Aulas de escatologia. esquema
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ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
1
ESQUEMA DE AULAS
INTRODUÇÃO1
1. O que se entende por Escatologia?
2. Relação entre criação, história e escatologia
3. As perguntas fundamentais: quem sou e para onde vou?
O que se entende por escatologia?
Eschaton/a + logos: discurso racional sobre o eschaton ou eschata
Eschatos/a/on: origem incerta
Ex (sufixo) + katos = Egkaton (en + katon): intestino/ interior
Egkaton: o que está dentro
Eschaton: o que vai para fora; extremo, último, confim, limite, íntimo, afastado, limite
externo
Termo “Eschaton” aparece 54 vezes no NT
Sentidos: salvação definitiva de Cristo; últimos dias e condenação no último dia (Jo
12,48)
A palavra aparece em 1677 na obra Eschatologia Sacra do teólogo luterano A. Calon
referindo sobre morte, juízo, última realidade
1805: Bretschneider: novíssimos Senhor e juiz dos homens
Teólogo católico Oberthür Escatologia: coisas últimas do homem, humanidade e
mundo
O que estuda a Escatologia?
Objeto da Escatologia
A) Escatologia: discurso sobre as realidades últimas
Realidades últimas posteriores à vida terrena do homem ou da história da
humanidade ou intervenção de Deus no tempo; atual estado de coisas que cessam
realidade nova entre Deus e a criação
Esta visão corresponde aos novíssimos (tà eschata) o que acontece depois/ aquilo
que é absolutamente novo
Eclo 7,36 “em tudo o que fazes, lembra-te de teu fim e jamais pecarás” concepção:
realidade que se encontra no fim da vida do ser humano e do Cosmos. Realidade
última cronológica: concluem a existência humana.
B) Escatologia como discurso sobre o futuro (J.L. Peña)
Escatologia: reflexão crente sobre o futuro da promessa a partir da esperança
1Cf. NITROLA, A. Trattato di escatologia. Spunti per um pensare teológico. Cinisello Balsamo (Milano): Paulus, 2001, p. 19-28.
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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História aberta do homem a Deus no “já” na imitação de Cristo
Possibilidade definitiva de liberdade
Futuro: ligado à história da Salvação
C) Escatologia como discurso sobre o definitivo
Diz respeito aquilo que é último: não somente o extremo, mas também o inteiro
Fé e Teologia diz respeito do inteiro
Inteiro decisivo e incondicionado
Teologia reconhece-se limitada: discurso sobre o definitivo será sempre discurso
provisório
Discurso humano é falível/ o humano não pode abarcar o definitivo
D) Escatologia como perspectiva de toda a Teologia
Escatologia é ao fim a teologia mesma
É perspectiva de toda a teologia
Moltmann reduz a teologia a escatologia
Rahner: Teologia vista com outros tratados
Pergunta definitiva: Deus é o futuro que se manifesta na visão beatífica e vida eterna
Panemberg: centro é Deus mesmo e seu Reino. Não é só um capítulo da Dogmática
Escatologia não é somente um tratado perspectiva de ler ou reler a inteira teologia
Perspectiva: do cumprimento/ do definitivo. Da realidade última que é o evento Cristo
Relação entre criação, história e Escatologia
Criação – ex nihilo/ cria do nada
Deus como origem sem origem cria/ a ação de Deus produz vitalidade
Criação significa início da História/ temporalidade
Temporalidade – ligado à escatologia/ ao último, ao definitivo do ser humano
Nossa escatologia
Escatologia humana momento em que nos vemos como definitivos
É quando se unirá o alfa e o ômega da existência humana.
Para o CRENTE isso se dá em Deus
A HISTÓRIA HUMANA/ PESSOAL história de salvação
Ninguém se salvará fora da sua história
Perguntas
O que será/terá depois dessa existência?
Há algo depois da morte?
Para onde vamos?
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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Afrontar essas questões: inquietação, dúvida, medo, fé
Escatologia Escaton trata das coisas últimas/ aquilo que vem no fim
Escathon do indivíduo e do mundo
Escatologia da pessoa última coisa do ser humano = morte
Como compreender a morte depois da ressurreição de Jesus?
O que acontece depois da morte?
Escatologia do mundo qual o fim (finalidade) deste mundo? Desta história?
Qual é essa finalidade?
Realidade contemporânea morte = temida/ indiferença
Crença em Deus vida após a morte/ Ressurreição (questionamentos)
No passado os novíssimos juízo, purgatório, inferno, paraíso que linguagem usar
ao homem pós-moderno?
Há que se buscar a linguagem – manter-se fiel ao “Creio na Ressurreição”
Escatologia buscar responder a pergunta sobre o mistério humano
É quando o alfa e o ômega da existência humana se encontram
Momento em que o ser humano saberá realmente quem é
O SER HUMANO QUE SE CONFRONTA COM MORTE
„Eis que faço novas todas as coisas" (Ap 21.5). A esperança de que Deus irá fazer tudo novo e
de que a humanidade e o cosmos estão a caminho de „novos céus e nova terra‟ (cf. Ap 21 e
22) faz parte do centro da confissão da fé cristã. Essa esperança faz parte do agir estritamente
salvador do Deus Triuno em relação à sua criação que, embora caída, é por ele
incondicionalmente amada (cf. Jo 3.16) e mantida, com vistas à sua derradeira consumação e
redenção. Deus consumará cabalmente todas as suas obras. Na teologia cristã, este agir
estritamente redentor do Deus Triuno tem sido denominado de „escatologia‟”.2
2 SCHWAMBACH, C. Escatologia como categoria sistemático-teológica. Um ensaio em perspectiva. Vox Scripturae 14:2, p. 134
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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CAPÍTULO I
O SER HUMANO DIANTE DO ENIGMA DA MORTE. O CONFRONTO COM THANATOS3
1. A morte na sociedade ocidental
2. O que é a morte humana?
3. A morte do organismo e as funções cerebrais
4. A aceitabilidade da morte cerebral
5. O que há após a morte
A MORTE NA SOCIEDADE OCIDENTAL
Manualística antiga não tocava na dimensão existencial da morte
Tratava da separação da alma do corpo após a morte
1930: estudos da morte como evento drama existencial
Morte como aspecto interdisciplinar várias dimensões Social, psicológica, jurídica,
afetiva...
Questões suscitadas sentido da vida
estranha inimiga
face indiferente, amiga ENIGMA
Atualmente censura da realidade da morte
redescoberta do tema
MORTE COMO QUESTÃO DE SENTIDO DA VIDA
Pergunta sobre o sentido da vida humana
Dupla fratura SUBJETIVA = cisão entre intelecto e vontade
OBJETIVA = desaparecimento do corpo
incomunicabilidade com outro mundo
Perguntas fundamentais quem sou? Para onde vou? O que há após a morte?
BREVE RELATO DA SAGA DE GILGAMESH4
A mais remota história narrada pelo Homem é de origem suméria, um épico conhecido como A Epopéia de Gilgamesh. Esta narrativa está inserida no modelo literário mesopotâmico, uma antologia de lendas e poesias das quais não se pode precisar a procedência, o início e a realidade. Ela foi transmitida, ao longo do tempo, de geração para geração, através da práxis típica da literatura oral.
3 Cf CASTELLUCCI. La vita trasformata. Saggio di escatologia. Città di Castello: Cittadella Editrice, 2010, p.
101-177; BLANK, R.. Escatologia da Pessoa. Vida, morte e ressurreição. São Paulo: Paulus, 2000. 4 SANTANA, A.L. Gilgamesh. Disponível em: http://www.infoescola.com/mitologia/gilgamesh/. Acesso em: 18 agosto 2010.
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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Gilgamesh ou Gilgamexe foi um importante rei da Suméria, que reinou no período pós-diluviano. Sua história, segundo relatos lendários, lembra muito a de Hércules, conhecido personagem da mitologia grega, pois ele era considerado robusto e poderoso, o mais forte do Planeta. Estudiosos comparam sua saga com a de Noé, um dos protagonistas das Sagradas Escrituras. O elo entre os dois textos seria Ninrode, supostamente um dos descendentes do construtor da Arca Sagrada.
Quando se estuda o Gênesis, um dos principais livros da Bíblia, encontra-se logo na introdução deste texto similaridades entre os dois épicos, especialmente no trecho que descreve como é gerado o Homem. Na epopéia suméria os súditos, insatisfeitos com o orgulho e a lascívia do soberano Gilgamesh, clamam aos deuses pela gestação de um ser que fosse a cópia exata do rei, detentor de tanta autoridade quanto ele, para assim ser capaz de lutar contra ele e de resgatá-lo dos seus vícios.
Um dos deuses, Anu, atende aos pedidos do povo e transmite a Aruru, deusa que preside a criação, a ordem de que produza o ser conhecido como Enkidu. Ela elaborou sua obra-prima através do barro e da água, com sua natureza preenchida pela mesma substância que constitui Anu, o Senhor dos céus, assim como o Homem, segundo o Gênesis, foi criado à imagem e semelhança de Deus, também constituído do elemento terra.
Há ainda várias outras passagens semelhantes entre as duas obras mais antigas da Humanidade, como, por exemplo, a idéia de que tanto Enkidu quanto Adão foram situados pela Divindade no seio da Natureza, sobrevivendo através de sua coexistência pacífica com o meio, dispondo de todos os recursos apropriados para a vida humana. Além disso, nas duas epopéias o papel da sedução, do pecado e da luxúria cabe à mulher – uma prostituta em Gilgamesh, e Eva, a serpente ou o fruto proibido no Gênesis.
O herói sumério tem um objetivo fundamental em sua vida, a procura da imortalidade. O mito tem como principal função, portanto, narrar sua jornada em busca da eternidade, da qual se viu privado pelos deuses assim que nasceu. Ele passa toda a existência, assim, perseguindo sem sucesso esta meta inatingível.
Vários fragmentos desse épico são encontrados aqui e ali, em variantes narradas por outros povos, com certeza influenciados pelo texto original, o qual possivelmente se tornou grande sucesso de público na época em que surgiu. As primeiras versões encontradas provêm do Período Babilônico Antigo (2000-1600 a.C.), mas podem pertencer a um momento anterior. Afirma-se isto porque o protagonista desta narrativa foi historicamente o quinto rei da primeira dinastia de Uruk surgida na era pós-Dilúvio, a qual teria deixado suas marcas na cultura suméria no período protodinástico II (2750-2600 a.C.). Dizem alguns pesquisadores que esta ancestral epopéia pode ter influenciado inclusive clássicos gregos como a Odisséia e a Ilíada, ambos de Homero, escritos entre os séculos VIII e VII a.C.
SAGA DE GILGAMESH
Coloca a questão do fim da vida humana
Experiência de Gilgamesh morte anula a experiência feita
anula tudo o que o seres humanos realizam
Gilgamesh busca do segredo da imortalidade ir às vísceras da terra, até a Utamapishtim
(ancião)
Possibilidade PROVA não dormir
Segredo dos deuses dilúvio universal
Dilúvio deuses decretaram morte para todos os humanos
Prêmio de consolação planta espinhosa no fundo do mar // serpente que a rouba
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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Morte do amigo Enkidu coloca em crise o rei
Questões suscitadas sobre o enigma da morte
Dificuldade de compreendê-lo
Mistério reservado aos deuses
Realidade que está diante do ser humano
Coloca pergunta: que sentido há a vida humana?
MORTE COMO EXPERIÊNCIA DA INTEIRA EXISTÊNCIA
Prisma filosófico
Morte põe em questão sentido da vida a inteira existência humana
Epicuro a morte que acompanha a vida de todos do início ao fim
Cícero certeza da morte, é incerta, a não ser no próprio dia, mas nos acompanha a cada
momento
Morte experiência que qualifica todos os momentos da vida
HEIDEGGER SER E TEMPO
Significado da morte para a vida humana
Morte é incomunicável e imparticipável
Realidade que dada um assume pessoalmente “É essencialmente minha”
Nossa companheira de viagem
Angústia tensão entre certeza que vem e o quando chegará
Homem é ser-para-morte Sein zum Tode é essencialmente angústia
LAMDBERT MORTE NOSSA COMPANHEIRA DE VIAGEM
Nossa morte enquanto finitude
Experiência que fazemos perdas que temos (amigos, decisões) e se espera um
além
MORTE COMO EXPERIÊNCIA DA INTEIRA EXISTÊNCIA
Prisma teológico
Problema platônico alma e corpo. Novo Testamento (não)
Antropologia cristã princípio corpóreo visível e um espiritual invisível
CORPO TODO o homem nas suas relações cosmo-históricas
ALMA TODO o ser humano na tensão a Deus e à plenitude do ser
MORTE envolve não somente o corpo, MAS também a alma
A HISTÓRIA DA MORTE NO OCIDENTE5
5 Cf. ARIÉS, Ph. Historia Da Morte No Ocidente Da Idade Media Aos Nossos Dias. Rio de Janeiro: Ediouro, 2003; ARIÉS, Ph. O homem diante da morte. Vol. II. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1990.
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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A morte no mundo ocidental, segundo Philipe Ariès:
QUATRO ETAPAS:
1) A morte domesticada
2) A morte de si – a própria morte
3) A morte do outro
4) A morte proibida
1. A morte domesticada
A morte era inserida na vida cotidiana
Havia um sentimento que a morte era próxima
Adeus do moribundo aos que o rodeavam
Súplica de perdão por aquilo que se cometeu
Recepção dos sacramentos
Adoção de uma postura do moribundo face para o céu
Havia a convivência dos vivos com os moribundos
Morria sempre em público com os ritos familiares
Profissão de fé
Confissão dos pecados
Recomendação da alma a Deus
2. A morte de si – a própria morte
A partir do séc. XII
Significado de destino em relação ao indivíduo
Representações iconográficas do juízo final
Balança de Deus
Aparição de cadáver e da decomposição na arte e na literatura
Individualização das sepulturas
Anjos que tocam as trombetas JUSTOS e CONDENADOS
Entra o MEDO da morte medo do inferno = ETERNIDADE INFELIZ
Homem descobre a morte de si mesmo
Ocultamento de cadáveres e uso do testamento
3. A morte do outro
Séc. XVI a XVIII – associação erótica entre morte e vivente
Começa a aparecer a vida de morte do outro
4. A morte proibida
Séc. XIX sociedade burguesa começa a esconder o sofrimento
Fazer uma proteção da realidade horrenda da morte. Utiliza-se a mentira
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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Ocultamento da morte == PROIBIDO MORRER
Atualmente... A morte e o morrer
A atual evolução antropológico-cultural em relação à morte, verifica-se:
1) Tabu da morte
2) Privatização
3) Desritualização
4) Medicalização
5) Objetivação
6) Esquecimento da morte
1. Tabuização da morte
Aquilo que a um tempo era tabu sobre sexo, agora é sobre a morte
Evita-se o nome da morte, mascara-se
Sociedade que mata guerras, morte, dores, desilusões
Triunfo do corpo belo e jovem MASS MEDIA
Busca-se proteger o moribundo ou doente grave contra as próprias emoções
“Mente-se” por amor, para não ver o sofrimento
2. A Privação da morte
No passado a morte era socializada
As crianças não têm contato com a morte dos parentes
Hoje o agonizante, o moribundo é concebido como aquele que atrapalha
A pessoa sai da casa para o hospital
Marginalização e abandono do doente por parte dos familiares
A morte: evento particular
3. Desritualização da morte
Simplificação dos ritos fúnebres
Morre-se solitário na UTI e a morte passa a ser um evento profano
4. A medicalização da morte
Medicina = contribuição valiosíssima
Medicalização da morte no hospital desumaniza a morte
Perigo = “futilidade médica” (medical futility)
5. Objetivação da morte
A morte não é algo que envolve somente a subjetividade profunda de um indivíduo
Precisão
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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Indagada pela medicina intensiva, avaliada (morte cardíaca, morte cerebral)
Definida clínica, natural
6. Esquecimento da morte
Descarta-se a presença da morte
Morte hoje = fato individual, acidental e inesperado
Dificuldade atual de acompanhar os agonizantes e moribundos
A MORTE COMO REALIDADE AMARGA DA CONDIÇÃO HUMANA
Todas as culturas morte é realidade que afeta o ser humano
Inevitável presença e assumida na vida humana
Sabedoria bíblica o homem é como a erva
Sl 102, 15 os dias do homem como erva do campo
Sl 38,6-7 sopro/ sombra que passa
Sl 88, 48 brevidade da vida
PONTO CENTRAL A VIDA HUMANA É FRÁGIL, EXPOSTA À MORTE
Gregos morte é “moira” destino
MORTE PREMATURA FACE HOSTIL
Idade avançada “natural” AT é bênção
Morte prematura maldição
Problema na elaboração de luto desaparecidos e jovens com morte brutal/ doença
É sempre evento inesperado, mesmo se natural
MORTE REVELA A VAIDADE DAS PAIXÕES HUMANAS
Morte: iguala todos relativiza poderes
Vertente utilitarista e niilista gozar da vida
Própria morte com espera e destaco (desapego)
Relação apática com a morte racionalização. Para alguns destacar-se
A morte do outro desapego
MORTE COMO PASSAGEM A OUTRA CONDIÇÃO MELHOR
Morte como libertação desejada situação insuportável suicídio
Afeta não somente os que não crêem
Libertação sofrimento, miséria, humilhação, luto
Não é necessário acreditar na vida eterna
Sofrimento morte como saída para a dor
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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MORTE DESEJADA COMO PASSAGEM PARA ETERNIDADE
Platão alma fragmento divino preso no corpo
Sócrates filosofia é um exercício de morte busca liberar-se do corpo
Cícero velhice como alegria aproximação da morte como liberação
Desejo porque se crê na mortalidade da alma (Cícero. A
velhice, XIX, 66-67)
A morte prematura visão positiva
AT visão negativa, mas Sab 4, 8-14 significado positivo
A MORTE COMO SELO DO AMOR
Eros-Tanatos literatura/ filosofia
Virgílio (Bucólicas) lado trágico do amor = destruidor, feroz, cruel
Amor não é trágico trágico é a ausência do amor situação insuportável
Morte como selo do amor // prova suprema de fidelidade em relação à pessoa amada
Sinal mais alto do valor do amado
Shakespeare Otelo amor e morte
CENSURA E ACOLHIDA DA MORTE
Panorâmica condição social
Relação interior mente e espírito
Relação positiva e negativa
Amiga ou detestável
Insuficiente
Percepção social hodierna AMBIVALÊNCIA censura = marginalização e cinismo
Na colhida no confronto com a
morte
MORTE CENSURADA
Ocidente censura pensar sobre a morte não é estar em paz
Sinais de censura esconder a morte// não falar sobre o tema
Há eufemismos... espetáculos
Morte TABU/ sexo
Raniero Catalamessa morte foi banida da pregação cristã e da cultura secular laica
Morte contraste saúde física e mito da eterna juventude
Prazer
Tecnologia
Dificuldade de aceitar a condição mortal do ser humano
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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CONTRASTE Sociedade que tem medo da morte sociedade que mata = fome, guerra,
preconceitos
MORTE ACOLHIDA
Com ou sem fé criação de um espaço interior resignificação das coisas
A morte é um fenômeno humano
A grande interrogação do ser humano? Qual será a minha hora ou como irei morrer?
Lugar, hora, causa não sabemos Certo: MORREREMOS
EVOLUÇÃO DOS ESTÁGIOS DA MORTE
Cuidados paliativos
Cinco estágios de Kübler-Ross
REJEIÇÃO shock, isolamento “não é verdade, não é possível, não eu!”
Mecanismo de defesa
CÓLERA da incredulidade, da negação à raiva, à rebeldia
“Não é justo, por que eu?”
Doente se torna difícil. Relaciona-se brutamente
Difícil de tratar pelos médicos e parentes
Objeto da sua ira Deus ou outras pessoas (amigos, parentes...)
Mecanismo para não ser esquecido, deixado de lado
PACTO faz acordo com Deus para obter prorrogação
Ex: “deixa eu ver o meu neto nascer...”
DEPRESSÃO depressão radical
Abandono das pessoas caras, os bens, renuncia a tudo
Depressão prepara para a última fase.
ACEITAÇÃO doente não é deprimido, nem raivoso aceita o seu destino
Parentes/ amigos PRESENÇA consolação, conforto
O ACERTAMENTO DA MORTE6
O que é a morte?
Como acertá-la
Como compreender morte do corpo e morte da pessoa?
A morte
A morte é vista pelo ser humano como evento violento e dramático
É a expressão da intrínseca finitude do homem
6 Cf. FAGGIONI, M.P. La vita nelle nostre mani. Manuale di Bioetica teológica. 2ª ed.Torino. Camilliane, 2008, p. 209-217.
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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Causa medo:
Privação da vida terrena
Desliga-se do mundo das relações
Ideia de decomposição
Corrupção do corpo
Óptica materialista e reducionista
A morte é a dissolução da unidade corporal que coincide com o fim da pessoa
Morte humana
Não é a simples desagregação do organismo
Ser humano é realidade pluriestratificada e não pode ser reduzida a estruturas
somáticas
A degradação das estruturas somáticas não esgota a complexidade da morte humana
A morte física
A morte física é uma realidade
Papel da medicina dar uma definição de morte ou acertamento
Acertamento da morte
Ao longo da história os critérios evoluíram:
1) critério respiratório
2) critério cardio-circulatório
3) critério neurológico
Um sujeito pode ser declarado morto quando se pode demonstrar a perda irreversível de todas
as funções encefálicas.
Critério respiratório
Antigos: elemento essencial da vida física era a respiração
Morte era identificada com o cessar da respiração
Usava-se: espelho, vela
William Harvey
Sec. XVII – William Harvey faz estudos sobre a circulação e verifica-se a função
cardiorespiratória
Século XVIII introduziu-se junto ao critério respiratório a parada cardíaca
critério cardio-circulatório
Interrogação
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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Fins dos anos 50 novas técnicas de reanimação e de respiração artificial coloca
algumas questões:
Pacientes com danos irreversíveis sobre o encéfalo era possível manter a respiração e
os batimentos cardíacos
Coma Depassé e coma irreversível
1959 Molaret e Garlon descrevem a condição de sujeito de sujeitos privados de
funções cerebrais e mantidos por equipamentos
Condição entre vida e morte coma depassé
Em 1968 a Harvard Medical School identificava o coma irreversível como um estado
de morte
Características – Coma irreversível
Falta de recepção e de respostas ao ambiente e a estímulos dolorosos
Ausência de movimentos respiratórios espontâneos
Ausência de reflexos tronco-encefálicos e de encefalograma
Caso: brain death
1981: morte cerebral total (Whole brain death)
Portanto,
Para saber se um indivíduo é morto não é necessário a necrose
A morte biológica total – processo evolutivo
Comitê Nacional de Bioética italiana
“na prática, pode-se dizer que a morte vem quando o organismo cessa de ser um todo,
enquanto o processo de morrer termina quando todo o organismo atinge a completa necrose”
(1991, p.13)
A FUNÇÃO DO ENCÉFALO
O que é o encéfalo?
Conjunto dos diversos segmentos do sistema nervoso central (SNC) – ou seja, o cérebro
(porção do SNC)
Composição
Caixa crânica
Compreende telencéfalo (hemisférios cerebrais)
Diencefalo (talamo e hipotálamo)
Troncoencefalo ou tronco cerebral que se estende até a região occiptal, compreende
mesoencefalo, ponte e bulbo
Funções
Cérebro funções superiores = consciência
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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Tronco cerebral centro de controle de funções vegetativas essenciais (respiração,
pressão) e de reflexos (pupilar, da faringe) e estruturas para funções de manter o
cérebro mantendo-o em vigília
Morte clínica
Quando se pode demonstrar que encéfalo e tronco encefálico perderam totalmente
suas atividades o organismo cessa de existir passagem de vida à morte
Morte cardíaca
Implica morte do encéfalo falta de irrigação provoca profundas alterações nas
membranas nervosas
10-15 minutos necrose
Nos testes clínicos
O acertamento da morte
Não se prevê ausência de batimentos cardíacos. Pode-se declarar morto alguém com
batimentos cardíacos
Modernos aparelhos podem manter certas funções animadas
Oxigenar o sangue
Manter o coração batendo
Processo
Parada respiratória 5 minutos de batimento cardíaco
Parada cardíaca 1 minuto de respiração = parada respiratória
Quando há interrupção da circulação sanguínea. Alguns segundos inconsciência
45 segundos depois pupilas abertas e fixas (duração de 3-4 minutos)
Possível reanimação já com certas lesões cerebrais
4-6 minutos início de lesões cerebrais
20 minutos cérebro é morto
Fígado 1 hora após a parada cardíaca
Glóbulos vermelhos 6 a 8 horas
A agonia da morte
Resultado:
FORÇA VITAL + DEFINHAMENTO BIO-FÍSICO
De um lado = DESEJO DE CONTINUAR VIVENDO...
Do outro lado = CORPO QUE NÃO RESPONDE
Conclusão
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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1) O morrer se apresenta como um processo que passa por várias fases e já inicia com a
vida da pessoa
2) A morte clínica também é um processo
3) Cada órgão tem sua própria morte
4) Após três semanas se pode, geralmente, declarar morte total
Entre morte clínica e vital
Morte clínica morte vital
Intervalo (NDE)
Na morte finda uma experiência, a de que jamais podemos experimentar mais a
nossa vida aqui
Sobre a fé...
No processo de despedir-se da vida as experiências são ambíguas:
Fé ----------------- perda
Não crer --------- crer/ resignifica a vida
Fé profunda diminui a angústia e muitos casos no processo de aceitação da morte
O que alguns captaram...
Quando chega o inverno, sem que ninguém os instrua, os pássaros erguem-se espontaneamente aos céus em incrível aventura. Conduzidos por um misterioso legado de sua espécie, seguindo apenas os pulsos magnéticos da terra, eles voam, pelas trilhas do sol, milhares de quilômetros, noite e dia, à busca apenas de permanecer na vida. Assim há de ser também conosco, quando, no crepúsculo de todos os outonos, cair sobre nós o frio do inverno. Carregados, então, pelo fascinante destino de nossa espécie, nós voaremos, seguindo apenas os acenos da eternidade, rumo à morada da luz, o coração de Deus. E aí saberemos o que, agora, apenas intuímos e, ouvindo Jesus Cristo, o Caminho, a Verdade, a Vida, cremos: Não existem dois reinos, o reino dos mortos e o reino dos vivos, o reino da terra e o reino dos céus, mas apenas o Reino de Deus, que quis que fôssemos eternos.
Frei Prudente Nery
O que acontece com a pessoa humana na morte
Relatos de pessoas reanimadas foram agrupadas estágio conhecidos como Near Death
Experiences (NDE)
Cinco estágios de NDE
1) Experiência de flutuar em um espaço desconhecido
2) Impressão de estar fora do próprio corpo e observando o próprio corpo
3) Experiência de atravessar uma zona de escuridão (túnel)
4) Experiência de uma intensa luz, apesar disso agradável
5) Experiência de penetrar nesta luz que se revela amor total
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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Como interpretar esse fenômeno?
Duas tendências:
1) Dizer que há o encontro com Deus
2) Processo fisiológico causada pelas últimas descargas bioelétricas no cérebro humano
Tendência: dizer que é um processo fisiológico. Isso é sustentado pela possibilidade de fazer
certas experiências laboratoriais
Levar em consideração
Nesse processo é preciso levar ainda em consideração três aspectos:
Reanimação médico reanima
Revitalização a pessoa morta volta a vida e continua vivendo e depois morre. Ex:
relatos de processo de beatificação e caso de Lázaro
Ressurreição ação de Deus que transforma o ser humano de modo que ele nunca
mais morre
O QUE HÁ DEPOIS DA MORTE?
Três respostas
Nada ateísmo. Cada vez mais questionado pela ciência. A própria ciência afirma
ter algo depois
A física quântica afirma que após a morte há algo
Reencarnação
Depois da morte há a reencarnação
A pessoa morre e reencarna em outro corpo
Antecedentes na metepsicose metá: transformação/ mudança + em: em + psichè =
alma
Cristianismo
Ressurreição Deus ressuscitou Jesus, logo vai nos ressuscitar
Modelo tradicional de morte e ressurreição
O modelo tradicional
O corpo separa da alma
O corpo acaba e a alma não morre
O corpo desaparece, mas será ressuscitada no final dos tempos
A alma, na morte, já entra na eternidade para o julgamento
SUGESTÃO DE LEITURA: BLANK, R. Escatologia da Pessoa. Vida, morte e ressurreição. São
Paulo: Paulus, 2000, p. 07-41.
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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CAPÍTULO II
ELEMENTOS BÍBLICO-ANTROPOLÓGICOS E TEOLÓGICOS
1. Aspectos bíblicos de uma vida pós-morte
2. A doutrina dos Padres
3. Algumas chaves de leitura históricas
Depois da morte...
Há três tentativas de responder o que há depois da morte:
Nada – ateus
Reencarnação – espíritas, budistas...
Ressurreição – cristãos
Temporalidade morte
TEMPORALIDADE MORTE
VIDA
Nível
cronológico
MORTEESPAÇO / TEMPOETERNIDADE
Não há mais tempo
kairológico
Interrogação
Como compreender que há vida após a morte se, realmente defrontamos com um corpo
realmente morto?
A explicação dualista
A antropologia grega explica a realidade a partir da imortalidade da alma
SER HUMANO CORPO E ALMA
mortal imortal
MORTE diástase alma vai para a eternidade espera o final dos tempos
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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Modelo dualista
A essência do homem é a alma espiritual = realidade imortal
A filosofia grega conhece a imortalidade da alma mas não pode imaginar a
ressurreição
A absorção conceitual no cristianismo
O cristianismo absorve a visão grega devido ao processo de inculturação
Agostinho intensifica este modelo
Nesta concepção:
1) A alma separa-se do corpo e é imortal
2) Depois da morte – separada do corpo – é julgada por Deus
3) Goza – SE JUSTA – da presença de Deus até o fim do mundo
4) No fim do mundo será re-unida novamente ao corpo
5) Corpo será ressuscitado para gozar eternamente com a alma eternamente a comunhão
com Deus
Problemas derivantes
1) Como pensar essa espera para a futura ressurreição dos mortos?
2) Como a alma na eternidade pode esperar algo futuro, se não há tempo?
3) A alma pode realmente separar-se do corpo
4) Se a alma é feliz sozinha, por que precisa de uma ressurreição do corpo
5) A morte atinge apenas o corpo do ser humano. Ela não é total, porque só atinge uma
parte
6) A ressurreição atinge só o corpo. Conceito incompleto de ressurreição
7) O conceito de ressurreição é entendido como revivificação
O modelo hebraico
A antropologia bíblia concebe o ser humano como uma unidade indissolúvel
Para o homem bíblico: Deus cria a vida, mas uma obscura problemática domina o seu
fim
A morte não é algo extraordinário, é fim para todos
No AT
O AT vê no conjunto a morte como certo horror
A morte é descida ao Xeol lugar da sombra e de subvida ou vida imperfeita
Na concepção bíblica
Vida significa estar em relação com... sobretudo relação com Deus
A morte, ao contrário, é ausência de relação
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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Desse modo...
Antropologia grega
Homem é composto de duas substâncias
• Antropologia bíblica
Ser humano é unidade psicofísica indivisível
É unidade multidimensional
Verifica-se que...
O modelo escatológico tradicional não se baseia em uma antropologia bíblica
Trata-se muito mais de um modelo filosófico do que uma antropologia revelada
Mas...
Se a concepção bíblica é integral, a concepção de vida pós-morte não é unâmime
Israel antigo não havia crença de vida após a morte. Memória/ filhos/
descendência
Concepção tardia Dn 12, 2s; Sl 16, 9-11; 2Mc 7
Dn 12,2
Muitos dos que dormem na terra poeirenta, despertarão; uns para a vida eterna e outros para
vergonha para abominação eterna
O resgate do modelo bíblico
Para compreender a ressurreição é necessário uma antropologia integral
A antropologia bíblica não é dualista
O termo alma perspectiva integradora
O ser humano é totalidade nefesh + basar + ruah
Nefesh
Ser humano inteiro como ser vivente, consciente. Não se opõe ao corpo, mas está a ele
ligado. Ambos formam totalidade como expressão do ser humano todo
Basar
Ser humano vivo no seu aspecto biológico corpo/ carne, na existência terrestre
Possuidor de órgãos do sentido e contato com a terra
Gerado a partir de uma carne
É ser frágil, sujeito ao sofrimento à finitude
É também pessoa toda inteira em comunhão com os demais
Ruah
Ser humano vivo em relação com Deus
É homem-corpo-alma enquanto abertura para Deus e para valores absolutos e se
entende a partir deles.
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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O homem carne (em hebraico basar, em grego sarx): é o homem em sua existência terrestre
empírica, gerada em contacto com duas carnes que se fazem uma (Gn 2,240). homem-carne é
o homem biológico dos órgãos e dos sentidos que está em contacto com a terra. É um ser-
carência, sujeito aos sofrimentos e à morte, às tentações e ao pecado (Cf. Rom 7). Fala-se em
homem-carne quando o homem quiser se realizar só nessa dimensão terrestre, sem sair de si
para os outros e para o Grande Outro. É o homem fechado sobre si mesmo em seu orgulho e
autocontemplação. Uma existência carnal é para a Bíblia uma existência inautêntica. „Tudo
isso é carne‟ (Cf. Gal 5,18-21; 1Cor 1,26; 2Cor 10,5; Rom 8,6ss; 10,3)7
O homem-corpo (em hebraico basar, em grego soma): designa o homem todo inteiro
enquanto é pessoa-em-comunhão-com-outros (cf. Rm 12,1; 1Cor 7,4;9,27;13,1; Flp 1,20).
Em muitas passagens „corpo‟ pode ser traduzido simplesmente por „eu‟ (1Cor 13,3; 9,27; Flp
1,30; Rom 12,1)(...). Pertence à pessoa o ser para outra pessoa; por isso homem-corpo
designa o homem em seu relacionamento social e político. Porque significa a pessoa humana
em sua totalidade não se pode pensar em sobrevivência do homem se incluir o corpo. Não há
igualmente ressurreição sem corpo8.
O homem alma (em hebraico nefesh, em grego psiqué): aqui não se pensa em alma enquanto
se distingue do corpo. Mas no homem todo inteiro como ser vivente. Alma para a Escritura é
sinônimo de vida. Por isso o texto de Mc 8,36 deve ser entendido assim: „que aproveita ao
homem ganhar o mundo se vier a perder sua vida (alma)? Pois que dará o homem em troca
de sua vida (alma)?‟ O homem não tem vida. É vida. Por isso após a diluição da vida (alma)
biológica, permanece ainda o homem-vida, embora sob outra forma. Homem-alma pode
significar ainda a pessoa em sua vida consciente como eu. (...) daí que homem-alma e
homem-corpo são equivalentes. Corpo e alma não se opõem mas exprimem o homem
inteiro9.
O homem-espírito (em hebraico ruah, em grego pneuma): designa o homem-corpo-alma
enquanto sua existência se abre para Deus, para valores absolutos e se entende a partir deles.
Como o espírito o homem extrapola os limites de sua existência com carne-corpo-alma para
se comunicar com a esfera divina. Para o Novo Testamento viver no espírito é viver uma
existência humana nova no horizonte das possibilidades reveladas pela Ressurreição de
Jesus, o Senhor. Pela Ressurreição o Senhor é o Espírito (2Cor 3,17; Cf. At 2,32s), isto é,
Jesus Ressuscitado vive uma existência humana (por isso totalmente corporal) totalmente
determinada e repleta de Deus e em total comunhão com a realidade. Daí que Paulo chama o
ressuscitado de homem-corpo espiritual (1Cor 15,44). Pela Ressurreição o homem carne
(indigente e inautêntico) é transfigurado em homem-corpo espiritual. Por ela o homem-corpo
é totalmente atualizado em suas possibilidades de comunicação não só para com os outros
mas com toda a realidade10
.
Na antropologia Paulina
Paulo não recorre ao modelo grego. Ele compreende que o ser humano é inteiro
Para explicar a ressurreição ele recorre à metáfora da semente (1Cor 15,35s)
7BOFF, L. A ressurreição de Cristo. A nossa ressurreição na morte. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 87. 8BOFF, L. A ressurreição de Cristo. A nossa ressurreição na morte. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 87. 9BOFF, L. A ressurreição de Cristo. A nossa ressurreição na morte. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 87s.
10 BOFF, L. A ressurreição de Cristo. A nossa ressurreição na morte Petrópolis: Vozes, 1972, p. 88.
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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A morte da semente não significa que ela exista, mas ela foi transformada
A ressurreição é passagem de uma maneira de ser para outra
NA ANTROPOLOGIA PAULINA
PNEUMA TRANSCENDÊNCIA/
ABERTURA PARA DEUS
SARX = BIOLÓGICO HUMANO INTEIRO
SOMA SOCIAL/ RELAÇÕES
PSICHÉ PERSONALIDADE
Assim...
Paulo concebe o ser humano numa totalidade
O ser humano é uma única substância, um todo, um ser complexo
Na ressurreição Deus transforma e a pessoa muda, mas a identidade, o ser da pessoa
permanecem
DESSE MODO...
O ser humano é uma unidade global com várias dimensões
Na antropologia contemporânea, o dualismo antropológico é irreversivelmente
superado
Algumas conclusões
Todos os conhecimentos antropológicos e psicológicos a alma nunca pode se
separar do corpo para existir sozinha
Numa eternidade sem tempo, não pode passar tempo entre a morte da pessoa e sua
ressurreição
A ressurreição acontece na morte
Dificuldades
A ressurreição sempre foi explicada que os túmulos abririam e os corpos sairiam
Gerou-se grande confusão entre ressurreição e revitalização
A Biologia demonstrou que isso é impossível (revitalização)
Ressurreição dinâmica da fé
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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Na experiência da morte11
Ser humano ser total, indivísível não possui princípio opostos = corpo e alma
Ser humano é complexo, muldimensioanal
É encarnado na história
Todos os acontecimentos dizem respeito ao ser humano como um todo
Tradicionalmente
Alma
Esfera espiritual
Pré-existente ao corpo
Possui origem divina
Portanto é eterna
Corpo
Realidade material
É imanente
Não possui valor
É fugaz
É mortal
A teologia sobre a morte de Karl Rahner
KARL RAHNER E SUA CRÍTICA DA MORTE COMO SEPARAÇÃO DE ALMA E CORPO12
TESE PANCOSMICIDADE DA ALMA
NA MORTE:
A alma não assume uma situação a-cósmica
MAS na relação com a matéria se alarga,
Ao ponto que não é mais limitada ao corpo,
MAS se abre ao mundo inteiro em uma relação cósmica universal
Portanto, atinge uma comunhão com o centro do universo
Comunhão que na vida humana é preclusa, limitada por causa de um específico corpo
A morte não se refere só ao corpo, também a alma. É a experiência do homem todo.
Alma envolvida entra na relação diferente com o cosmo
MORTE homem-alma não perde a sua corporeidade. Ela é essencial
Adquire um outro tipo de corporeidade mais perfeito/ mais universal
Há um nó de relações com a totalidade do universo
BOROS: MORTE COMO SELO DA VIDA
Decisão, opção ou iluminação final
Morte possibilita ao homem do seu primeiro ato plenamente pessoal
11 Cf. BLANK, R. Escatologia da Pessoa. Vida, morte e ressurreição. São Paulo: Paulus, 2000, p. 101-128. 12 Cf. RAHNER, K. Sulla teologia della morte. Com uma digressione sul martírio. Brescia: Morcelliana, 1972; CASTELLUCCI. La vita trasformata. Saggio di escatologia. Città di Castello: Cittadella Editrice, 2010, p. 110-
118.
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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Lugar de tomada plena de consciência,
Da liberdade, do encontro com Deus
Decisão sobre o destino eterno13
Morte é realização da vontade e do conhecer
Para Boros o primeiro ato de conhecimento total se vem com a morte
Abertura da alma ao cosmos na morte última decisão que o homem toma de frente ao
Senhor do Cosmos
A alma humana decide de frente a Deus
Decisão final salvação, limbo, purgatório, ressurreição
Crítica decisão final? Conjunto de decisões durante a vida? O que o homem fez?
MORTE COMO SELO QUE TORNA DEFINITIVA A ESCOLHA DA VIDA
Morte sela a vida
Idéia da piedade popular “fazer tudo” e no último momento arrepender-se
Ressurreição final é toda a história humana que vem definida da morte e entregue nas
mãos de Deus, não só o último instante
A FACE ESTRANHA DE MEDUSA
Medusa criatura bela monstro horrível que no mundo antigo simboliza o aspecto mais
terrível da morte
Hostilidade está na concepção de que o ser humano foi feito para a vida e não para a morte
O que se observa?
Há uma mudança de concepção teológica
Na experiência humana da morte, é levada em consideração a pessoa como totalidade,
com toda a sua experiência de vida
Confronto consigo e com Deus
Gaudium et spes
O homem, ser uno, composto de corpo e alma, sintetiza em si mesmo, pela sua natureza
corporal, os elementos do mundo material, os quais, por meio dele, atingem a sua máxima
elevação e louvam livremente o Criador (5). Não pode, portanto, desprezar a vida corporal;
deve, pelo contrário, considerar o seu corpo como bom e digno de respeito, pois foi criado por
Deus e há-de ressuscitar no último dia. (GS 14)
O que ocorre com o ser humano na morte?
Com a superação do dualismo:
A alma não se separa do corpo
A ressurreição é da pessoa inteira e ocorre no momento da morte
13 Cf. BOROS, L. Mysterium mortis. L’uomo nella decisione ultima. Brescia: Queriniana, 1979, p. 30.
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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Tudo é simultaneidade não há mais tempo
Como há vida se há cadáver
A questão que se coloca é: como falar de uma vida após a morte se há diante dos nossos olhos
um cadáver, frio, que depois de algumas horas começa a se decompor?
FIM DOS
TEMPOS
MORTE
PESSOA
HUMANA
Vida
vivida
“É aceitável a ideia de que a única e
total plenificação do homem em corpo e
alma se realize diretamente na morte...“
cf.:K.Rahner:,Ueber den
Zwischenzustand,em:Schriften zur Theologie
XII,(1975),p.455-469
O NOVO MODELO DE UMA
“RESSURREIÇÃO NA MORTE”
Abertura por dentro de novasdimensões,chamadas deETERNIDADE
RESSUR
REIÇÃO
DA
PESSOA
TODA
No fundo, não éconcepção novana tradiçãocristã.
14
Portanto,
A ressurreição acontece na morte
A alma não se separa a pessoa é única
Ao morrer outra dimensão de tempo
O tempo cessa de existir como dimensão existencial da pessoa
Morte é o fim dos tempos para a pessoa
Final dos tempos = eternidade
O ser humano é totalidade e não só um corpo físico
A pessoa é transformada
Na morte Deus transforma a pessoa por inteira
Pessoa mantém a sua identidade, o seu ser
É o momento em que o ser humano sabe quem realmente é
Momento em que o alfa e o ômega da existência humana se encontra
A experiência de totalidade
A vida, a morte e a ressurreição são experiências humanas de totalidade
Vive-se como ser global
Morre como ser global
Ressuscita-se como ser global
O ser humano é inteiramente transformado
14 Cf. BLANK, R. Escatologia da Pessoa. Vida, morte e ressurreição. São Paulo: Paulus, 2000, p. 108.
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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Morte como transformação do ser
A transformação que se dá na morte é a ressurreição
Questão crucial
Salto da FENOMENOLOGIA para a FÉ
(Exterior) (Interior)
Portanto,
Fenomenologia
Morte cadáver, sepultamento,
decomposição
Identificável pela medicina
Cultural/social...
Fé
Vai além do humano
Aborda questões de sentido
Teologia
O que diz as ciências?
Segundo as leis da termodinâmica a energia não é destruída, mas transformada
Energia é um continuum no universo
Argumento frágil
A dimensão de fé
Como nos faltam provas científicas
Os evangelhos respondem a partir de parábolas
Não sabemos nada dos que morreram e se foram
Resta-nos o ARGUMENTO DA FÉ
A nossa convicção
A partir de que pressupostos podemos intuir uma resposta de uma vida após morte a partir de
nossa fé?
Algumas evidências
Na história da salvação Deus se revelou como o Deus da vida
O Deus manifestado em Jesus por Jesus sempre gritou contra a morte
Deus se revela na morte de Jesus, libertador da realidade da morte
Em linguagem paulina: esse Deus que ressuscitou Jesus também nos ressuscitará
(1Cor 6,14, Rm 8,11)
Se Deus nos ressuscita, ele nos transformará em todas as nossas dimensões
A transformação será realizada pela graça de Deus
ESCATOLOGIA: A REFLEXÃO CRISTÃ ACERCA DO DESTINO HUMANO
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Totalidade natureza e graça15
Natureza ser como criatura de Deus, imanente, com potencialidades, aberto ao
trasncendente
Graça situação do ser humano inserido no amor e Deus
Encontra a sua resposta de comunhão com Deus
Em total liberdade e gratuidade
Assim,
«A Escatologia não é isolada da vida e projetada em um futuro distante. Mas é um evento de
cada instante da vida mortal: a morte acontece continuamente e cada instante pode ser o
último».16
SUGESTÃO DE LEITURA:
BOFF, L. A ressurreição de Cristo. A nossa ressurreição na morte. Petrópolis: Vozes, 1972,
p. 65-109.
BLANK, R. Escatologia da Pessoa. Vida, morte e ressurreição. São Paulo: Paulus, 2000, p.
73-164.
15
Cf. BOFF, L. A ressurreição de Cristo. A nossa ressurreição na morte. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 90. 16 BOFF, L. A ressurreição de Cristo. A nossa ressurreição na morte. Petrópolis: Vozes, 1972, p. 93.