Atos ilocutórios

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Os atos ilocutórios (ou atos de fala) são atos linguísticos que o falante realiza quando, em determinado contexto comunicativo, profere um enunciado, sob certas condições e com certas intenções. É uma forma de agir através da fala. Atos ilocutórios Um ato de comunicação é um complexo espaço de troca onde locutor e interlocutor se relacionam. A relação entre os interlocutores determina, em grande parte, a essência do ato comunicativo e define-se em função de um conjunto de características das quais salientamos: . as características físicas do canal utilizado (oral ou gráfico, direto ou indireto, etc.); . as características identificadoras dos interlocutores (sociais (idade, sexo, raça, etc.), socioprofissionais (professor, escritor, vendedor, agricultor,...), psicológicas (calmo, frio, agressivo, amável, nervoso,...), relacionais (os interlocutores conhecem-se ou não? Que tipo de relação há entre eles?...) e as suas características físicas (se estão em presença ou não, se são únicos ou múltiplos, se estão próximos ou afastados); . a intencionalidade do locutor: pretende informar, convencer, seduzir, divertir,... . Os atos ilocutórios podem ser diretos, quando aquilo que dizemos corresponde literalmente àquilo que pretendemos dizer, ou indiretos, quando o locutor, tendo em conta a capacidade do seu interlocutor para interpretar o enunciado, utiliza uma expressão cujo sentido literal é diferente da intenção de comunicação. Por exemplo, quando, por delicadeza ou cortesia, dizemos “Filho, importas-te de chegar cá?” (frase interrogativa) em vez de “Filho, chega cá!” (frase imperativa), estamos a usar um ato ilocutório indirecto pois, apesar do seu formato interrogativo, este ato ilocutório deve ser entendido como uma ordem.

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Page 1: Atos ilocutórios

Os atos ilocutórios (ou atos de fala) são atos linguísticos que o falante realiza quando, em determinado contexto comunicativo, profere um enunciado, sob certas condições e com certas intenções. É uma forma de agir através da fala.

Atos ilocutórios

Um ato de comunicação é um complexo espaço de troca onde locutor e

interlocutor se relacionam. A relação entre os interlocutores determina, em grande parte, a

essência do ato comunicativo e define-se em função de um conjunto de características das

quais salientamos:

. as características físicas do canal utilizado (oral ou gráfico, direto ou

indireto, etc.);

. as características identificadoras dos interlocutores (sociais (idade,

sexo, raça, etc.), socioprofissionais (professor, escritor, vendedor, agricultor,...),

psicológicas (calmo, frio, agressivo, amável, nervoso,...), relacionais (os

interlocutores conhecem-se ou não? Que tipo de relação há entre eles?...) e as suas

características físicas (se estão em presença ou não, se são únicos ou múltiplos, se

estão próximos ou afastados);

. a intencionalidade do locutor: pretende informar, convencer, seduzir, divertir,... .

Os atos ilocutórios podem ser diretos, quando aquilo que dizemos corresponde

literalmente àquilo que pretendemos dizer, ou indiretos, quando o locutor, tendo em conta a

capacidade do seu interlocutor para interpretar o enunciado, utiliza uma expressão cujo

sentido literal é diferente da intenção de comunicação. Por exemplo, quando, por delicadeza

ou cortesia, dizemos “Filho, importas-te de chegar cá?” (frase interrogativa) em vez de

“Filho, chega cá!” (frase imperativa), estamos a usar um ato ilocutório indirecto pois, apesar

do seu formato interrogativo, este ato ilocutório deve ser entendido como uma ordem.

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Tipologia dos atos ilocutórios

Tipos Objetivos ilocutórios Marcas linguísticas mais

frequentes

Assertivos Traduzem uma verdade assumida pelo locutor.

Ex.: Ela não é a minha médica.

Afirmar, acreditar, achar

necessário, admitir, estar

convicto, concluir, …

Declarativos Exprimem uma realidade criada pelo próprio

ato de fala sendo inquestionável a autoridade

do locutor. Estão associados a atos sociais

(casamentos, actos notariais, julgamentos,

etc.).

Ex.: Declaro aberta a sessão.

Declarar, certificar,

nomear, …

Expressivos Expressam sentimentos, emoções, estados de

espírito do locutor.

Ex.: Adoro apanhar sol!

Adorar, agradecer, amar,

apresentar condolências,

elogiar, felicitar, pedir

desculpa, …

Uso frequente de expressões

exclamativas.

Diretivos Pretendem conduzir o alocutário/interlocutor

à realização de uma ação.

Ex.: Meninos, arranjem-se para irmos à

praia.

Aconselhar, avisar, convidar,

implorar, pedir, proibir, …

Uso de frases imperativas e

interrogativas.

Compromissivos Exprimem um compromisso do locutor.

Ex.: Prometo que cumprirei as funções que

me são confiadas.

Comprometer-se, garantir,

jurar, promete, …

Uso frequente do futuro.

Nota: Há enunciados que podem integrar mais do que um ato ilocutório.

Quadro adaptado de Maria Helena M. Mateus, , Ana Maria Brito, Inês Duarte e Isabel Hub Faria, Gramática da Língua Portuguesa, 3ª edição, Ed. Caminho, Lisboa, 1992