Aula 09 - Disciplinarização da comunicação

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A disciplinarização da Comunicação Jacques Wainberg (PUCRS), Giovandro Marcus Ferreira (UFBA),Maria Immacolata Vassalo de Lopes (USP),Fernando Passos (Unicamp) Debate traz diferentes posições sobre o estatuto disciplinar ou (in)disciplinar da comunicação. Questões tácitas: A ciência resulta de condições históricas de produção e é ela também um produto.h i Disciplinas são domínios de conhecimento já consolidados, campos científicos que já estabeleceram uma tradição.

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A disciplinarização da ComunicaçãoJacques Wainberg (PUCRS), Giovandro Marcus Ferreira (UFBA),Maria Immacolata Vassalo de Lopes (USP),Fernando Passos (Unicamp)

Debate traz diferentes posições sobre o estatuto disciplinar ou (in)disciplinar da comunicação.

Questões tácitas:A ciência resulta de condições históricas de produção e é ela também um produto.hiDisciplinas são domínios de conhecimento já consolidados, campos científicos que já estabeleceram uma tradição.

A disciplinarização da ComunicaçãoEstudos ou campos interdisciplinares referem-se à emergência de novas temáticas que passam a ser investigadas a partir do referencial das áreas já constituídas.

Os estudos da comunicação se originaram do aporte de diversas disciplinas, uma vez que as práticas comunicativas se transformaram em objeto de estudos de outras ciências.

O cruzamento de tais contribuições diz da natureza interdisciplinar que marca os estudos da comunicação. Alguns autores buscam distinguir interdisciplinaridade e transdisciplinaridade.

A disciplinarização da ComunicaçãoSem entrar nessa distinção polêmica, talvez

seja mais importante refletir sobre os usos que fazem de determinados modelos de produção de conhecimento do que categorizar disciplinas, uma vez que os estudos comunicativos proliferam em diferentes filiações teóricas. (França e Braga)

Wainberg e a geopolítica como disciplina comunicacional

É necessário repensar o Brasil a partir de sua estrutura tecnológica comunicacional.Geopolítica é uma variável teórica que produziu diagnósticos e influenciou pesadamente na realidade comunicacional do país.

A disciplinarização da Comunicação

O enfoque tecnológico ressalta a relevância da estrutura comunicacional, cujos significados culturais resultam da combinação de artefatos.Ressalta não se tratar de reducionismo.

A era digital marca a cultura contemporânea com uma iconografia dedicada ao nomadismo. De uma compulsão pelo movimento(…) Vai-se de lugar a lugar como observador distante e superficialmente interessado. São representados iconograficamente por motéis, lobbies de aeroporto, etc.

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Do ponto de vista teórico, considerando aos problemas decorrentes da continentalidade do Brasil, defende a semiótica da materialidade, enquanto enfoque que realça a evolução tecnológica e sua articulação com o espaço. McLuhan, Innis e Edmund Carpenter são referências.

Compara os modelos de investigação tecnológica de Shannon/Weaver e Sperber/Weaver, privilegiando a perspectiva inferealista/cognitiva destes últimos, enquanto construtores do processo comunicativo numa perspectiva dualista que distingue o meio em si mesmo do conhecimento que ele que representa.

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Recorre a McLuhan novamente, enquanto pioneiro na antevisão do impacto material das tecnologias de informação e da era digital.

“ A história da comunicação foi sempre o esforço humano de construir redes e de reticular o espaço, e a geopolítica como área de conhecimento emerge ela também de fonte além-mar” (p. 251).

“ Uma Casa Grande e Senzala com Antena Parabólica descreve melhor o Brasil, porque revela o país que lutou contra o isolamento imobilizador e incapacitante, buscou a interação simbólica (…)” (p.251)

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Maria Immacolata V. Lopes , Giovandro Ferreira

Lopes situa sua reflexão enquanto uma “chamada para um debate sobre o paradigma”(Wallerstein).

Delimita o campo da Comunicação nos subcampos produção , reprodução e aplicação .

Passa a explicitar pontos específicos como a noção de campo acadêmico, a herança disciplinar e a institucionalização da Comunicação.

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Ferreira reflete sobre o campo acadêmico e os agentes produtores de comunicação; e ainda sobre o estudo da inovação e o uso da técnica e a produção de sentido.

Ambos os pesquisadores recuperam Bourdieu e o noção de campo:

O campo científico é um campo de práticas institucionalizadas de produção ( pesquisa), reprodução ( ensino) e circulação de capital e poder científico.

É o espaço do jogo, de uma luta concorrencial ao monopólio da autoridade.

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Portanto, conflitos epistemológicos são indissociáveis dos conflitos políticos.

As práticas são estratégias (de conservação ou subversão), portanto, com ações refletidas tanto científica quanto politicamente.

Os dominantes produzem ciência oficial. Para Bourdieu (contrariando Khun), o campo científico encontra na ruptura contínua o verdadeiro princípio da sua continuidade.

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Para Lopes, as razões da retomada de Bourdieu na análise do campo científico :

Mudanças no interior da ciência normal não representam crise de paradigmas.

Conquistas institucionais não necessariamente representam conquistas acadêmicas.

O subcampo do ensino é diferente do subcampo da pesquisa.

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Ferreira ressalta a explosão do ensino de comunicação, mas uma baixa representatividade de seus pesquisadores no campo acadêmico.

Retoma o estudo de Cicília Peruzzo sobre dissertações e teses (1992-1996), a ausência de teorias e metodologias unânimes, a fragilidade no manuseio dos aspectos teórico-metodológicos, além do que estudos que estão centrados no campo da comunicação estariam mais bem situados em outras áreas do conhecimento.” Nosso capital teórico-metodológico é disperso ou confuso” (p.260).

A disciplinarização da Comunicação

Há dificuldade em construir um modelo concorrencial com outros atores que trabalham a comunicação.

Os cursos e seminários apelam quase exclusivamente para os profissionais. E há os vulgarizadores, profissionais-intelectuais da mídia que exploram o circuito e constituem um espaço autônomo.

A eficiência dos profissionais se baseia em: 1) adotar conceptualizações externas; 2) formação de um saber próprio; 3) exportação do saber para o público.

A disciplinarização da Comunicação

Defende um novo modelo baseado em uma visão concorrencial: trocas entre associados e rivais, abandonando a pesquisa linear e determinista da comunicação através do diálogo com os domínios da pesquisa acerca da inovação tecnológica e da produção de sentido.

Ressalta a articulação da disciplinarização da comunicação com os estudos da técnica visando constituir seu “núcleo duro”.

A disciplinarização da Comunicação

Em resumo, as reflexões do campo/agentes sugerem :

É possível refletir articulando técnicas e mudanças históricas.

Perceber a dinâmica de negociação e bricolagem ao longo do processo.

A relação entre os meios de comunicação-indivíduo são polos ativos que se influenciam mutuamente.

É possível recuperar o estudo da técnica na perspectiva sincrônica e diacrônica.

A disciplinarização da Comunicação

Retomando Lopes e a questão do estatuto, o novo paradigma histórico-social- a sociedade

global é uma ruptura histórica de amplas proporções e dimensões.

Estudar a comunicação requer converter-se num especialista em intersecções. Ao fazê-lo, abre-se mão das certezas disciplinares e do “consenso ortodoxo” (Giddens).

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Relatório Gulbenkian (1996- presidido por Wallerstein) tem dois pontos polêmicos:

- decisões institucionais têm laços fracos com o debate epistemológicos;

- proposta de trabalho transdisciplinar a partir da

crítica ao interdisciplinar (critérios intelectuais separam as disciplinas antropologia, economia, ciência política e sociologia? Não, diz Wallerstein).

A disciplinarização da Comunicação

É no objeto-mundo “com sentido” que as Ciências Humanas e a Comunicação se encontram. (p.288)

A “indisciplinada” comunicação vive um aparente paradoxo: no Brasil vive-se a luta para afirmar a institucionalidade do campo acadêmico transdisciplinar e afirmar o estatuto transdisciplinar da comunicação, parte do movimento contemporâneo de reconstrução histórica das ciências sociais. (p. 290)

No Brasil há uma preocupação mais explícita com a transdisciplinariedade, o que não significa dissolver formação nem a estrutura disciplinar.

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Talvez aqui seja possível situar Passos enquanto intersecção.

Estuda o processo de criação audiovisual desenvolvido com a intenção de se alcançar uma equivalência estética a um texto literário que está em sua origem.

Critica a submissão ao princípio da autoridade advindo do “conhecido poder da escrita em nossa

cultura”.(296)

A disciplinarização da Comunicação

Pesquisa é tomada como pesquisa bibliográfica ou elaboração de quadros estatísticos, originando uma lacuna autoral.

Discutir atributos estéticos em audiovisuais evidenciou que os mesmos ampliam o aspecto comunicacional e no plano teórico diluem a fronteira arte/ciência.

Explicar o problema da lacuna autoral exige recuperar as razões mítica ,a racionalista e a antagonista como momentos da relação do pensamento humano com o real e a verdade.

A disciplinarização da Comunicação

A linguagem científica abandonou de vez sua conformidade ao real e não tem mais a verdade como perspectiva.

A crítica ao positivismo se dá pela não incorporação da singularidade do homem.

Freud e Jung, evidenciaram de forma empírica que parte do homem se situa fora de sua própria racionalidade. Está no inconsciente.

Jung trouxe uma arqueologia da psiqué em que o mito passa a explicar o homem mediante a sua própria explicação do mundo.