Aula Quilombos no Brasil - Prof. Elsa Avancini
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Quilombos no BrasilProfª. Drª. Elsa Gonçalves Avancini
Professora de História
do Brasil e História da África
Origens dos quilombos Os quilombos surgiram como forma de resistência à escravidão por toda parte onde
havia escravos. No Brasil os primeiros quilombos surgirão desde o inicio do período
colonial,quando o país era colônia de Portugal, e o trabalho escravo africano foi usado como mão de obra compulsória nas lavouras de cana, na
extração da borracha e do ouro, na produção do açúcar, fumo, algodão e charque conforme a
região do Brasil.
Modesto Broccos. O Engenho de Mandioca,1892
Ilha de São Tomé,1545, primeiros levantes de escravos.
Mocambos As colinas da ilha viraram refúgio dos rebeldes que se escondiam nas matas da ilha,
onde faziam seus mocambos. Por isso essa palavra,
já em documentos portugueses de 1554, passou a significar
ajuntamento de escravos fugidos (Alencastro,2000:66)
Mukambo e quilombo A palavra mukambo na linguagem quimbundo
significa cumeeira ou a forquilha de encaixe do teto da casa que caracterizava a moradia fixa das famílias ou da comunidade passou também a designar o refúgio dos rebeldes de.São Tomé
No Brasil o termo torna-se sinônimo de povoado de negros inssurretos, e mais tarde foi substituído por quilombo
Mocambos
nome original do acampamento militar dos guerreiros Jagas dos reinos de Matamba e Caçanje
Reinos de Matamba e Caçanje
.
Origem da palavra De acordo com MUNANGA, Quilombo é uma palavra originária dos povos de língua bantu. Esses povos provenientes principalmente de Angola e do
Congo foram trazidos para cá e escravizados. Eram os Lundas, Ovibundu, Mbundu, Kongo, Imgbala entre outros. Na África esses povos viviam
em comunidades e tinham uma organização coletivista, sendo governados por chefes de
linhagens ( famílias) e por um rei que em geral era um grande guerreiro.
Contudo periodicamente havia lutas para ver quem era o mais forte e por isso começaram também a se formar
comunidades de guerreiros compostos por um grande líder
militar e guerreiros provenientes de vários povos da mesma região.
.
Entre eles destacaram-se o guerreiros jagas ou imbangalas de Angola e os lundas do Congo (Sec.
XVII) muito temidos por todos. Estes mais tarde se tornaram auxiliares dos portugueses na
captura de escravos
Guerreiros Jagas,1660Aquarela. Ilustração
do manuscrito de Cavvazzi,
Módena, Coleção Carlos Araldi
( Alencastro. L. F.
O Trato dos Viventes, 2000)
Contudo a técnica militar dos jagas passou também para a organização do quilombo que se tornou também
um acampamento fortificado de escravos fugidos, característica
também encontrada no quilombo brasileiro
Quilombos no BrasilOs estudo dos quilombos no Brasil desde a décadade 80
vêm sofrendo várias alterações conceituais relativas as inúmeras situações históricas constatadas nas
pesquisas etnográficas de antropólogos e historiadores engajados na temática e na pesquisa de
campo emprenndida em vários estados do Brasil com apoio de Universidades e de orgãos
governamentais encarregados da demarcação das áreas habitadas por populações tradicionais
descedentes de escravos.
Deslocamentos concetuais Atualmente os autores se referem a
deslocamentos conceituais que buscam a ruptura com os fundamentos biológicos, raciais e linguisticos que norteiam a definiçao de quilombo desde o período colonial, e introduzem outras clivagens teóricas onde sobressaí o processo de identidade cultural dos grupos envolvidos ( Almeida, 2002:78)
Quilombo é um conceito que recebe outros sentidos diferentes do aspecto exclusivamente inssurrecional apontado pelas autoridades portuguesas.
As atuais definições apontam para inúmras situações onde os agrupamentos quilombolas nem sempre se constituíram de negros fugidos( Almeida, 2002:61)
“houve escravo que não fugiu, que permaneceu autonomo dentro da esfera da
grande propriedade e com atribuiçòes diversas; houve aquele que sonhou fugir e nào
conseguiu fazê-lo; há aquele que fugiu e foi recapturadso; e houve esse que nào pode fugir
porque ajudou os outroa a fugirem e o seu papel era ficar”(Almeida, 2002:62)
Além disso há muitas situações de comunidades negras formadas por famílias de
escravos alforriados que compraram suas terras ou que as receberam por herança dos seus senhores. O Quilombo Chico Rei em MG cujas terras foram compradas com o
ouro de uma velha mina, permitiu a compra da alforria dos demais. Nessas terras
mantiveram um território negro e produção autônoma.
O Buraco do Tatu, 1743-1763... – planta mostra a organização do quilombo. Ver REIS,J.J. in Liberdade por um Fio, 591-505
Segundo alguns autores quilombo significa organização fraterna,
solidária e coletiva dos quilombolas numa perspectiva de igualitarismo
econômico e social
(Nascimento,1980, Santos 1985)
Quilombo do Jabaquara
Terras de preto São terras doadas,entregues ou
adquiridas por comunidades negras após a abolição e desagregação do latifundio ,
ou extensões que permaneceram em isolamento relativo, mantendo regras de direito consuetudinário com apropriação
comum dos recursos.
Definições de quilombo
O Conselho Ultramarino portugues em 1740 definiu Quilombo como
“habitação de negros fugidos que passem de cinco em partes
despovoadas, ainda que nào tenham ranchos levantados e nem se achem
pilões nele”
Elementos definidores 1) a fuga – quilombo sempre estaria vinculado a
escravos fugidos 2) número mínimo de fugidos: cinco e mais tarde
até dois em outras definições 3) Localização sempre marcada pelo isolamento
geográfico, for a do circuito da produção e do domínio das plantations
4)Ranchos- lugar de moradia consolidado ou não 5) pilão – instrumento destinado a transformação
do arroz colhido em alimento
Leitura crítica A presença do pilão e outras benfeitorias do
quilombo indicavam que este tinha uma organizaçao destinada a garantir a reproduçào de sua vida material, seja através do consumo do necessário a sua sobrevivencia, seja através de transações comerciais que realizavam com as fazendas e povoados vizinhos onde colocavam sua produção agricola e extrativa
Este dado põe por terra o argumento do isolamento dos quilombos e da vadiagem
dos quilombolas, que, ao contrário, mantinham suas roças de milho, feijão,
arroz, realizavam colheitas, desenvolviam atividades criatórias, e atividades extrativas na mata ou nas minas
Essas benfeitorias das áreas quilombolas eram tào importantes que o governo imperial recomendava que as tropas de linha não as destruíssem, pois as moradias,, poços, roças e pilões seriam utilizados pelos novos colonos que o governo enviaria para esses lugares após a derrota e expulsão dos quilombolas.
Segundo Almeida o declínio da produçao algodoeira no norte e nordeste desde o sec XVII acarretou perda do poder de coersão dos grandes senhores e a intensificação do uso da pequena produção agrícola realizada pelos proprios escravos, caracterizando a presença de um campesinato negro bem antes da aboliçao ( 2002:52) e nem tão distante da casa grande ( 2002:54)
100 anos após a aboçição
Art.68 da Constituição de 1988 – Aos remanescentes de quilombo que
estejam ocupando suas terras é reconhecida sua propriedade
definitiva.
Ressignicações do Termo
Recentemente o termo quilombo tem assumido novos significados. Não se refere apenas a resíduos ou
resquícios arqueológicos de ocupação temporal ou ocupação biológica, nem à ocupações relativas à
áreas inssurecionais, mas a grupos que desenvolvem práticas cotidianas
de resistência na manutensão e reprodução dos seus modos de vida característicos e na
consolidação de um território próprio de uso comum, baseado em laços de parentesco e
soliedariedade.
Ressemantização do conceito Definições do GT Comunidades Negras
Rurais ( ABA) 1994: Classifica como quilombos comunidades: Constituídas de segmentos negros Grupos étnicos com critérios próprios de
pertencimento; Coletividades que conformaram diferentes
modos de vida e de territorialidade baseadas no uso comum da terra.
Comunidades quilombolas cadastradas
Registros de 2.228 comunidades quilombolas espalhadas por todas as regiões do país. As informações foram organizadas em um mapa UNB/2005
De acordo com Sanzio, a diferença de 1.388 registros entre o primeiro cadastro, em 2000, e o segundo, em 2005, pode ser explicada por políticas afirmativas e outras ações da sociedade pelo fortalecimento da identidade negra.
“Tivemos um movimento mais organizado dessa população e também começamos a verificar o resultado das
transformações na educação sobre os afro-brasileiros”(Projeto Geografia Afro-brasileira e Educação desenvolvido por professores e
estudantes de graduação e pós-graduação ligados ao Ciga/UNB).
N° de comunidades quilombolas por estado Maranhão 642 Bahia 396 Pará 294 Minas Gerais 135 Pernambuco91 Rio Grande do Sul 90
Piauí 78 São Paulo 70 Rio Grande do Norte
64 Mato Grosso 59 Ceará 54
Abordagens historiograficas A concepçao oficial A tese do isolacionismo A tese da não reação A tese da invisibilizaçao do sujeito Os estudos Pós abolição Pesquisas sobre o tráfico Pesquisas sobre família escrava
Na Constituição de 1988, 100 anos depois o quilombo já surge como sobrevivencia, como
“remanescente” (…) acentua-se o que já foi. Julgo que (…) se deveria trabalhar com o conceito de quilombo considerando o que
ele é no presente. (…) tem que haver um deslocamento. Não é discutir o que já foi e
sim discutir o que é, e como essa autonomia foi sendo construída
historicamente ”. ( 2002:53)
O processo de identificaçao quilombola: o critério da auto-atribuição
“Os procedimentos de classificação que interessam são aqueles construídos pelos
proprios sujeitos a partir dos proprios conflitos e não necessariamente aqueles a que são produto de classificações externas muitas
vezes estigmatizantes” (Almeida,2002:68)
Bibliografia ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de.. Os quilombos e as novas etnias. In: Quilombos identidade
étnica e territorialidade. Eliane Cantarino O'Dwyer (Org.). Rio de Janeiro: Editora FGV/ABA, 2002. p,p.43-81ARRUTI, J.M. A Emergencia dos “Remanescentes”. Notas para o diálogo entre indígenas e quilombolas. MANA,#(2):7-38,1997www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-93131997000200001...sci
GOMES, Flávio dos santos. “Amostras Humanas”: índios, negros e relações interétnicas no Brasil colonial, RJ, Civilização brasileira, 2001.
LEITE, Ilka Boaventura. Os quilombos no Brasil: questões conceituais e normativas. Etnográfica, Vol. IV (2), 2000, pp. 333-354
MUNANGA, Kabenguele. Rediscutindo A Mestiçagem No Brasil: Identidade Nacional Versus Identidade Negra. São Paulo, Autêntica, 2004
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