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AULA A CAMPO COMO FERRAMENTA METODOLÓGICA NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA: REFLEXÕES SOBRE O CURSO TeMA DA ESCOLA ESTADUAL ONZE DE MARÇO ALESSANDRA RAYANA DA CRUZ MATIAS Graduanda em Geografia na UNEMAT. Bolsista PIBID-GEO Email: [email protected] JOSIMARA DA SILVA FERNANDES Graduanda em Geografia na UNEMAT. Bolsista PIBID-GEO Email: [email protected] SEBASTIÃO DOS SANTOS Prof. da Rede de Educação em Mato Grosso. Colaborador do PIBID-GEO Email: [email protected] EMILENE MIRANDA PINTO Profa. da Rede de Educação em Mato Grosso INTRODUÇÃO A aula a campo tem sido entendida como uma ferramenta para aproximar o aluno da realidade e enriquecer a aprendizagem. Castrogiovanni et al (2011) acreditam que é na aula de campo que o aluno percebe e aprende vários aspectos (naturais, sociais, culturais, políticos e econômicos) que envolvem os temas estudados em sala de aula. Com o desenvolvimento da aula a campo busca-se aproximar os alunos da realidade estudada e, consequentemente, produzir conhecimento sobre o local analisado. Sendo assim, [...] é necessário que o professor faça uma discussão teórica do conteúdo antes de ir a campo com os alunos. Após escolha do lugar para a aula de campo, independente do seu objetivo, alunos e professores envolvidos devem buscar textos, fotos, imagens, mapas atuais, antigos, e informações em geral, que possam compor um acervo bibliográfico sobre o tema e o lugar a ser visitado. Pode ainda resgatar outros trabalhos já realizados, é um momento muito importante, pois tanto valoriza o conhecimento sistematizado, quanto abre possibilidades para críticas e superação de possíveis problemas no percurso da aula de campo. Vale salienta-se que a aula de campo

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AULA A CAMPO COMO FERRAMENTA METODOLÓGICA NO PROCESSO

DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA: REFLEXÕES SOBRE O

CURSO TeMA DA ESCOLA ESTADUAL ONZE DE MARÇO

ALESSANDRA RAYANA DA CRUZ MATIAS Graduanda em Geografia na UNEMAT. Bolsista PIBID-GEO

Email: [email protected]

JOSIMARA DA SILVA FERNANDES Graduanda em Geografia na UNEMAT. Bolsista PIBID-GEO

Email: [email protected]

SEBASTIÃO DOS SANTOS Prof. da Rede de Educação em Mato Grosso. Colaborador do PIBID-GEO

Email: [email protected]

EMILENE MIRANDA PINTO Profa. da Rede de Educação em Mato Grosso

INTRODUÇÃO

A aula a campo tem sido entendida como uma ferramenta para aproximar o

aluno da realidade e enriquecer a aprendizagem. Castrogiovanni et al (2011) acreditam

que é na aula de campo que o aluno percebe e aprende vários aspectos (naturais, sociais,

culturais, políticos e econômicos) que envolvem os temas estudados em sala de aula.

Com o desenvolvimento da aula a campo busca-se aproximar os alunos da

realidade estudada e, consequentemente, produzir conhecimento sobre o local analisado.

Sendo assim,

[...] é necessário que o professor faça uma discussão teórica do conteúdo antes de ir a campo com os alunos. Após escolha do lugar para a aula de campo, independente do seu objetivo, alunos e professores envolvidos devem buscar textos, fotos, imagens, mapas atuais, antigos, e informações em geral, que possam compor um acervo bibliográfico sobre o tema e o lugar a ser visitado. Pode ainda resgatar outros trabalhos já realizados, é um momento muito importante, pois tanto valoriza o conhecimento sistematizado, quanto abre possibilidades para críticas e superação de possíveis problemas no percurso da aula de campo. Vale salienta-se que a aula de campo

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não é um simples “consumo” uso do espaço para fins descartáveis, pode ser considerada como a construção contínua do conhecimento e do saber científico que fará parte da vida do aluno (CALLAI, 2001, p. 65).

Nesse sentido, busca-se no presente trabalho expor e discorrer sobre a aula a

campo desenvolvida com alunos do Ensino Médio Integrado ao Ensino

Profissionalizante (EMIEP), Técnico em Meio Ambiente (TeMA), da Escola Estadual

Onze de Março, em Cáceres-MT.

METODOLOGIA

Os procedimentos metodológicos utilizados para desenvolvimento da aula a

campo envolveu discussão sobre a base conceitual da Geografia, voltada para urbano,

rural, paisagens e lugar, considerados como conhecimentos necessários a serem

trabalhados em sala de aula. Esses assuntos também foram abordados, no decorrer do

semestre, nas disciplinas de Ecologia, Desenvolvimento Sustentável de Povos e

Comunidades e Gestão Ambiental, com turmas do 6º Semestre de TeMA (Técnico em

Meio Ambiente), da Escola Estadual Onze de Março, em Cáceres-MT.

Em seguida foi feito o reconhecimento dos locais visitados para verificar o nível

de dificuldade durante o percurso e indicar aos alunos os melhores equipamentos e

trajes a serem levados/utilizados e o que seriam observados, os pontos de parada durante

o percurso no itinerário. Assim, antes da saída a campo foi realizada uma reunião com

docentes e discentes envolvidos na aula campo, para apresentação do roteiro, objetivos,

horário e atitudes perante a comunidade e natureza; Nesse momento também foi

entregue aos participantes da aula a campo uma autorização, contendo informações

sobre o local, horários, itinerários, professores responsáveis e objetivos da aula a

campo, para ser assinada pelos participantes ou por seu responsável.

O local a ser visitado foi previamente definido pelos professores que

organizaram a aula a campo: o primeiro ambiente visitado seria uma trilha de

aproximadamente 4 km fora da rodovia MT 343, em meio ao Cerrado, localizada na

região da chapadinha, a trilha termina em um bloco de rocha (arenito) onde há as

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inscrições rupestres; o segundo local de visita seria a comunidade Nossa Senhora do

Carmo - Taquaral (comunidade tradicional), localizada na província serrana (morraria);

e o ultimo ponto de visita seria a dolina Água Milagrosa, localizada na Serra das Araras.

Ao final do trajeto percorreríamos aproximadamente 70 km, pela MT 343 e estradas

vicinais (figura 01).

Figura 01 – Itinerário dos locais que seriam visitados durante a aula campo

Durante o itinerário programou-se paradas para observação direta da paisagem,

discussão e socialização. Como avaliação foi proposta a socialização em sala de aula

para destaque dos pontos negativos e positivos e com ênfase ao desenvolvimento das

comunidades e exploração do Cerrado de forma sustentável e, também, como produto

final foi elaborado um relatório multidisciplinar por grupo de alunos.

Ressalta-se que essa aula a campo envolveu, tanto na organização, como no seu

desenvolvimento, a participação de professores e alunos das disciplinas de Geografia,

Ecologia, Desenvolvimento Sustentável de Povos e Comunidades e Gestão Ambiental,

como também as bolsistas PIBID-GEO que desenvolviam atividades no espaço da

Escola Onze de Março (CEOM).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O Ecossistema Cerrado

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O Cerrado é o segundo maior bioma do Brasil e possui a segunda maior

diversidade do planeta atrás apenas da Amazônia, com uma estimativa de que mais de

40% das espécies de plantas lenhosas sejam endêmicas (MMA, 2010). Ocupando uma

área de 204 milhões de hectares, com 12.000 espécies de plantas das quais 35% são das

áreas savânicas, 30% de florestas, 25% de áreas campestres e 10%, com duas estações

bem definidas: estação chuvosa entre os meses de outubro a abril e estação seca entre

maio e setembro (EMBRAPA, 2012).

Durante o percurso em uma trilha foram encontradas e identificadas pelos

alunos, em conjunto com os professores a bolsista do PIBID-GEO, 14 espécies do

Cerrado (Tabela 01).

Tabela 01 – Espécies identificadas ao longo da trilha.

Ordem Nome Comum Nome Cientifico

01 Abacaxi do cerrado (Ananás ananassoides)

02 Angico (Anadenanthera falcata)

03 Araticum (Annona crassiflora Mart);

04 Barbatimão (Dimorphandra mollis)

05 Bocaiuveira (Acrocomia aculeata)

06 Cagaita (Eugenia dysenterica Dc)

07 Cajuzinho (Anacardium humile)

08 Jatobá (Hymenaea stigonocarpa Mar)

09 Lixeira do Cerrado (Curatella americana L.)

10 Mamica de cadela (Brosimum gaudichaudii)

11 Mandacaru de facho (Pilosocereus azureos)

12 Mangabeira (Hancornia speciosa)

13 Murici (Byrsonima coccolobifolia Kunth)

14 Tucum (Astrocaryum vulgare)

A quantidade de variedades de espécies encontradas é devido à área ser

preservada e o período de visita coincidiu com a época de frutificação das espécies o

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que facilitou a identificação. Essas espécies são utilizadas pela população para fins

diversos, tais como: angico: utilizado como lenha e extração do tanino; araticum:

produz fruta comestível; barbatimão: utilizado em forma de chá para infecção; bocaiuva

consumo da polpa e castanha; cagaita: consumo da fruta ou suco; cajuzinho: consumo

da fruta e castanha; jatobá: a madeira é nobre e a casca, fruto e seiva são utilizados

como remédios; lixeira: as folhas são utilizadas como lixa na fabricação de artesanatos e

a madeira é utilizada na fabricação de pilão e gamelas; mamica de cadela: é utilizada

como remédio e a fruta é apreciada; mangaba: a fruta é consumida in natura e ou em

doces e o látex usado para impermeabilizar tecidos; e o murici: é utilizado em forma de

sucos ou sorvetes.

Apesar de o Cerrado ser um bioma com grande biodiversidade ainda é pouco

explorado, principalmente quando se pensa a exploração sustentável. Na verdade, o

Cerrado é visto pela maioria da população apenas como uma região produtora de grãos.

Durante o trajeto da aula a campo, paramos em vários pontos para apresentar aos

alunos conhecimentos sobre o lugar visitado, como também para que os alunos

conhecessem e explorassem a mata em busca de seus frutos ou espécimes. Buscava-se

com isso possibilitar aos alunos conhecer e relacionar a função dessas espécies no

artesanato e alimentação da fauna e homem, bem como discutir a ocupação

socioeconômica do cerrado (figura 02).

Figura 02 - Explanação sobre o Cerrado e a ocupação socioeconômica

Fonte: FERNANDES, 2013.

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Em relação a ocupação da região foi possível perceber que ela está baseada em

pequenas propriedades que utilizam a pastagem nativa para criação extensiva do gado,

pois o relevo é acidentado e solo pedregoso dificultando o seu uso para lavouras

comerciais, porem nas propriedades são feitas roças, baseada na agricultura familiar.

Sítios Arqueológicos: as Inscrições Rupestres

Os registros arqueológicos constituem-se em fragmentos materiais de atividades

humanas e a arte rupestre destaca-se, entre outros, pela estética, pela interpretação que

sugerem do espírito humano e, por serem de fato, evidências muito antigas,

sistematicamente registradas (ALVES, et. al., 2011).

Essas artes foram amplamente registradas por toda a região Centro-Oeste do

Brasil e estão associadas a abrigos e cavernas que eram utilizados por caçadores e/ou

coletores; os primeiros exploradores que transitavam na região tiveram que ter

profundos conhecimentos sobre os biomas em que estavam inseridos, pois disso

dependia o seu sucesso ou fracasso (AGUIAR e LIMA, 2012).

Na aula a campo conhecemos um local, próximo do sopé da Serra da

Piraputanga onde se encontra gravuras rupestres. Este local é um bloco de arenito, em

forma de taça com 17 metros de altura, o que proporciona abrigo em todo seu entorno, e

o piso é formado por blocos de concreto com mais de 1 metro de altura; as figuras tem

um padrão circular, com raios saindo do centro e outras mais simples, apenas círculos; o

local é de difícil acesso e encontra-se preservado, em suas proximidades há um pequeno

córrego intermitente. Observa-se que as gravuras estão dispostas em todo o entorno,

com um mesmo padrão de desenho, a uma altura que varia entre 1,7 a 2,5 metros.

(Figura 03)

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Figuras 03 - Gravura rupestres em blocos de arenito, na localidade Chapadinha

Fonte: FERNANDES, 2013.

Verificou-se que o local onde se encontra estas gravuras rupestres, localidade

Chapadinha, ainda não foi estudado de forma a identificar o grupo étnico que viveu na

região e utilizou essa área para coleta e caça fazendo as inscrições na pedra durante o

período de acampamento.

A Comunidade Nossa Senhora do Carmo – Taquaral

A comunidade Nossa Senhora do Carmo – Taquaral está localizada na MT 343,

no Km 24, na região da morraria, distante 30 km da área urbana. A Comunidade é um

povoado antigo e tradicional, antiga sesmaria, e foi fundada em 1911 pelos irmãos

Mendes, a partir da construção da igreja em uma área de 29 hectares.

Na Comunidade a população trabalha com a agricultura familiar, desenvolvendo

lavoura comunitária para a produção de banana, milho, mandioca, cana de açúcar,

abobóra, e criando pequenos animais (porcos, galinhas e patos) para autoconsumo;

além disso há uma cooperativa para produção de pães destinada à merenda escolar em

Vila Aparecida/Distrito de Cáceres.

Observou-se, em campo, que as casas das famílias da Comunidade Nossa

Senhora do Carmo foram construídas com materiais da própria região, as paredes de

madeiras colocadas na vertical e as taquaras dispostas na horizontal e amarradas com

cipó (esqueleto da construção), sendo os espaços preenchidos com barro (argila). Para o

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telhado usava-se palha de sapé, babaçu ou bacuri, sendo substituídos por telha colonial e

piso de argila compactada. No verão, estes tipos de casa favoreciam por terem

temperaturas internas confortáveis, mas havia alguns inconvenientes, principalmente

relacionados a manutenção periódica e riscos de incêndios nas palhas durante o período

de estiagem (figura 04).

Figura 04 - Casa de pau-a-pique construída com materiais da região e coberta com telha de

barro, não habitada. Fonte: FERNANDES, 2013.

Verifica-se que, na atualidade, essas casas estão sendo substituídas por tabuas,

cobertura de telha de amianto e piso de cimento, mas ainda há uma área coberta com

palha, para uso múltiplo. Além disso, percebeu-se também que a Comunidade preserva

o local do antigo cemitério, local onde seus entes queridos foram enterrados.

Em relação a questão religiosa verificou-se que a Comunidade mantém suas

tradições religiosas. Assim, todos os anos, no dia 16 de julho, é comemorada a festa de

Nossa Senhora do Carmo, ela envolve não só os sujeitos que residem dentro da

comunidade, mas também sujeitos externos a ela. Deste modo, são organizados vários

grupos que ficam responsáveis por desenvolver funções específicas para a realização da

festa; nela ocorre a cerimônia de levantamento do mastro e cururu com viola de cocho.

Essa festa acontece no espaço da Igreja da Comunidade, a qual é reconhecida e

preservada como patrimônio histórico (IPHAN) em função da sua data de criação 1856

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e do seu estilo arquitetônico colonial, com bancos e altar de madeira e sino de origem

europeia (LEITE, 2013).

Figura 05 - Igreja centenária tombada pelo IPHAN na comunidade Taquaral

Fonte: FERNANDES, 2013.

Observou-se que, como a Igreja não comporta todos os participantes do festejo

de Nossa Senhora do Carmo, a Comunidade realiza a cerimônia em uma área próxima,

ou seja, debaixo de uma tamarineira.

Ao final da aula a campo um ancião foi entrevistado; este narrou o modo como

os sujeitos que compõem a comunidade vivem; ele abordou várias questões

relacionadas a comunidade, focando principalmente as dificuldades do passado e as

vantagens dos dias atuais para a sobrevivência da vida na Comunidade (figura 06).

Figura 06 - Momento de Socialização e Troca de Conhecimento entre Alunos, Professores,

Bolsista PIBID e os sujeitos que compõem a Comunidade

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Fonte: FERNANDES, 2013.

Dolina Água Milagrosa

A Província Serrana, localizada na porção sudoeste do estado de Mato Grosso, é

a unidade morfoestrutural que mais se destaca na paisagem; consiste em um

alinhamento estrutural com mais de 300 km de extensão desde o Pantanal, ao sul, até o

Planalto dos Parecis, a norte (ALMEIDA, 1964). Nela se destaca a Serra das Araras, a

qual está localizada na borda sudeste da província Serrana, marcando a transição desta

com a Depressão Cuiabana e o Pantanal, inserida nos municípios matogrossense

Cáceres, Poconé e Porto Estrela (CORREIA, 2006).

Em Cáceres, a meia encosta da Serra das Araras formou-se uma dolina

conhecida como Dolina da Água Milagrosa. Esta dolina, após ser licenciada pelo

IBAMA, tornou-se ponto turístico para lazer e mergulho. Contudo, para se ter acesso a

ela tem-se que caminhar por trilhas e descer 152 degraus feitos de madeira até uma

plataforma. As escadas foram feitas de madeira para mitigar impactos no calcário e

preservar as paredes que são íngremes (figura 07).

Na Dolina o nível da água oscila entre os períodos chuvosos e de estiagem, no

período chuvoso o nível atinge um maior volume, com águas transparentes; já durante a

estiagem o calcário da rocha solta fragmentos muito fino que são depositados na

superfície da água, formando uma película.

Figura 07 - Dolina Água Milagrosa, na Serra das Araras

Fonte: FERNANDES, 2013.

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CONCLUSÃO

Diversificar as metodologias de ensino significa tornar a Geografia mais

reflexiva e crítica. O uso de estratégias metodológicas como a aula de campo permite

aguçar a curiosidade do grupo envolvido nessa atividade, além de unir conteúdos

escolares a realidade cotidiana desses sujeitos.

Constatamos, a partir da experiência vivida em campo, que os conteúdos

estudados previamente em sala de aula permitiram aos alunos vivenciar na pratica a

teoria, despertando maior interesse na compreensão dos conteúdos geográficos e

possibilitando um olhar crítico em relação ao ambiente visitado, logo, ao meio em que

vive. O que comprova a importância do desenvolvimento de aulas de campo associadas

às aulas teóricas para auxiliar os alunos na compreensão da realidade.

Enfim, conclui-se que a aula a campo é excelente recurso didático, tem a função

de proporcionar a contextualização da realidade, entendimento, e desenvolveu aos

alunos a criticidade, com a perspectiva de construção do conhecimento geográfico.

BIBLIOGRAFIA AGUIAR, R. L.; LIMA, K. M. A arte rupestre em cavernas da região noroeste de mato grosso do sul: discussões preliminares. In: Espeleo-Tema. Campinas/SP: SBE, v. 23, nº. 02, 2012. ALMEIDA, F. F. M. Geologia do centro-oeste mato-grossense. In: Boletim da Divisão de Geologia e Mineralogia. Rio de Janeiro: DNPM, v. 215, 1964. ALVES, T. L.; BRITO, M. A. M. L.; LAGE, M. C. S. M. Pigmentos de Pinturas Rupestres Pré-Históricas do Sítio Letreiro do Quinto, Piauí: Quim. Nova, vol. 34, No. 2, 181-185, 2011. CALLAI, H. C. A Formação do Profissional da Geografia. Ijuí: UNIJUÍ, 2001. CORREIA, D. Caracterização, Cronologia e Gênese das Tufas da Serra das Araras - Mato Grosso. Dissertação de mestrado apresentado ao programa Pós-Graduação do Departamento de Geografia da Universidade Federal de Minas Gerais. 2006.

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EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA (EMBRAPA). Cerrado Disponível em: http://www.cpac.embrapa.br/unidade/ocerrado. Acesso em 02 de fevereiro de 2014. MARTINS, J. S. Situações Práticas de Ensino e Aprendizagem Significativa. Campinas/SP: Autores Associados, 2009. SANTOS, S. J. Estudando e Conhecendo a Pré- História. Campina Grande: ed. 2005. SERVIÇO FLORESTAL BRASILEIRO: Serviço Florestal Brasileiro Florestas do Brasil em resumo - 2010: dados de 2005-2010.Brasília: SFB, 2010. Disponível em: http://www.florestal.gov.br/index.php?option=com_k2&view=item&task=download&id=98 Acesso em 02 de fevereiro de 2014.