilizada antes de a recarga estar completa, a carga se perdia rapidamente. Por um longo tempo, fiquei sem reservas de energia, e depois do menor esforo eu caa num sono de morte a qualquer hora do dia. Na linguagem do ocultismo, o duplo etreo se danificara e o prana havia vazado. Ele s voltou ao normal depois que recebi a iniciao numa ordem oculta na qual treinei posteriormente. Num certo momento da cerimnia, senti uma mudana, e apenas em raras ocasies, desde ento, aps alguma injria psquica, que sofro temporariamente daqueles ataques esgotantes de exausto. Narrei essa histria em detalhes porque ela fornece uma boa ilustrao da maneira pela qual os poderes pouco conhecidos da mente podem ser utilizados por uma pessoa inescrupulosa. A experincia de primeira mo tem muito mais valor do que qualquer coletnea de exemplos extrados das pginas da histria, ainda que bem autenticados. Se o incidente acima descrito tivesse ocorrido durante a Idade Mdia, o padre da parquia teria organizado uma caa s bruxas. luz de minhas prprias experincias, no me surpreendo que as pessoas que adquiriram a fama de praticar a bruxaria tenham sido linchadas, pois os mtodos so terrveis e intangveis. Podemos pensar que os relatos dos julgamentos de bruxas so ridculos, com as suas histrias de imagens de cera que se derretiam a fogo lento, ou a crucificao de sapos batizados, ou a recitao de pequenos refros, tais como Horse, hattock, ia ride, ia ride .Mas se compreendemos a utilizao dos poderes da mente, podemos perceber que esses meios eram utilizados para auxiliar a concentrao. No h diferena essencial entre espetar agulhas numa imagem de cera de uni inimigo e acender velas diante de uma imagem de cera da Virgem Maria. Podemos pensar que ambas as prticas no passam de superstio grosseira, mas no podemos pensar que uma real e potente e negar a realidade e o poder da outra. As armas de nossa guerra no so carnais, poderiam muito bem dizer os praticantes tanto da Magia Negra quanto da Igreja. Meu prprio caso pertence mais ao reino da psicologia do que ao do ocultismo, pois o mtodo empregado consistiu na aplicao do poder hipntico para fins imprprios; eu o narrei, contudo, porque estou convencida de que os mtodos hipnticos so largamente utilizados na Magia Negra, e de que a sugesto teleptica a chave para um grande nmero de seus fenmenos. Cito meu

  • prprio caso, penoso como para mim faz-lo, porque uma grama de experincia vale mais do que um quilo de teorias. Foi essa experincia que me levou a enfrentar o estudo da psicologia analtica, e posteriormente o ocultismo. Assim que abordei os aspectos mais profundos da psicologia prtica e observei a dissecao da mente efetuada pela psicanlise, compreendi que havia muito mais na mente do que era relatado pelas teorias psicolgicas em voga. Percebi que permanecamos no centro de um pequeno circulo de luz projetado pelo conhecimento cientfico, mas que ao redor de ns havia uma enorme e envolvente esfera de trevas, e que nessas trevas se moviam figuras imprecisas. Foi para compreender esses aspectos ocultos da mente que me dediquei ao estudo do ocultismo. Vivi muitas aventuras no Caminho; conheci homens e mulheres que podiam ser indubitavelmente alinhados entre os adeptos; vi fenmenos que nenhuma sala de sesses jamais conheceu, e desempenhei minha parte neles; participei de contendas psquicas, e pus minha ateno na lista da fora policial oculta que, sob a direo dos Mestres da Grande Loja Branca, vigia as naes, cada uma de acordo com a sua prpria raa; mantive a viglia oculta, quando no se ousa dormir enquanto o sol est abaixo do horizonte; e aguardei desesperadamente, contrapondo meu poder de resistncia ao ataque, que as mars lunares mudassem e a fora da violenta investida se dissipasse. E por todas essas experincias, aprendi a interpretar o ocultismo luz da psicologia, e a psicologia luz do ocultismo, de modo que uma contraprovasse e explicasse a outra. Devido ao meu conhecimento especializado, as pessoas me procuravam quando se suspeitava de um ataque oculto, e suas experincias reforaram e complementaram a minha. Alm disso, h uma considervel literatura sobre o assunto nos lugares mais inesperados nos relatos do folclore e da etnologia, nos anais pblicos dos julgamentos de bruxas, e mesmo nos textos supostamente ficcionais. Esses relatos independentes, escritos por pessoas de maneira alguma interessadas nos fenmenos psquicos, confirmam as exposies feitas por aqueles que experimentaram os ataques ocultos. Por outro lado, devemos distinguir com muito cuidado a experincia psquica da alucinao subjetiva; precisamos estar seguros de que a pessoa que se queixa de um assalto psquico no est ouvindo a reverberao de seus prprios complexos dissociados. Efetuar a diagnose diferencial da histeria, da insanidade e do ataque psquico uma operao extremamente delicada e difcil, pois com

  • freqncia os casos no tm contornos definidos, e mais de um elemento pode estar presente; um agudo ataque psquico provoca um colapso mental, e um colapso mental deixa a sua vtima aberta invaso do Invisvel. Todos esses fatores devem ser considerados quando se investiga um pretenso ataque oculto, e ser minha tarefa nestas pginas no apenas indicar os mtodos da defesa oculta, mas tambm mostrar os mtodos da diagnose diferencial. de fato necessrio que as pessoas identifiquem, com todos os conhecimentos possveis, um ataque oculto quando o vem. Essas coisas so muito mais comuns do que pensamos. A recente tragdia de lona corrobora essa afirmao. Nenhum ocultista tem qualquer iluso de que aquela morte deriva de causas naturais. Em minha prpria experincia, tive conhecimento de mortes similares. Em meu romance The Secrets of Dr. Taverner, apresentei, guisa de fico, inmeros casos que ilustram as hipteses da cincia oculta. Algumas dessas histrias foram ideadas para mostrar a operao das foras invisveis; outras foram extradas de casos reais; e outras ainda foram antes anotadas do que redigidas a fim de torn-las acessveis ao pblico em geral. Essas experincias de primeira mo, confirmadas por testemunhos independentes, no deveriam ser menosprezadas, especialmente porque difcil encontrar explicaes racionais para elas, a no ser nos termos das hipteses ocultas. Seria possvel explicar cada caso individual mencionado nestas pginas alegando alucinao, fraude, histeria ou fingimento, mas no possvel explicar a totalidade deles dessa maneira. No pode haver tanta fumaa sem algum fogo. No possvel que o prestgio do mgico na antiguidade e o horror das bruxas da Idade Mdia se tenham originado sem alguma base na experincia. As basfias das bruxas seriam levadas to a srio quanto as do campons idiota, se nunca fossem acompanhadas de conseqncias malficas. O medo foi o motivo das perseguies, e o medo baseou-se na experincia amarga; pois no foi o mundo oficial que incitou as queimas de bruxas, e sim as regies rurais que provocaram os linchamentos. O horror universal das bruxas deve ter alguma causa atrs de si. Os meandros labirnticos do Caminho da Mo Esquerda so to extensos quanto tortuosos; mas embora expondo um pouco de seu horror, sustento, contudo, que o Caminho da Mo Direita da iniciao e do conhecimento oculto uma trilha para as experincias msticas mais sublimes e um meio de amenizar o fardo do sofrimento humano. Nem todos os estudantes desse conhecimento fizeram necessariamente mau uso dele; muitos, ou quase todos, dele se ocupam desinteressadamente em benefcio da humanidade, utilizando-o para curar e abenoar, e redimindo dessa maneira aquele que se perdeu. Poder-se-ia muito bem perguntar: Se esse conhecimento pode ser to desastrosamente utilizado, qual a razo ento de levantar-lhe o vu? A resposta a ser dada a essa questo

  • um caso de temperamento. Alguns afirmaro que todo conhecimento, seja qual for, valioso. Outros podero dizer que faramos melhor em no mexer em casa de marimbondos. O problema contudo reside no fato de que os marimbondos tm a infeliz habilidade de se irritarem espontaneamente. Tanto conhecimento oculto est difundido pelo mundo e tantas coisas semelhantes s descritas nestas pginas passam despercebidas e insuspeitas em nosso meio, que desejvel que os homens de boa vontade investiguem as foras que os homens de m vontade perverteram para seus prprios fins. Essas coisas so as patologias da vida mstica, e se elas fossem mais bem compreendidas, muitas tragdias poderiam ser evitadas. Por outro lado, no conveniente que todo mundo se compraza no estudo de manuais de patologia. Uma vivida imaginao e uma cabea vazia fazem uma combinao desastrosa. Os leitores do antigo best-seller Three Men in Boat devem lembrar-se do destino do homem que passou uma tarde chuvosa de domingo lendo um manual mdico. Ao final da leitura, ele estava firmemente convencido de que tinha todas as doenas nele descritas, com a nica exceo da inflamao dos joelhos. Este livro no foi escrito para simplesmente provocar arrepios, mas pretende oferecer uma sria contribuio para um aspecto pouco compreendido da psicologia anormal, desvirtuado, em alguns casos, para fins criminosos. Destina-se ele aos estudantes srios e queles que se viram envolvidos com os problemas descritos, e que esto procurando compreend-los e descobrir uma sada. Meu objetivo principal ao falar to francamente abrir os olhos de homens e mulheres para a natureza das foras que operam sob a superfcie da vida cotidiana. Pode ocorrer a qualquer um de ns abrir caminho pela fina casca da normalidade e encontrar-se face a face com essas foras. Lendo os casos citados neste livro, podemos de fato dizer que, exceto pela graa de Deus, essa possibilidade poderia ocorrer a qualquer um de ns. Se puder transmitir nestas pginas o conhecimento protetor, terei realizado meu objetivo.

    PARTE II DIAGNOSE DIFERENCIAL

    CAPTULO IX DISTINO ENTRE ATAQUE PSQUICO OBJETIVO E DISTRBIO PSQUICO SUBJETIVO

  • Psiquismo, uma causa freqente de auto-iluso / O desenvolvimento inesperadamente rpido dos estudantes conduz s vezes ao distrbio emocional / Recuperao das lembranas angustiadas de uma encarnao anterior / As descobertas de sensitivos inexperientes devem ser aceitas com cautela / A insanidade das velhas criadas / Reaes s fixaes / O magnetismo de um adepto potente demais para muitas pessoas / O fraudulento / O insano / O ciclo do sexo em relao ao desequilbrio mental / Um caso de insanidade cclica / O melhor teste para a autenticidade o exame dos motivos / O caso da perseguio ilusria / Exemplos de genunos ataques psquicos para comparao com os esprios / A necessidade de cautela em fazer uma diagnose. O psiquismo, ainda que genuno, uma causa freqente de auto-iluso. Um sensitivo invariavelmente muito sensvel e sugestionvel. Essa a base de seus dons. No sendo o psiquismo um desenvolvimento normal, entre os europeus pelo menos, o sensitivo , na linguagem dos engenheiros navais, superimpulsionado por sua quilha. Ele por isso instvel, propenso a violentas reaes emocionais, e em geral exibe aquelas aberraes de conduta que estamos acostumados a associar aos gnios artsticos. A no ser que um sensitivo seja treinado, disciplinado, protegido e dirigido por aqueles que lhe compreendem a constituio, o seu psiquismo no digno de confiana, pois o sensitivo arrastado para onde sopram os ventos. O sensitivo e o neurtico so muito semelhantes em suas reaes vida, mas o neurtico difere do sensitivo porque, ao invs de ser superimpulsionado por sua quilha, ele subimpulsionado pelas mquinas. O resultado, contudo, o mesmo uma discrepncia entre a fora e a forma com a conseqente inabilidade para manter um controle central, ponderado e diretivo. A tcnica da disciplina oculta visa em grande parte a controlar as foras disparatadas, compensando a sensibilidade do sensitivo e protegendo-o das impresses indesejadas. No bom saber como se abre a porta do Invisvel sem ao mesmo tempo aprender a fech-la e tranc-la. Como se observou na Introduo, relativamente raro que o Invisvel venha em busca de seres humanos. Como disse a Lagarta a Alice a propsito do Cozinho, Deixe-o em paz, e ele a deixar em paz. Mas se comeamos a estudar o ocultismo ou mesmo a trabalhar com ele, mais cedo ou mais tarde comearemos a obter resultados, desde que, naturalmente, os sistemas que estamos utilizando contenham os germes da eficcia. No caso de uma pessoa que est trilhando o Caminho pela primeira vez, o progresso necessariamente lento e trabalhoso, mas uma alma que recebeu a

  • iniciao em encarnaes anteriores pode reabrir as faculdades psquicas com tal rapidez que o problema de manter a coordenao harmnica da personalidade se torna srio. muito comum uma pessoa que est fazendo seu primeiro contato com o movimento ocultista sofrer um distrbio psquico. Essa perturbao s vezes atribudas s ms influncias, e s vezes s entidades malignas. Nenhuma dessas inferncias deve ser correta. H uma terceira possibilidade, que responsvel pelo maior nmero de vtimas o fato de que a conscincia est sendo perturbada por uma fora diferente. ~ muito comum uma criana ficar febril e agitada nos primeiros dias das frias no mar. Ela no est de fato doente. Mas o ar pesado e a comida diferente e a excitao de seu novo ambiente perturbam o seu sensvel equilbrio fsico. Ocorre o mesmo quando o nefito sofre um distrbio no incio de sua carreira oculta. As vibraes incomuns o agitam, e ele tem ento um ataque de indigesto oculta. Em ambos os casos, o tratamento o mesmo restrio temporria da dieta que causou a perturbao. Uma outra causa do distrbio psquico a recuperao parcial da memria das encarnaes passadas, se essas incluem episdios dolorosos, especialmente aqueles que se relacionam com os estudos esotricos. A entrada de conceitos ocultistas na mente consciente tende a despertar a memria subconsciente de experincias similares nas vidas passadas. A emoo que cerca uma lembrana invariavelmente recuperada antes da imagem real do acidente. (Esse um dos melhores testes para a exatido das memrias das vidas passadas.) Essa emoo prefiguradora pode permanecer por um longo tempo no limiar da conscincia antes que as imagens se esclaream o bastante para se tornarem tangveis. Se a emoo que est vindo tona de natureza dolorosa, ela pode causar uma considervel perturbao, e, na ausncia de um orientador experiente, pode ser atribuda a um ataque oculto, ou percepo psquica de influncias malignas no grupo oculto ao qual o nefito est filiado. Cumpre ter muita cautela na anlise das impresses psquicas de um estudante inexperiente, que pode estar to cheio de receios como um puro-sangue de dois anos. Por outro lado, as reaes instintivas de uma alma pura e sensvel no devem ser ignoradas. As Lojas Negras e as entidades malignas existem. No devemos permitir que o grito de Lobo! Lobo! nos torne indiferentes ou descuidados. Seja como for, a vtima est sofrendo de um desconforto que pode ser suavizado. muito difcil determinar psiquicamente se o queixoso tem motivos razoveis para lamentar-se, pois sua prpria imaginao ter preenchido a sua atmosfera com formas mentais ameaadoras. No coisa simples decidir se essas formas mentais so subjetivas ou objetivas. O caminho mais sbio acreditar que tal prova suscetvel de um exame objetivo e examinar o registro do grupo

  • particular ou do ocultista contra quem os ataques esto sendo dirigidos. Mas igualmente necessrio examinar o registro da pessoa que est sofrendo os ataques. Que essa pessoa est imbuda dos ideais mais sublimes no prova de que ela tem uma boa cabea, um julgamento claro e imparcial, ou uma boa avaliao da natureza das evidncias. Uma pessoa no precisa ser necessariamente um mentiroso contumaz para fazer afirmaes que esto muito longe da verdade. Outro fator que se deve levar em conta so as extravagncias do instinto sexual numa pessoa em quem esse instinto reprimido. Consideremos o caso de uma mulher, talvez j madura, cujas circunstncias lhe permitiram pela primeira vez seguir suas prprias inclinaes; um caso muito comum em donas-de-casa que precisam esperar pela herana dos falecidos antes de iniciarem a jornada da vida. Ela escolhe o ocultismo, pelo qual pode sempre ter tido uma inclinao, e junta-se a algum crculo para estudar e para possivelmente obter iniciao ritual. O dirigente desse crculo ser provavelmente uma pessoa de forte personalidade. A recm--chegada, inexperiente e faminta de amor, est encantada. O ritual uma coisa muito estimulante, como o clero anglo-catlico descobriu por sua prpria conta. A mulher, que possivelmente ignora os fatos da vida, sente-se estranhamente agitada. Ela est aterrorizada, sente que algo do Reino de P est se aproximando. Seus instintos a faro descobrir a fonte de que procede a influncia perturbadora. Ela apontar um dedo infalvel para o macho magntico. E raramente levar em considerao as reaes da mulher na presena do homem. Se ela uma mulher que ignora os fatos da vida, a acusao que ela faz tomar normalmente a forma de uma acusao de influncia hipntica. Ela no compreende que a natureza que a est hipnotizando. Se ela uma mulher que conhece algo a respeito do mundo, a acusao pode ser de propostas amorosas imprprias. No mais das vezes, basta apenas olhar para a mulher para descobrir se h de fato qualquer fundamento nessa acusao. ~ raro uma jovem simptica, que poderia com razo estar apreensiva, contar tais histrias. Parece que nunca ocorre s queixosas a idia de fugir ou de pr o assunto nas mos de um promotor. Se, ao fim de uma longa histria, cheia de insinuaes tenebrosas e sugestes execrveis, fazemos a pergunta Mas o que ele fez, exatamente? , a resposta ser, quase sempre, Ele olhou-me de modo significativo. Quando ouvimos uma dessas histrias, deveramos dar mais ateno postura da pessoa que a est narrando do que aos fatos alegados. Isso fornecer amide a informao mais valiosa. a coisa mais difcil do mundo conseguir que uma vtima genuna fale. A mulher que est contando a histria de sua prpria vergonha normalmente uma mulher desprezada, e a fidedignidade de seu testemunho no assunto est na razo inversa de sua loquacidade. No

  • esqueamos que, como nas brigas, necessrio ter duas pessoas para que um escndalo ocorra, e a pessoa que admite um erro e pede ajuda para voltar atrs nos passos errados muito mais digna de auxilio do que aquela que pretende ser como os anjos do cu, onde no h casamentos ou noivados. To grande a necessidade de cautela para avaliar os fatos numa acusao de imoralidade que as cortes legais no aceitaro o testemunho da vtima, mesmo sob juramento e sob interrogatrio, a menos que ele seja corroborado por testemunho adicional. O mdico deve conhecer o mesmo tipo de mentalidade, e uma forma comum de distrbio mental recebe o nome, at mesmo nos manuais, de Insanidade da Velha Criada. Eu poderia citar dezenas de casos que exemplificam as afirmaes precedentes, mas eles no tm suficiente interesse oculto para justificar a sua incluso nestas pginas. Se quem comanda o grupo uma mulher, um ramo diferente de reaes entra em jogo, embora as mesmas causas estejam em ao. No se compreende geralmente que a fixao, ou a paixo de uma mulher por outra, na verdade um caso de amor substitutivo, como o prova o fato de que a jovem que tem muitos admiradores, ou a mulher que feliz no casamento nunca se entregam a ela. Nesse caso, assim como na atrao heterossexual normal, o inferno no conhece nenhuma fria como a da mulher desprezada; no possvel, por razes bvias, receber acusaes de comportamento imprprio. (Embora em uma acusao isso tenha sido alegado contra mim, tendo eu sido acusada de ser um homem disfarado e de tentar seduzir a queixosa, e houve quem acreditasse nisso.) A acusao feita em tais casos toma normalmente uma de duas formas, sendo o seu mecanismo ou Voc no me ama, portanto voc cruel. Eu fui tratada cruelmente; e os exemplos mais afetados se alinham de acordo com essa acusao. Ou Voc no me asna, portanto eu o odeio. A atrao que voc tem por mim hipntica. Deve-se ter em mente, ao se avaliar essas acusaes, que um ocultista treinado, especialmente de um alto grau, tem uma personalidade extremamente magntica, e isso pode perturbar aqueles que no esto acostumados com foras psquicas de alta tenso. Pois ao passo que uma pessoa que est madura para o desenvolvimento desabrocha rapidamente uma conscincia superior na atmosfera de um iniciado de alto grau, a pessoa que no est pronta pode descobrir que essas influncias so profundamente perturbadoras. Um adepto que permite que pessoas inadequadas penetrem o seu campo magntico digno de reprovao por sua falta de senso e discrio, mas ele no pode ser justamente acusado de abusos de poderes ocultos. Ele emana fora involuntariamente e no pode ajudar a si prprio. Os maiores adeptos sempre

  • vivem em recluso, no s porque precisam de solido para o seu trabalho, mas tambm porque a sua influncia sobre almas despreparadas produz uma reao muito violenta, e isso termina na Cruz ou na taa de cicuta. No devemos negligenciar o fato de que a pessoa que nos chega com uma longa histria de ataque oculto e pede auxilio, especialmente ajuda financeira, pode estar simplesmente inventando uma lorota, e deveramos utilizar a mesma discriminao que empregamos ao ouvir as calamidades de uma outra, tentando diferenciar entre o falso e o verdadeiro. Conheci um homem que permitiu que um pretenso adepto que estava sofrendo de um pretenso ataque oculto se refugiasse em seu estdio, e ao retornar de uma breve ausncia descobriu que o pretenso adepto havia vendido a moblia para comprar bebida; e ele teve toda a razo para acreditar que os nicos espritos que estavam de alguma maneira envolvidos nos problemas do falso adepto haviam penetrado o estdio dentro de garrafas. s vezes o ataque oculto provm simplesmente das fantasias de um demente, e isso no invalida necessariamente o fato de que se pode encontrar uma segunda pessoa que traz evidncias corroborativas. Os alienistas conhecem uma curiosa forma de insanidade chamada folie de deux, na qual duas pessoas intimamente associadas partilham juntas das mesmas iluses. Descobre-se comumente em tais casos que uma claramente insana, e que a outra de um tipo histrico e imbuiu-se das iluses de sua companheira por meio da sugesto. Utilizo o feminino porque essa forma de insanidade rara nos homens. Ela ocorre com freqncia com duas irms ou com duas mulheres que vivem juntas. H outra armadilha que o ocultista experiente deveria observar em suas relaes com a pessoa que se queixa de um ataque oculto. A insanidade pode ser peridica em suas manifestaes, com ataques de mania aguda alternando com perodos de completa sanidade. Esse carter peridico deveria ser sempre observado no caso das mulheres, nas quais qualquer instabilidade temperamental grandemente exagerada durante as pocas das regras, na mudana de vida, durante a gravidez e, de fato, em qualquer perodo em que a vida sexual estimulada atividade, seja emocionalmente ou fisicamente. Deve-se tambm ter em mente que nos casos patolgicos a periodicidade das funes femininas pode ser grandemente perturbada. Eu tive certa vez uma boa lio a esse respeito, que exemplifica a necessidade de cautela. Na apresentao de um de nossos membros, ns tnhamos recebido em uma de nossas casas comunitrias uma mulher cujo marido, um homem bastante conhecido na vida pblica, se recusava a viver com ela, como fui informada, e fizera diversas tentativas para livrar-se dela, ameaando interdit-la por insnia se ela de alguma maneira lhe resistisse. Esses fatos foram

  • testemunhados por um crculo de amigos que conheciam tanto o homem como a mulher. Eu mantive essa mulher sob observao durante um ms, para verificar se havia algo que justificasse a acusao de insanidade e, nada constatando, assumir o caso. Na stima semana, contudo, a perturbao se manifestou. Ela entrou num grande estado de excitao, declarou que estava morrendo de fome e sendo maltratada pela pessoa que, em minha ausncia, era responsvel pela casa. Sete semanas mais tarde tivemos outro ataque, durante o qual ela disse que as ms influncias provinham de um certo armrio em seu quarto, vagueou pela casa em trajes extremamente inadequados e perdeu todo o autocontrole. Esse ataque teve tambm curta durao. Descobrimos, por fim, que ela sofria de uma apendicite crnica que envolvia o ovrio direito e que, quando a sua menstruao extremamente irregular ocorria, ela perdia a cabea por alguns dias. O caso era ainda agravado pelo fato de que durante os intervalos ela era em todos os aspectos perfeitamente s. Aps ter deixado a nossa casa comunitria, ela contou sobre ns exatamente as mesmas histrias que havia contado anteriormente sobre o marido. O luntico incurvel um problema muito menos srio para a sociedade do que esses casos limtrofes. preciso trat-los com extrema cautela, pois eles podem causar uma imensa confuso. Quando uma insanidade atingiu um estgio avanado, todo aquele que teve alguma experincia com os lunticos tem pouca dificuldade para reconhec-la. Cada tipo de insanidade tem a sua expresso facial caracterstica e mesmo seu modo de andar. Mas no to simples, mesmo para o especialista, reconhecer uma insanidade em seus estgios iniciais. Os lunticos so extremamente convincentes, e se assimilaram um pouco do jargo ocultista e do espiritualista, podem apresentar adequadamente as suas razes. Mesmo o alienista experiente tem amide de manter um caso sob observao para certificar-se de que se trata ou no de uma insanidade real. Num campo cm que os especialistas esto freqentemente em dvida, o que deve fazer o leigo diante de um caso que desperta as suas suspeitas? Ele no pode reconhecer uma insanidade quando a v, mas seu prprio senso comum poderia gui-lo. Em outras palavras, que ele suspenda o julgamento sobre os fatos alegados e se concentre na questo dos motivos. aqui que ele encontrar a sua melhor indicao. Se uma pessoa no pode oferecer nenhuma explicao vlida para as razes de um ataque que a est atingindo, nem para a sua causa ou origem, podemos estar quase certos de que esse ataque tem origem em sua prpria imaginao. Num caso que me veio s mos em busca de auxilio, a vtima do ataque, um homem, declarou que estava sendo perseguido por sugesto teleptica. Indaguei sobre a origem de sua perseguio, e ele disse que algumas pessoas que viviam no apartamento vizinho costumavam sentar-se num crculo e concentrar-se

  • sobre ele. Perguntei-lhe por que elas agiam daquela maneira, e ele no pde dizer-me. Ele simplesmente reiterou que elas o faziam, embora admitisse que nunca estivera no apartamento delas, nem, de fato, jamais lhes falara exceto para trocar um bom-dia nas escadas. Era evidente que no havia nenhum motivo razovel para essas pessoas se darem ao trabalho de persegui-lo. Se algum j fez experincias com sugesto teleptica conhecer a intensa concentrao que ela requer e o duro trabalho que execut-la, e no se pode imaginar algum dando-se ao trabalho de faz-la por longos perodos de tempo sem um motivo bem definido. Ouvi falar, contudo, de um caso bem autenticado de uma mulher que teve uma ligao com um homem casado que atacava a esposa dessa maneira. Eu mesma conheci dois casos em que um certo indivduo, que tinha bastante influncia nos crculos transcendentais, que os jornais chamavam impolidamente de sua Loja de Louvor, e que era igualmente conhecido no centro financeiro de Londres por seus esforos para obter ouro da gua do mar, utilizava sugesto teleptica para induzir a assinatura de cheques e documentos. Em face de algum que esperava por uma entrevista, esse homem sentava-se e concentrava-se sobre seu interlocutor. To forte era a influncia assim exercida que um homem de minhas relaes renunciou a um posto importante por causa da influncia mental indevida que sentia sobre si, e outro renunciou ao conselho de uma de suas companhias pela mesma razo. Em ambos os casos no difcil procurar um motivo adequado para o ataque mental. Comparem esses dois casos com o exemplo anterior, e a diferena pode ser facilmente percebida. Deveramos, contudo, ser to cautelosos em decidir se no h nada errado quanto em aceitar por seu valor aparente as afirmaes que nos possam ser feitas. Alm disso, deveramos ter sempre em mente, quando tratarmos com uma pessoa que est obviamente perturbada e que alega um ataque psquico, que o desequilbrio mental pode ter sido induzido pelo ataque psquico. A vida , na melhor das hipoteses, uma coisa estranha, e muitas coisas que so mais estranhas do que o normal podem acontecer queles que se movem nos crculos ocultos.

    CAPTULO X OS PERIGOS NO-OCULTOS DA LOJA NEGRA

    As Lojas Negras e o submundo / Tipos de crime comumente associados s Lojas Negras / Precaues necessrias / Carter e lembrana de mestres ocultos / O peridico Truth / Extorso / As ms influncias / Drogas e Imoralidade / Perigo para os rapazes / Sacrifcio humano / Polticas revolucionrias / Sinais de uma Loja Negra.

  • Os fatos considerados no captulo anterior, embora nos possam tornar cautelosos quanto ao exame das provas, no nos devem cegar quanto ao fato de que h ovelhas negras em todos os rebanhos e de que uma fraternidade que comeou com as melhores intenes pode inadvertidamente, pela ignorncia ou imperfeio de seus dirigentes, desviar-se para o Caminho da Mo Esquerda. Pessoas perfeitamente inocentes podem associar-se a ela numa fase de degradao no confessadamente negra, e essas pessoas podem ver-se em guas que so desagradavelmente turvas, se no realmente perigosas. Os perigos esotricos sero estudados em detalhe no prximo captulo e consideraremos aqui os perigos exotricos que podem ocorrer atrs do Vu do Templo, pois a natureza humana sempre a mesma onde quer que a encontremos, e mostra pouca originalidade em escolher seu caminho para o Abismo. Poder-se-ia pensar que num livro como este no necessrio abordar tais assuntos, mas se este livro deve servir ao propsito para o qual foi escrito, necessrio faz-lo por trs razes; em primeiro lugar, porque a maior parte dos estudantes de esoterismo so mulheres, e mesmo em nossos dias esclarecidos elas geralmente ignoram a vida do submundo, e uma Loja Negra conduz por um caminho direto e estreito para a terra de apaches e mundanas, lado a lado com as suas outras inconvenincias. Em segundo lugar, porque o conhecimento desses fatos essencial para a diagnose diferencial. E, em terceiro lugar, porque os poderes ocultos no so incomumente utilizados para a obteno de fins puramente mundanos e, por conseguinte, quando a questo da criminalidade comum est associada a uma organizao oculta, os resultados podem ser complicados por uma mistura de mtodos que pertencem a outro plano. Devemos sempre lembrar que uma loja no precisa necessariamente ter sido formada com o propsito expresso de burlar a lei; ela pode ter-se iniciado com um fim perfeitamente legtimo, e ter sido explorada por pessoas malvolas para seus prprios objetivos, pois, devido natureza secreta de seus procedimentos, a forma de organizao da fraternidade se presta a vrias formas de transgresso da lei. Sabe-se muito bem que uma organizao oculta se envolveu com o trfico de drogas, e que outra estava metida com o vcio antinatural. Uma terceira degenerou num estabelecimento pouco melhor do que uma casa de m fama, e seu chefe era um experiente aborteiro. Outras se envolveram com polticas subversivas. Aqueles que se juntam s fraternidades sem investig-las a elas e s credenciais dos dirigentes criteriosamente, podem ver-se envolvidos em uma ou em todas essas coisas. Atrs do vu do segredo, guardado por impressionantes juramentos, muitas coisas podem acontecer, e , portanto, essencial tomar cuidadosas informaes a

  • respeito do carter, das credenciais e da folha-corrida dos lderes de uma organizao. Se esses dados no so acessveis, algo est errado. O Estranho Misterioso, que acabou de chegar do Oriente ou do continente com referncias vagas, provavelmente uma fraude. Se encontramos alguma dificuldade para descobrir os antecedentes de um pretenso adepto, podemos consultar o conhecido peridico Truth, da Carteret Street, S. W. I. Truth foi originalmente fundado para denunciar os abusos na vida econmica e pblica, e para esse fim ele mantm uma Lista Negra de indivduos que devem ser evitados. Esse peridico leal e destemido em seus mtodos, no um perseguidor nem um encomiasta de pessoas. Ele mantm um olho vigilante sobre o campo do ocultismo e expe ao ridculo os charlates, uma tarefa para a qual ele deveria contar com a gratido e o apoio de todos os que tm a causa da Religio da Sabedoria no corao. O perigo mais comum a que uma pessoa que entra na companhia de indivduos indesejveis est exposta o de ser induzida a entregar mais dinheiro do que conveniente pelos expedientes tradicionais da trapaa e da chantagem, sendo esta de longe a forma mais comum de aborrecimento nas Lojas Negras. O nico remdio em todos os casos colocar o assunto nas mos da polcia. Em primeiro lugar, seu dever como cidado para que outros no sejam envolvidos como voc. Em segundo lugar, se voc no o faz, os perseguidores no o deixaro at que o tenham sugado por completo, e no o deixaro se descobrirem que voc til como joguete. Jamais nos livramos de um chantagista dando-lhe dinheiro. Isso apenas um convite para que ele o faa novamente. Aja rpida e firmemente no incio e voc logo estar no fim de seus aborrecimentos. Conseguir dinheiro com ameaas chantagem, e obrigar algum a fazer certas aes por ameaa tambm um crime. Acordos fechados ou documentos assinados em conseqncia de ameaas no tm validade. As ameaas no precisam ser necessariamente grosseiras e abertas, como as que so feitas com um revlver; tudo aquilo que o coaja contra suas inclinaes pode ser interpretado como uma ameaa. Por exemplo, suponha que lhe informaram, ainda que com tato, que se voc no subscrever os fundos de uma organizao, seu interesse pelo ocultismo estar sujeito a ser alvo de comentrios, e poder envolv-lo em aborrecimentos com seus parentes ou empregados. Isso, aos olhos da lei, chantagem. Qualquer coisa, de fato, que tira vantagem do medo de uma pessoa uma chantagem.

  • Consideremos agora qual a melhor coisa a fazer se voc est sendo chantageado. Dificilmente ser sensato responder chantagem com chantagem. A melhor coisa a fazer responder que voc pensar no assunto e ver o que pode ser feito, e ento ir direto ao posto policial mais prximo e contar toda a histria. Voc pode estar certo de que ser atendido com a mxima gentileza e ateno, e que todo esforo ser feito para ajud-lo, mesmo que voc tenha que admitir que sua conduta no foi irrepreensvel. Indo polcia e contando francamente o estado de seus negcios, voc estar depondo contra o ru, e as autoridades tm todo interesse em proteger as pessoas que fazem isso. No se desencorage pelo fato de que no pode apresentar nenhum testemunho adicional em apoio de sua afirmao. A polcia poder dizer-lhe que no h prova evidente para solicitar um mandado de priso; entretanto, eles faro investigaes, e o prprio fato de a polcia estar investigando suficiente para tirar o sossego dos chantagistas e provavelmente para espant-los do pas, e eles normalmente no faro revelaes inconvenientes en route, preferindo antes fugir enquanto possvel. Alm disso, a sua queixa ir para os registros da polcia, e a vigilncia ser mantida; no devido tempo, outra queixa pode ser feita, ou, pelo que voc sabe, j pode ter sido feita, e ento a rede comea a se fechar. Lembre-se sempre de que uni chantagista tem mais medo de expor-se do que voc; por qualquer aborrecimento que possa estar reservado para voc, ele tem frente um longo perodo de recluso. Uma oportuna lembrana desse fato faz maravilhas com os presumveis chantagistas. O medo de expor as suas prprias falhas no deve det-lo. A natureza das acusaes feitas contra voc pelo chantagista jamais ser mencionada. No voc quem est sendo julgado. E sua identidade no ser revelada. Voc ser designado como Sr. A. ou Sra. B. Longe de ser tratado como uni criminoso ou de ter um dedo acusador apontado contra voc, descobrir que visto como uma pessoa que est prestando um servio pblico e todo esforo ser feito pelas autoridades para desembaraar seu caminho. Um esforo deliberado est sendo feito no presente para extinguir esse crime abominvel, e os juizes tm aplicado sentenas exemplares e procurado proteger os demandantes de todas as maneira, no propsito de encoraj-los a apresentarem-se. Mas alm de qualquer forma de coero, pessoas incautas, cheias de entusiasmo ou encantadas pela nova revelao, podem despender muito mais dinheiro do que seria razovel; elas podem mesmo despender tudo que tm, e, depois, desiludidas pelos eventos posteriores, lamentar grandemente o t-lo feito. Em muitos casos, um procurador competente pode conseguir a devoluo dos bens.

  • Os tribunais no vem com bons olhos as contribuies excessivas aos movimentos. No preciso dizer que nenhuma organizao conduzida corretamente consentiria em aumentar seus fundos s expensas da runa de um de seus membros. Cumpre tambm, naturalmente, proteger-se contra a extravagncia e a malevolncia e as maquinaes do indivduo que tenta comprar prestgio por intermdio das subscries. Sempre foi nosso costume, na Fraternidade da Luz Interior, insistir em que qualquer mulher que se prope a dar uma grande doao deveria consultar seu conselheiro de finanas antes de faz-lo. Por uma razo ou outra, recusamos mais de vinte e cinco mil libras durante os ltimos sete anos. E no temos qualquer razo para lamentar t-lo feito. A fora de uma organizao oculta no est no plano fsico. bem sabido que h vrias drogas que podem ser utilizadas para exaltar a conscincia e induzir um psiquismo temporrio. Mas talvez no se saiba que muitas dessas substncias esto sujeitas ao controle das autoridades e que obt-las de fontes irregulares, ou mesmo ter a posse delas para fins ilegtimos, constitui crime sujeito a priso, e nesse caso tambm as autoridades esto alertas e os magistrados costumam ser extremamente drsticos. Todos os iniciados do Caminho da Mo Direita concordam em que exaltar a conscincia por meio de drogas um procedimento perigoso e indesejvel. Existem pesquisadores que por razes legtimas desejam empreender uma experincia, mas no posso conceber qualquer razo legtima para introduzir um nefito no hbito das drogas. Em todo caso, se tais experincias so tentadas, elas deveriam ser conduzidas sob a superviso de um mdico qualificado, que estaria em condies de prevenir a catstrofe ou de lidar com ela no caso de sua ocorrncia. As drogas que alteram a conscincia afetam tambm o corao, e o corao nem sempre como deveria ser. Alm disso, a composio das drogas raras no est padronizada e varia bastante; elas podem conter vrias impurezas, e as amostras podem tornar-se anormalmente txicas. O aborrecimento de termos sob as mos um cadver inesperado e inexplicvel s superado pelo desgosto de tornarmo-nos ns mesmos o cadver, e uma dessas eventualidades pode ocorrer quando as pessoas comeam a fazer experincias com drogas que afrouxam os laos da mente. A moral da humanidade em geral deixa muito a desejar, do ponto de vista do puritano, e as organizaes ocultas que ocupam as costas martimas da Bomia, mais ainda. As poucas organizaes que afirmam que o ocultismo essencialmente uma religio mantm um padro elevado; as demais so abenoadas com uma coleo calidoscpica de amantes. Isso no nos diz respeito. Se as pessoas preferem pular a cerca, elas que sabem. No

  • consideraremos por enquanto os abusos ocultos da fora do sexo, pois esse tema ser estudado em detalhes no lugar adequado. Analisaremos neste captulo a forma absolutamente normal com que a imoralidade camuflada sob a capa do ocultismo. A esse respeito, inmeros casos chegaram ao meu conhecimento. O chefe de um grupo seduzia sistematicamente as suas pupilas sob o pretexto de que isso era parte de sua iniciao, e o grupo aceitava a situao num esprito do mais puro auto-sacrifcio. Muitas outras lutavam desagradavelmente contra a mar, com o resultado de que as paixonites e os posteriores colapsos nervosos eram muito freqentes. No preciso dizer que tais mtodos no fazem parte do Caminho da Mo Direita. surpreendente o nmero de mulheres de ideais elevados, de boa famlia e de ampla cultura que podem ser induzidas a aceitar tais teorias e tais prticas. O perigo que aguarda as jovens ou as mulheres inexperientes que se associam a esses grupos pode ser facilmente imaginado. Eu fui vrias vezes acusada de ter uma mente estreita em minha atitude para com os grupos em que tais acontecimentos eram permitidos, mas o custo em sofrimento humano to grande e a desmoralizao geral to srdida que a tolerncia chega perigosamente perto do cinismo. Talvez no se saiba, mas os meninos e os jovens correm tanto o perigo da corrupo numa Loja Negra quanto, as mulheres. J houve casos to flagrantes no s aqui como no exterior, que a policia foi obrigada a intervir. Nos tempos antigos, e entre pessoas primitivas, o sacrifcio humano era um acontecimento comum relacionado com as prticas ocultas. A Europa oriental conhece esse rito ainda nos dias de hoje. A histria do Barba-Azul tem a sua origem nas prticas do infame Gilles de Rais, marechal de Frana e companheiro de Joana dArc, que massacrou inmeras crianas e jovens em funo de suas experincias mgicas. Eu jamais ouvi falar de um desses casos na Inglaterra, mas dos Estados Unidos nos tm chegado em diferentes ocasies os relatos de curiosos assassnios que se assemelham a assassnios rituais; porm, na ausncia de informao adequada, impossvel chegar a uma concluso final a esse respeito. No obstante, chegou-me recentemente s mos um livro sobre magia publicado para circulao restrita, no qual se faz a afirmao de que o sacrifcio de sangue ideal o de uma criana do sexo masculino. O movimento ocultista com freqncia acusado de entregar-se a atividades revolucionrias. H certos aspectos, no entanto, que devem ser considerados quando se avalia a verdade dessa acusao. Em primeiro lugar, o movimento ocultista no um todo homogneo. Ele est totalmente desorganizado e pode ser comparado situao poltica da Inglaterra antes da Conquista normanda. A

  • constituio dos vrios grupos e associaes varia enormemente, e o que verdade para um pode no ser verdade para outro. No h dvida de que vrias organizaes em vrias pocas estiveram implicadas com a poltica, como o demonstra a associao da Sociedade Teosfica com os movimentos polticos indianos, mas devemos ter em mente que os revolucionrios de uma gerao so os reacionrios da prxima gerao. Afinal, a poltica uma questo de opinio, e mesmo as pessoas de quem discordamos podem estar, afinal, certas. Eu, pessoa]mente, acredito que uma fraternidade oculta nunca deve ocupar-se de poltica, por razes que apresentei em outro de meus livros, Sane Occultism, e que no discutirei aqui, por serem irrelevantes nestas pginas. Mas, visto que as pessoas se tm reunido desde tempos imemoriais visando ao poltica, no podemos fazer objeo a algo que a lei permite. As pessoas que se vinculam a uma organizao fundada para a ao poltica vinculam-se com os olhos abertos e presumivelmente para os fins para os quais ela foi fundada. H razes para objeo, contudo, quando uma organizao fundada para atividades no-polticas e posteriormente os seus dirigentes, sem consultar, ou sequer informar os seus seguidores empreendem atividades polticas por sua prpria conta, utilizando a organizao para esse propsito e envolvendo, assim, os seus seguidores, sem seu consentimento, nas complicaes que podem surgir, e empregando o dinheiro das contribuies para um fim especfico em finalidades que os doadores no tinham em vista. Poder-se-ia perguntar que uso, na atualidade, os revolucionrios poderiam fazer das organizaes ocultas. Quanto ao que sei, eles utilizaram ou tentaram utiliz-las para enviar as cartas de pessoas cuja correspondncia estava sendo vigiada, e eu mesma recebi certa feita um pedido para permitir que uma pessoa que havia sido deportada retornasse ao pas sob um nome falso e demorasse em uma de nossas casas comunitrias como um membro regular, e algumas centenas de libras foram oferecidas para que o fizssemos. No preciso dizer que a correspondncia foi envia da imediatamente s autoridades. Os problemas que examinamos neste captulo no so peculiares s fraternidades ocultistas, mas so comuns a qualquer organizao que no discrimina os seus membros. As organizaes que fazem publicidade devem forosamente aceitar todos os que se apresentam e dar-lhes um destino luz da experincia posterior, e algumas dessas experincias podem ser muito bizarras. No se pode censurar uma organizao que aceita uma ocasional ovelha negra, a no ser que ela mantenha todo um rebanho com essa cor. Uma loja de duvidosa pureza pode ser facilmente reconhecida pelas pessoas que a freqentam e que podem muito bem ser comparadas ao aventureiro decadente com fumos de requinte, que gosta de emoes fortes. As verdadeiras Lojas Negras so guardadas to cuidadosamente quanto as Lojas Brancas de grau elevado, e nenhum estranho tem acesso a elas. O estudante srio de Ocultismo Negro visa ao conhecimento e experincia mgica e no vai perder o seu

  • tempo com um aprendiz. Aqueles que preferem graduar-se numa Loja Negra, depois de cumprirem seu aprendizado na Corte Exterior de uma Loja Branca, fazem a escolha de olhos abertos, e a experincia deve ser seu mestre. No devemos lastim-los se a experincia penosa. A pessoa que estou disposta a auxiliar a pessoa que uma vtima, no aquela cujo tiro saiu pela culatra. O homem ou a mulher que, rejeitando os passos graduais do Caminho da Iniciao, escolhe subir com um foguete, ter depois que descer apoiado numa bengala. Qualquer solicitao de uma grande soma de dinheiro deveria ser sempre encarada como um sinal de perigo. uma das condies mais estritas da iniciao que o conhecimento oculto jamais pode- ser vendido ou utilizado para ganho. Sei de um ocultista que cobra trezentas libras por uma das iniciaes que concede; e ele a dar a quem quer que tenha trezentas libras. Em minha opinio, a pessoa que paga trezentas libras por tal objetivo faz jus espcie de iniciao que vai obter. tambm um mau sinal quando um ocultista utiliza livremente os prodgios diante dos no-iniciados. Nenhum adepto genuno jamais far isso. A pessoa que revira os olhos, l nossas encarnaes passadas, descreve nossa aura, contorce-se e nos d uma mensagem de seu Mestre assim que lhe somos apresentados, eis algum que devemos evitar. Quanto mais observo o movimento ocultista, mais me surpreendo com as coisas que as pessoas podem dizer e fazer sem serem punidas. A pessoa comum no est no seu normal quando lida com assuntos psquicos. Ela passa normalmente por trs fases. Em primeiro lugar, pensa que tudo superstio e fraude. Em segundo lugar, quando o seu ceticismo se rompe, ela acredita em qualquer coisa. Em terceiro lugar, se consegue chegar ao terceiro lugar, ela aprende a discrio e distingue as Fraternidades Negras e as Fraternidades Brancas das Fraternidades Tolas.

    CAPTULO XI

    O ELEMENTO PSIQUICO NO DISTRBIO MENTAL Personalidade, individualidade e reencarnao / Os trs grandes instintos / Histeria / O neurtico / Insanidades orgnicas / As glndulas endcrinas / O sangue / Contatos com o Invisvel / A concepo cabalstica dos Remos Invisveis / O Qlippoth em relao insanidade / A conscincia em relao s Esferas / O psiquismo do psicopata e Base comum da psicologia e do ocultismo / Mtodos ocultistas para lidar com a insanidade e Obsesso.

  • Vimos num captulo anterior que os distrbios nervosos e mentais podem estimular um ataque psquico, especialmente se o sujeito est familiarizado com a terminologia do ocultismo. Devemos considerar tambm o papel desempenhado pelo ataque psquico nas desordens nervosas e mentais. Mas antes de iniciarmos esta seo de nosso estudo, devemos dar uma breve explicao sobre a natureza das perturbaes nervosas e mentais e sobre a distino entre ambas. No entraremos em consideraes acadmicas, pois estas pginas no foram escritas para o psiclogo profissional ortodoxo que tem inmeros manuais sua disposio , mas para a pessoa cujo interesse est em primeiro lugar nos temas ocultistas, e que enfrenta o estudo do assunto desprovida dos tecnicismos da psicologia e da psicofisiologia, duas cincias de que precisamos ter pelo menos um conhecimento prtico para enfrentarmos os trabalhos ocultos. No curso de uma encarnao, a mente est assentada sobre as funes das caractersticas do Eu Superior, ou Individualidade, que a alma imortal que se desenvolve no curso de uma evoluo. A mente, por conseguinte, parte da personalidade a unidade da encarnao que comea no nascimento e se dissolve na morte, sendo a sua essncia absorvida pela personalidade, que assim se desenvolve. A mente essencialmente o rgo de adaptao ao meio ambiente, e quando essa adaptao falha que as perturbaes neurticas e histricas comeam. Toda criatura viva um canal por onde flui a corrente de fora vital que procede do Logos, o Criador deste universo. Essa corrente divide-se nos trs canais principais, que para ns correspondem aos trs grandes instintos naturais, a Autopreservao, a Reproduo e o Instinto Social. Essas so as trs molas principais de nossas vidas. A prpria presso da vida est atrs desses canais, e se eles so bloqueados alm de seu poder de compensao (por mais considervel que este seja), eles agem como as correntes cujos canais esto bloqueados e que, em conseqncia, transbordam e encharcam as terras adjacentes. A emoo o aspecto subjetivo de um instinto. Ou seja, quando um instinto est operando, ns sentimos emoo. Toda emoo que sentimos pode ser referida a um ou outro dos instintos. Nosso ressentimento pela crtica nossa dignidade tem suas razes no instinto da Autopreservao. Nosso amor arte tem seu elevado aspecto espiritual e seu aspecto fsico elemental, e a transmutao de um plano ao outro ocorre livremente, de modo que, a no ser que compreendamos o significado dessas manifestaes, poderemos incorrer em erro. Na compreenso desse ponto est a chave da cincia da vida.

  • Se um desses grandes instintos to frustrado que todas as tentativas de compensao sucumbem; ou se o temperamento to inelstico e inflexvel que no modificar suas exigncias, o ego faz uma desesperada tentativa final de ajustamento que ultrapassa os limites em que as relaes harmoniosas com o meio ambiente podem ser mantidas. As relaes com o meio ambiente se rompem, e a mente abandona, pelo menos em parte, a esfera. da realidade, ingressando na esfera da imaginao. A sensao de valores fixos se perdeu, e as coisas assumem uma importncia simblica. Esse rompimento pode ser parcial, restringindo-se a certos aspectos da vida, ou pode ser total. Na histeria, as foras odiosas da vida permanecem no canal, mas jorram com fora concentrada por qualquer comporta que possa estar aberta para elas. Conseqentemente, ao invs de o rio sob obstruo ser um corpo de gua que flui suavemente, ele desce em rpidos e sorvedouros difceis e perigosos para navegar, de modo que o barco da vida neles naufraga. O pas circunvizinho tambm reduzido a um lamaal, nem terra nem gua. Em outras palavras, o temperamento torna-se tempestuoso e indevidamente emocional, e os fatores no-emocionais da mente, como o julgamento e o autocontrole, se descoordenam. Esse temperamento est perpetuamente em dificuldades com a vida, e periodicamente as emoes reprimidas transbordam em acessos de gritos e movimentos musculares convulsivos, que agem como vlvulas de segurana e aliviam temporariamente a presso. O neurtico difere do histrico por certas caractersticas marcantes que precisam ser cuidadosamente consideradas, pois so muito importantes do ponto de vista prtico. As perturbaes neurticas comeam da mesma maneira que os distrbios histricos, pois resultam da emoo reprimida e da falta de adaptao ao meio ambiente; mas nesse caso, as foras vitais agem para abrir novos canais que possam circundar o obstculo que lhe bloqueia o caminho. Temos, conseqentemente, o que os psiclogos chamam de deslocamento emocional. Um assunto relativamente pouco importante torna-se objeto de uma efuso que no condiz em absoluto com a realidade, pois esse objeto foi substitudo por outra coisa. esse curioso trilhar subterrneo da emoo na mente que causa tanta desordem, pois o sofredor no insano e, no entanto, certas sees de seus valores e reaes vida esto pervertidas. Ele uma pessoa extremamente difcil de lidar, porque dado a amores e dios e medos inesperados e absolutamente irracionais, e age de acordo com eles. Condies semelhantes prevalecem nas insanidades orgnicas; as conseqncias psicolgicas so as mesmas, mas, visto que a origem fsica, e no mental, a psicoterapia pouco pode fazer por elas. Mesmo assim, algo pode ser feito para trazer-lhes alvio, embora no para cur-las por completo; consideremos ento esse assunto dos pontos de vista psicofsico e ocultista.

  • O corpo o veculo da mente. Se o veculo falho, a mente no pode expressar-se corretamente; suas reaes sero distorcidas. A cincia ortodoxa diz que o crebro o rgo da mente, mas a cincia esotrica diz que o crebro o rgo de percepo das impresses dos sentidos e de coordenao dos impulsos eferentes. a estao telefnica do sistema nervoso. apenas um dos pontos em que a mente toca o corpo, sendo os outros as glndulas do sistema endcrino, a pineal, a pituitria, a tireide, as supra-renais, o timo e as gnadas; podemos acrescentar-lhes ainda o Plexo Solar e o Plexo Sacro. O estudioso da fisiologia tntrica ter naturalmente observado que os Chakras coincidem em sua localizao com os rgos endcrinos. As glndulas endcrinas tm por tarefa manter a composio qumica do sangue, nele despejando suas secrees, chamadas hormnios, em certas propores equilibradas. Se a balana est de alguma maneira desregulada, seja por um excesso de secreo, seja pela falta de outra, profundas alteraes ocorrem no metabolismo. Todos os processos vitais so regulados pelas glndulas endcrinas, e elas podem ser apressadas ou retardadas em seus diferentes aspectos quando a balana das endcrinas se altera. Sabem os fisiologistas que essa balana endcrina est intimamente associada aos estados emocionais, e especialmente vivacidade ou apatia do temperamento. Os psiclogos no avaliam suficientemente a importncia dos recentes trabalhos sobre as glndulas endcrinas, mas os ocultistas conhecem tanto esse aspecto da psicofisiologia quanto os ensinamentos tradicionais. Os exerccios de respirao do sistema yoga baseiam-se nesse conhecimento, e so extremamente poderosos, como o so todas as prticas ocultistas que so trazidas corretamente para o plano fsico. De fato, podemos dizer que nenhum processo ocultista realmente potente, nem que fecha o seu circuito, se no tem pontos de contato com a matria densa; eis um ponto que muitos ocultistas no levam em considerao. O ocultismo, embora basicamente um processo mental, no simplesmente um processo mental. simultaneamente espiritual e material. Na grande maioria dos casos de insanidade, as alteraes cerebrais orgnicas no podem ser demonstradas, mas os alienistas esto cada vez mais propensos a acreditar que podem detectar a sfilis de Hcate no sangue. Sua composio qumica pode desviar-se do normal, seja devido a uma alterao no equilbrio hormonal ou aos subprodutos da enfermidade. Essa alterao na qumica do sangue imediatamente seguida por uma alterao no tom emocional Este pode tornar-se superemocional ou deprimido, aptico ou irritado. Os antigos descreviam admiravelmente esses estados como os quatro humores, o sanguneo, o bilioso, o linftico e o colrico.

  • Os fisilogos demonstraram abundantemente que os estados emocionais afetam a composio qumica do sangue. Estamos compreendendo gradualmente que essas alteraes so produzidas pela mediao das glndulas endcrinas, que podem ser chamadas de crebro emocional, assim como a matria cinzenta no crnio pode ser chamada de crebro sensorimotor. Segue-se, portanto, que se por alguma interferncia em seu funcionamento as glndulas produzem uma composio qumica correspondente quela que produzem quando um estado emocional particular d seu estmulo especial, o indivduo experimentar sensaes fsicas associadas ao seu estado emocional correspondente. Sua mente procurar ajustar-se a essas condies, explicando-as pela imaginao. Portanto, se houver um estado sanguneo caracterstico da condio de medo, imagens de medo se produziro na mente. com base nisso que as insanidades orgnicas produzem os seus estados mentais caractersticos. Seja uma causa mental ou uma causa fsica a responsvel pelo estado emocional, o resultado o mesmo para o paciente. As insanidades orgnicas distinguem-se das insanidades funcionais apenas por sua origem. Uma insanidade orgnica tende a desviar-se mais do normal do que uma desordem nervosa funcional, pois nesta ltima intervm um grau considervel de compensao, visto que o paciente pode em grande medida readquirir o domnio de si e manter-se longe dos extremos desastrosos. No esse o caso de uma insanidade orgnica, que caminha para o seu fim lgico. por essa razo que um neurtico, mesmo sofrendo seriamente, nunca tem um colapso total, a menos que esteja seguro das misrias da vida. O instinto de autoconservao o mantm sobre os ps. Tendo considerado as bases fsicas e subjetivas das perturbaes mentais, estamos agora em posio de avaliar exatamente o papel desempenhado pelo Invisvel. O que acontece quando um neurtico abraa o ocultismo? Podemos responder melhor a essa questo considerando o que acontece quando uma pessoa normal abraa o ocultismo. Ela aprende pela primeira vez que existem Mundos Invisveis e comea a pensar neles. Ao faz-lo, ela entra em contato com esses mundos. No incio, ela pode no ser capaz de perceb-los conscientemente; entretanto, ela sente subconscientemente e eles a afetam. Um observador prximo pode reconhecer esse processo por milhares de maneiras. Existem grandes foras que se movem como correntes no Invisvel, e somos lanadas nelas de acordo com a nossa afinidade temperamental. A personalidade violenta lanada nas Correntes de Marte; a emocional e sugestionvel, na esfera de Luna. E as influncias dessas esferas se exercem sobre as personalidades. O ocultista que trabalha por um sistema prprio, que sabe que haver de encontrar essas foras mais cedo ou mais tarde, entra voluntariamente em contato com cada uma delas e, por intermdio de rituais

  • apropriados, sintetiza-as em sua prpria natureza. Ele sabe que cada aspecto tem seu contrrio. A Virgem Maria reflete-se na Lilith. Os credos antigos conheciam essa lei, mas o cristianismo popular, que no tem nenhuma raiz na tradio, a esqueceu. Durante a Reforma, o cristianismo protestante deitou fora o aspecto ocultista. Todos os pantees pagos tm grosseiros aspectos de divindades, assim como aspectos etreos. Precisamos procurar no monte de refugos da histria as partes perdidas de nossa prpria tradio, se desejamos aperfeioar a nossa f, e a linha mais proveitosa de procura est na Cabala e na literatura gnstica. A literatura dos gnsticos foi grandemente destruda pela perseguio sistemtica, mas na Cabala ainda temos um sistema completo. Os judeus, por serem estritamente monotestas, no falam de deuses, mas reconhecem uma hierarquia de anjos e arcanjos que o equivalente dos pantees pagos. por intermdio desses mensageiros etreos que o Pai de Tudo formou os mundos. Consideremos mais uma vez a doutrina cabalista do Qlippoth, pois ela tem uma profunda influncia sobre o problema da insanidade. A doutrina dos Dez Sephiroth Sagrados, dispostos em seu padro correto para formar a rvore da Vida, pode ajudar-nos a conceber o Invisvel. A Primeira Sephira foi concentrada a partir do Imanifesto, o Ponto no Crculo. Ela emana a Segunda, que por sua vez emana a Terceira. Assim que uma emana a outra, ambas esto equilibradas; mas quando a emanao est em curso, h um perodo de desequilbrio de foras. Isso, de certo modo, ocorre espontaneamente no Cosmo e estabelece uma esfera por sua prpria conta, que no se relaciona com o sistema csmico. Conseqentemente, cada esfera do Cosmo tem a sua contraparte no Caos, em miniatura, verdade, mas potente e funcional. Cada esfera, no curso de sua evoluo, edifica uma Sobrealma, que chamada por diferentes nomes em diferentes sistemas. No sistema cabalstico, chamam-se Arcanjos, os Espritos diante do Trono. A esfera do Sol representada por Rafael; a esfera da Lua, - por Gabriel. Os Sephiroth Inversos, ou Qlippoth, se constroem da mesma maneira. Nas Moradas do Inferno, ambos so conhecidos como Briguentos e Obscenos, e esses nomes indicam suficientemente o seu carter. A esfera do Sol tambm o ponto de manifestao do Messias, ou Salvador, sobre a Terra. O Prncipe da Paz tem Seu oposto nos Briguentos. Todo aquele que teve a Viso beatifica sabe a reao que lhe segue, e como a sabedoria, o autocontrole e a pacincia so necessrios para lidar com as foras que so libertadas no apenas na alua, mas no meio ambiente. por essa razo que os perodos de purgao e disciplina precedem todas as revelaes. Devemos manter a viglia antes de podermos participar do banquete.

  • A conscincia, emanada da esfera da Terra, eleva-se diretamente para a esfera da Lua. Esta a esfera psquica, negativa, feminina e receptiva. Da ela passa para a esfera do Sol. Esta a esfera positiva, masculina, da conscincia superior, a viso do profeta que se distingue da do sensitivo. O caminho flanqueado em ambos os lados pelas esferas da Sabedoria Hermtica e da Beleza Elemental. Essas esferas, que dizem respeito aos graus da iniciao, no devem ocupar-nos aqui. Vamos nos ater s esferas da Lua, Luna, a Soberana do tique de Luna. Ora, Luna era representada pelos antigos sob diversas formas, como Diana, a casta caadora, smbolo da sublimao, e Hcate, patrona da feitiaria e dos partos. J assinalamos que os Qlippoth da esfera de Luna chamavam-se Obscenos. por essa razo que quando a alma instvel avana pelo Caminho de Saturno, que transpe o Astral e penetra a esfera de Luna, ela toca o seu aspecto de Hcate e v-se en rapport com os Demnios, cujo chefe Lilith, que propicia sonhos libidinosos. No surpreende, portanto, que Freud tenha descoberto que os sonhos do neurtico esto repletos de imagens sexuais em suas formas mais pervertidas e depravadas. Os Rabinos conheciam to bem a sua psicologia quanto Freud. Como j se observou, o neurtico amide um sensitivo, e o sensitivo amide um neurtico. O que podemos esperar que acontea alma que recebeu iniciao numa vida passada, que reteve subconscientemente o desenvolvimento psquico ento concedido, e que se v encarnada numa personalidade neurtica nesta vida? Ela estar sob o domnio tenebroso da Lua, e Lilith ser sua soberana. As foras do Abismo ingressam pelas portas inadequadas do temperamento neurtico. Os complexos dissociados do Microcosmo so reforados pelos complexos dissociados do Macrocosmo, pois isso o que so exatamente os Qlippoth. Os ocultistas e os seus admiradores ignorantes, os supersticiosos, sempre sustentaram que a insanidade est vinculada possesso demonaca. A medicina moderna objeta, e declara que as vrias manifestaes da mente enferma devem-se inteiramente a processos psicolgicos subjetivos. Na atualidade, essas duas escolas de pensamento so como dois campos armados, dispostos para a batalha e brandindo suas armas um contra o outro. Cada um deles est seguro demais de suas prprias razes para dar ouvidos outra. Acredito que um campo comum pode ser encontrado para o encontro desses dois pontos de vista opostos. A psicologia demonstra o mecanismo da mente e pode explicar o processo mental por cujo intermdio as idias do perturbado assumem suas formas definitivas. Ela pode mostrar a coneco entre essas idias e. os sonhos da mente normal. O que ela no pode explicar a diferena fundamental entre esses estados subjetivos e a conscincia desperta normal.

  • aqui que o ocultista pode dizer algo que seja digno de ateno ao psiclogo, pois ele pode mostrar como essas vises podem ser produzidas experimentalmente e voluntariamente por meio da magia cerimonial. E o que mais importante, o ocultista pode mostrar-lhe como essas vises podem ser dissolvidas e as faculdades psquicas encerradas e seladas por completo. Isso nos conduz parte prtica de nossas consideraes. At onde podem os mtodos da magia ritual ser aplicados cura do distrbio mental? Eles so, indubitavelmente, paliativos, e no produziro uma cura permanente, a no ser que a origem do estado mental perturbado seja descoberta e esclarecida. A no ser que isso se faa, assim que dispersarmos os fantasmas eles se formaro novamente, pois o estado mental do paciente os est invocando. Nestas circunstncias, nenhum crculo mgico pode conservar-se intato. Assim que rompemos a ligao com o Abismo, o paciente a refaz. Mas tais condies constituem um crculo vicioso. As foras qlippticas com as quais se estabeleceu contato desenvolver-se-o ativamente, e agarrar-se-o sua vtima quando se fizerem tentativas para desaloj-las. Nesta nossa poca racionalista, estamos propensos a esquecer que existe um mal organizado e inteligente. Se as causas fsicas dessa perturbao foram esclarecidas, o foco sptico extirpado, ou o tumor que pressionava a glndula endcrina removido, e a mente no volta ao normal, um exorcismo produzir amide resultados imediatos e evidentes. No caso do neurtico, cuja perturbao est inteiramente na esfera da mente, um exorcismo de enorme valor como medida preliminar para o tratamento psicoteraputico adequado, porque ele limpa o terreno e previne a reinfeco, dando ao paciente uma chance para comear de novo. possvel que os demnios qlippticos tenham obtido uma influncia hipntica to poderosa sobre a vtima, que esta fica sem foras para romp-la por qualquer esforo de vontade prpria, e o tipo ortodoxo de psicoterapia no consegue tocar a raiz da perturbao. O exorcismo pode ter que ser repetido duas ou trs vezes no curso do tratamento, pois as ligaes podem renovar-se depois de terem sido quebradas. Mas assim que os complexos do paciente forem esclarecidos, elas no mais retornaro. Em todo caso, um exorcismo produz evidente benefcio temporrio; durante a calmaria, o paciente tem uma chance para readquirir o domnio de si prprio e as influncias malignas esto abaladas. Um paciente corajoso, que coopera inteligentemente, raramente precisar ser exorcizado mais do que trs vezes, desde que as condies materiais sejam favorveis. Eu vi casos que foram esclarecidos por um simples exorcismo, e os pacientes permaneceram em bom estado enquanto obedeceram s instrues e evitaram o contato com o Invisvel, seja lendo livros sobre ocultismo ou associando-se a pessoas que se interessavam por tais assuntos; e eu tambm vi o Abismo

  • restabelecer a sua influncia quando o paciente desobedeceu s instrues e reanimou as vibraes antigas. Precisamos compreender que a conscincia humana no um vaso fechado, mas que, como o corpo, tem uma entrada e uma sada. As foras csmicas circulam por ela durante todo o tempo, como a gua do mar numa esponja viva. Qualquer estado emocional que pode penetrar-nos reforado do exterior. O eu subjetivo tem apenas o fsforo, o Cosmo fornece o combustvel. Assim que o fogo se acende, as foras csmicas do tipo adequado iro ati-lo. Assim como o catlico devoto inspirado pelas influncias de seu santo padroeiro, invocado pela orao, o neurtico aterrorizado por seu demnio obsessivo, invocado pelas locubraes mrbidas da subconscincia dissociada. O ocultista afirma