Atividade prática Fontes de energia · PDF fileSegundo Freire (1997), para compreender...
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Atividade prática – Fontes de energia alternativas
Introdução
O objetivo deste material é fornecer um guia para o docente que deseja montar um stand
típico para feiras de Ciências ou em alguma exposição do gênero. O trabalho envolvido para a
produção de uma apresentação de um projeto de Ciências envolve muito mais do que
simplesmente uma apresentação. O grupo deve, antes de tudo, aprender a trabalhar em equipe,
dividir tarefas, cumprir prazos, seguir cronogramas e agendas de estudos, construir o projeto
propriamente dito e, por fim, apresentá-lo a um público diverso.
Os experimentos realizados nas aulas de Ciências/Física/Química ajudam o educador a
despertar no aluno o interesse na sua disciplina e contribuem no processo que enriquece a
qualidade do ensino dessas disciplinas, que apresenta conteúdos que podem ser abstratos para
os alunos. No ensino de Ciências, pode-se destacar a dificuldade do aluno em relacionar a teoria
desenvolvida em sala com a realidade a sua volta. Considerando que a teoria é feita de conceitos
que são abstrações da realidade (SERAFIM, 2001), pode-se inferir que o aluno que não
reconhece o conhecimento científico em situações do seu cotidiano, não foi capaz de
compreender a teoria.
Segundo Freire (1997), para compreender a teoria é preciso experienciá-la. A realização
de experimentos, em Ciências, representa uma excelente ferramenta para que o aluno faça a
experimentação do conteúdo e possa estabelecer a dinâmica e indissociável relação entre teoria
e prática. A importância da experimentação no processo de aprendizagem também é discutida
por Bazin (1987) que, em uma experiência de ensino não formal de Ciências, aposta na maior
significância desta metodologia em relação à simples memorização da informação, método
tradicionalmente empregado nas salas de aula.
Para Delizoicov, Angotti e Pernambuco (2002), os resultados decorrentes da atividade
científica ainda são pouco acessíveis à maioria das pessoas escolarizadas e, por isso, passíveis
de uso e compreensão acríticos e ingênuos, evocando a necessidade de um ensino que
possibilite os estudantes incorporarem no seu universo a ciência como cultura. Segundo Rosito
(2008), a utilização da experimentação é considerada para o ensino de Ciências, como essencial
para a aprendizagem científica.
Para que esta aprendizagem científica aconteça são necessários alguns fatores, dentre
eles, destaca-se o uso das atividades experimentais, considerada por muitos professores como
indispensável para o bom desenvolvimento do ensino. Considerando esse aspecto, deve-se
analisar se ela é realmente utilizada pelos professores, como isso costuma acontecer, e qual o
conceito que esses professores têm da experimentação.
Metodologia
A atividade prática em si não supre todas as necessidades didáticas do aluno, para isto
também é necessária a atividade teórica que pode ser fornecida pelo professor em sala de aula,
ou com a indicação de pesquisas direcionadas por ele. O mais adequado, para o uso em feiras de
Ciências, é que o conhecimento teórico seja mesclado com o conhecimento prático e não
ministrado à parte como de costume. O uso mais adequado sugerido aqui é a pesquisa
exploratória.
A pesquisa exploratória é, normalmente, o passo inicial "no processo de pesquisa pela
experiência e um auxílio que traz formulações de hipóteses significativas para posteriores
pesquisas" (CERVO & BERVIAN, 2004, p. 63). Tem o objetivo de buscar mais informações sobre
determinado assunto de estudo para que o pesquisador se familiarize mais com o fenômeno,
obtenha uma nova percepção dele ou descubra novas ideias.
Durante esta etapa muitos problemas surgirão, mas eles também fazem parte do processo.
Em seu livro Formação do espírito científico, Gaston Bachelard aponta os obstáculos que se
apresentam ao sujeito (o autor fala do espírito) quando em contato com o conhecimento científico,
seja por meio de fenômenos, seja no exercício da compreensão. Ao propor que a primeira
experiência exigente é a experiência que ‘falha’ (itálico e aspas do autor), Bachelard destaca o
papel do erro no progresso da ciência, tanto por se exigir um processo de frenagem do estímulo,
o que acalmaria os impulsos do sensível, como também por impulsionar o cientista à precisão
discursiva e social, subsidiando o desenvolvimento de técnicas e teorias (Bachelard, 1996, p.
295-297).
Cabe ao professor-tutor trabalhar as frustações e tirar o maior proveito possível e sempre
manter alto o entusiasmo e a motivação dos alunos. Todos os passos devem ser registrados no
diário de bordo que é um documento que inclusive é apresentado junto ao projeto terminado. Este
importante registro demonstra toda a trajetória do projeto e pode ter grande importância
pedagógica e também auxiliar futuros projetos semelhantes no que tange à diminuição de
práticas e processos poucos eficientes e que poderão ser identificadas e contornadas.
Montagem
A prática da montagem e teste do experimento constitui o maior custo deste projeto. Com o
objetivo de redução de custos com materiais, sugere-se a utilização da reciclagem e da
reutilização, que também tem seu teor ecológico e sustentável.
Como o tema deste projeto é a energia sustentável, sugere-se trabalhar a energia eólica
(energia elétrica gerada pela energia dos ventos) e a energia solar retirada diretamente da
energia luminosa do Sol. Sugere-se a montagem de uma maquete perfeitamente funcional no
sentido de produção e uso da eletricidade. A montagem deste experimento permite trabalhar
escalas, transformação e usos da energia, usos conscientes de energia elétrica e
desenvolvimento de projetos e cidades sustentáveis.
Os alunos perceberão que um gerador de eletricidade nada mais é do que um simples
motor elétrico. É fato que se o motor recebe energia elétrica, ele a transforma em energia cinética
(movimento do eixo) e se este mesmo motor receber energia cinética pelo seu eixo, ele a
transforma em energia elétrica. Diante disto, os estudantes podem ter quantos geradores quanto
quiserem. Quanto ao uso desta energia produzida, ela pode ser aplicada em lâmpadas da
maquete (iluminação pública por exemplo), em motores (veículos da cidade ou em fábricas) ou
onde a imaginação mandar.
O custo destes motores-geradores pode ser zero, pois os motores são comumente
encontrados em carrinhos de brinquedos, impressoras, computadores, tocadores de cd, etc., e
quando estes se quebram os motores ficam sem funcionalidade.
As fotos abaixo mostram um exemplo de uso que pode ser perfeitamente utilizado na
maquete a ser produzida. Neste experimento, foi usado dois motores sendo um de carrinho de
brinquedo e o outro de um velho tocador de cd’s, um velho disco hígido (HD) quebrado, para a
base, um tubo de ensaio, um pedaço de fio elétrico e uma hélice de aviãozinho de brinquedo.
Fonte: arquivo pessoal do autor
Este gerador eólico fornece cerca de 4,0 volts de eletricidade e pode ter muitos usos, tais
como em lâmpadas e em outros motores. Para a produção do vento pode-se utilizar um ventilador
doméstico comum.
Fonte: arquivo pessoal do autor
Uma outra vertente de energia alternativa é a energia solar. Use placas fotovoltaicas e
lâmpadas ou motores na maquete. Atenção para não confundir a placa fotovoltaica com as placas
comuns em telhados de casa e que tem a função de apenas aquecer a água. A montagem da foto
abaixo mostra o tamanho e a função da placa fotovoltaica que apenas transforma a energia
luminosa em energia elétrica, diferentemente das placas solares de uso mais comum que
simplesmente transfere a energia térmica (calor) do Sol para a água em um reservatório.
Fonte: arquivo pessoal do autor
As diferenças entre estas duas formas de usos da energia solar são bem grandes. A placa
fotovoltaica produz eletricidade que pode ser armazenada em baterias e pode ser usada em
qualquer aparelho elétrico, inclusive no chuveiro e também à noite. Já a placa de aquecimento
solar proporciona somente o aquecimento da água do chuveiro ou das torneiras.
Fonte: arquivo pessoal do autor
Os custos das placas fotovoltaicas são bastante elevados, mas sua disseminação tem
provocado uma rápida redução deste preço. O uso cada vez mais comum desta tecnologia já faz
produzir este tipo de lixo tecnológico. O estudante poderá encontrar tais placas em calculadoras
usadas e descartadas, em vários brinquedos, em carregadores solares, etc. A placa usada nesta
montagem foi retirada de uma calculadora velha e produz cerca de 1,0 volts de eletricidade e é
capaz de mover um motorzinho elétrico que poderia fazer mover um carrinho ou outro veículo,
como um barco.
Fonte: arquivo pessoal do autor
Os elementos destas fotos podem ser facilmente encontrados em sucatas diversas e
podem ser adaptados à construção da maquete de uma cidade ou indústria. As fotos são apenas
ilustrativas e demonstram as possibilidades encontradas em materiais simples. Cada grupo deve
escolher qual material utilizar e a melhor maneira de fazer isto em seu projeto.
Apresentação
A apresentação de todo o trabalho desenvolvido deve seguir alguns critérios, que
garantirão mais conforto aos expositores e possibilitarão maior visibilidade ao stand. Sugere-se
que nas laterais e fundo do stand, sejam afixados cartazes. Estes cartazes têm o objetivo de
informar o visitante sobre a montagem realizada. Pode-se ter fotos do histórico do processo,
detalhes e infográficos do interior ou do funcionamento, nome dos integrantes do grupo, nome
dos patrocinadores e agradecimentos.
Não é obrigatório que todas as paredes do stand tenham cartazes, mas é obrigatório a
produção de pelo menos um cartaz tipo banner. Uma faixa ou placa no alto e do lado de fora do
stand também pode ser usada e serve para chamar a atenção do visitante. O experimento deve
ser disposto de forma que o visitante tenha o máximo de acesso possível. Geralmente é disposto
no centro e à frente do stand.
Um aspecto extremamente importante é o uso e adequação da linguagem no momento da
apresentação. Como geralmente acontece, em uma feira de Ciências o público é bastante
diversificado, sendo composto por crianças, jovens e idosos. O apresentador deverá usar
linguagem de fácil compreensão para cada faixa etária. Logicamente, esta habilidade deve ser
treinada antes da feira.
A postura e a seriedade na apresentação também são aspectos extremante importantes e
que deve merecer especial atenção por parte do professor-tutor. Não adianta em nada ter todos
os conhecimentos sobre o projeto apresentado, se o apresentador não souber transmiti-los ao
público.
Imprevistos ocorrem, para isto esteja preparado e tenha um kit para ajudar no reparo do
projeto. Uma pequena caixa com os materiais básicos para reparos rápidos pode ser facilmente
conseguida. Coloque nesta caixa itens como cola de secagem rápida, cola quente, fita adesiva,
barbante, tesoura, e qualquer outro material ou ferramenta que o grupo ache necessário.
Referências
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Pensadores) Orig. de 1934.
BACHELARD, G. Formação do espírito científico. Contraponto: Rio de Janeiro, 1996. Orig. de
1937.
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Scientific Literacy Papers, 67-74. Brasil. (1998). Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros curriculares nacionais:Ciências Naturais/Secretaria de Educação Fundamental.
Brasília: MEC/SEF.
CERVO, Amado L. BERVIAN, Pedro A. Metodologia científica. 5. ed. São Paulo: Pearson
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DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A.; PERNAMBUCO, M. M.. Ensino de Ciências: fundamentos e
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ROSITO, B. A. O Ensino de Ciências e a Experimentação. In: MORAES, R. (org.).
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SERAFIM, M.C. A Falácia da Dicotomia Teoria-Prática Rev. Espaço Acadêmico, 7. Acesso em
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