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O POVO JUDEU DURANTE OS SÉCULOS 2014 HISTÓRIA JUDAICA BY GIL CHAIM PACHECO

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  • O POVO JUDEU DURANTE OS SCULOS

    2014

    HISTRIA JUDAICA BY GIL CHAIM PACHECO

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    APRESENTAO

    Com o intuito de trazer um maior contedo historiogrfico da presena judaica

    durante os sculos, iniciamos este trabalho. Sem sombra de dvidas, h muito o que se

    falar e comentar. Contudo, para no sermos prolixos focaremos nos mais

    representativos fatos histricos da histria judaica durante os sculos.

    No h como dissociar a influncia dos eventos histricos na formao cultural

    e religiosa de nosso povo, e para isso, faremos uso de uma bibliografia especfica afim

    de elencarmos com a maior clareza possvel esses eventos histricos e suas

    consequncias na formao identitria do povo judeu, ou seja, nosso povo.

    Adentraremos nas da cincia do conhecimento a procura de elementos

    epistemolgicos que demonstrem ao leitor deste pequeno trabalho o impacto dos

    sculos no amlgama cultural judaico. Esse posicionamento epistemolgico, se faz

    necessrio para que o aporte histrico seja absorvido de forma mais clara a ponto de

    haver uma cristalizao histrica do contedo aqui elencado.

    No obstante a isso, faremos com que esse aporte histrico traga uma maior

    compreenso dos diversos momentos histricos a que fomos expostos durante os

    sculos, trazendo consigo os princpios da identidade judaica, fator transcendental do

    nosso povo e que supera a compreenso e explicaes racionais.

    Boa leitura e bom aprendizado.

    Olinda, 01 de kislev de 5775.

    Gil Chaim Pacheco1 - hyldg Nb Myyx lyg

    1 Historiador e Internacionalista, membro do Instituto Histrico de Olinda e Primeiro Presidente da Sinagoga Beit Shmuel em Recife PE.

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    INTRODUO

    Cinco bens de Seu mundo, adotou especialmente para Si o Eterno, abenoado seja Ele. So esses: a Tor, o cu e a terra, Abrao, Israel e o Santurio Sagrado

    (Pirkei Avot [tica dos Pais] 6:10).

    Sem sombra de dvidas a maior fonte histrica da presena judaica a

    Tor, se iniciando em Bereshit (Gnese). A longa jornada do povo de Israel se

    inicia com Abrao, o primeiro patriarca2. Primeiro monotesta da histria, Abrao

    rebelou-se contra a idolatria reinante, foi tambm o primeiro a proclamar que

    Dus Um e nico e que o mundo tem um nico Senhor do Universo. Sem ter

    tido ningum para ensinar-lhe, Abrao abandonou todos os ensinamentos e

    tradies de seus pais e a terra onde vivia para seguir a Voz que o levava a Dus.

    Segundo o Midrash, ele era chamado de Avraham, ha-Ivri, Abrao, o Ivri, que

    significava o que passou para o outro lado. Pois Abrao enfrentou o mundo

    sozinho: ele, o monotesta, de um lado; o resto do mundo, politesta e idlatra,

    do outro.

    Abrao foi o primeiro judeu. Com ele e atravs dele Dus selou uma

    aliana sagrada e perptua com o povo de Israel, assegurando-lhe que seus

    descendentes seriam numerosos como as estrelas do cu e herdariam a Terra

    Sagrada. Nosso primeiro patriarca ensinou a Verdade sua famlia e a todos ao

    seu redor, mas, principalmente, a seu filho Isaac, que a transmitiu a Jac e este,

    a seus filhos, que deram origem s doze tribos. Assim, a herana de Abrao

    passou de pai para filho em uma corrente espiritual que atravessa os sculos. O

    legado de Abrao sinnimo de fidelidade, lealdade, bondade, f e coragem,

    pois sua f em um nico Criador, Justo e Bom, exigia do homem integridade

    absoluta em relao a Dus e aos outros homens. Seus atos moldaram e

    inspiram a Nao Judaica, que se refere a ele como Avraham Avinu, nosso pai,

    Abrao.

    2 Extrado do site da Revista Morash, Edio de 2002, disponvel em, http://www.morasha.com.br/conteudo/ed37/abraao.htm

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    A vida do primeiro patriarca narrada no primeiro livro da Tor, Bereshit

    (Gnese). O texto e os estudos adicionais no Talmud, no Midrash e nos livros da

    Cabala revelam ainda mais sobre a vida de Abrao, as lutas, as vitrias e os

    desafios que teve que enfrentar ao longo do caminho que o levou a Dus. Os

    eventos da vida do patriarca prenunciam a histria do Povo de Israel, pois, como

    ensinam os nossos sbios: Os atos e episdios ocorridos durante a vida dos

    patriarcas so um sinal para os seus descendentes. O que sabemos sobre

    Abrao, o nosso patriarca? Quais as virtudes que possua para ter sido escolhido

    por Dus como o fundador da Nao Judaica?

    ABRAO: UM HOMEM EM BUSCA DA VERDADE

    O Abrao revelado pela Tor no retratado como um sbio imerso em

    contemplaes metafsicas ou um visionrio. Era um homem procura da

    Verdade, dotado de uma mente independente, um corao generoso, uma alma

    fervorosa e uma coragem indomvel. Apesar de ter adquirido, ainda jovem, uma

    conscincia intuitiva sobre a existncia de um nico Criador de acordo com o

    Midrash, a partir dos trs anos de idade sua primeira experincia proftica s

    ocorreu aos 75. Somente aps anos de persistente busca pela Realidade

    Absoluta, Dus se revelou a ele pela primeira vez, e o instruiu. Nossa tradio lhe

    confere inmeros talentos e virtudes: sabedoria de um justo, bondade lendria,

    poderes e riquezas de um rei e fora e coragem de um grande guerreiro. Sua

    figura imponente, porte real e clareza de ideias impressionavam a todos a seu

    redor, assim como sua eloquncia em espalhar a Verdade.

    Segundo os livros, Abrao era conhecido em seu meio como um sbio

    mstico que acreditava na existncia de uma nica Divindade um Dus

    misterioso do qual recebia instrues. Seus contemporneos diziam que anjos

    sussurravam em seu ouvido e que ele usava tanto seus poderes msticos quanto

    sua sabedoria prtica para ajudar os outros. Profundo conhecedor de segredos

    msticos, estudara na Academia de Shem e Eiver, em Jerusalm, na poca

    denominada Shalem. Foi l que aprendeu a tradio sobre a Criao do mundo

    que No aprendera de seu pai e transmitira a seus filhos, em especial a Shem.

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    Primeiro a compreender os segredos da Criao do mundo, Abrao

    registrou seus ensinamentos e observaes no primeiro texto mstico da

    humanidade o Livro da Criao, Sefer Yetsir. A obra , at hoje, considerada

    a mais importante fonte sobre os segredos da Criao do Universo. Nela est

    revelado que Dus criou o mundo por meio das 22 letras do alfabeto hebraico e

    de 10 emanaes divinas chamadas de sefirot.

    O nome original do primeiro patriarca era Abro (Avram), at Dus mud-

    lo para Abrao (Avraham), que quer dizer pai de muitas naes. De fato, somos

    proibidos de cham-lo de Abro, seu nome de nascimento. Abrao nasceu por

    volta do final do segundo milnio antes da era comum (a.E.C.) na cidade de Ursh

    Cashdin, na Mesopotmia, regio localizada no Crescente Frtil, bero da

    civilizao ocidental. Na poca em que Abrao nasceu, o politesmo a crena

    em vrias divindades reinava supremo no mundo. Segundo a Tor, seu pai,

    Terach, apesar de descender de No e de Shem, servia a deuses estranhos.

    Considerado o principal idlatra da regio, mantinha uma loja onde vendia

    esttuas e representaes de divindades. Mas o filho de Terach no sucumbiu

    s prticas de seu pai.

    Segundo as nossas tradies, Abrao descobriu a existncia de um

    nico Dus observando o sol e a lua, que se alternam no cu, e a natureza a sua

    volta. Sua intuio aliada a sua mente sagaz, fizeram-no concluir que devia haver

    um Ser Supremo que governava todo o universo e estabelecera e geria as leis

    da Natureza. S um Ser Supremo e Perfeito poderia ter criado algo to perfeito.

    Sua percepo estava de acordo com os ensinamentos que havia adquirido na

    Academia de Shem, em Jerusalm.

    Abrao passou a tentar convencer seu pai Terach e a populao de sua

    regio sobre a falsidade do politesmo. Mas suas atitudes, seus questionamentos

    e sua eloquncia em transmitir a Verdade que descobrira, de que h um nico

    Dus, Senhor do Universo, chocavam-se com todos ao seu redor. O rei de Ursh,

    Nimrod, sentiu-se particularmente ameaado e insultado, pois ele mesmo queria

    ser considerado um deus. Furioso com as atitudes de Abrao, o rei condenou-o

    a uma fornalha ardente. Se seu Dus realmente existe, Ele que o salve,

    declarou o rei Nimrod a Abrao. Abrao foi salvo por Dus e emergiu do fogo da

    fornalha sem a menor queimadura. Foi um dos dez testes aos quais Abrao foi

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    submetido durante sua vida. Um teste de f no Todo-Poderoso, do qual Abrao

    emergiu triunfante como em todos os demais que enfrentou.

    Somente aos 75 anos, aps dcadas de absoluta e total devoo, o

    Eterno Se revelou a Abrao pela primeira vez, apresentando-Se com o chamado

    Divino Lech Lech Sai da tua terra, da tua ptria e da casa do teu pai para a

    terra que Eu te mostrarei (Gnese 12). As palavras Lech Lech literalmente

    significam Vai por ti mesmo.

    No momento em que Dus se revelou pela primeira vez, Abrao j havia

    realizado feitos sem precedentes. Descobrira a verdade do Dus nico, desafiara

    o rei mais poderoso da poca e tambm sacerdotes, sobrevivera fornalha

    ardente e convertera milhares f monotesta. Tudo isso conseguiu por si

    mesmo. No tinha um mestre nem uma tradio para gui-lo, nem uma voz

    celestial para dirigi-lo. Nada alm de seu intelecto e de sua incansvel busca

    pela Verdade Absoluta.

    Mesmo assim, quando finalmente obteve a revelao Divina, ele

    recebeu a ordem de Vai por ti mesmo: deixa de lado teus talentos (tua terra),

    tua personalidade enraizada em teu meio ambiente (teu local de nascimento)

    e tua sabedoria fenomenal (da casa de teu pai), e segue Dus at a terra que

    Eu te mostrarei. Dus ordena a Abrao abandonar todas as influncias externas

    para segui-Lo. A partir do momento em que Dus revelou a Abrao Seu carter

    nico, Abrao passa a cumprir Suas instrues e a seguir Suas ordens, que o

    levariam mais prximo de Dus e de Sua Verdade. E ento prometeu o Todo-

    Poderoso: E farei de ti uma grande nao. Eu te abenoarei e engrandecerei

    teu nome. Tu sers uma bno. Eu abenoarei os que te abenoarem e

    amaldioarei os que te amaldioarem (Gnese 12:1).

    Aps obedecer a Ordem Divina, Abrao seguiu em direo a Cana com

    sua esposa Sarai, seu sobrinho Lot e todos aqueles a quem tinha convertido

    nova f. Uma vez em Cana, Dus lhe revelou Sua Vontade e fez uma srie de

    promessas a Abrao, selando com ele pactos que iriam ligar para sempre o povo

    de Israel a Dus. Promete a Abrao que seus descendentes herdaro a terra. Eu

    darei esta terra a teus descendentes (Gnese 12:1), repete Dus em vrias

    ocasies.

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    Mas Abrao no tinha filhos e, sendo um grande astrlogo, sabia que s

    a Vontade Divina poderia fazer com que tanto seu destino e como o de Sarai,

    sua esposa, fossem revertidos para que, assim, pudessem conceber um filho.

    Se no tivesse um filho, a quem poderia transmitir sua herana espiritual?

    perguntou Abrao ao Eterno. Quem iria propagar a f entre todos os povos? Dus

    assegurou-lhe que iria ter filhos e prometeu multiplicar a descendncia de

    Abrao, dizendo que seria to numerosa quanto as estrelas do cu.

    Mas Abrao, temeroso pelo futuro de seus descendentes, pediu uma

    prova tangvel de que a Terra Sagrada lhes pertenceria. Dus ento lhe mostrou

    o futuro de seus descendentes as provaes que teriam que enfrentar, os

    sucessivos imprios que se levantariam contra eles. Ressaltou, no entanto, que

    Israel sobreviveria a todos os perigos e os venceria. Foi esta a promessa do

    Eterno. Como a promessa de Dus irrevogvel, a Terra Sagrada caber, em

    ltima instncia, a Israel, mesmo se este por no cumprir a Vontade Divina

    a perder por algum tempo.

    A promessa do Todo-Poderoso de que Abrao seria uma bno e

    geraria bnos implicava tambm que receberia Sua proteo. Portanto, o

    Eterno o Escudo de Abrao, Magen Avraham, e, como seus descendentes,

    pedimos a Dus, todos os dias, em nossas oraes, que tambm seja nosso

    Escudo.

    A ALIANA ETERNA ENTRE DUS E O POVO DE

    ISRAEL

    Quando Abrao tinha 99 anos, Dus Se revelou novamente para selar

    com o patriarca, atravs do brit milah, Sua Aliana Eterna com o povo de Israel.

    Diz o Eterno a Abrao: Eu sou Dus, Todo-Poderoso, anda diante de Minha

    presena e s perfeito (Gnese 17). At agora no foste perfeito diante de

    Mim, disse Dus a Abrao, mas circuncida-te, ento andars diante de Mim (

    vista dos homens) e sers perfeito. E o Eterno ordenou: E vs sereis

    circuncidados na carne de vosso prepcio. E ser o smbolo de uma aliana

    entre Mim e vs... (Gnese, 17:11). E vs mantereis Minha aliana, vs e todos

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    os vossos descendentes, por todas as geraes (Gnese, 17:9-12). To forte

    a ligao que existe entre Abrao e a circunciso que, ao ser realizada, inclumos

    na berach pronunciada no ato a frase Abenoado s Tu, Senhor, nosso Dus,

    Rei do Universo, que nos santificaste com os Seus Mandamentos e nos

    ordenaste introduzi-lo na Aliana de Abrao, nosso patriarca.

    At ento o nome de nosso patriarca era Abro (Avram), que significa av

    Aram pai de Aram, sua terra natal, mas a partir desse momento Dus lhe d

    um novo nome, Abrao (Avraham), contrao de duas palavras av hamon,

    que significa pai de uma multido. A mudana de nome indica seu novo status,

    perfeito perante Dus e pai de uma multido de naes que seriam fundadas

    por ele. To significativa foi esta mudana que somos determinantemente

    proibidos de cham-lo pelo seu nome anterior. Dus tambm mudou o nome de

    sua esposa, nossa primeira matriarca. Sarai, que significava minha princesa,

    foi mudado para Sarah princesa para todas as naes do mundo.

    Foi nessa ocasio em que mudaram seus nomes, que Dus revelou-lhes o futuro

    nascimento do filho to desejado Isaac, nosso segundo patriarca.

    Abrao, ensina o Talmud, era bom com os Cus e com os homens. Nos

    textos msticos, a personificao do atributo de chesed bondade a

    emanao divina (sefir) da benevolncia, generosidade e amor infinito. As duas

    caractersticas principais da personalidade do patriarca eram guemilut

    chassadim e emun: atos de bondade e f em Dus.

    Abrao servia a Dus principalmente atravs do amor que se manifestava

    tanto em sua devoo a Ele como atravs de um contnuo e incessante amor por

    seus semelhantes. Exemplo supremo do homem bondoso e justo, Abrao estava

    sempre preocupado com o bem-estar dos outros, respeitando e amando todos

    os seres, cercando-os de atos de bondade e generosidade. Abrao mantinha o

    seu lar sempre aberto a todos, sem perguntar quem eram ou por que o visitavam.

    Oferecia a todos anjos ou mendigos abrigo e alimento. Em troca, s pedia

    que seus hspedes agradecessem a Dus, o verdadeiro Provedor de tudo no

    mundo. A Tor afirma que Dus escolheu Abrao porque ele seria capaz de

    ensinar seus filhos a praticar a caridade e a justia (Gnese 18:19).

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    Abrao tambm possua um senso imenso de responsabilidade com as

    pessoas ao seu redor. Apesar de todas as dificuldades e obstculos que

    enfrentou durante sua vida nunca questionou o Criador; sua f em Dus era

    absoluta. Mas, mesmo assim, no hesitou em contestar e at enfrentar o Eterno

    para salvar algum do sofrimento e da morte. Relata a Tor que ao ser informado

    por Dus de que a destruio de Sodoma e Gomorra era iminente, Abrao

    implorou pela vida de seus habitantes, apesar de saber que eram malvados e

    cruis. O Talmud, ento, afirma que qualquer um que tenha compaixo pelas

    pessoas, certamente descende de Abrao, nosso patriarca.

    E O ETERNO TESTOU ABRAO

    O amor e a f de Abrao em Dus permaneceram inalterados e

    inabalveis durante toda a vida de nosso patriarca, apesar dos testes e

    obstculos que teve que enfrentar. Para testar a sua devoo, Dus submeteu

    Abrao a dez testes. Entre estes, o patriarca enfrentou o fogo, a fome e reis

    idlatras, lutou contra poderosos exrcitos e foi obrigado a abandonar o seu lar

    e a sua terra. No seu ltimo e mais difcil desafio, o nico que a Tor relata,

    Abrao prova estar disposto at a sacrificar o seu to amado filho, Isaac, para

    obedecer a ordem Divina. Nenhum relato da Tor foi e ainda mais analisado

    e comentado por sbios e filsofos do que o sacrifcio de Isaac. A Tor nos diz:

    Aps esses eventos, Dus testou Abrao (Gnese 22:1). O Eterno ordenou ao

    patriarca que tomasse o seu filho Isaac, dizendo: Vai para a rea de Mori.

    Traze-o como um holocausto... (Gnese 22:2).

    A Tor relata os acontecimentos: a viagem do pai com o filho, os

    preparativos e o fatdico instante quando Abrao estende a mo e toma a faca

    para cortar a garganta de seu filho nico e um anjo de Dus o chama: Abrao!

    Abrao! Eis-me aqui, responde o patriarca. E ento o anjo de Dus lhe revela

    que tudo fora um teste, o ltimo e mais difcil de sua vida: No faas mal ao

    menino. Pois agora sei que temes a Dus. Tu no Lhe recusaste teu nico

    filho (Gnese 22: 11-12). O anjo de Dus transmite ao patriarca a promessa

    Divina: Eu jurei por Minha prpria Essncia que, por teres realizado tal ato

    e no me teres recusado teu nico filho, Eu te abenoarei bastante e

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    aumentarei tua semente como as estrelas do cu. Todas as naes do mundo

    sero abenoadas atravs dos teus descendentes tudo porque tu

    obedeceste a Minha voz (Gnese 22:15-18).

    Todos as manhs, lemos esta poro da Tor em um relato que

    precede as nossas oraes, quando pedimos que sejam realizadas as bnos

    prometidas pelo Eterno a Abrao. importante lembrar que em Mori no

    exato lugar onde Abrao preparou seu filho para o sacrificar foi construdo

    o Beit Hamikdash, o Grande Templo de Jerusalm. O Templo era o ncleo da

    Presena Divina na Terra e o local de onde todas as rezas subiam aos Cus.

    Foi uma das recompensas de Dus pela devoo de Abrao.

    De fato, no poderia haver provao mais difcil para Abrao do que

    o sacrifcio de Isaac. Abrao havia ensinado ao mundo que a vida uma

    sagrada ddiva divina e que Dus odeia os sacrifcios humanos. O assassinato,

    mesmo a mando do Divino, representava a anttese da bondade de Abrao.

    E mais ainda, Dus havia prometido a Abrao que sua recompensa seria

    grande: seu filho Isaac seria pai de uma grande nao que disseminaria e

    perpetuaria seus ensinamentos.

    O sacrifcio de Isaac representava o oposto de tudo aquilo que Abrao

    ensinou, praticou e sonhou em sua vida. Apesar disso, o homem que desafiou

    Dus para salvar os povos malvolos de Sodoma e Gomorra, calou-se e

    preparou-se para cumprir a mais difcil ordem Divina. Por tudo isto, a Tor

    nos relata que o Todo-Poderoso encontrou em Abrao lealdade e devoo

    absolutas: Tu s o Eterno, o Dus que escolheu Abrao, e Tu encontraste seu

    corao fiel (Neemias 9:7).

    Com Abrao e atravs dele se iniciou a histria do povo judeu, uma

    nao eterna que influenciou toda a humanidade. Em nossas oraes dirias,

    chamamos o Criador de Dus de Abrao, Dus de Isaac e Dus de Jac.

    Pedimos proteo, bondade e misericrdia Divina pelo mrito dos nossos

    patriarcas. Pois antes de Abrao, ensinam os nossos sbios, Dus reinava

    nos Cus. Foi Abrao quem O trouxe para a Terra.

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    ISRAEL NO EGITO

    Aps a formao do povo judeu como um cl monotesta atravs de

    seus patriarcas, os hebreus passaram a vivenciar a busca de um lugar para

    chamarem de lar. Foi a partir desse momento que a presena judaica como

    uma proto nao passou a ser percebida. Esse efeito nos povos passou a

    transferir uma visibilidade poltica aos hebreus, conforme vimos no trecho da

    tor que relata a descida de Yaakov (Jacb) e seus filhos ao Egito. Esse

    evento foi crucial para a consolidao do status quo de povo.

    Todo o protagonismo de Yossef (Jos) no Egito trouxe uma grande

    visibilidade aos hebreus. Com isso, o povo de Israel se estabeleceu com

    segurana e prosperidade no Egito at a morte de Yossef (Jos). Entretanto,

    aps a morte de Yossef, uma srie de mudanas comearam a ser percebidas.

    O humor dos egpcios mudou drasticamente e, onde havia paz e prosperidade

    se iniciou o fato mais relevante da histria judaica a escravido.

    Do status de nao hspede pelos mritos de Yossef, escravido

    passaram-se apenas uma gerao, conforme podemos ler no trecho da Tor

    em Shemot 1:8, que diz: . Um novo

    rei que no conheceu Jos chegou ao poder no Egito. Desse momento em

    diante, toda a generosidade e parceria egpcia com os hebreus ruiu. O nosso

    povo passou a ser escravizado brutalmente no Egito, tendo durado 210 anos

    essa escravido. O dilema de segurana3 egpcio passou a nveis beligerantes

    ao ponto de esquecer todo o passado de paz e harmonia construdo com a

    subida de Israel ao Egito. Com isso, houve um processo de recrudescimento

    3 Termo cunhado pelo terico das Relaes Internacionais, John Herz que trouxe importantes contribuies para o pensamento realista clssico das Relaes Internacionais, sendo um dos mais relevantes a ideia de dilema de segurana: quando um Estado se sente ameaado, ele investe em armas, o que faz, em determinado prazo, com que os Estados ao seu redor se sintam igualmente ameaados, de forma que eles tambm investem em armamentos. Dessa forma, todos os Estados acabam numa situao pior do que antes em termos de segurana, mesmo que o objetivo original de determinado Estado tenha sido o de aumentar sua segurana.

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    social contra os israelitas. Esse fenmeno est ricamente descrito na literatura

    judaica, a partir do livro de Shemot (xodo), em midrashim4, no Talmud5, etc.

    FARA ORDENA S PARTEIRAS QUE MATEM OS

    JUDEUS RECM-NASCIDOS

    O fara ordenou que trouxessem ao palcio as duas mulheres judias

    encarregadas de ajudar as mes a ter os bebs. Chamavam-se Shifra e Pu.

    Ordenou-lhes: "Shifra e Pu, faam com que no nasam mais meninos

    judeus vivos! Quando forem chamadas casa de uma judia prestes a dar luz

    e for um menino, asfixiem-no e digam me: "Sentimos muito, mas seu filho

    nasceu morto!"

    O fara pensou: "Pronto, no haver mais meninos judeus."

    Por que o fara ordenou a morte somente dos vares? Poderia ter

    ordenado a morte de meninas! Mas os sbios feiticeiros o haviam avisado:

    "vemos nas estrelas, Majestade, que est para nascer um menino que libertar

    todos os escravos judeus e os tirar do Egito." Por isso, o fara decidiu matar

    todos os meninos judeus, na esperana de que o futuro lder se encontrasse

    entre eles. No ocorreu ao fara que as parteiras pudessem desobedecer-lhe.

    Afinal, bem se sabia no Egito que todo aquele que se atrevesse a desobedecer

    o poderoso fara seria condenado morte.

    Acontece que Shifra e Pu decidiram ignorar a ordem, pois eram

    tsadikaniot, mulheres de bem. Afirmaram: "Estamos dispostas a morrer antes de

    matar meninos judeus, Dus nos livre!". Quando o fara ficou sabendo que

    nenhum menino judeu estava nascendo morto, chamou Shifra e Pu para

    repreend-las: "Por que esto deixando viver os meninos judeus?"

    4 Plural da palavra Midrash wrdym, que vem da raiz Drash - wrd e significa investigar, inquirir, pesquisar. Essa palavra traz consigo a ideia de aprofundamento ou debate sobre qual a verdade no seu sentido lato senso, ou seja, num sentido mais amplo. 5 Talmud Compilao da tor oral, ou seja, a descrio das explicaes, investigaes e debates acerca da tor escrita, tambm conhecido como tor she-beal-p. Possui duas verses distintas denominadas de Talmud Bavli (Talmud Babilnico) pois comeou a ser compilado durante o exlio babilnico e Talmud Yerushalmi (Talmud compilado em Jerusalm) iniciado durante mais ou menos o mesmo perodo histrico.

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    Elas responderam: "No nossa culpa, Majestade. Nunca somos

    chamadas a tempo. As mulheres judias fazem Tefil (rezam) para que seus filhos

    nasam rapidamente e em paz. Quando nos chamam j demasiado tarde; os

    bebs j nasceram!". Dus recompensou Shifra e Pu com bnos pela sua

    coragem em desobedecer as ordens do fara. Seus descendentes se

    converteram nos lderes do povo judeu: cohanim6, leviyim7 e reis.

    OS MENINOS JUDEUS SO ARREMESSADOS AO

    RIO NILO

    O fara e seus assessores compreenderam que no podiam mandar

    matar os meninos judeus em segredo, de modo que decidiram assassin-los

    abertamente.

    O rei proclamou: "De agora em diante, todos os vares judeus sero

    jogados ao Nilo!"

    Como o fara imaginou que as mes judias esconderiam seus filhos

    recm-nascidos, ordenou aos egpcios que se mudassem para casas vizinhas

    s dos judeus para espion-los e saber quando uma mulher judia estava prestes

    a dar luz. Ento deviam informar polcia egpcia, e a casa judaica era

    registrada assim que nascesse o beb. Se fosse menino, levariam-no e o

    afogariam no rio. Os egpcios ajudaram o fara, vigiando os judeus.

    Diziam aos filhos: "sigam as mulheres judias para todos os lados, assim

    sabero quando esto prestes a dar luz."

    As egpcias tambm ajudaram o fara da seguinte maneira: quando um

    policial egpcio ia procurar um menino judeu num lugar assinalado e no o

    encontrava, as mulheres egpcias levavam seu prprio filho ao lugar. Beliscavam

    a criana para que chorasse, e quando o menino judeu escutava o choro,

    tambm comeava a chorar. Assim, era descoberto e levado para ser jogado ao

    Rio Nilo.

    6 Sacerdotes, ou os filhos de Aharon (Aaro) Irmo de Mosh. 7 Os Levitas, ou os descendentes da tribo de Levy.

  • 13

    COMO DUS SALVOU OS MENINOS JUDEUS

    Dus fez um milagre para o povo judeu. Os meninos jogados ao rio no

    se afogavam. Ao contrrio, o rio os arrastava at umas cavernas perto de uns

    campos, longe das cidades egpcias. Ali, Dus se ocupava com os meninos.

    Colocou duas pedras junto boca dos pequenos. De uma delas flua leite, e da

    outra mel. Os meninos cresciam, alimentados por Dus, e logo regressavam s

    casas de suas famlias. Outro midrash explica que Dus salvava os meninos

    mantendo-os vivos milagrosamente no Rio Nilo. Dus permitia que pudessem

    respirar na gua como peixes, e tiravam o sustento do rio. Assim, quando o fara

    cancelou o decreto, os meninos saram vivos do rio. Desse modo, os malvados

    planos do fara no tiveram xito.

    NASCE MOSH

    Um dos lderes do povo judeu nesse momento era o tsadik (justo)

    Amram, da tribo de Levi. Era to justo que no havia jamais cometido um s

    pecado na vida. Sua esposa Yocheved era tambm uma grande tsadeket (justa).

    Tinham uma filha de seis anos, Miriam, e um filho de trs, Aharon.

    No dia em que Yocheved estava para dar luz a outro menino, os

    astrlogos e sbios do fara o advertiram: "Lemos nas estrelas que hoje nascer

    o menino que tirar os judeus do Egito." Porm, os egpcios nunca puderam

    descobrir o filho de Amram e Yocheved. Esta o escondeu em casa por trs

    meses. Porm, temerosa de que os egpcios tivessem visto algo, buscou outro

    esconderijo.

    Yocheved pensou: "Talvez, se ocultar meu filho no rio, os astrlogos do

    fara vejam nas estrelas que o menino que os preocupa foi jogado ao rio. Talvez

    assim o fara cancele a ordem de atirar os meninos judeus no rio.

  • 14

    MOSH NO RIO NILO

    A me de Mosh arrumou uma caixa de madeira e colocou uma tampa.

    Para impermeabiliz-la, cobriu-a com breu por fora e com argila por dentro. Ps

    a caixa no Rio Nilo entre os juncos que cresciam s margens, onde poderia ser

    vista pela gente que passava perto do rio. A irm de Mosh, Miriam, decidiu

    permanecer perto da margem do rio para ver o que aconteceria ao irmozinho.

    Passaram-se vinte minutos e ningum notou a caixa que flutuava no rio.

    Mas quem se aproximava agora? Miriam viu que se tratava de uma dama

    egpcia da alta nobreza, seguida pelas criadas. Quem poderia ser? Quando se

    aproximou, Miriam viu que era a filha do fara, a princesa Batia, que vinha

    banhar-se no Nilo. Podem imaginar como bateu o coraozinho de Miriam,

    quando viu que Batia mergulhava no rio, no muito distante da caixa com seu

    irmozinho dentro? Miriam observou ansiosamente, para ver se Batia descobriria

    o menino. Pois no que descobriu?

    "Que ser isso que flutua entre os juncos?" exclamou a princesa.

    Ordenou s criadas: "Tragam-me essa caixa! Como se negassem,

    Batiah8 estendeu o brao para alcan-la. Era impossvel para Batia alcanar a

    caixa, que estava fora de seu alcance, mas ela tentou de todas as maneiras.

    Dus fez um milagre: seu brao se esticou at alcanar a caixa, e Batia pde abri-

    la. Surpreendeu-se ao encontrar um menino dentro.

    Que lindo beb! Batia ficou encantada, e no sabia o que fazer com ele.

    Dus enviou o anjo Gabriel para que desse uma palmada no menino, que

    comeou a chorar; Batia sentiu pena dele. "Rpido, corram!!" ordenou s criadas.

    "Este menino deve ser um judeu, e est morrendo de fome. Tragam uma ama

    de leite para que o amamente!".

    As moas regressaram com uma ama egpcia, mas para surpresa de

    todos, o beb fechava a boca com fora e no quis mamar do seu peito. Batia

    ordenou quer trouxessem outra ama egpcia para amamentar o nen, porm

    8 A Princesa filha de Fara. Essa personagem bblica guarda em si mesma algo divino, pois o seu nome significa em hebraico Filha de Dus.

  • 15

    uma vez mais ele cerrou a boca e se negou a mamar. Miriam estava observando

    a cena desde o comeo. Neste momento, perguntou: "Trago uma ama judia?

    Talvez o menino aceite seu leite. Quando a princesa consentiu, Miriam correu

    para casa e trouxe a sua prpria me, Yocheved. Naturalmente, o pequeno

    mamou o leite de sua me!

    MOSH NO PALCIO DO FARA

    Voc acaba de saber quem era o menino. No era outro seno Mosh.

    Na verdade, este nome foi-lhe dado pela princesa Batia. Chamou-o assim porque

    a palavra Mosh significa "tirei-o da gua", e Batia o havia encontrado no rio.

    Batia disse me de Mosh: "Fique com o menino em sua casa e o amamente

    at que eu v busc-lo para levar ao palcio, e te pagarei por isso. Dois anos

    depois, a princesa reconheceu Mosh e o levou ao palcio do fara. Cuidava

    muito bem dele. Amava o menino como se fosse seu prprio filho. Seu pai, o

    fara, tambm se encantou com o beb e sempre brincava com ele.

    MOSH TIRA A COROA DO FARA

    Certa vez, o pequeno Mosh estava sentado sobre os joelhos do fara.

    De repente, esticou a mozinha, tirou a coroa do fara, e a colocou sobre a

    prpria cabea. Podem imaginar o alvoroo que se produziu na corte? Um

    ministro advertiu o fara: "Majestade, este menino, embora pequeno, j est lhe

    tirando a coroa! Quando crescer, tirar todo o reino! Talvez seja este o menino

    que os feiticeiros diziam que levaria os judeus do Egito. Mate-o agora mesmo e

    no se converter num inimigo poderoso para o senhor!

    Outro ministro interps-se: :Majestade, um exagero dar tanta ateno

    aos atos de uma criana. Todos os pequeninos gostam de brincar com objetos

    brilhantes. Ele tomou sua coroa simplesmente porque pensou que era um objeto

    agradvel e brilhante para brincar.

    Para pr fim discusso entre os ministros, decidiram pr o pequeno

    Mosh prova, e descobrir porque havia tirado a coroa do fara. Compreendia

  • 16

    ele a importncia da coroa ou estava s brincando? Se a prova mostrasse que

    Mosh havia tomado a coroa do fara com um propsito determinado, seria

    morto.

    Colocaram diante de Mosh duas vasilhas: uma cheia de moedas de

    ouro e outra de carves acesos e resplandecentes. Escolheria Mosh o ouro ou

    os carves ardentes? Se escolhesse as moedas de ouro, demonstraria que tinha

    inteligncia suficiente para compreender que o ouro era mais valioso que o

    carvo. Se era to inteligente, isso queria dizer que compreendia o valor da coroa

    e que a havia colocado sobre a prpria cabea de propsito. Porm, se

    escolhesse o carvo por causa de seu esplendor, demonstraria ser apenas uma

    criana que se sentia atrada pelo brilho da coroa.

    Mosh era um menino muito esperto. Sabia que o ouro era muito mais

    valioso que o carvo, e estendeu a mozinha para o ouro. Mas Dus enviou o

    anjo Gabriel para que empurrasse a mo de Mosh at o recipiente cheio de

    carves ardentes. Mosh pegou um, e, vendo que estava muito quente para

    segur-lo, levou-o boca. O carvo ardente queimou-lhe a lngua, e desde esse

    dia Mosh teve dificuldades para falar.

    MOSH CRESCE

    Mosh cresceu no palcio do fara. Embora fosse tratado como um

    prncipe e pudesse desfrutar de todos os prazeres da corte egpcia, Mosh

    estava sempre triste, to triste que chorava sem parar. Havia descoberto que era

    judeu, e sentia-se consternado ao ver como o fara tratava cruelmente a seus

    irmos, os judeus. Mosh se negou a desfrutar dos prazeres do palcio enquanto

    outros judeus sofriam e trabalhavam duramente.

    Ento, Mosh pediu ao fara que o deixasse supervisionar os escravos

    judeus, e a cada vez que visitava um lugar onde via os judeus trabalhando,

    ajudava-os secretamente no que fosse possvel. Com o pretexto de ajudar o

    fara, Mosh os ajudava a carregar fardos ou a terminar um trabalho.

    Angustiava-se terrivelmente ao ver que os judeus sofriam tanto.

  • 17

    OS PLANOS DE MOSH PARA DAR AOS JUDEUS

    UM DIA DE DESCANSO

    Mosh estava constantemente pensando na forma de aliviar o trabalho

    dos judeus, e finalmente elaborou um plano. Foi ver o fara e lhe disse: "Tenho

    observado os judeus trabalhando e devo informar-lhe que esto a ponto de sofrer

    um colapso. A, no tero mais utilidade, pois o senhor os obriga a trabalhar sem

    descanso. Nenhum escravo pode trabalhar semana aps semana, ms aps

    ms."

    "Tens alguma sugesto para evitar que sofram um colapso?" perguntou-

    lhe o fara.

    "Creio que se lhes permitisse descansar um dia por semana", sugeriu

    Mosh, "lhes daria a oportunidade de reunir fora suficiente para trabalhar

    melhor o restante do tempo. O fara aceitou o plano de Mosh. Quando permitiu

    a Mosh escolher um dia da semana, que dia acham que escolheu? Sim, foi o

    Shabat. Embora a tor ainda no tivesse sido outorgada, Mosh sabia que o

    Shabat era um dia santo. Sabia que Avraham, Yitschac, Yaacov e Yossef

    descansavam no Shabat.

    Segundo outro Midrash, o fara descobriu que qualquer edifcio que os

    judeus levantavam no Shabat, caa imediatamente.

    O fara perguntou desconfiado: "Por que os edifcios construdos no

    stimo dia no duram?"

    Mosh explicou ao fara: "Porque no lhes permite descansar neste

    dia!. Desde ento, o fara liberou o Povo de Israel de trabalhar no Shabat.

    MOSH MATA UM EGPCIO

    Certo dia, quando Mosh tinha vinte anos, chegou ao lugar onde

    trabalhavam os judeus e se deparou com um espetculo pavoroso! Um

    supervisor egpcio estava chicoteando selvagemente um judeu! Mosh sabia

    que precisava det-lo rapidamente ou ele mataria o judeu. Decidiu que o

  • 18

    malvado egpcio no merecia viver, mas pensou que poderia ter filhos ou netos

    que fossem bons. Embora Mosh fosse jovem, era um grande Tsadik (justo) que

    tinha um poderoso ruach hacodesh9, um dom de Dus que lhe permitia ver o

    futuro de uma pessoa. Mosh previu que este egpcio era um malvado da pior

    espcie, e que seus filhos e descendentes que pudesse ter seriam reshaim

    (malvados).

    Mosh conhecia o segredo de matar uma pessoa invocando o nome de

    Dus, pois Dus havia enviado um anjo para que o ensinasse. Pronunciou um dos

    nomes santos de Dus, com 42 letras, e o egpcio caiu morto. Moiss

    rapidamente sepultou o egpcio na areia e advertiu os judeus que haviam

    presenciado a cena: "No digam uma palavra do que viram aqui. No dia

    seguinte, Mosh voltou a esse lugar. Havia problemas novamente. Dois homens

    estavam lutando, e um havia levantado a mo para golpear o outro. Quando

    Mosh se aproximou, viu que eram judeus. Eram dois reshaim (malvados)

    chamados Datan e Aviram.

    "Parem!" ordenou Mosh a Datan, o judeu que levantava a mo contra

    o outro. Por que faz isso? Nenhum judeu pode golpear outro!"

    Datan replicou com insolncia: "s muito jovem para me dar ordens! E

    mesmo que fosses mais velho, quem te nomeou juiz sobre ns? Ou talvez

    queres matar-me como fez ontem com o egpcio!". Quando Mosh escutou

    essas palavras, sentiu-se desolado. Datan mencionara em voz alta o fato de que

    matara o egpcio. Por acaso Mosh no advertira os judeus a guardar segredo

    e no falar lashon har (palavras maliciosas) sobre ele? Mosh temia que Dus

    no iria tirar os judeus do Egito por pecar, falando lashon har10!

    Os dois reshaim (malvados), Datan e Aviram, ficaram to furiosos porque

    Mosh apartara sua briga, que se apressaram em ir ao palcio e informar ao

    fara; "Mosh assassinou um supervisor egpcio!". O fara deu ordens para

    deterem Mosh e o condenou morte. O carrasco quis brandir sua poderosa

    9 Literalmente Esprito da Santidade. Este termo detm um enorme significado dentro da tor, pois representa a presena da Divindade. 10 Lashon har uma observao negativa verdadeira sobre outra pessoa. A Tor nos probe de fazer tal declarao ou de dar ouvidos a ela. Nossos sbios nos ensinam que um judeu que fala lashon har peca to gravemente como um assassino, um adltero ou um idlatra. Na poca do Bet Hamicdash um judeu que falasse lashon har era punido com tsarat (uma espcie de lepra bblica).

  • 19

    espada no pescoo de Mosh, mas Dus fez um milagre: seu pescoo ficou duro

    como uma pedra, e a espada voltou-se para trs, matando o carrasco. Ento

    Dus deixou o fara mudo, para que no pudesse falar e dar ordens de matar

    Mosh, e deixou as pessoas cegas, para que no vissem sua fuga.

    MOSH SE REFUGIA NA CASA DE YITR

    Mosh saiu da terra do Egito, porque o fara era poderoso e tinha

    espies em toda parte. Viajou a pases distantes por muitos anos, at que

    chegou terra de Midyan. Enquanto descansava junto a um poo, viu sete irms

    com um rebanho de ovelhas que se aproximavam do poo. Uns pastores que

    estavam por perto no permitiram que as moas dessem de beber s ovelhas, e

    jogaram as irms dentro do poo.

    Quando Mosh viu o ocorrido, tirou as moas do poo e deu gua s

    suas ovelhas. Tambm ajudou os pastores a dar de beber aos animais. As irms

    agradeceram e foram para casa. Ao chegarem, o pai, Yitr, lhes perguntou: "Por

    que chegaram to cedo hoje? Sempre chegam tarde, pois os pastores as tratam

    mal e no as deixam dar gua s ovelhas."

    "Hoje um estranho, um egpcio, nos ajudou," explicaram elas. "Tirou-nos

    do poo e deu de beber s ovelhas."

    "Trata-se, sem dvida, de um homem muito bondoso", disse Yitr. Vo

    busc-lo e convidem-no a jantar conosco. Mosh foi casa de Yitr. "Quem s,

    e o que fazes em Midyan?" perguntou-lhe Yitr.

    Quando Mosh explicou que estava fugindo do fara porque este queria

    mat-lo, Yitr se assustou porque temia que o fara o castigasse por dar abrigo

    a Mosh. Assim, Yitr ordenou aos serventes que colocaram Mosh em um poo

    perto da casa, e o mantiveram ali por dez anos. Todos os dias, Tsipor, uma das

    filhas de Yitr, levava-lhe comida, e assim Mosh pde sobreviver. Finalmente,

    dez anos depois, Yitr o libertou.

  • 20

    O MARAVILHOSO CAJADO DE MOSH

    Quando Dus criou os cus e a terra e tudo que h neles, criou tambm

    um maravilhoso basto de safira, que deu a Adam, o primeiro homem, que viveu

    por 930 anos. Adam o entregou a seu tataraneto, o Tsadik Chanosh, que havia

    nascido quando Adam tinha 622 anos. Chanosh o deu a Metushelach, que por

    sua vez o deu a Noch. Noch o deu a Avraham, que o deu a Yitschac, que o

    deu a Yaacov, que o deu a Yossef. Quando Yossef morreu, Yitr, que era

    conselheiro na corte do fara, o tomou porque percebeu o quo importante era.

    Yitr o cravou na terra de seu jardim, no fundo da casa.

    Porm, quando o basto foi plantado ali, ningum, por mais forte que

    fosse, no conseguia tir-lo. Yitr proclamou: Se algum homem conseguir tirar o

    basto da terra, dar-lhe-ei uma de minhas filhas por esposa!" Mas ningum

    conseguia. Quando Mosh saiu do crcere de Yitr, tirou o cajado. Guardou-o

    com ele. Yitr deu a Mosh a mais especial de suas filhas, Tsipor, que era uma

    grande tsadeket (justa). Esta deu luz um filho, a quem Mosh chamou Gershon,

    e logo outro, Eliezer. Mosh ficou vivendo com Yitr e se ocupou em cuidar das

    ovelhas.

    DUS FALA COM MOSH

    Os pastores s levam as ovelhas e cabras a pastarem o mais perto

    possvel de casa. Mosh, ao contrrio, no fazia assim. Todos os dias levava as

    ovelhas de Yitr muito longe, longe das cidades povoadas, pois temia que os

    animais comessem pasto de alguma outra pessoa, e isso seria roubar. Mosh

    somente ia com o rebanho em campo aberto, onde a terra no pertencia a

    ningum. Estava chegando a hora de liberar o Povo de Israel do Egito. Apenas

    Dus sabia quando chegaria este momento. Pois como Mosh era um Tsadik

    (justo) to especial, Dus decidiu eleg-lo lder dos judeus.

  • 21

    Certa vez Mosh conduzia as ovelhas por um campo deserto, e viu um

    fato inusitado: numa colina havia um arbusto espinhoso que estava se

    incendiando, sem que os ramos fossem destrudos pelo fogo. Mosh olhou com

    mais ateno e viu um segundo milagre: apenas parte do arbusto estava se

    incendiando, e o fogo no tocava a outra parte de jeito nenhum. Mosh ficou

    admirado pelo maravilhoso espetculo. Havia outros pastores junto a Mosh,

    mas apenas o Tsadik (justo) Mosh podia ver o maravilhoso arbusto, e somente

    ele escutou um anjo de Dus que o chamava para que se aproximasse do

    arbusto.

    Quando Mosh chegou perto, Dus lhe ordenou: "No chegue muito

    perto! Tire os sapatos, pois ests parado em terra santa!. A colina era santa pois

    a shechin (Presena da Divindade) de Dus estava sobre ela. Voltaria a ser

    sagrada no ano seguinte quando Dus entregaria os Dez Mandamentos ao Povo

    de Israel sobre esta colina. (Pois a colina onde Mosh vira o arbusto ardente no

    era outra seno o Har Sinai -Monte Sinai).

    Dus disse a Mosh: "Escutei o Povo de Israel chorando por causa do

    duro trabalho no Egito. Vi que fizeram teshuv (arrependimento) em seus

    coraes. Vou libert-los. V ao fara e ordene-lhe: "Deixe partirem os judeus.

    Voc os guiar para fora do Egito."

    "Sou uma pessoa muito insignificante," protestou Mosh. "Por que

    haverias Tu, Dus, de eleger-me o lder que tirar os judeus do Egito? Elege um

    homem mais importante! Quem sou eu para que o fara me escute e me permita

    sair para a terra Santa? Pode estar furioso comigo por ter matado um egpcio

    pode at prender-me ou executar-me!"

    "No temas!" tranquilizou Dus a Mosh. "Estarei a teu lado para

    assegurar teu xito em liberar o Povo de Israel do Egito. Prometo que o fara

    no te far mal. Esta uma das razes por que te mostrei a sara ardente. Foi

    um sinal: assim como o arbusto no sofreu danos por causa do fogo, no sers

    prejudicado pelo fara."

    Mosh fez outra pergunta: "Se eu disser ao Povo de Israel que me

    ordenastes tir-los do Egito, no me acreditaro. Diro: Dus nunca apareceu

    para voc! No acreditamos em voc!"

  • 22

    Dus ficou irado com Mosh por no confiar nos judeus; por pensar que

    no lhe dariam crdito. Dus esperava que Mosh compreendesse que os judeus

    eram um povo santo que confiaria nele, pois havia aprendido de seu

    antepassado Yaacov e de Yossef, sobre o redentor que Dus enviaria.

    "Como temes que o Povo de Israel no confie em ti, dar-te-ei trs sinais",

    disse Dus a Mosh. "Estas sero as provas para o Povo de Israel de que foste

    enviado por Mim."

    O PRIMEIRO SINAL

    Dus perguntou a Mosh: "Que levas nas mos?"

    "Um cajado," disse Mosh.

    "Joga-o no solo!"

    Quando Mosh jogou o cajado, este se transformou em uma serpente.

    Mosh se assustou tanto com a perigosa serpente que se movia em sua direo

    que comeou a correr.

    Mas Dus ordenou-lhe: "Pega a serpente pela cabea!"

    Quando Mosh fez o que Dus lhe ordenava, a serpente transformou-se

    em cajado novamente. Era sem dvida um sinal maravilhoso que convenceria

    os judeus de que deveriam crer nas palavras de Mosh. Porm, Dus havia

    tambm escolhido este sinal para demonstrar a Mosh que estava aborrecido

    com ele, por haver falado mal de Bney Israel ao dizer: "No crero em mim!"

    Desse modo, Mosh havia agido como a serpente no Gan Eden (paraso) que

    havia falado lashon har (calnias) sobre Dus a Chava. Para que Mosh

    tomasse conscincia de seu erro, Dus utilizou uma serpente como primeiro sinal.

    O SEGUNDO SINAL

    Dus ordenou a Mosh: "Pe tua mo sobre o peito!"

  • 23

    Mosh ps a mo dentro da tnica. Quando a retirou, estava branca

    como a neve. Estava coberta da doena cutnea conhecida como tsaraat.

    Quando uma pessoa contra essa doena, a pele fica toda branca.

    Logo Dus ordenou a Mosh: "Coloca novamente tua mo dentro da

    tnica."

    Desta vez, quando Mosh a tirou, a mo estava com sua cor normal

    novamente.

    Dus disse: "O sinal de tua mo doente ser o sinal que mostrars ao

    Povo de Israel."

    Este sinal era uma nova prova de que Mosh no deveria ter falado

    sobre Bney Israel; "No me acreditaro!" Como Mosh havia falado mal dos

    judeus, Dus o havia castigado com uma enfermidade com que Dus castiga as

    pessoas que falam calnias.

    O TERCEIRO SINAL

    Dus deu a Mosh outro sinal para que mostrasse ao Povo de Israel.

    Disse-lhe: "Toma um pouco de gua do Rio Nilo e joga-a sobre o solo e se

    transformar em sangue."

    Mesmo depois de receber estes trs sinais do prprio Dus, Mosh no

    estava pronto para ir at o fara. "Meu irmo Aharon sentir-se- mal se eu me

    transformar no lder do povo judeu, e no ele! Ele um navi (profeta) a quem Tu

    tens falado e enviado mensagens ao povo judaico. No sou digno de comparecer

    perante o fara, pois tenho dificuldades para falar."

    Mas Dus insistiu que Mosh fosse o lder de Bney Israel. "Teu irmo

    Aharon te acompanhar na visita ao fara e ao povo de Israel," disse-lhe. "Ele

    falar diretamente com o fara. Tu falars lashon hakdesh (hebraico) e ele

    traduzir tuas palavras para o egpcio. Leva consigo o cajado, pois com ele fars

    milagres!

  • 24

    A SADA DO EGITO

    Sem sombras de dvidas, o xodo o evento mais comentado em todas

    as geraes desde a nossa sada do Egito. No obstante a esses fatos, podemos

    elencar uma mudana drstica na vida judaica a partir desse evento mpar da

    histria judaica. A identidade judaica que se encontrava em formao no Egito,

    se consolida a partir de nossa sada. No primeiro momento, um pequeno povo

    que desceu para o Egito, apenas 70 almas e posteriormente mais de 2.5 milhes

    pessoas saindo do Egito.

    Esse fenmeno s foi possvel primeiro pela infinita misericrdia do Dus

    e depois pela consolidao do pensamento e da identidade judaica, mesmo em

    um ambiente de assimilao e idolatria. Por isso se faz necessrio uma anlise

    mais apurada dos conceitos de identidade judaica e seus impactos na vida de

    Israel como um Estado-Nao dentro do Egito.

    Em 15 de Nissan, anualmente, celebramos o pessach ou a pscoa

    (literalmente passagem, em referncia a passagem do anjo da morte sobre a

    casa dos israelitas, no ceifando a vida de nossos primognitos), como incio de

    Israel como Estado-Nao.

    Na parash11 de Beshalach (Ex. 13.17-17.16) est o incio do relato de

    nossa sada do Egito e toda a pica descrio dos seus eventos e milagres. A

    partir da, at Cana, nosso povo passou 40 anos peregrinando at que toda a

    gerao que saiu do perecesse, com a exceo de Yehoshua e Caleb. Mais

    porque isso foi necessrio?

    Segundo os nossos sbios, para no contaminar a terra de Israel com o

    esprito de escravido e idolatria, pois, no saram somente os israelitas, mais

    saram Am haretz, gente de todas as naes que subiram ao Egito tambm

    foram libertos por Mosh. Essa erev rav (grande mistura) comprometia a sade

    espiritual de Israel. A partir da, at o recebimento da tor foram 50 dias,

    11 A torah dividida em 54 pores (parashiot), que so lidas nas sinagogas todo o sbado.

  • 25

    completando o ciclo de libertao de Israel, do fsico (sada do Egito) ao

    Espiritual (recebimento da Tor) no Har Sinai.

    PREPARANDO A ENTRADA EM CANA

    O povo judeu estava agora num local a sudoeste de Israel. Sabiam que

    em breve subiriam a montanha localizada na fronteira de Israel. Acotovelando-

    se animadamente, aproximaram-se de Mosh com um pedido. A nica tribo que

    no juntou-se multido foi a de Levy.

    "Deixe-nos enviar espies nossa frente," pediu o povo a Mosh, "para

    investigar a Terra. Aconselhar-nos-o sobre a rota a ser tomada. Tambm nos

    informaro quais cidades podem ser facilmente conquistadas, para que

    saibamos onde atacar primeiro."

    bvio que no necessitavam de espies para reconhecer a Terra. A

    Nuvem de Glria e a Arca de Dus viajavam na frente do povo. Preparavam o

    caminho para o povo, e indicavam para onde ir. Os judeus, portanto, citaram

    vrios argumentos a fim de convencer Mosh da necessidade de exploradores.

    "Dus prometeu levar-nos Terra repleta de tudo de bom e bens

    preciosos," disseram-lhe. "Antes de nossa chegada, os canaanitas com certeza

    escondero de ns todos os bens valiosos. Por isso, uma boa ideia enviar

    agentes secretos para observar os habitantes e investigar seus esconderijos

    secretos.

    "Mais que isso, Dus prometeu expulsar os habitantes de Cana aos

    poucos. Precisamos decidir quais cidades atacar e conquistar primeiro. Os

    espies tambm averiguaro a lngua nativa. Se soubermos sua lngua,

    podemos ser treinados para espion-los durante a guerra, a fim de descobrir

    suas estratgias.

  • 26

    O povo judeu, na verdade, queria enviar espies por causa das dvidas

    que rondavam sua cabea:

    1. Apesar de Dus ter-lhes assegurado que Israel era uma terra boa,

    ningum daquela gerao a tinha visto. No estavam convencidos de que a terra

    era especial o bastante para garantir uma guerra de grandes propores (a

    guerra da poca de Yehoshua durou sete anos). Os judeus queriam confirmao

    atravs de relatos de testemunhas oculares de que a Terra Prometida era de

    fato boa.

    2. Comparados aos numerosos e bem treinados exrcitos das sete

    naes que habitavam Cana, o povo judeu tinha apenas um punhado de

    guerreiros sem preparo algum. Como poderiam ousar enfrentar inimigo to

    temido em terreno desconhecido, sem saber exatamente seu nmero, o poderio

    de seu exrcito, e outros detalhes relevantes ao combate?

    Dus condenou o povo pela falta de f em Sua palavra, proclamando, por

    conseguinte, que aquela gerao no entraria em Israel. A Tribo de Levi, todavia,

    no requisitara espies, e nenhum espio desta tribo fora enviado,

    consequentemente, os leviyim entraram na Terra Prometida.

    Quando Mosh ouviu o pedido do povo, replicou:

    "Jamais darei um passo antes de consultar Dus. Concordarei apenas se

    Ele sancionar seu plano. Mosh perguntou ao Todo Poderoso: "Consentes em

    enviar espies Cana?"

    "Se voc assim o desejar," respondeu Dus, "no o impedirei. Todavia,

    Mosh, envie espies por voc mesmo, no por Mim."

    Quando o dono do vinhedo percebeu que a vindima estava indo muito

    bem e que as uvas daquela safra resultariam em vinho doce e delicioso, ordenou

    a seus trabalhadores: "Tragam todas as uvas ao meu celeiro!". Contudo, de outra

    vez, quando experimentou uvas de outra estao, percebeu que resultariam em

    vinho cido. Portanto, disse aos trabalhadores: "Podem levar todas essas uvas

    aos seus prprios celeiros!"

    Similarmente, Dus previu que os espies no dariam certo, "azedariam";

    por isso, no usou a frase: "Envie espies para Mim" (como dissera, por

  • 27

    exemplo, "Junte para Mim setenta homens; traga a Mim os leviyim"). Em vez

    disso, consentiu com as palavras: "Envie espies por voc mesmo."

    Apesar de Dus saber que os espies falhariam em sua misso e trariam

    punio a gerao inteira, no os proibiu de viajarem a Israel por diversas

    razes. Dentre elas:

    1. Se recusasse o pedido dos israelitas, poderiam supor que a Terra no

    era verdadeiramente to boa como Ele prometera. A profanao do Nome de

    Dus de acreditarem que o Todo Poderoso decepcionou-os era pior que a

    eventual punio da gerao.

    2. Apesar do Todo Poderoso prever todos os eventos futuros, Ele

    concede livre arbtrio a cada um. Apesar da exigncia dos judeus de enviar

    espies estar errada, os espies tinham a opo de trazer um relato positivo e

    tornar a misso um sucesso.

    De fato, Mosh consultou Dus no que concerne a cada espio

    individualmente, se tratava-se ou no de um Tsadik, e Dus confirmou acerca de

    cada um: "Ele um indivduo de valor." No princpio desta parash, os espies,

    so descritos como "anashim," homens distintos, indicando que quando

    principiaram sua misso, ainda eram todos virtuosos. Os doze homens

    escolhidos eram os doze melhores do povo. Quando Mosh informou aos judeus

    que Dus concordara com a empreitada, esperava que o povo respondesse que

    no necessitavam de espies. Afinal, o fato de que a permisso fora concedida

    significava que Israel deve ser uma boa Terra.

    Mosh tinha esperana de que sua aquiescncia dissuadisse o povo de

    insistir no pedido. Os sbios discorrem uma parbola: Algum quer comprar um

    asno, mas diz que quer primeiro test-lo. O vendedor, entusiasmado, concorda.

    "Posso lev-lo tanto para montanhas como para vales?" - pergunta o comprador.

    "Claro!" - responde o vendedor.

    Vendo que o vendedor estava to confiante na coragem e astcia do

    animal, o comprador decide que no tem nada a temer, e no faz o teste. Compra

    o asno e fica muito satisfeito. Da mesma forma, Mosh pensou que sua prontido

    em concordar com o pedido do povo o convenceria de que no havia nada a

  • 28

    temer. Ele estava errado; eles queriam ouvir sobre a Terra da boca de seus

    iguais. Assim, Mosh enviou os espies.

    O RETORNO DOS ESPIES

    Retorno dos Espies que se passou em 1312 AEC, despachados 40 dias

    antes por Mosh para fazerem uma vistoria na Terra Prometida voltaram ao

    acampamento de Israel no deserto, levando grande quantidade de uvas e outras

    frutas enormes e suculentas. Mas embora louvassem a fertilidade da terra,

    assustaram o povo com histrias de gigantes poderosos e guerreiros que ali

    habitavam, garantindo que a terra era inconquistvel. Com isso, todo Israel

    murmurou e se atemorizou. Criou-se o pnico e comearam a blasfemar contra

    Dus.

    Segundo a tor, essa srie de ms notcias produziu uma das maiores

    dificuldades a Mosh, segundo nossos sbios, foi esse fato que impossibilitou a

    entrada de Mosh Rabeinu de entrar em retz Israel, na Terra de Israel. Eles

    [os espies] trouxeram aos filhos de Israel um relato maldoso sobre a terra que

    tinham averiguado, dizendo: A terra que exploramos uma terra que consome

    seus habitantes. (Bamidbar 13:32).

    Segundo Rashi, o Rabi Shlomo Ben Itzahak mencionou no seu

    comentrio sobre essa passagem da tor, afirmando que Em todo lugar por

    onde passamos os achamos enterrando seus mortos! Porm, a verdade era que

    o Santo, Bendito seja, fez isso para o bem deles, para envolv-los (os habitantes

    de Cana) em luto a fim de desviar suas atenes dos espies..

    Por que a letra ayin (e) precede a letra p (p) (no alef-bet)? Por causa

    dos espies, que falaram daquilo que no viram (Sanhedrin 104b). E, mais

    importante, o que segue: Yossef disse aos seus irmos: Eu sou Yossef, meu

    pai ainda est vivo? Porm, seus irmos no foram capazes de responder-lhe

    porque estavam em choque (Bereshit 45:3).

    Ai de ns no dia do julgamento, e ai de ns no dia da repreenso. Yossef

    era a mais jovem das tribos, mas quando ele disse EU SOU YOSSEF! os

    irmos foram tomados pela humilhao por terem agido injustamente. Quando

  • 29

    Dus se revelar a cada um de ns, proclamando EU SOU HASHEM!,

    certamente seremos incapazes de responder e ficaremos profundamente

    envergonhados de ns mesmos. (Bereshit Raba 93:10). Os fatos relatados pelos

    espies a Cana trouxeram severos problemas ao nosso povo, conforme vimos

    acima descrito.

    A MONARQUIA

    O primeiro rei, Saul (cerca de 1020 AEC), governou durante o perodo entre a

    organizao tribal e o estabelecimento de uma monarquia plena com seu sucessor, David.

    O rei David (cerca de 1004 a 965 AEC) estabeleceu seu reino como uma grande potncia

    na regio atravs de expedies militares bem sucedidas, incluindo a derrota final dos

    filisteus, e atravs de uma rede de alianas amistosas com reinos vizinhos.

    Consequentemente, sua autoridade era reconhecida desde as fronteiras do Egito

    e do Mar Vermelho at as margens do Eufrates. Em sua terra natal, ele uniu as 12 tribos

    israelitas em um s reino e estabeleceu sua capital, Jerusalm, e a monarquia no centro da

    vida nacional do pas. A tradio bblica descreve David como poeta e msico, com versos

    atribudos a ele includos no Livro dos Salmos. David foi sucedido por seu filho Salomo

    (cerca de 965 a 930 AEC), que fortaleceu o reino.

    Atravs de tratados com os reis vizinhos, reforados por casamentos polticos,

    Salomo garantiu a paz para seu reino, igualando-o s grandes potncias da poca. Ele

    expandiu o comrcio exterior e promoveu a prosperidade nacional, desenvolvendo grandes

    empreendimentos, tais como a minerao do cobre e a fundio de metais; enquanto isso,

    construa novas vilas e fortalecia as vilas antigas, de importncia estratgica e econmica.

    O auge de suas realizaes foi a construo do Templo em Jerusalm, que se

    tornou o centro da vida nacional e religiosa do povo judeu. A Bblia atribui a Salomo o Livro

    dos Provrbios e o Cntico dos Cnticos.

    MONARQUIA DIVIDIDA

    O fim do reinado de Salomo foi marcado por descontentamento por parte da

    populao, que teve que pagar muito por seus ambiciosos planos. Ao mesmo tempo, o

    tratamento preferencial a sua prpria tribo irritava as outras, resultando em um crescente

    antagonismo entre a monarquia e os separatistas tribais. Aps a morte de Salomo (930

    AEC), uma insurreio aberta levou ao rompimento das dez tribos do norte e diviso do

    pas em um reino do norte, Israel, e um reino do sul, Jud este ltimo no territrio das

  • 30

    tribos de Jud e Benjamin. O Reino de Israel, com sua capital Samaria, durou mais de 200

    anos com 19 reis, enquanto o Reino de Jud foi governado a partir de Jerusalm durante

    400 anos pelo mesmo nmero de reis, da linhagem de David.

    A expanso dos imprios assrio e babilnio causou a dominao de Israel e,

    depois, de Jud. O Reino de Israel foi destrudo pelos assrios (722 AEC) e seu povo foi

    levado ao exlio e ao esquecimento. Mais de cem anos depois, a Babilnia conquistou o

    Reino de Jud, exilando a maioria de seus habitantes e destruindo Jerusalm e o Templo

    (586 AEC).

    PRIMEIRO EXLIO (586 A 538 AEC)

    A conquista da Babilnia ps fim ao perodo do Primeiro Templo, mas no cortou

    a conexo do povo judeu Terra de Israel. s margens dos rios da Babilnia, os judeus se

    comprometeram a recordarem sua ptria: Se eu me esquecer de ti, Jerusalm, esquea-

    se minha mo direita de sua destreza. Apegue-se-me a lngua ao cu da boca, se no me

    lembrar de ti, se eu no preferir Jerusalm minha maior alegria (Salmos 137:5-6).

    O exlio na Babilnia, que se seguiu destruio do Primeiro Templo (586 AEC),

    marcou o incio da dispora judaica. L, o judasmo comeou a desenvolver uma estrutura

    religiosa e um modo de vida fora da Terra, para assegurar a sobrevivncia nacional do povo

    e sua identidade espiritual, imbuindo-a com a vitalidade necessria para preservar seu futuro

    como nao.

    PERODO DO SEGUNDO TEMPO:

    O RETORNO A SIO (538 a 142 AEC)

    Aps um decreto do rei persa Ciro, conquistador do imprio babilnico (538 AEC),

    cerca de cinquenta mil judeus partiram pela primeira vez em direo Terra de Israel,

    liderados por Zorobabel, descendente da Casa de David. Menos de um sculo depois, o

    segundo retorno foi liderado por Esdras, o Escriba. Nos prximos quatro sculos, os judeus

    tiveram diferentes graus de autonomia sob governos persas (538 a 333 AEC) e helensticos

    (ptolemaico e selucida) (332 a 142 AEC).

    A repatriao dos judeus sob a inspirada liderana de Esdras, a construo do

    Segundo Templo no local do Primeiro Templo, a fortificao das muralhas de Jerusalm, e

  • 31

    o estabelecimento da Knesset Hagedolah (Grande Assembleia), o supremo rgo religioso

    e judicial do povo judeu, marcaram o incio do perodo do Segundo Templo. Dentro dos

    limites do Imprio Persa, Jud era uma nao liderada pelo sumo sacerdote e conselho de

    ancios em Jerusalm. Como parte do mundo antigo conquistado por Alexandre, o Grande,

    da Grcia (332 AEC), a Terra continuou a ser uma teocracia judaica, sob o domnio dos

    selucidas, baseado nos srios. Quando a prtica do judasmo foi proibida e seu Templo foi

    profanado, durante a imposio da cultura e costumes gregos a toda a populao, os judeus

    se rebelaram (166 AEC).

    DINASTIA DOS ASMONEUS (142 A 63 AEC)

    Primeiramente liderados por Matatas, da famlia sacerdotal dos

    Asmoneus, e depois por seu filho Jud, o Macabeu, os judeus entraram em

    Jerusalm e purificaram o Templo (164 AEC). Os dois eventos so

    comemorados todo ano pelo festival de Chanucah. Aps outras vitrias dos

    Asmoneus (147 AEC), os selucidas restauraram a autonomia da Judeia, como

    a Terra de Israel era ento chamada, e, com o colapso do reino selucida (129

    AEC), a independncia judaica foi alcanada. Durante a dinastia dos Asmoneus,

    que durou aproximadamente 80 anos, o reino recuperou fronteiras quase iguais

    s do reino de Salomo, alcanou a consolidao poltica sob o governo judeu e

    a vida judaica floresceu.

    Massada: Cerca de mil homens, mulheres e crianas judias, que tinham

    sobrevivido destruio de Jerusalm, ocuparam e fortificaram o palcio de

    Massada, do rei Herodes, no topo de uma montanha na regio do Mar Morto,

    onde resistiram durante trs anos a diversas tentativas romanas de desaloj-los.

    Quando os romanos finalmente escalaram Massada e derrubaram suas paredes,

    eles descobriram que os defensores e suas famlias haviam escolhido morrer por

    suas prprias mos, em vez de serem escravizados.

    DOMNIO ROMANO (63 AEC A 313 EC)

    Quando os romanos substituram os selucidas, passando a ser a

    grande potncia da regio, eles concederam ao rei Asmoneu Hircano II uma

  • 32

    autoridade limitada, subordinado ao governador romano de Damasco. Os judeus

    reagiram com hostilidade ao novo regime, e nos anos seguintes houve diversas

    insurreies. Matatias Antgono fez uma ltima tentativa de restaurar a antiga

    glria da dinastia dos Asmoneus; sua derrota e morte finalizou o governo dos

    Asmoneus (40 AEC), e a Terra tornou-se uma provncia do Imprio Romano.

    Em 37 AEC, Herodes, genro de Hircano II, foi nomeado rei da Judia

    pelos romanos. Com autonomia quase ilimitada sobre assuntos internos do pas,

    ele tornou-se um dos mais poderosos monarcas no Imprio Romano oriental.

    Grande admirador da cultura grecoromana, Herodes lanou um enorme

    programa de construes, que inclua as cidades de Cesareia e Sebaste e as

    fortalezas em Herdio e Massada. Ele tambm reformou o Templo, tornando-o

    uma das mais magnficas construes da poca.

    Mas apesar de suas realizaes, Herodes no conseguiu ganhar a

    confiana e o apoio de seus sditos judeus. Dez anos aps a morte de Herodes

    (4 AEC), a Judeia passou a ser governada diretamente pelos romanos. A

    opresso romana da vida judaica causou uma insatisfao crescente, resultando

    em episdios violentos espordicos que se transformaram em uma grande

    revolta em 66 EC.

    Foras superiores romanas, lideradas por Tito, acabaram vitoriosas,

    arrasando Jerusalm totalmente (70 EC) e derrotando at a ltima fortaleza judia

    em Massada (73 EC). A total destruio de Jerusalm e do Segundo Templo foi

    catastrfica para o povo judeu. De acordo com o historiador contemporneo

    Flvio Josefo, centenas de milhares de judeus faleceram durante a tomada de

    Jerusalm e no restante do pas, e outros milhares foram vendidos como

    escravos.

    Houve um ltimo e breve perodo de soberania judaica aps a revolta de

    Shimon Bar Kochba (132 EC), durante o qual Jerusalm e a Judeia foram

    reconquistadas. No entanto, dado o enorme poder dos romanos, o resultado era

    inevitvel. Trs anos depois, de acordo com os costumes romanos, Jerusalm

    foi "arada com uma junta de bois"; a Judeia foi renomeada Palestina e

    Jerusalm, Alia Capitolina.

  • 33

    Embora o templo tivesse sido destrudo e Jerusalm totalmente

    queimada, os judeus e o judasmo sobreviveram ao encontro com Roma. O

    rgo legislativo e judicirio supremo, o Sindrio (sucessor da Knesset

    Hagedolah) foi reunido em Yavneh (70 EC) e, mais tarde, em Tiberades. Sem a

    estrutura unificadora do Estado e do Templo, a pequena comunidade judaica

    restante se recuperou gradualmente, ocasionalmente fortalecida pela volta de

    grupos exilados.

    A vida institucional e comunal foi renovada, os sacerdotes foram

    substitudos por rabinos e a sinagoga tornou-se o foco das comunidades

    judaicas, como exemplificado pelos restos de sinagogas em Capernaum,

    Korazin, Baram, Gamla, etc. A Halach (a lei religiosa judaica) serviu como elo

    comum entre os judeus e foi passado de gerao a gerao.

    DOMNIO BIZANTINO (313 A 636)

    Ao final do sculo IV, aps o Imperador Constantino adotar o cristianismo

    (313) e a fundao do Imprio Bizantino, a Terra de Israel havia se tornado um

    pas predominantemente cristo. Igrejas foram construdas em locais sagrados

    cristos em Jerusalm, Belm e Galileia, e fundaram-se mosteiros em muitas

    regies do pas. Os judeus foram privados da autonomia relativa que tinham

    anteriormente, do direito de ocupar cargos pblicos, e foram proibidos de entrar

    em Jerusalm, exceto em um dia do ano (Tisha B'Av nove de Av) para

    lamentar a destruio do Templo.

    A invaso persa de 614 foi auxiliada pelos judeus, inspirados pela

    esperana messinica da libertao. Em troca de sua ajuda, eles receberam o

    governo de Jerusalm; esse perodo durou aproximadamente trs anos.

    Subsequentemente, o exrcito bizantino recuperou o domnio da cidade (629) e

    mais uma vez expulsou seus habitantes judeus.

  • 34

    DOMNIO RABE (636 A 1099)

    A conquista da Terra pelos rabes ocorreu quatro anos aps a morte de

    Maom (632) e durou mais de quatro sculos, com califas governando primeiro

    a partir de Damasco, depois de Bagd e do Egito. No incio, a colonizao

    judaica em Jerusalm foi retomada, e a comunidade judaica recebeu o status de

    dhimmi (no muulmanos protegidos), o que lhes garantia a vida, propriedade e

    liberdade de culto, em troca do pagamento de taxas e impostos territoriais

    especiais.

    No entanto, logo restries contra no muulmanos (717) afetaram a

    conduta pblica dos judeus, assim como suas prticas religiosas e seu status

    legal. A imposio de pesados impostos sobre terras agrcolas fez com que

    muitos se mudassem de reas rurais para as cidades, onde sua situao

    melhorou pouco; enquanto isso, o aumento da discriminao social e econmica

    forou muitos outros a deixar o pas. Ao final do sculo XI, a comunidade judaica

    na Terra tinha diminudo consideravelmente, tendo perdido parte de sua coeso

    organizacional e religiosa.

    CRUZADOS (1099 A 1291)

    Durante os 200 anos seguintes, o pas foi dominado pelos cruzados, que,

    atendendo a um apelo do Papa Urbano II, vieram da Europa para recuperar a

    Terra Santa dos infiis. Em julho de 1099, aps um cerco de cinco semanas, os

    cavaleiros da Primeira Cruzada e seu exrcito de plebeus capturaram

    Jerusalm, massacrando a maioria dos habitantes no cristos da cidade.

    Presos em suas sinagogas, os judeus defenderam sua regio, mas foram

    queimados vivos ou vendidos como escravos. Durante as dcadas seguintes, os

    cruzados ampliaram seu poder sobre o restante do pas, em parte por meio de

    tratados e acordos, mas principalmente atravs de sangrentas conquistas

    militares.

  • 35

    O Reino Latino dos Cruzados constitua-se de uma minoria

    conquistadora, confinada em cidades e castelos fortificados. Quando os

    cruzados abriram as rotas de transporte a partir da Europa, a peregrinao

    Terra Santa tornou-se popular e, ao mesmo tempo, um nmero cada vez maior

    de judeus procurava retornar sua terra natal. Documentos da poca indicam

    que 300 rabinos da Frana e da Inglaterra chegaram em um grupo, instalando-

    se em Acre (Akko), outros em Jerusalm.

    Aps a derrota dos cruzados pelo exrcito muulmano de Saladino

    (1187), os judeus ganharam novamente certa liberdade, incluindo o direito de

    viver em Jerusalm. Embora os cruzados tenham conseguido uma presena no

    pas aps a morte de Saladino (1193), sua presena limitava-se a uma rede de

    castelos fortificados. A autoridade dos cruzados na Terra terminou aps uma

    derrota final (1291) pelos mamelucos, uma casta militar muulmana que

    conquistara o poder no Egito.

    DOMNIO MAMELUCO (1291 A 1516)

    Sob o domnio dos mamelucos, a Terra tornou-se apenas uma provncia,

    governada a partir de Damasco. Acre, Jaffa, e outros portos foram destrudos

    por receio de novas cruzadas, e o comrcio martimo e terrestre foi interrompido.

    Ao final da Idade Mdia, as cidades do pas estavam praticamente em

    runas, a maior parte de Jerusalm estava abandonada, e a pequena

    comunidade judaica vivia na misria. O declnio do domnio mameluco foi

    marcado por revoltas polticas e econmicas, pragas, gafanhotos, e terremotos

    devastadores.

    DOMNIO OTOMANO (1517 A 1917)

    Aps a conquista otomana, em 1517, o pas foi dividido em quatro

    distritos, ligados administrativamente provncia de Damasco e governados de

    Istambul. No incio da era otomana, aproximadamente mil famlias judias viviam

    no pas, principalmente em Jerusalm, Nablus (Siqum), Hebron, Gaza, Safed

  • 36

    (Tzfat) e nas aldeias da Galileia. A comunidade era constituda por descendentes

    de judeus que sempre viveram na Terra, assim como imigrantes do norte da

    frica e da Europa.

    Um governo eficiente, at a morte (em 1566) do sulto Suleiman, o

    Magnfico, trouxe melhorias e estimulou a imigrao judaica. Alguns recm-

    chegados se estabeleceram em Jerusalm, mas a maioria foi para Safed, onde,

    em meados do sculo 16, a populao judaica havia aumentado para

    aproximadamente dez mil, e a cidade tornou-se um prspero centro txtil e um

    foco de intensa atividade intelectual.

    Durante esse perodo, o estudo da Cabala (misticismo judaico) floresceu

    e esclarecimentos da lei judaica, codificados no Shulchan Aruch, foram

    disseminados por toda a Dispora a partir das casas de estudo de Safed. Com

    um declnio gradual na qualidade do domnio otomano, o pas todo muito

    negligenciado. Ao final do sculo XVIII, grande parte da Terra pertencia a

    proprietrios ausentes, sendo arrendadas a agricultores empobrecidos, e a

    tributao era altssima e arbitrria. As grandes florestas da Galileia e do monte

    Carmel foram desmatadas; pntanos e desertos invadiam as terras agrcolas.

    O SIONISMO, O MOVIMENTO DE LIBERTAO NACIONAL

    DO POVO JUDEU

    O sionismo recebeu este nome a partir da palavra "Sio", sinnimo

    tradicional de Jerusalm e da Terra de Israel. A ideia do sionismo a redeno

    do povo judeu em sua ptria ancestral est enraizado na contnua saudade e

    profunda ligao Terra de Israel, que uma parte inerente da existncia judaica

    na Dispora atravs dos sculos. O sionismo poltico surgiu em resposta

    contnua opresso e perseguio de judeus na Europa Oriental e desiluso

    com a emancipao na Europa Ocidental, que no pusera fim discriminao

    nem levara integrao dos judeus nas sociedades locais.

    Sua expresso foi formalizada no estabelecimento da Organizao

    Sionista (1897), durante o Primeiro Congresso Sionista, reunido por Theodor

    Herzl em Basileia, Sua. O programa do movimento sionista continha elementos

  • 37

    ideolgicos e prticos para o incentivo do retorno dos judeus Terra, facilitando

    o renascimento social, cultural, econmico e poltico da vida nacional judaica e

    procurando tambm alcanar um lar reconhecido internacionalmente e

    legalmente garantido para o povo judeu em sua ptria histrica, onde no fossem

    perseguidos e pudessem desenvolver suas prprias vidas e identidade.

    TEMPOS MODERNOS

    Durante o sculo XIX, o atraso medieval foi aos poucos substitudo pelos

    primeiros sinais de progresso, com vrias potncias ocidentais procurando uma

    posio dominante, muitas vezes atravs de atividades missionrias. Estudiosos

    britnicos, franceses e americanos iniciaram estudos de arqueologia bblica; a

    Gr-Bretanha, a Frana, a Rssia, a ustria e os Estados Unidos abriram

    consulados em Jerusalm. Navios a vapor passaram a ter rotas constantes de e

    para a Europa; conexes postais e telegrficas foram instaladas; a primeira

    estrada ligando Jerusalm a Jaffa foi construda. O renascimento do pas como

    ponto de encontro comercial de trs continentes foi acelerado pela abertura do

    Canal de Suez.

    Consequentemente, a situao dos judeus do pas foi melhorando, e seu

    nmero aumentou substancialmente. Na metade do sculo, a superpopulao

    no interior das muralhas de Jerusalm levou os judeus a construrem o primeiro

    bairro fora das muralhas (1860), e, nos vinte e cinco anos seguintes, adicionaram

    mais sete, formando o ncleo da nova cidade.

    Em 1870, Jerusalm tinha uma maioria absoluta judia. Terras para a

    agricultura foram compradas em todo o pas; novos assentamentos rurais foram

    estabelecidos; a lngua hebraica, h muito restrita liturgia e literatura, foi

    reavivada. Era o estgio ideal para o incio do movimento sionista. Inspirados

    pela ideologia sionista, dois grandes fluxos de judeus da Europa Oriental

    chegaram ao pas no final do sculo XIX e incio do sculo XX. Determinados a

    restaurar sua ptria pelo cultivo do solo, esses pioneiros recuperaram campos

    estreis, construram novos assentamentos e formaram a base para o que se

    tornaria uma prspera economia agrcola.

  • 38

    Os recm-chegados enfrentaram condies extremamente difceis: a

    postura da administrao otomana era hostil e opressiva; comunicaes e

    transporte eram rudimentares e pouco seguros; nos pntanos havia a mortal

    malria; e o solo sofrera sculos de negligncia. A aquisio de terras era

    restrita, e a construo foi proibida sem uma licena especial, que s podia ser

    obtida em Istambul.

    Embora essas dificuldades tenham dificultado o desenvolvimento do

    pas, no o impediram. Com o incio da I Guerra Mundial (1914), a populao

    judaica na Terra era de 85.000, em comparao com os 5.000 do incio do sculo

    XVI. Em dezembro de 1917, foras britnicas, sob o comando do General

    Allenby, invadiram Jerusalm, terminando 400 anos de domnio otomano.

    A Legio Judaica, com trs batalhes formados por milhares de

    voluntrios judeus, era uma unidade essencial do exrcito britnico. Domnio

    britnico (1918 a 1948) Em julho de 1922, a Liga das Naes concedeu Gr-

    Bretanha o Mandato sobre a Palestina (nome pelo qual o pas era ento

    conhecido). Reconhecendo a ligao histrica do povo judeu com a Palestina,

    foi solicitado Gr-Bretanha que facilitasse o estabelecimento de um lar nacional

    judaico na Palestina e em Eretz Israel (Terra de Israel).

    Dois meses depois, em setembro de 1922, o Conselho da Liga das

    Naes e a Gr-Bretanha decidiram que as condies para a criao de um lar

    nacional judaico no valeriam para a regio leste do rio Jordo, que constitua

    trs quartos do territrio includo no Mandato e que acabou por se tornar o Reino

    Hachemita da Jordnia.

    IMIGRAO

    Motivados pelo sionismo e incentivados pela empatia britnica com as

    aspiraes judaicas sionistas, conforme comunicado pelo secretrio de

    Relaes Exteriores, Lord Balfour (1917), sucessivos grupos de imigrantes

    chegaram ao pas, entre 1919 e 1939, cada um contribuindo para diferentes

    aspectos do desenvolvimento da comunidade judaica. Cerca de 35.000 judeus

  • 39

    chegaram entre 1919 e 1923, principalmente da Rssia, e influenciaram muito o

    carter e organizao da comunidade durante anos.

    Esses pioneiros estabeleceram os alicerces de uma infraestrutura social

    e econmica abrangente, desenvolveram a agricultura, instalaram formas

    comunitrias cooperativas e nicas de assentamentos rurais kibutz e moshav

    e forneceram a mo de obra para a construo de casas e estradas. A onda

    seguinte, com aproximadamente 60.000 judeus, que vieram principalmente da

    Polnia entre 1924 e 1932, foi fundamental para o desenvolvimento e

    enriquecimento da vida urbana.

    Esses imigrantes se estabeleceram principalmente em Tel Aviv, Haifa e

    Jerusalm, onde abriram pequenos negcios, empresas de construo e

    indstrias leves. A ltima grande onda de imigrao antes da II Guerra Mundial,

    que incluiu aproximadamente 165 mil judeus, ocorreu na dcada de 1930, aps

    a ascenso de Hitler ao poder na Alemanha. Os recm chegados, muitos dos

    quais eram profissionais e acadmicos, constituram o primeiro grande grupo de

    imigrantes da Europa Ocidental e Central. Sua educao, habilidades e

    experincia aumentaram o padro dos negcios, refinaram as condies

    urbanas e rurais, e ampliaram a vida cultural da comunidade.

    A ADMINISTRAO DA TERRA

    As autoridades britnicas concederam s comunidades judaica e rabe

    o direito de administrarem seus prprios assuntos internos. Utilizando esse

    direito, a comunidade judaica, conhecida como Yishuv, elegeu (em 1920) um

    rgo auto governante com base em representao partidria, que se reunia

    anualmente para analisar suas atividades e eleger o Conselho Nacional (Va'ad

    Leumi) para implantar suas polticas e programas.

    Financiados por recursos locais e fundos angariados pelo judasmo

    mundial, uma rede nacional de servios educacionais, religiosos, sociais e de

    sade foi desenvolvida e mantida. Em 1922, conforme estipulado no Mandato,

    uma "agncia judaica" foi constituda para representar o povo judeu diante das

    autoridades britnicas, governos estrangeiros e organizaes internacionais.

  • 40

    DESENVOLVIMENTO ECONMICO

    Durante as trs dcadas do Mandato, a agricultura foi desenvolvida;

    fbricas foram estabelecidas; novas estradas foram construdas em todo o pas;

    as guas do rio Jordo foram represadas para a produo de energia eltrica; e

    o potencial mineral do Mar Morto foi aproveitado. A Histadrut (Federao Geral

    do Trabalho) foi fundada (1920) para apoiar o bem estar dos trabalhadores e

    criar empregos atravs do estabelecimento de empresas cooperativas no setor

    industrial, assim como servios de marketing para as colnias agrcolas.

    Trs movimentos clandestinos judeus ocorreram durante o perodo do

    Mandato Britnico. O maior deles foi a Haganah, fundada em 1920 pela

    comunidade judaica como uma milcia de defesa para a segurana da populao

    judaica. A partir de meados dos anos 1930, o movimento tambm foi responsvel

    por retaliaes aps os ataques rabes e respostas s restries britnicas

    imigrao judaica com demonstraes e sabotagem em massa.

    O Etzel, organizado em 1931, rejeitou o auto controle da Haganah e

    iniciou aes independentes contra alvos rabes e britnicos. O menor e mais

    militante dos grupos, o Lehi, foi criado em 1940. As trs organizaes foram

    dissolvidas com o estabelecimento das Foras de Defesa de Israel em junho de

    1948.

    CULTURA

    Dia aps dia, surgia uma vida cultural que se tornaria exclusiva para a

    comunidade judaica na Terra de Israel. Arte, msica, e dana se desenvolveram

    gradualmente com a criao de escolas e estdios profissionais. Galerias e salas

    forneceram espaos para exposies e espetculos, frequentados por um

    pblico exigente. A abertura de uma nova pea, o lanamento de um novo livro,

    ou uma exposio de retrospectiva de um pintor local eram imediatamente

    cobertos pela imprensa e tornaram-se objetos de animados debates em cafs e

    reunies sociais.

  • 41

    A lngua hebraica foi reconhecida como lngua oficial do pas, juntamente

    com o ingls e o rabe, e passou a ser usada em documentos, moedas e selos,

    assim como em programas de rdio. O mercado editorial aumentou, e o pas

    surgiu como centro mundial de atividade literria em hebraico. Teatros de vrios

    gneros abriram suas portas para o pblico, juntamente com tentativas iniciais

    de escrever peas originais em hebraico.

    O renascimento nacional judaico e o empenho da comunidade para

    reconstruir o pas encontraram fortes oposies por parte dos nacionalistas

    rabes. Seu ressentimento explodiu em perodos de intensa violncia (1920,

    1921, 1929, 1936 a 1939), quando ataques no provocados foram lanados

    contra a populao judaica, incluindo o Massacre de Hebron de 1929, o assdio

    no transporte judaico, e a queima de campos e florestas.

    Tentativas de dilogo com os rabes, realizadas no incio do movimento

    sionista, foram infrutferas, polarizando o sionismo e o nacionalismo rabe em

    uma situao potencialmente explosiva. Reconhecendo os objetivos opostos dos

    dois movimentos nacionais, a Gr-Bretanha recomendou (1937) a diviso do

    pas em dois Estados, um judeu e outro rabe, ligados por uma unio econmica.

    A liderana judaica aceitou a ideia da diviso e permitiu que a agncia

    judaica negociasse com o governo britnico para reformular os diversos

    aspectos da proposta. Os rabes foram intransigentemente contra qualquer

    plano de diviso. A continuao de grandes ataques rabes antissemitas levou

    a Gr-Bretanha (em maio de 1939) emisso de um Livro Branco, impondo

    restries drsticas sobre a imigrao judaica, apesar de, consequentemente,

    negar a judeus europeus um refgio da perseguio nazista.

    O incio da II Guerra Mundial pouco depois levou David Ben-Gurion,

    posteriormente o primeiro primeiro-ministro de Israel, a declarar: Vamos lutar na

    guerra como se no houvesse Livro Branco, e contra o Livro Branco como se

    no houvesse guerra.

  • 42

    HOLOCAUSTO

    Distintivo amarelo que os judeus foram forados a usar pelos nazistas

    Durante a 2 Guerra Mundial (1939 a 1945), o regime nazista executou um

    deliberado e sistemtico plano para liquidar a comunidade judaica da Europa.

    Nesse perodo, aproximadamente seis milhes de judeus, incluindo um milho e

    meio de crianas, foram assassinados.

    medida que os exrcitos nazistas varriam a Europa, os judeus eram

    selvagemente perseguidos, submetidos a tortura e humilhao, e levados para

    guetos, onde tentativas de resistncia armada causaram medidas ainda mais

    duras. A partir dos guetos, eles eram transportados para campos de

    concentrao, onde alguns, com mais sorte, eram submetidos a trabalhos

    forados, mas a maioria era executada em massa atravs de tiros ou cmaras

    de gs.

    Muitos no conseguiram escapar. Alguns fugiram para outros pases,

    alguns se juntaram aos guerrilheiros, e outros foram escondidos por no judeus,

    que arriscaram suas prprias vidas ao fazerem isso. Consequentemente, apenas

    um tero dos judeus sobreviveu, incluindo aqueles que haviam deixado a Europa

    antes da guerra, de uma populao de quase nove milhes, que outrora

    constitua a maior e mais vibrante comunidade judaica do mundo.

    Aps a guerra, a oposio rabe levou os britnicos a intensificar suas

    restries sobre o nmero de judeus com permisso para entrar e se estabelecer

    no pas. A comunidade judaica reagiu, instituindo uma ampla rede de imigrao

    ilegal para resgatar sobreviventes do Holocausto. Entre 1945 e 1948,

    aproximadamente 85.000 judeus foram trazidos Terra secretamente, por rotas

    muitas vezes perigosas, apesar do bloqueio naval britnico e patrulhas de

    fronteira preparadas para interceptar refugiados antes de chegarem ao pas.

    Aqueles capturados foram internados em campos de deteno na ilha

    de Chipre, ou forados a retornar para a Europa. Voluntrios judeus na 2 Guerra

    Mundial: Mais de 26.000 homens e mulheres da comunidade judaica da Terra

  • 43

    se ofereceram para juntarem-se s foras britnicas na luta contra a Alemanha

    nazista e seus aliados do Eixo, servindo no exrcito, fora area e marinha.

    Em setembro de 1944, aps um esforo prolongado da agncia judaica

    no pas e do movimento sionista no exterior para conseguir o reconhecimento da

    participao dos judeus da Palestina no esforo de guerra, a Brigada Judaica foi

    formada como uma unidade militar independente do