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Atravs da Dana
por Adolphe Aderer
Srta. Moltabert. Clichs de Boyer
Confesso que compartilho a opinio do professor de dana de O burgus fidalgo,
quando ele diz: Nada to necessrio aos homens como a dana. Se eles prprios no
danam, uma das maiores alegrias que os homens podem se proporcionar ver danar.
Quando, em alguma pera-cmica do sculo XVIII, escuto um tolo dizer: No gosto de
dana, tenho vontade de gritar moa que o escuta: No case com ele, no case com ele!
Ele dar um pssimo marido! E foi um dos nossos melhores poetas que escreveu:
Era um prazer ver a moa danar. [1]
Sim, um prazer ver as moas danarem nos bailes, ou numa praa ensolarada de
aldeia; tambm ver danarem as pequenas bailarinas, as bailadeiras, as gitanas e as almeias[2]: pois um prazer ver corpos geis mexendo-se em movimentos ritmados e harmoniosos.
No passam de brbaros aqueles que no sabem apreciar o encanto da dana e que no
compreendem sua poesia.
Livros inteiros, didticos e eruditos, foram consagrados dana. Encontramos a a
histria das suas origens e das suas transformaes em todos os povos. No minha inteno
recomear aqui um trabalho desse gnero. Quero apenas passear como diletante por algumas
dessas danas que me so conhecidas e conversar amigavelmente sobre elas com o leitor que
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v, ao mesmo tempo que eu, essas belas imagens: ser como uma conversa, por assim dizer,
entrechat.
I. AS LOE FULLER
Srta. Loe Fuller. Clich de Reutlinger
Aqui est Loe Fuller, nome desconhecido h alguns anos, nome hoje clebre nos dois
lados do Atlntico. Contaram-me, sobre a primeira apario de Loe Fuller, duas lendas
diferentes, que guardam ambas um sabor peculiar.
Segundo alguns, apareceu um dia, na casa do diretor de um grande music-hall
parisiense, uma mulher de andar ligeiro, trajando um vestido de alpaca preto, cuja antiguidade
um impermevel desbotado escondia mal; um chapu de veludo com plumas largas
combinava, pelo seu aspecto antiquado, com o resto do traje. A moa, assim vestida, segurava
em uma mo duas pequenas lanternas. Perguntaram-lhe, no sem ironia, o que ela, to
pobremente trajada, vinha fazer no mais suntuoso estabelecimento de Paris. Ela ento
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explicou delicadamente, misturando em sua conversa palavras inglesas e alems, a ideia que
tinha germinado em seu esprito inventivo. Enquanto falava, seus grandes olhos azuis, de um
olhar penetrante como uma lmina de ao a comparao, muitas vezes utilizada sem objeto,
aqui inevitvel , seus grandes olhos azuis animavam-se e parecia que, diante de um pblico
imaginrio, entreviam espetculos fericos. O diretor sorriu e, no entanto, adivinhou que a
jovem trazia consigo algo de inesperado, algo de novo: o novo, atrs disso que todos os
diretores correm, e, com frequncia, acabam encontrando apenas novidades requentadas.
Alguns dias aps esse encontro, o nome de Loe Fuller repercutia pelos quatro cantos de
Paris.
A outra lenda afirma que, comeando Loe Fuller a ganhar renome no estrangeiro,
dois diretores rivais de Paris desejaram contrat-la para os seus respectivos teatros. Tendo tido
a mesma ideia no mesmo dia, eles teriam viajado para Londres no mesmo trem. Ao chegarem
ao mesmo tempo na estao de Charing-Cross ou na de Victoria, um deles, que quis pegar o
caminho mais curto para chegar at o teatro onde Loe Fuller se apresentava, teria sido
atrasado pelas perturbaes do trnsito. Durante esse tempo, o seu rival, mal entrara no
camarim da danarina estrela, j lhe fazia assinar um contrato, em boa e devida forma, com o
salrio por ela prpria estipulado. Sobrou ao outro diretor apenas praguejar contra os cabriols
e os cocheiros ingleses, que so, contudo, excelentes. Isso o que ainda se conta. Eu prefiro
de longe a primeira verso.
Srta. Loe Fuller. Clichs de Mairet
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Acabo de chamar Loe Fuller a danarina estrela. Estrela, sem dvida. Mas seria ela
uma danarina? No seu caso, trata-se mais de uma apario mgica do que de uma dana
propriamente dita. Primeiro, para aumentar a sensao estranha e misteriosa do espetculo, os
lustres do teatro so todos apagados; depois, ao som de uma msica sonolenta, o pano sobe e
o palco aparece rodeado, cercado de todos os lados por longas cortinas negras. Mas, no fundo
da cena, levantando as cortinas, uma forma surge, vaga e indecisa. De repente, dois feixes de
luz que se cruzam iluminam-na: a mulher ento aparece, resplandecente em seu longo traje
branco com dobras largas. Ela caminha, avana, move-se, agita-se; as dobras do vestido giram
em torno dela e a envolvem como a cauda de uma serpente. Dependendo dos movimentos da
danarina, e dependendo tambm das cores projetadas pelos aparelhos de luz, a imagem
modifica-se: lrio branco de caule esguio, borboleta de asas imensas, claro enorme de
incndio, cintilaes de cores fulgurantes, miss Loe Fuller tudo isso no espao de alguns
minutos. O espectador, admirado, fascinado por essas vises rpidas e sucessivas, tem a
impresso de ter sido transportado caverna de uma feiticeira com poderes sobrenaturais. Ele
aplaude com entusiasmo a inteligente artista que lhe proporcionou uma sensao nova e
guardar ainda por muito tempo, diante dos olhos, a apario fantstica. Apario que
somente um Thophile Gautier, que contava com um arco-ris na ponta da pena, teria podido
descrever corretamente.
Festejada pelos pintores, celebrada pelos poetas e escritores, Loe Fuller tornou-se
uma das personalidades preferidas desta Paris que consagrou a sua reputao. Na sua
linguagem pitoresca e cheia de imagens, ela contou-me dias atrs uma histria saborosa.
Recentemente, amigos seus, que se dedicam com sucesso fotografia, desejaram fotograf-la;
o lugar escolhido foi o jardim ao lado da sua residncia. Miss Loe Fuller vestira, para a
ocasio, os trajes de teatro. Ora, a residncia contgua a uma escola de moas dirigida por
freiras. O muro que separa os dois imveis no alto, e, no seu topo, surgem muitas vezes
cabeas despenteadas de meninas curiosas. No dia em que Loe Fuller foi fotografada, duasou trs dessas travessas espiavam-na. Interessadas pelo que viam, elas chamaram suas
companheiras, e logo toda a escola estava pendurada no muro. Encantada, miss Loe Fuller
fez uma apresentao para todas essas crianas, e nunca ps nos seus movimentos tanto ardor
e vivacidade como dessa vez. As meninas aplaudiam ruidosamente. De repente, as toucas das
freiras apareceram: a apresentao terminou. O espetculo mgico aterrorizou as mulheres
devotas, e houve decerto algumas que fizeram o sinal da cruz, murmurando: Vade retro,
Satans!
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II. DANAS ESPANHOLAS
Danarinas espanholas. Clichs de Reutlinger (da esquerda) e de Boyer (do centro e da direita)
Ol! Ol!, quantas e quantas vezes essas duas slabas sonoras no repercutiram em
nossos palcos, quando as espanholas verdadeiras ou falsas vinham remexer-se. Diz um
provrbio: No h espanhol que no prefira recair sob a dominao moura a ter de abandonar
os seus olse corridas.
Antes volvieranse Moros
Toditos los Espagnoles
Que renunciar a sus ols
Y a sus corridas de toros!
A Espanha a terra abenoada da dana. Existe em toda espanhola uma danarina
sutil, ardente, voluptuosa, assim como em todo espanhol existe um toureador. Quantas vezes
no vi, nas cidades e aldeias da Andaluzia perfumada, meninas tomarem poses de danarinas,
inclinarem-se para trs, erguerem-se rapidamente; quantas vezes tambm no vi meninos
brincarem de corrida de toros!
Cada provncia espanhola tem seu tipo particular de dana. Seriam necessrias muitas
pginas para descrever com cuidado, para enumerar as danas que so especialmente
apreciadas em cada uma dessas provncias. Por vezes, nuances estabelecem-se na maneira
como duas cidades vizinhas interpretam a mesma dana.
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A TEJERO trajes de maja. Clich de Boyer
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Citarei aqui somente as danas mais conhecidas: ajota, que Arago prefere a qualquer
outra, impetuosa e arrebatadora; o zapateado, ruidoso e muito cadenciado; ozorongo, de um
movimento intenso, acompanhado por bater de palmas; a cachucha, marcada pelas
castanholas.
Conhecemos certamente melhor a seguidilha; este nome, alis, aplica-se tanto dana
quanto s poesias que a acompanham. Carmen isto no mais ignorado por nenhum francs
, Carmen vai danar a seguidilha na casa de sua amiga Lillas Pastia.
E ainda Thophile Gautier que nos diz:
Um saiote apertado nas ancas,
Um pente enorme a prender os cachos,
Pernas nervosas e ps delicados,
Olhos ardentes e a pele branca
Eia! Ola!
Ei-la
A verdadeira Manola
O bolero, vivo e ligeiro, tem os seus admiradores apaixonados; mas a rainha das
danas espanholas o fandango. Como j foi dito: o Bolero inebria, o fandango inflama.
Um escritor francs acrescentou: Aos acordes do fandango, toda a Espanha eria-se; o hino
nacional por excelncia, que acompanha a mais graciosa e exaltante das danas, a qual seria
digna de ser executada em Paphos ou no templo de Vnus, em Cnido.
Uma histria divertida que data do sculo passado sobre o fandango contada por
Gaston Vuillier, em seu livroLa Danse["A Dana"]:
Dizem que a Cria Romana, escandalizada pela indecncia do Fandango, resolveuproscrev-lo sob pena de excomungao. Foi convocado um consistrio para aplicaresse processo. Quando a sentena de morte estava prestes a ser pronunciada, umcardeal disse que no se podia condenar um culpado sem antes escut-lo, e que elevotava para que o Fandango fosse danado diante dos juzes... Mandaram entocomparecer um casal de danarinos espanhis; eles danaram diante dessa augustaassembleia. Os cardeais comeam a alegrar-se com a graa e a vivacidade desse duo;um prazer desconhecido penetra-lhes a alma; eles acompanham o ritmo com os ps,com as mos; a sala do consistrio transforma-se numa sala de baile; cada Eminncialevanta-se, segue na cadncia os gestos e movimentos dos danarinos; e, aps essa
provao, o Fandango obteve sua graa.
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Permitam-me acrescentar que essa graa, o fandango merecia-a. Vi-o ser danado em
Granada, no bairro de Albaicn: uma das lembranas mais encantadoras que guardei das
minhas viagens.
III. DANAS ORIENTAIS
Selika (esquerda), a bela Feridj (centro), Sultana (direita). Clich de Boyer
Alguns anos atrs, foram trazidas para Paris autnticas almeias. Elas apresentaram-se
no palco de um music-hall. A sua graa indolente e resignada no fez nenhum sucesso com os
parisienses, tampouco a msica grave e montona que acompanhava a famosa dana do
ventre. Tiveram que substituir as almeias vindas de Tnis e Argel porfalsas almeias, as quais
Olivier Mtra ps para danar com msicas leves e populares: estas sim fizeram um enorme
sucesso.
H quadros que devem ser vistos em suas molduras originais: a dana do ventre um
desses. Se quisermos ver as almeias, devemos ir para Tnis, Ouargla, Laghouat. A viagem
longa, mas belssima! Os prazeres l so pouco dispendiosos: em Laghouat, por um centavo,
todo mundo pode, degustando uma xcara de caf, contemplar a dana das almeias.
Aos som da rhaita, clarinete de som acre, do tar, ou pandeiro, da darbuka, peleesticada sobre um pote sem fundo que ressoa de modo surdo, do thebel, grande caixaque se bate com um pedao de madeira encurvado, avanam, escreve Gaston Vuillier,as almeias. Com seus braos carregados de joias, elas coroam as prprias cabeascom tiras de sedas adornadas com fios de ouro, e caminham, balanando os ventres de
maneira frentica, ocultando-se ligeiramente por detrs do vu, de um modo menosrecatado do que provocante.
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Ftima. Clich de Boyer
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Um dos meus amigos, Pierre Giffard, descreveu, no sem humor, em seu livro Les
Franais Tunis [Os franceses em Tnis], a impresso que teve ao ver a dana do ventre,
executada em um estrado de um caf mouro:
quatro o nmero de danarinas. Elas esto nuas da cintura para cima, e, nos seusbraos e pescoos, esto envoltos braceletes e colares de cequim e de bibelsprateados. H corais em seus cabelos, e grandes brincos de ouro vermelho caem sobreos ombros... As saias de seda azul e vermelha que cobrem essas bailarinas at acintura so peas simples de fazenda atadas atrs. Os ps vo descobertos e malroam as babuchas repletas de ouro e prata... Nos primeiros rangidos dos menestris,as quatro danarinas comeam a danar. Uma diante da outra, elas avanam e recuam,atravessam, voltam e balanamos quadris e o abdmen com movimentos lascivos, oque inebria de alegria os Mouros. As danarinas fazem olhinhos lnguidos, depoistomam fisionomias entristecidas, depois sorriem ao mesmo tempo que danam.Finalmente, elas aceleram o movimento e remexem-se numa espcie de loucuracoreogrfica, seguidas pela msica dos instrumentistas. De repente, a msica e as
danarinas param. Chegou ao fim.
IV. O JAPO EM PARIS E EM LONDRES
O japonismo uma moda do nosso tempo. No sculo passado, nossos pais
entusiasmaram-se pela China e seus bibels orientais; ns escolhemos o Japo. Alguns
afirmam, Auguste Vitu entre outros, que as origens dessa espcie de idolatria remontam
expedio China em 1860. [3] Aps o tratado de paz, um certo nmero de oficiais, de
eruditos e de artistas franceses prosseguiram at o Japo e ficaram profundamente admirados
com o que viram no estranho arquiplago nipnico, onde a civilizao mais refinada se aliava
ferocidade das raas brbaras. Os primeiros trajes japoneses que chegaram aos bailes
fantasia das Tuilleries e na casa do duque de Morny, em 1861 e em 1862, produziram uma
forte impresso: a Exposio Universal de 1867 arrematou essa popularidade.
O teatro acabaria apropriando-se de uma arte que, contendo todas as riquezas e
elegncias, presta-se admiravelmente decorao cnica. Vrias manifestaes artsticas
japonesas aconteceram nestes ltimos anos; porm, coisa bem curiosa, nenhuma delas
conseguiu triunfar completamente. Por que esse semi-insucesso? Seria muito longo procurar
as causas disso: mas no seria talvez porque a graciosa imobilidade dos modos japoneses
condiz mal com o nosso temperamento vivo e alerta?
De qualquer forma, tivemos, como peas teatrais japonesas, Kosiki, no Teatro
Renaissance; Yedda, um bonito bal de Olivier Mtra, na pera de Paris; a Marchande de
Sourires [Mercadora de sorrisos], uma pea de Judith Gautier, que foi graciosamente
montada no Odon por Porel; e, nesse mesmo ano, no Teatro Athne, hoje fechado, A
gueixa.
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Shaftesbury Theatre. Miss Mary Tempest.A gueixa. Clich de Alfred Ellis (Londres)
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A gueixa, na verdade, uma adaptao de uma opereta inglesa: o libreto e a msica
foram criados por ingleses. A pea foi encenada durante dois anos na Inglaterra. Se no me
falha a memria, ficou somente dois meses nos palcos parisienses, no obstante a grande
habilidade demonstrada pelos adaptadores Clairville e Lemaire. Recordarei do enredo? Em
uma casa de ch no Japo, um oficial da marinha inglesa conheceu e admirou uma dessas
gueixas, ou danarinas de profisso, que, mais pela pantomima do que pela dana, encantam
os olhos. De volta Inglaterra, ele noiva, porm no consegue esquecer a pequena Mimosa.
Ele no resiste e volta para encontr-la. A sua noiva, Nelly, segue-o, e aps uma srie de
acontecimentos que seria muito longo contar aqui, ela consegue, na casa de ch, passar-se por
Mimosa. O governador do lugar, que tem direito de polcia nas casas de ch, irritado com os
amores entre o oficial ingls e Mimosa, rigoroso: coloca em leilo toda a casa de ch. A
falsa Mimosa, a falsa gueixa ser vendida! No se preocupem: as coisas sero esclarecidas e
tudo entrar nos eixos. Nelly reencontrar o seu oficial e o governador conservar a sua
gueixa favorita.
Sendo a herona principal da opereta uma danarina, era natural que uma espcie de
reconstituio da dana japonesa fosse tentada. Com esse intuito, algumas danarinas vieram
da Inglaterra: trouxeram os movimentos lentos, precisos, quase automticos. O que pareceu
mais divertido foi o jogo da Chon-Kina, uma espcie de jogo de prenda, cuja descrio foi-
nos dada nas seguintes estrofes:
Joguem o jogo chamado a Chon-Kina!
Como esse jogo bonito!
No tem de ser preguiosa;
Tem de ser habilidosa,
Fazendo cada movimento
Exatamente!Ateno, aquela que no acertar,
Como esse jogo bonito!
Dever comprometer-se a pagar
Uma prenda, e o que ela possuir
Poderemos tomar!
Coro (refro).
Chon-KinaChon-chon-chon
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Kina! Kina!
Nagasalti.
Yokohama!
Hakodat
Hoi!
Kirigiri-Su
Hoi...
A jovem deve ento entregar aos poucos o que ela estiver vestindo. E todas as peas
de roupa se vo sucessivamente, e garantem que, no Japo, quando a gueixa est
completamente nua, ela ainda assim encontra alguma coisa a dar como prenda.
As casas de ch foram um pouco difamadas. claro, no so templos elevados
sabedoria e virtude; mas nem todas as casas de ch so lugares de licenciosidade e
dissipao. Pierre Loti, na sua deliciosa Madame Chrysanthme, disse tudo aquilo que deve
ser entendido sobre as casas de chs, as gueixas que danam e as musms que so as suas
criadas.
As crisntemas As gueixas . Teatro do Athne-Comique. Clich de Ener
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Teatro do Athne-Comique. Srta. Jeanne Petit.A gueixa. Clich de Ener
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Danarinas com leques.A gueixa Shaftesbury Theatre. Clich de Alfred Ellis (Londres)
As mandolinistas.A gueixa Teatro do Athne-Comique. Clich de Ener
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Musm, que palavra bonita! Parece-me, escreve Loti, que h em musm [mousm] a
palavra amuo [moue] (no sentido de fazer beicinho de modo meigo e engraado como elas
fazem) e sobretudo rostinho [frimousse] (o rostinho aborrecido como o delas).
Ai!... o Japo das gueixas, das musms e dos caquemonos est prximo do fim: o
Japo de hoje guarnece-se de baionetas e cerca-se de canhes. Gosto muito mais do antigo.
V. DANAS DE OUTRORA
Academia Nacional de Msica. Srta. Subra. Clich de Benque Bery
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Das danas japonesas ao minueto, a distncia, primeira vista, parece enorme. Mas o
minueto, como o nome indica, no a dana dos passos midos? E h algo mais leve e
gracioso do que a dana e as danarinas do Japo?
O minueto, originrio de Poitou, uma de nossas danas nacionais por excelncia:
tem a simplicidade elegante que caracteriza particularmente nossa raa. Recentemente,
algum perguntou como pode ser interpretado ogostofrancs. Entre outras respostas,
poderamos ter-lhe dito: veja danar um minueto.
Sr. Rossi e Sra. Pilar-Morin Representaes na capital. Clichs de Boyer
As gravuras aqui publicadas mostram alguns detalhes dessa dana. O melhor
comentrio que conheo sobre o minueto a descrio feita por um prncipe da dana,
Vestris: Tendo o p esquerdo frente, voc leva o corpo sobre ele, aproximando o p direito
ao lado do esquerdo, na primeira posio, que voc flexiona sem tocar o direito no cho;
quando voc estiver suficientemente flexionado, passa o p direito sua frente, na quarta
posio, e levanta-se ao mesmo tempo na ponta dos ps, estirando as duas pernas uma
prxima da outra, e, logo aps, apoia o calcanhar direito no cho, para ter o corpo mais firme
e flexionar ao mesmo tempo sobre o p direito sem apoiar o esquerdo, e, da, pass-lo para a
frente da mesma maneira que voc fez com o p direito, at a mesma posio, e, ao mesmo
tempo, elevar-se sobre ele e caminhar os dois outros passos na ponta dos ps, um do direito,
outro do esquerdo, mas, do ltimo, preciso apoiar o calcanhar a fim de tomar o seu passo de
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minueto com mais firmeza. Num primeiro momento, a teoria parece um pouco complicada:
ela torna-se bastante clara na execuo.
Sra. Pilar-Morin e Sr. Rossi. Danas antigas nos sales. Clich de Beyer
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Srta. Rgnier (pera de Paris). Clich de P. Nadar
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O clebre danarino Marcel exclamou um dia: Quantas coisas em um minueto! A
frase tornou-se um provrbio. Contam-se muitas histria sobre esse Marcel, que via tantas
coisas no minueto. Foi ele que disse a uma duquesa: A senhora acaba de fazer uma
reverncia digna de uma criada. E disse ainda a uma outra: A senhora acaba de se
apresentar como uma vendedora de peixe; recomece a sua reverncia, e que os seus ttulos de
nobreza acompanhem a menor das suas aes.
Naquele tempo, a vista de uma mulher bonita danando o minueto era o bastante para
virar a cabea de todos. A crnica da poca afirma que d. Joo de ustria, vice-rei dos Pases
Baixos, percorreu muitas lguas at chegar a Paris unicamente para ver Margarida de
Borgonha danar um minueto. Lus XIV danou vrios minuetos compostos por Jean-Baptiste
de Lully especialmente para ele: mesclado com um pouco de adulao, o minueto foi, sob
Lus XIV e ainda mais sob Lus XV, a dana por excelncia da boa companhia.
Nos bailes regulares, havia um Rei e uma Rainha que abriam a dana. Terminado o
primeiro minueto, a Rainha convida um outro cavalheiro para danar com ela; este, terminada
a dana, reconduz a Rainha e, ao fazer a reverncia, pergunta-lhe qual o novo cavalheiro
que ela deseja. Ao designar a pessoa da sua escolha, este dirige-se at a Rainha, inclina-se
profundamente e convida-a para danar.
O minueto expirou com a monarquia. Alguns meses mais tarde, danava-se ao som da
carmanhola[4].Na Frana, dizia no sculo passado o marechal de Richelieu, a alta poltica feita
somente no baile; o Conselho de Ministros foi inventado unicamente para aprovar os projetos
concebidos entre dois minuetos.
Hoje, ningum dana mais o minueto. Ningum dana mais em lugar nenhum. Os
rapazes afetam desprezo pela dana e as moas so reduzidas a rodopiar entre elas, caso
queiram danar.
Por outro lado, difcil imaginar Henri Brisson ou Jules Mline [5] saindo de umminueto para presidir o Conselho de Ministros. No mais no baile, como no tempo de
Richelieu, que feita a alta poltica. Resta saber se a alta poltica que feita hoje melhor
do que aquela feita outrora, entre dois minuetos.
Notas do Tradutor
[1] Victor Hugo.
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[2] No original alme, a danarina do ventre. Segundo o dicionrio Houaiss: "Almeia : danarina
oriental de estilo lascivo cujas danas so acompanhadas de cantos geralmente improvisados." Em portugus, o
termo s vezes traduzido por almeh.
[3] Referncia guerra que ops a China Frana e ao Reino Unido e que ficou conhecida como a
Segunda Guerra do pio (1856-1860).[4] Cano revolucionria francesa, criada no momento da queda da monarquia, em 1792.
[5] Primeiros-ministros franceses nos perodos de 1885-1886 e de 1896-1898, respectivamente.
2013 eRevista Performatus e o autor