Aula 01 - Introdução à Teologia Do Culto Cristão
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8/18/2019 Aula 01 - Introdução à Teologia Do Culto Cristão
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Introdução à teologia do culto cristão
Aula preparada por: Vinicius Couto
APRESENTAÇÃO
A proposta desta aula é introduzir o estudante de teologia do culto cristão na
compreensão dos significados básicos da disciplina, a fim de deixa-lo apto para os
conceitos e assuntos afins que serão posteriormente abordados.
OBJETIVOS
Compreender o significado das terminologias culto, religião, liturgia, adoração e
igreja em seus sentidos etimológicos e hodiernos.
O QUE QUER DIZER CULTO CRISTÃO
A definição de “culto cristão” não é tão simples de se fazer, segundo comenta
James White.1 Uma das dificuldades reside no fato de ser extremamente fácil de se
confundir tal culto com acréscimos irrelevantes das culturas hodiernas e até mesmo
anteriores, celebradas por cristãos.
Qual é o significado de culto? Qual a diferença do conceito dessa expressão e de
atividades que se repetem nas comunidades cristãs? Quais são as distinções entre
culto e educação cristã? O que torna o culto, de fato, cristão? Tais problemas
perpassam a disciplina da teologia do culto cristão e não se limitam a esses
questionamentos. White ainda acrescenta: “será sempre ‘cristão’ todo culto celebrado
pela comunidade cristã?”.2
Para trazer as respostas certas às perguntas anteriormente levantadas, é precisorealizar uma abordagem fenomenológica do culto cristão, relatando e descrevendo o
que os cristãos em geral fazem quando se reúnem para realizarem o culto. É
conveniente, para elucidar as respostas, explorar algumas definições de maior
abstração, utilizadas pelos pensadores cristãos. Finalmente, é mister examinar
algumas palavras-chave que definem e exprimem o verdadeiro significado de culto.
Em relação à fenomenologia do culto cristão, haverá outras aulas que trarão à
tona assuntos mais diretos. Trata-se de estudar o que ocorreu em diferentes culturas e
1 WHITE, James F. Introdução ao Culto Cristão. São Leopoldo: Sinodal, 1997, p. 11.2 Idem.
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épocas históricas, avaliando as práticas e as formas estáveis e permanentes. Esse
método será aplicado no decorrer dos próximos ensaios, visto que não é possível
abordar em uma única aula toda a densa fenomenologia do culto cristão.
Sobre o aspecto de definição, serão utilizados autores de diversas linhas do
protestantismo e do evangelicalismo, bem como do catolicismo para fins de estudos
comparativos e de estímulo à reflexão acerca das concepções amplamente adotadas.
Perceber-se-á que existirão pensamentos convergentes e que se sobrepõe, mas, em
outros casos serão nítidas percepções peculiares e às vezes complementares.
Nesta primeira aula, o ensaio deter-se-á em analisar alguns dos principais termos
ou palavras-chave utilizadas em comum dentro do vasto campo dos cristianismos. O
foco inicial se dará em torno das expressões culto, religião e liturgia, pois se tratam de
palavras rotineiras e que compõem basicamente a abordagem introdutória da teologia
do culto cristão.
O SIGNIFICADO DE CULTO
A palavra “culto” deriva do latim, cultu, cujo significado é adoração ou
homenagem. Tais atos são devidos, do ponto de vista cristão, a Deus.
Etimologicamente falando, o termo latino supracitado envolve a raiz colo ou colere,
que indica, além de honrar, o sentido de cultivar.
Culto também é uma derivação de religião. Cicero, filósofo do primeiro século
antes de Cristo e que foi declarado como um pagão justo pela igreja Católica, descrevia
“religião” como oriunda da palavra latina relegere, cujos significados eram reler, fazer
algo a mais, observar com cuidado, processo contínuo, e finalmente, como uma
observação diligente de todos os pertences utilizados para venerar os deuses.3
Na era cristã, um dos primeiros a fazer uso da expressão “religião”, foi o jurista,
escritor e gramático latino, Aulo Gélio. Ele fazia uso do verbo relinquere, indicando que
tudo o que é pertencente à religião deve ser colocado à parte. Gélio mostra o sentido
de sagrado da religião, trazendo um confronto entre o profano e o santo, bem como a
ideia de secular e o santificado.4
A última variação latina da palavra “religião” é encontrada nos escritos do
conselheiro do imperador Constantino I, Lactâncio. Em sua obra Divinia Instituitiones
(Instituições Divinas), ele se baseou na palavra religare, que trouxe para a “religião” o
sentido de vincular o ser humano a Deus, ou seja, uma religação.5
3
CÍCERO. De Natura Deorum (Sobre a Natureza dos deuses), II, 28.4 GÉLIO. Noctes Atticae (Noites Áticas), IV, 9.5 LACTÂNCIO. Divinia Instituitiones, N, 28.
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Neste último ponto, cabe a explicação agostiniana. Sua contribuição para o
entendimento mais exato do sentido de religião nos primeiros séculos é bastante
relevante. Ele usou o verbo re-eligere, com o intuito de dizer que em Cristo nós re-
elegemos a Deus, de quem a humanidade se perdeu em virtude do pecado.6
O pensamento reformado complementou o significado de “religião” e trouxe o
sentido de recta verum Deum cognoscendi et colendi ratio (a maneira correta de
conhecer e servir ao Deus verdadeiro). Havia uma distinção mais tênue dos
reformadores para com a religião no sentido de trazer à tona dois outros recursos: a
piedade e a adoração.
Para Zwinglio, por exemplo, a piedade envolve a fé, vida, leis, ritos e
sacramentos. Ele definia como o casamento entre a alma humana e Deus. Em Calvino
são encontrados três conceitos-chave: a) o conhecimento de Deus e o sentido de Seus
atributos; b) O conhecimento é quem ensina a piedade, ou a reverência somada com oamor de Deus; c) Em sentido de adoração e devoção, é oriunda da piedade.7
CULTO E RELIGIÃO
As palavras “culto” e “religião” também ocorrem na Bíblia. O povo de Israel
deveria guardar a prática cultual quando entrasse na terra prometida (Êx 12.25). A
palavra culto neste texto é abodah e seu significado é serviço. Este serviço não dizia
respeito exclusivamente ao serviço sagrado, mas a qualquer tipo de trabalho,conforme se pode ver em Lv 23.7,8.
No Novo Testamento o sentido não é diferente. Paulo, por exemplo, fala aos
Romanos sobre a relação detentora dos judeus para com o culto (Rm 9.4) e do culto
racional (Rm 12.1). E o autor da carta aos hebreus fala de um culto divino contido na
primeira aliança (Hb 9.1). Em todos esses casos, a palavra grega utilizada é latreia,
cujos significados são serviço e adoração.
Latreia deriva-se de latreuó, que tem o sentido de servir ou realizar um serviço
ou uma tarefa técnica ou aceitável a Deus. Latreuó pode ser encontrada em passagens
como Mt 4.10; Lc 1.74; 2.37; 4.8; At 7.7; 7.42; 24.14; Rm 1.9, 25; Fp 3.3; 2 Tm 1.3; Hb
8.5; 9.9, 14 e Ap 7.15; 22.3.
Já a palavra “religião” só vai aparecer traduzida, isso por ter um uso mais
frequente próximo da era cristã, no Novo Testamento. Tal palavra vai aparecer em
Atos 26.5 quando Paulo, em sua defesa ao rei Agripa, fala que foi um religioso fariseu
6
AGOSTINHO. De Civitae Dei (A Cidade de Deus), X, 4.7 BAVINCK, Herman. Reformed Dogmatics: Prolegomena, Vol I. Grand Rapids: Baker Academic, 2003, p.241.
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altamente praticante dos princípios religiosos. A palavra usada neste texto é threskéia
e seu significado corresponde ao ritual de adoração, reverência e adoração aos deuses
e adoração expressa em atos ou em serviços. A mesma palavra ocorre em Colossenses
2.18, quando Paulo adverte acerca da falácia de adoração angelical e nas críticas de
Tiago em 1.26,27 sobre a verdadeira religião.
CULTO E LITURGIA
Outra palavra que ocorre na Bíblia e que se relaciona com todas as outras já
abordadas é liturgia. Ela aparece em Lucas 1.23, quando Zacarias, pai de João Batista,
estava realizando seu serviço sacerdotal. A palavra grega no texto citado é leitourgias.
Seu significado é semelhante aos demais estudados: serviço público, pastoral, ou ritual
levítico. Essa palavra também vai aparecer em 2 Co 9.12; Fp 2.17, 30 e Hb 8.6; 9.21,além de ocorrer em sua forma derivada leitourgos nas passagens de Rm 13.6; 15.16,
27; Fp 2.25 e Hb 1.7; 8.2.
Liturgia significa, de acordo com Mondoni, “ao mesmo tempo, ação do povo e
ação em favor do povo”.8 A liturgia eclesial é o culto oficial da Igreja e a forma pela
qual o serviço de Cristo em favor dos seres humanos é materializado. A espiritualidade
litúrgica é “a atitude permanente ou estilo de vida cristã baseado na assimilação do
ministério de Cristo e na identificação de vida com ele”, bem como “o substrato
comum de qualquer espiritualidade cristã”.9
Costa, por sua vez, declara que,
A liturgia é o serviço religioso de adoração ao Deus triúno. Portanto,
não pode haver culto sem liturgia; nem liturgia sem culto, pois, culto
é serviço religioso, e serviço religioso é liturgia. Logo, culto é liturgia!
Deste modo, não devemos falar, como acontece com tanta
frequência, de ‘liturgia do culto', isto é um exercício tautológico
desnecessário e, pior, empobrecedor do significado do culto.10
Como se pode perceber, o culto está diretamente relacionado ao significado de
liturgia. Apesar de, etimologicamente falando, as palavras gregas latreia, threskéia e
leitourgia possuírem todas o mesmo sentido (serviço), os significados modernos de
culto, liturgia e religião passaram a ter direções diferentes. O primeiro está relacionado
8 MONDONI, Danilo. Teologia da Espiritualidade Cristã. São Paulo: Edições Loyola, 2002, p. 139.
9
Ibid, p. 142.10 COSTA, Hermisten M.P. Princípios Bíblicos-Reformados da Adoração Cristã. São Paulo: Cultura Cristã,2002, p. 33.
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ao ajuntamento de pessoas para a adoração, enquanto o segundo tem a ver com a
denominação religiosa que determinada pessoa é filiada. A terceira diz respeito ao
andamento do culto ou com os elementos que irão compô-lo. Em tal sentido, seria
correto dizer que, na liturgia do culto teria oração, pregação, louvores, etc.
O QUE É “ADORAÇÃO”
Adoração é uma expressão bastante extensa no contexto bíblico, porém, o
conceito mais usual é o de serviço. Etimologicamente falando, adoração será
encontrada sob as indicações ablôdha, no hebraico, e latreia, no grego, cujos
significados se resumem no trabalho realizado pelos escravos ou empregados.
A adoração está associada à reverência, admiração e respeito, cujas expressões
originais da Bíblia são hishtaha wâ (hb.) e proskyneo (gr.). Tais palavras significam
literalmente a atitude de se prostrar ou de se curvar. Em outras palavras, a adoração,
pode ser conceituada como o serviço prestado a Deus e ao semelhante. Reverência
não necessariamente diz respeito a silenciar-se, mas ao reconhecimento e honra dada
a outrem.
O reconhecimento pode envolver o estado de humilhação de quem pratica a
reverência, bem como o estado de exaltação prestada a que é reverenciado. Trata-se
de reconhecer a posição de inferior em relação a quem é adorado. O reconhecimento
pode, ainda, envolver a gratidão pelas obras graciosas praticadas pelo serreverenciado. Neste aspecto, pode-se destacar a obra de salvação, as constantes
capacitações, os inúmeros livramentos, bem como a transcendência e imanência
divina.11
Adoração, portanto, partindo de uma cosmovisão cristã, trata-se de atitudes
inteligíveis e não uma meditação que faz com que o "adorador" entre num transe para
o ser "adorado". O sentido hodierno do termo "adoração" em português tomou um
rumo assimilado pelo idioma inglês, worship, cujo significado transcende a ideia de
serviço e catalisa mais o sentido de "atribuir mérito ou valor" a alguém.
Ralph Martin corrobora com essa colocação quando observa que adoração é, em
si, uma palavra nobre. Ele explica que o termo português deriva, conforme explicado
acima, da palavra Anglo-Saxônica, weorthscipe, que por sua vez desenvolveu-se para
worthship, até chegar, finalmente, em worship.12 As duas primeiras expressões
possuem o prefixo worth, que dá a ideia de atribuir valor a algo ou alguém. Entretanto,
no sentido religioso, a palavra toma uma conotação de valor supremo.
11
PAES, Carlito; COSTA, Sidney. Ministério de Adoração na igreja contemporânea. São Paulo: Vida, 2003,pp. 26,27.12 MARTIN, Ralph P. Adoração na Igreja Primitiva. São Paulo: Vida, 1982, p. 14.
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Outro paradigma relacionado à expressão "adoração" diz respeito à
musicalidade. Há uma ligação não correta de que adorar é cantar ou louvar. A
adoração tem a ver, conforme se percebe em sua etimologia, um serviço contínuo
para Deus. Tal serviço pode e deve ser desenvolvido dentro e fora dos templos.13
O QUE É “IGREJA”
A palavra “igreja”, tal qual é usada hoje, é amplamente identificada com o local
em que os cristãos se reúnem para a adoração coletiva. Esse significado deriva da
etimologia germânica, através das quais as palavras kirche, church e kerk , derivadas do
grego tardio, kiriakón, significavam “Casa do Senhor”. No Novo Testamento, a palavra
usada para se referir a “igreja” é ekklêsía, e seus significados usuais compõem: a) uma
comunidade local; b) uma comunidade espiritual e c) uma assembleia litúrgica.
14
Partindo de tais pressupostos, é correto dizer que a igreja possui dupla natureza:
uma natural e uma espiritual, uma visível e uma invisível, uma material e outra mística.
Ela é ao mesmo tempo “universal” e “particular”, dialética esta que pertence e
percorre sua essência. Nos parágrafos abaixo serão vistas as opiniões teológicas de
Lutero, Zwinglio, Calvino e Wesley a respeito desse assunto.
Lutero enxergava a Igreja como dotada de duas naturezas, uma espiritual e outra
física. No primeiro sentido ele a via como “uma assembleia de corações em uma única
fé”, ou seja, um corpo espiritual formado pelos salvos. No sentido físico, ele entendia
como sendo a igreja visível e que não necessariamente incluía somente os salvos, mas
sendo formada por joio e trigo. Além disso, ele dizia sobre seu caráter não
institucional. Para ele, a Igreja é o povo de Deus, um corpo de cristãos, santos e
ovelhas.15
A visão de Zwinglio não difere do que foi analisado anteriormente. Ele escreveu
uma série de artigos que são considerados o primeiro tratado de confissão
protestante, por abordar alguns princípios basilares do movimento protestante que
teve seu start up na Alemanha com Lutero. Em seu oitavo artigo ele disse que, “todosos que permanecem no cabeça são membros e filhos de Deus, e tal é a igreja ou a
comunhão dos santos, a noiva de Cristo, Ekklesia catholica”.16
Para Calvino, a igreja é a mãe de todos os cristãos, a escola de Deus, o
reformatório divino, a coluna e baluarte da verdade. Ele enxergava grande importância
na participação do cristão em uma comunidade visível, pois nesta vida, o local de
13 PAES, Carlito; COSTA, Sidney. Op. Cit., pp. 27-33.
14 HACKMANN, Geraldo Luiz Borges. A Amada Igreja de Jesus Cristo: manual de eclesiologia como
comunhão orgânica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003, p. 29.15 BAYER, Oswald. A teologia de Martim Lutero. São Leopoldo: Sinodal, 2007, pp. 185-200.16 GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1993, pp. 138-140.
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membro do corpo de Cristo não precisava se importar com obras. Sua crítica apontava
para uma fé auto enganadora e superficial. Tal fé, na teologia Tiaguina, não passa de
algo sem vida e incapaz de glorificar a Deus (Tg 2.14-19).
O mesmo assunto percorre a teologia paulina, bem como os ensinos Jesuíticos.
Paulo argui que as obras devem ser feitas com amor e que de nada adianta fazer o
bem com fingimento ou por interesses (Rm 12.9; 1 Co 13. 1-3; 2 Co 6.6). Ele próprio
assevera a salvação mediante a graça, mas ao mesmo tempo revela a necessidade de
haver boas obras (Gl 2.8-10). Não obstante, o pensamento petrino também não fica de
fora desse contexto. Ele exorta seus leitores a praticarem a fraternidade com um
coração puro e sem fingimento ou hipocrisia (1 Pe 1.22).
Os pensamentos apostólicos até aqui expostos são intensamente validados pelos
ensinos de Jesus, que era completamente contra a ideia de se auto promover quando
se ajudava alguém. De acordo Cristo, o que a mão direita faz, a esquerda não precisasaber e vice-versa. Para Ele, todas as 613 leis no Antigo Testamento, 20 podiam ser
sintetizadas em apenas outros dois: amar a Deus de toda força, alma e entendimento e
amar ao próximo como alguém ama a si mesmo.
A ADORAÇÃO E A COLETA
A adoração possui, inequivocamente, seu lado transcendental e místico. Não há
como desassociar tal ideia do culto cristão, afinal, “Deus [é] Espírito, e importa que osque o adoram *o+ adorem em espírito e em verdade” (Jo 4. 24). Apesar disso, a Igreja
também possui uma realidade material e física.
Por mais que sejam enfatizadas a espiritualidade e transcendência do
relacionamento Deus-homem e homem-Deus, há uma natureza indissociável do
mundo presente, que não pode arrematar a Igreja para uma Shangri-la espiritual ou
para um universo de beatitude, comodidade e prazer imaculado.
Conforme a exposição do presente ensaio pode-se concluir que, a adoração
envolve um lado espiritual, devido a Deus, mas também envolve uma faceta natural
que se ajusta às necessidades humanas coletivas e individuais, através das quais é
gerada uma responsabilidade social de adoração.
Ainda na dicotomia da adoração, outra área que figura a ação adoradora
encontra-se nas contribuições financeiras. Num primeiro instante, ela aborda o
reconhecimento e ação de graças ao Deus que tem sustentado a agido
20
A tradição judaica chama os 613 mandamentos da Torá, isto é, dos livros da Lei (os primeiros cincolivros da Bíblia Cristã – Gênesis, Êxodo, Levítico e Deuteronômio), de Taryag mitzvot sendo queTaRYaG,é um acrônimo do valor numérico "613.
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provisionalmente em cada detalhe da vida humana. Numa segunda abordagem, ela
atua na mordomia cristã em favor dos necessitados.
Nos primeiros séculos da era cristã, houve uma sincera preocupação com a área
social da igreja. As viúvas e órfãos não podiam ser esquecidos. Mas o agir social não se
limitava a essas áreas. As coletas deveriam demonstrar a solicitude cristã para os que
estavam passando alguma necessidade. Sobre isso, Martin comenta:
O objeto da contribuição da igreja de Corinto foi aliviar os “santos”
(i.é, cristãos judaicos) pobres em Jerusalém, conforme omanos 15:26
os descreve. Alguns anos antes de escrever 1 Coríntios, Paulo
aceitara certa medida de responsabilidade pela igreja em Jerusalém,
assolada pela pobreza (Atos 11:27-30); e, depois disto concordara em
“lembrar-se“ destes irmãos crentes necessitados, e levar a sua
contínua petição por ajuda diante das igrejas gentias que
estabelecera sob a orientação de Deus (Gálatas 2:10).21
Na parábola do bom samaritano, apesar de não haver uma instrução para a
coleta de contribuições, a ilustração maestral sobre a ajuda ao próximo é feita como
uma resposta para o questionamento de um líder religioso da época. A ideia de tal
proponente do farisaísmo era colocar Jesus a uma exposição vexatória, com o intuito
de colocar o Cristo como alguém inferior no sentido epistemológico da Lei levítica. O
representante religioso mostrou, para sua própria ignomínia, que deve-se ajudar o
próximo. Ao ouvir tais palavras, Jesus o desafiou: “faça isso” (cf Lc 10.27), como que
dizendo que havia um contraste entre sua epistemologia e práxis.22
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Através dessas primeiras definições, o estudante da teologia do culto cristão
poderá estar munido do conhecimento básico e necessário para seguir com os dados
posteriores. A compreensão do significado etimológico de culto, religião e liturgia
demarca o ponto de partida.
As próximas aulas se darão em torno dos aspectos litúrgicos na histroriografia
eclesiástica, passando pelo primitivismo, escolasticismo, protestantismo,
wesleyanismo, pentecostalismo, neopentecostalismo e novos movimentos inseridos
no cristianismo.
21
KAY, J. Alan. Op. Cit., p. 91, 92.22 HENDRIKSEN, Willian. Comentário do Novo Testamento: Lucas, volume 2. São Paulo: Cultura Cristã,2003, pp. 88-96.
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Haverá, ainda, abordagens relacionadas às fundamentações sistemáticas e
práticas do culto cristão com um foco mais direto na reforma protestante e no
metodismo primitivo. Para o desfecho dessa disciplina serão abordados os principais
desafios contemporâneos que a pregação expositiva, a musicalidade cristã, bem como
a missiologia enfrentam no contexto da pós-modernidade.
BIBLIOGRAFIA
AGOSTINHO. De Civitae Dei .
BAVINCK, Herman. Reformed Dogmatics: Prolegomena, Vol I. Grand Rapids: BakerAcademic, 2003.
BAYER, Oswald. A teologia de Martim Lutero. São Leopoldo: Sinodal, 2007.
BURTNER, Robert W.; CHILES, Robert. E. (org.). Coletânea da Teologia de João Wesley .Rio de Janeiro: Colégio Episcopal, 1995.
CALVINO, João. Institutas.
CÍCERO. De Natura Deorum.
COSTA, Hermisten M.P. Princípios Bíblicos-Reformados da Adoração Cristã. São Paulo:Cultura Cristã, 2002.
GÉLIO. Noctes Atticae.
GEORGE, Timothy. Teologia dos Reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1993.
HACKMANN, Geraldo Luiz Borges. A Amada Igreja de Jesus Cristo: manual deeclesiologia como comunhão orgânica. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2003.
HENDRIKSEN, Willian. Comentário do Novo Testamento: Lucas, volume 2. São Paulo:Cultura Cristã, 2003.
KAY, J. Alan. The Nature of Christian Worship. Londres: Epworth Press, 1953.
LACTÂNCIO. Divinia Instituitiones.
MARTIN, Ralph P. Adoração na Igreja Primitiva. São Paulo: Vida, 1982, p. 14.
MONDONI, Danilo. Teologia da Espiritualidade Cristã. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
PAES, Carlito; COSTA, Sidney. Ministério de Adoração na igreja contemporânea. SãoPaulo: Vida, 2003.
WHITE, James F. Introdução ao Culto Cristão. São Leopoldo: Sinodal, 1997.