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24 PROFISSÃO MESTRE ®  julho 2011 Série SÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV Fabio Venturini D oug Lemov abre o capítulo 4 do li-  vro  Aula Not a 10 – 49 Técni cas pa- ra Ser um Professor Campeão de  Audi ênci a afirmando que é possível moti-  var os al unos “tr ocan do firul as po r con - teúdo”. Sem desdenhar de recursos ar- tísticos ou até performáticos, os quais recomenda na técnica “Plumas e Paetês” , o autor mostra exemplos de organização dos questionamentos, para que os alunos se engajem no processo de aprendizado e melhorem seu rendimento.  Algumas das s ug es tõe s s ão apa ren te- mente simples e corriqueiras. No Colégio  Alber t Sabin, “Pl umas e Pa etê s” e “To do Mundo Escreve” já fazem parte do dia a dia da escola. “Toda escola usa ativida- des lúdicas para dar movimento e brilho à sala de aula. Muitos de nossos profes- sores também pedem que o aluno escre-  va a respo sta antes de falar, como uma espécie de degrau da reflexão”, explica a profes sora Giselle Magnossão , di retora da instituição. Como Lemov enfatiza o engajamen- to do aluno no sentido de motivação, as técnicas do capítulo 4 podem ser cen- trais nessa proposta. A diretora, contu- do, faz algumas ressalvas nessa abor- dagem. “Esse comportamento deve ser obtido com o aprimoramento da manei- ra como o aluno opera em sala de aula. O engajamento pode ser abordado como  vincula ção e parti cip açã o e tamb ém co- mo desenvolvimento profundo daquilo que está sendo t rabalhado. Nesse sentido, usamos ‘Tome Posição’ , ‘P roporção’ [am- bas do capítulo 3] e ‘Plumas e Paetês’”, conta Giselle. Para a educadora, no geral, o livro é estruturado em eixos interessantes, co- mo a ênfase na sala de aula, a criação de altas expectativas e o letramento co- mo núcleo do trabalho escolar, mas a lgu- mas das técnicas têm potencial para criar H  u m  b  e r t   o F r  a c  o MO TIVAÇÃO PARA MELHOR AR O DESEMPENHO T écnicas do quarto capítulo da obra de D oug Lemov apresentam sugestões de como usar o conteúdo de forma estimulante, para participação dos alunos em debates e respostas a indagações coletivas Para a professora Giselle Magnossão, deve haver cuidado no uso das técnicas para não gerar um clima desconfortável em sala 24 PROFISSÃO MESTRE ®  julho 2011

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motivação na sala de aula

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SérieSÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV Fabio Venturini

Doug Lemov abre o capítulo 4 do li-

 vro  Aula Nota 10 – 49 Técnicas pa-

ra Ser um Professor Campeão de

 Audiência afirmando que é possível moti- var os alunos “trocando firulas por con-teúdo”. Sem desdenhar de recursos ar-tísticos ou até performáticos, os quaisrecomenda na técnica “Plumas e Paetês”,o autor mostra exemplos de organizaçãodos questionamentos, para que os alunosse engajem no processo de aprendizado e

melhorem seu rendimento. Algumas das sugestões são aparente-

mente simples e corriqueiras. No Colégio Albert Sabin, “Plumas e Paetês” e “TodoMundo Escreve” já fazem parte do dia adia da escola. “Toda escola usa ativida-des lúdicas para dar movimento e brilhoà sala de aula. Muitos de nossos profes-sores também pedem que o aluno escre-

 va a resposta antes de falar, como uma

espécie de degrau da reflexão”, explica aprofessora Giselle Magnossão, diretora dainstituição.

Como Lemov enfatiza o engajamen-to do aluno no sentido de motivação, astécnicas do capítulo 4 podem ser cen-trais nessa proposta. A diretora, contu-do, faz algumas ressalvas nessa abor-dagem. “Esse comportamento deve serobtido com o aprimoramento da manei-ra como o aluno opera em sala de aula.

O engajamento pode ser abordado como vinculação e participação e também co-mo desenvolvimento profundo daquiloque está sendo trabalhado. Nesse sentido,usamos ‘Tome Posição’, ‘Proporção’ [am-bas do capítulo 3] e ‘Plumas e Paetês’”,conta Giselle.

Para a educadora, no geral, o livro éestruturado em eixos interessantes, co-mo a ênfase na sala de aula, a criação

de altas expectativas e o letramento co-mo núcleo do trabalho escolar, mas algu-mas das técnicas têm potencial para criar

H  um b  er t   oF r  anc  o

MOTIVAÇÃO PARA MELHORARO DESEMPENHOTécnicas do quarto capítulo da obra de Doug Lemov apresentam sugestões decomo usar o conteúdo de forma estimulante, para participação dos alunos emdebates e respostas a indagações coletivas

Para a professora Giselle Magnossão, devehaver cuidado no uso das técnicas para nãogerar um clima desconfortável em sala

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um clima indesejável em sala de aula, co-mo a “De Surpresa” e “Circule” (capítulo3), na qual o autor sugere que o professorsempre se aproxime por trás e veja o que

o aluno está vendo.“Em ‘Circule’ é como se fosse umatocaia, estimulando um comportamentoheteronômico, no qual o aluno age corre-tamente apenas quando estiver sendo vi-giado. ‘De Surpresa’, dependendo do rit-mo que o professor imprime, pode gerarestresse. À primeira vista, essas técnicaspodem deixar as crianças tímidas e des-confortáveis”, acredita.

“Pontos de contato” A professora Giselle foi convidada pelaFundação Lemann a avaliar a obra de

Lemov e apresentar as impressões a umgrupo de gestores de instituições parti-culares de ensino, em abril deste ano.Como principal gestora de uma insti-tuição que atende alunos de classe mé-dia alta, da educação infantil ao ensinomédio e com professores em boas con-

dições de trabalho comparando com amédia nacional, verificou que há muitosaspectos apresentados pelo autor estadu-nidense que já são praticados em sua es-

cola, descritos por ela como “pontos decontato”. O primeiro aspecto em comumé a ênfase no desenvolvimento do pro-cesso de ensino e aprendizado na salade aula, que é, em sua opinião, o localde atualização de tudo que se propõe emtermos de formação dos professores. Asala de aula é onde as coisas acontecemtanto para aluno quanto para docente.Nesse aspecto, a escola já usa, segundo adiretora, “Divida em Partes”, “Mais umaVez” (ambas do capítulo 3, para estrutu-ração de aulas), “Todo Mundo Escreve”,“Controle do Material” (capítulo 5, pa-

ra criação de uma forte cultura escolar)e “O Que Fazer” (capítulo 6, de estabe-lecimento de altas expectativas de com-portamento).

No que tange à disciplina, a criaçãodo clima escolar (capítulo 5) reforça umtratamento rígido do ponto de vista aca-

Eu testei

“Não me fixo muito na nomenclatura etambém não planejo sistematicamen-te o uso das técnicas. Concentro-me naideia geral, no momento oportuno, eemprego as sugestões adaptadas à si-tuação posta na aula. Até porque já fa-zia algumas das propostas do livro, co-mo ‘Plumas e Paetês’.

No entanto, passei a refletir sobrecomo executava questionamentos aosalunos. Algumas técnicas foram aprimo-radas para melhorar esse ponto. ‘DeSurpresa’ é uma que uso bastante, nor-malmente quando meus alunos estãoagitados. Quando levanto uma pergun-ta, eles sabem que qualquer um poderesponder e isso contribui bastante.

Da mesma forma, uso ‘Tempo deEspera’. Sempre peço respostas ao alu-no mais adequado, ao que sugere omomento da aula, muitas vezes base-ada em informações colhidas durante acirculação em sala [referência à técnica“Circule”, capítulo 3].

Também uso esporadicamen-te ‘Todos Juntos’, para respostas cur-tas ou quando desejo fixar e diferenciarconteúdos que eles podem confundir, e‘Bate-Rebate’ para retomar algum as-sunto, dar continuidade ou para revisões.

Creio que com algumas dessas técni-cas a gente consegue fazer com que osalunos do fundamental I cheguem melhornos níveis posteriores. Não são todas téc-nicas que servem, nem para tudo mun-do, pois é algo muito individual. Elas de-pendem do professor, da disciplina e dascondições de trabalho. Porém nada im-pede o seu uso e elas contribuem muito.”

Gilne Gardesani Fernandez  é professo-ra da Escola Municipal de Educação Infantile Ensino Fundamental Vereador Manoel deOliveira, em Santo André (SP). Ela usa as téc-nicas em todas as disciplinas (Ciências, LínguaPortuguesa, História, Geografia, Matemáticae Artes), com uma turma de 4º ano.

Resumo das técnicas motivacionais

“De Surpresa” – Garantir que todos tenham a expectativa de serem chamadospara responder a uma pergunta a qualquer momento da aula, mesmo os quenão levantaram a mão indicando voluntariedade. Para tanto, o critério do profes-sor sobre quem chamar deve ser sistemático e garantidor da equidade.

“Todos Juntos” – A turma toda responde em coro, desde que não seja pararepetição de aforismos ou refrões. É indicada pelo autor como ferramenta pa-ra repetição de tópicos comportamentais acadêmicos, relatar resultados de ta-refas concluídas, reforço de novas informações, revisão de conteúdo e resoluçãode problemas.

“Bate-Rebate” – Usar um tempo no início da aula com jogos de perguntas e res-postas rápidas para exercitar a cognição, retomar e reforçar conteúdos, com o ob- jetivo de fixar o conhecimento de aulas anteriores e, por consequência, facilitar aintrodução de novos temas.

“Tempo de Espera” – Após fazer uma pergunta, aguardar alguns segundos pa-ra que os alunos pensem na resposta antes de pedir voluntários ou até mesmoescolher alguém para participar. Esse interstício ajuda na organização das ideiasdo aluno antes de falar perante a turma.

“Todo Mundo Escreve” – Também tem por objetivo fazer com que o aluno or-ganize suas ideias antes de responder. Consiste em pedir para que as respostassejam primeiramente redigidas para depois, uma vez bem pensadas e elabora-das, apresentadas à turma.

“Plumas e Paetês” – Realização de curtas apresentações ou atividades lúdicas,geralmente de viés artístico, performático ou audiovisual, seguindo um programaespecífico de aprendizado e com cuidados para que não se torne um evento tra-tado com desdém, displicência ou que se desvie dos objetivos da aula.

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Sériedêmico e cordial no trato. “Há a neces-sidade de criar um clima favorávelà aprendizagem, cuja responsabili-dade é de todos na escola. A insti-

tuição deve ser firme nos princípiose suave nos modos, com equilíbrio,serenidade. Deve conviver com osconflitos presentes na escola, osquais não devem ser eliminados,mas trabalhados”, afirma Giselle.

 A coleta de dados para dar supor-te ao professor também foi apontadacomo uma contribuição para a qua-lidade das aulas, com “’Entendeu?”e “Arremate” (capítulo 3), conside-radas interessantes dentro de sala.

 Além disso, a di retora ressalta que

o princípio da equidade é funda-mental, com o processo de ensino eaprendizado contemplando a todosos alunos de uma turma.

InquietaçõesComo diretora de um colégio de fi-liação sociointeracionista, a profes-sora Giselle se diz preocupada comalgumas sugestões que, segundoela, baseiam-se em demasia na re-petição. Embora boa parte das pro-postas já fosse utilizada, a obra foicolocada em debate entre gestorese coordenadores para avaliação depressupostos e viabi lidade de absor-ção de algumas das ideias que não

fazem parte do cotidiano do AlbertSabin. O trabalho está em anda-mento e deve i ncluir professores du-rante o segundo semestre desse ano.

Uma das principais preocupa-ções é com a possibilidade de algu mprofessor adotar o livro de formanão reflexiva, como uma espécie demanual, e a compreensão de conte-údos ser substituída pela memori-zação. “Lemov descreve a técnica edepois dá o exemplo, que algumas

 vezes desconstrói a própri a téc ni-ca, com sugestão de recursos mne-mônicos para construção de concei-tos, memorização de resposta e nãopara construção do conhecimento”,alerta.

Mediante a ênfase constante deDoug Lemov no quesito de adminis-tração do tempo, Giselle avalia quedeve haver cuidado no uso das téc-nicas para que não se perca o rit-mo da sala de aula, preservandoo tempo para o trabalho acadêmi-co propriamente dito e construindoo clima disciplinar adequado paraaprendizagem. Porém, se mal usa-da, a mesma ferramenta pode gerarefeitos opostos aos pretendidos. “Oautor enfatiza uma disciplina invi-sível. Na busca de economizar tem-

po, podemos criar um clima des-confortável e inadequado ou atémesmo criar uma escola neurótica.Os efeitos podem ser opostos ao de-sejado. A técnica é importante, mastodo o restante também. Ela é ape-nas parte do trabalho”, analisa adiretora.

SÉRIE AULA NOTA 10 – TÉCNICAS DE DOUG LEMOV Fabio Venturini

O repórter Fabio Venturini, também histo-riador e professor universitário na área deComunicação Social, do Centro UniversitárioEstácio Radial de São Paulo (SP), testou astécnicas para esta reportagem com alunosdo curso de Jornalismo.

A proposta de Lemov para motivaros alunos é pertinente, porém requermuito cuidado do docente, pois elasestão no limiar entre algo lúdico, atémesmo artístico, e a abertura de enor-mes brechas a sátiras improdutivasdos alunos. Sempre cabe ressaltar quea turma observada pela reportagemé de um curso superior, com pessoasque, embora recém-saídas da adoles-cência, já carregam grandes respon-sabilidades e passam maior parte doseu tempo no trabalho. Por mais que

a proposta de Lemov seja pertinen-te em outras situações, nesse cenário,“Todos Juntos” não foi bem recebida.Os alunos sentiram-se tendo um trata-mento “pouco adulto”.

As demais técnicas são realmentebastante efetivas. Os resultados em“De Surpresa” lembram muito os de“Sem Escapatória” (capítulo 1), poismostra à turma que todos estão paraparticipar, independente do que acon-teça em sala. É também, nesse capí-tulo, a de efeitos mais rápidos e evi-dentes, pois os alunos percebem adiferença de postura do professor aoescolher mesmo quem não se volunta-

riou a participar de uma questão suge-rida em aula. Pela relação do docentecom os alunos já de outros períodos le-tivos, não chegou a gerar tensões mui-to fortes, mas ficou evidente que sãonecessários alguns cuidados para queos alunos não se sintam pressionados,especialmente na combinação de “DeSurpresa” com “Sem Escapatória”, poisalguns tiveram tal percepção e demo-

O teste da reportagem

Na próxima edição, sugestões paracriação de uma forte cultura escolar

Para Doug Lemov, os processos deensino e aprendizagem são mais efi-

cientes se os alunos se enxergaremdentro de um ambiente notoriamen-te acadêmico, voltado essencialmen-te à atividade escolar. Na próximaedição, serão tratadas as técnicassugeridas pelo autor para cons-truir essa cultura própria: “Rotinade Entrada”, “Faça Agora”, “BrevesTransições”, “Controle do Material”,“Posso”, “Em Suas Marcas”,“Comunicação por Sinais” e “Vivas!”

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raram a perceber a postura como mo-tivacional, não constritiva.

Todos esses alunos já tiveram au-las de História Contemporânea no en-sino básico, porém na formação atualdeles não basta saber, por exemplo,apenas qual país iniciou ou terminoudeterminado conflito militar. É neces-sário analisar o cenário construído nosrecortes propostos, realizar observa-ções críticas e profundamente emba-sadas, inclusive em preceitos filosóficose na escrita da História. Nesse sentido,

“Tempo de Espera” e “Todo MundoEscreve” são extremamente úteis porauxiliar num dos pontos mais sensíveisnessas aulas, que é a organização dasideias antes da exposição. O debatetambém foi enriquecido.

“Bate-Rebate” é efetiva na fixaçãode alguns conceitos simples. Porém, emalguns momentos, deixou a sensação deser voltada à memorização de sentençascurtas. Provavelmente essa técnica sejamais útil em conteúdos menos complexosque, mesmo fundamentais, tenham namemorização fundamento mais adequa-do. “Plumas e Paetês” já era usada pelodocente, muitas vezes combinada com “O

Gancho” (capítulo 3) na apresentação in-trodutória da aula, dos objetivos e de no-vos conceitos.