Aula 06 - Lucio Costa e Niemeyer

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Aula 06 – Lúcio Costa e Niemeyer Faculdade do Vale do Ipojuca Arquitetura e Urbanismo Disciplina.: Arquitetura Brasileira II Professora : Amanda Casé

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  • Aula 06 Lcio Costa e Niemeyer Faculdade do Vale do Ipojuca

    Arquitetura e Urbanismo

    Disciplina.: Arquitetura Brasileira II

    Professora : Amanda Cas

  • Pavilho da Exposio Internacional de NY, 1939

    O jri, constitudo por arquitetos, indicados pelo IAB, e de funcionrios do Ministrio de Trabalho, patrocinador do concurso, decidiu classificar os anteprojetos em funo dos 2 critrios: prioritariamente pelo carter nacional e secundariamente pelas condies tcnicas que deviam corresponder a um pavilho de exposio.

    importante notar que o carter nacional no fora encarado como imitao do passado, mas como pesquisa de uma forma arquitetnica que pudesse traduzir a expresso do meio brasileiro.

    Contraposio com a Exposio da Filadlfia em 1926, onde somente o estilo neocolonial foi admitido.

    Nenhum dos projetos foi considerado satisfatrio, escolheram Lucio Costa em primeiro por sua dose de brasilidade e Niemeyer em segundo pelo carater econmico e funcional.

  • Lucio Costa considerou que o de Niemeyer era melhor que o seu, no acatando o resultado convenceu a comisso julgadora a elaborar um novo projeto com Niemeyer.

    Partiram de algumas consideraes:

    1 Um pavilho no poderia apresentar-se como um construo permanente

    2 O Brasil no poderia chamar ateno pelo aparato, pela monumentalidade ou pela tcnica apurada como os pases ricos.

    3 Proximidade com o Pavilho Francs que era alto, grande e compacto.

    Com isso eles resolveram fazer uma edificao simples, harmoniosa e equilibrada. Resolveram:

    1 Afastar o corpo principal do pavilho francs e aproveitar a topografia.

    2 Dar ao edifcio um carater leve e arejado proporcionado o contraste.

    Pavilho da Exposio Internacional de NY, 1939

  • Apesar da estrutura metlica naturalmente rgida, L.C. e Niemeyer asseguraram uma extraordinria flexibilidade, baseada no jogo de curvas.

    O predomnio das curvas, especialmente nos planos horizontais, constitua um meio elegante de romper a ortogonalidade e o rigor do estilo internacional, conservando, ao mesmo tempo, o esprito de clareza e lgica que o caracterizava.

    No Pavilho do Brasil, a variedade no exclua o equilbrio, pelo contrrio; este resultava de um srie de oposies intencionais que se manifestavam no tratamento das linhas, das superfcies e dos volumes.

    Alm disso, o jogo espacial desenvolvia-se com segurana, numa composio aberta, onde o visitante, quase sem se perceber, circulava com a maior naturalidade, do exterior para o interior e vice-versa.

    Pavilho da Exposio Internacional de NY, 1939

  • Grande Hotel de Ouro Preto (1940) Depois do sucesso do Pavilho, Niemeyer convidado para

    realizar o Grande Hotel de Ouro Preto.

    Tratava-se de construir, no centro da capital da antiga capitania de MG, um edifcio moderno que correspondesse s necessidades do turismo, mas que no alterasse a fisionomia da cidade, com construes datadas do sculo XVIII.

    Niemeyer no era sensvel as obras do passado como Lucio Costa, apesar de apreci-las, e julgava que a arquitetura moderna no deveria a elas se subordinar, e que ambas podiam manter uma coexistncia com independncia recproca.

    Realiza um 1 projeto que no foi aprovado pelo SPHAN, ento realiza um 2 dessa vez considerando o entorno local.

  • Os altos pilotis que se alinham sucessivamente em 1, 2 ou 3 nveis no impedem que a dominante da composio seja a horizontalidade que se integra muito bem com duas obras-primas da arquitetura civil local, a Casa dos Contos e o Palcio dos Governadores.

    Grande Hotel de Ouro Preto (1940)

  • O carater geomtrico do volume, a inclinao do telhado, a repetio sistemtica de um motivo uniforme no andar principal integram-se magnificamente a simplicidade e a falta de pretenso decorativa do entorno.

    Para reforar ainda mais a pretendida unidade foram utilizados materiais tradicionais: a pedra do Pico de Itacolomi, no revestimento dos nveis inferiores, e principalmente a telha colonial. Ainda utilizou trelias de madeira das venezianas da poca para as balaustradas e as cores azul e marrom das portas e dos marcos das janelas que contrastavam com o fundo claro das paredes.

    Grande Hotel de Ouro Preto (1940)

  • Por outro lado, a soluo interna era menos feliz e at mesmo passvel de muitas criticas, do ponto de vista funcional.

    certo que o turista tem um vista incrvel, mas a estranha distribuio do andar em dois nveis resultou num completo fracasso sob o ponto de vista prtico: total o desconforto dos minsculos quartos individuais que parecem corredores estreitos e que foram visivelmente sacrificados e, mesmo nos apartamentos de luxo, compostos de quarto de casal e salo, que abre para os terraos individuais o conforto reduzido.

    O acesso do quarto feito por uma escada em caracol, pouco prtica e perigosa.

    Tudo foi concebido para impressionar o visitante com um espao original, em grande parte prejudicado pelo carter frio e impessoal dos apartamentos.

    Niemeyer ao projetar colocava sua imaginao criadora integralmente no tratamento de superfcies, e acima de tudo, para os jogos de volume e espaos.

    Grande Hotel de Ouro Preto (1940)

  • O conjunto da Pampulha A construo do Grande Hotel de Ouro Preto colocou

    Niemeyer em contato com as autoridades de MG. Com isso, advm a amizade com JK.

    JK confia-lhe a tarefa de projetar um conjunto de edifcios, dispersos em torno do largo artificial da Pampulha, destinados a configurarem o centro de uma futura rea de lazer a alguns quilmetros da capital mineira. O programa previa cinco edifcios: um cassino, um clube elegante, um salo de dana popular, uma igreja e um hotel para frias (este ltimo no foi construdo no governo JK, sendo abandonado pelo seu sucessor).

    O objetivo era proporcionar vrios locais luxuosos de lazer, que atraindo pessoas de recursos, garantissem ao negcio um prosseguimento autnomo.

  • A idia de desenvolver uma zona suburbana predominantemente de lazer tinha fundamento: o gosto pelo jogo, profundamente enraizado, assegurava a rentabilidade do cassino, e o lago constitua um quadro magnifico para prtica dos esportes nuticos e mundanas, to importantes aos olhos da alta sociedade brasileira.

    No entanto, o fracasso no plano imediato decorreu de um srie de circunstncias acidentais que modificaram radicalmente as previses: proibio do jogo, contaminao do lago por parasitas, rompimento da comporta da barragem que provocou durante anos a queda razovel do nvel da lagoa.

    O primeiro a ser realizado foi o CASSINO inserido em local privilegiado. Colocado numa pennsula dominando o lado, para que o edifcio pudesse ser visto de qualquer ngulo e se impusesse vista de quem chegasse cidade.

    O conjunto da Pampulha

  • Toda a composio est baseada num jogo de contrastes entre superfcies e, principalmente volumes planos e curvos.

    O virtuosismo do arquiteto revelou-se no jogo de massas: a forma de pera do setor da pista de dana, o teatro e o restaurante, atenuado pela escada envidraada que liga o restaurante ao terrao. Esses volumes to diferente se integram perfeitamente.

    O conjunto da Pampulha (Cassino)

  • O interior menos resolvido: o jogo de rampas e balces em balano no surte o efeito desejado, pois diluem-se na profuso de revestimentos coloridos.

    Pretensamente o luxo do mrmore no corrimo da escada aceitvel, mas a colunas de ao cromado imprprio. Niemeyer no conseguiu libertar-se do mau gosto que orientou a ornamentao dos grandes cassinos do sculo XIX.

    O conjunto da Pampulha (cassino)

  • A justaposio e a interpenetrao de volumes, ao mesmo tempo fundidos e nitidamente individualizados, caracterstica do cassino, podiam ser parcialmente identificados no Iate Clube e na Casa Kubitschek, mas correspondem a uma verso diversa e simplificada devido ao programa mais simples.

    O conjunto da Pampulha

  • O conjunto da Pampulha (Iate Clube)

  • O conjunto da

    Pampulha (Iate

    Clube)

  • Nos edifcios do cassino e do Iate Clube, a curva foi empregada habilmente como contraponto. Critrio inverso foi adotado no salo de danas populares, situado numa pequena ilha prxima margem, onde a curva o elemento predominante, excetuando-se as colunas e os montantes dos panos de vidro, a linha reta foi proscrita da composio.

    O conjunto da Pampulha (Salo de Danas)

  • Baseia-se ela na marquise sinuosa que liga as duas pequenas edificaes: forma livre inspirada no contorno da pequena ilha que acompanha de modo mais ou menos exato, na verdade a essncia da obra, e quem lhe assegura o carter to particular de leveza caprichosa e de transparncia absoluta.

  • A obra-prima do conjunto a capela de So Francisco de Assis. Esta diferencia-se profundamente das anteriores: a habitual estrutura independente, constituda por lajes de abbadas parablicas autoportantes, estas tambm decorrentes dos progressos da tcnica moderna, mas acarretando automaticamente uma expresso arquitetnica de espirito bem diverso.

    O conjunto da Pampulha (Capela)

  • Os volumes correspondem a cada uma das partes nave, corpo, sacristia so bem marcados e, ao mesmo tempo, fundem-se perfeitamente; ntida a distino entre a parte estrutural abbada autoportante e as paredes, cuja decorao pictrica ou revestimento de azulejos realam a funo de simples vedao que lhes foi atribuda.

    O conjunto da Pampulha (Capela)

  • Emana um certo dinamismo do emprego sistemtico de curvas e linhas oblquas; as curvas so visveis principalmente no cabeceira e no interior as linhas oblquas so visveis na fachada: marquise ligeiramente inclinada, campanrio vazado, cujas linhas convergem para a base;

    Em contrapartida as linhas horizontais e verticais so reduzidas ao mximo, limitando-se aos elementos acessrios, como as lminas dos brises-soleil que protegem o plpito.

  • Lanou-se a pesquisas que lembram as preocupaes barrocas com a perspectiva e a criao de espaos grandiosos: a nave vai se estreitando e declinando na fachada em direo ao coro, onde se produz uma brusca dilatao do espao, e, principalmente de um notvel jogo de luz que contrape o revestimento de madeira escura da nave a um coro inundado de luz, cuja fonte no visvel; com efeito, os raios de luz, concentrados na vasta pintura de Portinari, que ocupa toda a parede do fundo, caem do lanternim situado na interseco das duas abobadas parablicas, pois a que cobre o coro tem uma seo um pouco mais larga do que a extremidade da abbada da nave.

    O conjunto da Pampulha

  • Os jogos de volumes variados no cassino, a criao ou adoo de formas novas, ao mesmo tempo simples e compostas, para o Iate Clube e a Igreja, a aparente liberdade dada a inspirao no salo de danas popular abriram bruscamente novos horizontes, rompendo o rgido vocabulrio racionalista e introduzindo na arquitetura a variedade e o lirismo que tinham sido banidos.

    Traos caractersticos dessa arquitetura: a monumentalidade, o aspecto externo tinha mais ateno que o interno, inspirao e quebra dos pontos de Le Corbusier.

    CONCLUSO: O conjunto da Pampulha

  • Lcio Costa (teoria) fcil entender a atrao que seus escritos exercem sobre os

    outros arquitetos: estes eram, acima de tudo, homens da prtica, pouco afeitos a meditao profunda, mas sentiam a necessidade de apoiar-se em fundamentaes tericas simples e claras, no perodo de incertezas e de profundas mudanas, em todos os setores.

    J Lucio Costa no inovou fundamentalmente, no criou uma nova profisso de f; aceitou a que havia sido proposta pelos pioneiros do racionalismo, tornando-se seu defensor intransigente, adaptando-a s necessidade locais e corrigindo o que havia de excessivo rigor.

    Portanto, sua contribuio terica situou-se em 2 planos distintos: de um lado, a divulgao do pensamento europeu e, do outro, a reflexo pessoal.

  • Para ele, em arquitetura existem 3 problemas fundamentais intimamente relacionados: o tcnico, o social e o plstico.

    No plano social aceitava integralmente as idias de Le Corbusier e no plano tcnico era fiel mas no era escravo, no vacilando em introduzir variaes prticas sempre que possvel, no plano esttico ele achava que tinha uma contribuio a dar e no podia contentar-se com o pensamento de outra pessoa.

    Para Lcio Costa, o estilo neocolonial no fora uma questo de moda, mas sim um esforo consciente de regenerao de um arquitetura decadente.

    Lcio Costa (teoria)

  • Lucio Costa Filho de brasileiros em servio no exterior, ele nasceu na

    Frana. Devido s atividades do pai (o almirante Joaquim Ribeiro da Costa), estudou em Newcastle (Inglaterra) e Montreux (Sua).

    Em 1917, voltou para o Brasil. Estudou pintura e arquitetura na ENBA formando-se em 1924 e sendo nomeado diretor da mesma instituio em 1930.

    Em 1936, Lucio Costa convidou o arquiteto suo Le Corbusier para vir avaliar o projeto do edifcio-sede do MES.

    Em 1938, projetou (ao lado de Oscar Niemeyer) o pavilho brasileiro da Feira Universal de Nova York.

    Em 1957, venceu o concurso nacional para a elaborao do Plano-Piloto de Braslia, o que o tornou conhecido no mundo inteiro. Passou ento a receber convites para projetar diversos planos urbansticos.

    Em 1960, recebeu o ttulo de professor "honoris causa" da Harvard University (EUA). Quatro anos depois, foi convidado a integrar a equipe de reconstruo da cidade de Florena, atingida por uma inundao.

  • Lcio Costa aborda a concepo arquitetnica, distinguindo 2 conceitos que a presidem:

    1 - O conceito orgnico-funcional onde se parte da satisfao das necessidade de ordem funcional e a obra se desenvolve como um organismo vivo, cuja expresso arquitetnica do conjunto decorre de um rigoroso processo de seleo plstica das partes que a compem.

    2 - O conceito plstico-ideal onde se toma como ponto de partida a inteno preconcebida de ordenar racionalmente as necessidades de natureza funcional, a fim de chegar a formas livres ou geomtricas ideais, isto , plasticamente puras.

    Lcio Costa (teoria)

  • Elaborou uma lista de seis tpicos merecedores de um estudo mais aprofundado, tendo em vista uma eventual integrao de certos elementos arquitetura contempornea:

    1 - Os sistemas e processos de construo empregados na poca.

    2 - As solues adotadas para as plantas e suas variaes em funo de diversas regies, dos programas e dos problemas de ordem tcnica.

    3 - Os telhados, muito mais simples sobre o corpo principal, mas que se articulavam com flexibilidade, a fim de englobar varandas e demais dependncias, sempre evitando lanternins.

    4 - Os vigamentos feitos de modo a formar um ngulo obtuso no meio do telhado, a fim de que a resultante ruptura do declive e a brusca diminuio da inclinao tornassem possvel lanar as guas da chuva o mais longe possvel das paredes.

    5 - As rtulas e as janelas, especialmente os modelos mais usuais do sculo XVIII: venezianas e janelas de guilhotina dotadas de um sistema de segurana.

    6 - O mobilirio

    Lcio Costa (teoria)

  • J foi observado que a dupla atividade de Lcio Costa a de terico e a de arquiteto propriamente dito formavam um todo indivisvel: assim, no de espantar que tenha desde o incio se dedicado a tentar uma sntese entre a arquitetura contempornea e a arquitetura colonial, tentativa essa que sem dvida alguma, sua contribuio pessoal mais caracterstico no campo estritamente arquitetnico.

    CASAS E MANSES Naturalmente, esse era o setor que oferecia maiores facilidades entre a tradio local e a arquitetura contempornea.

    - Sua 1 preocupao foi sempre a satisfao das necessidades atuais e o bem-estar dos moradores, sem jamais deixar que as preocupaes de ordem puramente histrica dominassem.

    - Criao da continuidade entre exterior e interior.

    - Suas casas foram concebidas em funo do jardim, seu complemento necessrio e para onde se voltam atravs de paredes inteiramente envidraadas, os cmodos principais.

    Lcio Costa (prtica)

  • Evitou tambm todo vestgio do

    repertrio ornamental anterior, como

    exemplo h a ausncia quase total de

    azulejos.

    Muxarabis, venezianas, detalhes

    decorativos inspirados em modelos

    antigos s surgiram em casas onde a

    tcnica construtiva empregada e a

    expresso formal dela resultante

    pertenciam to claramente a este sculo,

    que nenhuma dvida podia persistir.

  • Recusando o uso do azul, do rosa, do verde ou do amarelo, outrora to frequentes, preferiu adotar sistematicamente o branco para o revestimento das paredes, atribuindo aos telhados e madeiramentos a funo de criar os contrastes de cor;

    Agindo assim, no rompia com a tradio colonial, cujo principio era sublinhar a funo e hierarquia de diferentes elementos por meio de tonalidade diversas, mas apenas reduzia a palheta a um nico tom, destinada ao elemento que ocupasse a maior superfcie.

  • Um dos segredos de Lcio Costa a dosagem hbil nas misturas feitas, onde os elementos tomados de emprstimo ao passado assumem um carter moderno e, em compensao, os acessrios francamente modernos conservam uma afinidade com o passado.

    Casa Saavedra (Afresco de Portinari)

  • Decididamente modernas em sua concepo geral, as casas de Lcio Costa tambm estavam estreitamente ligadas tradio luso-brasileira, graas retomada de certos elementos do vocabulrio corrente da arquitetura colonial.

    O mais importante e tpico desses elementos foi o emprego sistemtico da cobertura de telhas-canal no lugar do terrao, em concreto, transformando em pea-mestra da doutrina dos mestres racionalistas europeus.

    Esses elementos eram utilizados justificados funcionalmente, pois num clima tropical as lajes de concreto tinha a tendncia a rachar tornando difcil a impermeabilizao e mais ainda a conservao.

    Utilizou materiais tradicionais a tcnica contempornea, visando humanizar o que esta poderia te de abstrato.

    Lucio Costa preferia uma criao nova, inspirada em solues de outrora, mas que respondesse aos problemas contemporneos.

    Lcio Costa (prtica)

  • HOTEL DO PARQUE EM NOVA FRIBURGO

    Encarregado, pela famlia Guinle, de projetar, em meio a um belssimo parque nas montanhas, um hotel modesto em tamanho, mas destinado a um clientela rica que ali viesse descansar durante as frias.

    Trata-se de um edifcio com estrutura independente, permitindo o livre desenvolvimento de uma planta funcional. Andar trreo sobre pilotis, parcialmente fechados por grandes superfcies envidraadas, e piso superior em balano, onde todos os quartos so servidos por uma galeria posterior, e cuja fachada d para um terrao coberto, gozam de melhor orientao e da melhor vista da paisagem.

    Lcio Costa (prtica)

  • A lgica domina toda a composio. Estabelece-se uma estrita hierarquia entre o bloco principal, simples, mas de forma pura, clara e imponente, e os elementos anexos, discretamente colocados na face em recuo, mas nem por isso negligenciados.

    O corredor que serve os quartos e o volume central de pedra bruta que abriga a escada constituem volumes particulares, sublinhando a diferena de funes, graas a uma hbil gradao, a ruptura com o meio circundante.

    A distribuio de janelas uma verdadeira obra-prima de harmonia e assegura a unidade do conjunto, ao mesmo tempo em que sublinha o carter particular de cada um dos elementos.

    Quanto a parte do servio propriamente dita, situa-se num pavilho adjacente semi-enterrado e de costas para colina, desaparecendo quase que totalmente em meio a natureza vizinha e ao hotel propriamente dito, cuja forma volumtrica ele retoma de modo sutil.

    Lcio Costa (prtica)

  • CONJUNTO RESIDENCIAL PARQUE GUINLE

    Situado no morro de Santa Teresa, o parque Guinle era originalmente propriedade particular e foi traado em 1916 pelo paisagista francs Cochet para o magnata Eduardo Guinle.

    Depois de sua morte, seus herdeiros construir um conjunto residencial de luxo disposto em torno do parque que seria totalmente respeitado.

    A tarefa foi confiada a Lcio Costa, que props um conjunto de seis prdios independentes, assentados ao longo do declive, de forma a fechar trs lados do parque, estando o quarto lado j ocupado pela antiga manso e suas dependncia, na crista oeste do terreno.

    Mas Lcio Costa projetou apenas os 3 primeiros chamados Nova Cintra, Bristol e Calednia construdos entre 1948 e 1954, pois os resultados financeiros no foram considerados satisfatrios pelos responsveis da operao.

    Lcio Costa (prtica)

  • Os trs edificios projetados por Lcio Costa foram justamente aqueles que era impossvel conciliar a vista para o parque com uma orientao favorvel; o arquiteto teve de optar por uma delas e o fez sem nenhum dogmatismo, levando em considerao apenas os fatores prprios a cada um dos casos.

    S no prdio Nova Cintra uma de suas grandes fachadas gozava da exposio mais favorvel no Rio de Janeiro: o lado sul. Lucio Costa valeu-se disso e situou deste lado a fachada principal com os cmodos de estar, embora desse para a rua e no para o parque.

    Em compensao, nos outros dois blocos, perpendicularmente ao primeiro, no vacilou e, orientar a fachada principal para a face oeste, em princpio a pior, voltando os cmodos de estar para esta face, a fim de que pudessem desfrutar do excepcional ambiente verde do parque Guinle.

    Lcio Costa (prtica)

  • Essas vrias opes eram lgicas, mas traziam dois problemas delicados: de um lado, a elaborao de um sistema de proteo contra o excesso de insolao das fachadas de davam para o Parque, mas sem que esse sistema cortasse a visibilidade do exterior, o que teria tirado toda a razo de ser da soluo proposta; de outro, a criao de um conjunto harmonioso e uniforme dessas fachadas, apesar da diferena fundamental de suas funes (fachada principal dos prdios Bristol e Calednia e posterior do Nova Cintra).

    Lcio Costa (prtica)

  • Com efeito, todas as

    dependncias que do

    para o Parque esto

    dispostas em recuo,

    precedidas por uma

    loggia fechada por brise-

    soleil fixos. Estes

    pertencem a 2 modelos

    distintos, no s pela

    forma, como tambm

    pelo seu poder de

    evocao: as lminas

    verticais formando um

    ngulo de 45, so

    extradas de um

    repertrio

    completamente

    contemporneo, em

    compensao, o

    verdadeiro rendilhado de

    elementos vazados de

    cermica que cobre a

    maior parte da superfcie

    disponvel e a tnica

    do conjunto, lembra

    claramente a arquitetura

    rabe.

  • Brise-soleil e elementos vazados serviram para garantir a unidade do conjunto, j esboada pela semelhana dos volumes, propores e estruturas, garantindo ao mesmo tempo a individualidade de cada um dos blocos da composio.

    Os dois elementos de proteo equilibram-se totalmente, ocupando a mesma superfcie e distribudos com um simetria rigorosa; cada um correspondente a uma rea determinada por uma funo especfica, sublinhando a distino entre os locais de servio e os dormitrios voltados para esta face.

    D-se o uso de elementos contemporneos como as audaciosas escadarias em caracol, que envoltas em um caixilho de vidro, dividem o edifcio em trs partes distintas. Sendo uma soluo feliz por permitir uma transio ao visitante.

    Lcio Costa (prtica)

  • As propores se invertem nos prdios Bristol e Calednia. Os elementos vazados, agora de 2 tipos diferentes e no mais nico, transformaram-se nos elementos fundamentais da maravilhosa trama.

    Os brises no desaparecem, assumiram apenas um papel de contrapeso, tendendo a apegaram-se ou at a confundir-se com a dominante geral. A superfcie atribuda a eles muito menor e fica ainda mais reduzida pelas aberturas feitas em sua parte superior direita, a fim de permitir a vista para o Parque, alm disso, as cores suaves com que foram pintados no chamam ateno e visam integr-los na composio leve, onde os contrastes no so mais determinantes.

    A originalidade do conjunto deve-se as afinidades que Lcio Costa conseguiu estabelecer entre esses edifcios puramente modernos e a tradio local.

  • Ao contrrio de Lcio Costa jamais foi um pensador e um terico da arquitetura. At 1955, ele projetou e construiu sem trguas, aproveitando as inmeras encomendadas propiciadas por sua crescente reputao com entusiasmo e ardor; a procura de um vocabulrio novo levou-o a lanar-se em diferentes direes, sem tentar dar, conscientemente, uma unidade a sua obra.

    O surgimento das primeiras restries no plano da crtica internacional, na 2 Bienal de SP (jan-fev de 1954) e, depois, uma viagem pela Europa em 1955, alargando os horizontes at ento limitados pelo Brasil, levaram-no bruscamente a reflexo e uma espcie de autocrtica.

    Nessa poca, sua atitude e seu estilo modificaram-se inteiramente: ele comeou a escrever para defender suas realizaes e idias, enquanto sua arquitetura evolua no sentido de uma maior simplicidade, mas conservando seu carter eminentemente plstico.

    Oscar Niemeyer

  • Suas ideias podem ser resumidas em alguns pontos:

    1 Recusa de se deixar prender por preocupaes de ordem social: enquanto tal, o arquiteto no est encarregado de reformar a sociedade; ele pode ter suas opinies sobre o assunto e participar das transformaes se tiver oportunidade, mas, acima de tudo, deve dedicar-se a seu oficio.

    2 Rejeio de todo tradicionalismo: o passado e o presente so coisas diferentes; o surgimento de novos materiais e, principalmente, do concreto armado, provocou uma verdadeira revoluo e libertou o arquiteto de servides que antes limitavam consideravelmente sua atuao e suas possibilidades de expresso.

    3 Valorizao da arquitetura como arte plstica: o arquiteto um artista e, portanto, antes de tudo, um criador de formas, o que o diferencia do engenheiro, preocupado unicamente com eficcia e a economia; assim, o puro funcionalismo inadmissvel, pois seria rebaixar a arte ao nvel da tcnica.

    Oscar Niemeyer

  • DESENVOLVIMENTO DE PESQUISAS ESTRUTURAIS:

    O ponto de partida continuava a ser Le Corbusier, as pesquisas se basearam essencialmente em 2 elementos fundamentais: o pilotis e os arcos e abbadas.

    PILOTIS para inovar levou em considerao que ele deveria deixar de ter um papel passivo na composio e que visou no separar materialmente a estrutura do bloco propriamente dito da estrutura do pilotis, obtendo assim a independncia plstica dos suportes no solo.

    Assim, Niemeyer elaborou os pilares em forma de V e W, que tinham a vantagem de canalizar para o cho o empuxo vertical respectivamente de 2 ou 3 colunas.

    Esta soluo, aliada ao emprego dos grandes vos permitidos pelo progresso da tcnica, era muito engenhosa, tanto no plano prtico como no esttico.

    Oscar Niemeyer

  • Palcio da Agricultura -SP

  • Hospital

    Sulamerica -RJ

  • Os pilares em V de Niemeyer devem seu valor esttico a suas propores exatas e ao contraste dinmico que eles oferecem com o aspecto esttico do paraleleppedo retangular puro que os encima; o fato de se tornarem mais finos medida que se aproximam da massa suportada refora a impresso de um equilbrio audacioso e a sensao de leveza a resultante.

    Em compensao, o mesmo no ocorre com o pilotis em W, que, alis realizada no mesmo perodo pelo arquiteto, pois o vigor pretendido transformou-se numa espantosa sensao de peso.

    Desses vrios tipos de pilotis surgidos do espirito imaginativo de Niemeyer, s viria depois se impor realmente e a ser adotado por outros arquitetos o pilar em V, que logo se tornou motivo comum da arquitetura moderna e internacional.

    Oscar Niemeyer

  • Conjunto Residencial JK-BH

  • Arcos e Abobadas Oscar Niemeyer

    Fabrica da Duchen (1950-51 SP)

  • Arcos e Abobadas Oscar Niemeyer

    Fabrica da Duchen (1950-51 SP)

  • Escola Central de Minas Gerais

  • A explorao da forma livre

    Oscar Niemeyer

    Banco Boavista - RJ(1946)

  • Banco Boavista - RJ(1946)

  • Edifcio Copan- RJ(1954)

  • Edificio Nimeyer-

    BH(1954-60)

  • Casa da Canoa

    Localizada no bairro na Gvea, foi realizada em 1953.

    O terreno escolhido para a residncia, concebida como um osis perdido em plena natureza tropical, estava situada num declive mito forte.

  • Tinha por caractersticas a neutralizao dos lados negativos do relevo e a utilizao de suas vantagens, manuteno mxima da admirvel vista do mar logo abaixo e o respeito integral ao local.

  • A ordem em geral adotada para uma casa disposta em 2 nveis foi propositalmente invertida: os quartos foram relegados ao subsolo, onde continuavam desfrutando da vista da baa, enquanto que a parte alta estava reservada para os cmodos de estar, que ficaram no mesmo nvel do jardim e do terrao colocado em cima dos quartos.

    A explorao da forma livre

    Oscar Niemeyer

  • O principio bsico o mesmo do restaurante da Pampulha: uma laje horizontal fina, cortada numa srie de curvas harmoniosas tomadas de emprstimo ao contexto natural , abriga um espao indefinido que continua, sem soluo de continuidade, dos dois lados.

    A explorao da forma livre Oscar Niemeyer

  • A mancha

    branca do

    edifcio

    destaca-se do

    verde da

    vegetao,

    enquanto que

    a piscina

    reflete os dois

    indistintament

    e em suas

    guas zuis,

    garantindo

    uma transio

    ideal.

    A explorao da forma livre Oscar Niemeyer

  • A fuso exterior-interior a mais completa.

    No interior, o elemento principal da decorao da sala de estar a natureza.

    Recebeu muitas crticas: a forma livre s se justifica se for funcional (Max Bill)