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    AUGUSTO DOS ANJOS: UM OLHAR ALM DO OLHAR

    Henrique Duarte Neto*

    RESUMO:O intuito principal do presente artigo o de caracterizar a poesia cannica de Augusto dosAnjos, ou seja, a que veio lue so! o t"tulo de Eu e outras poesias, coo sendo arcada pelae#peri$ncia do visionariso potico, pelo advento do eniga e pelo surgiento de ua espcie de ol%arn&o'(igurativo) *este sentido, apro#io o poeta do EU de certas correntes de +anguarda anti'retinianas,e especial o Si!oliso e o E#pressioniso) a! apro#io o autor parai!ano de certase#peri$ncias poticas (eitas por noes coo os de -ruz e Sousa e .ernando /essoa)

    A0SRA-:%e ain ai o( t%is article is to c%aracterize t%e canonical poes o( Augusto dos Anjos,t%at is, t%e one t%at cae t%o lig%t under t%e title o( Me and other poems, as !eing ar1ed !2 t%ee#perience o( t%e poetic visionaris, !2 t%e advent o( t%e eniga and !2 t%e !eginning o( a certain 1indo( non(igurative loo1) 3n t%is sense, it !rings t%e poet nearer to 4sel(5 o( soe c%ains o( t%e anti'retinal

    vanguard oveent, particularl2 t%e Si!olis and t%e E#pressionis literar2 oveents) 3 also !ringt%e aut%or (ro /ara"!a toget%er 6it% soe poetic e#periences produced !2 naes li1e -ruz e Sousa and.ernando /essoa)

    /A7A+RAS'-8A+E:Augusto dos Anjos, visionariso potico, arte anti'retiniana)

    9E;OR

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    De &umanas impresses visuais que eu sinto#Nas divinas vises do $ncola etreo4

    5estido de &idrog(nio incandescente#5aguei um sculo# improicuamente#'elas monotonias siderais...

    0u%i talve" 6s m!imas alturas#3as# se &oje volto assim# com a alma 6s escuras#7 necessrio que inda eu su%a mais4 8AN9O0# :;;=?

    'ara alm de uma leitura em torno da autoagia e da metora grotesca# podemos ver#nesse ponto# que sua poesia n+o se prope a ser# como poderia parecer a uma leituramais supericial# como descolamento do mundo# mas sim como tentativa decon&ecimento deste. O que se almeja ir alm das apar(ncias e penetrar no reino do que inalcanvel ao simples ol&ar $sico# a uma perspectiva meramente igurativa 8ovisionarismo empreendido# principalmente no ,ltimo terceto# com a (nase nacontinua+o da procura do desvendamento do enigma# de nature"a protica?.

    'odemos# a partir dessa &ip)tese de leitura# vislum%rar uma nova concep+o de mimese#apresentada n+o como imita+o# mas sim como con&ecimento do real# tal como

    proposto por Antoine ompagnon em O denio da teoria: literatura e senso cou 2/Assim# novamente# a isisn+o apresentada como c)pia esttica# ou como quadro#mas como atividade cognitiva# conigurada como e!peri(ncia do tempo# conigura+o#s$ntese#pra#isdin@mica que# ao invs de imitar# produ" o que ela representa# amplia osenso comum e termina no recon&ecimento.1 8O3'ANON# =BB:# p. :>:?.

    Desse modo# o poema pode ser pensado# por e!emplo# a partir de traos undamentaisde uma perspectiva art$stica sim%olista# e!pressionista ou surrealista2 tentativa decon&ecer o mundo# as relaes entre as coisas# sem com isso limitarse ao descritivismo#

    6 pura servid+o 6 imagem# aos dados sensoriais. 7# assim# a%ordagem que procura iralm do enom(nico# justamente para tentar e!plicar como se regula o processo que levaat a inapelvel decomposi+o da vida org@nica.

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    'arece ser oportuno dei!ar registrado# antes de continuar o desenvolvimento desseensaio# que estou a"endo um e!erc$cio de compara+o entre a poesia de Augustodos Anjos e as estticas vanguardistas da primeira metade do sculo CC# %em comocom o 0im%olismo. N+o estou# portanto# iliandoo a nen&um movimento oucorrente art$stica# j que# por e!emplo# ele n+o deve ter tido contato com os

    e!pressionistas e o 0urrealismo l&e oi posterior. O poeta doEun+o participou denen&uma escola literria espec$ica. -odavia# sua poesia tem notveis pontos decontato com essas estticas.

    omo est e!posto no pr)prio t$tulo do poema# a viagem que o /eu1 e!presso reali"a marcada pelo visionarismo. Na vis+o de 9os 3iguel isni# uma am%ival(nciaundamental marca a igura do visionrio2 ele representa crise# mas tam%mcamin&o. E!pressa# por um lado# o desconorto e# por outro# a procura# a tentativade ir alm do con&ecimento aparente# supericial. Fuscando transpor regieslim$troes# tra%al&a com o que est vedado aos outros &omens# procura a"er a/representa+o do irrepresentvel.1 8G0NG# =BB=# p. =I>?.

    Em /0olil)quio de um visionrio1 & uma superpotenciali"ada desconiana em rela+oao aparente. Da$ a passagem das /&umanas impresses visuais que eu sinto1# 6s/divinas vises do $ncola etreo41 omo pode a vo" potica e!plicar toda acomple!idade do mundo# o caos nele e!istente# a partir de um ol&ar puramente$sico# a partir de um pensamento guiado pelo que precrio e raso# a ra"+o# e peloque pura necessidade# o instintoJ A solu+o para o pro%lema encontrada naaceita+o de uma postura antiretiniana# que condena o ol&ar parcial e que %uscaaspectos do real que escapam 6s perspectivas igurativas. 'or isso# como jmencionei# a reer(ncia a cegueira ou a degrada+o dos ol&os2 como em /As cismasdo destino1 K /7 %em poss$vel que eu um dia cegue1 8AN9O0# op. cit.# p. =:>? K#

    em /'sicologia de um vencido1 /9 o verme... L Anda a espreitar meus ol&os pararo(los18G%id.# p. =B>? K# ou no /'oema negro1 K /Eu# somente eu# com a min&ador enorme L Os ol&os ensanguento na vig$lia41 8G%id.# p. =I;? Nesse sentido# diantedo que se pode a%rir para o eu potico# o ol&ar retiniano mostrase precrio econtingente e# por isso# a dissolu+o dos ol&os maniesta. Dissolu+o meta)ricaque n+o implica em pura nega+o do sensorial# mas sim em procura de algo queesteja para alm do aparente. 'arece &aver o desejo# portanto# de uma nova maneirade ver# algo anlogo ao que proposto nesta interpreta+o de 3aria Helena 3artinsDias acerca do artigo /Da nature"a das vises1 do pintor e!pressionista Osaroosc&a2 /ultivar esse Mol&ar interno ver para alm da supericialidade#apreendendo as pulsaes e vi%raes internas das coisas em conson@ncia comnossos sentidos. O que oosc&a deende tam%m esse ol&ar que e!ercita a sua

    pr)pria interioridade# que n+o se acomoda ao o%jeto visto# mas sim Mvivenciarealidades para alm dele.1 8DGA0# :;;;# p. :;?

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    Ao empreender o esta%elecimento de um novo ol&ar# Augusto dos Anjos a%re espao emsua poesia para uma via que se %iurca2 de um lado apresentase o advento doenigma# essencial em /0olil)quio de um 5isionrio1 e em outros poemasP de outro& a irrup+o da morte# o tema mais recorrente de sua poesia. Em Eu e outras

    poesiasum universo de paro!ismos e de sensaes das mais agudas assolam os que

    leem esse conjunto de versos. A esse respeito# ca%e mencionar o ensaio /A noite deru" e 0ousa1# de Davi Arrigucci 9r.# que# ao analisar o poema /Ol&os do son&o1#do livro p)stumo .ar=is# a" esta caracteri"a+o do seu visionarismo#caracteri"a+o esta que# para mim# ca%eria igualmente para a poesia de Augusto dosAnjos2

    Ante o ol&ar desse visionrio marcado na origem pelo materialismo pessimista e o senso doe!term$nio de tudo no nada# a vis+o alucinada e!prime as crispaes de uma realidade quelem%ra as convulses do mar# o tur%il&+o inumervel e ca)tico do universo apocalipticamentetragado pelo va"io de um Nirvana aniquilador 8...? O ol&ar visionrio capta um mundo emdesordem# degradado e a%erto ao a%ismo# 6s /atras voragens1# ao caos# ao sinistro2 o mundo emque irrompe o grotesco.1 8AQQGRG 9Q.# :;;;# p. :S

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    Outro poeta de l$ngua portuguesa que es%oou uma espcie de uga do retiniano oiWernando 'essoa /ele mesmo1. Alis# como %em salientou TeXla 'errone3oissno ensaio /'ensar estar doente dos ol&os1# tanto no ortYnimo como nos tr(s

    principais &eterYnimos pessoanos a quest+o do ol&ar colocase de modo entico.3as no Wernando 'essoa do -ancioneiroque# talve"# esteja e!pressa de maneira

    mais densa a rela+o entre ol&ar e enigma. H momentos em que# tal como no ru"e 0ousa de /Ol&os do 0on&o1# o ol&ar vai alm do sujeito# interior e e!terior#como poss$vel ler em /Epis)dios L a m,mia1# todo ele relacionado ao ol&arenigmtico ou ao enigma do ol&ar2 /De quem o ol&ar L Zue espreita por meusol&osJ1 8'E00OA# :;;=?. No inal do poema a poesia tam%m se converteem espao de perple!idade2 /De onde que est+o ol&ando para mimJ Zue coisasincapa"es de ol&ar est+o ol&ando para mimJ1 8G%id.# p. :>>?

    Este ol&ar enigmtico# produ"ido pela aceta mais sim%olista da poesia pessoana# umol&ar que o eul$rico introjeta nas coisas# ou seja# que produ+o desse eu# mas quede alguma orma aca%a indo alm dele# o que o torna um produtoro%servador da

    a+o de ver. Esse e!pediente tam%m aparece em Augusto dos Anjos emdeterminados momentos. Em /As cismas do destino1# por e!emplo# este tipo deol&ar /al&eio1# /espi+o1 e!posto duas ve"es2

    Ningum# de certo# estava ali# a espiarme#3as um lampi+o# lem%rava ante o meu rosto#Rm sugestionador ol&o# ali postoDe prop)sito# para &ipnoti"arme4

    8....?

    3in&a imagina+o atormentada'aria a%surdos... omo dia%os juntos#'erseguiamme os ol&os dos deuntosom a carne da escler)tica esverdeada. 8AN9O0# op.cit.# p. =:V e ==>?.

    De toda maneira# a e!press+o de um ol&ar que no caso dos tr(s poetas aca%a sendo umol&ar que n+o de ver# mas como nos di" a vo" potica do -ancioneiro# umaespcie de /ol&ar de con&ecer1# ou# mais e!atamente# de tentativa de con&ecimento8aqui parece &aver a valori"a+o do /poemaenigma1 no caso dos dois poetas

    %rasileiros e no do portugu(s?. Rm con&ecimento que# 6 guisa de &ip)tese# evoca anoite# ou seja# uma espcie de sa%er lunar em que se procura o conronto com omistrio# com o ignoto. No caso do poeta parai%ano# a noite# a segunda palavramais reerida em sua poesia canYnica# ou seja# em Eu e outras poesias# a

    paisagem onde se trava a grande %atal&a em torno do enigma e da morte# semd,vida# os dois conceitos mais importantes de sua poesia meta$sica.

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    O visionarismo# tal como visto por Arrigucci no caso de ru" e 0ousa# tam%m serelaciona em Augusto dos Anjos com a emerg(ncia do grotesco. Em Eu e outras

    poesias& a e!press+o de um mundo ora dos ei!os# em que a crise maniestapelo aspecto l,gu%re# s)rdido e torpe que aparece como pr)prio da e!ist(ncia de ummodo geral. O caos envolve tudo o que material# parece &a%itar mesmo o que &

    de mais elementar# como e!presso em /3on)logo de uma som%ra12 /Essanecessidade de %orroroso# L Zue talve" propriedade do car%ono41 8AN9O0#op.cit.# p. :;;?. O supraol&ar augustiano# procurando captar o que escapa ao ol&ar$sico# retiniano# em%ren&ase# no mundo microsc)pico# vendo a desordem j nessereino. A desordem # assim# micro e macroestrutural# pois em tudo v( /A alta deunidade da matria41 8G%id.# p. =:?# em tudo a /dperdition dnergie1 de que ala&ristine Fucilucsmannn em rela+o ao ol&ar entr)pico em 7?oeilcartograp%ique de l?art.

    Gn,meras s+o as vises de caos materiali"adas na poesia de Augusto dos Anjos. Rm dose!emplos mais interessantes se encontra nas ,ltimas estroes de /Os doentes1# seu

    poema mais longo. A e!press+o de degrada+o e de desordem c)smica c&ega ao/Espao a%strato12 /A doena era geral# tudo a e!tenuarse L Estava. O Espaoa%strato que n+o morre L ansara... O ar que# em colYnias lu$das# corre# L 'areciatam%m desagregarse41 8AN9O0# op.cit.# p. =;?

    'or estar a morte disseminada em toda a e!ist(ncia# outro trao caracter$stico da estticasim%olista# e por ser mesmo o que de mais $ntimo acompan&a todo o vivente# emdeterminados momentos apersonapotica criada por Augusto dos Anjos relacionaesta derrocada aos pr)prios undamentos da vida# vistos como ca)ticos e al&os.Assim# parece nos di"er# se & alguma teleologia# se & algum im primordial# eleest ligado ao caos# 6 destrui+o# 6 entropia que se constitui na pr)pria ess(ncia do

    universo. Em determinados momentos# a e!press+o dessa vis+o apresentada emtermos pungentes# sugerindo realmente que os despedaamentos e as dilaceraescomandam a vida# como nestes ragmentos 8respectivamente de /As cismas dodestino1 e de /Noite de um visionrio1?2

    O Estado# a Associa+o# os 3unic$piosEram mortos. De todo aquele mundoQestava um mecanismo mori%undoE uma teleologia sem princ$pios.

    8...?

    O motor teleol)gico da 5ida'arara4 Agora# em distoles de guerra#5in&a do cora+o quente da terraRm rumor de matria dissolvida. 8G%id.# p. ==> e =S

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    9 no primeiro# a idia parado!al de uma /teleologia em princ$pios1 leva ao paro!ismo acrise entre o eu e o mundo. -al crise n+o remete a uma al&a de comunica+o. 'elocontrrio# na perspectiva de Eu e outras poesias# o /eu1 e!presso# ser consciente#

    %om%ardeado pela vastid+o que o cerca# sente em si ma!imi"adas as marcas de ummundo essencialmente in)spito# injusto e terr$vel. 'or isso# pelo que entrev( com

    seu ol&ar superpotenciali"ado# o visionrio d va"+o# muitas ve"es# ao desejo deinconsci(ncia# da indierena %emaventurada dos seres mais rudimentares# em quese possa soo%rar e tornarse o%jeto. Togo# este desejo assalta aquele que est maisconsciente de sua precariedade. Da$ a consci(ncia e o intelecto serem tratados emalguns momentos com avers+o e desdm2 /Qaciocinar4 A"iaga conting(ncia4 L 0erquadr,pede4 Andar de quatro ps L 7 mais do que ser risto e ser 3oiss L 'orque ser animal sem ter consci(ncia4 8G%id.# p. >B# /3istrios de um )soro1?.

    E# neste sentido# a vo" desiludida de Qicardo Qeis# de modo anlogo# parece completareste racioc$nio so%re a pouca import@ncia de nossos atri%utos2 /Gnutilmente

    parecemos grandes L 0alvo n)s nada pelo mundo ora L Nos sa,da a grande"a

    L Nem sequer nos serve.1 8'E00OA# op.cit.# p. =B

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    A sensa+o de ser um estrangeiro em rela+o ao mundo K tal como e!posta pelo il)sooromenoranc(s Emil 3ic&el ioran em pensamentos como este2 /'as un instant o[

    je ne sois e!trieur 6 lunivers41 8GOQAN# =BB=# p. :>;? K perpassa a o%radaquele que instaura uma vo" potica visionria# que v( a vida como supremainimiga# /aquela grande aran&a L que anda tecendo min&a desventura41 8AN9O0#

    op.cit.# p. >B:?. 'arece ca%er para a poesia augustiana a vis+o de uma mesmaespcie de crise em rela+o ao mundo da presente na esttica do movimentoe!pressionista# tal como e!posto pelo esteta Qoger ardinal2 /A desorienta+o a%soluta. O sujeito n+o consegue encontrar ap)io num espao que se modiica e secontorce 6 sua volta. Esta perdido em um mundo alucinado e mori%undo# onde nadaresponde ao seu grito.1 8AQDGNAT# :;II# p. >

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    'intando tudo em negro# Augusto dos Anjos constr)i ainda um eupotico que#centriugamente# de modo em certo sentido anlogo ao eu presente em muitosmomentos na poesia de ]lvaro de ampos# tende a se e!pandir e a%arcar o mundo.O eu# consoante aos iderios do 0im%olismo e do E!pressionismo 8c.FATAGAN# op.cit. e TG0OHN# :;;B?# assume assim uma dimens+o c)smica.

    Ele se torna assim aglutinador do mal# convertese em %ode e!piat)rio# aceitandoespontaneamente a condi+o de v$tima2 /Em contraposi+o 6 pa" unrea# L Do$aproundamente no meu cr@nio L Esse uncionamento simult@neo L De todos osconlitos da matria41 8AN9O0# op.cit.# p. >V;# /5iagem de um vencido1?.

    A transcend(ncia muitas ve"es requerida# almejada# n+o est relacionada a ummovimento ascensional a representar uma espcie de ressurrei+o# mas sim a umaqueda que signiica retorno a ine!ist(ncia# ,nica inst@ncia a qual se pode vislum%rarna sua )tica a atara#iaverdadeira. O eupotico recorrentemente sentese oprimido

    pelo tur%il&+o da vida# da$ as interessantes reer(ncias que ele# convertido em %odee!piat)rio# a" do sorimento ao qual padece por ter que carregar colossais pesos.

    Esse sorimento# e!presso muitas ve"es por sensaes tteis# a de quem parece sero ,nico a e!piar2 /0omente L 3in&a desgraa & de icar so"in&a41 8G%id.# p. >#/3in&a rvore1?. O sorimento daquele que sa%e que a dor disseminada por todaa &umanidade# mas que o visionrio# o %ode e!piat)rio que sente ma!imi"ado#

    pelo alcance de seu supraol&ar# a ang,stia e o dilaceramento universal.

    -odavia# em outros momentos# o eul$rico almeja converterse numa espcie de ristopara dissipar o mal entre os &omens K a$ que o visionrio ao invs de crise#representa camin&o. /Farul&o de mand$%ulas e a%domens4 L E vemme com umdespre"o por tudo isto L Rma vontade a%surda de ser risto L 'ara sacriicarme

    pelos &omens41 8G%id.# p. =

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    Essa am%ival(ncia undamental do %ode e!piat)rio encontra terreno rtil na sua poesia#essa poesia t+o %arrocamente aeita 6s ant$teses# 6s contradies. 0edimentada numgrande painel noturno# marcada pela erup+o do ol&ar visionrio# essa poesia seconverte numa sondagem pelos dom$nios que a%alam toda e qualquer "ona deconorto# sim%oli"ando o pr)prio espao da e!pia+o.

    Diante do que se vislum%ra# Augusto dos Anjos e!pressa um visionarismoespecial$ssimo em sua poesia. Nela & a irrup+o de uma ontologia 8pois versaso%re osere o n&o'ser? ou de uma meta$sica em que as coisas s+o perce%idas a

    partir de um vis n+oigurativo# por um ol&ar sui generis. Este ol&ar um dosaspectos junto a outros que j vimos que a apro!ima das estticas doE!pressionismo e do 0im%olismo. Neste ol&ar# tendese a inlar a representa+oart$stica atravs da deorma+o# evocando o mundo pelo seu elevado grau demistrio# %em como pelo seu carter a%surdo# ca)tico e grotesco. De modosigniicativo a o%ra augustiana evoca um ol&ar para alm da super$cie das coisas#um ol%ar para al do ol%ar.

    QEWEQ^NGA0 FGFTGOQ]WGA02

    AN9O0# Augusto dos. Obra omp!eta. 8org.? Ale!ei Fueno. Qio de 9aneiro2 NovaAguilar# :;;

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    TG0OHN# 9ean3ic&el. L"e%pressionnisme !itt'raire. 'aris2 'resses Rniversitairesde Wrance 8ollection Tittratures 3odernes?# :;;B.

    'EQQONE3OG070# TeXla. /'ensar estar doente dos ol&os1. Gn2 Adauto Novaes. Oo!har. 0+o 'aulo2 ompan&ia das Tetras# =BB=.

    'E00OA# Wernando. Obra po'tia. 8org.? 3aria Aliete al&o". Qio de 9aneiro2 NovaAguilar# :;;S.

    G0NG# 9os 3iguel. /Gluminaes proanas 8poetas# proetas# drogados?1 Gn2 AdautoNovaes. O o!har. 0+o 'aulo2 ompan&ia das Tetras# =BB=.

    * Fac&arel e Ticenciado em Wilosoia pela RW0. 3estre e Doutor em Titeratura pelaRW0. raduando em Tetras pela RNGQAN.