Atividades

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Senhor Dom Duarte, Presidente de Honra, Caros Associados e Associadas do IDP: Queria agradecer a presença de todos neste no Jantar de Receção dos Novos Associados do IDP. Será com certeza um bom momento de convívio e também de partilha de ideias Aquilo que nos move no IDP é a mudança de atitudes, é a exigência de reformas estruturais do país. Nos últimos meses, a par dos Comunicados e Notas de Conjuntura, realizámos atividades que apontam todas no sentido de que o país precisa de reformas. Em Outubro de 2011, criámos a INDEPORT, cooperativa de estudos e consultoria que prepara as suas primeiras intervenções. Em Novembro, realizámos em Évora o I Fórum do Alentejo, ficando aqui uma palavra de agradecimento ao Joaquim Policarpo pela organização. Em Dezembro, estivemos em Mirandela, apelando ao renascer do poder local, com uma palavra de agradecimento ao Pedro Couteiro. Em Janeiro, em Lisboa, falámos do “Estado da Troika” com o Rui Rangel Em Fevereiro, realizámos o seminário sobre Regeneração Urbana, sobretudo graças à ação do Paulino Brilhante Santos e do João Jardine Em Março, teve lugar o Seminário sobre Comércio Internacional, organizado pela nossa associada, Inês Mena e Mendonça. Em Abril, em Albufeira, fizemos o I Fórum do Algarve, com organização da Antonieta Guerreiro. E estamos agora aqui em Junho, neste Jantar de Receção dos Novos Associados. Obrigado Pedro Castro. Todas estas nossas iniciativas têm uma linha comum … apelar para as reformas de que o nosso país carece. Contudo, não é de reformas estruturais que ouvimos falar nem, sobretudo, as vemos em prática. Após um ano no poder do XIX Governo Constitucional, ouvimos falar, sim, e sentimos no dia-a-dia, medidas de austeridade, muitas delas unilaterais. A austeridade é uma componente das reformas. Oxalá ouçamos falar mais de

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Senhor Dom Duarte, Presidente de Honra,Caros Associados e Associadas do IDP:

Queria agradecer a presença de todos neste no Jantar de Receção dos Novos Associados do IDP.

Será com certeza um bom momento de convívio e também de partilha de ideiasAquilo que nos move no IDP é a mudança de atitudes, é a exigência de reformas

estruturais do país. Nos últimos meses, a par dos Comunicados e Notas de Conjuntura, realizámos

atividades que apontam todas no sentido de que o país precisa de reformas.Em Outubro de 2011, criámos a INDEPORT, cooperativa de estudos e consultoria

que prepara as suas primeiras intervenções.Em Novembro, realizámos em Évora o I Fórum do Alentejo, ficando aqui uma

palavra de agradecimento ao Joaquim Policarpo pela organização. Em Dezembro, estivemos em Mirandela, apelando ao renascer do poder local,

com uma palavra de agradecimento ao Pedro Couteiro.Em Janeiro, em Lisboa, falámos do “Estado da Troika” com o Rui Rangel Em Fevereiro, realizámos o seminário sobre Regeneração Urbana, sobretudo

graças à ação do Paulino Brilhante Santos e do João JardineEm Março, teve lugar o Seminário sobre Comércio Internacional, organizado pela

nossa associada, Inês Mena e Mendonça.Em Abril, em Albufeira, fizemos o I Fórum do Algarve, com organização da

Antonieta Guerreiro. E estamos agora aqui em Junho, neste Jantar de Receção dos Novos Associados.

Obrigado Pedro Castro.

Todas estas nossas iniciativas têm uma linha comum … apelar para as reformas de que o nosso país carece.

Contudo, não é de reformas estruturais que ouvimos falar nem, sobretudo, as vemos em prática.

Após um ano no poder do XIX Governo Constitucional, ouvimos falar, sim, e sentimos no dia-a-dia, medidas de austeridade, muitas delas unilaterais. A austeridade é uma componente das reformas. Oxalá ouçamos falar mais de crescimento no futuro. É outra componente das reformas. Mas nenhuma delas é suficiente.

Nós, no IDP, estamos convictos que não se iniciarão as reformas estruturais enquanto não mudarmos de atitude, enquanto não soubermos o que vale a pena reivindicar e mudar.

Para isso, precisamos de uma revolução, uma revolução ética.Uma revolução ética não é pregar lições de moral sobre a vida dos outros. Exige

modificar os processos e as atitudes com que estamos na vida – cada um de nós, o estado e os nossos representantes.

Queria indicar dois casos gravíssimos e escandalosos que mostram como temos de exigir reformas estruturais, desde já.

Sem que tal suceda, nenhuma medida isolada surtirá efeito.

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São dois casos que, enquanto não forem resolvidos, nos obrigam a dizer que vivemos num sítio, e não num país que se orgulha de novecentos anos de história.

Uma Auditoria do Tribunal de Contas às parcerias público privadas (PPP’s) revela que resultaram de um conluio entre alguns Políticos, Bancos, Construtoras, Consultores, e grandes gabinetes de advogados. Vão-nos custar cerca de 2700 milhões de euros por ano a partir de 2014 e durante vinte ou mais anos.

Se a investigação deste caso for levada até ao fim, muita gente cairá. Não apenas um ex-ministro e mais uns ex- secretários de estado… Mas mais, muitos mais e de muitos setores da vida pública. E é precisamente, por atingir muita gente que a investigação ainda não avançou.

O BPN, o banco da III Republica. Só há uma explicação para o BPN ter sido nacionalizado, ou seja pago por todos nós, por 3,5 mil milhões de euros … E depois, vendido por tuta e meia, 40 milhões de euros. E continuará a ser pago por nós, até uma fatura que pode ir até 8,3 mil milhões, de acordo com o que renderem os despojos das sociedades veículo que ficaram nas mãos do Estado.

Existem 356 ações judiciais contra o BPN, segundo números do Diário de Noticias. Mas a única razão de o BPN não ter aberto falência, é que isso abriria as chaves do cofre onde não se encontraria dinheiro nem títulos válidos, mas sim os seus podres e, com eles os podres do regime. Apenas um ex-secretário de estado, foi até agora incomodado. Muitos mais haveriam de estar a contas com a justiça.

A atuação de alguns políticos da III Republica prende-se com os interesses clientelares e rentistas que os serviram e de que eles se serviram ao longo dos últimos 30 anos.

Esses interesses assentam sobretudo na banca, imobiliário, construção e setores de bens não transacionáveis.

E são esses rendeiros - que não são verdadeiramente empresários - que têm dominado a economia portuguesa, como aliás a de outros países do Sul da Europa como Espanha, Itália e Grécia. E tais interesses coincidem com alguns dos grandes interesses económicos dos países do “Norte” da Europa, mais ricos e emprestadores.

Todos os dias ouvimos falar da crise da Europa. Nós, no IDP, consideramos positiva a nossa integração europeia. Mas não ao

ponto de tudo cedermos e de abdicarmos de independência nas decisões que mais nos tocam.

Depois de 40 anos sem guerra, a Europa recebeu um suplemento de 20 anos de paz em 1989 com o fim do comunismo. Mas será que o aproveitou da melhor maneira?

Entre 1989 e 2007, foi como se a história europeia tivesse ido de férias. Não a de outras regiões…

Relativamente à numerosa classe média, houve acesso fácil e barato ao financiamento, sobretudo desde a integração no euro.

Mas desde 2008, acabaram as férias da história ….. A história regressou embora nem sempre com as noticias que ouvimos…

Ouvimos todos, e legitimamente preocupados, que a Grécia está em bancarrota. Isso não é uma novidade. Desde que foi independente dos otomanos em 1832, a

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Grécia esteve em bancarrota metade do tempo … A novidade é que desta vez, a Europa ainda a quer resgatar e os Gregos estão a ter o papel positivo de obrigar a Europa a definir-se.

Ouvimos dizer que a crise da zona euro, é culpa dos alemães, mesquinhos e dogmáticos, apegados à prescrição de austeridade. Na realidade, se o euro continuar é uma decisão do Bundesbank. E se o euro acabar, também é uma decisão do Bundesbank. E em vez de arranjarmos um bode expiatório, saibamos organizarmo-nos e exigir as reformas estruturais do estado que, só elas, nos podem salvar.

Ouvimos dizer ao primeiro ministro de Espanha que esse país apenas recebeu uma linha de financiamento bancário… Na realidade, mentiram os bancos espanhóis à população e é inacreditável como os atuais governantes espanhóis também mentem…. Num máximo de meses, estarão a pedir um novo resgate, pois a sua economia sofre dos mesmo vícios rendeiros que a nossa e a grega

Os países europeus e a União Europeia carecem de reformas. E a lição das crises da dívida soberana é que os países que fizerem essas mudanças do estado e trouxerem a responsabilidade e a ética para o centro da governação, e que acabarem com a mentira e apoiarem a economia real, serão mais competitivos.

Somos europeus mas somos também Atlânticos. E eu queria saudar a nossa associada, dr.ª Vilma de Farias, que veio do outro lado do Atlântico para estar connosco.

Temos pela frente o horizonte do mar e da lusofonia para tomar o futuro nas nossas mãos

Vivemos rodeados de oportunidades … Não somos lixo da moody, nem cultivamos o miserabilismo de um certo fado e das glórias efémeras do futebol.

A história é muito surpreendente A este propósito, permitam-me lembrar, em tom mais ligeiro, uma pergunta que

Henry Kissinger colocou ao ministro chinês Chou en Lai. “Que teria sucedido se Kruschev tivesse sido assassinado, em vez de Kennedy?”. O ministro chinês, neto de mandarins, respondeu: “De certeza que o sr. Onassis não se casaria com a sr.ª Kruschev.”

O futuro é muito surpreendente. E por isso mesmo queremos que o IDP nos ajude a tomá-lo nas nossas mãos.

14 de Junho de 2012Mendo HenriquesPresidente da Direção do IDP