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Sem Opção Veículo: O Estado de S. Paulo - Caderno: Economia - Seção: - Assunto: Política - Página: Capa e B1 - Publicação: 25/01/20 URL Original: Auditoria na caixa-preta do BNDES vira outra caixa- preta Auditoria na caixa-preta do BNDES vira outra caixa-preta TCU dá prazo para que o BNDES explique por que contrato passou de R$ 16 milhões para R$ 48 milhões O Estado de S. Paulo 25 Jan 2020 Patrik Camporez Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA O Tribunal de Contas da União deu prazo de 20 dias para que o BNDES explique o aumento do valor pago à empresa contratada para abrir a “caixa-preta” das operações do banco com as empresas do grupo J&F entre 2005 e 2018. O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, também sofre pressões dentro do banco para dar esclarecimentos sobre o preço da auditoria. Inicialmente, ele tentou atribuir a responsabilidade pelo contrato a seus antecessores. Orçada em R$ 16 milhões, a auditoria custou R$ 48 milhões, após dois aditivos. Um deles, de outubro de 2019, no valor de R$ 15 milhões, foi aprovado por Montezano. Após um ano e dez meses focada em oito operações com as empresas JBS, Bertin e Eldorado Brasil Celulose, a auditoria não apontou irregularidades. O MPF, porém, apurou que o banco teve prejuízos de R$ 2 bilhões com a J&F. O Tribunal de Contas da União (TCU) deu um prazo de 20 dias para o BNDES dar explicações sobre o aumento do valor da auditoria contratada para abrir a “caixa-preta” das operações do banco com as empresas do grupo J&F, que custou R$ 48 milhões após dois aditivos. O caso ainda pode se tornar alvo de fiscalização específica na Corte de Contas, já que o Ministério Público junto ao TCU entrou com uma representação pedindo verificação do pagamento ao Cleary Gottlieb Steen & Hamilton, escritório contratado para realizar os serviços de auditoria. Após um ano e dez meses focado em oito operações com as empresas JBS, Bertin, Eldorado Brasil Celulose, a auditoria não apontou nenhuma irregularidade. O Ministério Público Federal em Brasília, porém, apurou prejuízos de R$ 2 bilhões ao banco em operações com o grupo J&F. Dados da Operação Bullish mostram desrespeito ao limite de crédito que poderia ser emprestado à JBS e dispensa de recebimento de juros sobre o valor injetado na empresa. Desde a revelação do caso pelo Estado, o atual presidente do banco, Gustavo Montezano, tem sido pressionado pela diretoria e pelo conselho de administração do BNDES a dar uma resposta mais contundente e rápida sobre a auditoria contratada para desvendar a suposta caixa-preta de operações feitas entre 2005 e 2018. A avaliação entre diretores e conselheiros do BNDES é que o banco está muito lento para responder e divulgar uma nota da diretoria justificando a contratação da auditoria externa que investigou as operações, com um passo a passo. Uma coletiva à imprensa chegou a ser planejada, mas depois foi descartada. O ex-presidente do BNDES Paulo Rabello de Castro, responsável pelo início da auditoria, também engrossa o pedido por explicações em carta a Montezano. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o contrato inicialmente previa um custo próximo a R$ 16 milhões. Um dos aditivos, de acordo com informações obtidas pela reportagem, foi feito durante a gestão de Dyogo Oliveira no BNDES, no segundo semestre de 2018. Já o último aditivo, de outubro de 2019, foi realizado sob a gestão de Montezano e incrementou em cerca de R$ 15 milhões o valor do contrato. A revelação do aditivo assinado sob a gestão Montezano causou ainda mais desgaste interno porque o atual presidente, em entrevista em Davos (Suíça), havia tentado jogar a responsabilidade pela auditoria para seus antecessores. A pressão externa sobre Montezano, por sua vez, aumentou com os dois movimentos do TCU: o prazo de 20 dias para uma resposta e a representação do MP-TCU, que pode gerar um novo processo específico.

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    Auditoria na caixa-preta do BNDES vira outra caixa-pretaAuditoria na caixa-preta do BNDES vira outra caixa-pretaTCU dá prazo para que o BNDES explique por que contrato passou de R$ 16milhões para R$ 48 milhões

    O Estado de S. Paulo25 Jan 2020Patrik Camporez Idiana Tomazelli Adriana Fernandes / BRASÍLIA

    O Tribunal de Contas da União deu prazo de 20 dias para que o BNDES explique o aumento do valor pago à empresa contratadapara abrir a “caixa-preta” das operações do banco com as empresas do grupo J&F entre 2005 e 2018. O presidente do BNDES,Gustavo Montezano, também sofre pressões dentro do banco para dar esclarecimentos sobre o preço da auditoria. Inicialmente,ele tentou atribuir a responsabilidade pelo contrato a seus antecessores. Orçada em R$ 16 milhões, a auditoria custou R$ 48milhões, após dois aditivos. Um deles, de outubro de 2019, no valor de R$ 15 milhões, foi aprovado por Montezano. Após um anoe dez meses focada em oito operações com as empresas JBS, Bertin e Eldorado Brasil Celulose, a auditoria não apontouirregularidades. O MPF, porém, apurou que o banco teve prejuízos de R$ 2 bilhões com a J&F.O Tribunal de Contas da União (TCU) deu um prazo de 20 dias para o BNDES dar explicações sobre o aumento do valor daauditoria contratada para abrir a “caixa-preta” das operações do banco com as empresas do grupo J&F, que custou R$ 48milhões após dois aditivos. O caso ainda pode se tornar alvo de fiscalização específica na Corte de Contas, já que o MinistérioPúblico junto ao TCU entrou com uma representação pedindo verificação do pagamento ao Cleary Gottlieb Steen & Hamilton,escritório contratado para realizar os serviços de auditoria.Após um ano e dez meses focado em oito operações com as empresas JBS, Bertin, Eldorado Brasil Celulose, a auditoria nãoapontou nenhuma irregularidade. O Ministério Público Federal em Brasília, porém, apurou prejuízos de R$ 2 bilhões ao banco emoperações com o grupo J&F. Dados da Operação Bullish mostram desrespeito ao limite de crédito que poderia ser emprestado àJBS e dispensa de recebimento de juros sobre o valor injetado na empresa.Desde a revelação do caso pelo Estado, o atual presidente do banco, Gustavo Montezano, tem sido pressionado pela diretoria epelo conselho de administração do BNDES a dar uma resposta mais contundente e rápida sobre a auditoria contratada paradesvendar a suposta caixa-preta de operações feitas entre 2005 e 2018.A avaliação entre diretores e conselheiros do BNDES é que o banco está muito lento para responder e divulgar uma nota dadiretoria justificando a contratação da auditoria externa que investigou as operações, com um passo a passo. Uma coletiva àimprensa chegou a ser planejada, mas depois foi descartada.O ex-presidente do BNDES Paulo Rabello de Castro, responsável pelo início da auditoria, também engrossa o pedido porexplicações em carta a Montezano. Segundo apurou o Estadão/Broadcast, o contrato inicialmente previa um custo próximo a R$16 milhões.Um dos aditivos, de acordo com informações obtidas pela reportagem, foi feito durante a gestão de Dyogo Oliveira no BNDES,no segundo semestre de 2018. Já o último aditivo, de outubro de 2019, foi realizado sob a gestão de Montezano e incrementouem cerca de R$ 15 milhões o valor do contrato.A revelação do aditivo assinado sob a gestão Montezano causou ainda mais desgaste interno porque o atual presidente, ementrevista em Davos (Suíça), havia tentado jogar a responsabilidade pela auditoria para seus antecessores.A pressão externa sobre Montezano, por sua vez, aumentou com os dois movimentos do TCU: o prazo de 20 dias para umaresposta e a representação do MP-TCU, que pode gerar um novo processo específico.