Aula 6 weber - Estado e Relações de Poder - UFABC

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1 Max Weber – Sociologia moderna: Individualista, racionalista e relativista Prof. Giorgio Romano 6a aula http://tidia.ufabc.edu.br:8080/ Membership: Prof. Giorgio Romano

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Max Weber – Sociologia moderna:

Individualista, racionalista e relativista

Prof. Giorgio Romano6a aula

http://tidia.ufabc.edu.br:8080/Membership: Prof. Giorgio Romano

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• Kant 1724-1804 1789 Revolução Francesa • Hegel 1770-1831 1871 unificação da Alemanha• Marx 1818-1883 1914 – 1918 A Grande Guerra 1917 Revolução Russa• Max Weber 1864-1920

Max Weber – século 19/20Max Weber – século 19/20

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Contra a política de Guilherme II naGrande Guerra (responsabilizar peladerrota) Contra a revolução dos espartaquistas(1918) Participou da comissão de redação daConstituição de Weimar (1919) Assessorou o governo na negociação de pazem Versalhes (1919)

Weber a sua épocaWeber a sua época

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Preocupação Weber: marcar suas diferençascom as interpretações que buscam causasexternas para o processo examinado e comqualquer concepção que envolva ideaisde progresso ou evolução objetiva dodecurso histórico.

Weber reconhece a dimensão material daprodução e da distribuição de riquezas, masenfatiza também os significados militar, política,cultural e, sobretudo religiosa, para explicar adominância inconteste do Ocidente.

Weber ao idealismo/ materialismo Weber ao idealismo/ materialismo históricohistórico

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Contra interpretação idealismo:

importância de fatores econômicos,

materiais para explicar os processos em

exame

Contra interpretação materialista:

não há hierarquia entre as várias esferas (rejeição

noção determinismo econômico)

Weber a o idealismo/ materialismo Weber a o idealismo/ materialismo históricohistórico

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Para Weber não há uma linha unívoca nem

um curso objetivamente progressivo no

interior da História =>

Não é possível encarar um período histórico

como se nele estivesse já configurada a

época seguinte (que partiria do pressuposto das

mesmas causas operando ao longo do tempo em

diferentes configurações históricas)

Weber ao idealismo/ materialismo Weber ao idealismo/ materialismo históricohistórico

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Não se pode presumir que a realidade socialempírica tomada como um todo tenha uma ordeminterna e leis gerais capazes de impor a qualquerpesquisador a simples busca de fidelidade a ela. (não se trata de reproduzir em idéias uma ordemobjetiva já dada) Não há uma seqüência causal única eabrangente na história e toda a causa apontadapara um determinado fenômeno será uma entremúltiplas outras possíveis e igualmente acessíveisao conhecimento científico.

Weber a o idealismo/ materialismo Weber a o idealismo/ materialismo históricohistórico

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1ª compreender por interpretação atividade/ ação social2ª explicar de forma causal seu desenvolvimento e seusefeitos. Atividade/ ação – sentido subjetivo = sentido que lheatribuem os atores/ agentes + intersubjetivo = levar emconta a resposta de meus parceiros que tenho condições deprever Ponto de partida é sempre a ação do indivíduo.Porque? Porque não se pode presumir a existência já dadade estruturas sociais dotadas de um sentido intrínseco (umsentido independente daqueles que os indivíduosimprimem às suas ações) => o agente individual é a únicaentidade capaz de conferir sentido às ações

Método WeberianaMétodo Weberiana

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Ex. compreensão do Estado:

não se pode atribuir ao Estado qualquer realidadesubstantiva fora das ações concretas dos indivíduospertinentes.

a sociedade/ o Estado não podem ser analisadas comouma realidade substancial (espiritual ou material)

Método WeberianoMétodo Weberiano

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“Racionalismo” significa a forma, culturalmentesingular, de como uma civilização específica e,também os indivíduos, que constituem sua formade pensar e agir a partir desses modelos culturais,interpreta o mundo. Isso implica, antes de tudo,que não existe definição “universal” possívelacerca do que é “racional” ou do que seja“racionalidade”. A forma como a racionalidadevai ser definida em cada sociedade específicadepende, desse modo, da matriz civilizacional aqual essa sociedade particular pertença.

Método Weberiano: racionalismo Método Weberiano: racionalismo sociológicosociológico

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Racionalismo sociológico: sentido de nossas ações édeterminado em relação às nossas intenções/ expectativasreagindo às intenções/expectativas dos outros (se referesempre a uma matriz cultural específica) Racional = combinar meios e fins avaliar as eventualidades que se lhes apresentam

Necessário diferenciar1) intenções/ motivações individuais dos atores e 2) efeito agregado de sua ação no plano social e cultural. Obs. A proposta não é reduzir as condutas sociais aosentido subjetivo que os atores lhe atribuem, mas entenderemergência de tipos sociais =>

Método Weberiano: racionalismo Método Weberiano: racionalismo sociológicosociológico

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Empirismo weberiano:Procedimentos metódicos do pesquisador: “ordenaçãoracional da realidade empírica” => atribuir uma ordem aaspectos selecionados daquilo que se apresenta àexperiência como uma multiplicidade infinita defenômenos =>Tipo Ideal conceito básico para a análise histórico-social enfatizar determinados traços da realidade concebê-los na sua expressão mais pura e consequenteObs. jamais se apresenta assim nas situações efetivamenteobserváveis (reflete ideia sobre os fenômenos construídosno pensamento do pesquisador)

Método Weberiano: Tipo IdealMétodo Weberiano: Tipo Ideal

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Tipo idéias (livres das interferências de elementos nãopertinentes à ação): Construção de orientação na realidadeempírica e meio para a elaboração de hipóteses =>baseado no fato empírico que existem regularidades naação social.

Ação coletiva = múltiplos indivíduos agemsignificativamente de maneira análoga.Mas “relação social” só pode ser pensada em termos deprobabilidade.

Método Weberiano: Tipo idealMétodo Weberiano: Tipo ideal

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Tipo ideal: representação hipotéticaMix de a) relações sociais abstratas (objetivo/ restrição/ recursosdos atores) – ação social e b) contexto de conjuntura histórica

Mesma realidade => pluralidade de tipos/ interpretações

Importância histórica de um acontecimento: avaliaçãoretrospectiva de probabilidade (avaliar a adequação de umtipo ideal) = probabilidade de que os acontecimentos sedesenrolassem da forma como efetivamente sedesenrolaram

Método Weberiano: Tipo IdealMétodo Weberiano: Tipo Ideal

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Validação de uma ordem: incorporação pelos agentes deuma regra orientadora da sua conduta aceita como legítima(ex. Estado)

Tipo ideias de fundamentos da legitimidade:1) autoridade do passado, costumes santificados, hábito

(path dependency) 2) carisma: dons pessoais extraordinários de um

indivíduo3) validade de um estatuto legal/ competência positiva

(obediência a lei)

Método Weberiano: Ex. Tipo IdealMétodo Weberiano: Ex. Tipo Ideal

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não há natureza das coisas ou dos homens fundamento valores: a sociedade que os reconhece e os

sanciona

Mas liberdade de escolha tem contrapartida naresponsabilidade

Relativismo de valores: valores são assumidos pelos atorese a partir daí são submetidos a dupla exigência:1) legitimação (devem ser fundamentadas) e 2) realização (inserção dos valores num sistema

normativo eficaz (não são preferências arbitrárias)

RelativismoRelativismo

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Neutralidade: como regra de procedimento

Pode levar a cinismo e indiferença? Não é necessário condenar/ aprovar para

compreender/ explicar Mesmo condenando, é valido perguntar o que

significa para os atores e como as coisas chegaram ao ponto => esforço de explicação independe do julgamento moral.

NeutralidadeNeutralidade

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Postura correta do cientista: analisar os fatos conforme asexigências do metido científico objetividade doconhecimento nas ciências sociaisPostura na política: ação voltada para as questões práticas/tomar decisões impulsionadas por interesses e valores emdisputa => ciência não pode propor fins à ação prática (podeavaliar a conveniência de certos meios propostos para seatingirem fins dados ou estimativa do que deverá sersacrificado para se atingir o objetivo de forma proposta)

Em outras palavras: ciência empírica não está apta aensinar a ninguém aquilo que deve, mas apensa aquilo quepode.

Neutralidade: diferenciar ciência e Neutralidade: diferenciar ciência e políticapolítica

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Objetividade do conhecimento:

Conhecimento empírico x juízos de valor

Ciência deve ser isenta de pressupostos

A validade do conhecimento obtido se mede peloconfronto com o real e não com quaisquer valores ouvisões do mundo

Neutralidade e objetividadeNeutralidade e objetividade

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Objeto de estudo de Weber : pesquisa socialempírica preocupação com o caráter peculiar de uma

configuração cultural e com suas causas identificar os elementos que tenham um caráter

mais geral e possam ser encontrados em outras épocas e outros lugares.

=> análise comparativa: não para buscar o que é comum a várias ou todas as configurações históricas, mas o que é peculiar a cada uma delas.

Pesquisa social empíricaPesquisa social empírica

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Grande tema de estudos é busca daquilo que éespecífico ao mundo ocidental: o capitalismomoderno e o processo de racionalização daconduta de vida da qual ele é expressão. Racionalidade ocidental: “racionalismo dadominação do mundo” => a natureza externa vaiser percebida como algo a ser explorado pelohomem e não como algo que possua valor em si(lógica instrumental meio-fim) =>A gênese do espírito capitalista: “passagem doromantismo das aventuras econômicas para aconduta racional da vida econômica”.

Gênese do capitalismoGênese do capitalismo

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Estado (autoridades) exercia controle sobre a gestão dos

negócios.

Ex. grandes sociedades coloniais como estágio precursor

da sociedade anônima moderna:• Governo participou da administração exercendo

controle• faltava o cálculo moderno (balanço/ inventário anual)• não havia livre transferência das ações

Pré-capitalismoPré-capitalismo

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Mercantilismo – política monopolista:

comércio concessionário monopolizado e

vinculado pelo poder político ao pagamento

de importantes prêmios.

Ex. no período dos Stuarts (séc 17) novas

indústrias vinculadas a concessões régias e

providas de privilégio monopolista. Como o

surgimento do capitalismo liberal esses

monopólios fiscais acabaram-se.

Mercantilismo Mercantilismo

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1) Apropriação de todos os meios de produção, como propriedade livre por empresas industriais ou comerciais privadas e autônomas.

2) Liberdade de mercado (ex sem restrições “irracionais” da circulação de mercadorias)

3) Técnica racional (mecanizada e calculável)

4) Direito racional (judiciária e administração calculáveis)

Gênese do capitalismo: elementos Gênese do capitalismo: elementos chaveschaves

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5) Trabalho livre. Livre como condição jurídica, mas de fato obrigadas a vender sua força de trabalho no mercado.

6) Comercialização da economia: uso generalizada da forma de títulos de valor (de renda ou de valor): bens patrimoniais assumem a forma de títulos de valor transferíveis.

Pergunta do Weber: “Se esse desenvolvimento

somente ocorreu no Ocidente, então há de se

procurar o motivo disso em determinados traços

da sua evolução cultural geral”.

Gênese do capitalismo: elementos Gênese do capitalismo: elementos chaveschaves

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Existência do estado no sentido moderno (constituição; funcionários especializados; direito de cidadania)

Direito racional (juristas que interpretam e aplicam racionalmente)

Noção do cidadão Ciência racional/ técnica racional Seres humanos com um ethos racional da

condução de vida (fundamento religioso) mentalidade racional

Gênese do capitalismo: précondiçõesGênese do capitalismo: précondições

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Burguesia como categoria de classe com

interesses econômicos específicos peculiar ao

Ocidente.

Cidade como associação comunal não existiu fora

do Ocidente: direito e tribunal próprio administração própria e autonomia participação das cidadãos da eleição dessa

administração

Por quais as razão de não existiram fora do

Ocidente? “É muito duvidoso que essas razões fossem de

natureza econômica”

Gênese do capitalismo: précondiçõesGênese do capitalismo: précondições

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Em seguida surgimento do Estado nacional. Poder

dos estados nacionais concorrentes que se

encontravam em constante luta (pacífica ou

guerreira) pela hegemonia => essa luta

competitiva criou oportunidades para o

capitalismo ocidental-moderno.

Cada estado concorreu individualmente para atrair

capital livre => aliança do estado com o capital =>

burguesia nacional. É o estado nacional

consolidada que garante ao capitalismo as chances

de permancer.

Gênese do capitalismo: Gênese do capitalismo: Estado nacionalEstado nacional

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Estado racional tem sua base no

funcionalismo especializada e no direito

racional =>

Burocracia weberaiana: baseadas no

conhecimento técnico e no não

-envolvimento político do funcionário

Superação:

1) pressupostos mágicos

2) discricionariedade de juízes

Gênese do capitalismo: Gênese do capitalismo: Estado racionalEstado racional

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Houve “gigantesca acumulação de riquezas

dentro do velho continente” , mas “importância

pequena para o desenvolvimento do capitalismo

moderno” => não fomentou a maneira especificamente

ocidental de organização de trabalho não ofereceu oportunidades de escoamento de

produção oferecidas às indústrias nacionais escravatura pouca significância para a

organização econômica européia

Gênese do capitalismo: Gênese do capitalismo: importância do colonialismo?importância do colonialismo?

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Fundamental: carvão e ferro superação barreiras dadas pelas limitações

inerentes ás matérias orgânicas => ampliação da produção para dimensões antes totalmente inconcebíveis

liberação da produção dos limites orgânicos da produção

produção se vincula com a ciência e se emancipa da dependência da tradição

Gênese do capitalismo: Gênese do capitalismo: importância carvão e ferro?importância carvão e ferro?

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Desenvolvimento indústria nova a partir do

Exército:• uniforme =>industria têxtil• canhões e projéteis => indústria de ferro• navís de guerra => nova indústria

Mas: não foi o elemento singular decisivo para o desenvolvimento do capitalismo moderno (comparação com grandes exércitos na China que não estimularam desenvolvimento capitalista) => guerra como suporte e não fator decisivo

Gênese do capitalismo: Gênese do capitalismo: importância exercito?importância exercito?

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No caso do luxo:

a democratização do luxo “é o ponto de virada

decisivo para o capitalismo” (venda em massa)

=> nova lógica especificamente capitalista: obter lucro mediante o barateamento da produção e oferta por preço menor => busca de invenções (racionalização da técnica e da gestão com o objetivo de baixar os custos)

Gênese do capitalismo: Gênese do capitalismo: importância consumo de luxo?importância consumo de luxo?

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organização racional do trabalho organização empresarial eliminação entre “economia interna” (moral interna)

e “economia externa” (moral externa)

Dupla moralidade típico do tradicionalismo:para dentro: compromisso com a tradição,relação piedosa falta absoluta de freios para oimpulso aquisitivo nas relação voltadas para fora X impessoalidade capitalismo

Obs “nenhuma convicção ético-religiosa consegue impedir por muito tempo a entrada do capitalismo”

Peculariedade capitalismo ocidental?Peculariedade capitalismo ocidental?

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capitalismo irracional (aventureiro): orientado em oportunidades fiscais, coloniais emonopólios estatais (mercantilismo)

capitalismo racional: orientado paraoportunidades de mercado procurados de maneiraautomática, dentro do sistema, em virtude dopróprio desempenho comercial (empresariadosurgida independentemente do poder estatal)

Gênese do capitalismo racionalGênese do capitalismo racional

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1904/1905 A Ética protestante e o “espírito” docapitalismo (1920 nova edição)1904 viagem para os EUA

“Espírito” do capitalismo = cultura capitalistamoderna (conduta de vida) e não o capitalismocomo sistema econômico (modo de produção)

Protestantismo e Ética capitalistaProtestantismo e Ética capitalista

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Constatação empírica:

Maior participação de protestantes na propriedadede capital e nos postos de direção; no ensinosuperior; e na opção pelos estudos funcionais àlógica do capitalismo. Ainda verificou que oartesanato protestante cria maior propensão apassar para operariado qualificado.

Estudo da relação puritanismo x capitalismo => congruência estaria no fato de que sãocompatíveis. “afinidade entre certos princípiosconceituais importantes para a regulaçãoracional da conduta e o modo de pensarprotestante”.

Protestantismo e capitalismoProtestantismo e capitalismo

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Diferença entre magia e religiosidadeReligiosidade mágica é tradicionalista econservadora: não implica em internalizaçãoética. Os fins almejados são pragmáticos, nãoético-religiosos A magia sacraliza o mundocotidiano como ele é.

Concepção ativa da graça dos protestantes,que deu a forma moral ao espírito deempreendimento capitalista x concepçãopassiva da graça, própria do povo humildecatólico.

Protestantismo e capitalismoProtestantismo e capitalismo

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“vocação” luterano (palavra incluída na tradução

alemã feita por Lutero da Bíblia) => trabalho na

terra passa a ser encarado como chamado divino.

Trabalho antes percebido como humilhante e

indigno, coisas de servos e gente sem valor, passa

a significar a maneira por excelência de cumprir

os mandamentos divinos na terra =>

reconhecimento social e a auto-estima individual

passam a estar ligados diretamente ao trabalho.

Protestantismo e capitalismoProtestantismo e capitalismo

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“O Ethos econômico gerou-se na base do idealascético; mais tarde foi despojado de seu sentidoreligioso.” rejeição do materialismo histórico: refutar a

ideia de uma determinação das diversasesferas da vida social pela econômica

as várias esferas da existência (econômica,religiosa, jurídica, cultural etc) são autônomasem si e se articulam em cada momento e aolongo do tempo conforme a sua lógica interna

específica (a análise dessas relações só é possível com referência à ação individual (na qual se cruzam as esferas).

Protestantismo e capitalismoProtestantismo e capitalismo