Aula 10 - Panorama Dos Cultos No Brasil
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8/18/2019 Aula 10 - Panorama Dos Cultos No Brasil
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Panorama dos cultos no Brasil
Aula preparada por: Vinicius Couto
APRESENTAÇÃO
Até o presente momento pôde ser estudado o desenvolvimento histórico do
culto cristão e é possível ter ideia de que o culto protestante atual tem mais herança
nos reformadores do que na Igreja Primitiva. A presente aula pretende abordar os
principais estilos de culto no Brasil e a principal bibliografia de base será a obra de Paul
Basden, Estilos de Louvor ,1 com subsídios de outra obra organizada pelo mesmo autor,
Adoração ou Show? , a fim de ampliar o tema.
OBJETIVOS
Conhecer, de forma panorâmica, os principais estilos de culto praticados no
cenário evangelical brasileiro.
CULTO LITÚRGICO
A princípio, o nome que Basden dá a esse estilo cúltico parece entonar certa
ambiguidade, pois culto e liturgia são sinônimos em suas etimologias. Todavia,
conforme constatar-se-á mais adiante, neste estilo de culto prevalece a ênfase na
adoração e no sacramentalismo, razões suficientes para rotular esse culto com a
específica nomenclatura.
Basden afirma que o culto litúrgico é o mais “tradicional” de todos os estilos e
que ele reivindica as mais antigas heranças, cujas raízes estão fixadas no solo patriarcal
e medieval da igreja, além de valorizarem a organização estrutural e o planejamento
ordenado e a precisão de tudo o que ocorrerá nos cultos.2 As principais igrejas
litúrgicas presentes no Brasil são a Católica, as Ortodoxas, a Anglicana e a Luterana.
1 Basden adota cinco estilos de culto. O presente ensaio se delimitará a três, visto que são os que estão
incorporados na cultura brasileira, a saber: o culto litúrgico, o tradicional e o avivado. Os outros doisabordados por Basden são o Louvor & Adoração e o Facilitador. O primeiro deles se encaixacompletamente no conceito de avivado e o segundo, além de não ter um grupo que o representeexpressivamente no Brasil, também acaba se encaixando no conceito de avivado. Portanto, apenas
aqueles três serão apresentados nesta aula.2 BASDEN, Paul. Estilos de Louvor: descubra a melhor forma de culto para a sua igreja . São Paulo: MundoCristão, 2000, p. 45.
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O culto litúrgico supervaloriza a reverência e é altamente contemplativo e possui
uma característica de adoração centrada na majestade divina, priorizando a ordem em
detrimento do ardor. O propósito do culto litúrgico é levar a comunidade adoradora a
se curvar diante da transcendentalidade de Deus, vislumbrando Seu poder e grande
glória. Entretanto, o vislumbre do poderio e da glória divina não são “sentidas”, masapenas contempladas, pois nesse estilo, a imanência divina não recebe ênfase alguma.
As músicas refletem esse mesmo pensamento e são mais tradicionais, com o uso
preferencial de hinos antigos.
Maldonado e Fernández explicam que a “liturgia é o principal lugar de
manifestação da vida e da fé da igreja, como expressão contemplativa e como
experiência gozosa.”3 É também na liturgia que “se experimenta e se realiza o mistério
da Igreja ao nascer do lado de Cristo”, razão pela qual a Igreja não cessa de contemplar
o mistério de Cristo. A contemplação, nessa visão, estende a fruição da presença de
Deus para a totalidade da vida.4
Contemplação, de acordo com o Dicionário de Mística, é o ato de examinar por
longo tempo com admiração. A palavra deriva de cum, que significa conjunto,
comunhão, indicando simultaneidade e união; e de templum, que quer dizer espaço
celeste, espaço circunscrito pelo céu, alcançado pelo olhar. As duas palavras juntas
significam habitar no espaço celeste.5
Na teologia católico-romana, a liturgia possui outro aspecto inerente. Trata-se da
visão espiritual mistagógica, isto é, que se preocupa com a iniciação dos mistérios dareligião e a fazer compreender o que os sacramentos significam para a vida. Nesse
ínterim, Mondoni diz que “a liturgia não é a ocasião de apresentar uma ideia à atenção
dos participantes, ou para oferecer-lhes um exemplo moralizante, mas é o momento
apropriado para entrar em contato com o mistério salvífico de Deus, o mistério de
Cristo, chamado a transformar nossas vidas”.6
O culto litúrgico é, ainda, altamente formal e sacramentalista. A eucaristia não é
apenas um ritual mecânico, mas uma prática espiritual com a capacidade de reter e
obter a graça divina, chegando a ser vista como uma espécie de “transfusão espiritual”da graça de Deus. A visão sacramental pode variar de algo objetivo, corpóreo e
tangível do divino (como na tradição católica) a um símbolo espiritual, invisível,
intangível e até mesmo indefinível (na tradição protestante).
3 MALDONADO, L.; FERNÁNDEZ, P.. A liturgia no Mistério da Igreja. In: BOROBIO, Dionísio (Org.). ACelebração na Igreja. São Paulo: Loyola, 1990, pp. 268,269,275.4 KEATING, Thomas. O Mistério de Cristo: a liturgia como experiência espiritual . São Paulo: Loyola, 2005,
p. 180.5 BORRIELO, L. Dicionário de Mística. São Paulo: Paulus / Loyola, 2003, p. 261.6 MONDONI, Danilo. Teologia da Espiritualidade Cristã. São Paulo: Edições Loyola, 2002, p. 144.
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Zhal chama o presente culto estudado de “adoração litúrgica formal” e diz que
este é embasado na verticalidade bíblica. Segundo ele, este culto “deve ser conduzido
de acordo com um formato previamente estipulado” e “não é montado à medida que
vai acontecendo”, excluindo qualquer manifestação de improviso. A visão
transcendentalista também pode ser vista nas palavras de Zhal que enxerga o cultocomo sendo “do alto para baixo, olhando para o alto.”7 Calvalcanti reforça o fator
planejado do culto litúrgico, chamando-o de “culto no livro”, por se basear num
calendário eclesiástico e em um manual litúrgico.8
A Igreja Anglicana é orientada pelo Livro de Oração Comum e sua liturgia é
“centrada na encarnação, vida, morte, ressurreição de Jesus Cristo e derramamento do
Espírito Santo”.9 Maraschin descreve que liturgia é a “reunião do divino com o humano
na plenitude da beleza”, sendo Deus a Beleza última. O encontro humano com a
Beleza produz alumbramento e êxtase.10
Na maioria dos casos, os sermões, seguindo a linha de uma ordem de culto
estabelecida, planejada e precisa, seguem o calendário litúrgico e gira em torno de
grandes temas, tais como Advento, Quaresma, Páscoa e Pentecostes. Basden explica
que nesse sentido, o sermão “tende a ser mais intelectual do que emocional, tendo um
apelo mais social do que evangelístico.”11
Basden avalia que o modelo de culto litúrgico possui vantagens na
teocentralização da adoração, principalmente “nesses dias em que Deus é
transformado em algo trivial e marginalizado por igrejas voltadas apenas para osinteresses seus ‘consumidores’”. A visão transcendental evoca no adorador um senso
de temor e alta reverência.
Todavia, analisando os pontos fracos, ele chega à conclusão de que o foco
excessivo na majestade divina pode obscurecer a misericórdia e suplantar a graça em
sua expressão mais imanente, acabando por descambar num formalismo morto e num
mero ritual religioso, com um Deus aparentemente inacessível. Dessa forma, Baden
até acha que o culto litúrgico está com os dias contados, visto que não é adaptável aos
gostos das novas gerações que estão se levantando.
12
7 ZHAL, Paul. Adoração na Liturgia Formal . In: BASDEN, Paul (Org.) Adoração ou Show? Críticas e defesas
de seis estilos de culto. São Paulo: Vida, 2006, pp. 25-27.8 CAVALCANTI, Robinson. A Igreja, o País e o Mundo: desafios a uma fé engajada. Viçosa: Ultimato,2000, pp. 30-31.9 Liturgia: Ação Conjunta do Povo de Deus - Roteiro para Estudo de Certos Aspectos da Liturgia.
Confeclero da Diocese Sul-Ocidental, 1994.10
MARASCHIN, Jaci. A Beleza da Santidade - Ensaios de Liturgia . São Paulo: ASTE, 1996, pg. 10.11 BASDEN, Paul. Op. Cit., p. 54.12 Ibid, pp. 57-58.
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CULTO TRADICIONAL
O culto tradicional é apontado por Basden como aquele que possui certo grau de
formalidade, embora menor do que no culto litúrgico. Ele mantém a ordem planejada
e estruturada, entretanto, com menor apelo à transcendentalidade, ao estilo
contemplativo e para o sacramentalismo. Seu enfoque está numa adoração voltada
para a gratidão ao Criador e ao ouvir da Palavra de Deus.
Esse estilo de culto tem sua origem na segunda fase da Reforma, através das
contribuições de Calvino, Zwinglio e dos movimentos reacionários da Inglaterra através
dos puritanos, dos separatistas e vai romper com alguns preceitos cúlticos preparados
por Lutero e Cranmer em suas respectivas estruturações e planejamentos.13
Num primeiro momento, pode-se citar a visão eucarística defendida por Calvino.
Lutero defendia a visão da consubstancialidade em oposição à transubstancialidadecatólica e Zwinglio discordou das duas, adotando a Ceia como um memorial da obra de
Cristo no Calvário.
Calvino adota uma visão intermediária, crendo que a presença de Deus está na
eucaristia, porém, de forma espiritual,14 além de acrescentar a interpretação de que a
Ceia era uma ferramenta para a aplicação da disciplina na Igreja. Por isso, ele
enfatizava um intenso período de auto-exame antes do adorador participar dos
elementos eucarísticos.
Calvino também passou a ser mais rigoroso quanto à liturgia musical. Para ele,no culto deveriam ser apenas usados apenas os salmos. Ele era um adepto da
exclusividade da salmodia, uma ideia pouco defendida ainda nos dias de hoje.
Portanto, hinos não deveriam ser usados.
Ele também era rigoroso quanto aos instrumentos. Órgão não podia ser usado
nos cultos, senão em casa. Num passado próximo, muitas igrejas que adotam o culto
tradicional também proibiam uma série de instrumentos, tais como guitarra, baixo,
bateria e, ao contrário do que ensinava Calvino, permitiam o órgão.15 Atualmente, os
instrumentos musicais no culto cristão está em uso crescente.16
Atualmente os cultos tradicionais não se limitam aos Salmos, mas também usam
hinos, hinetos e corinhos, os quais caracterizam a principal fonte de louvor
congregacional. O conteúdo hinológico é expressivo. Eles destacam a transcendência e
a imanência divina e exaltam a bondade de Deus. Beste argumenta que esses hinos
13 Ibid, pp. 59-63.
14 CALDAS, Carlos. Fundamentos da Teologia da Igreja. São Paulo: Mundo Cristão, 2007, p. 41.
15
Apesar do uso de instrumentos no culto público ser realizado na maioria das igrejas, ainda existemlíderes batistas e presbiterianos que são contra essa prática.16 WHITE, James. Introdução ao Culto Cristão. São Leopoldo: Sinodal, 1997, p. 86.
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são capazes de equilibrar a objetividade da natureza de Deus e a subjetividade daquele
que está adorando.17
Atualmente também se usa, nos cultos tradicionais, musicas contemporâneas e
gospel . Entretanto, isso varia entre as denominações e mesmo assim, são escolhidas
com muita cautela através de uma análise do conteúdo doutrinário. Eles não usam
pessoas para ministrarem algo durante os cânticos e evitam qualquer ênfase ao
emocionalismo e manipulação verbal.
Em relação à pregação, Calvino exigia que os cultos semanais incluíssem a
pregação exegética, isto é, uma mensagem que visava explicar e aplicar um texto
específico das Escrituras. A ideia de Calvino nada mais é do que a adoção
contemporânea do que se chama de pregação expositiva, um método que será mais
amplamente discutido numa aula posterior, mas que é vastamente utilizado nos cultos
tradicionais contemporâneos.18
Outros contribuintes para a formação do atual estilo tradicional de culto, foram
os puritanos e os separatistas. Eles davam grande ênfase no biblicismo e eram contra
uma ordem fixa do culto e a adoção de elementos impressos, como orações e a
sequencia do culto. Eles também criticavam a roupagem utilizada pelos padres e pelos
clérigos anglicanos.
Cavalcanti chama o culto tradicional de “culto do livro” e explica que este estilo é
altamente didático, reduzida a uma reunião despojada, de cunho docente. Ele critica
esse estilo dizendo que o culto é uma aula a mais, que complementa as Escolas
Dominicais, seminários e outros e chama o culto tradicional de aula magna. Ao invés
de adoradores, Cavalcanti diz que os participantes se veem mais como “eternos
aprendizes.”19
Basden avalia que esse culto possui como ponto forte a capacidade de equilibrar
o intelecto com as emoções e a subjetividade com a objetividade, sendo
“suficientemente formal para manter a dignidade e informal o bastante para aquecer o
coração.” Dessa forma, a visão que o adorador tem de Deus é que Ele é
“simultaneamente bom e grande, santo e ajudador, supremo e acessível.”20
O ponto fraco recai sobre a inibição de participação e expressão do adorador
quanto ao que sente e ao desejo de exaltar publicamente ao Deus que está adorando,
impedindo assim, as reações espontâneas que brotam do coração, costume mais
corriqueiro em cultos de outro estilo que será abordado mais adiante. Para os que
17 BEST, Harold. Adoração Tradicional com Hinos. In: BASDEN, Paul (Org.) Op. Cit., pp. 68-78.
18
ÁLVAREZ, Juan. El Culto Cristiano: origen, evolución, actualidad . Barcelona: Clie, 2002, p. 106.19 CAVALCANTI, Robinson. Op. Cit., pp. 31-32.20 BASDEN, Paul. Op. Cit , p. 67.
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preferem mais liberdade no culto, o estilo tradicional pode parecer morno ou até frio,
na concepção de quem está acostumado com mais liberdade de expressão.
O culto tradicional também enfrenta o desafio de contextualizar seu estilo com a
camada mais jovem do cristianismo. Por adotar um culto mais centrado na exposição
da Escritura e de seus significados, além de usar cânticos mais antigos, a classe mais
presente e que prefere esse estilo é inevitavelmente a de pessoas mais maduras e a de
idosos. Os jovens, conforme aponta Basden, tendem a achar esse estilo “muito inerte e
previsível.”21
As principais denominações brasileiras que se enquadram nesse estilo de culto
são a Presbiteriana, Batista, Metodista, Congregacional, Igreja do Nazareno e
Assembleia de Deus. Entretanto, é preciso fazer uma ressalva. As duas primeiras
denominações não possuem mais uma unicidade denominacional. Existem vários
presbiterianos e vários batistas. Os tradicionais desse grupo seriam os presbiterianosda IPB (Igreja Presbiteriana do Brasil)22 e os batistas da CBB (Convenção Batista
Brasileira).
Metodistas e Nazarenos são mais tradicionais em algumas regiões do Brasil e
principalmente nos EUA. Assembleianos são tradicionais apenas na adoção dos hinos
da harpa, pois o desenrolar do culto, por completo, caracteriza outro estilo infracitado.
Há, ainda, entre a característica tradicional, um aspecto erudito que centraliza todo o
desenvolvimento do culto em torno da pregação, que é chamado de “liturgia
homilética”.23
CULTO AVIVADO
O culto avivado não é completamente anti-litúrgico, isto é, não é desprovido de
ordem e planejamento. Ele é caracterizado por um clima entusiástico e que causa
impacto direto na emoção dos fiéis. As pessoas “sentem” a presença de Deus nos
momentos de adoração (seja no louvor, na oração ou na pregação da Palavra).
Ademais, outro objetivo do culto avivado é a preocupação com a evangelização.
Basden explica que o culto avivado tem suas origens nos dois primeiros grandes
despertamentos do século XVIII-XIX. O estilo mais simples, de linguagem coloquial,
aberto para emoções e com inovações no campo do louvor, da oração pública e do
21 Ibid, p. 68.
22
A liturgia da IPB pode ser vista através de um documento oficial aprovado pelo Supremo Concílio em1951, disponível em: http://www.executivaipb.com.br/site/constituicao/principios_de_liturgia.pdf 23 FREDERICO, Denise. A música na igreja evangélica brasileira. Rio de Janeiro: MK, 2007, p.119.
http://www.executivaipb.com.br/site/constituicao/principios_de_liturgia.pdfhttp://www.executivaipb.com.br/site/constituicao/principios_de_liturgia.pdfhttp://www.executivaipb.com.br/site/constituicao/principios_de_liturgia.pdfhttp://www.executivaipb.com.br/site/constituicao/principios_de_liturgia.pdf
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apelo, foram fatores preponderantes para o desenvolvimento do culto designado
como avivado.24
Pode-se dizer que o culto avivado é oriundo da influência mesclada do pietismo
alemão, dos irmãos morávios da Boêmia, dos puritanismo inglês, do metodismo
britânico, do evangelicalismo de Finney e Moody, do movimento de santidade e do
pentecostalismo clássico. Tendo em vista a diversidade de movimentos no espaço de
dois séculos, os estilos do culto avivado também variam muito. Basta ver quais são as
principais denominações deste estilo no Brasil.
As principais denominações brasileiras que estão inseridas no estilo de culto
avivado são pentecostais (Assembleia de Deus, Brasil para Cristo, Deus é Amor, Casa
da Bênção, etc) e neopentecostais (Renascer, Bola de Neve, Sara Nossa Terra,
Ministério Internacional da Restauração, Mundial do Poder de Deus, Internacional da
Graça de Deus, Universal do Reino de Deus, Plenitude do Trono de Deus, etc), além debatistas independentes, batistas da convenção Nacional, presbiterianos avivados e
metodistas wesleyanos e a várias Igrejas do Nazareno na América-Latina.
Os dois grandes despertamentos inovaram na pregação, trazendo uma
linguagem menos erudita e mais coloquializada para os participantes. Inovaram na
oração, através do uso de nomes pessoais enquanto eram realizadas, inovaram nos
apelos (para salvação e necessidades pessoais) e inovaram, conforme aponta Basden,
na musicalidade. Os hinos deram lugar a uma expressão mais contemporânea da
música e trouxeram novos ritmos. O louvor também passou a ser um aquecimentopara a pregação da Palavra.25
Cavalcanti faz uma abordagem mais crítica em relação a esse estilo cúltico e diz
que ao passo que a emoção passa por uma ginástica cerebral a fim de ser contida no
culto tradicional, no culto avivado ela é não só permitida, mas explosiva. A fé, nesse
contexto, é mais do que entendida e sim, sentida. Ela se abre para experiências e até
para o misticismo, sendo válidos, portanto, expressões como lágrimas, tremores,
expressões corporais, catarses e suspiros.26 Essa seria uma versão pentecostal culto
avivado.
Em sua versão neopentecostal, ele desdobra em mais dois formatos: um para os
pobres e outro para os classe média e para os ricos. O primeiro caso (pobres), o
formato pentecostal é mantido, mas a pregação e a música mostram uma mensagem
triunfalista e cuja psicologia faz um discurso de auto-ajuda capaz de levantar o ego e a
auto-estima de qualquer cidadão. Cavalcanti chama esse culto de espetacular, que
24
BASDEN, Paul. Op. Cit , pp. 72-75.25 Ibid, p. 76.26 CAVALCANTI, Robinson. Op. Cit., pp. 32-33.
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trabalha sob a ideia de responder às necessidades do aqui e agora. O espetáculo
acontece em cima do sensacionalismo para as curas e para as sessões de exorcismo.27
No segundo caso (classe média e rica), o culto é direcionado para o formato de
um show, onde as pessoas andam elegantes, cheirosas e esplendorosas. A mensagem
é curta e sem profundidade, com uma paz interior de que Deus salvou o rico. Ele pode
continuar sua peregrinação para a Disney e participar do que Cavalcanti chama de
poslúdio alegre, celebrado com a eucaristia de uma pizza ou um bigmac.28
O estilo avivado é o estilo das massas. A maior fatia da população evangélica está
inserida em denominações que seguem esse estilo de culto. O estilo avivado dividiu
denominações históricas e é possível ver batistas e presbiterianas avivadas hoje no
Brasil. Até o catolicismo já aderiu a uma reforma litúrgica em um de seus sub-grupos, o
movimento chamado de Renovação Carismática.29
O carismatismo católico foi tão influenciado pelo evangelicalismo, que os padres
imersos no movimento pregam de forma semelhante aos pastores, os cânticos são
voltados para uma adoração mais pessoal, à semelhança da música gospel, além de ter
cantores famosos, desde padres a leigos. Eles também estão fortes na TV e pela
internet. Dias critica essa inovação, alegando que
Em nome de um espírito de novidades muitos clérigos se sentiram
com plena liberdade para reinventar. Na missa incorporaram-sebaterias e guitarras no lugar do órgão e do canto gregoriano; o
ascetismo deu lugar ao bater de palmas e embalos musicais. Tudo
isso constituiu os chamados abusos litúrgicos, antes quase
impensáveis no rito tridentino.30
Apesar das críticas austeras de Cavalcanti (e algumas delas são bem
fundamentadas – aquelas relacionadas com a teologia da prosperidade e a ênfase em
experiências extravagantes), o culto avivado tem seus pontos positivos. Basdenenumera alguns. A atitude informal e o clima vibrante convidam os adoradores a
27 Ibid, p. 34.28 Ibid., p. 33.29
DAMASCENA, Andreia; MEDEIROS, Katia. Fronteiras e Intercâmbios: práticas e valores noPentecostalismo, na Renovação Carismática e nas Comunidades Eclesiais de Base . In: Cadernos CERIS,
Ano 1, n° 2, 2001, pp. 7-10.30 DIAS, Juliano Alves. Sacrificium Laudis: a hermenêutica da continuidade de Bento XVI e o retorno aocatolicismo tradicional (1969-2009). São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010, p. 77.
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participarem mais de perto, a música estimula a emoção, a pregação desafia a vontade
e estimula a evangelização.31
Todavia, o culto avivado normalmente deixa a desejar em duas áreas: a primeira
é o enfoque exacerbado na emoção e no empirismo. Experiências exóticas e
extravagantes passam pelo bizarro em algumas comunidades. Além disso, a ênfase em
bênçãos, vitória e na experiência, parece limitar o assunto dos sermões, fazendo-os
entrar num ciclo de repetitividade, aparentando não tratar de outra coisa.32
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O culto cristão no Brasil é caracterizado por uma vasta diversidade de estilos e é
um enorme desafio que haja unidade em meio a essa grande diversidade. Cavalcanti
acha que o culto protestante deve ser mais católico, inserindo mais de sua bilenartradição; deve ser mais brasileiro, incorporando mais da cultura tupiniquim; e deve ser
mais culto, isto é, mais focada na adoração, com devoção, temor, respeito e
contemplação.33
Realmente é preciso haver uma contextualização mais efetiva, entretanto, não
vem ao caso a catolização do protestantismo, a menos que isso seja melhor definido,
visto que Cavalcanti deixou a questão muito aberta. Em linhas gerais, a teologia
católica é mais divergente do que convergente e por isso essa resistência imediata. A
questão cultural passa pela mesma situação. Obviamente que no sentido decontextualização, a incorporação é bem-vinda, mas, alguns elementos considerados
como cultura não se enquadram no cristianismo.
De fato, os desafios são visíveis e urgem por uma análise e resposta. Todavia,
esses desafios serão melhor desdobrados na quarta unidade dos estudos, quando
serão abordados os desafios da igreja no cenário pós-moderno e seus desafios
relacionados para com a pregação e a musicalidade, bem como para com a missão da
Igreja.
BIBLIOGRAFIA
ÁLVAREZ, Juan. El Culto Cristiano: origen, evolución, actualidad . Barcelona: Clie, 2002.
BASDEN, Paul (Org.) Adoração ou Show? Críticas e defesas de seis estilos de culto. SãoPaulo: Vida, 2006.
31
BASDEN, Paul. Op. Cit , pp. 78-79.32 WILLIANS, Don. Adoração Carismática. In: BASDEN, Paul (Org.) Op. Cit., pp. 157-161.33 CAVALCANTI, Robinson. Op. Cit., p. 37.
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BASDEN, Paul. Estilos de Louvor: descubra a melhor forma de culto para a sua igreja.São Paulo: Mundo Cristão, 2000.
BOROBIO, Dionísio (Org.). A Celebração na Igreja. São Paulo: Loyola, 1990.
BORRIELO, L. Dicionário de Mística. São Paulo: Paulus / Loyola, 2003.
CALDAS, Carlos. Fundamentos da Teologia da Igreja. São Paulo: Mundo Cristão, 2007.
CAVALCANTI, Robinson. A Igreja, o País e o Mundo: desafios a uma fé engajada.Viçosa: Ultimato, 2000.
DAMASCENA, Andreia; MEDEIROS, Katia. Fronteiras e Intercâmbios: práticas e valoresno Pentecostalismo, na Renovação Carismática e nas Comunidades Eclesiais de Base.In: Cadernos CERIS, Ano 1, n° 2, 2001.
DIAS, Juliano Alves. Sacrificium Laudis: a hermenêutica da continuidade de Bento XVI eo retorno ao catolicismo tradicional (1969-2009). São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.
FREDERICO, Denise. A música na igreja evangélica brasileira. Rio de Janeiro: MK, 2007.
KEATING, Thomas. O Mistério de Cristo: a liturgia como experiência espiritual . SãoPaulo: Loyola, 2005.
Liturgia: Ação Conjunta do Povo de Deus - Roteiro para Estudo de Certos Aspectos da
Liturgia. Confeclero da Diocese Sul-Ocidental, 1994.
MARASCHIN, Jaci. A Beleza da Santidade - Ensaios de Liturgia. São Paulo: ASTE, 1996.
MONDONI, Danilo. Teologia da Espiritualidade Cristã. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
WHITE, James. Introdução ao Culto Cristão. São Leopoldo: Sinodal, 1997.