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Arte & Diagramação Gustavo Ohara Caro professor, cara professora, Esta é uma proposta de atividade didática sobre alguns dos temas abordados pelo Programa “Escravo, nem pensar!”. Além das orientações sobre a estrutura da ativida- de, você vai encontrar, ao longo do texto e ao final, indicações de reportagens, filmes, pesquisas, gráficos e outros suportes que subsidiem e sirvam de matéria-prima para o trabalho com a turma. No texto há algumas palavras ou expressões grifadas. Se você cli- car sobre elas, será direcionado a outros sites. Além disso, você pode encontrar, em um glossário ao fim do texto, explicações sobre as palavras marcadas com um asterisco*. Sugerimos séries e disciplinas em que os objetivos e conteúdos da atividade podem ser desenvolvidos mais detalhadamente. No entanto, por mais que o tema receba espaço privilegiado dentro do currículo de uma determinada disciplina, não deixe de convidar os demais professores, afinal a dinâmica e qualidade da atividade podem ter um enri- quecimento com a interdisciplinaridade. Ainda que estejam estipuladas algumas aulas, você pode se apropriar da sequência didática para impulsionar algo maior, que dialogue com outros temas, envolva outros saberes e espaços e culmine eventualmente em um projeto temático. Ressaltamos que a atividade não é fechada. Pelo contrário, deve ser mudada de acordo com sua meta e realidade. Você verá que ela sugere um determinado número de aulas e que, no entanto, está estruturada em “passos”, isto é, módulos. Não necessariamente uma aula corresponde a um “passo”, visto que ele pode abranger muitos tópicos e des- dobramentos, assim como o trabalho simultâneo e complementar entre as disciplinas. Por isso, exerça sua autoria, aproprie-se do material e dê a ele os tons da sua realidade. Não deixe de nos enviar relatos, registros e sugestões de alterações. Um abraço! Equipe “Escravo, nem pensar!” Atividades

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Arte & DiagramaçãoGustavo Ohara

Caro professor, cara professora,

Esta é uma proposta de atividade didática sobre alguns dos temas abordados pelo Programa “Escravo, nem pensar!”. Além das orientações sobre a estrutura da ativida-de, você vai encontrar, ao longo do texto e ao final, indicações de reportagens, filmes, pesquisas, gráficos e outros suportes que subsidiem e sirvam de matéria-prima para o trabalho com a turma. No texto há algumas palavras ou expressões grifadas. Se você cli-car sobre elas, será direcionado a outros sites. Além disso, você pode encontrar, em um glossário ao fim do texto, explicações sobre as palavras marcadas com um asterisco*.

Sugerimos séries e disciplinas em que os objetivos e conteúdos da atividade podem ser desenvolvidos mais detalhadamente. No entanto, por mais que o tema receba espaço privilegiado dentro do currículo de uma determinada disciplina, não deixe de convidar os demais professores, afinal a dinâmica e qualidade da atividade podem ter um enri-quecimento com a interdisciplinaridade. Ainda que estejam estipuladas algumas aulas, você pode se apropriar da sequência didática para impulsionar algo maior, que dialogue com outros temas, envolva outros saberes e espaços e culmine eventualmente em um projeto temático.

Ressaltamos que a atividade não é fechada. Pelo contrário, deve ser mudada de acordo com sua meta e realidade. Você verá que ela sugere um determinado número de aulas e que, no entanto, está estruturada em “passos”, isto é, módulos. Não necessariamente uma aula corresponde a um “passo”, visto que ele pode abranger muitos tópicos e des-dobramentos, assim como o trabalho simultâneo e complementar entre as disciplinas. Por isso, exerça sua autoria, aproprie-se do material e dê a ele os tons da sua realidade. Não deixe de nos enviar relatos, registros e sugestões de alterações.

Um abraço!

Equipe “Escravo, nem pensar!”

Atividades

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ATIVIDADE SOBRE A CONCENTRAÇÃO DA TERRADisciplinas: História, Geografia, Sociologia, Estudos Amazônicos, Matemática.Série: Ensino Médio e EJA5 a 6 aulasPauta da atividade: O objetivo é refletir com os estudantes sobre a concentração fun-diária no campo brasileiro, suas causas e consequências.

Esta atividade pode ser realizada em parceria entre educadores e educadoras de Humanas e de Matemática, por ser composta

de elementos presentes nas duas áreas do conhecimento.

Apresentação

No site do “Escravo, nem pensar!”, você encontra atividades que abordam temáticas refe-rentes ao campo brasileiro. Todas elas acabam, direta ou indiretamente, esbarrando em uma questão que está presente em nossa história desde que as caravelas portuguesas aqui desem-barcaram: a concentração da terra. O nosso país é um dos mais desiguais neste quesito: poucos detêm muita terra, muitos têm pouca terra ou terra nenhuma. Nesta atividade, vamos discutir como se dá a distribuição da terra em nossa região e em nosso país e suas origens. Também vamos refletir sobre as consequências que a concentração fundiária provoca, tanto no campo como nas cidades. São temas relacionados: os conflitos no campo, a produção de alimentos, o êxodo rural e o trabalho escravo. A atividade também permite desenvolver porcentagens.

A) Vamos iniciar a discussão do tema apresentando a alunos e alunas a seguinte charge de Marcio Baraldi:

PRIMEIRO PASSO: De que vamos falar?

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Em um primeiro momento, podemos observar as imagens separadamente. Vamos ao primeiro desenho, “Enxadas paradas”. Quais os elementos que o compõem? Por que a enxada tem teia de aranha? Onde está encostada? O que quer dizer a plaquinha latifúndio*? Há alguma plantação no campo atrás da cerca? No segundo desenho, “Inchadas paradas”, quais os elementos que compõem a imagem? O que ela retrata?

Este é um bom momento para trabalhar conceitos matemáticos com base na realidade

de seus alunos.

Agora é hora de comparar: qual brincadeira o autor faz com os nomes dos desenhos? O que ele quer dizer? Quais as diferenças entre os dois desenhos? Há relação entre as duas situações?

B) Solicite que, em duplas ou trios, alunos e alunas realizem pesquisa sobre o tamanho das pro-priedades rurais de seu município ou região: existem grandes fazendas? Quantas? Que áreas ocupam? Existem pequenas propriedades? Quantas? Que área ocupam? O que as propriedades, grandes ou pe-quenas, produzem? Quem são seus donos?

A partir da análise da charge e das respostas da turma, é possível introduzir a reflexão sobre a rela-ção entre o latifúndio e o inchaço populacional nas cidades.

SEGUNDO PASSO: Como a terra é distribuída?

A) A ideia nesta etapa da atividade é pensar em como a terra é dividida. A partir do levantamento realizado pelos estudantes, crie tabelas, gráficos, estabeleça porcentagens.

Você pode trabalhar a comparação entre o número de propriedades, seu tamanho e variedade de gêneros agrícolas produzidos. Por exemplo:

Propriedade Área Produção Total

Fazenda Água Branca 1.900 hectares Soja3 propriedades ocupam 4.950 hectares e produ-zem 2 tipos de produto

Fazenda Boa Esperança 1.450 hectares Improdutiva

Fazenda Canabrava 1.600 hectares Cana

Sítio Novo 100 hectares Mandioca, Feijão, Milho, Galinha

31 propriedades ocupam 1.300 hectares e produ-

zem 11 produtosAssentamento Muiraquitã (30 famílias/ propriedades) 1.200 hectares

Mandioca, Feijão, Arroz, Milho, Melancia,

Maxixe, Tomate, Maracujá, Fava, Galinha,

Porco

34 propriedades 6.250 hectares

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A partir disso, pode desenhar gráficos com porcentagens.

 O gráfico mostra que no nosso exemplo as grandes propriedades (em azul) ocupam 79% da área to-

tal, apesar de serem apenas 3. As pequenas propriedades (em vermelho), apesar de serem 31, ocupam 21% da área total.

Com base na análise dos dados, como a terra é distribuída em nossa região? Qual a diferença de produção entre as pequenas e

as grandes propriedades?

B) Depois de pensar na distribuição local da terra, vamos estudar como ela se dá no Brasil. Para isso, faremos a atividade do bolo. Você vai precisar de um bolo retangular, inteiro, sem recheio ou cobertura, de tamanho suficiente para que toda a turma possa comer ao final.

Vamos imaginar que o bolo é a área total de terras agricultáveis do país. Nosso Brasil retangular tem 100 hectares. Com uma faca, divida o bolo da seguinte maneira:

Este pedaço teria 30 hectares, ou seja, 30% do bolo

(este pedaço será uma única propriedade – grande proprie-

dade)

Este pedaço teria 40 hectares, ou seja, 40% do bolo

(este pedaço será dividido em 7 propriedades médias)

Este pedaço teria 30 hectares, ou seja, 30% do bolo

(este pedaço será dividido em 92 propriedades pequenas)

Convoque um(a) voluntário(a) para se tornar proprietário(a) de um dos pedaços de 30 hectares. Peça para que divida o pedaço do meio em 7 e distribua para 7 amigos. Outro aluno ou aluna irá dividir o último pedaço (30 hectares) em 92 pequenas partes, distribuídas aos demais da turma. Brinque dizen-do que no lanche será esta a divisão.

Acharam essa divisão justa?

É justamente essa a divisão de terras no Brasil, segundo dados de 2002 do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Na brincadeira do bolo, arredondamos os números para facilitar a divisão. Segundo a mesma pesquisa, as pequenas propriedades são também as que mais empregam (86,6%) e mais produzem os gêneros alimentícios que compõem a mesa do brasileiro, como mandio-ca (87%), feijão (70%), suínos (59%) e leite (58%). Nos latifúndios, geralmente a produção é em siste-ma de monocultura* destinada à exportação.

grandes propriedades

pequenas propriedades

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Concentração agrária e trabalho escravo:Existe uma forte relação entre a questão agrária e o trabalho escravo em nos-so país. A “modernização” do campo brasileiro não levou em conta os interes-ses dos trabalhadores: a terra é concentrada e a produção tem sido mecani-zada, gerando uma grande massa de trabalhadores sem terra e sem trabalho. Sem perspectivas, muitos deles são aliciados pelos chamados “gatos” ou par-tem de seus locais de origem em busca de emprego. Em muitos casos, acabam submetidos a péssimas condições de trabalho e até ao trabalho escravo. Apesar de modernos e com tecnologia de ponta, os principais agentes que escravizam trabalhadores são justamente os latifúndios, em especial no momento de im-plantação da fazenda, construção de cercas, roço de pasto, catação de raízes. O mesmo latifúndio que expulsa trabalhadores é também o que escraviza. Veja a atividade sobre trabalho escravo.

Recentemente, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados do Censo Agro-pecuário realizado em 2006, que mostram que a concentração de terra não diminuiu ao longo dos anos e até aumentou. Veja:

Tamanho das propriedades

Quantidade de propriedades

Área

Pequenas 90,41% 21,43%

Médias 8,64% 34,16%

Grandes 0,95% 44,42%

Total 100% 100%

Apesar dos números mais atualizados indicarem um aprofundamento da disparidade da distribuição de terras, indicamos os números de 2002 para a realização da atividade do bolo. É interessante co-mentar os dados mais recentes do quadro fundiário com a turma, para efeito de comparação. Se você preferir, também pode fazer a atividade do bolo com base nos números do Censo.

Analise os dados com seus alunos e alunas. O que eles nos mostram?

Tamanho das propriedades

Quantidade de propriedades

Área Pessoas ocupadas

Pequenas 91,9% 29,2% 86,6%

Médias 7,3% 39,2% 10,9%

Grandes 0,8% 31,6% 2,5%

Total 100% 100% 100%

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C

TERCEIRO PASSO: Como isso tudo começou?A) Depois de pensar a situação na realidade atual, precisamos entender quais suas origens históri-

cas. Por que, ao contrário de outros países no mundo, o Brasil ainda não conseguiu realizar a reforma agrária?

Segundo o Incra, “reforma agrária é o conjunto de medidas para promover a melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social, desenvolvimento rural sustentável e aumento de produção”. Ou seja, é promover uma distribuição mais justa da terra, considerando também que, para produzir, não é necessária apenas a posse da terra como também infraestrutura, assistência técnica, transporte, saúde, educação, entre outros direitos. Para realizar a reforma agrária, o Estado brasileiro, por meio do Incra, compra ter-ras ou desapropria* fazendas que não estejam cumprindo sua função social*, criando os chamados assentamentos. Também pode ser realizada reforma agrária em terras per-tencentes à União, ou seja, ao Estado Brasileiro. Está em tramitação no Congresso Nacional há mais de dez anos a Proposta de Emenda Constitucional* 438, a PEC do Trabalho Escravo. A proposta prevê o confisco da terra de fazendeiros flagrados com trabalho escravo. A ideia é simples: o fazendeiro que escravizou deixou de cumprir a função social da propriedade e, por isso, deve per-der sua terra, que será destinada à reforma agrária.

A ideia é montar uma linha do tempo da terra, com todos os fatos históricos que se relacionam com a história da terra no Brasil (capitanias hereditárias, sistema de plantation, latifúndio, monocultura, escravidão, Lei de Terras, terra como símbolo de poder, Estatuto da Terra, ausência de reforma agrária, manutenção de uma alta concentração de terras, função social da terra, etc.) para explicar como se chegou à atual concentração fundiária, o modelo agrário adotado atualmente e as contradições entre o que diz a Constituição Brasileira sobre a terra e o que ocorre na prática. A linha começa em 1500 e chega até hoje.

Você vai precisar de um pedaço de papel madeira para desenhar a linha e as datas, e de folhas de papel ou pedaços de cartolina para montar as fichas com os marcos históricos e os donos da terra. As fichas serão coladas na linha ao longo da atividade. O resultado será o seguinte:

Antes de começar a discutir a linha da questão agrária, sugerimos situar os cinco grandes perío-dos da história política no Brasil (Colonização Portuguesa, Império, República Velha, Ditadura Militar, Nova República). As datas são importantes para dar a referência política à linha do tempo da questão agrária. Repare que, na fotografia, as fichas que indicam os marcos políticos foram colocadas na parte superior. São elas:

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- 1500Ficha: Colonização portuguesaPortugal chega às terras hoje chamadas de Brasil e, sobretudo a partir de 1532, passa a realizar expe-

dições colonizadoras.

- 1822Ficha: ImpérioBrasil se torna independente de Portugal e passa a ser governado por Dom Pedro I no dia 7 de se-

tembro.

- 1889 Ficha: República Velha Início do regime republicano no Brasil no dia 15 de novembro. O primeiro presidente da república

foi Marechal Deodoro da Fonseca.

- 1964 Ficha: Regime Militar Início do período da Ditadura Militar no dia 31 de março.

- 1985 Ficha: Nova República Fim da ditadura militar e início do período democrático e presidencialista no Brasil. Em 1985, Tan-

credo Neves ganha eleição indireta para a presidência da república, mas não chega a assumir, pois faleceu. Seu vice-presidente, José Sarney, assume a presidência em seu lugar.

É importante que alunos e alunas participem ativamente do processo de construção da linha. Você pode indicar livros para que pesquisem na biblioteca ou artigos na internet sobre os períodos. A partir disso, serão mais capazes de estabelecer relações entre os acontecimentos e a atual realidade brasileira.

C Depois de colocar os marcos políticos com ajuda da turma, é hora de colocar na linha as fichas com os fatos relacionados à história agrária do Brasil, listadas a seguir. A cada uma que será colada, debata com alunos e alunas a respeito daquele fato. Cole também a ficha que informa a quem perten-cia a terra e passe para o próximo marco histórico, até completá-la, como na fotografia da página 6. Nossa sugestão é iniciar com os dias de hoje, a partir da retomada da atividade do bolo. Os fatos são os seguintes:

- 2011/HOJEPartiremos do presente, estabelecendo relação com a atividade do bolo. Seguem existindo os latifún-

dios de monocultura agroexportadora. Ficha: Grande concentração de terras Principal atividade agrícola: agroindústria – grãos, cana-de-açúcar e pecuária.Mão de obra principal: maquinário, empregados e trabalho escravo contemporâneo.Donos da terra (ficha): latifundiários/empresários

- 1500Portugal chega às terras hoje chamadas de Brasil. O território era vazio? Descobrimento ou invasão?

A América já era ocupada por indígenas, que tinham outra relação com a terra: uso coletivo e simbiose com a natureza.

Ficha: Chegada dos portugueses ao BrasilPrincipal atividade agrícola: subsistênciaMão de obra e donos da terra (ficha): indígenas

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- 1534 A Coroa portuguesa se declara proprietária dessas terras e cria as capitanias hereditárias que benefi-

ciam inicialmente a 15 nobres portugueses. São criados os primeiros latifúndios do Brasil. O poder de uma pessoa é medido pelo número de escravos que ela possui.

Ficha: Capitanias hereditáriasPrincipal atividade agrícola: Cana-de-açúcar Mão de obra: Escravidão de indígenas e, depois, de negrosDonos da terra (ficha): latifundiários

- 1850É criada a Lei de Terras. Depois de 1822, com a independência, a Coroa Portuguesa deixa de ser

dona das terras brasileiras. A Lei de Terras regulamenta a situação, definindo que toda propriedade passa a ser adquirida mediante um contrato de compra: nasce a propriedade privada. Compra terra quem tem dinheiro, tem dinheiro quem já possuía terra. O poder de uma pessoa passa a ser medido pela quantidade de terra que ela possui. Podemos relacioná-la com a proibição do tráfico de escravos promulgada no mesmo ano: escravos seriam libertados em breve e nasceria o trabalho livre no Brasil. Iria contra o interessa dos latifundiários se tais trabalhadores tivessem acesso irrestrito à terra. Se todos conquistassem sua terra, quem trabalharia para eles?

Ficha: Lei de TerrasPrincipal atividade agrícola: Café Mão de obra: Escravidão de negrosDonos da terra (ficha): latifundiários

- 1888Em 13 de maio a princesa Isabel assina a Lei Áurea que tornou a escravidão uma prática ilegal no

Brasil. Os escravos estavam livres. Mas livres para ir aonde? Ficha: Lei ÁureaPrincipal atividade agrícola: caféMão de obra: colonos e sistema de barracão*Donos da terra (ficha): latifundiários

- 1964O Governo Militar lança o Estatuto da Terra para organizar a distribuição de terras no país, mas ele

não saiu do papel. Com propaganda, o governo incentivou o deslocamento de milhões de famílias sem terra para ocupar a região da Amazônia. Com benefícios fiscais e acesso à boa infra-estrutura, o go-verno também incentivou os grandes empresários da região sul a ocupar a mesma região, tornando-se latifundiários. Inicia-se o processo de expansão da fronteira agrícola, com muitos conflitos.

Ficha: Estatuto da TerraPrincipal atividade agrícola: agroindústria – grãos, cana e pecuáriaMão de obra: maquinário, empregados e sistema de barracãoDonos da terra (ficha): latifundiários e empresários

- 1988É lançada a Nova Constituição Brasileira, que passa a prever a “função social da terra”: toda proprie-

dade que não for produtiva e que não respeitar as leis ambientais e trabalhistas, deverá ser desapropria-da e, em muitos casos, destinada para a reforma agrária.

Ficha: Nova Constituição BrasileiraPrincipal atividade agrícola: agroindústria – grãos, cana e pecuáriaMão de obra: maquinário, empregados e trabalho escravo contemporâneoDonos da terra (ficha): latifundiários e empresários

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Um bom subsídio para a construção da linha do tempo é o vídeo elaborado pela Campanha Na-cional pelo Limite da Propriedade da Terra. A mesma campanha também produziu a cartilha “Três Histórias e Uma Terra”. Se você achar interessante, eles podem ser usados na sala de aula.

A “Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra: em de-fesa da reforma agrária e da soberania territorial e alimentar” existe desde 2000 e é promovida pelo Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo, composto por mais de 50 entidades. A ideia é mobilizar a sociedade para a discussão da reforma agrária e defender que, como em outros países do mundo, o tamanho das propriedades no Brasil seja limitado. Isso signifi-ca que uma propriedade não poderia ter mais do que 35 módulos fiscais*, o que varia entre 175 e 3.500 hectares. O fórum acredita que, com isso, seria possível fazer uma ampla reforma agrária no Brasil, garantindo que todas as famílias sem-terra pudessem viver dignamente, aumentando a produção de alimentos e destinando o recurso que seria gasto com desapropriação e com-pra de terras para o fortalecimento da agricultura familiar.

B) No final da construção da linha, é importante que você peça para que a turma faça uma inter-pretação geral do que foi exposto: a propriedade da terra sofreu grandes alterações ao longo da história do Brasil?

Como podemos perceber, apesar de as mudanças políticas terem acontecido em nosso país, não houve mudanças na estrutura agrária brasileira. As elites do campo continuam exercendo poder de decidir sobre o destino do campo brasileiro, ou seja, terra continua sinônimo de poder. Como um exemplo concreto, podemos citar a bancada ruralista, que representa esse setor da sociedade no Congresso Nacional, barrando uma série de projetos que favoreceriam os trabalhadores. Além disso, os fazendeiros, por meio de suas confederações e sindicatos, exercem enorme pressão sobre os governos para que sejam sempre beneficiados.

O que os trabalhadores têm feito para reverter esta situação? Como a maior parte da sociedade encara as ações dos traba-

lhadores sem-terra?

A concentração fundiária tem gerado sérios conflitos no campo brasileiro. Muitos tipos de violência são cometidos: além do trabalho escravo, ameaças de morte, espancamentos, pistolagem, queima de roças e de casas, assassinatos. A Comissão Pastoral da Terra realiza importante trabalho de compilar e analisar os conflitos que acontecem ano a ano por meio do Caderno Conflitos no Campo. O país tem um triste histórico de repressão e violência aos movimen-tos sociais que lutam contra a concentração de terras. Um caso que ganhou destaque foi o massacre de Eldorado dos Carajás (PA), ocorrido em 1996 na “curva do S”, onde 19 trabalhadores foram sumariamente assassinados. Até hoje o caso permanece como um exemplo de impunidade.

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Para abordar essas questões, você pode trabalhar com o poema Fu-neral de um Lavrador, de João Cabral de Melo Neto e musicado por Chico Buarque. O poema é apenas um trecho do livro “Morte e Vida Severi-na”, publicado em 1955. O trecho narra a trajetória mal sucedida de um camponês em busca de uma parcela de terra. Ao interpretar o poema, podem ser levantadas as seguintes questões: Qual o destino desse trabalha-dor? Quais são as figuras de linguagem utilizadas para transmitir a reali-dade narrada? Ela ainda é atual? A concentração de terra não expulsa apenas camponeses, como também prejudica as comunidades tradicionais, quilombolas e indígenas, que apresentam outra relação com a terra que vai além da mera proprie-dade.

QUARTO PASSO: O que a concentração da terra provoca?

Depois de toda discussão e estudo realizado com a turma, é hora de sintetizar as informações para refletir sobre os efeitos da concentração fundiária. A partir dos estudos, quais as consequências da con-centração da terra no nosso país?

A partir da pergunta, alunos e alunas podem elencar as diversas possibilidades, por exemplo: incha-ço das cidades, desemprego no campo e trabalho escravo, violência no campo, menor produção de alimentos, improdutividade, monocultura...

Depois, divida a turma em grupos. A ideia é que cada grupo pesquise e monte uma apresentação, aprofundando os temas levantados a partir da questão sobre as consequências da concentração fundiá-ria. Cada grupo pode ficar com um tema diferente e usar a criatividade para montar sua apresentação, que pode ser um texto, um painel, uma peça de teatro, um vídeo, uma maquete... Seria muito interes-sante apresentar os trabalhos à comunidade ou como um tema na feira de ciências.

GLOSSÁRIO* *Desapropriar – A Constituição Brasileira permite ao Estado desapropriar aquelas propriedades que

não estejam cumprindo a sua função social. A terra passa ao controle do Estado, que pode destiná-las para reforma agrária. O proprietário recebe uma indenização.

Função social da propriedade – De acordo com a Constituição, toda propriedade deve cum-prir sua função social, ou seja, ser produtiva, respeitar a legislação trabalhista e a legislação ambiental. Se descumprir qualquer um dos três itens que compõem a função social, ainda que produtiva, deve ser desapropriada. No Brasil, a única desapropriação por função social em que a terra era produtiva foi a da fazenda Cabaceiras, em Marabá (PA), flagrada repetidas vezes com trabalho escravo.

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Latifúndio – Em latim, latifúndio quer dizer largo e fundo. São as grandes propriedades de terra, com mais de mil hectares. Normalmente, a produção dos latifúndios é de monoculturas. Está associado ao agronegócio.

Módulos fiscais – Referência estabelecida pelo Incra que define a área mínima suficiente para o sustento e vida digna de uma família de trabalhadores e trabalhadoras rurais. Varia de região para re-gião (entre cinco e 110 hectares) e depende da análise de variantes, como a localização, qualidade do solo, relevo, acesso, etc.

Monocultura – Cultivo de um único tipo de lavoura. No Brasil Colonial, por exemplo, os engenhos praticavam a monocultura da cana-de-açúcar. Era o chamado sistema de plantation: grandes proprieda-des com um único cultivo destinado à exportação, para atender a metrópole portuguesa.

Proposta de Emenda Constitucional (PEC) – É uma mudança que se faz na Constituição Brasileira. No caso da PEC do Trabalho Escravo, em vez de desapropriar a terra de fazendeiros flagrados com trabalho escravo, como já prevê a Constituição, a proposta é expropriá-la, ou seja, confiscá-la, sem que o proprietário receba qualquer indenização. Se ele escravizou, simplesmente perderia o direito à propriedade, sempre vinculado em nossa Constituição ao cumprimento da função social da terra.

Sistema de barracão – Muito utilizado no Ciclo da Borracha na Amazônia. Por meio dele, os tra-balhadores eram pagos com mercadorias ou vales a serem trocados em pequenos armazéns de proprie-dade do empregador, conhecidos como “cantina” ou “barracão”. A caderneta da dívida, usada para aprisionar trabalhadores, tem nesse sistema a sua origem.

- Poesia: Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo NetoA questão da terra permeia esta história do retirante pernambucano que parte do sertão em direção

à capital litorânea.

- Atlas da Questão Agrária, do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Projetos de Reforma Agrária, da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp).

http://www4.fct.unesp.br/nera/atlas/O estudo traz mapas e análises sobre a estrutura agrária brasileira.

- Vídeo: Escola Eldorado, de Victor Lopes (2008, 13 minutos)http://www.portacurtas.com.br/pop_160.asp?Cod=8774&exib=5937O curta documentário narra a história de um trabalhador que saiu do Maranhão para o sul do Pará

em busca de terra e trabalho, vivenciando vários acontecimentos da história da região.

- Reportagem: Em concentração de renda, Brasil rural só não supera Namíbia, na Re-pórter Brasil (2/4/2010). http://www.reporterbrasil.org.br/exibe.php?id=1723

Pesquisa aponta Brasil como um dos países onde é maior a concentração da terra.

Sugestão de textos, livros, vídeos, mapas...