Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Bençãos e Maldicões

download Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Bençãos e Maldicões

of 22

description

Objetos Que Trazem Bençãos e Maldicões

Transcript of Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Bençãos e Maldicões

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    1/22

    OBJETOS QUE TRAZEM BENO E MALDIO:Um Estudo sobre o Uso de Objetos e a !

    Augustus Nicodemus Lopes

    Um assunto que tem provocado muita polmica em nossos dias o ensino do

    moderno movimento de batalha espiritual acerca de objetos que tm o poder deabenoar e amaldioar aqueles que os tocam ou possuem. Nesse pequeno artigo,procuro compreender esse ensino e oferecer uma avaliao.

    Objetos "ue Tra#em B$%&'oNos cultos de muitas igrejas de libertao, objetos variados so empregados comocanais de bno. Eles so ungidos abenoados! nos cultos com o objetivo depassarem ao fiel algum tipo de benef"cio. #s mais comuns so a $gua fluidificadacolocada sobre o r$dio ou %& durante a orao do 'homem de (eus'!, a rosaungida, ramos de arruda, sal grosso, )leo, $gua, vinho, pedrinhas tra*idos da'terra santa' +srael!, fitinhas, pulseiras e lenos.

    Embora os l"deres dessas igrejas insistam que esses objetos abenoadosfuncionam apenas como apoio para a f dos crentes, ao fim, acabam sendousados como talisms, fetiches e outros objetos 'carregados' de poder espiritual.#s seus possuidores devem us$los de acordo com algum tipo de ritual, ap)s oculto. - $gua pode ser bebida em casa, ap)s a orao de consagrao. # 'cajadode oiss' deve ser usado para bater naquilo que o crente gostaria de ter umcarro novo, por e/emplo!. 0enos ungidos devem ser carregados junto ao corpopor determinado tempo, geralmente durante o tempo de uma corrente de orao.1!

    uitas ve*es objetos so 'abenoados' nessas igrejas com o objetivo deespantarem e e/pelirem dem2nios. - idia que est$ por detr$s desse uso religiosode artigos e objetos o de que as entidades espirituais anjos e dem2nios! podemser atingidas atravs dos sentidos como cheiros, cores, gosto e vo*es. Nesseponto os cristos do primeiro sculo se afastaram significativamente das pr$ticase/orcistas do 3uda"smo da sua poca, que foram desenvolvidos no per"odointertestament$rio. #s mtodos rab"nicos de tratar com dem2nios inclu"a o uso detochas de fogo 4 noite, amuletos, filactrios,5! f)rmulas m$gicas, fumiga6es,entre outros. - idia era que essas coisas teriam em si algum tipo de poderm$gico contra os dem2nios.7! No cristianismo primitivo, entretanto, a idia de quedem2nios pudessem ser atingidos atravs de sons, cheiros ou coisas materiais e

    tang"veis, est$ ausente.

    8 importante di*er que no duvido da sinceridade e da boaf dos que empregamesses objetos. Entretanto, podemos estar sinceramente enganados no que di*respeito ao culto a (eus, como os judeus na poca de 9aulo :m 1;.15!. 8 minhaconvico que o uso desses objetos como apoio para f ou canal de bnos nofa* parte do culto agrad$vel a (eus que nos ensinado nas Escrituras.

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    2/22

    E%te%de%do o uso de objetos %a B(b)*a.15, onde se relata o usodos aventais e lenos de 9aulo para e/pulsar dem2nios em 8feso. 8 precisosalientar, entretanto, que esse acontecimento o ?nico do gnero que temosregistrado no Novo %estamento. @e* parte dos 'milagres e/traordin$rios' que o.11!.

    (evemos interpretar essa passagem da mesma forma como interpretamos osrelatos do -ntigo %estamento sobre o cajado de oiss E/ A.B,1C! e o manto deElias 5 :e 5.A,1D!. Esses objetos foram ve"culos materiais do poder miraculosodesses homens. # prop)sito das narrativas acerca do poder que havia neles foimostrar o e/traordin$rio poder de (eus nas vidas dos seus possuidores,comprovando que a sua mensagem vinha realmente da parte de +av. # ponto que esse poder era to grande que at as coisas com as quais oiss e Eliastinham contato di$rio se tornavam canais atravs dos quais ele era transmitido.

    -lm dessas ocorrncias no -ntigo %estamento mencionadas acima, outroseventos so citados como justificativa para o uso de objetos como ve"culos dopoder divino. oiss fe* uma serpente de bron*e Nm 51.>!. Eliseu usou um pratonovo com sal para miraculosamente sanar as $guas de 3eric) 5 :e 5.1>55!, umpouco de farinha para purificar uma comida envenenada 5 :e D.7AD1!, um paupara fa*er flutuar um machado que caiu no rio 5 :e C.1!.

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    3/22

    transmitiam o poder curador de (eus que neles havia. 8 dessa forma quedevemos entender o relato de -tos 1> sobre o poder curador dos lenos eaventais de 9aulo.

    Evidentemente, essas passagens no servem como prova de que, hoje, as igrejas

    evanglicas podem abenoar objetos e us$los para e/pelir dem2nios, protegerseus possuidores contra foras negativas e curar molstias. Notemos as principaisdiferenas entre o uso destes objetos nos relatos b"blicos e o uso que feito hojepelas igrejas de libertao.

    1. @oram usados como s"mbolos Em v$rios casos, o papel de objetos nae/ecuo dos milagres b"blicos melhor entendido como tendo sido simb)lico. (ealguma forma estavam relacionados 4 nature*a do milagreG uma serpente debron*e para curar mordeduras de serpentes, um pedao de pau para fa*er ummachado flutuar, sal e farinha para purificar $guas e comida os dois elementoseram usados nos sacrif"cios!, ossos para tra*er vida e $gua do 3ordo para

    'limpar' a lepra. Nas igrejas de libertao, muito embora se diga que os objetosfuncionam simbolicamente como apoio para a f, acabam sendo aceitos pelos fiismenos avisados como possuindo em si mesmos alguma virtude ou poder.

    5. - nature*a dos milagres em que foram empregados #s objetos fi*eram partede milagres que no vemos serem repetidos hoje. - melhor maneira de provar queo uso de objetos ungidos hoje opera a mesma liberao do poder divino como noseventos relatados na ="blia, seria abrir rios, ressuscitar mortos, curar leprosos,cegos e aleijados, sanear $guas amargas e limpar comidas envenenadas usandoobjetos pessoais dos mission$rios e obreiros dessas igrejas. Entretanto, os'milagres' efetuados pelos objetos ungidos nas igreja de libertao nem de pertose assemelham aos prod"gios e/traordin$rios narrados nas Escrituras.

    7.

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    4/22

    bordo de Eliseu, as vestes de 3esus, os lenos e aventais de 9aulo e, num certosentido, a sombra de 9edro. Eles s) foram empregados por isso. # alvo eramostrar o e/traordin$rio poder de (eus sobre tais homens. Huando refletimos nofato de que somente coisas pessoais dos profetas, do

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    5/22

    impregnados de emana6es malignas, como se dem2nios de fato residissem nosmesmos. 9ara usar a linguagem de alguns do movimento, esses objetos estariam'demoni*ados'. Esse conceito similar ao praticado na magia. #bjetosmagicamente 'carregados' so considerados como transmissores do poder dam$gica que representam, e afetam aos que os tocam.

    9ortanto, caso um cristo venha a ter em sua casa, escrit)rio ou local de trabalho,qualquer um desses objetos, estar$ dando ocasio para que os dem2nios asverdadeiras entidades espirituais associadas com esses objetos! prejudiquem suavida material e espiritual. - idia que objetos como "dolos, imagens, esculturas,quadros e fotos se tornam pontos de contato para os dem2nios, que sempre estoprocurando materiali*arse atravs de alguma coisa e assim atormentar oshomens.B! -dmitir tais coisas dentro de casa, seria convidar os dem2nios a entrare nos atormentar. Nas palavra de 3orge 0inhares,

    No basta que abenoemos os nossos bens, nossos pertences. precisamos

    verificar se no temos permitido adentrar em nosso lar objetos que so pornature*a amaldioados objetos que temos de lanar fora e de preferncia,queimar ou destruir.C!

    Uma outra coisa que segundo o pensamento da 'batalha espiritual' permite aentrada de dem2nios na vida da pessoa o ingerir comidas 'trabalhadas' emcentros de umbanda. Num cap"tulo entitulado 'Iomo os dem2nios se apoderamdas pessoas', do livro #ri/$s, Iaboclos J Kuias, Edir acedo inclui comidassacrificadas a "dolos como um desses meios. Ele conta o caso de um homem queingeriu uma comida 'trabalhada' e foi atacado por um esp"rito maligno que o fa*iasofrer do est2mago. Ele conclui di*endo, '%odas as pessoas que se alimentamdos pratos vendidos pelas famosas LbaianasL esto sujeitas, mais cedo ou maistarde a sofrer do est2mago.'!

    arM =ubecM, que ficou conhecido no =rasil por seu livro # -dvers$rio, escreveurecentemente um outro livro sobre como podemos criar nossos filhos em meio aosconstantes ataques que os dem2nios fa*em ao nosso lar. -o fim do livro, =ubecMadicionou um apndice, contendo question$rios cujas perguntas procuram levar osleitores a descobrir as portas pelas quais tm permitido aos dem2nios entrarem nolar e atacar os filhos. Uma das portas a presena em casa de objetosamaldioados, como amuletos, fetiches e talisms, livros sobre ocultismo,bru/aria, astrologia, m$gica, adivinhao, e utens"lios ou objetos usados emtemplos pagos, rituais de feitiaria, ou ainda na pr$tica da adivinhao, m$gicaou espiritismo. - sugesto de =ubecM que a presena dessas coisas no larpermite aos dem2nios que penetrem na casa e atormentem os filhos.A!

    Uso de objetos %o +a,a%*smo- lista de =ubecM bem modesta. #s objetos considerados 'amaldioados' pormuitos cristos so via de regra aqueles usados nas religi6es afrobrasileiras, naspr$ticas ocultas e no catolicismo popular. Nas religi6es populares que empregamartes m$gicas e pr$ticas ocultas, objetos religiosos desempenham importante

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    6/22

    papel no culto e na f dos participantes.

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    7/22

    mission$rio orou determinando aos dem2nios que fossem embora, e a moa podevoltar a dormir normalmente.17!

    # pressuposto por detr$s desse tipo de relato que esses objetos abrem a portapara os dem2nios, visto que foram consagrados a eles nos rituais de magia e

    ocultismo, e mesmo no catolicismo. # fato de que uma pessoa crente noevitar$ que seja oprimida pelos esp"ritos associados a objetos deste tipo.

    E/istem algumas dificuldades com esse conceito. No que se segue, vamose/plicar algumas delas.

    1! # conceito da habitao de dem2nios em objetos f"sicos. Rarner conta ahist)ria de uma fam"lia de mission$rios nas @ilipinas cujo filho era assediado porum dem2nio que morava numa $rvore do jardim da casa onde moravam.1D! #conceito de entidades espirituais morando em $rvores remonta 4 mitologia grega eao paganismo em geral. -s Escrituras desconhecem esse conceito e falam dos

    dem2nios como atuando especificamente em seres vivos, humanos ou animais.Entretanto, comum lermos na literatura do movimento de 'batalha espiritual' queesp"ritos malignos podem habitar em coisas como $rvores, imagens, objetos,casas, etc.

    Ts ve*es -pocalipse 1A.5 citado como prova de que dem2nios podem morar emlugares amaldioadosG

    Ento, e/clamou com potente vo*, di*endoG Iaiu Iaiu a grande =abil2nia e setornou morada de dem2nios, covil de toda espcie de esp"rito imundo eesconderijo de todo gnero de ave imunda e detest$vel.

    -qui temos o an?ncio da queda de =abil2nia feito por um anjo de (eus. Notemos,porm, o seguinte, antes de concluirmos que o te/to prova que dem2nios moramem ru"nas 1! - passagem evidentemente aleg)rica. Nos dias de 3oo,=abil2nia j$ no mais e/istia. 5! 3oo est$ citando 3eremias B;.7> e +sa"as 17.51.Esses dois profetas referemse 4 queda e destruio da cidade de =abil2nia quee/istiu em seus dias. - desolao que lhe haveria de sobrevir, como resultado docastigo divino, ia ser to grande, que a grande cidade, outrora populosa eopulenta, iria se tornar em um grande monto de ru"nas. Iom o prop)sito deenfati*ar a desolao, os profetas descrevem as ru"nas como sendo habitadas porferas e animais do desertoG chacais, avestru*es, corujas e hienas. -

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    8/22

    concluso que no e/iste argumentos b"blicos suficientes para provar queesp"ritos imundos moram e habitam em coisas como objetos, casas, $rvores, etc.

    5! # estabelecimento de um pacto com esses dem2nios pela posse de objetos aeles consagrados. Nenhum adepto do movimento de 'batalha espiritual' estaria

    disposto a admitir que um incrdulo entra em algum tipo de pacto ou concerto com(eus simplesmente por ter uma ="blia em casa, ou mesmo por ter participadoinadvertidamente da Ieia do

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    9/22

    conscientemente como amuletos protetores, como fetiches m$gicos, como sefossem encantamentos contra maus esp"ritos. @oi contra essa pr$tica de magia eocultismo que os profetas falaram. Evidentemente, ter objetos desse tipo em casapode no ser conveniente ao cristos por v$rios motivos veja a concluso dessecap"tulo!. Entretanto, se eles no tm qualquer sentido, significado ou relao

    religiosos, o cristo no se enquadra na condenao emitida pelos profetas.5! 9assagens que condenam imagens. E/istem in?meras passagens nasEscrituras que condenam a idolatria, isso , o ato de prestar culto 4 imagens bemcomo 4s realidades espirituais que elas representam. Um fator que contribuisignificativamente para essa condenao a relao entre a idolatria e osdem2nios. Nos tempos antigos, m$gica, adivinhao, feitiaria, bru/aria enecromancia invocao de mortos! estavam to intimamente ligados 4 idolatria,que era quase imposs"vel separar uma coisa da outra. oiss identifica os deusespagos com dem2nios (t 75.1F cf. 5;! e o ap)stolo 3oo -p >.5;!. -credito que o mesmo verdade aindahoje. 9or detr$s da moderna idolatria esto os antigos dem2nios.

    Entretanto, mais uma ve* preciso observar que as Escrituras condenampropriamente o confeccionar e possuir imagens de entidades pags com prop)sitoreligiosoG

    No ter$s outros deuses diante de mim. No far$s para ti imagem de escultura,nem semelhana alguma do que h$ em cima nos cus, nem embai/o na terra,nem nas $guas debai/o da terra. No as adorar$s, nem lhes dar$s cultoF porqueeu sou o !. Ela foi mais tarde destru"da somente por que os israelitas passarama ador$la, provavelmente como uma rel"quia provinda dos tempos de oiss 5:e 1A.D!. # motivo pelo qual o

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    10/22

    deveriam meter esses "dolos dentro de suas casas, pois eram amaldioados por(eus e representariam uma tentao para praticarem a idolatria (t .5B5C!. aisuma ve* percebemos que o perigo da idolatria que o que os e/adeptos da magia em 8feso que haviam seconvertido ao cristianismo pela pregao de 9aulo, queimaram seus livrospublicamente. Esses 'livros' eram obras onde se ensinava a pr$tica dessas artes.Iontinham encantamentos, s"mbolos secretos e m$gicos, passos para ainvocao de mortos e mtodos para esconjurar dem2nios. 9rovavelmentecontinham tabelas e f)rmulas essenciais para a pr$tica da astrologia. #s '9apiros$gicos', encontrados no Egito na dcada de B; desse sculo, continhampedaos de pergaminhos com s"mbolos e f)rmulas m$gicas chamados 'cartas de8feso', que eram usados como amuletos ou talisms.1A!

    8 alegado por alguns da 'batalha espiritual' que a queima dos livros de magia em8feso foi necess$ria pois a posse de tais livros continuaria a dar validade aospactos feitos pelos efsios com entidades malignas e a dar autoridade a essasentidades sobre suas vidas, mesmo que eles agora se tornaram cristos. Hueimar

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    11/22

    os livros fa*ia parte da quebra das maldi6es que pesavam sobre eles por terempraticado artes m$gicas antes da sua converso. Na cerim2nia da queima doslivros, eles renunciaram publicamente a todos esses compromissos e pactos quefi*eram com os esp"ritos malignos.

    Evidentemente, a queima dos livros de magia representou o rompimento oficial ep?blico dos efsios crentes com seu passado de ocultismo. Entretanto, nada h$ note/to que apoie a idia de que o evento foi uma espcie de cerim2nia de quebrade maldi6es. - queima dos livros foi o resultado da conscincia que os efsiosagora tinham de que tais artes m$gicas era iniquidade diante de (eus, e que oslivros que ensinavam essa coisas eram perniciosos 4 humanidade e que, por maiscaros que fossem cerca de cinqOenta mil moedas de prata!, deveriam serdestru"dos para no causar mais danos a outros. # verso 1> que narra a queimados livros deve ser entendido 4 lu* do verso 1A, onde se di* que os efsios vieramconfessar seus pecados e revelar as suas obras m$s. - queima dos livros foi umaamostra de seu genu"no arrependimento.

    Iomentando nessa passagem, 3ohn Kill, um estudioso puritano, di* o seguinteG

    Eles queimaram seus antigos livros de m$gica para mostrar o quanto agora osdetestavam. %ambm, para mostrar a genuinidade de seu arrependimento pelospecados cometidos nessa $rea, para evitar que esses livros no se tornassemuma armadilha para eles no futuro e para que no fossem usados por outros.1>!

    #s livros, portanto, no foram queimados porque possu"am qualquer podermalfico intr"nseco em si mesmos. #s motivos mencionados por Kill para aqueima esto em harmonia com o ensino das Escrituras em geral, com o bomsenso e com o que tem sido a pr$tica normal da +greja na hist)ria, alm de ser ainterpretao mais natural e )bvia da passagem.5;!

    E/iste ainda um outro motivo para a queima dos livros. Uma parte essencial dapr$tica de artes m$gicas daquela poca era o e/orcismo, a e/pulso de esp"ritosmalignos. -creditavase como tambm se acredita hoje em alguns c"rculosprotestantes! que todas as doenas particularmente as mentais eram causadaspor esp"ritos maus que entravam nos homens. Krande parte do trabalho dose/orcistas era tentar curar essas doenas pela e/pulso dos esp"ritos maus queas infligiam. Nos seus livros m$gicos haviam f)rmulas especiais para esconjuraresses esp"ritos.

    Huando 9aulo chegou em 8feso, duas coisas aconteceram que vieram contribuirpara a queima dos livrosG 1! Ele curou as enfermidades e e/pulsou dem2niosusando apenas o nome de 3esus -t 1>.1115!, em contraste com os rituaiselaborados e complicados dos e/orcistas da poca, como se encontravam noslivrosF 5! quando alguns e/orcistas tentaram usar o nome de 3esus e de 9aulopara e/pelir um dem2nio de um homem, fracassaram redondamente. # pr)priodem2nio atestou a autoridade que havia no nome de 3esus -t 1>.171C!.51! 8poss"vel que alguns dos efsios que haviam se convertido ainda mantinham algum

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    12/22

    tipo de contato com artes m$gicas. # epis)dio dos e/orcistas acabou porconvenclos. @icou evidente a todos que a m$gica ensinada nos livros nopassava de f)rmulas va*ias e in?teis. Iomo escreve arshall,

    - demonstrao da futilidade das tentativas pags de dominarem os esp"ritos

    maus levou muitos dos convertidos efsios de 9aulo a reconhecerem que a magiapag, com a qual ainda tinham contatos, era to in?til quanto pecaminosa. IomoconseqOncia, trou/eram os v$rios manuais de magia e as compila6es deinvoca6es e f)rmulas que ainda tinham, e fi*eram com eles um rompimento final.55!

    # verdadeiro poder contra

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    13/22

    banquete, geralmente em casamentos. uitas ve*es, essas festas ocorriam notemplo, no qual o sacrif"cio fora feito.5B! #s crentes de Iorinto certamentemantinham relacionamentos com amigos nocrentes, e sempre havia apossibilidade de serem convidados a participar de uma destas festas no templo,onde havia muita carne e bebida. -lguns daqueles cristos no tinham quaisquer

    escr?pulos de conscincia em participar e comer carne dos "dolos no templo dos"dolos, uma atitude que estava provocando os de conscincia mais fraca.

    5. Era l"cito comer carne comprada no mercado p?blicoV - carne ali compradapoderia ser de animais sacrificados aos deuses, cujo e/cedente dos altares haviasido repassado pelos sacerdotes aos aougueiros da cidade. (evido 4 enormequantidade de animais sacrificados, uma parte deles acabava no mercado p?blico,onde eram vendidos como carne boa e barata.

    7. Era l"cito comer carne na casa de um amigo id)latraV Iomo na situaoanterior, um crente poderia ser convidado por um amigo pago para comer um

    churrasco em sua casa. - carne provavelmente seria de um animal que o amigohavia primeiro consagrado ao seu deus, l$ no templo. Um papiro grego muitoantigo contm um convite para uma dessas festas, nos seguintes termosG'-nt2nio, filho de 9tolomeu, convidao para cear com ele 4 mesa de nosso senhor

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    14/22

    por detr$s da idolatria 9aulo. 9rovavelmente os cor"ntios nem estavampensando nesses termos. - e/plicao de =arclaQ, portanto, menos do queconvincente.5>!

    #s crentes de Iorinto estavam divididos quanto ao assunto. Um grupo deles

    estava passando por grande aflio. Eram e/freqOentadores dos templos, recmconvertidos ao Evangelho. 9or ve*es, acabavam caindo no velho costume decomer carne, encorajados pelo e/emplo dos que achavam que no havia nada deerrado com isso. Iomo resultado, suas conscincias os acusavamG eles haviamacabado de consumir carne espiritualmente contaminada, consagrada aosdem2nios em um templo pago. 9aulo, no tratamento que fa* do assunto,consideraos como 'fracos', pois suas conscincias eram 'fracas' 1 Io A.,>15!.# grupo contr$rio, a quem 9aulo chama de 'dotados de saber' 1 Io A.1;!, tinha

    j$ plena conscincia de que os "dolos dos templos pagos nada eram nessemundo, e que os animais a eles ofertados, na verdade, continuavam a ser de(eus, o criador e !, e ap)salertar os 'fortes' contra a arrogncia, usando o e/emplo de +srael no deserto 1Io 1;.11B!, 9aulo responde 4s trs principais indaga6es dos Ior"ntios j$mencionadas acima.

    # fato de que 9aulo no invoca aqui a deciso do conc"lio de 3erusalm -tos 1B!para resolver o assunto de ve* tem intrigado os estudiosos. Ionforme lemos nolivro de -tos, o conc"lio havia se reunido para tratar das condi6es sob as quais osnojudeus poderiam ser salvos e recebidos na +greja. - polmica havia sidocausada por alguns judeus cristos da 3udia que foram at as igrejas gent"licasforar os gentios a se circuncidarem, e a guardar as leis de oiss naquela

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    15/22

    poca, as mais importantes eram as leis diet$rias e o calend$rio religioso!. 9aulo e=arnab resistiram e houve uma grande discusso. # assunto foi levado aosap)stolos e presb"teros em 3erusalm. -lguns fariseus que haviam crido em Iristoinsistiam na circunciso e nas leis de oiss para os gentios, mas 9aulo, 9edro e%iago, atravs de seus testemunhos e do apelo 4s Escrituras, convenceram o

    conc"lio de que os gentios eram salvos pela f sem as obras da lei como tambmos judeus o eram!, e que no precisavam se tornar judeus para poder pertencer 4+greja de Iristo. # conc"lio, entretanto, em sua deciso, resolveu incluir algumascondi6es ticas, entre elas, a de os gentios se absterem das coisas sacrificadasaos "dolos -t 1B.5>!.

    # conc"lio havia acontecido uns poucos antes de 9aulo escrever 1 Ior"ntios. #ap)stolo estava perfeitamente consciente do conte?do da sua deciso. - pergunta, por que no invocou aquela deciso para acabar de ve* com o problema emIorintoV -lgumas respostas tem sido dadas. 9eter Ragner, por e/emplo, sugereque 9aulo no havia ficado satisfeito com essa deciso, considerandoainadequada e superficial. 9ara Ragner, a deciso do conc"lio havia sidoequivocada por tratar o comer carne sacrificada aos "dolos como algo imoral,quando na verdade era algo neutro.7;! Entretanto, a melhor soluo tem sidoobservar que as condi6es ticas requeridas pelo conc"lio eram para serobservadas num ambiente onde houvesse judeus e gentios. Eram regras a serseguidas pelos gentios cristos numa igreja onde houvesse judeus cristos. Elasno eram uma lei moral geral e v$lida em todas as circunstncias, mas umaorientao para quando a abstinncia se fi*esse necess$ria para preservar aunidade, conforme sugere Ialvino em seu coment$rio em -tos 1B.

    - situao de Iorinto era diferente. # problema l$ no era o mesmo tratado noconc"lio de 3erusalm. # problema no era os escr?pulos de judeus cristosofendidos pela atitude liberal de crentes gentios quanto 4 comida oferecida aos"dolos. 9ortanto, a soluo de 3erusalm no servia para Iorinto. 8provavelmente por esse motivo que o ap)stolo no invoca o decreto de3erusalm.71! -ntes, procura responder 4s quest6es que preocupavam oscor"ntios de acordo com o princ"pio fundamental de que s) h$ um (eus vivo everdadeiro, o qual fe* todas as coisasF que o "dolo nada nesse mundoF e quefora do ambiente do culto pago, somos livres para comer at mesmo coisas queali foram sacrificadas.

    1. - primeira pergunta dos cor"ntios havia sidoG era l"cito participar de um festivalreligioso num templo pago e ali comer a carne dos animais sacrificados aosdeusesV No, responde 9aulo. +sso significaria participar diretamente no culto aosdem2nios onde o animal foi sacrificado 1 Io 1;.1C5D!. 9aulo havia dito que osdeuses dos pagos eram imagin$rios 1 Io 1;.1>!. 9or outro lado, ele afirma queaquilo que sacrificado nos altares pagos oferecido, na verdade, aos dem2niose no a (eus 1;.5;!. 9aulo no est$ di*endo que os gentios conscientementeofereciam seus sacrif"cios aos dem2nios. #bviamente, eles pensavam queestavam servindo aos deuses, e nunca a esp"ritos malignos e impuros. Entretanto,

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    16/22

    ao fim das contas, seu culto era culto aos dem2nios. 75! 9aulo est$ aquirefletindo o ensino b"blico do -ntigo %estamento quanto ao culto dos gentiosG

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    17/22

    santifica. 9or isso, tudo que os filhos de (eus usam limpo, visto que o tomamdas mos de (eus, e de nenhuma outra fonte.7B!

    0ON0LUSO-o fim desse cap"tulo, espero ter dado evidncias claras de que no h$ como

    justificar hoje a pr$tica no culto cristo de ungir e abenoar objetos, quaisquer queforem os prop)sitos. %ambm, que no h$ como provar biblicamente que objetosusados e consagrados aos dem2nios nos cultos id)latras e ocultistas tm algumpoder especial de 'amaldioar' os crentes verdadeiros que os tocam, ingerem,usam ou acabam por possuilos fora do conte/to de adorao e devoo a essasentidades.

    (evemos sempre nos lembrar da diferena fundamental entre o conceito pago eo conceito cristo quanto ao emprego de 'coisas' com sentido religioso. -sreligi6es empregam objetos e utens"lios em seus cultos ou pr$ticas como s"mbolosde realidades espirituais ou portadores de poderes m$gicos. # culto cristo, em

    contraste, bem mais simples. Ele emprega apenas dois s"mbolos materiais, a$gua do batismo e os elementos da Ieia po e vinho!. - atitude do paganismopara com esses objetos tambm diferente da atitude dos evanglicos para comseus s"mbolos batismo e Ieia!. Enquanto que para os evanglicos a $gua, o poe o vinho so s"mbolos que tm seu valor e sua funo apenas no momento daministrao dos sacramentos, na pr$tica da magia, no ocultismo, nas religi6esafrobrasileiras e no catolicismo popular, os objetos c?lticos continuam a manteruma relao vital para com as entidades e realidades espirituais aos quais estoassociados, mesmo ap)s a sua consagrao durante os rituais. 9or e/emplo, umarosa que foi ungida continua a emanar foras positivas mesmo ap)s o ritual deconsagrao. Um amuleto que foi 'carregado' de fluidos positivos continuar$ aeman$los ad infinitum. Uma comida que foi 'trabalhada' por uma me de santonum terreiro de umbanda vai afetar quem a comer, fora do terreiro. 9ara osevanglicos, em contraste, uma ve* encerrada a Ieia, o po po comum e ovinho, vinho comum. Na verdade, eles permaneceram sendo vinho e po comunsdurante a celebrao da Ieia. -quele uso especial para o qual foram separados,cessa ap)s a celebrao. Nenhum pastor pode, fora do momento da celebraosuponhamos, durante o jantar em casa de amigos!, tomar po e declararG '(isse3esus, isso o meu corpo, comei deles todos'. Sgua, po e vinho perdem suasimbologia fora do culto. 9ara o paganismo, entretanto, a profunda relao entreobjetos c?lticos e as realidades e entidades espirituais associadas a eles permanente.

    9ortanto, os evanglicos que conhecem a sua ="blia no so superticiosos quantoa objetos oriundos de outras religi6es. Entretanto, acredito que devemos terbastante cautela quanto a objetos assim. Eu mesmo no guardo em casa ou noambiente de trabalho nenhuma dessas coisas. No que tenha receio que elaspodero dar aos dem2nios, a quem foram oferecidas, algum tipo de poder sobremim e minha fam"lia. Estou seguro e protegido no poder do meu

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    18/22

    1! (evemos evitar ter e e/ibir esses objetos quando os mesmos forem umatentao real para a idolatria ou ocultismo. Novos convertidos egressos daidolatria e cultos afrobrasileiros podero ser tentados a retornar 4s pr$ticasantigas, estimulados pelos s"mbolos do seu passado religioso. (evemos evitartoda e qualquer possibilidade de sermos tentados nessa $rea, bem, como evitar

    sermos causa de tropeo para outros. @oi isso que o ap)stolo 9aulo recomendouaos 'fortes' de Iorinto 1 Io 1;.7177!.

    5! (evemos evitar esses objetos se os mesmos evocam lembranas do nossopassado. uitos de n)s gostariam de esquecer per"odos e eventos acontecidosnos tempos de ignorncia. (eus nos deu a bno do esquecimento. 0ivremonos,pois, de tudo que mantm vivas lembranas assim.

    7! (evemos evitar esses objetos se os mesmos servirem de est"mulo a outros aque faam o mesmo, sem que estejam firmes em suas conscincias de que taisobjetos, em si, nenhum mal tra*em.

    Notas1 9ara um estudo mais detalhado das pr$ticas das igrejas de libertao, veja aan$lise feita por 0eonildo C. &eja tambm orelat)rio da Iomisso de (outrina da +greja 9resbiteriana do =rasil sobre a +grejaUniversal do :eino de (eus +greja Universal do :eino de (eus W>AX BAC1!.

    5 @il$cterio era uma pequena cai/a de couro, quadrangular, contendo cdulas depergaminho com passagens da Escritura, que os judeus tra*iam atadas uma nacabea e uma no brao esquerdo durante a orao da manh.

    7 If. erril Unger, =iblical (emonologQ Rheaton, +0G B5F a.edio, 1>C! 77.

    D #s milagres operados pelo >B! 75. Ele conta uma hist)ria na qual atribui aobjetos amaldioados o poder de rachar uma ponte do 9lano9iloto em =ras"lia,mesmo ap)s a quebra de maldi6es +bid., 77!.

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    19/22

    C 0inhares, =no e aldio, D1.

    If. Edir acedo, #ri/$s, Iaboclos J KuiasG (euses ou (em2niosV :io de3aneiroG Universal, 1>>CF 17a. edio! DA.

    A arM +. =ubecM, :aising 0ambs -mong RolvesG PoZ to 9rotect [our Ihildrenfrom Evil IhicagoG oodQ 9ress, 1>>! 577>.

    > &er a e/celente discusso de 0oraine =oettner sobre o uso de objetos no cultocat)lico, incluindo ros$rios, crucifi/os, escapul$rios, e rel"quias que vo desdepedaos da cru* de Iristo, da coroa de espinhos e o a. edio de 1>A;X 5AD>B!.

    1; Yurt Yoch afirma que alguns mosteiros cat)licos na

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    20/22

    repousaro, e as suas casas se enchero de corujasF ali habitaro os avestru*es,e os s$tiros pularo ali +s 17.51! -s feras do deserto se encontraro com ashienas, e os s$tiros clamaro uns para os outrosF fantasmas ali pousaro eacharo para si lugar de repouso +s 7D.1D!

    # s$tiro era um figura da mitologia grega, uma fera do deserto, metade homem emetade bode. Na antigOidade, era associada ao deus (ion"sio. 8 prov$vel que noper"odo do -ntigo %estamento e/istisse um culto aos s$tiros, tendo origem noEgito, e com o qual os israelitas tivessem alguma familiaridade quando aliestiveram como escravos cf. 3s 5D.1D!.

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    21/22

    55 +. PoZard arshall, -tosG +ntroduo e Ioment$rio, em

  • 7/13/2019 Augustus Nicodemus Lopes - Objetos Que Trazem Benos e Maldices

    22/22

    75 No somente 9aulo, mas os cristos em geral tinham esse conceito. 3ooescreveuG '#s outros homens, aqueles que no foram mortos por esses flagelos,no se arrependeram das obras das suas mos, dei/ando de adorar os dem2niose os "dolos de ouro, de prata, de cobre, de pedra e de pau, que nem podem ver,nem ouvir, nem andar' -p >.5;!.

    77 If. Iharles Podge, - IommentarQ on 1 J 5 Iorinthians Iarlisle, 9-G =annerof %ruth, 1ABF reimpresso 1>A! 1>7.

    7D Podge 1 J 5 Iorinthians, 1>D! chama a nossa ateno para o fato de que omesmo princ"pio se aplica hoje aos mission$rios que, por fora da'conte/tuali*ao', acabam por participar nos festivais pagos dos povos.