AUDIODESCRIÇÃO: uma mediação paratópica

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AUDIODESCRIÇÃO: uma mediação paratópica Lorena Gobbi Ismael ([email protected]) Bacharelanda em Linguística Departamento de Letras - UFSCar Introdução Desenvolvimento Considerações Referências AUMONT, Jacques. A imagem. Trad. Estela dos Santos Abreu & Cláudio C. Santoro. Campinas: Papirus, 1993. (Ofício de Arte e Forma). CHARAUDEAU, P. ; MAINGUENEAU, D. Dicionário de Análise do Discurso. Coordenação da tradução Fabiana Komesu. São Paulo: Contexto, 2008. MAINGUENEAU, Dominique. Discurso literário. Trad. Adail Sobral. São Paulo: Contexto, 2009. ________. Análise de textos de comunicação. Trad. Cecília P. de Souza-e-Silva & Décio Rocha. São Paulo: Cortez, 2004. SAES, Silvia Faustino de Assis. Percepção e imaginação. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. (Filosofias: o prazer de pensar/dirigida por Marilena Chauí e Juvenal Savian Filho). SALGADO, L.S. ; ANTAS JR., R. M. . A criação num mundo sem fronteiras : paratopia no período técnico- científico informacional. Acta Scientiarum. Language and Culture (Online), v. 33, p. 259-270, 2011. SALGADO, L.S. A circulação da energia social inscrita na vitalidade dos textos. Alfa : Revista de Linguística (UNESP. São José do Rio Preto. Online), v. 54, p. 04, 2010. MOTTA, L. M. V. M.; FILHO, P. R. (org.). AUDIODESCRIÇÃO: transformando imagens em palavras. São Paulo: Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, 2010. IGUALE: comunicação e acessibilidade <www.iguale.com.br> Frame de vídeo do comercial “Natura Mamãe Bebê” Audiodescrição: Embalagens no formato de uma barriga grávida.” Sabe-se que o discurso da inclusão de “minorias” vem tomando cada vez mais corpo nos últimos tempos. Há uma clara tentativa política, em sentido amplo, de equalização de direitos, possibilidades etc num pressuposto de que, ao balizar os “diferentes grupos sociais”, respeitar-se-iam as diferenças tornando possível o convívio em tom de pertencimento mútuo. (Mas, se assim o for, como ficaria a questão da identidade ?). Mesmo assim, há de se pensar que há variados contextos de exclusão dos sujeitos ditos minoritários (caberia a pergunta: minoritário em relação a quem e em qual contexto?): exclusão atitudinal, espacial, jurídica, arrisca-se dizer (por que não?) cultural, dentre muitas outras. Em nosso caso, cercamos uma prática inclusiva de caráter mediador, a audiodescrição. Trata-se de um recurso de verbalização de informações visuais, sendo possível alcançar diversos gêneros (cinema, teatro, ópera etc), que foca os sujeitos DV´s (deficientes visuais). Mas sabemos que a linguagem não é transparente... Nosso objetivo ao analisar a propaganda televisiva audiodescrita “Natura Mamãe Bebê”(Brasil, abril/maio 2009), a segunda com este recurso no país e que serve de referência para tantas outras, é investigar como o texto audiodescrito coloca o audiodescritor Propõe-se, através da teoria da Análise do Discurso de orientação francesa, apoiando-se mais fortemente em Maingueneau, examinar a materialidade verbal do processo de audiodescrição da campanha anteriormente citada. Afinal, se “a imagem é sempre modelada por estruturas profundas, ligadas ao exercício de uma linguagem, assim como à vinculação a uma organização simbólica (a uma cultura, a uma sociedade)” (AUMONT, 2009 : 131), temos o fato de que a “imagem é universal, mas sempre particularizada” (Ibid.) através de uma leitura que é, por sua vez, uma enunciação efetivada (SALGADO, 2010), por tanto, passível de uma análise linguística. Acreditamos que o conceito de paratopia (Maingueneau, 2006) possa ser um interessante ponto de partida para a análise que será desenvolvida. Sendo tipicamente utilizado no campo do discurso literário na abordagem da questão da autoria, nos parece operacional mobilizar o referido conceito em questões textuais além-literatura como essa. Mas ainda haverá lacunas (do mesmo modo que em qualquer comunicação?) já que essa mediação se faz por um sujeito que, em nosso caso, inserido (seu texto) numa cena englobante publicitária, procura afastar-se dela para efetivar seu intento e, ao mesmo tempo, não pode dela desligar-se já que é no pressuposto de levar a “mensagem” da venda que sua atuação se faz necessária e, ainda, que ao produzir seu texto age, de alguma forma, na tentativa de aproximação do lugar do próprio público (sujeito cego), prática inconcebível a menos que o audiodescritor efetivamente o seja, caso este que implicaria uma série de reflexões outras. (muitas vezes também o locutor, mas nem sempre) necessariamente em lugares fronteiriços. Levando-se em conta que “Uma sociedade (...) não se distingue das formas de comunicação que ela torna possíveis e que a tornam possível.” (MAINGUENEAU, 2004 : 72), podemos concluir que com a inserção dessa nova prática, a audiodescrição, o sujeito DV poderá participar de um modo mais efetivo na constituição da sociedade e de si mesmo como cidadão na medida em que torna possível para ele uma leitura imagética já que “(...) a imagem é também meio de comunicação e de representação de mundo (...)” (AUMONT2009 : 131).

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AUDIODESCRIÇÃO: uma mediação paratópica

Lorena Gobbi Ismael([email protected])

Bacharelanda em Linguística Departamento de Letras - UFSCar

Introdução

Desenvolvimento Considerações

ReferênciasAUMONT, Jacques. A imagem. Trad. Estela dos Santos Abreu & Cláudio C. Santoro. Campinas: Papirus, 1993. (Ofício de Arte e Forma).

CHARAUDEAU, P. ; MAINGUENEAU, D. Dicionário de Análise do Discurso. Coordenação da tradução Fabiana Komesu. São Paulo: Contexto, 2008.

MAINGUENEAU, Dominique. Discurso literário. Trad. Adail Sobral. São Paulo: Contexto, 2009.

________. Análise de textos de comunicação. Trad. Cecília P. de Souza-e-Silva & Décio Rocha. São Paulo: Cortez, 2004.

SAES, Silvia Faustino de Assis.Percepção e imaginação. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2010. (Filosofias: o prazer de pensar/dirigida por Marilena Chauí e Juvenal Savian Filho).

SALGADO, L.S. ; ANTAS JR., R. M. . A criação num mundo sem fronteiras : paratopia no período técnico-científico informacional. Acta Scientiarum. Language and Culture (Online), v. 33, p. 259-270, 2011.

SALGADO, L.S. A circulação da energia social inscrita na vitalidade dos textos. Alfa : Revista de Linguística (UNESP. São José do Rio Preto. Online), v. 54, p. 04, 2010.

MOTTA, L. M. V. M.; FILHO, P. R. (org.). AUDIODESCRIÇÃO: transformando imagens em palavras. São Paulo: Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência do Estado de São Paulo, 2010.

IGUALE: comunicação e acessibilidade <www.iguale.com.br>

Frame de vídeo do comercial “Natura Mamãe Bebê” Audiodescrição:

“Embalagens no formato de uma barriga grávida.”

Sabe-se que o discurso da inclusão de “minorias” vem tomando cada vez mais corpo nos últimos tempos. Há uma clara tentativa política, em sentido amplo, de equalização de direitos, possibilidades etc num pressuposto de que, ao balizar os “diferentes grupos sociais”, respeitar-se-iam as diferenças tornando possível o convívio em tom de pertencimento mútuo. (Mas, se assim o for, como ficaria a questão da identidade ?). Mesmo assim, há de se pensar que há variados contextos de exclusão dos sujeitos ditos minoritários (caberia a pergunta: minoritário em relação a quem e em qual contexto?): exclusão atitudinal, espacial, jurídica, arrisca-se dizer (por que não?) cultural, dentre muitas outras. Em nosso caso, cercamos uma prática inclusiva de caráter mediador, a audiodescrição. Trata-se de um recurso de verbalização de informações visuais, sendo possível alcançar diversos gêneros (cinema, teatro, ópera etc), que foca os sujeitos DV´s (deficientes visuais). Mas sabemos que a linguagem não é transparente...

Nosso objetivo ao analisar a propaganda televisiva audiodescrita “Natura Mamãe Bebê”(Brasil, abril/maio 2009), a segunda com este recurso no país e que serve de referência para tantas outras, é investigar como o texto audiodescrito coloca o audiodescritor

Propõe-se, através da teoria da Análise do Discurso de orientação francesa, apoiando-se mais fortemente em Maingueneau, examinar a materialidade verbal do processo de audiodescrição da campanha anteriormente citada.

Afinal, se “a imagem é sempre modelada por estruturas profundas, ligadas ao exercício de uma linguagem, assim como à vinculação a uma organização simbólica (a uma cultura, a uma sociedade)” (AUMONT, 2009 : 131), temos o fato de que a “imagem é universal, mas sempre particularizada” (Ibid.) através de uma leitura que é, por sua vez, uma enunciação efetivada (SALGADO, 2010), por tanto, passível de uma análise linguística.

Acreditamos que o conceito de paratopia (Maingueneau, 2006) possa ser um interessante ponto de partida para a análise que será desenvolvida. Sendo tipicamente utilizado no campo do discurso literário na abordagem da questão da autoria, nos parece operacional mobilizar o referido conceito em questões textuais além-literatura como essa.

Mas ainda haverá lacunas (do mesmo modo que em qualquer comunicação?) já que essa mediação se faz por um sujeito que, em nosso caso, inserido (seu texto) numa cena englobante publicitária, procura afastar-se dela para efetivar seu intento e, ao mesmo tempo, não pode dela desligar-se já que é no pressuposto de levar a “mensagem” da venda que sua atuação se faz necessária e, ainda, que ao produzir seu texto age, de alguma forma, na tentativa de aproximação do lugar do próprio público (sujeito cego), prática inconcebível a menos que o audiodescritor efetivamente o seja, caso este que implicaria uma série de reflexões outras.

(muitas vezes também o locutor, mas nem sempre) necessariamente em lugares fronteiriços.

Levando-se em conta que “Uma sociedade (...) não se distingue das formas de comunicação que ela torna possíveis e que a tornam possível.” (MAINGUENEAU, 2004 : 72), podemos concluir que com a inserção dessa nova prática, a audiodescrição, o sujeito DV poderá participar de um modo mais efetivo na constituição da sociedade e de si mesmo como cidadão na medida em que torna possível para ele uma leitura imagética já que “(...) a imagem é também meio de comunicação e de representação de mundo (...)” (AUMONT2009 : 131).