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Câmpus de Marília EDER DA SILVA SANTANA ATITUDES DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS FRENTE A ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NA UNESP DE PRESIDENTE PRUDENTE MARÍLIA 2013

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Câmpus de Marília

EDER DA SILVA SANTANA

ATITUDES DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS FRENTE A ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NA UNESP DE PRESIDENTE PRUDENTE

MARÍLIA 2013

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EDER DA SILVA SANTANA

ATITUDES DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS FRENTE A ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NA UNESP DE PRESIDENTE PRUDENTE

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista, Campus de Marília - SP, como exigência para obtenção do título de Doutor em Educação (Área de concentração: Ensino na Educação Brasileira, Linha de pesquisa: Educação Especial). Orientador: Profº Dr Sado Omote

MARÍLIA 2013

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FICHA CATALOGRÁFICA

Santana, Eder da Silva.

S223a Atitudes de estudantes universitários frente aos alunos com deficiência

na UNESP de Presidente Prudente / Eder da Silva Santana. - Marília : [s.n],

2013.

188 f. : il.

Orientador: Sadao Omote

Tese (doutorado) - Universidade Estadual Paulista, Faculdade de

Filosofia e Ciências

Inclui bibliografia

1. Atitudes Sociais. 2. Pessoas com Deficiência. 3. Inclusão no Ensino

Superior. I. Omote, Sadao. II. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de

Filosofia e Ciências. III. Título.

CDD (18.ed.) 371.9

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EDER DA SILVA SANTANA

ATITUDES DE ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS FRENTE A ALUNOS COM DEFICIÊNCIA NA UNESP DE PRESIDENTE PRUDENTE

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Educação da Faculdade de Filosofia e Ciências, da Universidade Estadual Paulista, Campus de Marília para obtenção do título de Doutor em Educação (Área de concentração: Ensino na Educação Brasileira, Linha de pesquisa: Educação Especial no Brasil).

COMISSÃO JULGADORA

___________________________________________________________________ Presidente e Orientador: Prof. Dr. Sadao Omote

___________________________________________________________________ 1º Examinador: Profª Drª Enicéia Gonçalves Mendes

___________________________________________________________________ 2º Examinador: Profª Drª Elisa Tomoe Moryia Schlünzen

___________________________________________________________________ 3º Examinador: Profª Drª Anna Augusta Sampaio de Oliveira

___________________________________________________________________ 4º Examinador: Profª Drª Tânia Suely A. Marcelino Brabo

Marília, 26 de fevereiro de 2013

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DEDICATÓRIA

Dedico o presente trabalho a minha esposa Jane, aos meus filhos Caio Cesar e Caroline e aos meus pais Romildes e Helena (in memorian).

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AGRADECIMENTOS

Neste meu ainda modesto percurso acadêmico, Deus me permitiu que

conhecesse seres humanos de valor inestimável.

Agradeço então inicialmente a Deus, pela a oportunidade concedida em

―realizar‖ este estudo.

Ao professor Dr. Sadao Omote, meu orientador, exemplo harmônico de

grandiosidade acadêmica e humildade.

À minha família: minha esposa Jane, por me incentivar a ousar em prosseguir

nos estudos, aos meus filhos Caio Cesar e Caroline por compreenderem minha

ausência.

Aos meus pais Romildes e Helena, que agora se encontram no mundo

espiritual. O enorme vazio e as saudades são parcialmente supridos pelas palavras

de motivação e carinho que sempre me dedicaram e que fazem eco em minhas

lembranças.

Aos meus irmãos, Clóvis, Elizabete, Edson e Ivan, pelo pouco que dividimos,

mas pelo muito que podemos ainda compartilhar.

Aos professores Drs. Anna Augusta S. de Oliveira, Elisa Tomoe Moryia

Schlünzlen, Enicéia Gonçalves Mendes e Tânia Suely A. Marcelino Brabo,

componentes da banca, agradeço as importantes contribuições e orientações para o

enriquecimento do estudo.

A professora Drª Arilda Inês Miranda Ribeiro, minha orientadora de mestrado,

que me conduziu na construção do degrau que antecedeu este estudo.

As professoras Drª Sônia Coelho Moré e Ms Mara Pelegrino, pelas

importantes contribuições.

Ao professor Dr Klaus Schlünzlen Júnior e a todos os pesquisadores do

CPIDES, minha sincera gratidão. Ao dedicado amigo Erik Rafael Alves Ferreira.

Ao professor Renan Rodrigues de Souza, que inicialmente me inspirou para a

realização deste estudo.

À CAPES, pelo financiamento parcial deste estudo.

Aos valorosos profissionais do sistema prisional do estado de São Paulo, em

especial o Bel. Edelson Alessandro Augusto da Cruz, exemplo de dedicação ao

funcionalismo público.

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“Sofri a dor da solidão e da rejeição. Mas foi esse espaço de solidão na minha alma que me fez pensar coisas que de outra forma eu não teria pensado.”

Rubem Alves

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RESUMO Nas últimas décadas, os debates acerca da inclusão dos alunos com deficiência nas instituições de ensino vêm se potencializando. A produção de pesquisas foi igualmente se expandindo, com estudos concentrados principalmente na educação de níveis básico e médio, mas as investigações sobre a inclusão do aluno com deficiência nas instituições de Ensino Superior começam a tomar vulto no Brasil. O presente trabalho apresenta uma análise das atitudes sociais discentes frente ao acolhimento do aluno com deficiência no campus da UNESP de Presidente Prudente/SP. Os objetivos do estudo consistiram em analisar e comparar as atitudes sociais dos estudantes daquele campus em relação à inclusão, realizar um mapeamento dos alunos com deficiência lá inseridos (quantos são os deficientes, em quais cursos estão matriculados, qual o tipo de deficiência e grau de comprometimento) e investigar o sentimento de acolhimento desses estudantes com deficiência no campus. Estavam matriculados na instituição no ano de 2011 quatro alunos com deficiência, nos seguintes cursos: Ciência da Computação, Educação Física, Geografia e Pedagogia. Foram participantes deste estudo 207 alunos, divididos em dois grupos: o G1, constituído por 101 alunos alocados em quatro salas de aula onde há alunos com deficiência matriculados, e o G2, composto por 106 alunos de quatro salas de aulas dos mesmos cursos, onde não há aluno com deficiência. Com vistas a alcançar os objetivos propostos foram utilizados dois instrumentos para a coleta de dados, a Escala Likert de Atitudes Sociais em relação a Inclusão e um questionário. Os escores obtidos foram tratados por meio de testes estatísticos não paramétricos Mann-Whitney e Kruskal-Walis e o questionário com base na análise de conteúdo. Os resultados não revelam diferenças estatísticas significativas nos escores dos subgrupos correspondentes aos cursos Educação Física e Geografia. Confirma a hipótese inicial o 3º Ciência da Computação, ou seja, a sala onde há alunos com deficiência matriculados, os pares apresentam atitudes sociais mais favoráveis em relação à inclusão. Contraria a hipótese inicial o 1º Pedagogia vespertino, uma vez que os alunos da sala de aula onde não há aluno com deficiência matriculado, possuem atitudes sociais mais favoráveis em relação à inclusão. Os resultados sugerem ainda que os alunos com deficiência se sentem incluídos na universidade, tanto por seus pares quanto pelos docentes, mas referem unanimemente que consideram o maior entrave acadêmico a questão da acessibilidade física no campus.

Palavras-chave: Atitudes Sociais; Pessoas com deficiência; Inclusão no Ensino Superior.

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ABSTRACT The debates on inclusion of students with disabilities in educational institutions have been increasing in recent decades. Research production was also expanding, with studies focused primarily on education of elementary and secondary levels, but research on the inclusion of disabled students in higher education institutions are beginning to emerge in Brazil. This work presents an analysis of students‘ social attitudes facing to the students with disabilities at UNESP Presidente Prudente/SP campus. The aims of the study were to analyze and compare the social attitudes of the students from that campus regarding the inclusion, to perform a mapping of students with disabilities placed there (how many are the disabled, in which courses they are enrolled, what type of disability and degree of impairment) and to investigate the feeling of reception of these students with disabilities on the campus. Four students with disabilities were enrolled in the institution in the year 2011 in the following courses: Computer Science, Physical Education, Geography and Education. Participants in this study were 207 students, divided into two groups: G1, comprising 101 students in four classrooms where there are students with disabilities, and G2, consisting of 106 students from four classrooms of the same courses, where there are no students with disabilities. To achieve the proposed objectives, two instruments were used to the data collection, the Likert Scale of Social Attitudes regarding to inclusion and a questionnaire. The scores were treated by the Mann-Whitney and Kruskal-Wallis non-parametric statistical tests and a questionnaire based on content analysis. The results revealed no statistically significant differences in the scores of subgroups corresponding to the Physical Education and Geography courses. It confirms the initial hypothesis, the 3rd Computer Science, where there are students with disabilities, the pairs have more favorable social attitudes regarding to the inclusion. It contradicts the initial hypothesis, the 1st Pedagogy afternoon, as students of the classroom where there are students with disabilities enrolled, have more favorable social attitudes regarding to the inclusion. The results suggest that students with disabilities feel included in the university, both by his pairs and by the faculty members, but they unanimously consider the physical accessibility on campus the greatest academic obstacle. Keywords: Social Attitudes; Persons with disabilities; Inclusion in Higher Education.

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RÉSUMÉ

Dans les dernières décennies le débat sur l'intégration des élèves handicapés dans les établissements d'enseignement mettent à profit le haut. Production de la recherche a également été en pleine expansion, avec des études axées principalement sur l'éducation aux niveaux primaire et secondaire, mais les recherches sur l'intégration des élèves handicapés dans les établissements d'enseignement supérieur ont commencé à prendre forme au Brésil. Cet article présente une analyse des attitudes sociales des étudiants impatients d'accueillir les étudiants handicapés du UNESP Presidente Prudente/SP. Les objectifs de l'étude étaient d'analyser et de comparer les attitudes sociales des étudiants de ce campus concernant l'inclusion, effectuer une cartographie des étudiants handicapés placés là (combien sont désactivés, dans laquelle les cours sont inscrits, le type et le degré d'invalidité engagement) et d'étudier le sentiment d'accueillir ces étudiants handicapés sur le campus. Étaient inscrits dans l'établissement en 2011 quatre années des élèves handicapés dans les cours suivants: informatique, éducation physique, de géographie et de l'éducation. Les participants à cette étude étaient 207 élèves, répartis en deux groupes: G1, comprenant 101 étudiants placés dans quatre salles de classe où il ya des étudiants handicapés, et G2, composé de 106 élèves de quatre classes des mêmes cours, où il pour les étudiants handicapés. Afin d'atteindre les objectifs proposés étaient deux instruments utilisés pour la collecte des données, l'échelle de Likert à des attitudes sociales relatives à l'inclusion et un questionnaire. Les scores ont été traités par des tests non paramétriques statistiques et de Mann-Whitney et de Kruskal-Wallis questionnaire basé sur l'analyse de contenu. Les résultats n'ont révélé aucune différence statistiquement significative dans les scores des sous-groupes correspondant à l'enseignement des cours de physique et de géographie. Confirme l'hypothèse initiale de 3e Sciences informatiques, ou une pièce où il ya des étudiants handicapés, le couple a plus favorables attitudes sociales relatives à l'inclusion. Contredit l'hypothèse initiale de l'après-midi 1er Pédagogie, les étudiants de la classe où il ya des étudiants handicapés inscrits, ont plus favorables attitudes sociales relatives à l'inclusion. Les résultats suggèrent que les étudiants handicapés se sentent inclus dans l'université, à la fois par ses pairs et par la faculté, mais elles se rapportent à l'unanimité examiner le plus grand obstacle à la question théorique de l'accessibilité physique sur le campus. Mots-clés: les attitudes sociales, les personnes handicapées; Inclusion dans l'enseignement supérieur.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Box Plot dos escores das turmas................................................... 120

Figura 2 – Escada de acesso ao acervo da biblioteca da FCT........................

143

Figura 3 – Escada de acesso ao prédio da administração da FCT................. 148

Figura 4 – Elevador de acesso ao prédio da administração da FCT............... 148

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Percentual da população com deficiência, segundo o tipo de deficiência investigada.....................................................................................

100

Gráfico 2 – Tempo de estudo das pessoas com deficiência............................ 101

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Alunos com deficiência matriculados no campus......................... 110

Quadro 2 – Descrição dos participantes da pesquisa .................................... 111

Quadro 3 – Escolarização dos pais de alunos com deficiência...................... 133

Quadro 4 – Escolarização em porcentagem dos pais dos alunos na sala onde estão matriculados alunos com deficiência...........................................

133

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – População residente por tipo de deficiência permanente ............ 99

Tabela 2 – Evolução de matrículas de alunos com deficiência no Ensino Superior de 2003 a 2005 .............................................................................

103

Tabela 3 – Evolução do número de matriculas (presencial e a distância) por Categoria Administrativa- Brasil 2001 – 2010 ..............................................

103

Tabela 4 - Escores obtidos nos enunciados da escala da mentira da ELASI. 117

Tabela 5 – Escores da ELASI segundo agrupamento de alunos da UNESP de Presidente Prudente...................................................................................

118

Tabela 6 - Escores da ELASI segundo agrupamento de alunos da UNESP

de Presidente Prudente - gênero.....................................................................

126

Tabela 7 - Escores da ELASI segundo agrupamento de alunos da UNESP

de Presidente Prudente - idade.......................................................................

129

Tabela 8 – Renda mensal familiar (RMF) dos alunos com deficiência e respectivos pares .......................................................................................

131

Tabela 9 – Idade de cada aluno com deficiência em relação à média da idade dos seus pares em sala de aula..........................................................

134

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO.................................................................................................... 16 1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 20 2 ATITUDES SOCIAIS: BASE TEÓRICA ............................................................... 30 2.1 Atitudes Sociais em relação à inclusão.......................................................... 31 2.1.1 Diacronia conceitual de atitudes sociais........................................................... 32 2.1.2 Formação de atitudes sociais........................................................................... 35 2.1.3 Reflexões de como se processam as mudanças de atitudes.......................... 45 3 A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO UNIVERSO ACADÊMICO.......................... 54 3.1 Excertos da produção acadêmica sobre os universitários com deficiência.. ..................................................................................................................................66 3.2 Aspectos legais e normativos da inclusão do aluno com deficiência no Ensino Superior...................................................................................................... 82 3.3 O acesso do aluno com deficiência no Ensino Superior no Brasil.............. 97 3.4 Os dídimos da UNESP de Presidente Prudente.......................................... 106 4 MÉTODO.............................................................................................................. 109 4.1 Participantes ................................................................................................. 110 4.2 Material............................................................................................................ 111 4.3 Procedimentos................................................................................................. 113 4.3.1 Procedimentos de coleta de dados................................................................ 113 4.3.2 Procedimentos de análise de dados.............................................................. 114 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................... 116 5.1 Atitudes sociais em relação à inclusão do estudante universitário com deficiência.............................................................................................................. 117 5.1.1 Avaliação da escala da mentira...................................................................... 117

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5.1.2 Efeito da presença de alunos com deficiência sobre as atitudes sociais de colegas de classe.................................................................................................... 118 5.1.3 Gênero e atitudes sociais em relação à inclusão........................................... 125 5.1.4 Idade e atitudes sociais em relação à inclusão............................................. 129 5.2 Caracterização dos alunos com deficiência................................................. 130 5.2.1 Característica familiar .................................................................................... 130 5.2.2 Característica do aluno com deficiência....................................................... 134 5.2.3 Percepção do acolhimento na universidade ................................................ 136 5.2.4 Acessibilidade na instituição na perspectiva dos alunos com deficiência ..... 142 5.2.5 Acessibilidade atitudinal na perspectiva dos alunos com deficiência ........... 149 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 152 REFERÊNCIAS....................................................................................................... 157 APÊNDICE A – Questionário para alunos com deficiência..................................... 169 APÊNDICE B – Tabulação de respostas aos questionários alunos com deficiência.......................................................................................................... 174 APÊNDICE C – Lista prioritária tópicos sobre inclusão no Ensino Superior.......... 179 ANEXO A – ELASI forma A..................................................................................... 180 ANEXO B – Ofício de autorização para a realização da pesquisa......................... 188

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APRESENTAÇÃO

Dídimo, o cego, considerado um dos grandes mestres da Universidade de Alexandria.

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A possibilidade de ascensão social e profissional das minorias, via

escolarização formal, tem constituído nosso foco de investigação desde a

graduação, em Pedagogia, pela FCT, em virtude de acreditarmos no potencial da

educação como um dos instrumentos de transformação da sociedade.

Esse interesse, anterior ao período de graduação, iniciou-se com a nossa

participação no movimento de consciência negra do município de Álvares

Machado/SP e se acentuou por ocasião da graduação, uma vez que era notória a

presença inexpressiva de alunos afrodescendentes na universidade, o mesmo

ocorrendo com o corpo docente.

O fato de ser o único aluno negro de nossa turma, além da existência de

somente duas docentes negras [essas duas professoras deixaram o campus em

virtude de aprovação em concurso público na Universidade de Brasília e

Universidade de São Paulo], ―provocavam-nos‖ no sentido de aprofundar a

investigação referente às relações raciais na universidade.

Nessa assertiva, desenvolvemos junto ao Programa de Pós-Graduação

daquela unidade, a Dissertação de Mestrado intitulada Trajetória histórica, percalços

e conquistas: o perfil socioeconômico e acadêmico do aluno negro da UNESP de

Presidente Prudente, quando confirmamos que a presença dos alunos afro-

brasileiros era efetivamente inexpressiva na instituição.

Naquela oportunidade, foram mantidos os primeiros contatos com um aluno

negro formando do curso de Matemática, acometido de paralisia cerebral. Embora

caminhasse e falasse com certa dificuldade, tornou-se paratleta velocista e revelou-

se grande orador. Esse ex-aluno atualmente continua treinando atletismo, dividindo

o esporte com sua atividade docente, uma vez que é professor efetivo da rede

regular de ensino público, tanto estadual quanto do município de São Paulo/SP,

onde leciona Matemática.

Nessa mesma época, passamos a compor o grupo de estudo Ambiente

Potencializador da Inclusão – API, na UNESP de Presidente Prudente, coordenado

pela professora Drª Elisa Tomoe Moriya Schlünzen, que busca, através de recursos

didáticos diversos, a exemplo das tecnologias de informação e comunicação e

Tecnologia Assistiva, aliado à viabilização de pesquisas, colaborar para o

desenvolvimento cognitivo, afetivo e motor dos acompanhados. Naquele grupo, na

condição de colaborador, iniciamos o atendimento a uma pessoa com deficiência, o

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jovem ―C‖, na ocasião com vinte e oito anos, acometido de uma doença conhecida

como espondilite anquilozante1.

O jovem acompanhado era egresso do Ensino Médio e procurou o API em

busca do que denominou ―inclusão digital‖, alegando necessidade de aprender a

transmitir mensagens eletrônicas e a efetuar buscas e pesquisas na rede mundial de

computadores (Internet). Era introspectivo, tinha dificuldade de memorização de

números, informações e senha, escrevia com grande dificuldade, embora soubesse

detalhadamente características de sua própria doença.

Tratava-se de um jovem negro, economicamente desfavorecido e deficiente,

que manifestava grande interesse em cursar Direito numa faculdade recém-criada

do município.

Acompanhar ―C‖ durante os atendimentos foi um grande desafio, mas um

desafio produtivo, pois colaborou para ampliar a nossa visão em relação à inclusão.

O fato de escrever com muita dificuldade, mesmo tendo cursado Ensino Médio,

demonstrava que seu Ensino Básico foi provavelmente muito fragilizado. Durante o

período em que cursou o Ensino Fundamental, a doença ainda não havia se

manifestado, mas quando cursava o Ensino Médio, relatou que as intensas dores

faziam com que frequentemente faltasse às aulas, saindo do Ensino Médio com

acentuada defasagem de conteúdo.

Tornou-se um entendimento corrente o fato de que se deve combater a

precariedade do Ensino Básico principalmente com financiamentos governamentais

(federal, estadual e municipal) consistentes e a viabilização de políticas públicas

específicas, com vistas a adequações estruturais, de formação continuada de

recursos humanos e condições de acessibilidade para todas as pessoas, dentre

outros fatores.

1 Espondilite anquilosante, de acordo com cartilha instrutiva elaborada pela Sociedade de

Reumatologia, é um tipo de inflamação que afeta os tecidos conjuntivos, caracterizando-se pela inflamação das articulações da coluna e das grandes articulações como quadris e ombros. É incurável, mas o tratamento precoce consegue tratar os sintomas (inflamação e dor), além de estacionar a progressão da doença. Disponível em: <http://www.reumatologia.com.br/PDFs/Cartilha_Espondilite_Anquilosante.pdf>. Acesso em 25 nov. 2012. Popularmente essa doença é conhecida em algumas regiões do Brasil como ―mal do exército‖, uma vez que, sendo sua prevalência em homens, os sintomas eram identificados quando os jovens ingressavam (ou iriam ingressar) no serviço militar. (Relato oral do jovem ―C‖ sem localização de evidências científicas ou literárias).

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Não obstante, esse Ensino Básico precário tem trazido sérias dificuldades

para esse jovem, que tem tentado aprovação nos exames vestibulares do curso

pretendido, sem, contudo, obter êxito.

As barreiras transpostas pelo matemático e, principalmente, as dificuldades

mencionadas por ―C‖, contribuíram para que direcionássemos nossas reflexões e

interesse, no sentido de investigar a necessidade da ampliação das oportunidades

educacionais no Ensino Superior para além das questões raciais. Desta forma,

inquietações que surgiram em nosso percurso profissional e acadêmico, inicialmente

voltadas para as relações raciais na universidade, tomaram vulto na perspectiva da

educação inclusiva, sendo direcionadas para a inclusão do aluno com deficiência no

Ensino Superior.

Especificamente neste estudo o foco de investigação irá se concentrar nas

atitudes sociais dos estudantes universitários frente a alunos com deficiência na

UNESP de Presidente Prudente, melhor caracterizado no texto introdutório a seguir.

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1 INTRODUÇÃO

―Mantenha seus pensamentos positivos, porque seus pensamentos tornam-se suas palavras. Mantenha suas palavras positivas, porque suas palavras tornam-se suas atitudes. Mantenha suas atitudes positivas, porque suas atitudes tornam-se seus hábitos. Mantenha seus hábitos positivos, porque seus hábitos tornam-se seus valores. Mantenha seus valores positivos, porque seus valores... Tornam-se seu destino.‖ Mahatma Gandhi apud Gold (2001).

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A inclusão de pessoas com deficiência2 no universo escolar tem se expandido

nas últimas décadas, constituindo um movimento histórico impulsionado, em grande

medida, pelo estabelecimento de convenções internacionais, a exemplo da

Declaração Mundial de Educação para todos (1990) em Jomtien, Tailândia, da

Declaração de Salamanca (1994), na Espanha e da Declaração de Madri (2002).

A declaração de Jomtien, dentre outras ações, chamou a atenção para a

necessidade da adoção de medidas que garantam a igualdade de acesso à

educação aos portadores de todo e qualquer tipo de deficiência, como parte

integrante do sistema educativo.

A declaração de Salamanca representou um marco histórico, no qual se

reafirmou o compromisso das nações signatárias com a educação para todos,

contando com a participação ativa e efetiva dos principais interessados, ou seja, as

pessoas com deficiência e respectivas organizações representativas.

A declaração de Madri abordou, principalmente, as questões da inclusão das

pessoas com deficiência na sociedade, dando ênfase aos temas: direitos humanos

dos deficientes; igualdade de oportunidades; barreiras sociais que conduzem à

discriminação e à exclusão e emprego como fator-chave para a inclusão. Conclama

para a necessidade de mudança de atitudes perante as pessoas com deficiência,

como compromisso de toda a sociedade, incluindo a participação ativa das pessoas

com deficiência para garantir os seus próprios direitos.

Todos esses documentos internacionais apontaram para a necessidade da

promoção da igualdade de oportunidades educacionais.

No Brasil, paralelamente a esse processo de inclusão da pessoa com

deficiência tanto nas instituições públicas quanto particulares de ensino, a produção

de pesquisas sobre a temática, abrangendo desde o Ensino Fundamental até o

superior, tem se expandido. Tal expansão tem colaborado para suscitar debates dos

mais variados, senão profícuos, polêmicos e acalorados, contribuindo para a

promoção junto à sociedade de reflexões sobre a importância da educação formal,

perpassando pelo aspecto da sociabilidade até a possibilidade de ascensão

profissional.

2 A opção pela adoção da terminologia ―pessoa com deficiência‖ neste estudo prende-se ao fato de

ser a utilizada com maior frequência nas produções atuais, principalmente a partir da Convenção de Guatemala. Na construção do texto, nos casos de citações diretas ou indiretas, as terminologias originais adotadas pelos autores serão preservadas.

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A possibilidade do desenvolvimento de pesquisas concernentes à inclusão da

pessoa com deficiência no Ensino Superior amplia-se à medida que se passa a

considerar questões que dela se desencadeiam a exemplo dos aspectos normativos,

de acesso e permanência do aluno com deficiência na instituição escolar, das

adequações curriculares, da acessibilidade física e da acessibilidade atitudinal.

Este estudo centra-se na investigação de dois dos aspectos inerentes a essa

questão, sendo o primeiro as atitudes sociais discentes em relação à inclusão do

aluno com deficiência e o segundo, o sentimento de acolhimento dos alunos com

deficiência na universidade, no caso, a Universidade Estadual Paulista ―Júlio de

Mesquita Filho‖ UNESP de Presidente Prudente.

A Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT) da UNESP de Presidente

Prudente representa uma das 33 unidades, entre Faculdades e Institutos, dos 23

campi do Estado, onde estão matriculados 3.000 alunos de graduação, nos 12

cursos oferecidos, além de 345 alunos em 02 cursos de pós-graduação Lato Sensu

e 09 cursos de pós-graduação Stricto Sensu (mestrado acadêmico e doutorado).

Um contato inicial, no ano de 2011, com a Seção de Graduação e de Serviço

Social da instituição, revelou que a Unidade Escolar não possuía informações

precisas sobre a quantidade de alunos com deficiência matriculados no campus e

respectiva localização.

Diante disso, houve então a necessidade de comparecimento e verificação

pessoal do autor em todas as salas de aula, contemplando todos os cursos, nos três

períodos de estudo, compreendendo o matutino, o vespertino e o noturno para

identificá-los.

Para delinear o estudo, algumas informações e questionamentos são

essenciais para a compreensão inicial do fenômeno, a exemplo de: quantos são os

alunos com deficiência matriculados no campus? Como é o sentimento de

acolhimento desses alunos na instituição? Qual é o seu perfil socioeconômico? e

Quais são as atitudes sociais discentes em relação à inserção dos alunos com

deficiência na Universidade?

As salas de aula da FCT são disponibilizadas em blocos discentes, divididos

principalmente no campus da Rua Roberto Simonsen e um bloco de salas de aula,

como uma extensão do campus principal, na Rua Dr. Ciro Bueno. Parcela majoritária

dos cursos é ofertada em dois turnos: matutino ou vespertino e noturno.

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Em cada sala de aula, interpelaram-se os docentes e alguns alunos,

perguntando informações acerca da presença de aluno com deficiência. Recolhia-se

então a informação da existência ou não de aluno com deficiência naquela sala de

aula, bem como eventuais indicações da possibilidade da existência de aluno com

deficiência num determinado ano de um curso, com essa ou aquela patologia, o que

era prontamente verificado.

Além dos docentes e alunos, fora mantido contato com os funcionários de

cada bloco, a exemplo dos servidores operacionais e vigilantes, com vistas à

efetivamente identificar todos os alunos com deficiência que estavam matriculados

na FCT.

O comparecimento e a verificação nas salas de aula permitiu a identificação

de 04 alunos com deficiência, num universo de 3.000 alunos somente de cursos de

graduação.

No mês de novembro de 2011, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

divulgou alguns resultados preliminares3 do recenseamento realizado no ano de

2010, contemplando, nesta primeira etapa, dados iniciais referentes às pessoas com

deficiência.

Na caracterização das pessoas com deficiência permanente, o instituto

considerou as deficiências visual, auditiva e motora, de acordo com o seu grau de

severidade, e, também, mental ou intelectual. Esse estudo inicial revelou que 23,9%

da população declarou possuir pelo menos uma das deficiências investigadas (no

censo demográfico realizado em 2000, 14,5 % da população declarou algum tipo de

deficiência ou incapacidade).

Esses dados revelados nos resultados preliminares são representativos do

país, mas é possível presumir que o número de pessoas com algum tipo de

deficiência no município de Presidente Prudente4 e seu entorno seja relativamente

similar em porcentagem.

3 Conjunto de dados divulgados para Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação (Notas

Técnicas, Resultados Preliminares Amostra, IBGE, 2011). Até a finalização deste texto, em fevereiro de 2013, não foram divulgadas novas informações sobre esse conjunto de dados. 4 Em relação à Presidente Prudente, o IBGE divulgou no Censo Demográfico 2010 uma população

residente de 207.610 habitantes. Dessa população, 163.599 habitantes não possuíam nenhuma das deficiências elencadas na pesquisa. Desta forma, de acordo com o estudo, 21,19% da população residente em Presidente Prudente naquele ano possuía algum tipo de deficiência.

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O acesso e a permanência dos alunos no Ensino Superior público, com ou

sem deficiência, pode representar uma possibilidade concreta de ascensão social e

profissional, ampliando as perspectivas de inserção no mundo do trabalho.

Para um contexto aproximado de 3.000 alunos, os quatro alunos com

deficiência matriculados na faculdade, no exercício de 2011, representavam

somente 0,13% do alunado.

De acordo com o apresentado no transcorrer deste texto, será possível

observar que, em que pese alguns avanços em relação ao crescimento de

matrículas de alunos com deficiência no Ensino Superior, tanto público quanto

privado, a sociedade encontra-se ainda distante de sentir um verdadeiro ―impacto‖

no que concerne às políticas de inclusão já viabilizadas em relação ao Ensino

Superior.

Nesse sentindo, considerando a quantidade ínfima de alunos com deficiência

matriculados na instituição, a adoção do termo ―inclusão‖ do aluno com deficiência

no Ensino Superior torna-se pouco adequada, uma vez que, na realidade, tais

alunos se encontram ―inseridos‖ na FCT.

A Universidade Estadual Paulista ―Júlio de Mesquita Filho‖ não aderiu, até o

momento, a um programa de ações afirmativas, a exemplo das cotas, para a

inclusão de pessoas com deficiência na Educação Superior, sendo que o acesso

dos alunos com deficiência na instituição se dá da mesma forma que qualquer outro

aluno.

A inclusão consiste em um processo abrangente e contínuo. Para Mittler

(2003, p. 36) ―A rua de acesso à inclusão não tem um fim porque ela é, em sua

essência, mais um processo do que um destino‖.

De acordo com Sassaki (1997), a inclusão social deve ser vista como um

processo que contribui para a construção de um novo tipo de sociedade, através de

pequenas e grandes transformações, tanto nos ambientes físicos quanto na

mentalidade das pessoas. Nesse processo, incluem-se as pessoas com deficiência.

Na perspectiva educacional, de acordo com Mittler (2003), a inclusão

demanda uma reforma escolar radical, perpassando pelo currículo, pela avaliação,

pedagogia e formas de agrupamentos de alunos nas atividades da sala de aula.

Observa-se, então, que a inclusão ―física‖ do aluno com deficiência nas escolas, de

qualquer nível de ensino, não representa uma mínima garantia de efetivação do

processo de inclusão como um todo.

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25

Essa parece ser uma situação paradoxal vivenciada no Brasil, que possui

uma legislação vasta e moderna acerca da inclusão social, mas que em termos

práticos, as ações efetivadas, inclusive no campo da educação, ainda são

incipientes.

Desta forma, pensar em inclusão no Ensino Superior é admitir a necessidade

da viabilização de programas específicos para o atendimento adequado às

necessidades e às peculiaridades de cada aluno, desde a organização dos exames

vestibulares; a criação de comissões de acessibilidade para o necessário

acolhimento dos alunos com deficiência matriculados na instituição, identificando-os,

criando condições para sua acessibilidade física; e promoção de ações para a sua

permanência na instituição, buscando meios para a remoção de barreiras no

campus, tanto física quanto atitudinais.

Assim, acredita-se que os quatro alunos anteriormente mencionados

encontram-se ―inseridos‖ na FCT/UNESP. A inserção da pessoa com deficiência é

ainda resquício de um processo integrativo, que aceitava inserir nos grupos

instituídos, a exemplo da escola, pessoas com deficiência que tivessem condições

de adaptação para o convívio social. Na perspectiva escolar, aceitavam-se os alunos

com deficiência, inclusive intelectual, que pudessem acompanhar os demais alunos,

quando a sociedade colaboraria com o estabelecimento de pequenos ajustes

estruturais, como adaptações em calçamentos e banheiros.

De acordo com Pontes (2008), no Brasil, o movimento de integração esteve

bastante forte nas décadas de 1970 e 1980, propiciando naquela época a existência

de normas reconhecendo direitos de forma condicionada, como: ―sempre que

possível‖ e ―desde que capazes de se adaptar‖.

A diferença conceitual entre inclusão e inserção foi significativamente

estudada por autores consagrados, a exemplo de Mantoan (2000) e Sassaki (1997).

No entanto, essa discussão foi resumidamente resgatada, com o objetivo de suscitar

reflexões acerca da pequena quantidade de alunos com deficiência matriculados na

FCT/UNESP.

O processo de inclusão no Ensino Superior demandaria, então, a garantia da

possibilidade de ingresso e acesso igualitário ao conhecimento das pessoas com

deficiência na Universidade, com o suporte técnico adequado e o atendimento

educacional especializado necessário.

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26

Essa presença tão inexpressiva dos alunos com deficiência no Ensino

Superior público tem fatores de ordens diversas, a exemplo do contexto histórico e

da própria organização da sociedade. Dentre esses fatores, alguns tópicos são

importantes para envidar reflexões sobre a inclusão: as diretrizes normativas, ou

seja, os decretos, leis, normas e resoluções que versam sobre a inclusão do aluno

com deficiência no Ensino Superior; e a apresentação de estudos acadêmicos

acerca do mesmo tema.

Dentre os estudos desenvolvidos sobre inclusão no Ensino Superior,

destacam-se, entre outros, as pesquisas elaboradas por Oliveira (2003), Ferreira

(2003), Oliveira e Carmo (2003), Mazzoni (2003), Drezza (2007) Ferreira e Duarte

(2010), Chahini (2010), Fonseca-Janes (2010), Rosa (2011) e Piza (2011),

compondo investigações dos mais variados temas, apresentadas resumidamente no

terceiro capítulo.

Paralelamente, mas igualmente importante, o segundo eixo temático

contemplou o estudo das atitudes sociais. As atitudes sociais em relação à inclusão

e sentimento de acolhimento dos alunos com deficiência são eixos temáticos

distintos, mas que certamente se complementam, pois, na perspectiva da inclusão

da pessoa com deficiência no Ensino Superior, seu sentimento de acolhimento na

Unidade Escolar se coaduna com a promoção de atitudes sociais favoráveis em

relação à inclusão.

A hipótese inicial aventada é a de que os alunos matriculados em salas de

aula onde há presença de colegas com deficiência possuem atitudes sociais mais

favoráveis em relação à inclusão. Nessa perspectiva, admite-se a relação contrária,

ou seja, quando não há presença de alunos com deficiência em sala de aula, as

atitudes sociais dos alunos são menos favoráveis em relação à inclusão, o que

sugere implicações com o sentimento de acolhimento desses alunos com deficiência

na Universidade.

Uma questão estudada pela Psicologia Social, conhecida como hipótese de

contato, examina o papel do contato intercultural na redução do preconceito. Berry

(2004) explica que a hipótese de contato propõe, sob determinadas condições, que

o contato intergrupal reduzirá o preconceito entre os grupos. Essas condições são: o

grupo deve possuir o mesmo status; deve partilhar de alguns objetivos comuns; o

contato deve ser voluntário; e deve haver algum apoio ao contato (em vez de

proibição).

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27

Atitudes sociais representam um fenômeno psicológico amplamente estudado

pela Psicologia Social, decorrente das relações interpessoais. Psicólogos Sociais, a

exemplo de Rodrigues (1999), consideram que o estudo e a compreensão dos

fenômenos sociais são de grande relevância social, uma vez que, ao se entender

esses fenômenos, as pessoas tornam-se capazes de provocar mudanças e

solucionar problemas que decorrem deste mesmo processo interacional.

De acordo com o detalhamento apresentado em seção específica deste

estudo, são três os componentes contemplados nas atitudes sociais: as cognições [o

que conhecemos sobre o objeto social]; os sentimentos [carga afetiva pró ou contra

esse objeto] e uma tendência de ação [predisposição à ação coerente com as

cognições e afetos relacionados a tal objeto].

À guisa de esclarecimentos iniciais, Rodrigues (1988) conceitua atitude como

sendo um sentimento positivo ou negativo em relação a um objeto social, podendo

ser representado por uma pessoa, um acontecimento social ou outros produtos da

atividade humana. O autor esclarece que atitudes são fenômenos sociais não

observáveis, mas mensuráveis, ou seja, as atitudes sociais podem ser medidas.

Em relação à observação desse fenômeno, Lima (2000) esclarece que a

atitude é um constructo que se tenta avaliar através da expressão favorável ou

desfavorável, o que indica que as atitudes não são diretamente observáveis.

As atitudes podem ser observadas indiretamente, através da utilização de

instrumentos. Garcia-Marques (2000) propõe que atrás do observável escondem-se,

muitas vezes, as verdadeiras razões e atitudes dos sujeitos e, por isso,

desenvolveram-se várias técnicas para se ter acesso a esse mundo que insistimos

em preservar do olhar dos outros.

Dessas técnicas, as escalas de mensuração de atitudes sociais foram

implementadas, principalmente na década de 1920, sendo Likert e Thurstone

considerados pioneiros na elaboração e utilização desses instrumentos.

Rodrigues (1999) afirma que uma das formas mais utilizadas para a

mensuração de atitudes sociais é a escala de Likert. A utilização de escalas de

atitudes sociais permite mensurar quanto o indivíduo ou a coletividade tem de

sentimentos favoráveis ou desfavoráveis a determinados objetos sociais, o que

obviamente permite a adoção de medidas com vistas à tentativa da mudança de

atitudes em relação àqueles objetos sociais.

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Neste estudo, a perspectiva conceitual sobre atitudes sociais baseia-se

principalmente nas posições teóricas de Krech, Crutchfield e Ballachey (1969),

Freedman, Carlsmith e Sears (1970), Bem (1973) e Rodrigues (1999).

O objetivo geral da pesquisa consistiu em investigar as atitudes sociais em

relação ao acolhimento dos alunos com deficiência na UNESP de Presidente

Prudente.

Os objetivos específicos foram os a seguir elencados:

Analisar e comparar as atitudes sociais dos estudantes da UNESP de

Presidente Prudente em relação à inclusão;

Realizar um mapeamento dos alunos com deficiência inseridos nesse

campus universitário (quantos deficientes, em quais cursos estão

matriculados, qual tipo de deficiência e grau de comprometimento); e

Investigar o sentimento de acolhimento dos estudantes com deficiência na

UNESP de Presidente Prudente.

A metodologia adotada para a realização do estudo contemplou a aplicação

da Escala Likert de Atitudes Sociais em Relação à Inclusão, além de um

questionário junto aos alunos com deficiência, conforme especificação no capítulo

referente ao método.

A importância da realização desta investigação se justifica tanto pela

incipiência de estudos acadêmicos versando sobre a temática atitudes sociais e

sentimento de acolhimento dos alunos com deficiência no Ensino Superior, bem

como pela presença inexpressiva desse alunado nas instituições superiores de

ensino.

Espera-se, com a realização desta pesquisa, contribuir para ampliar a

discussão e reflexão sobre a presença do aluno com deficiência no Ensino Superior,

sem, contudo, ter a pretensão de esgotar todos os aspectos concernentes a essa

temática, dado a sua complexidade e abrangência.

O presente estudo foi estruturado em cinco capítulos. O texto de

apresentação discorre sobre a motivação pessoal do pesquisador para a realização

do estudo. O capítulo introdutório descreve resumidamente o referencial teórico

adotado, os objetivos do estudo e o aporte metodológico utilizado.

O capítulo II, referente à base teórica do estudo, apresenta uma linha do

tempo conceitual em relação às atitudes sociais, além de breves reflexões de como

se formam e como podem ser modificadas.

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29

O capítulo III tece algumas considerações acerca da inserção dos alunos com

deficiência na universidade pública e apresenta parte da produção acadêmica

desenvolvida contemplando os universitários com deficiência, além de tratar de

aspectos normativos referentes ao aluno com deficiência no Ensino Superior.

O capitulo IV descreve o percurso metodológico utilizado, os participantes da

pesquisa, os materiais e procedimentos de coleta e análise dos dados.

O capítulo V discorre sobre os resultados da pesquisa, concatenando-os com

o referencial teórico adotado.

Finalmente, o capítulo VI apresenta as considerações finais da pesquisa e

perspectivas futuras de estudo.

Discorrido este texto introdutório, passa-se ao capítulo de referencial teórico.

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2 ATITUDES SOCIAIS: BASE TEÓRICA

Sisyphus, de Ticiano (1490-1576)

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Este capítulo apresenta a evolução histórica do conceito de atitudes sociais,

que foi se desenvolvendo principalmente a partir do início do século XX, até as

concepções mais aceitas atualmente. Tece ainda algumas considerações sobre

como se formam as atitudes sociais, bem como reflexões de como se processam as

mudanças de atitudes.

2.1 Atitudes Sociais em relação à inclusão

O filósofo, historiador e ensaísta escocês David Hume (2001), ao refletir sobre

o seu Tratado da natureza humana, considera que a beleza não é um atributo em si,

existindo apenas na mente de quem a contempla.

Na mente do percebedor aparecem representados esses atributos, com

qualidades atribuídas ou interpretadas pelo sujeito da percepção, como a beleza.

Outro exemplo de atributo, mencionado por Goffman (1988), é a ―feiúra‖, que

tem seu efeito primário e inicial durante situações sociais, ameaçando o prazer que,

de outra forma, poderíamos ter em companhia da pessoa que possui esse atributo.

As reflexões propostas por Ilana Strozemberg5 auxiliam a compreender

alguns efeitos desses atributos, esclarecendo que, atualmente, beleza e feiúra,

quando atribuídos ao corpo de alguém, podem se constituir como sentenças que

decidem sobre o direito de ter ou não uma identidade humana.

De acordo com Novaes (2006), há, no julgamento do sujeito, uma forte

tendência a associar um estereótipo favorável às coisas belas e um desfavorável e

depreciativo às coisas esteticamente feias. Padrões sociais pré-estabelecidos ditam

o que pode ou não ser consideradas características de beleza.

Atributos são características próprias ou peculiares de alguém ou alguma

coisa, a exemplo da altura, do peso, da cor da pele, dos olhos, do cabelo, dentre

outros.

Com base em alguns desses atributos, construídos nas relações

interpessoais, fundados em crenças remotas, que levam o indivíduo a

5 Reflexão suscitada no texto de apresentação do livro ―O intolerável peso da feiúra: sobre as

mulheres e seus corpos‖.

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comportamentos e tendências para ação diante de objetos sociais das mais variadas

ordens, compõem-se as atitudes sociais.

A formação de atitudes sociais é intrínseca ao relacionamento entre as

pessoas, não sendo inerentemente prejudiciais, residindo o problema no que

efetivamente o sujeito faz de suas atitudes.

Especificamente em relação às pessoas com deficiência, o estudo das

atitudes é de reconhecida importância, uma vez que, de acordo com Buscaglia

(2006) as pessoas são menos limitadas pela própria deficiência que é acometida do

que pela atitude da sociedade em relação a elas.

De acordo com Pires (2006) a prática social de inclusão deveria supor o

abandono definitivo de práticas e relações sociais discriminatórias, apoiadas num

profundo processo de mudanças atitudinais de uns em relação aos outros. A adoção

de atitudes sociais favoráveis em relação à inclusão da pessoa com deficiência é

uma das ações necessárias para efetivação do paradigma da inclusão.

Com o foco de investigação voltado para as instituições de ensino, Chahihi

(2010) propõe que para haver a consolidação do paradigma da inclusão, se faz

necessária a operacionalização de vários aspectos como a eliminação de barreiras

arquitetônicas e atitudinais, principalmente as atitudes sociais de todos que fazem

parte do meio acadêmico e das próprias famílias das pessoas com deficiência.

Esta seção apresentará uma evolução histórica do conceito de atitudes

sociais, bem como refletirá acerca da sua formação e transformação, além de sua

importância para o contexto da inclusão.

2.1.1 Diacronia conceitual de atitudes sociais

A Psicologia Social é um campo científico que investiga comportamentos e

fenômenos sociais, a exemplo da afiliação grupal, a percepção da pessoa, as

inclinações afetivas, a agressão, o comportamento do grupo, o conformismo e a

formação e mudança de atitudes.

Dentre tais fenômenos, Freedman, Carlsmith e Sears (1970) esclarecem que

a formação e mudança de atitudes têm se constituído como núcleo central de

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33

estudos da Psicologia Social nos Estados Unidos há muitos anos, com estudos

publicados no início do século XX, especificamente a partir da segunda década.

De acordo com Farr (2004), um estudo elaborado e publicado, na década de

1920, por William Isaac Thomas (1863-1947), em co–autoria com Znaniecki,

intitulado O camponês polonês na Europa e na América, já utilizava o conceito de

atitude social para estabelecer diferenças entre os grupos, no caso, os imigrantes e

a comunidade nativa, possibilitando o estabelecimento de uma ligação entre o

psicológico e o cultural.

Desta forma, não se pode considerar a temática como algo ainda incipiente,

uma vez que desde aquela época a publicação de estudos concernentes às atitudes

sociais tem sido significativa, abarcando pesquisas dos mais variados fins, que vão

desde as pesquisas de opinião, de cunho eleitoral, até questões ligadas às atitudes

de ordem racial, religiosa e de orientação sexual.

A elaboração de uma linha temporal conceitual sobre as atitudes sociais pode

colaborar para facilitar a compreensão deste fenômeno, bem como dos aspectos

inerentes à formação e mudança de atitudes, pois tem a finalidade de situar o leitor

em relação à temática de atitudes sociais e à evolução conceitual estabelecida.

Bueno (1968, p. 35), no Grande Dicionário Etimológico e Prosódico da Língua

Portuguesa, define atitude como: ―Postura do Corpo, disposição de alguém em face

de uma decisão. Fr. attitude que procede do lat. Aptitudinem‖. Essa definição

etimológica que a apresenta como uma ―disposição de alguém em face de uma

decisão‖ aproxima-se, em parte, das definições atualmente mais aceitas pelos

psicólogos sociais.

Freedman, Carlsmith e Sears (1970) esclarecem que as atitudes têm sido

definidas de muitas maneiras, cada concepção apresentando ligeiras diferenças ou

destacando aspectos diferentes.

Rodrigues (1972) lembra que são muitas as definições de atitude, tendo

Allport, em 1935, desenvolvido um estudo compilando mais de cem dessas

definições. Freedman, Carlsmith e Sears (1970) salientam que Allport teria definido

atitude em 1935 como um estado mental e neural de prontidão, organizado pela

própria experiência, exercendo uma influência direta ou dinâmica sobre a reação do

indivíduo a todos os objetos e situações com que se relaciona.

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34

Freedman, Carlsmith e Sears (1970) referem ainda que Doob6 definiu, em

1947, uma atitude como ―uma resposta implícita e geradora de impulsos,

considerada socialmente significativa na sociedade do indivíduo‖. Esclarecem esses

autores que se estabeleceu uma terceira definição, incorporando, em parte, essas

outras duas, considerando atitude como um sistema duradouro que contempla um

componente cognitivo, um componente sentimental e uma tendência para a ação.

De acordo com Fishbein (1968), atitudes são predisposições aprendidas para

responder a um objeto ou a uma classe de objetos de forma favorável ou

desfavorável.

Segundo Krech, Crutchfield e Ballachey (1969), ao desenvolverem-se as

cognições, sentimentos e tendências de ação dos indivíduos diante dos objetos que

compõem o seu universo, passam a constituir um sistema duradouro denominado

atitude.

Essa gama de definições de atitude, na concepção de Rodrigues (1972),

poderia ser enxugada, uma vez que muitas das definições compiladas são

inadequadas. Na busca de uma síntese para as definições apresentadas por Allport,

o autor propôs que o conceito de atitude deveria conter os seguintes componentes:

uma organização duradoura de crenças e cognições; uma carga afetiva pró ou

contra; uma pré-disposição à ação; uma direção a um objeto social. Considerando

esses componentes mencionados, Rodrigues (1972) define atitude como uma

organização duradoura de crenças e cognições em geral, dotada de carga afetiva

positiva ou contrária a um objeto social definido, predispondo a uma ação coerente

com as cognições e afetos relativos a tal objeto.

Segundo Triandis apud Rodrigues (1972), as atitudes referem-se ao que as

pessoas pensam, sentem ou gostariam de fazer com relação a um objeto atitudinal.

De acordo com as reflexões de Bem (1973), atitudes são os nossos gostos e

as nossas antipatias, ou seja, afinidades e aversões a situações, objetos, grupos de

pessoas, ou outros aspectos possíveis de serem identificados em nosso meio. Para

o autor, as atitudes dos sujeitos estão arraigadas em suas emoções, seus

comportamentos e nas influências sociais as quais estão submetidos, repousando-

se em bases cognitivas.

6 L. W. Doob foi um investigador behaviorista preocupado com a formação da atitude, sendo

considerado um dos pioneiros na aplicação da teoria da aprendizagem para o processo de formação de atitude. Doob, L. W. The behavior of attitudes. Psychological Review, 1947.

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35

Na concepção de Jean Meynard (1978)7, atitude representa uma disposição

ou ainda uma preparação para agir de uma maneira preferencialmente à outra. As

atitudes de um sujeito dependem da experiência que tem da situação à qual deve

fazer face. Atitude é ainda a predisposição do sujeito a reagir a um estímulo de

maneira positiva ou negativa.

Para Anastasi (1990), uma atitude é também definida como uma tendência

para reagir relativamente a uma designada classe de estímulos, tais como, um grupo

étnico ou nacional, um hábito ou uma instituição. Na prática atual, o termo atitude é

frequentemente associado ao estímulo social e às respostas matizadas

emocionalmente, envolvendo frequentemente juízos de valor.

Menin (2011) considera as atitudes como disposições relativamente duráveis

em relação a um objeto, determinadas por um conjunto de elementos cognitivos e

emocionais a ele ligados, suscetíveis à mudança conforme o conhecimento e o

envolvimento emocional dos sujeitos.

As atitudes se constituem em fenômenos comportamentais vivenciados pela

humanidade desde tempos remotos. A adoção de atitudes, quer seja individual ou

coletiva, vem orientando as ações dos homens e suas relações com outros homens

e objetos sociais.

Apresentado brevemente o histórico conceitual de atitude, passa-se a discutir

como as atitudes se formam.

2.1.2 Formação de atitudes sociais

Em seu processo evolutivo, o homem, que inicialmente vivia em pequenos

agrupamentos ou núcleos familiares, passou a formar grupos socialmente estáveis e

a conviver coletivamente.

Esse convívio coletivo foi se expandindo, tornando-se cada vez mais

complexo, sofrendo transformações até o ponto onde se encontram as sociedades

atuais. Esta ampliação do convívio coletivo foi tornando as diferenças pessoais cada

vez mais evidentes.

7 MEYNARD apud CHIAVENATO, Idalberto. Recursos humanos: edição compacta. São Paulo: Atlas,

2006.

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36

Nesse percurso evolucional para conseguir garantir a sobrevivência, tanto

individual quanto grupal, os homens foram criando regras de convivência para a

organização e controle dos indivíduos, que acabaram se constituindo em indicadores

de como deveria ser o comportamento do indivíduo no grupo social de que fazia

parte.

Essas regras, fundadas em ideologias, tanto individuais quanto coletivas,

muitas vezes serviam para aumentar o privilégio dos mais fortes, mas outras vezes

visavam a proteção dos mais fracos, em aparente oposição às leis fundadas na

natureza animal do ser humano (OMOTE, 2008).

De acordo com Fernandez (2006), o processo de seleção natural atuou sobre

os genes e o comportamento dos seres humanos em seu processo evolutivo,

resultando em uma combinação entre o instintivo e o reflexivo. O homem é o único

animal cujo ambiente de convivência foi moldado pelo ambiente cultural, ou seja,

enquanto os animais são controlados por sua biologia, a conduta do homem está

condicionada pela sua cultura.

Para o autor, enquanto os animais estão rigidamente controlados por sua

biologia, a conduta humana está amplamente condicionada pela cultura, constituída

por um sistema autônomo de símbolos e valores que encontra constrições cognitivas

significativas no que diz respeito à percepção, à transmissão e ao armazenamento

discriminatório por parte do ser humano. Contudo, as representações culturais não

podem variar arbitrariamente e sem limites: não são indefinidas, senão diversas até

certo ponto. Assim, a conduta e eleições que se efetuam são resultado de uma

articulação entre estímulos socioculturais que circulam por um sofisticado sistema de

elaboração biológica.

De acordo com o autor, em razão desse complicado processo coevolutivo, em

que os símbolos culturais que tratam de temas como o sexo, a comida e o poder,

desatam-se fortes reações e são mais prósperos em termos de transmissão porque

se relacionam com aspectos de suma importância do passado evolutivo dos

homens. Desta forma, a partir de pequenos bandos entre 70 e 150 caçadores e

coletores situados na savana e cuja sobrevivência dependia de forma inevitável e

estrita da manutenção da coesão social, chegaram a multiplicar-se e concentrar-se

progressivamente: primeiro em pequenas cidades e, mais tarde, em grandes nações

até tender a transformar-se em uma "sociedade global".

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37

Essa evolução veio acompanhada de um aumento acelerado tanto do

conhecimento como da complexidade dos vínculos e das estruturas sociais, exigindo

um incremento substancial das normas integradoras da ação comum,

transformando-se em uma consistente padronização das ações e das

consequências do complicado atuar humano, chegando-se às leis humanas.

As regras formais de convivências constituíram as atuais leis e normas de

conduta, mas o convívio social instituiu ainda algumas regras informais de

convivência, estabelecendo a categorização das pessoas em determinados grupos.

Com base neste convívio em sociedade, de acordo com Vieira (2006), as

pessoas constroem concepções ou representações sobre o mundo, sobre as outras

pessoas e sobre si mesmas, concepções essas ligadas a aspectos históricos,

sociais, cognitivos, afetivos e comportamentais.

Na perspectiva de Goffman (1988), a sociedade estabelece os meios de

categorizar os indivíduos e os atributos que podem ser considerados comuns e

naturais para os membros de cada uma dessas categorias, a partir dos ambientes

sociais em que se está inserido.

Para o autor, quando um sujeito se relaciona com uma pessoa estranha, esse

primeiro contato permite prever a sua categoria e os seus atributos, ou seja, a sua

―identidade social‖. Com base nessas pré-concepções, ocorrem as expectativas

normativas8. Criam-se, então, estereótipos9 para um determinado tipo de indivíduo,

de acordo com os atributos que ele apresenta.

De acordo com Goffman (1988), um atributo não é, em si mesmo, honroso ou

desonroso, pois da mesma forma que pode estigmatizar alguém, pode confirmar a

normalidade de outra pessoa.

8 De acordo com Luhmann (1985), expectativas normativas são as que se impõem a novos fatos,

marcam o finalismo da atividade, ressaltando o caráter mediador das intervenções, e com relativa facilidade enraízam-se/legitimam-se em abstrações teórico-procedimentais. Na medida em que cresce a complexidade do sistema social, crescem também os riscos estruturais, os quais tem que ser controlados, isto e, quanto maior a complexidade, mais a sociedade terá que optar pela normatização. 9 Etimologicamente, estereótipo é derivado de duas palavras gregas: stereos e túpos, significando

―rígido‖ e ―traço‖, respectivamente. Embora haja, hoje em dia, um gama de definições, estudiosos do tema compartilham alguns traços centrais, a exemplo das crenças compartilhadas acerca de atributos – geralmente traços de personalidade – ou comportamentos costumeiros de certas pessoas ou grupos de pessoas. Mais especificamente, podemos dizer que seja através de uma representação mental de um grupo social e de seus membros, ou de um esquema – uma estrutura cognitiva que representa o conhecimento de uma pessoa acerca de outra pessoa, objeto ou situação – tendemos a enfatizar o que há de similar entre pessoas, não necessariamente similares, e a agir de acordo com esta percepção. (RODRIGUES, 2009)

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38

Um estigma seria então um tipo especial de relação entre atributo e

estereótipo. Se o indivíduo possui um traço que se evidencia, chama a atenção e

afasta aqueles que ele encontra, destrói a possibilidade de atenção para outros

atributos seus, ele é estigmatizado. Os que se afastam negativamente dessas

expectativas particulares, serão os chamados normais (GOFFMAN, 1988).

O autor evidencia que quando um determinado grupo de indivíduos

compartilha alguns valores e adere a um conjunto de normas sociais relativas à

conduta e a atributos pessoais, ―destoante‖ é qualquer membro daquele grupo que

não se aderir às normas, ou seja, comete um ―desvio‖.

Na análise de Magalhães et al (2008), estigma social representa a concepção

social sobre atributos diferentes em relação ao que é considerado padrão. É como

uma marca que determina alguns sujeitos como inferiores aos demais. Compõe-se,

desta forma, do modo como a sociedade vê, concebe e lida com as diferenças.

Trazendo o conceito para a realidade da educação, nesse estudo, os autores

postulam que essa representação pode ser desconstruída através da educação

inclusiva, que estabelece a convivência das diversidades nos ambientes

educacionais, com o intuito de enriquecer a vida social e, sobretudo, garantir o

direito à educação regular, inclusive na Educação Superior.

Observa-se, desta forma, que a questão da estigmatização tem importância

ímpar na compreensão do fenômeno da inclusão das pessoas com deficiência no

Ensino Superior. Tal relevância é destacada nas reflexões de Calheiros e Fumes

(2011), quando esclarecem que ao se falar de inclusão da pessoa com deficiência

na Educação Superior encontram-se fatos que favorecem este processo de

emancipação e outros que o atravancam. Entre os fatores que influenciam

negativamente as instituições de Educação Superior nesse processo, destaca-se em

especial, o estigma social, que afasta as pessoas com deficiência dos espaços

educacionais de Ensino Superior.

Assim, ao se categorizar pessoas e grupos, são estabelecidos padrões,

sendo naturalmente vantajoso ao indivíduo enquadrar-se nos padrões impostos pela

coletividade, para não se identificar com o grupo destoante. Susman (1994), Amaral

(1998) e Omote (1999) esclarecem as implicações aos indivíduos que possuem

―desvio‖ desses padrões estabelecidos, a exemplo do estabelecimento de rótulos e

estigmatização.

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39

Para Becker (1977), os grupos sociais criam o desvio ao elaborar as regras

cuja infração constitui desvio e ao aplicá-las às pessoas particulares e rotulá-las

como marginais e desviantes. Esclarece o autor que os grupos com posição social

que lhes confere armas e poder são mais capazes para impor suas regras. Assim, é

criado o desvio, são identificadas as pessoas que podem ser colocadas na

respectiva categoria de desviante e são criados tratamentos distintivos destinados a

essas pessoas (OMOTE, 1999, p. 10).

Resumindo Becker (1977), as regras sociais definem situações sociais e os tipos de

comportamento apropriados a elas, especificando algumas ações como ―certas‖ e outras como

―erradas‖. Nessa perspectiva, ao ser imposta uma regra, alguém que se supõe tê-la

transgredido pode ser visto como um tipo especial de pessoa, de quem não se espera que viva

segundo as regras com as quais o grupo concorda.

Para o autor, essa pessoa é vista como um marginal ou desviante.

De acordo com Goffman (1988), os desviantes, os membros de minorias e as

pessoas de classe baixa, algumas vezes, provavelmente, se verão funcionando

como indivíduos estigmatizados, inseguros sobre a recepção que os espera na

interação face-a-face. Nesse contexto das minorias, podem estar inseridas as

pessoas com deficiência. Aqui é oportuno refletir sobre a existência de um consenso

quanto a essa teoria interacionista do autor, uma vez que se pode conceber que

nem sempre essa minoria se conforma com o papel de ―oprimido‖.

Na realidade brasileira, parece ser contraditório atualmente falar em

―minorias‖ estigmatizadas. A título de reflexão, o próprio IBGE divulgou no censo

demográfico de 2010, uma população estimada de 50,7% de afro-brasileiros (cor ou

raça preta ou parda). Também pensando em nível de Brasil, ―classe baixa‖ na

perspectiva social, geralmente se refere às pessoas economicamente

desfavorecidas.

Para Susman (1994), na perspectiva norte-americana, o desenvolvimento de

pesquisas sobre estigma e desvio tem trazido contribuições importantes às pessoas

com deficiência. Alude que "... qualquer trabalho que diz algo sobre a construção

social dos significados da deficiência, necessariamente também diz algo sobre o

estigma e desvio" (SUSMAN, 1994, p. 15, tradução nossa).

De acordo com Amaral (1998), pode-se afirmar que muitas vezes a noção de

desvio centralizou ou construiu, juntamente com o estigma, as pré-

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40

conceituações/definições de diferenças significativas, dentre estas a deficiência

(vista como fenômeno global) e, numa dialética de causa/consequência-causa, as

atitudes diante dela.

Para Rodrigues (1972, 1988, 2009), as crenças sobre características pessoais

atribuídas a pessoas ou grupos, chamadas de estereótipos, são a base do

preconceito. Daí se pode refletir como, a partir do processo histórico, a

desvalorização da pessoa com deficiência foi sendo socialmente construída.

Essas concepções construídas com o contexto sócio-histórico abrangem

também aspectos individuais, como experiências pessoais, sentimentos e crenças

(VIEIRA, 2006). O autor esclarece que, assim como são construídas nesta relação

entre o indivíduo e o mundo, as concepções ou entendimentos sobre a realidade

afetam as atitudes interpessoais.

Durante as relações interpessoais há o surgimento de variadas manifestações

de fenômenos psicológicos, como os afetos e os desafetos, dentre os quais, as

atitudes, estereótipos, preconceitos, cooperação, competição etc. (RODRIGUES,

2009).

A construção de crenças e a formação de atitudes sociais desfavoráveis à

inclusão da pessoa com deficiência podem estar fundadas em tais preconceitos.

Desta forma, o próprio tema de investigação deste estudo, a questão da inclusão

das pessoas com deficiência no Ensino Superior, suscita reflexões sobre o

fundamento de eventuais atitudes preconceituosas, uma vez que sabidamente a

presença de alunos com deficiência, tanto nas universidades públicas quanto

privadas, é, em geral, ínfima.

Além da questão do preconceito, outros aspectos devem ser também

considerados para uma reflexão em relação à presença tão inexpressiva de pessoas

com deficiência no Ensino Superior, a exemplo da baixa qualidade da escola pública

e da forma de ingresso na universidade.

Seção específica deste estudo apresentará com maior detalhamento o fato de

que, em geral, as Universidades não vêm se preparando para receber alunos com

as necessidades especiais das mais diversas. Algumas instituições, a exemplo da

Universidade Federal do Maranhão, aderiram a um sistema de cotas para alunos

com deficiência; outras criaram comissões de acolhimento e acessibilidade, mas,

muito ainda tem que se caminhar para que, além da possibilidade de acesso à

Page 42: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

41

Universidade, os alunos tenham também condições favoráveis de permanência e

formação de qualidade, como condição concreta de inserção no mundo do trabalho,

fortemente competitivo.

Não se pode deixar de considerar também a questão da Educação Básica,

uma vez que o êxito para conquistar uma vaga em uma Universidade, com

processos seletivos geralmente acirrados, perpassa pela oportunidade de uma

formação básica de qualidade, para todos os alunos, o que, em relação às pessoas

com deficiência, passou a ter relevância somente recentemente, principalmente nas

duas últimas décadas.

Magalhães (2006) advertiu para o fato de que, até o início da década de 1980,

poucos alunos com deficiência tiveram acesso à Educação Superior no Brasil, isso

associado ao fato do não acesso dessa população à Educação Básica.

Essa ausência ou presença inexpressiva das pessoas com deficiência nas

relações sociais, como é o caso do ambiente escolar, pode colaborar para o

estabelecimento de preconceitos, dificultando as interações entre as pessoas com e

sem deficiência, em função das atitudes adotadas. Por outro lado, a presença da

pessoa com deficiência nesse mesmo espaço, sem o preparo e formação

continuada dos recursos humanos da escola, direcionando esforços para a

efetivação da inclusão pela comunidade escolar, pode reforçar tais preconceitos.

Oliveira (2012), com propriedade, chama a atenção para o fato de que a

inclusão e exclusão devem ser encaradas como uma questão política. Para o autor,

o que marca a pessoa não é apenas a deficiência ou a peculiaridade de sua

constituição, mas as condições e inter-relações que se lhe impõe, tanto no contato

social quanto escolar, o que dificulta o desenvolvimento de suas capacidades e de

sua autonomia.

De acordo com Chahini (2010), não seria insensatez afirmar que a trajetória

educacional de pessoas com deficiência tem sido marcada por preconceitos,

desinformações, mitos, segregação e exclusão.

Sem dúvida, essa falta de conhecimento acerca das deficiências pode

colaborar tanto para a segregação das pessoas com deficiência, quanto para a não

oportunidade de que se conheçam suas potencialidades. Para Mazzotta (2001), o

desconhecimento das potencialidades das pessoas, principalmente daquelas com

algum tipo de deficiência, colabora para a ocorrência dessas segregações.

Page 43: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

42

Lancillotti (2003), com base na discussão de autores como Gonçalves

(1997)10, traz à lume o fato de que pessoa com deficiência, não raras vezes,

encontra barreiras no acesso à educação superior e ao mundo do trabalho em

virtude do desconhecimento de suas potencialidades, de uma escolarização

inadequada e também devido ao preconceito social. Se pode considerar, desta

forma, que outros grupos sociais também estigmatizados socialmente se deparam

com tais barreiras.

Em relação às estruturas teóricas, os estudos de Freedman, Carlsmith e

Sears (1970) apontam como principais abordagens da formação e mudança de

atitudes: (1) condicionamento e reforço; (2) incentivos e conflito; e (3) coerência

cognitiva.

Os autores advertem, porém, que essas estruturas são as bases para a

elaboração de, virtualmente, muitos trabalhos realizados na área de atitudes,

ressaltando que, entretanto, por vezes, têm ocorrido conflitos com essas

abordagens, principalmente entre os modelos de coerência e de incentivo.

Resumidamente, o condicionamento e reforço têm como pressuposto básico

que as atitudes são aprendidas de forma similar aos demais hábitos. Nessa

perspectiva, da mesma maneira que as pessoas adquirem informações e fatos,

podem aprender sentimentos e valores associados a tais fatos. Assim, os processos

básicos por meio dos quais a aprendizagem ocorre devem ser diretamente

aplicáveis à formação de atitudes.

Para os autores, as crianças têm tendência a imitar os seus pais, sendo que

essa imitação abrange tanto os aspectos comportamentais como as suas atitudes. A

criança aprende e aceita os valores e atitudes de seus pais, mesmo quando não são

abertamente gratificadas.

Como ocorreria então a marca das atitudes sociais dos próprios pais? Para

esses autores, os pais também passaram grande parte do tempo com seus

genitores, começando a acreditar no que aqueles acreditavam, também por imitação

ou cópia, mesmo quando não procuravam deliberadamente influenciá-los, sendo

que o mesmo processo ocorria com outras figuras importantes, além dos pais, como

os professores ou grupos de pares, figuras públicas, jogadores de futebol e atores.

10

As reflexões podem ser aprofundadas em GONÇALVES, M. A. AVAPE – Associação para valorização e promoção de excepcionais. Revista Integração, Brasília, n. 18, pp. 56-58, 1997.

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43

Observa-se que, para os autores, a relação estímulo – reforço é apenas uma

das possibilidades aventadas para a constituição de atitudes sociais decorrentes das

relações sociais.

A título de exemplo, é comum se aprender, quando crianças, a imitar os pais

em relação ao time de futebol preferido pela família. Imitam-se os gestos, as

palavras, os eventuais ―xingamentos‖ e, inclusive, a própria indumentária. Tais

crianças podem receber afagos e elogios quando sabem exatamente a escalação do

time ou quando dizem coisas positivas em relação a ele.

No futuro, possivelmente, a criança assumirá que gosta de torcer por aquele

time, independente de os pais estarem próximos para premiá-las e, provavelmente,

torcerá por aquele time por muitos anos, talvez até por toda a existência.

Mas, o efeito de aprender uma atitude pode ser também contrariamente

perverso. Se a criança vive em um lar onde os cuidadores são explicitamente

preconceituosos, demonstrando intolerância aos indivíduos negros, por exemplo,

existe igualmente a tendência em imitar os valores e comportamentos desses

adultos. Cada comportamento hostil adotado com outras crianças ou adultos negros,

sutil ou explicitamente reforçados (o mesmo afago, um sorriso) e no futuro é

possível que continuem a adotar o mesmo comportamento, ainda que não haja uma

gratificação ou um reforço explícito.

Daí a importância atribuída por Freedman, Carlsmith e Sears (1970) em

concentrar os estudos para a compreensão de como as atitudes se desenvolvem e

se modificam, uma vez que se pode compreender com mais profundidade o

processo de influência social11 e a estrutura cognitiva e como tais fenômenos afetam

o comportamento.

O processo de influência social pode agir no indivíduo tanto na forma positiva

quanto negativa. Não se pode deixar de considerar o papel dos meios midiáticos

nesse contexto, das ideologias, da política e da economia, por exemplo. Basta

direcionar um olhar mais acurado para as propagandas e publicidade de rádio e

televisão [que vem sendo estudada há décadas por psicólogos sociais], buscando

11

À guisa de contextualização, os quatro processos de influência social considerados mais importantes na história da Psicologia Social são: conformismo (Solomon Asch), normalização (Muzafer Sherif), obediência à autoridade (Santley Milgram) e inovação (Serge Moscovici). As teorias foram desenvolvidas com base em pesquisas experimentais desses autores, considerando a adoção do comportamento do indivíduo observado em relação ao grupo social do experimento, com vistas a compreender como o comportamento dos indivíduos é influenciado pela presença real, imaginária ou implícita de outras pessoas.

Page 45: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

44

exercer no ouvinte ou telespectador influência em relação ao hábito de consumo, de

decisões de cunho político partidário e da opinião sobre determinados aspectos da

economia e da religião, dentre outros.

A teoria baseada nos incentivos e conflito é também importante para a

compreensão dos fenômenos referentes às atitudes. Freedman, Carlsmith e Sears

(1970) esclarecem que os indivíduos podem ter algumas razões para aceitar uma

posição e tantas outras para rejeitá-la.

Para facilitar a compreensão dessa teoria, os autores utilizam o exemplo das

substâncias entorpecentes, apresentando um jovem que as considera perigosas e

ilegais e que ao terminar os estudos secundários pretendia seguir a carreira jurídica.

Obviamente, essas considerações geram por parte desse jovem uma atitude

negativa em relação às drogas. Mas, esse mesmo jovem pode considerar ainda os

entorpecentes excitantes, o que poderá contribuir para que tenha uma atitude

positiva em relação à substância.

Nesta perspectiva da teoria do incentivo, para Freedman, Carlsmith e Sears

(1970), a força relativa dos incentivos suscitados determinará as atitudes adotadas

pelos indivíduos, ou seja, se uma atitude era inicialmente negativa, apenas se

tornará mais positiva se houver maiores incentivos nessa assertiva. Essa teoria

sugere que a mudança de atitude do indivíduo tem correlação com o que tem a

ganhar ou a perder se adotar essa ou aquela posição.

Nesse sentido, poderia aqui se propor um questionamento: pensando no

ambiente escolar, se a mudança de atitude está vinculada a um esquema de

premiação, havendo a premiação de crianças e professores desde a educação

infantil, o preconceito poderia ser ―banido‖ da escola? A teoria do incentivo e conflito

apresenta apenas uma base teórica que, segundo os autores, podem propiciar a

mudança de atitudes, mas existem outros aspectos a serem considerados, que

serão abordados na próxima seção.

Finalmente, de forma sintetizada, os autores esclarecem que a Teoria da

Coerência Cognitiva descreve que os indivíduos possuem uma tendência para

procurar uma coerência [equilíbrio] entre as suas cognições, constituindo uma

condição determinante e fundamental para a formação de atitudes. Assim, quando o

indivíduo possui um conjunto de crenças e valores que se tornam incoerentes, ele se

esforçará para que se tornem compatíveis. De forma similar, se suas cognições

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45

forem coerentes e o indivíduo for exposto a uma nova cognição que ocasionará nova

incoerência, haverá a produção de um esforço para minimizá-la.

De acordo com Omote (2008), a combinação de determinadas qualidades

julgadas pelas pessoas como sendo incongruentes causa estranheza e poderia levá-

las a viabilizar meios para reduzir ou eliminar tal dissonância, sentida como

cognitivamente desconfortável.

De forma similar, Bem (1973) descreve que os indivíduos apresentam um

impulso direcionando-os para a coerência cognitiva, sendo que uma incoerência

representaria um estímulo que os motivaria a mudar suas atitudes, a fim de alinhar

premissas e conclusões. Segue-se do entendimento do autor que haveria a

possibilidade de mudar as atitudes dos indivíduos expondo claramente a incoerência

entre elas.

Essas três abordagens apresentadas, com base nos estudos de Freedman,

Carlsmith e Sears (1970), são consideradas como as principais abordagens da

formação e mudança de atitudes.

A formação de atitudes deve considerar ainda a questão das contradições

sociais e os valores impostos por uma sociedade ―burguesa‖, dividida em classes,

com a valorização de determinadas atitudes em detrimento a outras, em virtude de

imposições ideológicas mediadas pelo capital, e não pela humanização.

O próximo item buscará suscitar reflexões sobre a mudança de atitudes.

2.1.3 Reflexões de como se processam as mudanças de atitudes

Embora o foco da investigação deste estudo sejam as atitudes sociais e,

consequentemente, como elas se formam, o autor acredita ser pertinente aprofundar

as reflexões sobre como se processam as mudanças de atitudes, à guisa de

contextualização do leitor.

O escritor Alexandre Herculano12 presenteou seus leitores com a seguinte

reflexão: ―Eu não me envergonho de corrigir os meus erros e mudar de opinião,

12

Alexandre Herculano de Carvalho e Araújo, (28 de março de 1810, em Lisboa, Portugal — 13 de setembro de 1877, em Vale de Lobos, Santarém, Portugal), escritor romântico e historiador português. É um dos grandes escritores da geração romântica, desenvolvendo os temas da

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46

porque não me envergonho de raciocinar e aprender‖. Os escritores, dentre eles os

poetas, são grandes observadores das relações sociais e captam com propriedade

ímpar os comportamentos dos indivíduos, retratando, neste caso, o potencial do ser

humano para a mudança de opinião.

Uma vez que atitude representa uma forma organizada e coerente de pensar,

de sentir e de reação em relação a outras pessoas, aos grupos, derivada das

próprias relações sociais, é possível supor que o tema seja também de interesse de

investigação de outras ciências, além da Psicologia Social, a exemplo da Sociologia,

da Antropologia e da História.

Os sociólogos buscam compreender o comportamento nas atividades dos

grupos humanos, estudando, desta forma, o comportamento do ser humano em

relação ao meio em que vive. Pode-se dizer que é uma das ciências humanas que

tem como objeto de estudo a própria sociedade.

Os antropólogos centram-se no aspecto da cultura referente ao organismo

humano. A antropologia é uma ciência social que estuda a diversidade cultural dos

povos, ou seja, manifestações sociais como crenças, hábitos, costumes,

comportamentos, dentre outros aspectos.

Os historiadores tentam compreender os reflexos da adoção de determinadas

atitudes de povos antigos em relações aos tempos atuais. A história é uma ciência

que pretende estudar o homem e suas ações no tempo e no espaço, buscando

analisar os eventos que ocorreram no passado, propiciando melhor compreensão do

tempo presente.

A título de reflexão, a adoção de determinada atitude por um líder político ou

religioso, seguido pelos membros de sua nação, pode desencadear uma guerra de

grandes proporções (até mundiais) e igualmente pode trazer a tão almejada paz. A

história não apresenta tantos acontecimentos semelhantes? Acontecimentos esses

que devem levar em consideração as condições históricas, políticas e econômicas,

além da relação de poder e conflitos de interesses dessa nação ou povos.

As mudanças de opinião, de crenças, podem gerar uma mudança de atitudes.

A internalização de uma atitude não implica necessariamente introjetar no

sujeito algo negativo ou um erro propriamente dito. A formação de atitudes positivas

também pode mover o ser humano para ações de solidariedade, de religiosidade, de

incompatibilidade do homem com o meio social. Citado em AQUINO, Felipe Rinaldo Q. Caminho da sabedoria. São Paulo: Edições Loyola, 1995, p. 32.

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47

respeito à diversidade, de caridade, de edificação ética e moral. Assim, a citação do

escritor português, que propõe a possibilidade de aprender com os erros para

corrigi-los, tem um significado verdadeiro nessa perspectiva.

Sendo a adoção de atitudes diante dos objetos sociais algo intrínseco ao

processo de socialização do homem, inerente às relações interpessoais, o problema

é o que os indivíduos efetivamente fazem com as suas atitudes.

As atitudes sociais negativas, carregadas de preconceitos contra

representantes das minorias, como as pessoas com deficiência, são um exemplo

das mazelas que podem se desencadear.

Para melhor reflexão sobre os assuntos tratados até aqui, propõe-se a

seguinte situação hipotética: aprende-se, desde muito pequenos, que os deficientes

são uns ―coitados‖, que devem ser protegidos, que não têm capacidade para o

estudo, para o trabalho, para a vida social. Cresce-se acreditando nesta situação,

até o ingresso em uma universidade.

Na sala de aula desse aluno hipotético, matricula-se um aluno deficiente

físico. Esse aluno, que é extremamente dinâmico, participa ativamente das

discussões em sala de aula, tem ocupação de destaque no mundo do trabalho,

dirige carro adaptado e ainda auxilia no sustento dos familiares. Essas informações,

embora possam causar um choque em suas crenças, são suficientes para que se

processem mudanças em suas atitudes em relação às pessoas com deficiência?

Parece haver um consenso entre os estudiosos das atitudes de que elas são,

em suma, resistentes à mudança, ao ponto de Freedman, Carlsmith e Sears (1970)

afirmarem que a mudança de atitude nas pessoas não ocorre sem luta e sem a

exposição do sujeito à pressão externa. Para esses autores, é extremamente difícil,

num curto espaço de tempo, produzir qualquer mudança ponderável nas opiniões

das pessoas em relação a algum assunto que realmente lhes interesse ou que

estejam envolvidas.

Exemplificam um caso clássico de fracasso em influenciar opiniões, com uma

ocorrência durante o conflito coreano. Nesse conflito, prisioneiros de guerra

americanos foram submetidos a uma chamada ―lavagem cerebral‖, com uma intensa

campanha a longo prazo em que se pretendia obrigá-los a renunciar de suas

convicções sobre a democracia americana e a adotar o comunismo chinês.

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48

A situação era ideal para a mudança de atitudes, uma vez que não havia

contrapropaganda e, por outro lado, havia facilidade em contatar os soldados, uma

vez que já estavam presos. A especulação veiculada na época, segundo os autores,

girou em torno de alguns americanos terem sido influenciados pela campanha e de

um reduzido número ter, de fato, desertado para a China Comunista. Assim, na

realidade, foi uma campanha extremamente mal sucedida, pois do grande número

de prisioneiros que foi submetido à campanha, apenas um punhado deles foi

influenciado de forma apreciável.

Explicaria tal fenômeno o fato de os soldados americanos possuírem atitudes

importantes em relação ao seu país, com raízes profundas que se consolidaram ao

longo de muitos anos, relacionadas a um grande número de outras atitudes e

crenças, alimentadas por fortes sentimentos emocionais e, por conseguinte,

resistentes a mudanças.

Quando os autores afirmam que uma atitude afeta a maneira como um

indivíduo vive, nota-se a importância de se conhecer a atitude dos sujeitos frente aos

objetos sociais, com vistas à adoção de eventuais medidas para a promoção de

mudança de atitudes, ou seja, o conhecimento da atitude de uma pessoa em relação

a um objeto social é um passo importante para a busca da efetivação de mudanças.

Nesse sentido, Krech, Crutchfield e Ballachey (1969) esclarecem que por

intermédio do conhecimento das atitudes das pessoas, é possível fazer alguma

coisa a respeito da predição e do controle de seu comportamento. Os autores

esclarecem também que, se os indivíduos componentes de um grupo minoritário

conhecessem as atitudes do resto da comunidade diante deles, tornar-se-iam mais

capazes de predizer e, talvez, de evitar que fossem vítimas de atos agressivos.

Aqui deve ser considerado que as relações sociais também são construídas

com base em contradições e conflitos. Um exemplo desses conflitos, é a briga pela

posse da terra, que vem ocorrendo no país praticamente desde o início da

colonização, mas que se avultou somente nas três últimas décadas, em virtude,

principalmente, do processo de redemocratização do país.

A questão do controle do comportamento demonstra a sua sutileza, uma vez

que vários episódios mostraram confrontos em que a força policial reprimiu com

grande violência as ações dos movimentos de assentados, causando graves

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49

ferimentos e grande número de mortos. Esse uso da força é o que Althusser (1980)

referiu ser o aparelho repressivo do estado.

Nessa perspectiva, foi exercido o controle de quem sobre quem? O exercício

do controle do comportamento inadequado contra representantes das minorias

deveria ser exercido pela sociedade, com vistas à possibilidade de igualdade de

oportunidades. Trata-se, sem dúvida, de uma questão polêmica e complexa, aqui

inserida apenas como proposta de exercício de reflexão em relação aos conflitos e

contradições que podem ser construídos nas relações sociais.

Mas, por que os autores evidenciam o controle na mudança do

comportamento do sujeito? Indicou-se anteriormente que as atitudes contemplam os

elementos (ou componentes) cognitivo, sentimental e comportamental. O

componente cognitivo diz respeito ao que se conhece, ou seja, que conjunto de

opiniões e ideias se desenvolveu sobre o objeto ou fenômeno social; o componente

sentimental ou afetivo revela os sentimentos emocionais que se concatenam com

tais objetos; e finalmente, o comportamental, que seria a tendência para ação ou

reação diante do objeto ou fenômeno.

Freedman, Carlsmith e Sears (1970) lembram que aprender as características

de um objeto, de uma pessoa ou de uma ideia é um importante aspecto do

desenvolvimento de uma atitude em relação a essa coisa.

Daí se depreende que se deve inicialmente conhecer com profundidade as

características do objeto, buscando promover o desenvolvimento de sentimentos

favoráveis àquele objeto para que, em seguida, se tenha uma mudança

comportamental em relação a ele.

Na situação hipotética anteriormente proposta, tinham-se ideias arraigadas

em relação aos deficientes físicos e, efetivamente, acreditava-se nesses

conhecimentos adquiridos, até deparar-se com uma pessoa acometida pela

deficiência física na condição de colega de classe.

É possível vislumbrar que esse posicionamento inicialmente negativo frente

aos deficientes físicos pode ter uma correlação com a teoria do condicionamento e

reforço, ou seja, fora provavelmente ―aprendido‖ com as pessoas com as quais se

relacionou. Todavia, a teoria do incentivo e conflitos auxilia a compreender que essa

posição inicialmente negativa, pode ser ―mudada‖, ou seja, se forem suscitados

incentivos junto ao sujeito para a promoção de atitudes positivas.

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50

Afinal, trata-se de um aluno dinâmico, com ocupação no mundo do trabalho,

que tem automóvel, em resumo, que é popular, e que, portanto, se poderia ter algo a

ganhar com a sua convivência. Mas, nessa situação hipotética, é pertinente o

seguinte questionamento: efetivamente, procedeu-se a mudança de atitudes frente

ao aluno deficiente físico?

Por imitação e assimilação, já se tinham arraigado posições ou atitudes

negativas em relação às pessoas com deficiência física. Pelo que eventualmente se

tinha a ganhar com a convivência com o aluno deficiente da sala de aula, a força

relativa dos incentivos gerou atitudes positivas em relação àquele aluno, mas a

mudança de atitude não se processou efetivamente. Por quê? Porque a posição do

indivíduo frente ao objeto atitudinal pode mudar de acordo com o seu interesse

pessoal.

Nessa perspectiva de mudança de atitude, propõe-se aqui uma reflexão

sobre a importância do respeito à diversidade e à inclusão das pessoas com

deficiência no universo escolar, do Ensino Fundamental ao Superior. Omote (2008,

p. 25), quando apresenta as perspectivas atuais na Educação Especial, lembra que

a ―[...] escola não é apenas para quem pode freqüentá-la e tirar proveitos dessa

experiência. Ela é para todos [...]‖.

Está preconizado na declaração de Salamanca13 que:

[...] as escolas devem acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. [...] Deveriam incluir crianças deficientes e superdotadas, crianças de rua e que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade, crianças pertencentes à minorias lingüísticas, étnicas ou culturais, e crianças de outros grupos desvantajados ou marginalizados. (UNESCO, 1994, não paginado)

Para Roble (2008), a escola, além de ser o espaço da teoria e da prática

pedagógica, é, antes, um local de convivência coletiva. Desta forma, precisa-se

13

A conferência Mundial Sobre Necessidades Educacionais Especiais: Acesso e Qualidade, promovida pela Unesco, ocorreu no período entre 07 a 10/06/1994 em Salamanca, Espanha, envolvendo noventa e dois governos e vinte e cinco organizações internacionais.

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51

compreender as bases das relações entre os homens para melhor orientar as ações

referentes ao cotidiano escolar.

A mudança de atitudes14 perpassa, então, pela adoção de uma postura

proativa das pessoas envolvidas no processo escolar, dos docentes, dos alunos e

do corpo funcional.

Baleotti e Del-Masso (2008) referem que em uma escola para todos, há que

se pensar nas mudanças de que essa escola necessita decorrentes das

particularidades, individualidades e potencialidades dos alunos, mudanças de

atitudes e ações de todos os profissionais que atuam no espaço educacional. Essa

perspectiva de uma educação inclusiva tem propiciado o convívio com a diversidade

em sala de aula, contribuindo para o desenvolvimento e para a aprendizagem,

quando se abre espaço para a recepção de todos os alunos no ambiente escolar.

Havendo a convivência com alunos com deficiência em sala de aula, desde

as primeiras séries do Ensino Fundamental, tem-se no componente cognitivo das

atitudes, a crença de que são alunos como os demais e que, independente de suas

―limitações‖, tem o direito de aprender. Diante da construção dessa crença, podem-

se desenvolver sentimentos favoráveis quanto a convivência com alunos com

deficiência na escola e, desta forma, desenvolvida a atitude positiva, desenvolve-se

uma tendência para a ação compatível com aqueles sentimentos.

De acordo com Krech, Crutchfield e Ballachey (1969), a mudança das

cognições do indivíduo sobre o objeto tenderá a provocar mudanças em seus

sentimentos e tendências de ação diante dele.

Os três componentes das atitudes apresentados se inter-relacionam, mas, se

evidencia a importância do componente sentimental ou afetivo no contexto, para o

entendimento referente à promoção da mudança de atitudes. Anderson, apud

Freedman, Carlsmith e Sears (1970, p. 253), esclarece que a ―[...] mudança de

atitude pode persistir mesmo depois de o conteúdo que a produziu estar esquecido,

enfatizando que o componente afetivo é mais duradouro e central do que o

componente cognitivo‖.

Ainda à luz da situação hipotética anteriormente aventada, se eventualmente,

durante o Ensino Fundamental e médio, esse contato não foi promovido e os alunos

14

Discussões realizadas no grupo de pesquisa: ―Desvio, Diferenças e Estigma‖, sob a orientação do profº Dr Sadao Omote. As reuniões do grupo de pesquisa ocorrem às segundas-feiras, na UNESP de Marília/SP.

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52

chegam à universidade com crenças desfavoráveis em relação ao acolhimento dos

alunos com deficiência e, se a própria universidade não desenvolve ações nesse

sentido, provavelmente haverá por parte daqueles alunos sentimentos desfavoráveis

em relação a sua permanência na universidade e tendência para ações igualmente

desfavoráveis.

Assim, pode se vislumbrar que a mudança atitudinal é plenamente possível,

embora, muitas vezes, extremamente difícil, se alicerçada em crenças e sentimentos

construídos em relações preconceituosas. Nesses casos, se devem engendrar

esforços que viabilizem a promoção do convívio com os alunos deficientes,

conhecendo melhor suas limitações e potencialidades, de forma que possam adquirir

sentimentos favoráveis em relação a esses alunos e tenham tendência de ações

também favoráveis.

Essa possibilidade de mudança depende em grande medida, de como essa

convivência será promovida nas instituições escolares.

Stainback e Stainback (1999), apoiados nos estudos de Forest (1987a,

1987b), Johnson e Johnson (1984), Karagiannis (1988), Karagiannis e Cartwright

(1990), Stainback e Stainback (1988) e Strully (1986, 1987), afirmam que as atitudes

positivas com relação aos alunos com deficiência ampliam-se quando os adultos

propiciam orientação e direção em ambientes integrados, uma vez que a integração

e comunicação facilitadas auxiliam o desenvolvimento de amizades e o trabalho com

os colegas.

A suposição de que o convívio com pessoas com deficiência pode mudar as

atitudes sociais das pessoas sem deficiência encontra arrimo em autores

internacionais, a exemplo de Forlin (1995), Clark (1997), Yuker (1988), Florin (2001).

Autores brasileiros, como Omote (2008) e Chahini (2010), sugerem que a

convivência com pessoas com deficiência contribui para a adoção de atitudes sociais

mais favoráveis em relação à inclusão da pessoa com deficiência.

É oportuno salientar aqui que alguns autores defendem que o fato de se

passar a conviver com uma pessoa com deficiência pode aumentar a noção que se

tinha das suas dificuldades e da desfavorabilidade em relação a eles. Se o contato

com as pessoas com deficiência nos ambientes sociais não é promovido e, quando

ocorre, não há preparação prévia dos envolvidos, a constatação das diferenças pode

prejudicar tal processo interacional. É, por exemplo, o que considera Werneck

Page 54: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

53

(1997), que esclarece que a maneira mais eficaz de combater o preconceito é

impedir que ele se instale, ainda na infância, propiciando informações adequadas

sobre as pessoas com deficiência.

Nesse contexto, para Karagiannis e Stainback (1999), vislumbra-se o

importante papel da instituição escolar, que deve viabilizar programas adequados,

buscando promover a inclusão de todos os alunos, com e sem deficiência, com

vistas ao desenvolvimento mútuo de atitudes positivas, com ganhos de habilidades

acadêmicas e sociais no convívio com a comunidade.

Chahini (2010) chama a atenção para a necessidade de esclarecer que um

sistema educacional inclusivo é aquele que permite a convivência de todos no

cotidiano, na diversidade que constitui os agrupamentos humanos.

É importante ressaltar ainda que, para Rodrigues (2009), a mudança de

atitude não se efetiva com o uso da força, ou seja, por coerção, mas através do

convencimento, da persuasão, pois, sentindo-se ameaçada, a pessoa tenderá a

apresentar o comportamento que se exige dela, mas interiormente, não irá

internalizá-lo. Para não receber eventual punição, adota o comportamento que se

espera dele e não o que realmente sente.

Essa reflexão é perfeitamente coerente com o estudo ora apresentado. As

resoluções, os decretos e as leis podem até promover o acesso do aluno com

deficiência na universidade pública, mas a aceitação desses alunos pelos pares, seu

efetivo acolhimento, depende, em grande medida, da adoção de atitudes sociais

favoráveis à inclusão, ou da mudança de eventuais atitudes desfavoráveis à

inclusão, atitudes essas muitas vezes fundadas nas relações de contradições e

conflitos anteriormente mencionadas.

Apresentadas brevemente questões relacionadas à mudança de atitudes

passa-se ao capítulo 3, que irá discorrer sobre alguns aspectos da pessoa com

deficiência no universo acadêmico.

Page 55: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

54

3 A PESSOA COM DEFICIÊNCIA NO UNIVERSO ACADÊMICO

Vista frontal do prédio da FCT UNESP Presidente Prudente

Page 56: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

55

A evolução do tratamento direcionado às pessoas com deficiência pela

sociedade, seus avanços e, em alguns casos, retrocessos, da antiguidade até

nossos dias, foi objeto de estudo de diversos autores, dentre os quais destacamos

Pessotti (1984), Sassaki (1997), Stainback e Stainback (1999), Mazzotta (2001)

Ferreira (2007), Omote (2008), Fernandes (2011).

Nesta linha do tempo evolutiva, admite-se a existência de fases ou períodos

referentes ao tratamento dispensado àquelas pessoas. Na fase inicial, desde tempos

remotos, praticava-se o extermínio (também a perseguição, rejeição, negligência e

exclusão) da pessoa com deficiência, prática que ocorreu até por volta do século XVI

dC.

Com a influência da Igreja Católica, novos ideários passam a influir nas

relações sociais vigentes na Idade Média, quando a sociedade começa a questionar

as práticas de extermínio (FERNANDES, 2011). Inicia-se então outra fase histórica,

caracterizada pela segregação e institucionalização da pessoa com deficiência

(exclusão em asilos, hospitais e institutos), pois, assumindo-se representarem

também criaturas de Deus, tinham o direito à vida, contrapondo-se à prática

corrente. As pessoas que destoavam do padrão de normalidade eram alijadas do

convívio social e segregadas em instituições que, numa concepção cristã, consistia

em um ato de caridade. Vivia-se então uma dicotomia, ora considerando a

deficiência como um dom divino, ora atribuindo ao deficiente uma possessão

demoníaca.

A ciência ainda não havia experimentado evolução significativa, sendo

atribuído às deficiências um caráter divinizado.

Começam a ocorrer, entretanto, questionamentos quanto ao absolutismo da

Igreja Católica, que somados à criação do estado moderno, além do

desenvolvimento da nascente industrialização e da ciência, colocam em xeque as

causas espirituais das deficiências. A medicina ganha status científico, passando a

analisar os fenômenos que antes eram impostos como axiomas pela Igreja Católica,

explicando a origem das deficiências como causas naturais e não mais por fatores

espirituais (FERNANDES, 2011).

Nos séculos XVII a XIX, são criados os primeiros espaços específicos para a

educação das pessoas com deficiência, mas somente por volta de 1960 o

Page 57: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

56

paradigma da institucionalização começa a ser analisado com criticidade

(FERREIRA e DUARTE, 2010).

Rejeitadas as possibilidades de institucionalização e com a difusão das ideias

de normalização, é criado o conceito de integração da pessoa com deficiência.

Nesta perspectiva, a pessoa com deficiência deveria ajustar-se ao meio, ou seja,

adequar-se à realidade dos demais indivíduos da sociedade considerados normais.

A partir da década de 1990, iniciou-se um movimento social mundial em

busca da inclusão das pessoas com deficiência, movimento que se distinguiu dos

demais em virtude da participação mais ativa dos próprios interessados, ou seja, as

pessoas com deficiência. Esse movimento histórico, conforme afirmação anterior, foi

impulsionado, em grande medida, pelo estabelecimento de convenções

internacionais, a exemplo da Declaração Mundial de Educação para todos (1990)

em Jomtien, Tailândia, da Declaração de Salamanca (1994), na Espanha e da

Declaração de Madri (2002).

Rodrigues (2006) traz a lume a ideia de que, na perspectiva brasileira, uma

consciência crescente de direitos de cidadania viabilizou que benefícios sociais

restritos a alguns grupos privilegiados, antes sequer questionados por outros grupos

sociais, passassem a fazer parte da agenda reivindicativa de toda a população.

Nessa realidade brasileira, de acordo com Crespo (2009), inspirada por uma

série de lutas pela democratização do país, entre as décadas de 1970 e 1980, com a

participação de diversos setores da sociedade, a exemplo dos trabalhadores, dos

negros, das mulheres e dos homossexuais, houve uma mobilização das pessoas

com deficiência, até então invisíveis para a sociedade, que passaram a se organizar

em um movimento nacional para a reivindicação de seus direitos e cidadania, mas

principalmente para o reconhecimento de sua existência.

Para Sassaki (2004), trata-se de um processo conhecido como

empoderamento, quando uma pessoa ou grupo de pessoas utiliza o seu poder

pessoal, inerente à sua condição, a exemplo da deficiência, do gênero, da cor, para

fazer escolhas e tomar decisões, assumindo, dessa forma, o controle de sua vida.

Refletindo sobre a perspectiva educacional, Laplane (2012) afirma que o

movimento inclusivo não partiu dos próprios sistemas educacionais, mas foi uma

consequência de uma demanda social por direitos, dentro dos quais se destaca o da

educação.

Page 58: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

57

Voltando os olhos ao passado, observa-se que o Brasil, tradicionalmente, a

exemplo de outros países da América Latina, teve a construção de sua história

marcada por grandes desigualdades sociais. O Estado, em detrimento da maioria da

população economicamente desfavorecida, aliava seus interesses aos da antiga

aristocracia colonial.

A escravização do negro e do índio, mancha social que marcou

profundamente a sociedade brasileira, cujos desníveis e abismos sociais criados

ainda estão longe de ser superados, é um exemplo dessas desigualdades, que

assolava não somente os cativos negros e índios, mas também os mulatos forros e a

população branca pobre.

A roupagem dessa aristocracia colonial foi se adequando ao adiantamento

social de cada época, perpassando pelos interesses de uma emergente aristocracia

agropecuária, assumindo um contorno de espaço de dominação social mais velado,

mas não menos eficiente, até aos atuais grandes grupos agroindustriais, industriais e

econômicos.

Uma breve incursão pelos índices de desenvolvimento humano (IDH) dos

países da América Latina comprova que esses abismos sociais, inclusive no Brasil,

ainda persistem, embora se possam observar mudanças sociais importantes.

Em que pese a determinação de parte dessa elite financeira na ampliação de

seu poder econômico e à manutenção da ordem social vigente, tem-se constatado,

historicamente, um avanço social significativo, com a implementação de importantes

políticas públicas, algumas vezes de cunho compensatório, a exemplo das ações

afirmativas (políticas de cotas), o que tem colaborado para suavizar o contorno

desses abismos, mas ainda distante do adequado.

No que diz respeito aos direitos à educação da pessoa com deficiência no

Brasil, muitos desses avanços foram conquistados pela sua própria ação,

impulsionando o poder público à adoção de decretos e leis específicas.

Para Laplane (2007), a questão da realização dos ideais da educação

inclusiva, tanto no Brasil quanto em outros países em desenvolvimento, se deve à

desigualdade social, típica dessas sociedades. Assim, a necessidade de combater a

desigualdade social, por toda a sociedade, mas com a com a participação efetiva da

minoria excluída, contribuiu para o delineamento de ações nesse sentido. O autor

aponta ainda uma posição política radical para a transformação, revelando o quanto

Page 59: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

58

a inclusão do discurso ou da presença da pessoa com deficiência na escola, se dá

sem uma base consistente de mudança na percepção sobre o fenômeno da

deficiência e da escola.

Masini e Bazon (2004), ao investigarem a inclusão do aluno com deficiência

no Ensino Superior, quando analisam a situação da inclusão escolar no Brasil,

referem que o movimento de inclusão no território brasileiro tem sido acompanhado

de aplausos e de reprovações. Se, por um lado, há concordância a respeito da

inclusão como oposição à exclusão de pessoas com deficiências no ensino regular -

neste sentido todos passam a defendê-la e ninguém se arriscaria a pronunciar-se

contra ela, por outro lado, há discordância quanto à inclusão indiscriminada, na qual,

sem qualquer avaliação prévia, é matriculado o aluno com deficiência na escola

regular e sem análise de suas condições e das necessidades requeridas para seu

atendimento, quer do ponto de vista de recursos humanos, quer do ponto de vista

das adaptações físicas e materiais.

Não se deve, porém, considerar que as práticas sociais adotadas nas

relações entre a sociedade e a pessoa com deficiência sejam fruto de uma maldade

intrínseca, inerente aos homens. Fernandes (2011) esclarece com justeza que as

diferentes práticas e concepções que permeavam as relações entre sociedade e

deficiência decorriam das possibilidades materiais de explicação do fenômeno, em

cada momento histórico. Deve-se, desta forma, não incorrer em julgar as práticas de

exclusão de outrora com o atual desenvolvimento social.

Essas fases evolutivas não são separadas por um marco histórico preciso,

mas respeitou transitoriedades, uma vez que as diversas sociedades possuíam

níveis culturais, educacionais e sociais distintos e, desta forma, enquanto uma

população vivia uma fase de segregação da pessoa com deficiência, outros povos

mais evoluídos poderiam estar ancorados em uma fase integracionista. Para Omote

(2008), no transcorrer dessa evolução, o homem adotou diferentes formas de lidar

com a presença de indivíduos com deficiências ou diferenças significativas em

determinadas características consideradas importantes em cada época.

Esta trajetória histórica, narrando de maneira pormenorizada desde a

possibilidade concreta do extermínio da pessoa com deficiência até a condição

atualmente denominada de paradigma da inclusão, permitiu a publicação de

diversos estudos sobre o tema.

Page 60: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

59

Parte substancial dessas publicações concentrou-se na inclusão das pessoas

com deficiência nas escolas da rede regular de ensino, tanto públicas quanto

particulares. Entretanto, não se pode considerar que o assunto foi pesquisado à

exaustão, havendo ainda muitos aspectos da inclusão a serem investigados, como é

o caso do paradigma da inclusão, estendendo-se desde o Ensino Fundamental até o

Superior.

De acordo com Glat e Blanco (2007), o paradigma da educação inclusiva

constitui atualmente a política educacional oficial do país, com amparo na Legislação

Federal em vigência. A promulgação da Constituição Federal de 1988 contribuiu

para que a educação no Brasil, em termos de legislação, chegasse a esse

paradigma.

Tendência mundial, a educação inclusiva começa a tomar vulto no Brasil,

principalmente na década de 1990, majoritariamente na Educação Básica, conforme

entendimento ratificado pela Declaração de Salamanca (1994).

Ferreira e Duarte (2010) afirmam que, no mundo atual, a inclusão do aluno

com deficiência em qualquer modalidade de ensino, da Educação Infantil até o

Ensino Superior, representa um grande desafio. Para os autores, em função do

aumento do número de matrículas de pessoas com deficiência no Ensino

Fundamental, passou a haver uma significativa demanda de pesquisa e

consequente produção de conhecimento sobre aquele nível educacional,

principalmente na rede pública de ensino.

Referem que o processo de produção de conhecimentos sobre esses alunos,

que passaram pelo Ensino Médio e chegaram ao Ensino Superior, não acompanhou

a demanda de forma equitativa, ou seja, a produção acadêmica em relação à

inclusão de pessoas com deficiência no Ensino Superior é ainda incipiente. Observa-

se, igualmente, uma incipiência na matrícula de alunos com deficiência no Ensino

Superior.

Essa visão é também compartilhada por Silva (2009) ao afirmar que, se os

avanços nos estudos dos processos inclusivos nos ensinos Fundamental e Médio

são significativos, as discussões a respeito da inclusão de pessoas com deficiência

no Ensino Superior brasileiro ainda são incipientes.

Ainda que o foco deste estudo se concentre no Ensino Superior, as breves

considerações apresentadas em relação ao histórico da inclusão da pessoa com

Page 61: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

60

deficiência sugerem o quanto tal progresso tem ocorrido de forma módica, lenta e,

principalmente, o quanto ainda tem-se que caminhar para que o paradigma da

Educação Inclusiva encontre arrimo também no Ensino Superior, em que pese os

inegáveis progressos anteriormente mencionados.

Mesmo em proporção reduzida, parte dos alunos com deficiência que

concluíram o Ensino Fundamental e Médio habilitou-se para a continuação dos

estudos em nível superior. Habilitados que foram, submeteram-se à realização dos

exames vestibulares, à matrícula na universidade e a todos os rituais de ―iniciação‖

na academia.

Em relação à realização dos exames vestibulares, algumas reflexões se

fazem importantes no contexto deste estudo. As instituições de Ensino Superior,

públicas ou particulares, por força de legislação15, realizam uma espécie de ―triagem‖

por ocasião das inscrições nos seus testes admissionais, quando se consigna o tipo

e o grau de deficiência, bem como a necessidade desses ou daqueles recursos

especiais para a realização das provas e eventual dilatação de prazo.

Mas, alguns estudos, a exemplo de Bandini (2001) e Oliveira (2003) abordam

a ineficiência de muitas instituições em prover os meios e recursos necessários para

que os alunos com deficiência possam realizar os exames com condições de

empregar todo o seu potencial.

O tempo para a realização da prova é um exemplo. Um candidato acometido

de paralisia cerebral, por exemplo, pode necessitar de maior demanda de tempo

para o preenchimento de formulários, cartões e da própria redação dos trabalhos

dissertativos. O conteúdo e grau de complexidade da prova devem ser semelhantes

para todos os candidatos, mas a dificuldade de transcrição, com consequente

demanda de tempo maior, pode prejudicar o candidato com deficiência de maneira

irreparável e traumática.

Outro exemplo a ser considerado é o citado no estudo elaborado por Masini e

Bazon (2004), sobre a inclusão da pessoa com deficiência no Ensino Superior.

Quando os autores analisam algumas entrevistas concedidas por alunos com

deficiência, em especial com deficiência visual, ressaltam a importância dos

―ledores‖ na prova do vestibular.

15

É o caso da Resolução nº 02, de 24 de fevereiro de 1981, do então Conselho Federal de Educação, descrita em seção específica deste estudo.

Page 62: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

61

A leitura das provas por alunos ―videntes‖, com representações de mapas

com localizações geográficas, gráficos e tabelas, além das variadas fórmulas,

podem não permitir apresentação e representação gráfica que permita ao aluno

deficiente visual, com a leitura em braile, a mesma possibilidade de interpretação.

Ainda em relação às dificuldades para a realização dos exames vestibulares,

algumas delas são superadas com a participação ativa dos próprios interessados. É

o caso da atuação da União dos Deficientes Visuais de Manaus, que elaborou

projeto para curso preparatório para vestibular para deficientes visuais.

Segue-se o exemplo da deficiência auditiva. O site do Ministério Público

Federal16 disponibiliza interessante matéria intitulada Vestibular para surdos deve ter

intérpretes e professores especializados e critérios diferenciados de correção das

provas devem ser adotados. Resumidamente, o artigo informa que a 16ª Vara da

Justiça Federal da Bahia determinou que a Universidade Federal da Bahia (UFBA)

modifique o sistema de vestibular para pessoas com deficiência auditiva. De acordo

com a decisão, as provas dos próximos exames devem indicar a condição de

candidato com deficiência e, no momento da avaliação, devem estar presentes

intérpretes e professores especializados a fim de viabilizar a compreensão dos

comandos da prova pelo surdo, bem como a instituição deve adotar critérios

diferenciados de correção das provas discursivas e de redação, providenciar salas

específicas para pessoas com deficiência e estender a duração das provas por 30

minutos.

De acordo com o artigo, o Procurador da República Sidney Madruga, autor da

ação civil pública, entende que a manutenção dos critérios atuais de admissão nos

exames vestibulares para candidatos surdos viola a disciplina constitucional, que

garante a todos igualdade de condições de acesso e permanência nas instituições

públicas. Há informação ainda de que foi instaurado procedimento administrativo no

Ministério Público Federal, quando se apurou que a instituição realizava a correção

das provas do vestibular de forma a valorizar a estrutura do texto, e não o seu

conteúdo, criando, na visão da promotoria, um obstáculo para as pessoas com

deficiência auditiva, pois a primeira língua dos surdos é a brasileira de sinais

(Libras). Reconhecida como meio legal de comunicação e expressão, a Libras

16

Disponibilizado em http://noticias.pgr.mpf.gov.br/noticias/noticias-do-site/copy_of_direitos-do-cidadao/justica-determina-que-ufba-modifique-vestibular-para-pessoas-com-deficiencia-auditiva. Acesso em: 30 dez. 2012.

Page 63: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

62

possui estrutura morfossintática diferenciada do português e o resultado se reflete

nas produções escritas das pessoas com deficiência, o que pode ser confundido

com erros gramaticais.

Alguns artigos veiculados na mídia sugerem que a educação a distância

(EaD) poderia consistir em uma alternativa de estudo para as pessoas com

deficiência, principalmente para os casos de deficiência física.

A EaD em tempos atuais é considerada uma importante modalidade de

ensino, com os recursos disponibilizados com as Tecnologias de Informação e

Comunicação (TIC), podendo colaborar para a democratização e socialização do

conhecimento. Entretanto, Cabero (2004) alerta para o fato de que um dos mitos

mais utilizados na aplicação das TIC no processo de formação consiste em afirmar

que com a sua incorporação, se pode chegar a um modelo democrático de

educação que propicie acesso a todas as pessoas, implicando em educação e

formação para todos.

Incluir efetivamente perpassa por garantir a todas as pessoas iguais

oportunidades de avanço em seu processo de formação. Da mesma forma que é

facultado às pessoas sem deficiência ―escolher‖ sua melhor opção de estudo,

presencial ou a distância, ajustando o horário de estudo à disponibilidade de tempo,

o mesmo direito deve ser estendido à pessoa com deficiência, a quem se deve

disponibilizar a possibilidade da realização de determinado curso à distância em

virtude, por exemplo, da distância geográfica da instituição de ensino realmente

pretendida, e não em virtude da dificuldade de locomoção e acessibilidade em locais

onde os cursos de interesse são ofertados.

Afinal, como bem salienta Mitller (2003), a inclusão diz respeito a cada pessoa

ser capaz de ter a oportunidade de escolhas, além da autodeterminação.

Alguns aspectos positivos do uso da EaD para ampliar a possibilidade de

inserção da pessoa com deficiência no Ensino Superior constam no estudo (Tese de

Doutorado) desenvolvido por Carvalho (2001), intitulado Soluções tecnológicas para

viabilizar o acesso do deficiente visual à educação a distância. Segundo o autor, o

objetivo desse estudo buscava responder os seguintes questionamentos: A

Educação a Distância no Ensino Superior é adequada como uma forma de acesso

para o deficiente visual? A Educação a Distância no Ensino Superior é viável como

uma forma de acesso para o deficiente visual, com a atual tecnologia? O autor

Page 64: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

63

apresenta o que denominou de 37 soluções tecnológicas para o acesso dos

deficientes visuais ao Ensino Superior a distância, concentradas em soluções para

usuários com visão subnormal e cegos em obter e disponibilizar informações.

Considera o autor que a Educação a Distância, somada à oferta da tecnologia

de acesso à informação voltada para o deficiente visual, desde que o material

didático esteja disponível em formato específico, configura-se em uma alternativa

viável para eliminar as barreiras do acesso do deficiente visual ao Ensino Superior,

permitindo uma maior independência ao deficiente visual.

Não obstante, a oferta de cursos à distância, deve se constituir em uma

possibilidade de acesso à educação superior, por todas as pessoas, com ou sem

deficiência, fazendo parte da ―escolha‖ pessoal de cada candidato.

De qualquer forma, transposta essa barreira, muitas vezes acerba para

grande parte dos candidatos, mas em especial às minorias historicamente excluídas,

a exemplo das pessoas com deficiência, iniciaram-se as aulas. Das dificuldades de

acesso à Universidade, passam-se às dificuldades de permanência na instituição.

A Universidade, como os demais espaços urbanos, salvo raras exceções, não

estava preparada para receber aquele alunato, como ainda ocorre. As Universidades

públicas, em sua maioria, apresentam construções antigas, de décadas, algumas

verticalizadas, geralmente desprovidas de rampas e corrimões, não apenas para os

deficientes físicos, mas também para os demais usuários. Elevadores, muitas vezes,

as instituições educacionais não os possuem. Pisos táteis para receber os alunos

com deficiência visual também consistem em uma raridade.

Refletindo sobre as dificuldades encontradas por algumas dessas instituições,

Dias, Silveira e Musis (2008) chamam a atenção para o fato das pessoas com

deficiência estarem chegando às universidades, que têm encontrado inúmeras

dificuldades e dúvidas com relação ao que precisam prover e a maneira como

devem se estruturar para recebê-las.

Não obstante, é possível lembrar que, noutros tempos, quando ainda não se

falava em aluno com deficiência na Universidade, alguns alunos lá aportaram e, de

alguma forma, conseguiram adequar-se às condições existentes. Portanto, a pouca

presença deles não pode ser atribuída apenas às barreiras.

Quais seriam então outros fatores que prejudicariam o acesso à universidade

para as pessoas com deficiência? Alguns desses fatores são característicos também

Page 65: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

64

dos que afetam outras minorias socialmente excluídas, como os negros, os índios e

os pobres. Um fator que dificulta o acesso às Universidades, principalmente as

públicas, diz respeito à qualidade da Educação Básica.

Em relação à pobreza, tanto nos grandes centros urbanos quanto em regiões

mais periféricas, as famílias de baixa renda concentram-se muitas vezes nos

chamados ―bolsões‖ de pobreza. São exemplos os casos de favelamentos, de

comunidades carentes, de boa parte da zona rural, cujas escolas encontram-se em

alguns casos em condições depauperadas, com poucos recursos estruturais,

financeiros e didáticos.

A ausência de bibliotecas, de salas de informática, de recursos audiovisuais,

de locais adequados para a prática de esporte e lazer, pode trazer algum prejuízo

para a formação dos alunos, do Ensino Infantil ao Ensino Médio, o que futuramente

poderia representar dificuldades para a sua possibilidade de acesso ao Ensino

Superior.

Da mesma forma, em relação aos alunos com deficiência, a não

disponibilização de recursos humanos (docentes) com o preparo inicial, aliado à sua

necessidade de formação continuada, é outro fator a ser considerado. Nesse

sentido, a ausência na sala de aula, quando se fizer necessário, de interpretes de

LIBRAS, de monitores, tutores ou cuidadores, de professores especialistas e, na

escola, da sala de recursos multifuncionais, representam alguns dos aspectos que

podem colaborar negativamente para a promoção da aprendizagem, nos mesmos

níveis de ensino anteriormente mencionados, contribuindo para que muitos alunos

com deficiência passem pelos Ensinos Infantil, Fundamental e Médio com déficits

em relação aos conteúdos que serão ―exigidos‖ por ocasião dos exames

vestibulares.

Outro aspecto, já considerado, diz respeito à disponibilização de recursos

especiais, estruturais e humanos que permitam que a diversidade de alunos, com ou

sem deficiência, tenha a possibilidade de utilizar todo o seu potencial durante os

exames de seleção para o ingresso nas Universidades.

Nesse rol de fatores, também deve ser considerado a necessidade de se

engendrar junto à comunidade escolar (professores, coordenadores, direção,

funcionários operacionais e administrativos, familiares) desde a Educação Básica,

meios de promover a adoção de atitudes sociais genuinamente favoráveis em

Page 66: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

65

relação à inclusão, como forma de estímulo à superação das barreiras que existem

para todos, mas que afetam em particular algumas minorias, como as pessoas com

deficiência.

De acordo com Omote (1998), além das adequações nos aspectos físicos e

educacionais para tornar a escola acessível e acolhedora para alunos com qualquer

tipo de deficiência, são essenciais as mudanças que precisam ocorrer no meio

social, representado principalmente pelos diretores, professores, alunos e famílias

desses alunos.

Finalmente, uma questão que será aqui apresentada, como exercício de

reflexão, relaciona-se aos cursos oferecidos pelas universidades que são

considerados como de maior ou menor prestígio (ou status) profissional. São de

maior prestigio, notadamente, os cursos de Medicina, das Engenharias dentre outros

elitizados, e os que formam parte dos profissionais liberais.

São cursos com processos seletivos extremamente competitivos e acirrados,

nos quais as minorias mencionadas encontram grande dificuldade de êxito, em parte

pelos motivos já elencados. Discussão elucidativa sobre a participação de

candidatos com deficiência em exames vestibulares é encontrada em Mazzoni

(2003).

Desta forma, pode ser compreendida a importância de Leis como a 10.558/02

(BRASIL, 2002) de 13/11/2002, que cria o Programa Diversidade na Universidade,

com a finalidade de implementar e avaliar estratégias para a promoção do acesso ao

Ensino Superior de pessoas pertencentes a grupos socialmente desfavorecidos,

especialmente dos afrodescendentes e dos indígenas brasileiros.

As pessoas com deficiência figuram entre as pertencentes aos grupos

socialmente desfavorecidos. Para Castanho e Freitas (2005), viabilizar a

implementação de ações educativas junto a estudantes com necessidades

educacionais especiais no Ensino Superior é uma questão de democracia e

cidadania. Assim como o é a oferta de condições para o exercício de direitos iguais

por parte de cidadãos em quaisquer condições.

Drezza (2007) defende que os alunos devem se sentir parte do processo,

sendo acolhidos e tratados como os alunos com necessidades outras, e não como

Page 67: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

66

um ―alienígena‖17 educacional. Trata-se da necessidade de reconhecer as

especificidades de todos os alunos, com ou sem deficiência, e desenvolver meios

para que a aprendizagem se efetive para todos.

Nessa perspectiva, de acordo com Carricó (2008), o Ensino Superior, por ser

um ambiente que agrega a diversidade, precisa criar políticas voltadas não apenas

às condições de acesso físico, mas também condições de acessibilidade ao

conhecimento, de apoio ao estudante e de mudanças de atitudes.

O reconhecimento de sua presença com condições especiais pode ser o

ponto de partida para uma relação realisticamente concreta entre alunos com

deficiência e os demais, que também apresentam variadas diferenças, algumas

delas relevantes para as atividades dentro da Universidade.

Mas, grande parte das Universidades não havia se preparado para recebê-

los, talvez, provavelmente porque não se esperava que lá aportassem. Depararam-

se, então, com diversas barreiras, tanto física quanto atitudinais. Alguns trabalhos

acadêmicos passaram então a ser produzidos, cujos resultados de alguns deles

serão discutidos no próximo item.

3.1 Excertos da produção acadêmica sobre os universitários com deficiência

Para Ferreira e Duarte (2010), o interesse pelo estudo da inclusão do aluno

com deficiência no Ensino Superior extrapola o território brasileiro, mencionando o

caso de Portugal, que há 25 anos discutia as possibilidades e metodologias de

integração de alunos com necessidades educacionais especiais nos níveis iniciais

de educação e que, hoje, a reflexão começa a se estender sobre a inclusão de

alunos com deficiência na Universidade.

De acordo com Sassaki (2001), nos Estados Unidos, a partir do ano de 1973,

os campi das universidades tiveram que começar a trabalhar para desenvolver

políticas inclusivas para estudantes com deficiências físicas, lembrando que algumas

Universidades, como a Southern Illinois University, acolhiam já na década de 1950,

17

Mantido o termo original adotado pelo autor. Com frequência o vocábulo alienígena é utilizado para se referir a quem é de fora, estrangeiro, de outro país, de outro planeta. Síntese da Dissertação de Mestrado do autor será apresentada na próxima sessão deste estudo.

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67

no sentido positivo do termo, alunos com deficiências, oferecendo transporte

acessível, adaptando os campi e serviços especializados para alunos com as mais

diversas deficiências.

Assim, o acesso ao Ensino Superior para alunos com deficiência vem sendo

promovido em alguns países, a exemplo dos Estados Unidos e da Inglaterra, desde

as décadas de 1970 e 1980, mas algumas dessas instituições têm reconhecido a

grande dificuldade para viabilizar adequações estruturais, e quando conseguem

equipamentos de suporte avançados, relatam ainda maiores dificuldades com

questões atitudinais de professores e funcionários das instituições, além do aumento

das taxas de evasão de alunos com deficiência.

Um exemplo veiculado na mídia mundial foi uma ação judicial movida pela

estudante Rosie Watson18, na ocasião estudante de Antropologia da Universidade

de Durham, na Inglaterra, em funcionamento desde 1832. Na ação, a estudante

alega que foi humilhada por professores e tutores, que não levaram em

consideração a sua surdez. Afirma que um tutor bateu no circuito de seu sistema

auditivo, gritou com a estudante, enquanto os colegas de classe riam, sentindo-se

humilhada.

O mesmo artigo apresenta recente estudo realizado na Universidade de

Oxford, instituição de ensino tradicional do mesmo país, sugerindo que entre os anos

letivos de 2008 e 2009, a taxa de evasão de alunos com deficiência mais do que

dobrou. A Universidade de Oxford conta com uma equipe de apoio a alunos com

deficiência desde 1990, que inclusive dá suporte para estudantes com espectro

autista desde o primeiro dia de sua chegada à Universidade.

Dessas breves informações inseridas, se podem fazer algumas reflexões: se

países como a Inglaterra, considerada referência mundial, com histórico de inclusão

de alunos com deficiência no Ensino Superior desde as décadas de 1980/1990, em

instituições sérias e tradicionais, vêm encontrando em alguns casos dificuldades

para garantir a permanência desses estudantes na universidade, o que se pode

18

O fato é relatado em uma quantidade significativa de artigos. Adotaram-se aqui as informações contidas no artigo ―Study shows more disabled students are dropping out of university‖ (Estudo mostra que mais estudantes com deficiência estão abandonando a universidade). Disponível em: <http://www.guardian.co.uk/education/2010/may/25/diabled-student-drop-out-university-increase> Acesso em 13 nov. 2012.

Page 69: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

68

pensar das instituições de Ensino Superior do Brasil, que somente na década de

1990 passou a se efetivar a Educação Básica para os alunos com deficiência?

Pretende-se, nesta seção, apresentar cronologicamente alguns estudos

relacionados com o tema da inserção do aluno com deficiência no Ensino Superior

no Brasil, compostos por dissertações, teses e artigos acadêmicos.

Algumas instituições criaram programas para promover o acesso e a

permanência dos alunos com deficiência na instituição no início dos anos de 1990,

como é o caso do Programa de Acompanhamento a Estudantes com Necessidades

Educacionais Especiais – PROENE – que funciona desde 1991, na Universidade

Estadual de Londrina, mas a maioria dos estudos sobre a inclusão do aluno com

deficiência no Ensino Superior foram desenvolvidos a partir do início da década de

2000.

A tese de doutorado de Carvalho (2001), intitulada Soluções tecnológicas

para viabilizar o acesso do deficiente visual à educação a distância, foi descrita de

forma sintetizada na seção anterior. Os objetivos do estudo consistiam em: 1)

Oferecer uma resposta à pergunta: a Educação a Distância no Ensino Superior é

adequada como uma forma de acesso para o deficiente visual? 2) Oferecer uma

resposta à pergunta: a Educação a Distância no Ensino Superior é viável como uma

forma de acesso para o deficiente visual, com a atual tecnologia? 3) Oferecer, como

complemento à resposta para a segunda pergunta, soluções tecnológicas para o

acesso dos deficientes visuais ao Ensino Superior a distância, proporcionando, aos

envolvidos no problema, referenciais que subsidiem a opção pela solução adequada

às suas especificidades; e 4) Demonstrar a importância da tecnologia para a

inclusão dos deficientes visuais no Ensino Superior, principalmente no oferecido a

distância.

O método utilizado para atingir os objetivos foi a análise dos principais

aspectos envolvidos no problema, que são: a deficiência visual; a acessibilidade; a

Educação a Distância; a tecnologia para a Educação a Distância e a tecnologia de

interfaces para acessibilidade de deficientes visuais. Para possibilitar um tratamento

multidisciplinar do assunto, o autor do trabalho utilizou-se da abordagem sistêmica.

Na apresentação dos resultados, em relação ao primeiro objetivo, o autor

considera que a sugestão da Educação a Distância somada à da tecnologia de

acesso à informação voltada para o deficiente visual, desde que o material didático

Page 70: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

69

esteja disponível em formato específico, é uma alternativa viável para eliminar as

barreiras do acesso do deficiente visual ao Ensino Superior, permitindo uma maior

independência ao deficiente visual. No que se refere ao segundo objetivo, o autor

relata que, mesmo com as restrições apontadas, as soluções apresentadas

demonstram a viabilidade do acesso pelo deficiente visual, seja ele cego ou com

visão subnormal, ao Ensino Superior ministrado a distância por meio da maioria das

mídias de apoio. O terceiro objetivo consistia somente em descrição de possíveis

soluções. Em resposta ao último objetivo o autor resgata a importância do papel da

tecnologia computacional no avanço da Educação a Distância, permitindo um grau

de interação entre os envolvidos e uma flexibilidade na apresentação do conteúdo a

ser veiculado, que até então era impossível por outros meios, trazendo, com isto,

maiores perspectivas de mudanças nos atuais paradigmas de ensino-aprendizagem.

Oliveira (2003) desenvolveu a dissertação de mestrado intitulada

Acessibilidade na Universidade Estadual de Londrina: O ponto de vista do estudante

com deficiência. O pesquisador contemplou em seu estudo a conceituação da

acessibilidade e a acessibilidade no Ensino Superior. O estudo teve como objetivo

identificar, descrever e analisar, sob o ponto de vista do estudante com deficiência,

as condições de acessibilidade na Universidade Estadual de Londrina.

Participaram da pesquisa onze alunos com deficiência cadastrados no

Programa de Acompanhamento ao Estudante com Necessidades Educacionais

Especiais daquela instituição, através da realização de entrevistas semi-

estruturadas. O autor indica que a acessibilidade esteve presente e ausente na

trajetória acadêmica de tais alunos, consistindo em aspectos positivos e negativos a

serem analisados. Segundo os participantes, os professores e demais alunos

contribuíram para criar condições de acessibilidade; os primeiros com a utilização de

estratégias e recursos adaptados e os segundos criando a possibilidade de estudo

em grupo e auxílio ao estudante com deficiência em situações intra e extrasala de

aula.

Foram relatados como aspectos negativos: a existência de barreiras

arquitetônicas; a falta de adaptação de banheiros, de bebedouros, de telefone e de

mobiliários; dificuldades para acesso aos serviços de apoio ao estudante; barreiras

pedagógicas por parte de alguns docentes; e barreiras atitudinais presentes em toda

a rede de relações interpessoais.

Page 71: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

70

Ferreira (2003) elaborou um estudo versando sobre Diversidade e ensino

superior: a Universidade Estadual de Londrina na Construção de uma „sociedade

para todos‟. O autor considera, em conformidade com a legislação, que a Educação

Especial é uma modalidade escolar, que permeia todos os níveis do sistema

educacional, da educação básica à superior, sendo que os serviços de educação

especial devem estar presentes em todas as escolas que possuam alunos que deles

necessitem. Comenta o autor a existência do Fórum Nacional de Educação Especial

das Instituições de Ensino Superior, que na época possuía uma proposta inicial de

discutir a entrada e a permanência do aluno com deficiência na universidade, em

condições de competir com qualquer profissional da sua área.

O autor faz algumas considerações sobre a diversidade, afirmando ser uma

condição inerente ao ser humano e descreve brevemente ações envidadas por duas

Instituições de Ensino Superior públicas que na época desenvolviam ações para

minimizar as dificuldades especiais de seus alunos, passando a descrever as ações

do Programa de Acompanhamento a Estudantes com Necessidades Educacionais

Especiais, da Universidade Estadual de Londrina.

Desta forma, os alunos com deficiência naquela instituição, desde o seu

acesso ao vestibular até a colação de grau, são amparados por normas e

disposições regimentais que propiciam a manifestação de seu potencial acadêmico e

social nas atividades de aprendizagem, pesquisa e extensão.

Durante os anos de 1992 a 2002, o PROENE (objeto de investigação do

autor) acompanhou 244 estudantes com necessidades educacionais especiais, nos

dizeres do autor, devido a distúrbio/dificuldade de aprendizagem, deficiência física,

visual, auditiva, múltipla, doenças crônicas e comprometimento de ordem emocional.

Na conclusão do estudo, o autor afirma que, através do PROENE, a

Universidade Estadual de Londrina vem efetivando o compromisso com a

diversidade e com a construção de uma sociedade para todos, viabilizando ações

que mantêm a consonância entre o discurso teórico e os dispositivos legais acerca

da Educação Especial nas Instituições de Ensino Superior.

Ainda em relação ao programa implementado junto à Universidade Estadual

de Londrina, Oliveira e Carmo (2003) desenvolveram o estudo Uma proposta de

Serviço Social para estudante com necessidade educacional especial na

Universidade Estadual de Londrina.

Page 72: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

71

O objetivo dos autores foi apresentar o delineamento de ações do Serviço

Social frente aos alunos com deficiência, com ações cooperativas e

complementares, quando passam a refletir sobre a importância da formação

universitária para a possibilidade da ascensão social, profissional e financeira,

propiciando melhores condições de competir no mercado de trabalho.

Para os autores, no contexto da metodologia interdisciplinar que permite a

ampliação de ações em equipe, insere-se o Serviço Social, possibilitando a

aproximação com os alunos com deficiência, propondo ações pautadas na

efetividade do exercício da educação como direito social e viabilizando medidas

educacionais que garantam a permanência como uma trajetória acadêmica daqueles

estudantes.

De acordo com os resultados verificados no estudo, os autores concluem que

essas ações devem buscar envolver os diferentes sujeitos do contexto universitário,

a exemplo dos discentes, dos docentes e dos servidores, promovendo palestras,

oficinas, grupos de inclusão, como forma de aprofundamento e viabilização de

estratégias para atender ao alunado em comento.

Mazzoni (2003) desenvolveu em seu doutoramento o estudo intitulado

Deficiência X participação: um desafio para as universidades, versando sobre a

incidência de fatores ambientais nas atividades e participação de alunos com

limitações oriundas de deficiências, no ambiente universitário e em seu entorno.

O objetivo geral do estudo era investigar a componente ambiental do modelo

de Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF),

considerando suas implicações sobre universitários com limitações oriundas de

deficiência. Os objetivos específicos eram: identificar as barreiras e facilitadores,

relacionados à componente ambiental, presentes nos relatos dos alunos; identificar

a percepção desses alunos quanto à natureza e extensão das interações

interpessoais que ocorrem no ambiente universitário; discutir as políticas de

atendimento às pessoas com limitações oriundas de deficiência, sob o ponto de vista

dos alunos.

O instrumento principal utilizado para a coleta de dados foi um roteiro para

uma entrevista semiestruturada. O autor entrevistou nove alunos das seguintes

universidades: Universidade Federal de Santa Catarina (Florianópolis), Universidade

Federal do Paraná (Curitiba), Universidade Estadual de Santa Catarina

Page 73: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

72

(Florianópolis) e Universidade Estadual de Maringá (Maringá). Os alunos estavam

matriculados nos seguintes cursos: Enfermagem, Medicina, Engenharia Civil, Letras,

História, Química, Matemática e Pedagogia.

Em suas considerações finais, o autor chamou a atenção para o fato de as

expectativas dos alunos com deficiência quanto à atenção que as Universidades

poderiam dar às suas necessidades terem sido frustrantes para alguns dos

entrevistados, os quais consideraram que receberam uma melhor atenção nos níveis

anteriores de ensino, situação esta que assinala para mais um alerta, considerando

que estas instituições são, em grande parte, as responsáveis pela elaboração de

metodologias e desenvolvimento de produtos que visam a atender às necessidades

dessas pessoas.

Considerou ainda que a maturidade e a atitude positiva perante a vida

demonstradas pelos participantes da pesquisa os colocavam na situação de

verdadeiros arquétipos sendo que, através da sua atuação como agentes

transformadores, poderiam contribuir com as ações necessárias para que a

sociedade efetuasse as mudanças que permitissem, a todas as pessoas, uma maior

participação social.

Fortes (2005) desenvolveu a dissertação de mestrado com o título A inclusão

da pessoa com deficiência visual na UFRN: a percepção dos acadêmicos. O autor

elabora uma análise sobre como vem se processando a inclusão naquela

universidade, propondo um estudo de caso contemplando três alunos com

deficiência visual, utilizando como instrumento de coleta de dados a entrevista.

Na análise dos resultados, o autor afirma que os dados coletados e

analisados apontam para o fato de que a inclusão proporciona para os alunos com

deficiência visual a superação de várias barreiras, a exemplo do próprio vestibular, a

possibilidade de crescimento acadêmico significativo, além da oportunidade de se

socializar e de se beneficiar com as experiências não acadêmicas.

Relata que, em relação aos seus pares, os benefícios proporcionados

envolveram a oportunidade de aprender uns com os outros, respeitando as

limitações e potencialidades, apoiando e incentivando a inclusão de todos. O autor

finaliza reconhecendo que várias ações foram empreendidas no âmbito da UFRN,

porém, acredita que muito ainda existe para ser realizado, como a preparação do

corpo docente e funcionários, orientação da comunidade mais ampla, a quebra de

Page 74: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

73

barreiras atitudinais e pedagógicas, e apoio humano e material imprescindíveis ao

pleno desenvolvimento desses alunos.

Drezza (2007) desenvolveu a Dissertação de Mestrado intitulada Inclusão no

Ensino Superior: relato de experiência sobre uma política de inclusão na

Universidade Cidade de São Paulo. O trabalho descreveu e estudou a inclusão dos

alunos com deficiência no Ensino Superior a partir da análise documental das

políticas internas e do trabalho do Centro de Apoio Acadêmico aos Deficientes da

Universidade Cidade de São Paulo (CAAD) - implantado em 1999 - com base na

experiência do autor com Orientação e Mobilidade para alunos com deficiência

visual.

Os procedimentos metodológicos adotados pelo autor contemplaram a

pesquisa documental, levantamento bibliográfico e relato pessoal de experiência

sobre inclusão de alunos com deficiência na Universidade de São Paulo, com base

na experiência do próprio pesquisador.

Em suas considerações finais, o autor afirma que se o professor não for

preparado para ser agente de inclusão, torna-se inviável19 qualquer ação dentro de

uma instituição de Ensino Superior para a aceitação dos diferentes e para a

transformação destas pessoas em cidadãos plenos, atuantes e colaboradores, em

busca de uma sociedade mais igual para todos. Propõe que as universidades devem

oferecer um sistema de ensino que possibilite a integração e cuidar para que seja

alcançado o objetivo proposto pela UNESCO, ou seja, formar a pessoa para fazer,

aprender, ser e conviver.

Considera, finalmente, que não basta que os alunos entrem na Universidade;

é necessário que esta se prepare para bem atendê-los e aprenda com eles, pois o

bom atendimento exige soluções criativas e atendimento mais ágil e eficiente, como

a flexibilização dos currículos, incentivo ao voluntariado, uso mais intensivo de

tecnologias de comunicação, estudos via internet etc. Essa flexibilização curricular

19

Mantida a terminologia original adotada pelo autor. A formação de recursos humanos para a educação inclusiva é sem dúvida importante aspecto para a formação de atitudes sociais favoráveis em relação à inclusão, mas a sua viabilidade tem também outros relevantes aspectos a serem considerados. Perpassam, por exemplo, na viabilização anterior de recursos públicos para a Educação Básica, além de questões ligadas à saúde, moradia digna e reabilitação, bem como adequações aos exames vestibulares, que contemplem a diversidade, com a aquisição de mobiliários, equipamentos e treinamento de funcionários, assim como a possibilidade de permanência dos alunos após o seu ingresso, com a criação de programas de acolhimento e acessibilidade, assistindo a necessidade de todos os alunos. O mesmo vale para outras minorias historicamente excluídas, como os afro-brasileiros, os índios e os pobres.

Page 75: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

74

deve distinguir pela singularidade, possibilitar o acesso à herança cultural, ao

conhecimento socialmente produzido e à vida produtiva, condições essenciais para

a inclusão social e ao pleno exercício da cidadania.

Pereira (2007) desenvolveu a Dissertação de Mestrado intitulada Inclusão e

Universidade: Análise de trajetórias acadêmicas na Universidade Estadual do Rio

Grande do Sul. A pesquisa contou com a participação de 16 alunos com deficiência

ingressantes na instituição pelo sistema de cotas, entre os anos de 2002 e 2005,

além de dez gestores da Universidade.

O objetivo do estudo consistia em compreender o processo de implantação de

cotas provenientes das ações afirmativas no Ensino Superior, como possível

contribuição para a inclusão do aluno com deficiência na Universidade. Os objetivos

específicos consistiam em descrever o processo de implantação de cotas na

instituição; identificar e caracterizar os alunos que entraram na universidade pelo

sistema de cotas; investigar as condições de atendimento desses alunos no

concurso vestibular; e analisar as trajetórias dos alunos com deficiências, no

decorrer do curso.

O autor, por ocasião da realização da pesquisa, coordenava o Núcleo de

Políticas Inclusivas da UERGS, implementado em 2005, que tinha como premissa o

mapeamento da realidade, a partir do número de alunos com deficiência

matriculados na instituição, detectando as necessidades do alunado para a garantia

de sua permanência na universidade, o que, de certa forma, vai ao encontro dos

objetivos anteriormente mencionados.

Os dezesseis alunos participantes da pesquisa foram divididos em três

grupos: alunos que estavam ativos, os que abandonaram o curso e os que se

formaram. Quanto aos dez gestores participantes, havia coordenadores das

unidades, a chefia de projetos especiais e o reitor da universidade.

Como instrumento de coleta de dados, foram utilizados dois roteiros de

entrevistas, um para os discentes e o segundo para os gestores.

Ao apresentar suas considerações finais, o pesquisador ressalta alguns

pontos que demandam maiores reflexões sobre a inclusão dos alunos com

deficiência no Ensino Superior, principalmente no que tange ao sistema de cotas.

Para o autor, o sistema de cotas pode ser caracterizado como facilitador, mas

também como um possível sinal de discriminação, uma vez que o assunto se

Page 76: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

75

mostrou pouco conhecido pelos entrevistados, mesmo na instituição pesquisada,

que foi a primeira a instituir o sistema de cotas no Brasil.

No entanto, para a maioria dos entrevistados, o sistema de cotas representa

uma oportunidade rara para as pessoas com deficiência. As entrevistas revelaram a

existência de alunos tanto favoráveis quanto desfavoráveis ao sistema de cotas. Em

que pese tais divergências de opinião, o autor ressalta que o sistema de cotas não

garante a permanência do aluno com deficiência na universidade. Para que isso

ocorra, segundo o autor, a Universidade necessita viabilizar políticas voltadas para

essa demanda institucional, de forma a realmente se efetivar a inclusão dos alunos

com deficiência.

Pesini, Silva e Silva (2007) elaboraram o artigo Compreendendo as

experiências dos alunos com necessidades especiais no ensino superior,

descrevendo os resultados de uma pesquisa sobre o processo de inclusão de alunos

com deficiência na Universidade Paranaense – UNIPAR.

Compreender o processo de inclusão/exclusão vivenciado pelos alunos com

necessidades especiais no Ensino Superior, conhecendo as dificuldades dos alunos

com deficiência em perceberem o seu cotidiano universitário, além de suas

estratégias utilizadas para fazer frente às suas dificuldades, foram os principais

objetivos do estudo. O estudo contou com a participação de cinco alunos com

deficiência, sendo o instrumento de coleta de dados a entrevista semiestruturada.

Os resultados da pesquisa revelam que a possibilidade de acesso ao Ensino

Superior era aspirada pelos participantes que buscavam autonomia em seus

projetos de vida e de carreira. Relatam ainda casos de despreparo docente, referido

pelos autores como falta de ―manejo‖, além da ausência de intérpretes de LIBRAS, e

que a possibilidade de insucesso contínuo leva os alunos com deficiência à tentativa

de abandono do curso.

Chahini (2010) desenvolveu o estudo intitulado Atitudes sociais e opiniões de

professores e alunos da Universidade Federal do Maranhão em relação à inclusão

de alunos com deficiência na educação superior.

O estudo teve como objetivo analisar as atitudes sociais e opiniões de

professores e alunos da Universidade Federal do Maranhão em relação à inclusão

de alunos com deficiência na Educação Superior. A pesquisa contou com 357

participantes, subdivididos em cinco grupos. O primeiro grupo contemplou 15 alunos

Page 77: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

76

com deficiência, nove dos quais ingressaram na Universidade através da Política de

Cotas, a partir do primeiro semestre de 2007 e seis alunos com deficiência, que

ingressaram antes da referida Política. O segundo foi composto por 100 alunos sem

colegas com deficiência em sala de aula. O terceiro grupo foi representado por 100

colegas de alunos com deficiência. O quarto grupo continha 42 professores de

alunos com deficiência e o quinto grupo foi composto por 100 professores sem

alunos com deficiência em sala de aula. Para a coleta de dados, foram utilizadas

cinco versões diferentes de questionários, uma para cada grupo (alunos com

deficiência, colegas de alunos sem deficiência, colegas de alunos com deficiência,

professores de alunos com deficiência e professores sem alunos com deficiência)

além do uso da Escala Likert de Atitudes Sociais em relação à Inclusão (ELASI).

Na apresentação dos resultados da pesquisa, o autor indica que as atitudes

sociais em relação à inclusão dos alunos com deficiência, que ingressaram na

Universidade pelo Concurso Vestibular tradicional, não se diferenciam

significativamente das atitudes dos alunos com deficiência que ingressaram pelo

sistema de cotas. Quanto às atitudes sociais em relação à inclusão dos colegas de

alunos com deficiência são mais favoráveis que as atitudes dos estudantes que não

têm colegas com deficiência em sala de aula.

No que concerne aos docentes, o estudo demonstrou que as atitudes sociais

em relação à inclusão dos professores de alunos com deficiência não se diferenciam

das atitudes dos professores sem alunos com deficiência.

Em relação ao acesso e permanência dos alunos com deficiência na

Universidade, os dados sugerem que, de modo geral, tanto os alunos quanto os

professores são relativamente favoráveis à inclusão.

O autor descreveu que nas perguntas opinativas, as respostas de todos os

participantes foram mais favoráveis à inclusão dos alunos com deficiência na

Educação Superior, mas quanto às perguntas de natureza mais operacional, as

respostas foram mais desfavoráveis.

Considerou, também, que a Universidade Federal do Maranhão tem buscado

soluções para a questão do acesso e da permanência de alunos com deficiência na

Educação Superior, mas precisa ainda efetivar medidas que valorizem as diferenças,

garantindo oportunidades iguais de acesso ao conhecimento sociocultural

construído, sem discriminações e/ou segregações, bem como contribuir para a

Page 78: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

77

superação dos estigmas que afetam os alunos com deficiência, para que possam

ingressar na Universidade e participar da construção do conhecimento.

Fonseca-Janes (2010) conduziu um estudo que englobou seis campi da

Universidade Estadual Paulista que mantém o curso de Pedagogia, quais sejam:

Faculdade de Ciências do campus de Bauru, Faculdade de Ciências e Letras do

campus de Araraquara, Faculdade de Ciências e Tecnologia do campus de

Presidente Prudente, Faculdade de Filosofia e Ciências do campus de Marília,

Instituto de Biociências do campus de Rio Claro e Instituto de Biociências, Letras e

Ciências Exatas do campus de São José do Rio Preto.

Em sua tese de doutoramento, intitulada A formação dos estudantes de

Pedagogia para a educação inclusiva: Estudo das atitudes sociais e do currículo, o

autor, além de analisar a matriz curricular adotada em todos aqueles campi, analisou

se os cursos de Pedagogia da Universidade Estadual Paulista estão preparando os

estudantes para as discussões e fundamentações da educação inclusiva, face à

publicação das Diretrizes Curriculares Nacionais, em 15/05/2006. (BRASIL, 2006)

A pesquisa contou com 410 participantes, sendo 404 estudantes ingressantes

do curso de Pedagogia e os seis coordenadores de cada curso. Para a realização do

estudo, utilizou-se um roteiro de entrevistas para os coordenadores dos cursos, com

dez questões sobre o processo de adequação do curso de Pedagogia às Diretrizes

Curriculares Nacionais, no que tange à Educação Inclusiva e à Educação Especial;

um questionário para os discentes, contendo seis questões semiabertas, sobre a

concepção do que possa ser Educação Especial e Educação Inclusiva; e a Escala

Likert de Atitudes Sociais em relação à inclusão, com vistas à mensuração das

atitudes sociais em relação à inclusão. Dentre os resultados apresentados, o autor

constatou que o conceito de Educação Inclusiva não é entendido como sinônimo de

Educação Especial pelos participantes. Na análise comparativa dos escores obtidos

nas seis unidades escolares estudadas, os alunos apresentam atitudes sociais

diferentes em cada uma, sendo que os alunos ingressantes do curso de Pedagogia

da Faculdade de Ciências e Tecnologia de Presidente Prudente foram os que

apresentaram atitudes sociais menos favoráveis em relação à inclusão. O autor

sugere a possibilidade de modificação desse quadro, pois a matriz curricular do

curso prevê a introdução de temas e práticas que poderão intervir de maneira a

modificar as atitudes sociais em relação à inclusão de tais participantes.

Page 79: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

78

Como esse estudo não analisou a matriz curricular em vigência, comparando-

a com o documento vigente por ocasião da pesquisa realizada pelo autor, não se

pode fazer uma relação de causalidade.

Rodrigues (2010) conduziu um estudo no Instituto Federal de Educação do

Rio Grande do Norte intitulado Trajetória do IFRN em Inclusão Escolar. Em sua

Dissertação de Mestrado, o autor apresentou como objetivos principais: Identificar as

principais dificuldades/obstáculos vivenciados por dois alunos com deficiência visual;

e Resgatar as ações da educação inclusiva no IFRN à luz dos documentos até a

criação do núcleo de apoio20.

A abordagem metodológica abarcou o relato da História de Vida dos dois

participantes da pesquisa, deficientes visuais, a análise de alguns documentos, tais

como a proposta pedagógica da IFRN e as diretrizes do MEC que orientam as

escolas na inclusão dos alunos com necessidades educacionais especiais.

Nas considerações finais do autor, é proposto direcionar um novo olhar para

uma proposta curricular que envolva todos os profissionais da escola, bem como os

familiares das pessoas com deficiência, aventando a necessidade da criação de uma

consistente e participativa proposta de formação dos quadros educacionais.

O autor sugere que os educadores pensam e agem de acordo com as

experiências de escolarização vivenciadas, repetindo os modelos que os formaram.

Urge, desta forma, desconstruí-los para reconstruí-los de forma democrática,

solidária, criativa e inclusiva. Finalmente relata que a escola deve ser adequada de

acordo com as necessidades educativas dos alunos e garantir o acesso às mesmas

informações que os outros alunos recebem, para que os alunos cegos não estejam

em desvantagem em relação aos seus pares, pois deixam de receber muitas

informações, não em virtude da cegueira por que é acometido, mas pelas condições

estruturais de ensino e aprendizagem.

Com o foco de investigação voltado para a inclusão da pessoa com

deficiência na Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica, Rosa (2011)

desenvolveu o estudo intitulado ―Políticas Públicas Educacionais, Direitos Sociais e

Democratização do Acesso à Escola: Uma visão a partir da implantação da ação

TECNEP da Rede Federal de Educação Tecnológica‖.

20

Será discorrido em maiores detalhes na próxima seção.

Page 80: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

79

Ainda que a pesquisa se concentre principalmente na formação profissional

para a inserção no mundo do trabalho, o estudo traz considerações importantes

sobre a inclusão no Ensino Superior, o que, em grande medida, pode colaborar para

viabilizar a ocorrência dessa inserção.

O autor apresenta a criação em algumas instituições federais de educação

tecnológica, abrangendo o ensino técnico, tecnológico, superior de graduação e pós-

graduação, do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades Educacionais

Especiais (NAPNE), articulador das ações TECNEP – Tecnologia, Educação,

Cidadania e Profissionalização para Pessoas com Necessidades Específicas. A

TECNEP representa ações implementadas pela Secretaria de Educação Profissional

e Tecnológica do MEC junto a tais institutos, voltadas ao atendimento das pessoas

com deficiência (alunos e egressos), servidores e a comunidade, atuando no ensino,

na pesquisa e na extensão.

O objetivo geral da pesquisa consistiu em investigar a evolução histórica dos

direitos sociais para pessoas com deficiência e a legislação pertinente, considerando

as políticas públicas educacionais, os direitos sociais e a questão da democratização

do acesso à educação.

Com base na literatura estudada e na análise dos questionários submetidos a

coordenadores, gestores e alunos com deficiência dos institutos contemplados na

pesquisa, o autor concluiu, dentre outras coisas, que, para a inclusão se efetivar na

Rede Federal Tecnológica, seria necessária a implementação de esforço público

anterior, desde a Educação Básica, serviços de saúde, transporte e reabilitação, pois

a sociedade deveria ser inclusiva como um todo.

O autor relatou que mesmo com a existência de políticas públicas para a

inclusão, que refletem a ação TECNEP, na prática, por falta de condições ofertadas

pelo próprio Estado e pelas próprias instituições, a ação TECNEP não teve

condições de levar a cabo sua missão. Consignou ainda que a carência de recursos

humanos, tanto do ponto de vista numérico como da qualificação necessária dos

atores do processo, resulta num atendimento precário às pessoas com deficiência.

Piza (2011) investigou a inclusão em uma instituição particular de Ensino

Superior. Tendo como ato motivador a experiência como monitora de um graduando

do curso de Pedagogia acometido de surdocegueira, o autor desenvolveu a tese de

doutorado intitulada O processo inclusivo em uma instituição particular de ensino

Page 81: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

80

superior do Estado de São Paulo. O objetivo da pesquisa desenvolvida foi verificar

como ocorria a inclusão de alunos com deficiência nos cursos de graduação na

Universidade Metodista de Piracicaba.

Os 234 participantes da pesquisa foram divididos em três grupos, sendo o

primeiro composto por 14 docentes, o segundo por 13 alunos com deficiência

(visual, auditiva e física) e o terceiro por 207 alunos sem deficiência, matriculados

nos cursos de Pedagogia, Direito, Análise de Sistemas, Letras, Biologia e Psicologia

daquela instituição. Foram aplicados então questionários específicos para cada

grupo de participantes, com vistas a analisar os relatos verbais dos docentes e dos

discentes (com e sem deficiência) sobre a inclusão no Ensino Superior.

Os resultados apresentados pelo autor revelam que 30,6% dos participantes

da pesquisa têm dificuldades em conceituar o que vem a ser a inclusão, pessoa com

deficiência e Universidade com ações inclusivas.

O estudo indicou que não é a presença de um núcleo ou departamento que

assessore a inclusão que fará com que ela efetivamente ocorra naquela

Universidade. O autor propõe, para a efetivação das ações inclusivas, a

sensibilização da comunidade acadêmica para a temática da inclusão; a capacitação

dos professores e funcionários para atenderem ao aluno com deficiência; o

esclarecimento da comunidade não deficiente sobre a existência do serviço de apoio

à inclusão, para que possa haver o envolvimento de toda a comunidade acadêmica

em ações inclusivas desenvolvidas pela assessoria.

Borges (2011) desenvolveu o estudo intitulado A inclusão de alunos com

deficiência em cursos presenciais de graduação da Universidade Federal de Juiz de

Fora. Nessa Dissertação de Mestrado, o objetivo do autor consistiu em investigar a

realidade escolar de estudantes com deficiência que ingressaram em cursos

presenciais de graduação da UFJF.

Na descrição do método, o autor indica que a pesquisa foi estruturada com

base na abordagem qualitativa e desenvolvida a partir do estudo de caso, contando

com a participação de quinze alunos, matriculados em sete diferentes cursos de

graduação. Para a coleta de dados, utilizou-se um questionário e entrevistas do tipo

semiestruturadas.

Segundo o autor, os resultados sugerem que ainda é baixo o número de

aluno com deficiência na UFJF (0,13%). Dos participantes do estudo, todos

Page 82: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

81

realizaram o Ensino Básico em escolas regulares e a maioria em escolas públicas. O

estudo revelou também o predomínio de alunos com deficiência física e o maior

número de estudantes do sexo feminino. Também se destacou o interesse por

cursos da área de Ciências Humanas sendo que o maior número de matrículas foi

registrado no Curso de Serviço Social.

Para o autor, o estudo revela ainda que os alunos ressaltaram que a maior

dificuldade encontrada no cotidiano é a ausência de algumas condições básicas e

específicas, a pouca capacitação dos docentes e a falta de divulgação das

atividades do setor envolvido com o processo de inclusão na Universidade.

Diante desses estudos apresentados até o momento se podem tecer algumas

considerações. O número de alunos com deficiência matriculados nas instituições de

Ensino Superior e mencionados nos estudos realizados é efetivamente reduzido.

Não obstante, a inclusão de alunos com deficiência naquelas instituições, conforme

indicação dos autores vem apresentando evolução.

Os estudos descritos não focam deficiências específicas, mas abrangem, no

geral, com escopo na inclusão, questões tais como: acessibilidade física e atitudinal

na perspectiva do aluno com deficiência, diversidade no Ensino Superior, percepção

dos acadêmicos em relação ao acesso e permanência na Universidade, políticas

públicas educacionais de democratização ao acesso à Universidade e opiniões de

professores e alunos em relação à inclusão.

As dificuldades apresentadas nos estudos perpassam por reflexões sobre a

existência de barreiras arquitetônicas, pedagógicas e atitudinais, a falta de

adaptação das instalações (banheiros, bebedouros, telefones e mobiliários)

dificuldades para acesso aos serviços de apoio aos estudantes, frustração dos

alunos com deficiência em relação à atenção dispensada pelas Universidades.

Discutem ainda a necessidade de viabilização de políticas públicas voltadas para a

efetivação da inclusão dos alunos com deficiência, além da necessidade crescente

de qualificação permanente do corpo docente e funcionários das instituições e de

sensibilização da comunidade acadêmica.

Alguns dos aspectos positivos relatados dizem respeito à contribuição dos

docentes e discentes para a criação de condições de acessibilidade, efetivação do

compromisso da comunidade escolar com a diversidade e construção de uma

Page 83: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

82

sociedade para todos. Registrou-se ainda a superação de barreiras e o respeito às

limitações e potencialidades.

As investigações apresentadas concentraram-se principalmente no acesso de

pessoas com deficiência no Ensino Superior, acessibilidade física, diversidade e

Ensino Superior, inclusão, orientação e mobilidade de alunos com deficiência visual,

trajetória acadêmica e elaboração de estratégias para enfrentamento das

dificuldades e formação de recursos humanos para a educação inclusiva. São

estudos com o foco de investigação, portanto, distintos da pesquisa ora

apresentada, que se direciona para a investigação das atitudes sociais discentes e o

sentimento de acolhimento dos alunos com deficiência inseridos no Ensino Superior.

Descritos alguns estudos sobre a inclusão do aluno com deficiência no Ensino

Superior, a próxima seção irá descrever alguns aspectos legais e normativos sobre a

inclusão do aluno com deficiência naquela modalidade de ensino.

3.2 Aspectos legais e normativos da inclusão do aluno com deficiência no

Ensino Superior

Para Alcoba (2008), não é de se estranhar a presença inexpressiva de alunos

com deficiência nas instituições superiores públicas de ensino, uma vez que a

universidade tem uma longa história como espaço restrito a uma pequena parcela da

população, um lugar para a formação das elites.

A Universidade tem sido realmente um lugar para a formação das elites

(intelectual, técnica etc.). O que não se compatibiliza com os preceitos democráticos

exaltados e defendidos atualmente é o acesso a ela estar restrito às elites ou

privilegiá-las.

Aquele autor refere que só recentemente as instituições têm procurado se

abrir para esses grupos anteriormente excluídos, pois, até a década passada, a

maioria dos jovens com deficiência não fazia parte do sistema educacional regular,

sendo que a legislação referente à inclusão dessa população no Ensino Superior

ocorreu apenas em 1999.

Page 84: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

83

Segundo Valdés (2006), as restrições de acesso e permanência dessas

pessoas na Educação Superior associam-se à história de exclusão, peculiar à

educação superior no país, com forte tendência à privatização e ao elitismo.

Paradoxalmente ao que sugere o autor, o que se constata atualmente é a

ampliação de vagas nas Universidades, inclusive nas públicas. A ampliação de

vagas nas públicas não acompanha o ritmo de oferta das vagas de um modo geral,

uma vez que é notória a participação crescente do setor privado neste ―ramo de

negócio‖.

Os setores privados não elitizam a Universidade, pois proporcionalmente há

mais alunos com poucos recursos financeiros nas instituições privadas que nas

públicas, em virtude inclusive do financiamento público de estudo universitário, como

bolsas, PROUNI21 etc. Em vez de formar elite intelectual, tal ampliação pode

representar um ―nivelamento por baixo‖ da educação universitária em geral.

De acordo com Costa et al (2010), não basta simplesmente dar-lhes a

oportunidade de frequentar a Universidade. Essas instituições de Ensino Superior

precisam estar adequadas às limitações do público. Nessa perspectiva, a inclusão

das pessoas com deficiência visa torná-las participantes da vida social, garantindo

seus direitos básicos como educação, saúde, trabalho e lazer. Sendo assim,

deveriam ter o direito de frequentar instituições de ensino como qualquer outro

indivíduo, inclusive instituições de Ensino Superior.

São considerados ainda incipientes os relatos publicados em relação ao

histórico da inclusão de alunos com deficiência no Ensino Superior. Os estudos

apresentados na seção anterior revelam apenas alguns dos diversos aspectos a

serem considerados em relação às dificuldades de acesso e também de

permanência dos alunos com deficiência no Ensino Superior. Curiosamente, alguns

estudos revelaram que diversas resoluções dessas questões ocorreram porque os

próprios alunos com deficiência apontaram os caminhos, descrevendo o que poderia

ser feito para melhorar a sua aprendizagem.

21

O Programa Universidade para Todos - PROUNI tem como finalidade a concessão de bolsas de estudo integrais e parciais em cursos de graduação e sequenciais de formação específica, em instituições privadas de educação superior. O programa, criado pelo Governo Federal em 2004 e institucionalizado pela Lei nº 11.096 de 13 de janeiro de 2005, oferece, em contrapartida, isenção de alguns tributos àquelas instituições de ensino que aderem ao Programa. Informação disponível em: < http://prouniportal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=124&Itemid=140> Acesso em 12 fev. 2013.

Page 85: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

84

Os aspectos legais e normativos que serão discorridos brevemente nesta

seção corroboram o entendimento de que, na perspectiva da educação inclusiva,

todas as pessoas com deficiência devem ter a possibilidade concreta de alcançar o

Ensino Superior, como forma legítima de oportunidade de socialização e inserção no

mundo do trabalho. Discorrer-se-á sobre algumas leis e decretos que dizem respeito

à pessoa com deficiência em geral e aos alunos com deficiência no Ensino Superior,

em específico.

Paralelamente aos avanços normativos elencados, observa-se a mudança

nas terminologias adotadas, passando, por exemplo, de portadores de necessidades

especiais, até a atualmente utilizada, pessoa com deficiência.

Parece haver um entendimento de alguns pesquisadores da temática, a

exemplo de Mazzoni et al. (2001) de que as portas das Universidades devem estar

abertas a todos os alunos que demonstrem possuir condições intelectuais

necessárias para dar prosseguimento nos estudos naquele nível, ai incluído as

pessoas com deficiência. Assim, havendo o acesso do aluno à universidade, as

instituições de ensino e respectiva comunidade escolar devem engendrar meios,

dentre eles político e/ou atitudinal, que viabilizem a permanência dos alunos,

conferindo-lhes a real possibilidade de concluir os estudos, em condições que

favoreçam a aprendizagem.

Omote (2004), quando tece considerações sobre o decurso de dez anos da

Declaração de Salamanca, em relação à educação inclusiva revelou sua

preocupação com as práticas pedagógicas de algumas escolas que se auto-

declaram inclusivas, que apenas favorecem o acesso de alunos com deficiência na

instituição de ensino, sem, contudo, garantir a sua permanência com atendimento

especializado.

Trata-se, no entendimento do autor, de uma visão romanesca (romanceada)

da inclusão, que negligencia a realidade biológica e de condições incapacitantes,

podendo representar um retrocesso na concepção acerca das deficiências. Isso

porque a realidade anátomo-fisiológica de algumas diferenças precisa ser

reconhecida e acolhida, de forma que sejam possíveis a prescrição e a utilização,

com proveito, de recursos especiais que possam auxiliar as pessoas com deficiência

a reduzirem suas limitações.

Page 86: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

85

Um discurso que ignore essas limitações pode efetivamente, ou mesmo,

indiretamente, colaborar para manutenção dessa situação, e isso, em todas as

modalidades de ensino, o que também deve ser levado em consideração nos

aspectos normativos estudados.

As Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica (Brasil,

2001), instituídas pela Resolução nº 02/2001, da Câmara da Educação Básica do

Conselho Nacional de Educação, embora com foco naquele nível educacional

(básico), apontam para a necessidade de expansão do Ensino Superior aos alunos

com deficiência incluídos na Educação Básica.

Essa Resolução é considerada o primeiro documento normativo que faz

alusão à expressão ―educação inclusiva‖ no Brasil.

O documento contempla em seu sexto item as ―Etapas da escolarização de

alunos com necessidades especiais em qualquer espaço escolar‖. O texto dispõe

que após a educação infantil, ou seja, a partir dos seis anos de idade, a

escolarização do aluno que apresenta necessidades educacionais especiais

(preservada a denominação original) deve ocorrer nos mesmos níveis, etapas e

modalidades de educação e ensino que os demais alunos, ou seja, no Ensino

Fundamental, no Ensino Médio, na educação profissional, na educação de jovens e

adultos e na educação superior.

A Lei nº 4.024, de 20 de dezembro de 1961 (Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional - LDBEN), parece ser pioneira em abordar em seu Título X ―Da

Educação de Excepcionais‖ a inserção de pessoas com deficiência no ensino

regular, dispondo em seu artigo 88 que ―A educação de excepcionais deve, no que

for possível, se enquadrar no sistema geral de educação, a fim de integrá-los na

comunidade‖.

A Lei nº 5.692, de 11 de agosto de 1971, Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional - LDBEN), representa também um avanço, pois determina em

seu artigo 9º que ―Os alunos que apresentem deficiências físicas ou mentais, os que

se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os

superdotados deverão receber tratamento especial, de acordo com as normas

fixadas pelos competentes Conselhos de Educação‖.

Fagliari (2012), com apoio nas reflexões de Ferreira (1993), indica que uma

das relevâncias dessa Lei para o contexto da inclusão alia-se ao fato de que, após a

Page 87: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

86

sua vigência, a educação especial figurou como área importante nos planos setoriais

da educação e foi contemplada com a edição de normas e planos políticos em nível

nacional.

Não se localizou na literatura especializada legislação específica sobre a

inclusão no Ensino Superior na década de 1970.

Em relação especificamente à educação no Ensino Superior, há que ressaltar

a importância da Resolução nº 02, de 24 de fevereiro de 1981, do então Conselho

Federal de Educação, atual Conselho Nacional de Educação, que ―Autoriza a

concessão de dilatação de prazo de conclusão do curso de graduação aos alunos

portadores de deficiências físicas, afecções congênitas ou adquiridas‖. A aludida

resolução dispõe que: O PRESIDENTE DO CONSELHO FEDERAL DE

EDUCAÇÃO, no uso de suas atribuições, e tendo em vista as conclusões do Parecer

CFE nº 359/80, homologado pelo Ministro da Educação e Cultura, RESOLVE:

Art. 1º. Ficam as universidades e os estabelecimentos isolados de ensino superior autorizados a conceder dilatação do prazo máximo estabelecido para conclusão do curso de graduação que estejam cursando, aos alunos portadores de deficiências físicas, afecções congênitas ou adquiridas que importem em limitação de capacidade de aprendizagem. Art. 2º. A dilatação de prazo a que refere o artigo anterior não poderá ultrapassar de 50% (cinqüenta por cento) do limite máximo de duração fixado para o curso. Art. 3º. Nos casos em que a dilatação acima autorizada for reputada insuficiente, deverá a entidade submeter à apreciação do Conselho Federal de Educação a proposta sobre a espécie. Art. 4º. A presente Resolução entrará em vigor na data de sua publicação no Diário Oficial da União. Art. 5º. Revogam-se as disposições em contrário. (BRASIL, 1981)

A resolução nº. 05, de 26 de novembro de 1987, do mesmo Conselho Federal

de Educação, altera o Artigo 1º da Resolução nº 2/81, que passa a vigorar com a

seguinte redação:

Art. 1º Ficam as Universidades e os estabelecimentos isolados de ensino superior autorizados a conceder dilatação do prazo máximo estabelecido para conclusão de graduação que estejam cursando, aos alunos portadores de deficiências físicas, assim como afecções que importem em limitações de capacidade de aprendizagem. Tal

Page 88: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

87

dilatação poderá igualmente ser concedida em casos de força maior devidamente comprovados a juízo da Instituição. (BRASIL, 1987)

Essa resolução representa um importante passo para que alunos com

deficiência das mais diversas possam ampliar seu período de permanência na

instituição, quando se fizer necessário, com vistas à efetivação de sua aprendizagem

e conclusão do curso.

A Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em

5/10/1988, tem um importante significado no processo de democratização do ensino

no país. Em seu artigo 205, o documento apresenta a educação como direito de

todos e dever do Estado e da família. Dispõe que será promovida e incentivada com

a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu

preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Igualmente importante, é o disposto no inciso I do artigo 206, que

estabelece ―igualdade de condições de acesso e permanência na escola‖ e o inciso

III do artigo 208, que dispõe como um dos deveres do estado: ―atendimento

educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede

regular de ensino‖.

Outro marco normativo relevante é a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989,

que dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração

social e dá outros provimentos. Essa Lei foi regulamentada pelo Decreto nº 3.298,

de 20.12.99, sendo de substancial importância para o acesso da pessoa com

deficiência ao Ensino Superior, pois prevê em seu artigo 27: ―As instituições de

ensino superior deverão oferecer adaptações de provas e os apoios necessários,

previamente solicitados pelo aluno portador de deficiência, inclusive tempo adicional

para a realização das provas, conforme as características da deficiência‖.

Não especificamente voltada para a inclusão no Ensino Superior, mas de

substancial importância para o contexto, encontra-se a Portaria nº 1793, de

dezembro de 1994, do Ministério da Educação e do Desporto, que recomenda a

inclusão da disciplina ―Aspectos ético político educacionais da normalização e

integração da pessoa portadora de necessidades especiais‖, prioritariamente, nos

cursos de Pedagogia, Psicologia e em todas as Licenciaturas.

Page 89: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

88

A recomendação, seguida por uma minoria de instituições públicas de Ensino

Superior, postergada pela parcela majoritária, conforme pode ser observado no

estudo desenvolvido por Chacon (2001), ofereceu a oportunidade de aproximação

dos estudantes com o contexto da inclusão do aluno com deficiência.

Souza (2004) desenvolveu o estudo intitulado Um dilema da formação

jurídica: o papel das escolas de Direito frente às questões da inclusão, onde dedica

um capítulo para análises e reflexões sobre essa portaria ministerial quanto aos

aspectos históricos e técnicos.

O autor alia a importância da portaria ao fato de ser um ato normativo, através

do qual o Ministro da Educação pretendeu fazer valer o esforço governamental de

ver mais bem tratadas as questões relacionadas às pessoas com deficiência, ao

impor a necessidade de os cursos superiores trazerem, clara e objetivamente em

seus currículos, disciplinas ou conteúdos relativos às pessoas com deficiência.

Após discorrer sobre o histórico e o conteúdo da portaria ministerial, dos

aspectos constitucionais, seu motivo, objeto e finalidade, Souza (2004) passa a

considerar que a ―recomendação‖ não pode ser entendida como uma simples

recomendação em seu sentido lato, isto é, como um mero aconselhamento,

solicitação ou pedido. Ela é, na verdade, um comando normativo, impositivo, dotado

de força coercitiva e, por isso, de cumprimento obrigatório.

O autor manteve contato com representantes de cento e trinta e quatro cursos

de Direito mantidos por cento e dez instituições de Ensino Superior do estado de

São Paulo, quando solicitou dados referentes às ementas e conteúdos

programáticos das disciplinas: Direito Constitucional, Direito do Trabalho e Direitos

Humanos e da disciplina Direito Civil I, pois considerava a pouca possibilidade de

que em algum curso jurídico houvesse uma disciplina específica, criada

especialmente para dar atendimento à Portaria do MEC.

Finaliza suas considerações esclarecendo que dos 134 (cento e trinta e

quatro) cursos consultados, foi obtida resposta de 62 (sessenta e dois) deles, o

material necessário de 60 (sessenta), porém, o atendimento do preconizado pela

Portaria Ministerial por nenhum dos cursos. Indicou, finalmente, que as perspectivas,

contudo, não são desanimadoras, pois conseguiu vislumbrar em 3 (três) dos cursos

preocupações, ora com as pessoas deficientes ora com a inclusão social.

Page 90: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

89

Se houver uma reflexão sobre os dados trazidos à baila pelo autor, tendo

recebido para análise o material de sessenta instituições onde, na época, nenhuma

propiciava o atendimento descrito na Portaria Ministerial, mais do que

―desanimadoras‖, as perspectivas eram significativamente preocupantes.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional em vigência, LDB n°

9394/96, traz um capítulo que versa sobre a educação especial, o capítulo V, que

estabelece no artigo 58: ―Entende-se por educação especial, para os efeitos desta

Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular

de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais‖.

Alunos que até então eram matriculados somente nas escolas especiais

passam a contar com a possibilidade de se matricular na rede regular de ensino, por

força da Lei. O inciso I do artigo 59 da referida lei dispõe que os sistemas de ensino

assegurarão aos educandos com necessidades especiais: ―currículos, métodos,

técnicas, recursos educativos e organização específicos, para atender às suas

necessidades‖.

A portaria nº 1.679, de 2 de dezembro de 1999 é outro documento normativo

importante. Tal documento dispõe sobre os requisitos de acessibilidade de pessoas

portadoras de deficiência (preservado o termo original), para instruir processos de

autorização e de reconhecimento de cursos, e de credenciamento de instituições.

Assim, trata-se de uma legislação pioneira na adoção da terminologia

acessibilidade voltada especificamente para as pessoas com deficiência no Ensino

Superior, com base em requisitos estabelecidos pela Secretaria de Educação

Superior do Ministério da Educação, com o apoio técnico da Secretaria de Educação

Especial.

Os requisitos estabelecidos deveriam contemplar no mínimo, condições de

acessibilidade:

a) para alunos com deficiência física: eliminação de barreiras arquitetônicas para circulação do estudante, permitindo o acesso aos espaços de uso coletivo; reserva de vagas em estacionamentos nas proximidades das unidades de serviços; construção de rampas com corrimãos ou colocação de elevadores, facilitando a circulação de cadeira de rodas;

Page 91: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

90

adaptação de portas e banheiros com espaço suficiente para permitir o acesso de cadeira de rodas; colocação de barras de apoio nas paredes dos banheiros; instalação de lavabos, bebedouros e telefones públicos em altura acessível aos usuários de cadeira de rodas; b) para alunos com deficiência visual, compromisso formal da instituição de proporcionar, caso seja solicitada, desde o acesso até a conclusão do curso, sala de apoio contendo: máquina de datilografia braille, impressora braille acoplada a computador, sistema de síntese de voz; gravador e fotocopiadora que amplie textos; plano de aquisição gradual de acervo bibliográfico em fitas de áudio; software de ampliação de tela; equipamento para ampliação de textos para atendimento a aluno com visão subnormal; lupas, réguas de leitura; scanner acoplado a computador; plano de aquisição gradual de acervo bibliográfico dos conteúdos básicos em Braille. c) para alunos com deficiência auditiva, compromisso formal da instituição de proporcionar, caso seja solicitada, desde o acesso até a conclusão do curso: quando necessário, intérpretes de língua de sinais/língua portuguesa, especialmente quando da realização de provas ou sua revisão, complementando a avaliação expressa em texto escrito ou quando este não tenha expressado o real conhecimento do aluno; flexibilidade na correção das provas escritas, valorizando o conteúdo semântico; aprendizado da língua portuguesa, principalmente, na modalidade escrita, (para o uso de vocabulário pertinente às matérias do curso em que o estudante estiver matriculado); materiais de informações aos professores para que se esclareça a especificidade lingüística dos surdos. (BRASIL, 1999)

O Decreto nº 3298/1999, de 20 de dezembro de 1999, representa um avanço

significativo para o acesso e permanência do aluno com deficiência no Ensino

Superior. O artigo 27 do aludido projeto prevê que

As instituições de ensino superior deverão oferecer adaptações de provas e os apoios necessários, previamente solicitados pelo aluno portador de deficiência, inclusive tempo adicional para a realização das provas, conforme as características da deficiência. § 1º As disposições deste artigo aplicam-se, também, ao sistema geral do processo seletivo para ingresso em cursos universitários de instituições de ensino superior. (BRASIL, 1999)

Page 92: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

91

A questão da acessibilidade física é também um importante fator a ser

considerado neste contexto. Em 8 de novembro de 2000 foi sancionada a Lei nº

10.048, que dispõe sobre a prioridade de atendimento às pessoas com deficiência.

O artigo primeiro dessa lei dispõe que ―As pessoas portadoras de deficiência, os

idosos com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos, as gestantes, as lactantes

e as pessoas acompanhadas por crianças de colo terão atendimento prioritário, nos

termos desta Lei‖.

Está disposto no segundo artigo da lei que ―As repartições públicas e

empresas concessionárias de serviços públicos estão obrigadas a dispensar

atendimento prioritário, por meio de serviços individualizados que assegurem

tratamento diferenciado e atendimento imediato às pessoas a que se refere o art.

1º‖.

Já o artigo quarto preconiza que ―Os logradouros e sanitários públicos, bem

como os edifícios de uso público, terão normas de construção, para efeito de

licenciamento da respectiva edificação, baixadas pela autoridade competente,

destinadas a facilitar o acesso e uso desses locais pelas pessoas portadoras de

deficiência‖.

O Plano Nacional de Educação (2001) reservou um capítulo do documento, o

capítulo 8, para a ―Educação Especial‖. Esse documento trata como diretriz que ―A

Educação Especial, como modalidade de educação escolar, terá que ser promovida

sistematicamente nos diferentes níveis de ensino‖.

É traçada ainda como prioridade do referido plano ―A formação de recursos

humanos com capacidade de oferecer o atendimento aos educandos especiais nas

creches, pré-escolas, centros de educação infantil, escolas regulares de Ensino

Fundamental, Médio e Superior, bem como instituições especializadas e outras

instituições‖.

Dentre os objetivos e metas elencados no capítulo oitavo do plano, chama a

atenção o de número 10: ―Estabelecer programas para equipar, em cinco anos, as

escolas de educação básica e, em dez anos, as de educação superior que atendam

educandos surdos e os de visão subnormal, com aparelhos de amplificação sonora e

outros equipamentos que facilitem a aprendizagem, atendendo-se, prioritariamente,

as classes especiais e as salas de recursos‖.

Page 93: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

92

Como se observa, esse Plano Nacional de Educação estabeleceu diretrizes

para a promoção do direito à educação comum a todas as pessoas, incluindo as

pessoas com deficiência, reservando-lhes ainda o direito a receberem atendimento

educacional especializado, quando se fizer necessário. Estabeleceu ainda objetivos

e metas à formação em serviço e capacitação docente e as questões de

acessibilidade, com vistas à construção de uma escola ―integradora, inclusiva, aberta

à diversidade dos alunos‖.

A Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, apresenta também um avanço

normativo, pois dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras22 e dá outras

providências. A norma reconhece a Libras como meio legal de comunicação e

expressão, e outros recursos de expressão a ela associados. Essa Lei tem

correlação com o processo inclusivo no Ensino Superior, pois contempla em seu

artigo 4º a informação de que ―O sistema educacional federal e os sistemas

educacionais estaduais, municipais e do Distrito Federal devem garantir a inclusão

nos cursos de formação de Educação Especial, de Fonoaudiologia e de Magistério,

em seus níveis médio e superior, do ensino da Língua Brasileira de Sinais - Libras,

como parte integrante dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs, conforme

legislação vigente‖.

A Portaria nº 3.284, de 7 de novembro de 2003, revogou a Portaria nº 1.679,

de 2 de dezembro de 1999, anteriormente mencionada. Os documentos apresentam

redação similar, sendo acrescido na portaria vigente o parágrafo 2º, onde se lê: ―A

aplicação do requisito da alínea ―a‖ do inciso III do parágrafo anterior, no âmbito das

instituições federais de ensino vinculadas a este Ministério, fica condicionada à

criação dos cargos correspondentes e à realização regular de seu provimento.‖ As

instituições federais de Ensino Superior vinculadas ao MEC chamam para si a

responsabilidade da criação de cargos para atender a demanda de professores

intérpretes de línguas de sinais/língua portuguesa.

Em 2 de dezembro de 2004, foi promulgado o decreto nº 5.296 que

Regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de

atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que

22

Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. (BRASIL, 2002)

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93

estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das

pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras

providências.

O artigo quinto do decreto estabelece que

Os órgãos da administração pública direta, indireta e fundacional, as empresas prestadoras de serviços públicos e as instituições financeiras deverão dispensar atendimento prioritário às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida. (BRASIL, 2004)

Também tem substancial importância o artigo 24 do decreto, ao dispor que

Os estabelecimentos de ensino de qualquer nível, etapa ou modalidade, públicos ou privados, proporcionarão condições de acesso e utilização de todos os seus ambientes ou compartimentos para pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, inclusive salas de aula, bibliotecas, auditórios, ginásios e instalações desportivas, laboratórios, áreas de lazer e sanitários. (BRASIL, 2004)

O parágrafo primeiro do decreto alude que para a concessão de autorização de

funcionamento, de abertura ou renovação de curso pelo Poder Público, o

estabelecimento de ensino deverá comprovar que:

I - está cumprindo as regras de acessibilidade arquitetônica, urbanística e na comunicação e informação previstas nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT, na legislação específica ou neste Decreto; II - coloca à disposição de professores, alunos, servidores e empregados portadores de deficiência ou com mobilidade reduzida ajudas técnicas que permitam o acesso às atividades escolares e administrativas em igualdade de condições com as demais pessoas; e III - seu ordenamento interno contém normas sobre o tratamento a ser dispensado a professores, alunos, servidores e empregados portadores de deficiência, com o objetivo de coibir e reprimir qualquer tipo de discriminação, bem como as respectivas sanções pelo descumprimento dessas normas. (BRASIL, 2004)

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94

O decreto Lei nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005, regulamentou a Lei nº

10.436/2002, representando um avanço no que concerne à possibilidade de acesso

à pessoa com deficiência auditiva no Ensino Superior, por contemplar em seu

capítulo IV: ―do uso e da difusão da libras e da língua portuguesa para o acesso das

pessoas surdas à educação‖, o artigo 14, que determina que ―As instituições federais

de ensino devem garantir, obrigatoriamente, às pessoas surdas acesso à

comunicação, à informação e à educação nos processos seletivos, nas atividades e

nos conteúdos curriculares desenvolvidos em todos os níveis, etapas e modalidades

de educação, desde a educação infantil até a superior.”

O parágrafo terceiro do mesmo artigo estende essa determinação às

instituições privadas e às públicas dos sistemas de ensino federal, estadual,

municipal e do Distrito Federal.

O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (BRASIL, 2007), é

considerado um importante documento, uma vez que pretende colaborar para a

incorporação de aspectos dos principais documentos internacionais de direitos

humanos dos quais o Brasil é signatário, agregando demandas antigas e

contemporâneas de nossa sociedade pela efetivação da democracia, do

desenvolvimento, da justiça social e pela construção de uma cultura de paz.

O documento ratifica que, quando o Estado brasileiro tem como princípio a

afirmação dos direitos humanos como universais, indivisíveis e interdependentes, na

perspectiva da construção de uma sociedade baseada na promoção da igualdade de

oportunidades e da equidade, no respeito à diversidade e na consolidação de uma

cultura democrática e cidadã, tem o compromisso maior de promover uma educação

de qualidade para todos, buscando a universalização do Ensino Fundamental, a

ampliação da educação infantil, do Ensino Médio, da educação superior e a melhoria

da qualidade em todos esses níveis e nas diversas modalidades de ensino.

O plano preconiza como dever dos governos democráticos a garantia da

educação das pessoas com necessidades especiais, descrevendo como um dos

objetivos gerais do plano: incentivar formas de acesso às ações de educação em

direitos humanos a pessoas com deficiência. Dentre as importantes ações

propostas, destacam-se as ações programáticas voltadas para a Educação Superior,

que prevê em seu item 18: ―desenvolver políticas estratégicas de ação afirmativa nas

Page 96: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

95

IES que possibilitem a inclusão, o acesso e a permanência de pessoas com

deficiência e aquelas alvo de discriminação por motivo de gênero, de orientação

sexual e religiosa, entre outros e seguimentos geracionais e étnico-raciais‖.

Ainda em relação à educação no Ensino Superior, tem-se a Política Nacional

de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, Portaria nº 948 de 9

de outubro de 2007 (BRASIL, 2007a), que propõe que a educação especial deve se

efetivar por meio de ações que promovam o acesso, a permanência e a participação

dos alunos, através de ações que envolvam o planejamento e a organização de

recursos e serviços para a promoção da acessibilidade arquitetônica, nas

comunicações, nos sistemas de informação, nos materiais didáticos e pedagógicos,

que devem ser disponibilizados nos processos seletivos e no desenvolvimento de

todas as atividades que envolvam o ensino, a pesquisa e a extensão.

A Portaria Normativa nº 14, de 24 de abril de 2007, dispõe sobre a criação do

"Programa Incluir: Acessibilidade na Educação Superior" (BRASIL, 2007), que

consistia no fomento à implantação e/ou consolidação de núcleos de acessibilidade

que promovam ações para a garantia do acesso pleno às pessoas com deficiência,

constituindo uma política de inclusão que torne acessível o ambiente físico, portais e

sítios eletrônicos, os processos seletivos, as práticas educativas, as comunicações e

as avaliações, dando respostas concretas às diferentes formas de exclusão.

Rodrigues (2010) considera que a implementação do Decreto nº 5.296/2004 e

a Portaria Normativa nº 14, com a intensificação dos movimentos em prol da

inclusão, aliados a uma demanda crescente de alunos que possuíam algum tipo de

necessidade educacional especial e a luta de alguns profissionais da escola,

colaborou para a criação do Núcleo de Apoio às Pessoas com Necessidades

Especiais, tanto no Instituto Federal do Rio Grande do Norte, quanto em

praticamente todos os institutos federais. O MEC divulgou em 19/06/2012 uma

relação de Núcleos de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas –

Ação TEC NEP23 – constando 272 Institutos Federais cadastrados no programa.

23

O TEC NEP é uma ação coordenada pela Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica do Ministério da

Educação que visa à inserção das Pessoas com Necessidades Educacionais Específicas – PNE – (deficientes, superdotados/altas habilidades e com transtornos globais do desenvolvimento) em cursos de formação inicial e continuada, técnicos, tecnológicos, licenciaturas, bacharelados e pós-graduações da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, em parceria com os sistemas estaduais e municipais de ensino. Disponível

em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?catid=190:setec&id=12779:programa-tec-nep&option=com_content&view=article>.

Page 97: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

96

Diante desta síntese acerca da legislação, é possível tecer algumas breves

considerações.

A legislação direcionada especificamente à pessoa com deficiência no Ensino

Superior é relativamente recente. Um exemplo é a Lei nº 7.583, de 24 de outubro de

1989, regulamentada através do Decreto nº 3.298, de 20.12.99, com apenas vinte e

três anos de vigência. Sua importância reside principalmente no fato de determinar o

oferecimento de adaptações de provas e os apoios necessários, a exemplo de

tempo adicional, de acordo com as características da deficiência.

Trata-se de um documento de relevância ímpar, uma vez que pode colaborar

para a promoção do acesso do aluno com deficiência à Universidade, por meio dos

exames vestibulares, bem como a sua permanência na instituição, com adequações

das avaliações.

Outro documento normativo importante apresentado é a Portaria nº 1.679, de

2 de dezembro de 1999, que dispõe sobre os requisitos de acessibilidade das

pessoas com deficiência para a instrução dos processos de autorização e de

reconhecimento de cursos e de credenciamento de instituições. Nessa perspectiva,

instituições de ensino, tanto públicas quanto privadas, deveriam passar a considerar

os requisitos estabelecidos pela Secretaria da Educação Superior do Ministério da

Educação, contemplando condições de acessibilidade para alunos com deficiência

física, visual ou auditiva.

Algumas instituições de Ensino Superior passaram a criar comissões de

acessibilidade para promover as adequações propostas nessa portaria.

Observa-se que a legislação apresentada centra-se, principalmente, nas

questões ligadas à acessibilidade física. Mas, outros avanços podem ser

encontrados nas diretrizes do Plano Nacional de Educação (2001), que traça como

prioridade a formação de recursos humanos para os educandos especiais, desde as

creches até o Ensino Superior, além do estabelecimento de programas para equipar,

da educação básica a educação superior, instituições que atendam alunos surdos e

de visão subnormal, com aparelhos de amplificação sonora e outros equipamentos

que facilitem a aprendizagem.

Nesse sentido, Santos e Paulino (2006) ressaltam que a ‗quantidade‘ não

representa o único fator relacionado à inclusão, mas que é fundamental garantir

Page 98: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

97

‗qualidade‘ na educação quer seja nas instituições superiores, quer seja nos demais

níveis de ensino.

O autor deste estudo acredita que, em que pese os inegáveis avanços

observados na legislação, deveria haver uma ―orientação‖ específica, respeitados os

princípios de autonomia das Universidades, propondo que todas as instituições de

Ensino Superior, privadas ou públicas (quer sejam municipais, estaduais ou

federais), institucionalizassem uma comissão interna de acessibilidade composta por

membros da comunidade acadêmica, órgãos representativos de direitos das

pessoas com deficiência e, principalmente, dos próprios alunos com deficiência e

familiares, com a ―exigência‖ de apresentação de relatório com periodicidade

estabelecida, consignando a quantidade de alunos com deficiência matriculados,

tipo e grau das deficiências, dificuldades e necessidades específicas e as ações

engendradas pela instituição para superá-los ou minimizá-los, com respostas

concretas às diferentes formas de exclusão.

Discorrido brevemente acerca dos aspectos legais e normativos da educação

especial no Ensino Superior, a próxima seção tratará do acesso dos alunos com

deficiência no Ensino Superior.

3.3 O acesso do aluno com deficiência ao Ensino Superior no Brasil

A possibilidade de acesso à educação e ao mundo do trabalho está

fortemente ligada à formação da identidade do sujeito, seja pessoa com deficiência

ou não. De acordo com Lopes (1996), a formação da identidade individual plena só

se dá no reconhecimento da pessoa como membro de um grupo maior, inclusivo.

Para Ferreira e Duarte (2010), a formação em nível superior, de uma forma

geral, tem se constituído em um diferencial para a possibilidade de inserção no

mundo do trabalho e da empregabilidade. Assim, num mercado de trabalho

globalizado, com expansão do nível de exigência, a falta de escolarização e

qualificação representa um grande obstáculo no processo de inclusão.

Page 99: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

98

Os autores referem também que entre a população com deficiência, a

quantidade de pessoas com o mínimo de escolarização e qualificação para ingresso

no mercado de trabalho é extremamente baixa.

De acordo com Tanaka (2007), em virtude dos empecilhos existentes em

nosso sistema social, um número reduzido de pessoas com deficiência consegue

concluir o Ensino Médio, ter formação técnica ou chegar até uma Universidade. Essa

falta de escolaridade e qualificação profissional prejudica seu acesso ao mercado de

trabalho competitivo, pois são esses os requisitos exigidos pela maioria dos postos

de trabalho.

Um desses empecilhos apontados pelo autor refere-se à adoção de novas

tecnologias de trabalho no mundo globalizado, que tem provocado mudanças no

sistema produtivo das instituições. Isso porque a concepção de trabalho vem sendo

modificada e reconstruída, exigindo desta forma revisão no perfil do trabalhador.

Nesse sentido, para que a pessoa com deficiência tenha condições de ocupar seu

espaço no mundo do trabalho, altamente competitivo, sua formação profissional

precisa ser também revista.

Em que pese à reconhecida necessidade de formação, Freire (1971) há

tempos advertia para o fato de que a educação não deve ser encarada de forma

ingênua, como algo milagroso, que apenas por si poderia fazer as alterações sociais

necessárias à passagem da sociedade brasileira para a essência da democracia.

Desde então ele enfatizava a sua força instrumental, indicando que a

democratização do ensino é condição primordial para a ocorrência da igualdade de

oportunidades, afirmando que ―se a educação sozinha não transforma a sociedade,

sem ela, tampouco, a sociedade muda‖ (FREIRE, 2000, p. 67).

Laplane (2007) lembra que mesmo que não haja consenso quanto ao

potencial da educação para a reversão do quadro de desigualdades sociais, uma

vez que parte dos especialistas aponta que o desenvolvimento, o aumento da renda

per capita e do emprego ocorrem em virtude das políticas macroeconômicas

adotadas, a maioria dos estudos destaca a importância dos fatores relacionados à

educação na contribuição da formação de mão de obra para o mundo do trabalho.

Alude a autora que a educação é apenas uma entre várias práticas sociais

institucionalizadas, refletindo as contradições presentes na sociedade, o confronto

Page 100: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

99

de tendências e interesses e o jogo de forças, afirmando que o combate às atitudes

discriminatórias deve ser inserido em tal contexto.

Para se perceber uma dimensão da complexidade do tema, a primeira

pergunta que se pode fazer é: qual o número de pessoas declaradas com deficiência

no Brasil? O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou dados

referentes ao censo demográfico de 2010, apresentando uma tabela da população

residente por tipo de deficiência permanente, reproduzida na tabela 1.

Tabela 1: população residente por tipo de deficiência permanente

Deficiência Grau informado Quantidade

Visual

Não consegue de modo algum 506.377

Grande dificuldade 6.056.533

Alguma dificuldade 29.211.482

Auditiva

Não consegue de modo algum 344.206

Grande dificuldade 1.798.967

Alguma dificuldade 7.574.145

Motora

Não consegue de modo algum 734.421

Grande dificuldade 3.698.929

Alguma dificuldade 8.832.249

Mental/intelectual 2.611.536

Total (com pelo menos uma das deficiências) 45.623.910

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 201024. Foi mantido o título original da tabela.

O Censo Demográfico 2010 revelou que a população brasileira naquele ano

era composta por 190.755.799 (cento e noventa milhões, setecentos e cinquenta e

cinco mil e setecentos e noventa e nove) habitantes.

Dessa população, 45.623.910 (quarenta e cinco milhões, seiscentos e vinte e

três mil e novecentos e dez) habitantes declararam possuir algum tipo de deficiência,

lembrando que essa quantidade corresponde às pessoas com pelo menos uma das

deficiências consideradas na pesquisa.

Verifica-se, desta forma, que 23,91% da população, ou seja, quase 1/4 das

pessoas declararam possuir algum tipo de deficiência, nas modalidades indicadas, o

que pode se melhor verificado no gráfico 1. A deficiência visual, composta por

24

Cabe esclarecer que os dados utilizados para gerar os resultados que compõem esta divulgação são preliminares, pois ainda não foram submetidos a todos os processos de crítica inerentes ao Censo Demográfico 2010. No entanto, como existe uma grande demanda por essas informações, o IBGE está divulgando um conjunto de dados para o Brasil, Grandes Regiões e Unidades da Federação. (Notas Técnicas, Resultados Preliminares da Amostra, IBGE, 2011).

Page 101: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

100

pessoas com alguma dificuldade para enxergar, grande dificuldade ou que não

enxergam de modo algum, representa a parcela majoritária do total das pessoas

com pelo menos um tipo de deficiência, ou seja, 78,66%.

O Censo Demográfico 2010 apresentou um aumento significativo do total de

pessoas que se declararam com deficiência, comparativamente com o Censo

realizado no ano 2000.

Gráfico 1: Percentual da população com deficiência, segundo o tipo de deficiência investigada – Brasil, 2010.

Curiosamente, o Censo Demográfico 2000 apresentou uma população de

169.590.693 (cento e sessenta e nove milhões, quinhentos e noventa mil e

seiscentos e noventa e três) habitantes, indicando a ocorrência de 24.600.256 (vinte

e quatro milhões, seiscentos mil e duzentos e cinqüenta e seis) habitantes com

algum tipo de deficiência, ou seja, 14,48%. A população, naquele intervalo, cresceu

12,29%, enquanto os que se autodeclararam com algum tipo de deficiência quase

dobrou, passando de 14,48% para 23,91%.

Algumas hipóteses foram levantadas para justificar a diferença tão

significativa, tendo o Instituto informado que em 2010 houve uma simplificação no

inquérito de maneira a apurar diretamente os níveis de incapacidade e a deficiência

intelectual, podendo ser esse um dos implicativos a ser considerado.

O IBGE esclareceu ainda que no Censo Demográfico 2000, as pessoas com

deficiência não puderam ser recenseadas com a devida precisão, pois a pesquisa foi

realizada por amostragem a cada 10 residências e não por um número real, como no

recenseamento realizado em 2010.

23,9

18,8

5,1 7

1,4 0

5

10

15

20

25

30

Pelo menos uma das uma deficiência

deficiênciavestigadas

Deficiência Visual

Deficiência Auditiva

Deficiência Motora

Deficiência

Intelectual/Mental

Page 102: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

101

Embora tenha havido essa antecipação de dados pelo IBGE, tais informações

devem ser vistas com cautela, uma vez que ainda não são definitivas e destoam

significativamente da realidade anterior, em que pese os esclarecimentos iniciais

oferecidos por aquele instituto.

Ademais, de acordo com Nascimento (2012), o número divulgado pelo IBGE

2000 (14,5%) é semelhante aos países que utilizam forma similar de contabilizar as

pessoas com deficiência, tais como: os Estados Unidos (15%) e a Austrália (18%).

A título de exemplo, na realidade brasileira, pode ser observado o número das

pessoas que declararam deficiência visual no Censo Demográfico 2000, passando

de 48% naquela ocasião, para 78,4% em 2010.

Qualquer que seja o número a ser oficializado pelo IBGE, trata-se, sem

dúvida, de uma parcela significativa da população brasileira com algum tipo de

deficiência. Mas, diante de uma população tão expressiva, em termos educacionais,

existe também representatividade das pessoas com deficiência no cenário nacional?

O gráfico a seguir apresenta, em porcentagem, o tempo de estudo das

pessoas com deficiência, indicando que 51,1% daquela população contava, no ano

2000, com até 07 (sete) anos de estudo, ou seja, possuía o Ensino Fundamental

incompleto.

Gráfico 2: Tempo de estudos das pessoas com deficiência.

Fonte: Centro de Políticas Sociais/FGV, IBGE, Censo (2000)

Nota-se que somente 1,6% daquela população possuía 12 ou mais anos de

estudo. Admitindo-se a razão de 08 anos de estudo para o Ensino Fundamental e 03

anos para o Ensino Médio, o que totalizaria 11 anos, é razoável supor que essa

Page 103: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

102

porcentagem de alunos com deficiência havia concluído o Ensino Médio e,

possivelmente, alguns cursavam, ou teriam cursado o Ensino Superior.

Os dados divulgados pelo IBGE não apresentam números exatos de quantas

pessoas com deficiências estão cursando o Ensino Médio ou já completaram e, de

tal forma, estariam aptas a concorrer a uma vaga no Ensino Superior.

A expansão do Ensino Superior público e privado vem paulatinamente se

efetivando no Brasil. No censo da educação superior25 do ano de 2009, divulgado no

ano de 2010, consignou-se que das 2.314 (duas mil trezentos e quatorze)

Instituições de Ensino Superior participantes do recenseamento, foram registradas

5.954.021(cinco milhões, novecentos e cinqüenta e quatro mil e vinte e uma)

matrículas em 28.671 (vinte e oito mil seiscentos e setenta e um) cursos de

graduação, presenciais e à distância.

À guisa de comparação, no ano de 2000, o Inep divulgou que havia 2.694.245

(dois milhões, seiscentos e noventa e quatro mil, duzentos e quarenta e cinco)

alunos matriculados em cursos de graduação, o que representa, para o exercício de

2009, um acréscimo no total de matrículas de 98,47% em dez anos. Fazendo um

comparativo em relação ao crescimento demográfico, constata-se que no censo

demográfico 200026, a população brasileira contava com 169.799.170 (cento e

sessenta e nove milhões, setecentos e noventa e nove mil e cento e setenta)

habitantes, enquanto o censo demográfico 2010 contabilizou 190.732.694 (cento e

noventa milhões, setecentos e trinta e dois mil e seiscentos e noventa e quatro)

habitantes, ou seja, houve uma evolução demográfica de 12,32%.

Desta forma, naquele decênio, enquanto a população brasileira teve um

acréscimo de pouco mais de um décimo, as matrículas dos estudantes no nível

superior, praticamente, dobraram.

Mas, tal evolução teria se comportado da mesma forma em relação ao aluno

com deficiência no Ensino Superior?

É oportuno inserir aqui alguns resultados do Censo da Educação Especial,

realizado entre os anos de 2003 e 2005, que apresenta o crescimento do número de

alunos com deficiência matriculados naquele período.

25

O Censo da Educação Superior é realizado anualmente pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e objetiva fornecer informações detalhadas sobre a Educação Superior e suas tendências. 26

Resultado obtido junto ao Censo Demográfico 2000, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

Page 104: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

103

Tabela 2: Evolução de matrículas de alunos com deficiência no Ensino Superior de 2003 a 2005

Ano Públicas Privadas Total % acumulada 2003 1373 3705 5078 0 2004 1318 4074 5392 6,18 2005 3809 8190 11999 136,29

Fonte: BRASIL, (2006, p. 7).

Entre os anos de 2003 a 2005, observa-se um acréscimo na quantidade de

matrículas de alunos com deficiência no Ensino Superior, passando de 5078 no ano

de 2003 para 11999 em 2005, o que representa uma evolução de mais de 136% do

total de matrícula.

Separadamente, nas instituições públicas, observa-se inicialmente uma

diminuição de matrículas de alunos com deficiência entre os anos de 2003 e 2004

(da ordem de 4%), ampliando no ano de 2005 para 3809 matrículas, ou seja, uma

ampliação da matrícula em relação ao ano de 2003 de 277,42%, quase triplicando a

quantidade de matrículas em dois anos.

Naquele mesmo período, no ensino privado, há um acréscimo de 121,05%

das matrículas, o que demonstra que a evolução das matrículas no Ensino Superior,

embora ainda módica, como se observou, ocorreu de forma mais ampla no ensino

público.

A tabela 3, inserida abaixo, demonstra a evolução do número de matrículas

nas modalidades de cursos presencial e a distância, no ensino público e privado no

Brasil, entre os anos de 2001 a 2010.

Tabela 3: Evolução do Número de Matrículas (presencial e a distância) por Categoria Administrativa – Brasil – 2001-2010 Ano

Matrículas

Total Pública Privada

Total % Federal % Estadual % Municipal % Privada %

2001 3.036.113 944.584 31,1 504.797 16,6 360.537 11,9 79.250 2,6 2.091.529 68,9 2002 3.529.627 1.085.977 30,8 543.598 15,4 437.927 12,4 104.452 3,0 2.434.650 69,2 2003 3.936.933 1.176.174 29,9 583.633 14,8 465.978 11,8 126.563 3,2 2.760.759 70,1 2004 4.223.344 1.214.317 28,8 592.705 14,0 489.529 11,6 132.083 3,1 3.009.027 71,2 2005 4.567.798 1.246.704 27,3 595.327 13,0 514.726 11,3 136.651 3,0 3.321.094 72,7 2006 4.883.852 1.251.365 25,6 607.180 12,4 502.826 10,3 141.359 2,9 3.632.487 74,4 2007 5.250.147 1.335.177 25,4 641.094 12,2 550.089 10,5 143.994 2,7 3.914.970 74,6 2008 5.808.017 1.552.953 26,7 698.319 12,0 710.175 12,2 144.459 2,5 4.255.064 73,3 2009 5.945.021 1.523.864 25,6 839.397 14,1 566.204 9,5 118.263 2,0 4.430.157 74,4 2010 6.379.299 1.643.298 25,8 938.656 14,7 601.112 9,4 103.530 1,6 4.736.001 74,2 Fonte: MEC/Inep

Page 105: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

104

Observa-se a evolução naquele período da ordem de 110,11% no total de

matrículas no decênio, ou seja, mais do que o dobro. Não obstante, o número de

matrículas de pessoas com deficiência passou de 2173 no ano 2000 para 20019 no

ano de 2009, representando para esse decênio um acréscimo de 921,26%.

Embora efetivamente tenham ocorrido avanços, a quantidade de alunos com

deficiência matriculados em instituições de Ensino Superior é ainda ínfima. De

acordo com dados divulgados pelo Censo da Educação Superior 2009, naquele ano

apenas 0,34% dos alunos com deficiência frequentavam o Ensino Superior, levando-

se em consideração, ainda que em relação à educação superior pública, tal índice

se afunila.

Tal diferença pode ser observada no Censo da Educação Superior,

principalmente entre os anos de 2000 e 2005, quando o Inep informou que a

quantidade de alunos com deficiência matriculados deixou de ser majoritariamente

no ensino público, passando para o ensino privado.

Segundo o instituto, em 2000, as universidades públicas contemplavam 1135

alunos com deficiência (52,23%), enquanto as privadas, 1038 (47,77%). No ano de

2005, esse quadro se alterou para 4.247 alunos, ou seja, 67% dos alunos estavam

matriculados em instituições particulares.

O autor deste estudo acredita ser pertinente tecer algumas considerações

sobre os números e índices inseridos nesta seção. Tais números foram divulgados

por instituições vinculadas a órgãos governamentais e têm sido contemplados em

relatórios oficiais, além de estudos sobre a inclusão de pessoas com deficiência no

Ensino Superior, como Ferreira e Duarte (2010).

Não obstante, esses dados vêm sendo questionados com frequência, por

fundações e organizações representativas de pessoas com deficiência. Podem ser

tomados como exemplo, os dados parciais publicados referentes ao Censo

Demográfico 2010, uma vez que parcela dos participantes do recenseamento

afirmou que, durante a realização da entrevista, não foi perguntado para os

respondentes se havia alguma pessoa com deficiência habitando sua residência.

Segundo informações veiculadas pelo ―Relatório sobre a prevalência de

deficiências, incapacidades e desvantagens‖27, até a última década do século XX

27

Esse relatório, publicado em 2004, apresentou a sistematização dos estudos realizados em 21 cidades brasileiras, contemplando entrevistas domiciliares da Organização Pan-americana de Saúde,

Page 106: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

105

não havia no Brasil dados oficiais sobre a população com deficiência, sendo que as

políticas públicas voltadas para essa população baseavam-se em estimativas da

Organização Mundial de Saúde, para a qual 10% da população de um país, em

tempos de paz, tinham algum tipo de deficiência.

Diante desse cenário, a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989 (BRASIL,

1989), trouxe a obrigatoriedade da inclusão de questões específicas sobre a

população com deficiências nos censos nacionais, como condição essencial para o

conhecimento da realidade brasileira e indispensável para sustentar a definição de

políticas públicas coerentes com as necessidades e particularidades do país.

Januzzi e Januzzi (1994) referiram que o Censo Demográfico de 1991

consignou a presença de 2.198.988 pessoas com deficiência para uma população

de 146.815.750 habitantes, ou seja, 1,49% de deficientes, um número extremamente

baixo, levando-se em consideração a estimativa da Organização Mundial de Saúde.

O Censo Demográfico de 2000 registrou que 14,5% da população declarou

naquela oportunidade possuir algum tipo de deficiência, enquanto o Censo

Demográfico de 2010 apresentou o índice de 23,9%, conforme último

recenseamento.

A diferença entre esses números, em que pese o contexto em que foram

apurados, recomenda que sejam considerados com cautela, uma vez que o

Relatório sobre a prevalência de deficiências, incapacidades e desvantagens,

anteriormente mencionado, divulgou que as taxas encontradas foram inferiores às

do Censo 2000. Durante a apresentação dos resultados, é ressaltado o fato de que

por se tratar de uma metodologia mais específica, que inclui um procedimento como

um exame de validação, que é uma avaliação dos indivíduos que apresentam

suspeitas de deficiências por especialistas em reabilitação, o estudo para

determinação de prevalência de incapacidades, conforme proposta da OPS, permite

melhor delimitação das incapacidades, separando casos de deficiências ou agravos,

que podem vir a ser incapacitantes, dos casos onde realmente as incapacidades já

estão instaladas.

O relatório apresenta, como uma das diferenças mais significativas, as

deficiências visuais, que, segundo o Censo 2000, atingia 48% da população com

envolvendo a prevalência de deficiências físicas nas populações brasileiras. Disponível em: <http://portal.mj.gov.br/corde/arquivos/pdf/Rel_Pesquisa.pdf>

Page 107: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

106

deficiência; apenas seis (das vinte e uma cidades contempladas no estudo)

apresentaram índices superiores a 5%.

Diante disto, os dados apresentados nesta seção têm somente o objetivo de

situar o leitor em relação aos números divulgados pelos institutos, porém,

esclarecendo que são significativamente mais expressivos do que os números de

prevalência anteriormente mencionados.

Após este breve levantamento sobre o índice em porcentagem de alunos com

deficiência matriculados no Ensino Superior em nível de Brasil, passa-se a

considerar especificamente o caso da UNESP de Presidente Prudente.

3.4 Os dídimos da UNESP de Presidente Prudente

Diz-se que Dídimo28, o cego, foi um teólogo que viveu entre os anos 313 a

398 dC e era considerado um dos grandes mestres da primeira Universidade de

estudos filosóficos e teológicos de Alexandria. O teólogo conhecia e recitava a

Bíblia de cor e, tendo perdido a visão em tenra idade, continuou seus estudos,

sendo que ele próprio teria gravado o alfabeto em madeira para utilizar o tato.

Obviamente, a inserção desse personagem histórico no contexto deve ser

tomada pelo leitor no sentido figurado, como um convite para refletir sobre as

possibilidades de acesso e permanência dos alunos com deficiência no ensino

regular em geral e no superior em particular nos dias atuais.

Da mesma forma que Dídimo, provavelmente, outras pessoas com

deficiência, consistindo em patologias das mais diversas, em diferentes épocas,

inseriram-se nos espaços acadêmicos. Mas, transcorrido mais de dezessete

séculos, a presença das pessoas com deficiência na Universidade é ainda tão

inexpressiva, que, a exemplo do teólogo, os alunos das Universidades públicas,

como pretende elucidar este estudo na UNESP de Presidente Prudente, poderiam

ser considerados também ―dídimos‖.

28

Didymus, Enciclopédia Britânica, 11ª edição, volume 7, parte 1, pág. 393, 1963. Disponível também em Migne, Patrol. Graec. xxxix;. O. Bardenhewer, Patrologie, pp 290-293 (Freiburg, 1894).

Page 108: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

107

É claro que aqui se admitem as dificuldades de inserção e diferenças também

significativas em relação a outras variáveis, como a classe social, o público X

privado, áreas de estudo como humanas X biológicas, dentre outras.

Dídimos porque não esperaram passivamente que a instituição se adequasse

previamente para recebê-los, mas inseriram-se, revelando à comunidade acadêmica

que a inclusão é possível e que, além de viabilizar acessibilidade física, atitudes

sociais genuinamente favoráveis29, poderiam permitir que muitos estudantes com

deficiência se sentissem motivados para buscar uma formação em nível superior.

São quatro os ―dídimos‖ deste campus, nomeadamente João, Lucas, Marcos

e Mateus30, matriculados respectivamente nos cursos Ciências da Computação,

Educação Física, Geografia e Pedagogia. João é ―muletante‖31, acometido de

Agenesia Sacral32; cursa atualmente o terceiro ano de Ciências da Computação

vespertino/noturno. Lucas, matriculado no terceiro ano de Educação Física matutino,

é cadeirante e adquiriu paraplegia há sete anos em virtude de um acidente com

motocicleta. Marcos, que cursa o primeiro ano de Geografia matutino, é também

cadeirante, tendo adquirido paraplegia por conta de um acidente automobilístico.

Finalmente, Mateus, aluno do primeiro ano de Pedagogia vespertino, foi acometido

de paralisia infantil.

Esse número de alunos com deficiência, no exercício de 2011, no contexto de

3.000 matriculados, representava 0,13%33 do alunado matriculado na UNESP de

Presidente Prudente.

O índice de matrículas na instituição de ensino é semelhante ao apresentado

no estudo de Oliveira (2007), que, com base no censo escolar (INEP/MEC) 2005,

informou que das 646.645 matrículas efetuadas na educação especial, 65%

29

Expressão referida por Omote (2005). 30

Nomes fictícios com vistas a preservar o anonimato dos sujeitos da pesquisa. A escolha dos nomes é igualmente figurativa. 31

Para Sassaki (2003), no contexto coloquial, é correto o uso do termo muletante para se referir a uma pessoa que anda apoiada em muletas. Essa terminologia vem sendo adotada em sites oficiais. Neste estudo, o termo foi mantido uma vez que o participante assim se denomina. 32

A agenesia lombossacra é uma anomalia esquelética e neurológica caracterizada pela ausência de quantidades variáveis do sacro, da coluna lombar e dos seus elementos neurológicos associados. Damasceno LHF, Nogueira-Barbosa MH, Defino HLA. COLUNA/COLUMNA. Agenesia da coluna lombossacra. 2006, pg 140-147. Disponível em http://www.plataformainterativa2.com/coluna/html/revistacoluna/volume5/agenesia_270906.pdf, acessado em 16/08/2011. 33

Curiosamente, o estudo conduzido por Borges (2011) que investigou ―A inclusão de alunos com deficiência em cursos presenciais de graduação da Universidade Federal de Juiz de Fora‖ detalhado em seção específica adiante, revelou o mesmo índice de alunos com deficiência matriculados na instituição, ou seja, 0,13%.

Page 109: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

108

concentravam-se no Ensino Fundamental (ciclos I e II) e apenas 1%, ou seja, 0,14%

das matrículas no Ensino Superior era composto por pessoas com deficiência.

Nesta Unidade Escolar, no exercício de 2011, em termos de gênero, a

população de alunos com deficiência era representada por alunos de sexo

masculino, apresentando respectivamente as idades: 20, 26, 30 e 29 anos.

A caracterização do perfil socioeconômico dos alunos se fará em seção

específica do capítulo V.

Passa-se ao capítulo concernente ao método.

Page 110: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

109

4 MÉTODO

M É T O D O

Page 111: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

110

Este capítulo descreve os participantes da pesquisa, os materiais utilizados

para a coleta de dados, bem como os procedimentos de coleta e análise de dados.

Para a realização do presente estudo foi solicitada à direção da Unidade autorização

para a coleta dos dados, sendo a autorização formal concedida pela direção da

FCT/UNESP em 20/10/11, conforme anexo ―B‖.

4.1 Participantes

A Faculdade de Ciência e Tecnologia/UNESP de Presidente Prudente

contava no exercício de 2011 com 4 (quatro) alunos com deficiência: 1 (um) no curso

de Ciência da Computação, 1 (um) no curso de Educação Física, 1 (um) no curso de

Geografia e 1 (um) no curso de Pedagogia. O Quadro 1 apresentado identifica os

alunos com deficiência matriculados, descrevendo ainda as patologias pelas quais

são acometidos:

Quadro 1: Alunos com deficiência matriculados no campus

Aluno Curso Ano Patologia Deficiência Equipamento

João Ciência da Computação 3º Agenesia Sacral Congênita Muletante

Lucas Educação Física 3º Paraplegia Adquirida Cadeirante

Marcos Geografia 1º Paraplegia Adquirida Cadeirante

Mateus Pedagogia 1º Paralisia Infantil Congênita Não utiliza

Obs: os alunos Lucas e Marcos adquiriram paraplegia em virtude respectivamente de acidentes motociclístico e automobilístico.

Assim, compuseram esse trabalho os quatro alunos com deficiência,

matriculados no Campus no ano de 2011, e todos os alunos das respectivas salas

desses, compondo o que denominamos de Grupo Experimental34, e todos os alunos

das salas usadas para o pareamento dessas, compondo o Grupo de Controle.

34

De acordo com Borkowski (1977), o plano experimental mais básico, apropriadamente controlado, de grupos separados, consiste naquele em que se ministra a um grupo (experimental) uma dose de uma variável [neste estudo a presença de alunos com deficiência em sala de aula] e a outro grupo (de controle) não se ministra dose alguma. Todas as outras condições são as mesmas para ambos os grupos. Depois da exposição às duas condições (presença ou não de alunos com deficiência em sala de aula) os dois grupos são testados (através da aplicação da ELASI) no tocante a diferenças de desempenho numa tarefa de critério (qual grupo tem atitudes sociais mais favoráveis em relação à inclusão do aluno com deficiência).

Page 112: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

111

Totalizando, assim, 207 alunos. O Quadro 2 a seguir detalha a composição da

casuística utilizada.

Quadro 2: Descrição dos participantes da pesquisa

Grupo Experimental Grupo Controle Total Curso Ano N Curso Ano N

Ciência da Computação 3º 28 Ciência da Computação 2º 22 50 Educação Física 3º 23 Educação Física 2º 33 56 Geografia 1º 31 Geografia 2º 26 57 Pedagogia 1º 19 Pedagogia 2º 25 44 Total parcial (GE) 101 Total parcial (GC) 106 207

4.2. Material

Para a realização da pesquisa, foram utilizados os seguintes materiais: a

Escala Likert de Atitudes Sociais em Relação à Inclusão (ELASI), apresentada no

anexo A, aplicada a todos os participantes, e um questionário (apêndice A) para

investigar o sentimento de acolhimento dos alunos com deficiência.

A escala contém 35 itens, sendo 30 para mensuração de atitudes sociais

frente à inclusão e cinco que compõem a escala da mentira. Cada item contempla

cinco alternativas onde se indica o grau de concordância ou discordância de cada

respondente em relação ao seu conteúdo (concordo inteiramente, concordo mais ou

menos, nem concordo nem discordo, discordo mais ou menos e discordo

inteiramente).

Excetuando os cinco itens da escala da mentira, a escala apresenta quinze

itens positivos e quinze negativos. A concordância com enunciados positivos

expressa atitudes mais favoráveis em relação à inclusão e vice-versa.

Os itens da escala são compostos por enunciados de dimensão ideológica ou

operacional. Os enunciados que compõem a dimensão ideológica contemplam

princípios que fundamentam a proposta da inclusão, enquanto os enunciados que se

referem à dimensão operacional abordam as ações para a operacionalização dos

princípios da inclusão.

Na escala adotada neste estudo (forma A), a dimensão ideológica é composta

por 21 enunciados, dentre os quais, onze são favoráveis e dez desfavoráveis em

Page 113: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

112

relação à inclusão. Em relação à dimensão operacional, são 9 os enunciados, sendo

que quatro deles são favoráveis e cinco desfavoráveis.

Na atribuição de pontos às respostas assinaladas, a valência de cada

enunciado deve ser considerada. Para itens positivos, a alternativa que expressa

maior grau de concordância deve receber a maior pontuação e a que expressa o

maior grau de discordância, a menor pontuação. (OMOTE, 2008).

São atribuídos valores aos itens, em função da alternativa assinalada,

obedecendo ao seguinte critério: nos positivos, a nota 5 é para a alternativa

concordo inteiramente, nota 4 para concordo mais ou menos, e assim por diante até

a alternativa discordo inteiramente, que recebe a nota 1; nos itens negativos, o

sentido de atribuição dos valores é invertido, isto é, a nota máxima é para a

alternativa discordo inteiramente e a nota mínima, para concordo inteiramente. A

somatória das notas obtidas nos itens representa o escore total do indivíduo, que,

portanto, pode variar de 30 a 150. (OMOTE, 2005).

Assim, o escore total de cada participante é obtido com a soma das notas

atribuídas aos 30 itens da escala.

A ELASI, que conta com as formas A e B, foi desenvolvida pelo grupo de

pesquisa Diferença, Desvio e Estigma, da UNESP de Marília.

Para a construção do questionário, inicialmente realizaram-se buscas no

banco de teses do portal da CAPES e de Universidades públicas estaduais e

federais, utilizando-se os descritores: ―inclusão + ensino superior‖; ―alunos +

deficiência‖ e ―acessibilidade + universidade‖.

O levantamento viabilizou a localização de 20 estudos, entre dissertações e

teses, elaboradas entre os anos de 2003 a 2011. A leitura parcial desses estudos

permitiu a identificação de 18 tópicos concernentes ao tema Inclusão do aluno com

deficiência no Ensino Superior.

Esses tópicos foram então apresentados a 10 docentes que atuam na área da

Educação Especial, em nível superior, com a solicitação de indicarem, por ordem de

importância, os tópicos que consideravam de investigação mais oportuna.

Com a indicação dos tópicos, elaborou-se um questionário, que abarcou os

cinco tópicos considerados mais relevantes para o estudo, retornando para nova

avaliação desses docentes.

Page 114: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

113

Após refinamento e adequação às sugestões dos docentes, o questionário

elaborado contemplou 21 questões, dividido em 05 (cinco) blocos, a saber:

característica familiar, características do aluno, percepção quanto ao acolhimento na

Universidade, acessibilidade e sentimento em relação à deficiência.

O apêndice ―B‖ apresenta um quadro que descreve as 21 questões e

respectivas respostas dos quatro alunos com deficiência, elaborado com o intuito de

subsidiar a construção do mapeamento dos alunos com deficiência inseridos nesse

campus universitário.

O questionário deixou de contemplar outros tópicos para que a amplitude de

assuntos a serem investigados não inviabilizasse a realização do estudo, tornando-o

não exequível.

4.3. Procedimentos

4.3.1 Procedimentos de coleta de dados

Os dados foram coletados no exercício de 2011. Foram agendados horários

com os docentes para a aplicação do questionário e da Escala Likert de Atitudes

Sociais em relação à inclusão (ELASI) aos estudantes das 08 (oito) salas de aula

contempladas no estudo.

Na sequência, foi mantido contato com os alunos com deficiência, para

esclarecimentos concernentes aos objetivos da pesquisa, além dos instrumentos

que seriam utilizados, verificação de disponibilidade de tempo, bem como da

necessidade de concordância quanto ao Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido.

A ELASI foi aplicada, durante o período de uma aula, nas respectivas salas

selecionadas para o trabalho, na presença do pesquisador responsável. O

questionário para os alunos com deficiência foi aplicado em horário distinto, nas

dependências da própria Universidade, em sala de aula que na oportunidade não se

encontrava em uso.

Page 115: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

114

Foram coletados dados de um total de 101 participantes nas quatro salas de

aula onde há alunos com deficiência e de 106 nas classes onde não há aluno

deficiente, totalizando 207 participantes.

4.3.2 Procedimento de análise de dados

No que concerne à ELASI, a análise de dados compreende inicialmente uma

avaliação da confiabilidade dos participantes, através da escala da mentira (Tabela

4) que tem o objetivo principal de verificar se os respondentes compreenderam os

enunciados constantes no questionário e se houve seriedade quanto ao nível de

concordância ou discordância dos cinco itens apresentados. Busca-se, desta

maneira, verificar a atenção dos respondentes quanto ao preenchimento do

instrumento, levando em consideração fatores como aborrecimento ou cansaço, bem

como sua compreensão em relação ao preenchimento do instrumento de coleta de

dados.

Os itens que compõem a escala da mentira contemplam enunciados com

respostas previsíveis, inseridas estrategicamente entre os demais itens da escala,

podendo revelar ao pesquisador a ocorrência de algum tipo de falseamento do

participante que preencheu o instrumento (OMOTE et al, 2005).

Utilizou-se o teste de normalidade de Shapiro-Wilk e Anderson-Darling para

os escores da ELASI, com nível de significância de 5%. Verificou-se que apenas o

conjunto de dados referentes aos escores do 2º ano do curso de Educação Física

não seguiam distribuição normal. Em decorrência, adotou-se o teste não-paramétrico

Mann-Whitney, com nível de significância de 5%, para comparar as medidas de

amostras independentes e aleatórias. O teste post-hoc utilizado para a análise de

variância foi o Dunn.

Em relação ao questionário, em virtude do número reduzido de alunos com

deficiência matriculados no campus, após a aplicação do primeiro questionário, fora

realizada uma análise, à semelhança de um questionário ―piloto‖, antes de

prosseguir na aplicação aos demais participantes. O tratamento dos dados obtidos

Page 116: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

115

junto aos questionários, após categorização, contemplou uma análise dos

conteúdos.

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116

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Page 118: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

117

Este capítulo pretende apresentar e discutir, à luz da literatura da área, os

resultados obtidos na aplicação da ELASI junto aos alunos que têm colegas com

deficiência e alunos que não têm colegas com deficiência na classe, na UNESP de

Presidente Prudente, bem como as respostas ao questionário aplicado junto aos

alunos com deficiência em relação ao seu sentimento de acolhimento naquele

campus.

Os dados obtidos nesses instrumentos foram disponibilizados em tabela,

seguidas de respectivas análises. A primeira seção deste capítulo contemplou os

resultados da escala da mentira, seguida das comparações dos resultados obtidos

por sujeitos que responderam a ELASI, nas variáveis que se propôs avaliar,

finalizando com a seção que analisa os questionários.

5.1 Atitudes sociais em relação à inclusão do estudante universitário com

deficiência

5.1.1 Avaliação da escala da mentira

A análise dos escores obtidos com a aplicação da ELASI deve ser precedida

pela avaliação do grau de fidelidade e seriedade das respostas apresentadas pelos

participantes, através da escala da mentira35.

A Tabela 4 relaciona os escores obtidos na escala da mentira.

Tabela 4: Escores obtidos nos enunciados da escala da mentira da ELASI. Presidente Prudente, (N = 207), 2011

Escore ELASI (N = 207) %

0 199 96,14 1 07 3,38 2 1 0,48

TOTAL 207 100

35

De acordo com Omote et al (2005), os itens do questionário que compõem a escala da mentira são os de números 10, 11, 15, 24 e 34, sendo as respostas esperadas para cada item, as de concordância total ou parcial. Nesse sentido, os autores indicam que é adequado atribuir a pontuação 0 para as alternativas a e b e a pontuação 1 para as alternativas d e e. Assim, os escores para a escala da mentira compreenderia a soma dos pontos obtidos nos cinco itens, que poderiam variar de 0 a 5, de onde se depreende que quanto mais baixo for o escore obtido na soma dos cinco itens, mais seriedade os participantes tiveram em responder os itens da ELASI.

Page 119: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

118

Observa-se que 99,5% dos participantes encontram-se na faixa de escores

compreendida entre 0 e 1, sugerindo que os respondentes estavam atentos por

ocasião da aplicação do instrumento.

5.1.2 Efeito da presença de aluno com deficiência sobre as atitudes sociais de

colegas de classe

A tabela 5 apresenta os escores obtidos da ELASI forma A. Essa tabela

descreve cada um dos 8 subgrupos36 participantes, o número de participantes (N)37,

a variação indicada pelo menor e maior escore, a mediana e os valores do quartil 1 e

3, que representam a dispersão dos dados.

Tabela 5: Escores da ELASI segundo agrupamento de alunos da UNESP de Presidente Prudente. (N = 203), 2011.

Turmas N Variação

(MIN – MAX) Mediana

Dispersão (Q1 – Q3)

1º Geografia (E1) 30 120 - 148 133 129,50 - 136,50

2º Geografia (C) 26 112 - 146 134 130,75 - 141,25

1º Pedagogia (E) 18 110 - 150 134 126,00 - 137,75

2º Pedagogia (C) 25 128 - 150 138 135,00 - 144,50

3º Ciência Computação (E) 27 92 - 147 125 121,00 - 134,00

2º Ciência Computação (C) 22 86 - 106 96 91,75 - 100,00

3º Educação Física (E) 22 108 - 150 131 116,75 - 139,00

2º Educação Física (C) 33 95 - 148 135 125,00 - 139,00

1 Neste estudo será adotada a sigla (E) para a representação do grupo experimental e (C) para a representação do grupo controle.

Para facilitar a compreensão dos dados inseridos na tabela, serão feitas

algumas breves explicações acerca dos termos utilizados. De acordo com

informação anterior, são considerados trinta dos enunciados constantes na ELASI,

que podem assumir valor de 1 a 5, ou seja, o escore da escala pode variar de 30 a

150.

36

Aqui se considera subgrupo cada uma das oito salas de aula contempladas no estudo. 37

Nas análises dos escores da ELASI foram excluídos os participantes com deficiência.

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119

Exemplifica-se com os escores obtidos no 2º ano de Geografia, com 28

participantes. O menor escore da turma corresponde a 92 e o maior a 147. Se cada

um dos 28 valores obtidos for inserido progressivamente num segmento de reta, do

menor (92) para o maior (147), dividindo essa linha em quatro partes, os escores

que estiverem localizados nos primeiros 25% (1/4), representam o primeiro quartil, e

assim, sucessivamente, até chegar ao quarto quartil. A mediana38 seria, nesse

contexto, a medida central, ou seja, corresponde ao segundo quartil, neste caso

específico, escore 134. A dispersão representa a distribuição desses escores entre o

primeiro e o terceiro quartis.

A variância indica a distância que esses 28 valores se encontram do valor

esperado (média). Assim, quanto maior a variância, mais distantes estes dados

estão da média; quanto menor a variância, pode-se afirmar que a média é uma boa

medida para representar os dados.

Os resultados dos escores da ELASI apresentam maior variação no subgrupo

3º Ciência da Computação (E), seguido do 2º Educação Física (C), 3º Educação

Física (E), 1º Pedagogia (E), 2º Geografia (C), 1º Geografia (E), 2º Pedagogia (C) e

com a menor variação o 2º Ciência da Computação (C). Daí se infere que o 2º

Ciência da Computação (C) foi o subgrupo que apresentou escores mais

homogêneos, o que permite supor maior concordância no pensamento dos alunos

da sala, e o 3º Ciência da Computação (E), o menos homogêneo.

Inicialmente será apresentado o escore obtido de cada aluno com deficiência

em relação aos escores da classe a qual pertence.

O aluno Marcos, do 1º de Geografia obteve o escore 147, encontrando-se

acima do terceiro quartil em relação à sua sala de aula. O aluno Mateus, do 1º de

Pedagogia, com escore 130, encontra-se entre o primeiro quartil e a mediana em

relação aos seus pares. O aluno João, do 3º Ciência da Computação, com escore

136, encontra-se também acima do terceiro quartil em relação à sua sala. Lucas, do

3º Educação Física, com escore 136, encontra-se entre o valor da mediana e do

terceiro quartil.

38

De acordo com Triola (2012), assim como a mediana divide os dados em duas partes iguais, os três quartis, representados por Q1, Q2 e Q3, dividem os valores ordenados em quatro partes iguais. O

autor refere que atualmente calculadoras e softwares são mais utilizados para efetuar tais cálculos.

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120

Com o objetivo de facilitar a visualização da pontuação dos alunos que

destoam dos de sua sala, bem como sintetizar os dados constantes na tabela 5,

insere-se abaixo a figura 1.

EdFis_ContEdFis_ExpComp_ContComp_ExpGeo_ContGeo_ExpPed_ContPed_Exp

150

140

130

120

110

100

90

80

Escore

Figura 1 – Box Plot39 dos escores das turmas

Como pode ser observado na figura 1, os valores das médias e medianas (a

mediana é o traço no interior das caixas) são muito próximos, com exceção do 2º

ano de Educação Física (C).

As pontuações dos alunos que estão muito diferentes dos de sua sala

[subgrupo] estão destacadas em asterisco, representando, respectivamente, o

escore 112 para o 2º Geografia (C), escores 92 e 101 para o 3º Ciência da

Computação (E) e 95 para o 2º Educação Física (C).

O comprimento da caixa e as linhas que seguem das extremidades indicam a

medida de variabilidade dos dados. O gráfico permite uma melhor verificação de que

os alunos do 2º ano de Ciência da Computação apresentaram a menor variabilidade,

ou seja, a sala tem respostas homogêneas e há concordância no pensamento dos

alunos da sala, conforme descrição anterior.

39

O boxplot, ou diagrama de caixa, é um gráfico que capta importantes aspectos de um conjunto de dados através do seu resumo dos cinco números, formado pelos seguintes valores: valor mínimo, primeiro quartil, segundo quartil, terceiro quartil e valor máximo. Maiores informações sobre o diagrama estão disponibilizadas no portal do MEC ou no site http://www.uff.br/cdme/constroiboxplot/constroiboxplot-html/constroiboxplot_intro.html.

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121

A literatura especializada indica que para se utilizar testes que exigem

normalidade nos dados, as amostras devem ser superiores a 3040

elementos/participantes, de acordo com a descrição do Teorema Central do Limite.

Ao analisar a Tabela 5, observa-se que, com exceção do 1º Geografia (E) e 2º

Educação Física (C), a quantidade de participantes nos demais subgrupos é inferior

a esse número.

Para verificar se os dados seguem a distribuição Normal, utilizou-se o teste de

Shapiro-Wilk e teste de Anderson-Darling para os escores da ELASI, com nível de

significância de 5%.

Foi possível verificar que apenas o conjunto de dados referentes aos escores

do 2º ano do curso de Educação Física não segue a distribuição Normal, fato

possivelmente provocado por um aluno específico que apresentou um escore (95

pontos) bem menor que os demais, pois o segundo menor escore foi 15 pontos

superior (110 pontos).

Desta forma, adotou-se o teste não-paramétrico Mann-Whitney. O teste de

Mann-Whitney é utilizado para comparar as medidas de duas amostras

independentes e aleatórias, cujas variáveis em análise sejam pelo menos ordinais.

Assim, para comparar se existe diferença estatisticamente significativa entre

os escores do grupo experimental e do grupo controle para cada curso, utilizou-se o

de Mann-Whitney ao nível mínimo de significância de 5%.

Entre os alunos do curso de Geografia encontrou-se valor de p = 0,6693.

Sendo p > 0,05, pode-se afirmar que não há diferença estatisticamente significativa

entre o grupo experimental e de controle.

O mesmo se pode afirmar sobre os alunos do curso de Educação Física com

o valor de p = 0,3717, podendo-se concluir que não há diferença estatisticamente

significativa entre o grupo experimental e de controle.

Para os alunos do curso de Pedagogia encontrou-se valor de p = 0,0187.

Sendo p < 0,05, é possível afirmar que há diferença estatisticamente significativa

entre os dois grupos. Retomando aos escores obtidos e apresentados na tabela 5,

observa-se que os alunos do 2º Pedagogia (C) possuem escore 138, enquanto o 1º

Pedagogia (E) apresenta o escore 134, razão pela qual se pode afirmar que os

40

Validade do teorema central do limite: n > 30, entretanto, em várias situações, dependendo da forma da distribuição da população, amostras com n < 30 são suficientes para garantir a validade da teoria central do limite. O teorema central do limite é muito utilizado na inferência estatística.

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122

primeiros possuem atitudes sociais mais favoráveis em relação à inclusão que o

segundo subgrupo, uma vez que na comparação do teste, houve diferença

estatisticamente significativa.

Por fim, para os alunos do curso de Ciência da Computação encontrou-se

valor de p = 0,000. Sendo p < 0,05, é possível afirmar que há diferença

estatisticamente significativa entre os dois grupos. Os alunos do 3º ano do Curso de

Ciência da Computação (E) apresentam escore 125, enquanto o 2º ano do Curso de

Ciência da Computação (C) apresentam escore 96, diferente do curso de

Pedagogia, no Curso de Ciência da Computação os alunos do grupo experimental

possuem atitudes sociais mais favoráveis em relação à inclusão do que o grupo

controle.

Resumidamente, dos oito subgrupos estudados, apenas o 3º Ciência da

Computação (E) confirma a hipótese inicial, ou seja, a sala onde há alunos com

deficiência matriculados os pares apresentam atitudes sociais mais favoráveis em

relação à inclusão.

Contraria a hipótese inicial o 1º Pedagogia (E), uma vez que o escore do

grupo controle é significativamente superior ao grupo experimental, indicando

atitudes sociais mais favoráveis dos alunos do 2º ano Pedagogia (C).

Nos outros dois cursos, Geografia e Educação Física, não existe diferença

estatisticamente significante entre os grupos experimental e de controle. Desta

forma, não se pode afirmar, então, qual desses grupos tem atitudes sociais mais

favoráveis em relação à inclusão.

No que se refere especificamente ao curso de Pedagogia, em relação aos

alunos da sala de aula onde não há alunos com deficiência matriculados possuírem

atitudes sociais mais favoráveis em relação à inclusão do que os alunos da sala de

aula onde há aluno com deficiência, o autor deste estudo considera oportuno fazer

algumas reflexões.

Na grade41 atual do curso de Pedagogia, disponibilizada no site oficial da

instituição, observa-se no primeiro ano do curso, compreendendo o primeiro e

segundo semestres, a concentração de disciplinas teóricas, a exemplo de Filosofia

41

A expressão utilizada com maior frequência passou a ser ―matriz curricular‖. Foi mantido aqui o termo ―grade curricular‖, por ser o constante no sitio oficial da unidade de ensino estudada. Alguns estudiosos do assunto defendem que a denominação ―grade‖ sugere algo fechado, engessado, sendo que o conteúdo a ser ministrado nas disciplinas deve ser dinâmico e flexível, adequado à necessidade local e regional de cada comunidade, passível de constantes alterações e mudanças.

Page 124: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

123

da Educação I e II, História da Educação I e II, Psicologia da Educação I e II e

Sociologia da Educação I e II.

No segundo ano do curso de Pedagogia, são ofertadas disciplinas que

relacionam teoria e prática, a exemplo de Fundamentos da Educação Infantil e

Fundamentos da Educação dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental com Estágio

Supervisionado da Prática de Ensino na Educação Infantil II, além de Gestão e

Organização da Escola com Estágio Supervisionado em Gestão Educacional I e II.

Desta forma, o fato de os alunos do curso de Pedagogia do segundo ano

terem a oportunidade de vivenciar a realidade e o cotidiano escolar, as dinâmicas da

sala de aula, as dificuldades relatadas pelos professores regentes, pela

coordenação da escola, pela direção e pelos funcionários, inclusive nos aspectos

concernentes à educação inclusiva, poderia sugerir uma sensibilização à adoção de

atitudes sociais mais favoráveis em relação à inclusão.

Mas, o efeito poderia ser também contrário, visto as condições e

peculiaridades do processo inclusivo já relatados neste estudo, quando crenças

contrárias, desfavoráveis à inclusão, poderiam aprofundar suas raízes.

Outro aspecto a ser considerado é a eventual oferta de disciplinas voltadas

para a inclusão das pessoas com deficiência aos alunos que cursavam o 2º ano de

Pedagogia. Conforme se observa na grade curricular mencionada, apenas no quarto

ano do curso é ofertada a disciplina: Libras, Tecnologia da Informação e

Comunicação na Educação, provavelmente inserida por questões legais/normativas.

No rol de disciplinas optativas ofertadas, sequer constam disciplinas

congêneres à temática em questão. São elas: Educação Popular, Psicomotricidade,

Saúde na Área de Educação e Tecendo Projetos na Pedagogia. Desta forma,

possivelmente este segundo aspecto não se aplica ao estudo realizado.

Aventa-se aqui, a título de reflexão, a possibilidade do contato inicial pelos

alunos, por ocasião da realização dos estágios supervisionados, sem uma formação

inicial voltada para a educação inclusiva, influenciar para que tenham uma reação

desfavorável ao processo inclusivo. Nessa perspectiva, quando os estudantes se

depararam com a realidade do cotidiano escolar, em escolas muitas vezes

localizadas na periferia da cidade, com salas de aulas numerosas, professores com

pouco (ou nenhum) conhecimento sobre a educação especial, com reduzidos

recursos materiais e pedagógicos voltados para a inclusão, além da ―constatação‖

Page 125: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

124

da presença do próprio aluno com deficiência em sala de aula, poderiam influenciar

nesse sentido.

Um estudo conduzido por Gomes (2009) intitulado Atitudes dos Alunos sem

Deficiência Face à Inclusão de Alunos com Deficiência nas Aulas de Educação

Física: Estudo Exploratório em Alunos dos 17 aos 20 Anos, desenvolvido junto à

Universidade de Coimbra, sobre atitudes sociais de alunos do curso de Educação

Física em relação à inclusão, levou o pesquisador a rejeitar uma de suas hipóteses,

qual seja: ―as atitudes específicas da EF dos alunos sem deficiência face à inclusão

de alunos com deficiência são influenciadas positivamente pela presença de colegas

de turma com deficiência‖. Ao apresentar os resultados do estudo, o autor afirmou

que ocorreu uma situação inesperada, relacionada com a variável presença de

pessoas com deficiência na sala de aula, pois, os resultados analisados

evidenciaram que as atitudes dos alunos que nunca tiveram presença de pessoas

com deficiência turma são ligeiramente superiores em termos médios,

comparativamente com os alunos que já tiveram tal experiência.

Trata-se, desta forma, de situação semelhante à ocorrida no curso de

Pedagogia do estudo ora desenvolvido.

A proposta de reflexão anteriormente mencionada se estende aos subgrupos

do curso de Ciência da Computação, único que confirmou a hipótese inicial do

estudo.

A título de curiosidade, o autor irá compartilhar com o leitor, uma circunstância

ocorrida alguns instantes após a finalização da aplicação da ELASI, junto ao 3º

Ciência da Computação.

Um aluno acompanhou o autor até o corredor do bloco discente onde se

localizava a sua sala de aula e passou a discorrer, voluntariamente, acerca do que

denominou ―leitura comportamental‖ que fazia sobre os alunos do curso de Ciência

da Computação, se incluindo naquele rol.

Disse que, em geral, percebia que ele e vários colegas tinham uma

introspecção em se relacionar com pessoas, preferindo o contato com as

―máquinas‖, no caso, os computadores. Relatou ainda que, mesmo quando estão

com os seus pares, muitas vezes estão fisicamente juntos, mas cada um deles

ligado em seu notebook ou acessando a rede mundial de computadores nos

aparelhos de telefone celular ou tablet, ou seja, ficavam na verdade distantes.

Page 126: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

125

Esse aluno finalizou a rápida conversa dizendo acreditar que algumas ações

sociais envidadas pela ―Empresa Júnior‖ de seu curso estava colaborando para

ampliar o relacionamento interpessoal de alguns alunos, aproximando-os da

comunidade local, ou em suas próprias palavras, tornando-os mais ―humanos‖.

Ao se observar a grade do curso, desenvolvido em quatro anos e meio,

constata-se que não oferece nenhuma disciplina, teórica ou prática, voltada para as

ciências humanas.

Inobstante a falta de tais disciplinas, curiosamente, os alunos do 3º ano de

Ciência da Computação, onde se encontrava matriculado o aluno com deficiência

João, possuem atitudes sociais mais favoráveis em relação à inclusão do que a sala

de aula onde não há alunos com deficiência matriculados.

Por mais que parece paradoxal, alunos do curso de Pedagogia (Ciências

Humanas) apresentaram atitudes sociais menos favoráveis em relação à inclusão do

eu que os colegas do curso de Ciência da Computação (Ciências Exatas).

Aprofundar as considerações já relatadas implicaria em meras inferências.

A possibilidade de aplicação da ELASI no exercício de 2013, quando os

alunos da Ciência da Computação estiverem se formando e os alunos da Pedagogia

avançado nas disciplinas práticas, aliada ao uso de entrevistas, talvez pudesse

elucidar aspectos desse aparente paradoxo.

5.1.3 Gênero e atitudes sociais em relação à inclusão

Como o curso de Ciência da Computação possui um número maior de alunos

do sexo masculino, totalizando 41 homens e nove mulheres e o curso de Pedagogia

um número maior de alunos do sexo feminino, com quatro homens e 39 mulheres,

será realizado uma comparação dos escores na perspectiva de gênero.

Page 127: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

126

Tabela 6: Escores da ELASI segundo agrupamento de alunos da UNESP de Presidente Prudente - gênero. (N = 201), 2011.

Turmas N Variação Mediana Dispersão (Q1 - Q3)

Gênero Feminino 99 88 – 150 136,00 128,00 - 140,00

Gênero Masculino 102 86 – 148 128,00 113,75 - 134,00

Obs.: dois participantes não identificaram o gênero por ocasião da coleta de dados.

Procedendo ao competente cálculo, aplicando-se o teste Mann-Whitney,

averiguou-se ao nível mínimo de significância de 5%, a existência de diferença

estatisticamente significativa entre os escores dos participantes do gênero masculino

e feminino, com valor de p = 0,00, indicando que as mulheres apresentam atitudes

sociais mais favoráveis em relação à inclusão do que os homens.

O estudo de Fonseca-Janes (2011), referido anteriormente, apresenta uma

síntese da distribuição dos escores obtidos na ELASI por participantes do gênero

feminino e do gênero masculino nesta instituição [Faculdade de Ciências e

Tecnologia]. O autor concluiu que, nesse quesito, não há diferença estatística

significante, pois embora os parâmetros apontem uma tendência à superioridade dos

escores dos participantes do gênero feminino, a diferença não chega a ser

suficientemente expressiva.

Trata-se de estudos realizados no mesmo campus, ou seja, na FCT/UNESP,

porém, contemplando cursos diferentes, sendo que este estudo considerou quatro

cursos diferentes (Ciência da Computação, Educação Física, Geografia e

Pedagogia, enquanto o da Fonseca-Janes investigou somente o curso de

Pedagogia), o que fragiliza a possibilidade de realização de comparações e

hipóteses. Contudo, a tendência à superioridade dos escores dos participantes do

gênero feminino referido por esse autor, bem como a indicação neste estudo de que

as mulheres apresentam atitudes sociais mais favoráveis em relação à inclusão do

que os homens, consistem em resultados que convergem para alguns estudos que

sugerem que o gênero feminino possui atitudes mais favoráveis em relação à

inclusão (AVRAMIDIS; BAYLISS; BURDEN, 2000; OMOTE et. AL., 2005).

Esse pensamento vai ao encontro das reflexões de Gomes (2009), que afirma

que as atitudes do gênero feminino são mais positivas em comparação com as do

gênero masculino, uma vez que é esperado que as mulheres sejam mais

preocupadas, sensíveis e cuidadosas.

Page 128: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

127

Embora o foco de investigação desta seção seja a comparação das atitudes

sociais em relação à inclusão entre homens e mulheres, nessa perspectiva de

gênero, a título de curiosidade, o autor deste estudo considera oportuno trazer outra

consideração concernente à questão do gênero dos alunos com deficiência.

Conforme relato anterior, no exercício de 2011, a instituição de ensino

pesquisada possuía 04 (quatro) alunos com deficiência do sexo masculino, ou seja,

não havia alunas com deficiência matriculadas na instituição naquela oportunidade.

Estudos anteriores, dentre os quais destacamos os de Bandini, Rocha e Freitas

(2001), Oliveira (2003), Pereira (2007), Ferreira e Duarte (2010) e Chahini (2010),

apresentaram uma maior concentração de alunos com deficiência do que alunas

matriculadas no Ensino Superior.

Neste estudo, das oito salas de aula dos quatro cursos contemplados, o

número de alunos e alunas matriculados é praticamente equânime (respectivamente

51,75 e 49,25%).

O IBGE divulgou no censo demográfico realizado em 2010, na análise por

sexo, o percentual de 26,5% de mulheres (com prevalência na cor ou raça preta)

com algum tipo de deficiência e 21,2% da população masculina. Considerando que o

ingresso nas IES tem sido majoritariamente de alunas, e o percentual de mulheres

com deficiência é, segundo o órgão oficial, superior, encontra-se aqui um importante

foco de investigação a ser aprofundado.

Alguns sites mantidos por associações de pessoas com deficiência, como o

―bengala legal‖42, denunciam que as mulheres com deficiência possuem menos

acesso que os homens à rede de serviços sociais, dentre esses ao Ensino Superior,

afirmando que

Comparadas aos homens com deficiência, as mulheres com deficiência têm, em geral, menos acesso a cuidados médicos qualificados e à reabilitação; recebem medicamentos, ajudas técnicas e outros tratamentos que sejam menos dispendiosos; e têm menos acesso a apoios sociais, educação superior e oportunidades de emprego. Uma consequência desta desigualdade é que as

42

Fragmento de texto retirado do Relatório: Violência contra mulheres com deficiência, produzido pela Rede Internacional de Mulheres com Deficiência, publicado em 05/06/2011, traduzido por Romeu Kazumi Sassaki. Disponível em: <http://www.bengalalegal.com/violencia-mulheres-com-deficiencia> Acesso em 01/11/12.

Page 129: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

128

mulheres com deficiência são destituídas de seus direitos à inclusão social e são, com frequência, forçadas a viver em pobreza. (2011)

Isso demonstra a magnitude e complexidade para a necessária transformação

social em busca de uma sociedade inclusiva. Essa mesma sociedade historicamente

excludente, que por ocasião da colonização tratava como inferiores os negros, as

mulheres e os brancos pobres, quando se livrou do julgo do colonizador, continuou

tratando-os como cidadãos de segunda categoria, culminando nos graves problemas

e abismos sociais que são facilmente visualizados.

Verifica-se, ainda hoje, o baixo índice de alunos pobres nas Universidades

públicas, com um acentuado afunilamento quando se trata de alunos pobres negros

e pardos (Santana, 2006), e daí por diante, se considerarmos a questão de gênero e

da deficiência.

São problemas complexos, mas não impossíveis de solucionar, perpassando

pela necessidade de sérias transformações políticas, filosóficas, econômicas e

educacionais, cabendo à própria sociedade um importante papel nessa

transformação.

Políticas, porque tem relação com a necessidade de aplicação de recursos

orçamentários orientados à promoção de investimentos para a transformação que se

deseja. Recursos que devem contemplar questões de saneamento básico, de

habitação, de saúde e, principalmente, na Educação Básica. Filosófica, porque

requer reflexão e a adoção, por toda a comunidade, de uma cultura que respeite a

diversidade, que possa se desvencilhar de crenças preconceituosas, em relação aos

pobres, aos negros, às mulheres, aos deficientes e de todas as minorias excluídas.

Econômica no sentido da emancipação do indivíduo e a democratização da

sociedade em conformidade com os avanços das forças produtivas, potencializados

pela educação e o conhecimento. Educacionais, porque, sendo a escola um

micromundo inserido em uma sociedade maior, que reproduz e perpetua vários

problemas sociais, possa, com a adoção dessas três primeiras transformações

propostas, orientar a comunidade escolar para a adoção de atitudes sociais

genuinamente favoráveis, em busca de uma escola para todos.

Page 130: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

129

5.1.4 Idade e atitudes sociais em relação à inclusão

Este estudo pretende investigar ainda as atitudes sociais dos alunos,

independente do gênero, em relação à idade. A mediana da idade dos alunos é de

20 anos.

Desta forma, os participantes foram separados em dois grupos, o primeiro

com alunos de até 20 anos, denominados por A e o segundo com 20 anos de idade

ou mais, denominados por B.

Tabela 07: Escores da ELASI segundo agrupamento de alunos da UNESP de Presidente Prudente - idade. (N = 193), 2011.

Turmas N Variação Mediana Dispersão (Q1 – Q3)

Grupo A 89 89 – 150 134,00 125,50 - 138,50

Grupo B 104 86 - 150 131,00 120,25 - 136,75

Obs.: quatorze dos participantes não informaram a idade por ocasião da coleta de dados.

Com a realização dos cálculos, aplicando-se o teste Mann-Whitney,

averiguou-se ao nível mínimo de significância de 5%, que não existe diferença

estatisticamente significante entre os dois grupos, com valor de p = 0,1415. Assim,

não é possível afirmar, neste estudo, que a idade tenha relação com as atitudes

sociais em relação à inclusão do aluno com deficiência. A idade não representa

então, uma variável que influencia os escores obtidos pelos alunos que participaram

da pesquisa.

Pereira Júnior (2009) pesquisou as atitudes sociais de professores da rede de

ensino municipal de Guarapuava/PR em relação à educação inclusiva. Em sua

análise, o autor estabeleceu uma relação entre idade dos professores e escores

obtidos na ELASI, tanto na forma ―A‖ como na ―B‖, concluindo que não existiam

diferenças significativas entre os escores dos professores com idade superior e

inferior à mediana considerada. O mesmo ocorreu nos estudos de comparação entre

idades dos professores e escores obtidos nas dimensões ideológicas e operacionais

das formas ―A‖ e ―B‖ da ELASI.

Orrico (2011) realizou uma pesquisa sobre a inclusão educacional de alunos

com necessidades educacionais especiais frente ao aspecto atitudinal do corpo

Page 131: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

130

docente nos primeiros e sextos anos do Ensino Fundamental. Ao analisar os

resultados que consideravam a idade como variável independente em relação às

atitudes frente à inclusão nos três grupos de professores do estudo (professores do

1º ano do Ensino Fundamental, professores do sexto ano do Ensino Fundamental e

professores da Escola Municipal RC - Centro de Referência) da rede pública de

ensino de Duque de Caxias/RJ, constatou que dois dos grupos não apresentaram

diferença estatística significante, sendo que o grupo referente aos professores do 1º

ano do Ensino Fundamental, os docentes com idade abaixo da mediana

apresentaram atitudes mais favoráveis em relação à inclusão.

5.2 Caracterização dos alunos com deficiência

Esta seção apresenta a caracterização dos alunos com deficiência

matriculados no campus, contemplando os seguintes itens: característica familiar,

características do aluno, percepção em relação ao acolhimento na Universidade,

acessibilidade e sentimento em relação à deficiência.

5.2.1 Característica familiar

Para auxiliar na caracterização familiar dos alunos com deficiência e melhor

compreensão de seu perfil socioeconômico, utilizou-se algumas informações

estatísticas, disponibilizadas pela Fundação Vunesp43, coletadas no Questionário

Socioeconômico do vestibular da UNESP, que contém informações desde o ano de

1996.

Busca-se, desta forma, verificar a condição socioeconômica dos alunos com

deficiência em relação aos seus pares, ou seja, os demais alunos de sua sala de

aula.

43

Disponível no site http://www.vunesp.com.br/QuestionarioUnesp/index.php, acessado em 18/08/11.

Page 132: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

131

Alguns indicadores, a exemplo da renda e o nível de escolaridade dos pais,

podem ser utilizados para que se tenha uma noção da condição de vida material das

pessoas.

Não obstante, as informações inseridas nesta seção objetivam somente

apresentar ao leitor traços do perfil socioeconômico dos participantes com

deficiência, sem, contudo, ter a pretensão de efetuar comparações de ordem

estatística. Faculta-se, entretanto, ao leitor, a possibilidade de efetuar eventuais

comparações, a título de contextualização do perfil apresentado.

A tabela abaixo apresenta a renda mensal familiar dos alunos com

deficiência, relacionando-a com os seus pares, por ocasião de seu ingresso na

instituição.

Tabela 08: Renda mensal familiar (RMF) em salários mínimos dos alunos com deficiência e respectivos pares

Curso RMF alunos com

deficiência

RMF alunos da sala de aula

Faixa salarial em salários mínimos (quantidade e porcentagem) Até 1,9 2,0 a 4,9 5,0 a 9,9 10 a 14,9 15 a 19,9 20 ou mais

3º Ciência da Computação 8 3 – 8,57 22 – 62,86

7 – 20,00 3 – 8,57 0 - 0 0 – 0

3º Educação Física 3 13 – 28,89

27 – 60,0 5 – 11,11 0 - 0 0 - 0 0 – 0

1º Geografia 3 08 – 20,0 21 – 52,5 09 – 22,5 2 – 5,0 0 - 0 0 – 0

1º Pedagogia 3 14 – 40,00

15 – 42,86

5 – 14,29 0 – 0 1 - 2,86 0 – 0

Observa-se que somente o aluno João (3º Ciência da computação)

apresentou renda mensal familiar superior aos demais alunos com deficiência,

representando quase o triplo da renda. João encontrava-se então entre os 20% (sete

alunos) da turma que possuíam renda mensal familiar entre 5,0 a 9,9 salários

mínimos. A maioria dos alunos daquela turma, por volta de 71,43% percebia renda

mensal familiar de até 4,9 salários mínimos.

Os demais alunos com deficiência, Lucas (3º Educação Física), Marcos (1º

Geografia) e Mateus (1º Pedagogia) percebiam renda mensal familiar de três

salários mínimos, próximo da renda mensal familiar da grande maioria de seus

pares, pois, respectivamente, 88,89%, 72,5% e 82,86% daquele alunado percebiam

renda mensal familiar de até 4,9 salários mínimos.

A questão da presença inexpressiva de alunos pobres nas instituições de

Ensino Superior públicas vem sendo discutida pela sociedade, em especial os

militantes de movimentos sociais, há muitas décadas, pois defendem que,

Page 133: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

132

paradoxalmente, as pessoas que mais necessitam do ensino público, ou seja, os

economicamente desfavorecidos, são as que menos possuem possibilidade de

inserção naquelas instituições.

Prova disso, é a recente aprovação pelo Senado Federal do sistema de cotas

raciais e sociais, que reserva 25% das vagas nas instituições públicas federais para

negros, pardos e indígenas (ou de acordo com a proporção dessas populações em

cada Estado) e outros 25% para alunos que tenham cursado o Ensino Médio em

escolas públicas, cuja família receba renda per capta de até 1,5 salários mínimos (ou

seja, alunos pobres).

Na perspectiva educacional entendem-se, neste estudo, as ações afirmativas

como importantes mecanismos de democratização de ensino, com vistas a tornar

equânime a possibilidade de acesso nas instituições de ensino. Todavia, tal

instrumento não deve se pretender perpétuo, devendo haver uma revisão periódica

sistematizada, em conformidade com a demanda, até que o sistema de

discriminação positiva possa ser, enfim, suprimido.

O que se observa, em relação às quatro salas de aula onde estudam os

alunos com deficiência, é que a grande maioria recebe uma renda mensal familiar

modesta, de até 4,9 salários mínimos, chegando a quase 90% para o 3° ano de

Educação Física.

Não se busca, neste estudo, uma relação de causalidade entre renda mensal

familiar recebida pelos alunos com deficiência e sentimento de acolhimento na

Universidade. Mas, apenas para situar o leitor, em relação ao rendimento mensal

familiar, os alunos com deficiência se encontram na faixa salarial da maioria dos

seus pares. Conforme será descrito em seção posterior, os quatro alunos com

deficiência referiram se sentir acolhidos na instituição. Nesse sentido, renda mensal

familiar equivalente à renda de seus pares não representaria um motivo para que os

alunos com deficiência eventualmente se sentissem ―inferiorizados‖ no aspecto

financeiro.

Outro quesito considerado neste contexto diz respeito à escolarização dos

pais dos alunos com deficiência. O quadro a seguir transcrito demonstra a

escolarização dos pais dos alunos com deficiência matriculados no campus.

Page 134: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

133

Quadro 3: escolarização dos pais dos alunos com deficiência.

Aluno Curso Escolarização

Pai Mãe

João 3º Ciência da Computação Superior completo Médio completo

Lucas 3º Educação Física Superior completo Superior incompleto

Marcos 1º Geografia Fundamental incompleto Fundamental incompleto

Mateus 1º Pedagogia Fundamental incompleto Fundamental incompleto

Os pais do aluno Lucas são os que apresentam melhor escolarização,

seguidos pelos pais de João. Os pais de Marcos e Mateus apresentaram as

escolarizações mais modestas, ou seja, Ensino Fundamental incompleto.

No próximo quadro, será apresentada a escolarização dos pais dos alunos da

sala de aula onde estão matriculados os alunos com deficiência.

Quadro 4: Escolarização em porcentagem dos pais dos alunos nas salas

onde estão matriculados alunos com deficiência

Em relação à escolaridade dos pais do aluno Lucas (Educação Física), sua

genitora, que possui Ensino Superior incompleto, encontra-se na mesma faixa dos

quase 9% das mães dos alunos de sua sala de aula, sendo que a grande maioria

das mães, mais de 64%, possui até o Ensino Médio completo. Quanto ao pai, esse

também se encontra entre os 31,11% dos que possuem Ensino Superior completo e,

da mesma forma que as mães, mais de 64% dos pais concluíram até o Ensino

Médio.

A mãe de João (Ciência da Computação), com Ensino Médio completo,

encontra-se na mesma faixa educacional da maioria das mães dos alunos de sua

sala, com mais de 51% e o pai, com Ensino Superior completo, encontra-se ainda na

faixa dos 31,43% com aquela formação.

Escolarização

Ciência da Computação

Educ. Física Geografia Pedagogia

Pai Mãe Pai Mãe Pai Mãe Pai Mãe

Analfabeto 0 0 0 0 5 0 2,86 2,86

Fundamental incomp. 11,43 8,57 24,44 24,44 32,50 32,50 22,86 25,71

Fundamental compl. 5,71 2,86 4,44 8,89 12,50 12,50 20,00 14,29

Médio completo 34,29 51,43 35,56 31,11 32,50 27,50 31,43 34,29

Superior incompleto 17,14 5,71 2,22 8,89 2,50 2,50 2,86 5,71

Superior completo 31,43 31,43 31,11 26,67 15,00 25,00 20,00 17,14

Não respondida 0 0 2,22 0 0 0 0 0

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Page 135: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

134

Em relação aos alunos Marcos (Geografia) e Mateus (Pedagogia), os pais se

encontram na faixa educacional da minoria que possuem o Ensino Fundamental

incompleto (entre 17,07 e 19,51%), sendo que a grande maioria dos pais (pai e mãe)

possui entre 65,71 e 91,43% de Ensino Médio completo ao Ensino Superior

completo.

Não foi possível localizar, na literatura especializada, estudos que

contemplassem a temática escolarização dos pais de alunos com deficiência, no

Ensino Superior.

Mas, de forma geral, de acordo com Cardoso e Sampaio (1994), ao

analisarem o grau de instrução dos pais de universitários, embora com o foco na

relação do trabalho, sugerem uma ―supervalorização‖ por parte desses pais que

possuem curso superior, de uma formação universitária, como estratégia recorrente

para acesso a uma forma de ―herança‖ cultural e econômica.

O que é possível constatar, neste estudo, é que os alunos com deficiência,

cujos pais tiveram a possibilidade de avançar mais nos estudos, como é o caso dos

alunos João e Lucas, ingressaram na Universidade com menor idade que os demais

colegas na mesma condição. É possível que a trajetória dos alunos João e Lucas

tenha reflexos do nível de escolaridade dos próprios pais e a natural valorização da

formação em nível superior, que hoje representa, sem sombra de dúvida, importante

porta de acesso ao mundo do trabalho.

5.2.2 Característica do aluno com deficiência

Esta seção apresentará o comparativo da idade do aluno com deficiência em

relação à média de idade dos seus pares da sala de aula, conforme tabela a seguir.

Tabela 9: Idade de cada aluno com deficiência em relação à média da idade dos seus pares em sala de aula

Curso

Aluno com deficiência (idade)

Demais alunos da sala (média idade)

Alunas Alunos Geral

3º Ciência da Computação 20 22,00 21,61 21,69 3º Educação Física 26 20,85 26,00 24,20 1º Geografia 30 23,12 24,33 23,31 1º Pedagogia 29 20,46 21,18 21,35

Page 136: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

135

Em relação ao aluno João, sua faixa etária era de 20 anos, enquanto a média

geral dos alunos (contando homens e mulheres), de 21,69 anos. Observa-se, assim,

que João tinha a idade inferior à média de sua sala de aula.

No que diz respeito ao aluno Lucas, que possuía, por ocasião da coleta de

dados, 26 anos, sua idade era também superior à média geral de seus pares, na

oportunidade 24,20 anos.

Marcos, que tinha 30 anos de idade, apresentava também a idade superior à

média de sua sala de aula, que correspondia a 23,31 anos.

Finalmente, Mateus, que contava com a idade de 29 anos, igualmente

possuía idade superior à média dos alunos de sua sala de aula, com de 21,35 anos.

Desta forma, observa-se que, exceto o aluno João, os demais alunos tinham

idade superior à média de idade dos seus pares em sala de aula.

Para Pereira (2007), o relacionamento entre os alunos com e sem deficiência

pode ser afetado pelo fato de os alunos com deficiência serem, em geral, mais

velhos do que a média de suas respectivas turmas, pois considera que, muitas

vezes, a diferença de idade e interesses é o que dificulta a relação, segundo os

próprios deficientes, e não a deficiência.

De acordo com esclarecimentos anteriores, a inserção de dados referentes à

idade dos participantes, tem somente o objetivo de situar o leitor quanto á idade dos

alunos com deficiência em relação aos seus pares.

Perguntou-se aos alunos se o curso em que estavam matriculados

correspondia a sua primeira opção nos exames vestibulares, sendo que todos

responderam afirmativamente.

Nesse quesito, os quatro alunos com deficiência têm a oportunidade de

frequentar o curso que efetivamente escolheram para a sua formação, o que não é

uma realidade para todos os alunos, com ou sem deficiência.

Como já foi relatado em seções anteriores, alguns cursos, a exemplo de

Medicina, considerados elitizados, possuem concorrência acirrada durante os

exames vestibulares cujo êxito invariavelmente está associado ao bom preparo nos

estudos. Muitos candidatos, incluindo os alunos com deficiência, em consequência,

acabam se matriculando em cursos com pouca concorrência.

Pereira (2007), refletindo acerca do acesso do aluno com deficiência no

Ensino Superior, considera que haveria uma tendência a associá-lo à falta de

Page 137: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

136

condições de competir com os outros estudantes, se consideradas as dificuldades

de sua história escolar. Segundo o autor, os alunos com deficiência que

conseguiram vencer as barreiras escolares, em geral, têm acesso aos cursos

escolares considerados de menor status (menor disputa considerando a relação

candidatos/vagas, além de terem mensalidades mais econômicas nas instituições

privadas) dentro das opções oferecidas pelo Ensino Superior.

Nesse sentido, a possibilidade de frequentar o curso efetivamente pretendido

é um desafio para todos os alunos, em especial às minorias já mencionadas, mas é

possível, como demonstram os quatro alunos mencionados neste estudo.

Apresentado resumidamente o perfil dos alunos com deficiência matriculados

nesta instituição de Ensino Superior, passa-se às questões concernentes ao

sentimento de acolhimento desse alunato junto ao campus.

5.2.3 Percepção do acolhimento na Universidade

Acolhimento tem sido definido, com frequência, como o ato ou efeito de

acolher, recepcionar, agasalhar, atender, admitir, hospedar. Especificamente em

relação à área da saúde, Franco e Merhy (2003) definem acolhimento como a

possibilidade de universalizar o acesso, abrindo as portas dos serviços de saúde à

totalidade de usuários que deles necessitar, possibilitando uma nova formatação na

organização da assistência, a partir da reorganização do processo de trabalho.

Essa conceituação, ainda que direcionada para a área de saúde, é

perfeitamente cabível no contexto do acolhimento na escola, em todos os níveis de

ensino. Em relação à Universidade, acolher também representa essa possibilidade

de universalizar o acesso ao Ensino Superior, para todas as pessoas, incluindo a

proposta de nova formatação na organização (não de assistencialismo, mas de

assistência), com a efetiva reorganização do processo de trabalho, para a

viabilização de estratégias proativas, que deem condição para a preparação da

comunidade escolar no sentido de acolher a diversidade, como é o caso dos alunos

com deficiência.

Page 138: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

137

Discorrendo sobre a questão da valorização da diferença e das possibilidades

humanas, Bruno (1999) afirma que essa é também uma atitude de acolhimento da

pessoa com deficiência, dentro de um processo de aceitação das diferenças, sem

negar as limitações e dificuldades, o que poderá levar à descoberta de novos

desafios.

Admite-se, desta forma, que, numa perspectiva inclusiva e em todos os níveis

educacionais, o respeito e a valorização à diversidade sejam de grande importância

tanto para os alunos com deficiência, quanto para os demais alunos que

compartilham a convivência em sala de aula, dada a possibilidade de ampliação de

oportunidades para a aprendizagem.

Essa visão positiva da convivência com a diversidade é encontrada em

autores como Carneiro (1997), Mantoan (1997), Stainback (1999), Pacheco (2007).

Stainback (1999) esclarece que a inclusão escolar visa criar um mundo em

que todas as pessoas se reconheçam e se apoiem mutuamente, sendo que as

escolas devem organizar-se em função das diferenças individuais.

Acredita-se que esse convívio pode ser realmente produtivo se for orientado

para a adoção de atitudes sociais genuinamente favoráveis em relação à inclusão,

direcionando esforços de forma a fortalecer os relacionamentos humanos e também

os aspectos pedagógicos.

Para Omote (2003), a adoção de atitudes favoráveis à inclusão, por parte de

toda a comunidade escolar, são condições essenciais para a transformação do

discurso da inclusão em ações e convívio genuinamente inclusivos.

Refletindo sobre a importância da diversidade na escola, Barth (1990, p. 515)

afirmou que ―O que é importante sobre as pessoas – e sobre as escolas – é o que é

diferente, não o que é igual‖. Segundo o autor, o esforço para a eliminação das

diferenças deve ser substituído por um enfoque insistente em utilizar as diferenças

para melhorar a escola.

Segundo Oliveira e Davis (1994), para que a todos seja garantida uma efetiva

igualdade de oportunidades para a aprendizagem, a escola que se quer democrática

deve atender à diversificação de sua clientela.

Na lógica da inclusão, as diferenças individuais são reconhecidas e aceitas e

constituem a base para a construção de uma inovadora abordagem pedagógica.

Page 139: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

138

Nessa nova abordagem, não há mais lugar para exclusões ou segregações, e todos

os alunos, com e sem deficiências, participam efetivamente (RODRIGUES, 2003).

Nesse sentido, admitindo-se a relevância da convivência com a diversidade,

seria razoável concluir positivamente que os alunos com deficiência inseridos na

Universidade teriam uma convivência harmônica com os demais alunos, uma vez

que são igualmente importantes para o contexto. Mas, será que efetivamente esses

alunos se sentem integrados à Universidade? Será que se sentem efetivamente

acolhidos pelos demais colegas da sala de aula? É justamente acerca disso que se

pretende refletir nesta seção.

De acordo com Karagiannis e Stainback (1999), a educação é uma questão

de direitos humanos e os indivíduos com deficiências devem fazer parte das escolas,

que devem modificar seu funcionamento para incluir todos os alunos. Os autores

afirmam que um componente importante no ensino inclusivo é a aprendizagem

cooperativa, relacionado à criação de uma atmosfera de aprendizagem em sala de

aula em que alunos com vários interesses e habilidades podem atingir o seu

potencial.

Os quatro alunos com deficiência matriculados neste campus universitário

referiram ter uma boa acolhida pela sua classe, tendo o aluno Lucas declarado que

no ―[...] início foi um pouco tímido, mas como sou fácil de fazer amizade, passou a

ser de um acolhimento maior do que com outros da sala [...]‖ sugerindo que, em

geral, é mais bem acolhido pelos colegas de classe do que outros alunos do seu

meio.

Ferrari e Sekkel (2007) ressaltam a relevância do coletivo escolar nesse

contexto, quando afirmam que para a efetivação da educação inclusiva é de

fundamental importância que a atitude de todos os que participam do processo

educacional possa encontrar espaço de acolhimento e transformação.

Considerando ainda o sentimento de acolhimento dos alunos com deficiência,

é importante saber como isso ocorre, na opinião dos participantes, fora da sala de

aula, no convívio com os demais alunos da instituição. A convivência dos alunos

com ou sem deficiência nos espaços extraclasse ocorre com grande regularidade.

São os estudos em grupo na biblioteca, as refeições na cantina, os locais de

reprodução de fotocópias ou digitalizações, os laboratórios de informática, as

Page 140: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

139

palestras em auditórios, os congressos e seminários, enfim, todos esses espaços e

atividades podem influir no sentimento de acolhimento dos alunos com deficiência.

Desta forma, o questionário utilizado contemplou uma indagação quanto ao

sentimento de acolhimento dos alunos com deficiência fora da sala de aula.

Em relação ao acolhimento pelos estudantes fora da sala de aula, os alunos

com deficiência responderam de forma unânime que também se sentiram acolhidos,

destacando-se também a fala do aluno Lucas, que mostrou sua integração com seus

pares, afirmando que conversa ―[...] com todos, tomamos lanche juntos, saímos,

estudamos [...]‖.

No que se refere ao sentimento de acolhimento pelos docentes, afirmaram

positivamente, o que vai ao encontro da afirmação do aluno João, que frisou que

sempre teve ―[...] um tratamento igual aos demais alunos‖.

Embora os quatro alunos com deficiência tenham referido se sentir acolhidos

na instituição, isso pode consistir antes uma exceção, e não uma regra. De acordo

com Carricó (2008), alguns trabalhos acadêmicos voltados para a compreensão da

dinâmica das vivências dos alunos com deficiência no Ensino Superior apontaram

para o fato de que, na perspectiva desses alunos, geralmente enfrentam mais

dificuldades relacionadas aos aspectos psicopedagógicos e psicossociais do que

aos ambientais e estruturais.

Então, uma Universidade que se quer inclusiva tem que romper muito mais

que as barreiras arquitetônicas, mas engendrar igualmente esforços para o

rompimento das barreiras atitudinais, tendo o docente, importante papel nesse

contexto.

Para Chahini (2010) faz-se necessário remoção das barreiras atitudinais dos

professores, agentes importantes na construção e preparação do meio social das

instituições de ensino, pois deles depende essencialmente a criação de um clima

acolhedor para todos os alunos na sala de aula. A importância da comunidade

escolar, em especial os docentes, para a promoção da educação inclusiva, é

ressaltada também por Omote et al (2005).

Ainda com relação ao sentimento de acolhimento, perguntado se sentiram-se

mais acolhidos pelos estudantes ou professores, afirmaram unanimemente que

sentiram-se mais acolhidos pelos estudantes, justificando coerentemente que tal

sentimento ocorre em virtude do maior convívio na Universidade com seus pares.

Page 141: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

140

O questionário contemplou na seqüência uma indagação sobre o sentimento

de acolhimento dos alunos ter sido melhor durante o Ensino Fundamental e Médio,

ou atualmente na Universidade. Os alunos Lucas e Marcos (cadeirantes)

esclareceram que não tinham elementos para responder a tal questionamento, uma

vez que por ocasião de terem cursado o Ensino Fundamental e médio não haviam

adquirido a paraplegia.

Os alunos João e Mateus declararam que o acolhimento maior se deu na

universidade, afirmando respectivamente que na ―[...] universidade, pois aqui tenho

maior independência da família, portanto os amigos são mais próximos [...]‖ e agora

―[...] na faculdade; devido a opção que fiz de estudar e me formar [...]‖.

Na análise do estudo conduzido por Mazzoni (2003), que entrevistou alunos

da Universidade Federal de Santa Catarina (Florianópolis), Universidade Federal do

Paraná (Curitiba), Universidade Estadual de Santa Catarina (Florianópolis) e

Universidade Estadual de Maringá (Maringá), alguns dos entrevistados consideraram

que receberam uma melhor atenção nos níveis anteriores de ensino, ou seja,

Fundamental e Médio.

A título de contextualização e de proposta de reflexão acerca da

complexidade do tema acolhimento no Ensino Superior, o autor irá fazer algumas

considerações sobre a permanência do ex-estudante de Matemática, mencionado

no texto de apresentação, com base em alguns anos de vivência e relacionamento

pessoal. Conforme descrição, tratava-se de um acadêmico com paralisia cerebral,

estudando na FCT em Presidente Prudente, com família residente em São Paulo

(distância aproximada de 560 km), que residia em moradia estudantil, anexa ao

campus.

Sem o apoio presencial da família, encontrava-se, como é o caso de uma

parcela significativa dos demais estudantes do campus, sozinho.

Em função de sua deficiência, utilizava as duas mãos para escrever. Na

oportunidade, o uso de notebook ou laptop ainda não havia se expandido, e mesmo

que houvesse, teria igualmente dificuldade para digitar.

Logo quando iniciaram as aulas, foi ―adotado‖ por uma colega de classe, que

fazia as anotações em seu caderno e, depois, com maior tempo, providenciava a

transcrição do conteúdo em seu próprio caderno ou utilizava o recurso da

reprografia. Não havia tempo hábil para que efetuasse cópias durante as aulas e,

Page 142: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

141

portanto, buscava memorizar as equações e fórmulas, para tentar resolver os

exercícios ao final das aulas. Como resultado, passava intermináveis horas na

biblioteca da Universidade, obviamente não por questões cognitivas, mas motoras.

Na moradia estudantil, da mesma forma, colegas que o acompanhavam

durante toda a graduação, preparavam seu prato de alimento, cortando o alimento

para facilitar a mastigação. Fora, da mesma forma, ―adotado‖ pelos colegas da

moradia. Com o passar dos anos, inclusive com o seu ingresso na equipe de

atletismo da Universidade, esse aluno confidenciou por diversas ocasiões que se

sentia plenamente acolhido na Universidade, em grande medida pela ―adoção‖ que

os colegas da Universidade proporcionaram.

Não obstante, depois de formado e concursado, ingressando na docência de

Matemática, revelou grande preocupação com o acolhimento, tanto dos outros

docentes quanto, principalmente, dos discentes. Temia que sua dificuldade de

escrever na lousa provocasse desconforto entre os alunos.

Preocupava-se, igualmente, em que seus alunos se sentissem acolhidos na

sala de aula. Parte da solução, de acordo com o próprio matemático, se deu com o

uso de uma tecnologia ainda considerada moderna, o data show, quando podia

preparar o conteúdo da aula em sua residência, manter o arquivo das aulas, mas,

principalmente, desonerar os alunos de efetuarem cópias da lousa, pois

disponibilizava o conteúdo digitalizado, concentrando a atenção dos alunos na

resolução dos exercícios, diferentemente do que lhe ocorreu na Universidade.

Em última conversa pessoal e recente, afirmou que se sente plenamente

integrado ao corpo docente e acolhido pelos alunos, mas ainda revela grande

preocupação com o sentimento de acolhimento de seus próprios alunos, em geral

alunos pobres, que convivem diuturnamente com a violência, uma vez que leciona

em uma Unidade Escolar inserida em uma comunidade carente.

Embora essas considerações tenham se baseado na convivência pessoal

com esse ex-aluno, os fatos aqui mencionados podem ser facilmente comprovados

pelos docentes do departamento de Matemática, dos funcionários da instituição e

também pelos ex-colegas de classe.

Page 143: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

142

5.2.4 A acessibilidade na instituição na perspectiva dos alunos com deficiência

Carlos Drumond de Andrade escreveu: ―no meio do caminho tinha uma pedra,

tinha uma pedra no meio do caminho ...‖44. Esse fragmento da poesia pode suscitar

algumas reflexões importantes sobre os percalços que afligem os indivíduos como

um todo, e obviamente, as pessoas com deficiência em particular. Incluídas nas

Universidades, as pessoas com deficiência convivem com barreiras, tanto físicas

quanto atitudinais, que se transformam, não raro, em pedras em seus caminhos. O

questionário respondido pelos alunos com deficiência na UNESP de Presidente

Prudente revela algumas dessas ―pedras‖.

Foi perguntado aos alunos se eles tinham alguma dificuldade em se

locomover no campus. Os alunos João e Mateus responderam negativamente e os

alunos Lucas e Marcos afirmaram que sim. Em análise de tais respostas, pode-se

considerar que as patologias dos dois primeiros [agenesia sacral e paralisia infantil]

permitem uma maior mobilidade dos alunos pelas dependências do campus.

Os alunos Lucas e Marcos [cadeirantes acometidos de paraplegia], pela

especificidade da patologia, encontram maior dificuldade em transpor as inúmeras

barreiras físicas encontradas no campus. Perguntado a esses alunos quais eram

suas dificuldades, Lucas referiu que era entrar ―[...] e sair da sala que tem degrau,

acesso à pista de atletismo, à piscina, à sala da direção, à graduação, à biblioteca

[...]‖ e Marcos relatou a ―[...] dificuldade de se locomover nas áreas antigas do

campus [...]‖.

Estar ―incluído‖ na Universidade representa muito mais do que a possibilidade

de acesso à sala de aula. O universitário, de forma geral, para pleno

desenvolvimento de sua capacidade e potencialidade, deve ter a possibilidade de

acesso a todas as dependências do campus e cercear esse direito, certamente tem

implicações com a limitação de sua aprendizagem e desenvolvimento enquanto

aluno. Nessa perspectiva, Mazzoni (2003) considera que a falta de condições de

acessibilidade em vários dos ambientes nos quais as pessoas circulam ou poderiam

circular impõe limitações às atividades de muitas dessas pessoas. Como

44

Excerto da poesia ―No meio do caminho‖. Andrade, Carlos Drummond de. Alguma Poesia. Ed. Pindorama, 1930. Publicado pela primeira vez na modernista Revista de Antropofagia, em 1928.

Page 144: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

143

consequência direta disso, numa atitude de defesa psicológica, alguns alunos evitam

estar nesses ambientes, recaindo em situações de autolimitação.

Embora somente dois dos alunos tenham referido dificuldades em se

locomover no campus, todos se manifestaram quanto ao questionamento: Quais

ações você entende que a Universidade deveria promover para facilitar sua

locomoção física no campus? João esclareceu que o ―[...] piso deveria ser mais

nivelado e limpo, existem muitas pedras no campus [...]‖. Lucas declarou considerar

importante construir ―[...] ou reformar os espaços retirando degraus que é o que mais

o incomoda [...]‖. Marcos, declarou que pelo que se inteirou a ―[...] direção está em

fase de aprovação de projetos de acessibilidade [...]‖ e finalmente Mateus

apresentou como ação importante a instalação de ―corrimão‖.

Desta forma, embora apenas dois dos alunos com deficiência tenham referido

possuir dificuldades de locomoção no campus, sugestões para promoção de

acessibilidade física são apresentadas pelos três primeiros alunos, sendo que o

aluno Marcos, atualmente componente da comissão de recepção dos alunos com

deficiência, esclareceu que a direção da unidade possui projetos de acessibilidade

em fase de aprovação.

A figura 2 demonstra a existência de uma escada em dois lances para o

acesso ao acervo da biblioteca da UNESP de Presidente Prudente.

Figura 2: Escada de acesso ao acervo da biblioteca da FCT/UNESP

Page 145: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

144

O acesso à biblioteca, um dos espaços mais importantes para o acadêmico,

aparece como um dos locais de difícil acesso para os alunos com deficiência.

Observa-se que é uma escada com inclinação íngreme, que efetivamente dificulta o

acesso ao acervo da biblioteca, não somente para pessoas com deficiência física,

mas para qualquer pessoa com mobilidade reduzida, ainda que temporariamente,

idosos e gestantes.

O prédio não é provido de rampas para acesso ao acervo, nem tampouco

possui elevadores. Ainda que, eventualmente, exista terminal de consulta no piso

superior e também disponibilidade de monitores do serviço de biblioteca ou

funcionários em atender ao público, o fato de não haver a possibilidade de acesso

ao acervo é, sem dúvida, um fator que demanda uma revisão estrutural por parte da

Unidade Escolar.

Salienta-se que existe uma rampa para acesso ao rol de entrada da

biblioteca, que permite o acesso aos serviços administrativos e dos terminais de

consulta, além dos espaços específicos para a leitura, individual ou coletiva. A

resolução desta questão não perpassa pela adoção de grandes mudanças

estruturais, mas especificamente nesse prédio, a instalação de uma porta lateral no

piso inferior poderia ser uma solução a considerar.

A questão da acessibilidade à biblioteca na Universidade foi descrita por

Emmanuelli (2009), ao desenvolver o estudo Acessibilidade Física em Bibliotecas

Universitárias: um direito de todos. O pesquisador objetivou naquela pesquisa

conhecer as condições de acessibilidade externas e internas existentes nas

bibliotecas universitárias localizadas no Anel Viário do campus Vale, da

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O estudo, que consistiu principalmente

em revisão bibliográfica e visitas exploratórias (observação não participante),

revelou, dentre outras coisas, que os funcionários das bibliotecas possuem baixo

grau de informação sobre o usuário e questões de acessibilidade e que o espaço

externo do campus possui acessibilidade deficiente, uma vez que os prédios foram

construídos há quase três décadas, quando, segundo o pesquisador, não se

pensava em atender pessoas com deficiência como usuárias daquele espaço.

De acordo com Emmanuelli (2009) as bibliotecas estudadas não estão

preparadas para receber os alunos com deficiência física ou mobilidade reduzida,

em conformidade com normas preconizadas na Associação Brasileira de Normas

Page 146: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

145

Técnicas, o mesmo ocorrendo com alunos com deficiência visual, concluindo

finalmente que há necessidade de investimentos nas bibliotecas das Instituições de

Ensino Superior para se adequarem às normas, para estarem aptas a receber os

alunos de qualquer tipo de deficiência em suas instalações.

Retornando para a UNESP de Presidente Prudente, perguntado sobre quais

recursos de acessibilidade física a Universidade deveria possuir para facilitar a

locomoção dos alunos com deficiência no campus, João indicou as ―Rampas, piso

tátil e elevadores‖; Lucas consignou que são ―Diversos, rampas, calçada para cegos,

tutores para acompanhar os deficientes‖; Marcos aponta a necessidade das

―Rampas em certos lugares de fluxo de pessoas, que não tem. Piso tátil para

deficientes visuais‖ e Mateus referiu a ―Cadeira de roda; instrumento para cegos;

surdos‖.

Em resposta ao questionamento sobre se acreditam que as instalações (sala

de aula, laboratórios, sanitários, refeitório) são adaptadas para os alunos com

deficiência? Responderam unanimemente que não. Para João ―O chão tem muitos

desníveis‖; Lucas refere que ―São prédios antigos, que não passaram por reformas

visando esse propósito. Se não havia deficientes estudando, hoje há, e no meu caso

há três anos e ainda esta na mesma situação.‖; Marcos disse que ―nem todos os

prédios discentes são acessíveis. Principalmente a biblioteca‖ e Mateus esclareceu

que ―ainda estão se adaptando; não estão de tudo errado‖ [do aluno componente da

comissão anteriormente informada].

Perguntado sobre a utilização de mobiliário adaptado, apenas o aluno Marcos

respondeu afirmativamente, esclarecendo utilizar ―carteira‖ adaptada. O aluno Lucas,

com igual patologia esclareceu que não utiliza, porque ―não há esse tipo de material

no campus e se tem não lhe disponibilizaram‖. Esta aparente divergência de

informações revela o quanto a instituição deve prosseguir no quesito acessibilidade,

uma vez que efetivamente existe o equipamento, utilizado pelo próprio aluno

Marcos.

Autores como Heidrich (2004) vêm ressaltando a importância da Tecnologia

Assistiva para a viabilização de projetos de adaptações de móveis e instrumentos

para todas as pessoas, inclusive as com deficiência, pois representa a adaptação de

qualquer item, desde peças de equipamentos ou sistema de produtos, adquiridos

comercialmente ou desenvolvidos artesanalmente, produzidos em série, modificado

Page 147: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

146

ou feitos sob medida, que são usados para aumentar, manter ou melhorar

habilidades de pessoas com limitações funcionais, físicas ou sensoriais.

Sobre a necessidade de utilização durante as aulas de recurso especial para

fazer anotações do conteúdo ensinado, apenas o aluno Lucas acenou

afirmativamente, esclarecendo utilizar ―[...] uma prancheta para apoio na hora de

escrever [...]‖.

Em relação à necessidade de apoio especializado para fazer as atividades

escolares, em classe ou extraclasse, todos os alunos afirmaram que não

necessitavam.

No que diz respeito à realização das atividades da sala de aula no próprio

horário escolar, apenas o aluno Marcos informou que algumas ―[...] atividades são

realizadas fora do horário de aula, pelo fato de ser extensas [...]‖, sendo que os

demais alunos as executam em horário normal de aula.

Todos os alunos com deficiência referiram ainda fazer as mesmas atividades

que os demais alunos, tendo o aluno Lucas, da Educação Física, salientado que nas

―[...] aulas práticas utiliza cadeira de basquete, pra jogos e atividades [...]‖.

A poetiza Cora Coralina45 finaliza a poesia ―Das pedras‖ com a expressão

―Quebrando pedras e plantando flores. Entre pedras que me esmagavam, levantei a

pedra rude dos meus versos.‖ Num sentido metafórico, a comunidade acadêmica

deve envidar esforços para ―retirar‖ as pedras do caminho dos alunos com

deficiência ou auxiliá-los a contorná-los, uma vez que, como esforço pessoal, muitas

vezes vêm recolhendo as pedras atiradas sobre eles para construir seus próprios

caminhos.

Para Emmel e Castro (2003), as barreiras arquitetônicas são obstáculos,

construídos no meio urbano ou nos edifícios, públicos ou privados, que impedem ou

dificultam a livre circulação das pessoas acometidas de incapacidade de caráter

transitório ou permanente.

O Manual de Acessibilidade da ABNT (2004) elenca alguns desses

obstáculos:

45

Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (Cidade de Goiás, 20 de agosto de 1889 — Goiânia, 10 de abril de 1985) foi poeta e contista brasileira. O poema ―Quebrando pedras‖ foi publicado recentemente no livro: ―Cora Coralina: Doceira e Poeta. São Paulo: Global, 2009.

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147

Escadas sem corrimão e sem contraste de cor nos degraus; Ausência de corrimãos e/ou guarda-corpos normatizados; Ausência de banheiros adaptados; Ausência de rampas de acesso para cadeirante; Pouca iluminação; Ausência de orelhão, extintores de incêndio e caixas de correio adaptados à altura compatível com usuários de cadeira de rodas (a 1m do chão), ausência de sinalização tátil no chão, identificação desse mobiliário urbano pelos deficientes visuais; Falta de manutenção de ruas e calçadas, bueiros sem tampa ou grades de proteção; Salas de aula, teatros, anfiteatros e ginásios sem vagas ou espaços nos corredores entre as poltronas, carteiras, arquibancadas para cadeiras de rodas; Desníveis nas portas que sejam maiores que 5 cm; Portas e corredores estreitos (menor que 85 cm), catracas sem porta alternativa; Portas emperradas e com maçanetas roliças ao invés do tipo alavanca, principalmente em banheiros adaptados; Banheiros sem identificação escrita, ao invés de símbolo que designem o gênero (para identificação dos analfabetos) e em relevo (para deficientes visuais); Falta de abrigos para sol e chuva nos pontos de ônibus.

É possível considerar então que a mobilidade reduzida é uma forma de

exclusão social, uma vez que pode dificultar o relacionamento com as outras

pessoas, impedindo ou dificultando que a pessoa com deficiência ou mobilidade

reduzida se desloque até o local desejado.

Mas é oportuno aqui esclarecer também que algumas ações vêm sendo

envidadas pela FCT/UNESP, buscando adequar-se às questões da acessibilidade

física no campus, em parte por conta do cumprimento de um termo de ajustamento

de conduta firmado entre a instituição e o Ministério Público local.

A figura 3 ilustra a escada frontal que dá acesso ao prédio da administração

da FCT. Para o acesso de cadeirantes ou pessoas com mobilidade reduzida, havia a

necessidade de contornar o prédio através de calçadas laterais, acessando a

administração através de uma rampa com piso antiderrapante com um aclive muito

acentuado.

Em cumprimento ao termo de ajustamento de conduta, instalou-se no local

um elevador, como é possível observar nas figuras 4 e 4-A, em substituição às

rampas com alto grau de inclinação.

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148

Figura 3: Escada de acesso principal ao prédio da administração.

Figuras 4 e 4-A Elevador de acesso ao prédio da administração da FCT/UNESP

Page 150: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

149

Outras ações estão sendo adotadas na instituição, com vistas a favorecer o

acesso e permanência do aluno com deficiência. A partir do ano de 2011, a unidade

criou uma Comissão de Acessibilidade, que vem mapeando e propondo projetos

para a viabilização da acessibilidade no campus.

De acordo com Rodrigues (2004), as barreiras arquitetônicas devem ser

vistas não somente como um conjunto de rampas e medidas a serem respeitadas,

mas como uma filosofia geral de acolhimento, conforto e facilidades em todas as

dependências dos edifícios das instituições.

Diante do que foi apresentado nesta seção, observa-se que em relação à

acessibilidade física na instituição, um longo caminho ainda resta a ser percorrido,

em que pese os esforços que vêm sendo envidados para as adequações,

ocorrendo, em grande medida, pela demanda dos próprios alunos com deficiência.

É, por exemplo, o caso do aluno Marcos, membro componente da comissão de

acessibilidade anteriormente mencionada.

5.2.5 A acessibilidade atitudinal na perspectiva dos alunos com deficiência

Os alunos com deficiência foram interpelados em relação a terem vivenciado

situação de constrangimento na Universidade por conta de sua deficiência. Os

alunos João e Mateus, talvez por conta do tipo de deficiência e suposições

anteriormente propostas, afirmaram que não. Todavia os alunos cadeirantes Lucas e

Marcos acenaram afirmativamente, declarando respectivamente que se sentiram

constrangidos por depender ―[...] das pessoas para superar obstáculos que não

deveriam estar ali, não ter acesso a diversos locais do campus [...]‖ e ―Não conseguir

acessar o acervo de livros da biblioteca.‖ Aqui acessibilidade física e atitudinal

parecem se fundir.

De acordo com Pereira (2006), a Universidade precisa estar preparada para

receber adequadamente estudantes com deficiência, o que implica na ausência ou

retirada de toda e qualquer barreira que possa causar-lhes constrangimento.

Situação de vivência de constrangimento de estudantes universitários é citada em

Page 151: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

150

diversos estudos, dentre os quais destacamos Pereira (2007), Calheiros (2011), que

demonstram o quanto as situações vexatórias envolvendo alunos com deficiência é

frequente.

Perguntado se sentiam-se discriminados pelos demais alunos e/ou docentes

da Universidade, responderam que não, tendo o aluno Lucas afirmado que é ―[...]

tratado de igual para igual por ambos‖.

A ocorrência do sentimento de discriminação é igualmente descrita em

diversos estudos, como em Mazzoni (2003), Oliveira (2003), Alcoba (2008) e

Calheiros (2011), o que sugere que, diferentemente do que é declarado pelos

estudantes participantes deste estudo, a ocorrência de atitudes discriminatórias

contra acadêmicos com deficiência é relativamente frequente.

O questionário elaborado para os alunos com deficiência contemplou também

um espaço para os alunos exporem suas opinião sobre algum assunto correlato à

temática, que não tenha sido abordado no questionário.

O aluno Lucas manteve-se silente. Para o aluno João (2011) deve ser

incentivado

[...] a prática de esportes, acho muito importante que a pessoa com deficiência pratique algum esporte, isso ajuda de maneira fantástica na inserção da pessoa na sociedade, pois a partir do momento que se tem contato com outras pessoas com deficiência é possível ter uma troca de experiência, que ajudará muito no desenvolvimento psicológico. (Lucas, 2011)

Marcos declarou que

ao chegar na faculdade se deparou com a falta de acessibilidade no discente da Geografia. Porém, foi abordado por alunos que ficaram indignados pelo fato, e lhe ajudaram a chegar até o coordenador do curso e ao diretor, que em seguida tomaram providências quanto a questão. (Marcos, 2011).

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151

Mateus (2011), por seu turno, esclareceu que somente

[...] a questão de que a deficiência não impede de agir e se relacionar. E se nos damos bem com todos, nem nos damos conta de sermos deficientes físicos. A universidade criar mecanismos para estes deficientes serem a cada dia mais valorizados, por exemplo: passe escolar, mais (gabinetes de estudo). (Mateus, 2011).

O aluno João revelou que considera importante a prática de algum esporte

pela pessoa com deficiência, inclusive em função da possibilidade de socialização,

uma vez que promover o contato com outras pessoas com deficiência propicia a

troca de experiência.

O papel da instituição escolar é de especial importância nesse processo de

educação inclusiva no Ensino Superior, pois como afirmaram Castanho e Freitas

(2005) diante das dificuldades enfrentadas pelos alunos com necessidades

educacionais especiais, é indispensável que a instituição ofereça uma educação de

qualidade, pois antes de lhes ser garantido um direito, plenamente reconhecido, é

um dever do Estado implementar ações que favoreçam não só seu ingresso, como

sua permanência e saída do Ensino Superior. Essa assertiva perpassa pela adoção

de atitudes sociais genuinamente favoráveis em relação à inclusão.

A declaração anterior do aluno Mateus é significativa nesse contexto, pois faz

referência a uma circunstância ocorrida no dia do seu ingresso na Universidade,

especificamente na sala de aula, que possuía um degrau e era desprovida de

rampa. Os demais alunos da sala foram solidários à causa, se recusando a entrar na

sala de aula sem que providências fossem adotadas. Conseguiram, naquela

oportunidade, a mudança para uma sala de aula que contemplava rampa na

entrada, além de mobilizarem a atenção da Coordenação do curso e Direção da

faculdade.

Embora a atuação dos colegas de sala tenha possivelmente colaborado para

que o aluno tivesse um bom sentimento de acolhimento na universidade, a solução

apresentada se configurou em um paliativo, pois o degrau permanecera na porta da

sala de aula e outros alunos cadeirantes eventualmente poderiam passar pelo

mesmo constrangimento.

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152

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

E ao final de nossas longas explorações, chegaremos finalmente ao lugar de onde partimos e o conheceremos então pela primeira vez...

T. S. Eliot46

A inclusão das pessoas com deficiência no ambiente escolar, da Educação

Básica ao nível superior, tem sido significativamente estudada nos últimos anos,

mas em virtude de sua complexidade e diversidade de posicionamentos, muitos

aspectos podem ainda escapar de sua universalidade.

De certa forma, elaborou-se neste estudo um percurso para tentar

compreender o fenômeno, que parece ter remetido ao ponto de origem, com ainda

mais dúvidas e questionamentos do que se tinha ao iniciar esse trajeto.

Ao iniciar o trabalho, a principal dificuldade encontrada foi a indisponibilidade

de informação precisa quanto ao número de alunos com deficiência na Universidade

Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP de Presidente Prudente, bem

como suas localizações no campus, o que foi sanado com a presença do autor em

todas as salas, blocos e instalações da Unidade Escolar.

O autor admite aqui seu lado utópico, nos moldes propostos pelo educador

Paulo Freire, não acreditando em algo que seja irrealizável, mas no potencial de

transformação das pessoas pela conscientização. Ser utópico para Freire (1979) é

anunciar o que humaniza o homem e denunciar o que desumaniza o homem.

Nesse sentido, buscou-se neste estudo trazer algumas reflexões sobre os

aspectos conceituais de atitudes sociais, como se formam e como podem ser

transformadas, além de descrever parte das pesquisas acadêmicas que vêm sendo

46

Thomas Stearns Eliot OM (St. Louis, 26 de setembro de 1888 — Londres, 4 de janeiro de 1965) foi um poeta modernista, dramaturgo e crítico literário inglês nascido nos Estados Unidos, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura de 1948. ―At the end of our exploring we shall not cease from exploration . . . and the end of all of our exploring will be to arrive where we started. . . and know the place for the first time.―

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153

produzidas na área referentes à inclusão das pessoas com deficiência no Ensino

Superior, bem como alguns aspectos normativos.

A adoção de atitudes sociais genuinamente favoráveis em relação à inclusão

do aluno com deficiência no Ensino Superior demanda um esforço coletivo da

sociedade em geral, aí inserida a comunidade escolar, com financiamento

governamental adequado para a viabilização de políticas públicas básicas, como

acesso à saúde, ao saneamento básico, à moradia e às condições mínimas de vida

e dignidade. Perpassa pelo investimento em políticas públicas que ofereçam Ensino

Básico de qualidade, infraestrutura operacional e pedagógica que ofereçam

oportunidades reais, para que todos os alunos consigam prosseguir nos estudos em

nível superior e, lá aportando, condições para que permaneçam na instituição, com

possibilidade concreta de alcançar seu potencial enquanto acadêmico e,

posteriormente, conquistar seu espaço no mundo do trabalho. São ações que, sem

dúvida, ―humanizam‖ o homem.

Obviamente, tal necessidade estende-se a outros grupos sociais que também

buscam a inclusão educacional, a exemplo dos negros, dos economicamente

desfavorecidos e das comunidades indígenas, dentre outros.

Por outro lado, através das reflexões suscitadas no estudo, em que pese os

inegáveis esforços envidados pela sociedade nos últimos séculos, com maior ênfase

nas últimas décadas, muito ainda tem que se caminhar para a efetivação de uma

sociedade inclusiva, não ingenuamente utópica, mas consciente da necessidade do

respeito à diversidade e, no que concerne ao ensino formal, à efetivação da

educação inclusiva, tanto para as pessoas com deficiência quanto aos demais

grupos como os exemplificados. Trata-se, então, de ―denunciar‖ ações que

desumanizam o homem.

O estudo revelou que a presença do aluno com deficiência na Universidade

estudada é efetivamente ínfimo. Foram encontrados apenas quatro alunos para o

total de aproximadamente 3.000 alunos matriculados na instituição no exercício de

2011.

Duzentas e sete pessoas foram os participantes deste estudo. Na análise dos

resultados, foi possível constatar que dos oito subgrupos estudados, apenas Ciência

da Computação confirma a hipótese inicial, ou seja, na sala onde há alunos com

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154

deficiência matriculados, os pares apresentam atitudes sociais mais favoráveis em

relação à inclusão.

Contraria essa hipótese o curso de Pedagogia, pois os alunos matriculados

em sala de aula onde não há presença de alunos com deficiência, as atitudes

sociais são mais favoráveis em relação à inclusão.

Quanto aos demais subgrupos estudados, os cursos de Geografia e

Educação Física não apresentam diferença estatisticamente significativa entre os

grupos experimental e de controle.

Em análise aos questionários respondidos pelos alunos com deficiência, é

possível verificar que referem se sentir acolhidos no campus, tanto pelos alunos de

sua sala quanto pelos demais alunos da instituição, se sentindo também bem

acolhidos pelos docentes. Referem, todavia, que os entraves encontrados dizem

respeito principalmente às questões de acessibilidade física.

Trata-se de uma especificidade observada na instituição estudada, pois ainda

que considerando o número reduzido de pessoas com deficiência, todos os estudos

localizados evidenciam que as barreiras atitudinais superam as físicas.

O estabelecimento de leis, decretos e demais dispositivos normativos sem

dúvida apresenta o condão de viabilizar a inclusão dos alunos com deficiência nas

instituições escolares, nos diversos níveis de ensino.

Mas, sem a participação efetiva da sociedade em geral e da comunidade

escolar em específico, propiciando a viabilização da adoção de atitudes sociais

genuinamente favoráveis em relação à inclusão, esse processo ocorre muito

lentamente.

As instituições superiores de ensino têm papel ímpar para a democratização

do ensino no país. Não somente pelo fato de serem as responsáveis pela formação

dos recursos humanos que vão atuar nas salas de aula e demais espaços escolares

para as próximas gerações, mas, também, em grande medida, por se tratar de um

local de produção de pesquisas que podem promover e facilitar o acesso e

permanência de todos os alunos nas salas de aulas, das escolas maternais até as

Pós-graduações.

Os cursos da Universidade estudada, em geral, não contemplam, ainda que

na modalidade optativa, disciplinas que discutam a questão da inclusão das

minorias, a exemplo das pessoas com deficiência nas instituições de ensino.

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155

A adoção de atitudes sociais genuinamente favoráveis em relação à inclusão

poderia ser potencializada com a inserção de disciplinas voltadas para essa

temática, não apenas nas instituições de Ensino Superior, mas, de uma forma mais

didática ou mesmo lúdica, desde os primeiros anos do Ensino Fundamental até o

Ensino Médio.

Ao finalizar esta etapa do trabalho, se espera ter colaborado para suscitar

reflexões sobre a inclusão do aluno com deficiência na Universidade, bem como ter

contribuído para despertar nos leitores o interesse pelo aprofundamento da leitura

do tema e na elaboração de novas pesquisas congêneres à temática estudada.

O pensamento ―Nossa capacidade de alcançar a unidade na diversidade será

a beleza e a prova de nossa civilização‖ é atribuído ao líder pacifista Mohandas

Karamchand Gandhi (Mahatma Gandhi).

Martin Luther King, pastor evangélico e ativista político, considerado um dos

mais expressivos militantes e importante líder do movimento de resistência negra

americana, adepto dos pensamentos de Gandhi, disse, em um dos seus discursos,

que tinha um sonho que um dia, seus quatro filhos negros, pudessem ser julgados

pelo seu caráter e não pela cor de sua pele.

Esse pensamento vai muito além das questões raciais, podendo ser aplicado

à grande diversidade de pessoas que se encontra excluída, nas mais diversas

instâncias das relações sociais, a exemplo das pessoas com deficiência.

Poder-se-ia dizer, nesse mesmo sonho, que um dia os universitários com

deficiência deveriam ser julgados pela sua potencialidade e habilidade acadêmica e

não pelas aparentes limitações de sua deficiência. Que o universitário pobre fosse

também julgado pela sua potencialidade nos estudos, e não pela sua condição de

pobreza, e assim por diante. Afinal, como bem disse Santos (1999), ―temos o direito

de ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito de ser diferentes

sempre que a igualdade nos descaracteriza‖.

Há menos de duas décadas, era extremamente raro se deparar nos

corredores das Universidades, principalmente nas públicas, com alunos ou

professores negros ou pardos e, paulatinamente, avanços no sentido da inclusão

foram sendo constatados e, ainda que longe se esteja para se anunciar uma

democracia racial na Universidade, sem sombra de dúvida estão cada vez mais

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156

presentes nas instituições, deixando de causar ―estranheza‖, transformando-se em

algo relativamente comum.

Da mesma forma, a inclusão da pessoa com deficiência no Ensino Superior,

cujo processo de inserção iniciou-se mais tardiamente, também irá experimentar

essa evolução, quando, espera-se, que a presença de um aluno com deficiência,

não traga nenhuma estranheza, mas a demonstração de que a sociedade caminha

nos trilhos da inclusão.

Um destes alunos participantes da pesquisa, residente em um município

circunvizinho, que inclusive é escritor, acaba de tomar posse como Secretário de

Cultura do município. Sendo também afrodescendente e de família humilde, tal

função lhe seria ofertada se não fosse sua possibilidade de inserção na

Universidade?

Ah, essa utopia, parece ser contagiante!

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157

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Page 170: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

QUESTIONÁRIO PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA

Estamos realizando uma pesquisa no campus universitário da

Unesp de Presidente Prudente/SP, intitulada “Estudo da inserção

de alunos com deficiência na Universidade”, e gostaríamos de

contar com a sua valiosa colaboração, no sentido de nos fornecer

informações que em muito colaborarão para a compreensão do

fenômeno que estamos estudando.

Realizaremos a coleta de dados por meio da aplicação deste

questionário e de uma escala. Os resultados serão utilizados

exclusivamente para fins científicos, como divulgação em revistas e

congressos.

1

AP

ÊN

DIC

E A

- Q

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luno

s co

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efic

iên

cia

16

9

Page 171: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

Eu,........................................................................................................,

portador do R.G. ................................., concordo em participar da

pesquisa intitulada “Estudo da inserção de alunos com deficiência

na Universidade”. Declaro ter recebido as devidas explicações da

referida pesquisa e concordo que minha desistência poderá ocorrer em

qualquer momento sem que ocorra qualquer prejuízo físico, mental ou

no desenvolvimento das atividades na Universidade. Declaro, ainda,

estar ciente de que a participação é voluntária e que fui devidamente

esclarecido(a) quanto aos objetivos e procedimentos desta pesquisa.

Data: ___/___/___

Assinatura: ____________________________________

Identificação:

Nome: ..................................................................................................

Data de nascimento: ___/___/___

Sexo: ( ) feminino ( ) masculino

2

1. Característica familiar:

1.1. Escolaridade do pai ......................................................................

1.2. Escolaridade da mãe ....................................................................

1.3. Renda mensal familiar (em salários mínimos) .............................

2. Características do aluno:

2.1. O curso em que você está matriculado foi sua primeira opção nos exames vestibulares?

( ) sim

( ) não

Qual curso você gostaria de estar cursando? .....................................

..............................................................................................................

O que lhe impediu de fazer? ...............................................................

..............................................................................................................

..............................................................................................................

3. Percepção quanto ao acolhimento na universidade:

3.1. Como foi o acolhimento pela classe quando você chegou?

..............................................................................................................

..............................................................................................................

..............................................................................................................

3

17

0

Page 172: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

3.2. Você se sentiu acolhido pelos estudantes fora da sua sala de

aula?

( ) sim

( ) não

Justifique sua resposta ........................................................................

..............................................................................................................

3.3. Você se sentiu acolhido pelos seus professores?

( ) sim

( ) não

Justifique sua resposta ........................................................................

..............................................................................................................

3.4. Você considera que quem o acolheu melhor foram?

( ) os estudantes

( ) dos professores

Justifique sua resposta ........................................................................

..............................................................................................................

3.5. Onde Você se sente mais bem acolhido, agora na universidade ou durante o ensino fundamental e médio? Por que? ..............................................................................................................

..............................................................................................................

..............................................................................................................

4. Acessibilidade

4.1. Você tem alguma dificuldade em se locomover no campus? ( ) sim

Qual é a sua dificuldade?.....................................................................

..............................................................................................................

( ) não

4.2. Quais ações você entende que a universidade deveria promover para facilitar sua locomoção física no campus? ..............................................................................................................

..............................................................................................................

4.3. Quais recursos de acessibilidade física a universidade deveria possuir para facilitar a locomoção dos alunos com deficiência no campus? ..............................................................................................................

..............................................................................................................

4.4. Você acha que as instalações (sala de aula, laboratórios, sanitários, refeitório) são adaptadas para os alunos com deficiência? ( ) sim

( ) não

Por quê? .............................................................................................

..............................................................................................................

..............................................................................................................5

17

1

Page 173: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

4.5. Em sua sala de aula você utiliza mobiliário adaptado?

( ) sim

Qual? ...................................................................................................

..............................................................................................................

( ) não

4.6. Durante as aulas você necessita de algum recurso especial para fazer anotações do conteúdo ensinado? ( ) sim

Qual recurso você necessita? .............................................................

..............................................................................................................

( ) não

4.7. Você necessita de apoio especializado para fazer as atividades escolares, quer seja na classe ou extraclasse? ( ) sim

Qual apoio você necessita? ................................................................

............................................................................................................... (

) não

4.8. Você realiza as atividades da sala de aula no próprio horário escolar? ( ) sim

( ) não

Por quê e em qual horário realiza as atividades? ...............................

..............................................................................................................

5

4.9. As atividades propostas pelos docentes são iguais as dos demais alunos? ( ) sim

( ) não

Exemplifique atividades adaptadas ou recursos didáticos pedagógicos utilizados pelos professores .............................................................................................................

..............................................................................................................

5. Sentimento em relação à deficiência:

5.1. Você já vivenciou situação de constrangimento na universidade por conta de sua deficiência? ( ) sim

Você poderia descrevê-la? ..................................................................

..............................................................................................................

( ) não

5.2. Você se sente discriminado pelos demais alunos e/ou professores da universidade? ( ) sim

Por que? ..............................................................................................

..............................................................................................................

( ) não

6

17

2

Page 174: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

Utilize o espaço abaixo para opinar sobre algum assunto correlato à

temática, que você considera que não foi abordado convenientemente

nos questionamentos anteriores ............................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

..........................................................................................................................

7

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

.................................................................................................................

17

3

Page 175: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

TABULAÇÃO DAS RESPOSTAS AO QUESTIONÁRIO DOS ALUNOS COM DEFICIÊNCIA

ITEM PERGUNTA JOÃO LUCAS MARCOS MATEUS

1.1. Escolaridade do pai Ensino Superior completo

Ensino Superior completo

Ensino fundamental incompleto (1º)

Alfabetizado

1.2. Escolaridade da mãe Ensino Médio completo

Ensino Superior incompleto

Ensino fundamental

incompleto (3º)

Alfabetizada

1.3. Renda Mensal Familiar (S/M) 08 (oito) 03 (três) 03 (três) 03 (três)

2.1 O curso em que você está matriculado foi sua primeira opção nos exames vestibulares?

Sim Sim Sim Sim

Qual curso você gostaria de estar cursando?

O que lhe impediu de fazer?

3.1. Como foi o acolhimento pela classe quando você chegou?

Foi bom, sem nenhum problema.

No início foi um pouco tímido, mas como sou fácil de fazer amizade, passou a ser de um acolhimento maior do que com outros da sala.

Foi bom, todos se

mostraram amigáveis

e receptivos.

Não tive problema de

acolhida; fui bem

acolhido pelos

colegas.

3.2. Você se sentiu acolhido pelos

estudantes fora da sua sala de aula?

Sim Sim Sim Sim

Justifique sua resposta Nunca tive dificuldades em fazer amigos.

Converso com todos, tomamos lanche juntos, saímos, estudamos.

Sim geralmente dentro do campus.

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17

4

Page 176: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

3.3. Você se sentiu acolhido pelos seus professores?

Sim Sim Sim Sim

Justifique sua resposta Sempre tive um tratamento igual aos demais alunos

A maioria são muito compreensíveis, mas tem uma minoria que não se acostumou

Foram bem acolhedores

3.4. Você considera que quem o acolheu melhor foram?

Os estudantes Os estudantes Os estudantes Os estudantes

Justifique sua resposta Por ter as mesmas idades e pensamentos

Por eu estar mais perto, convivendo no pós-aula.

Pelo fato de ter maior contato.

Porque são os

primeiros que tive

contato.

3.5. Onde Você se sente mais bem acolhido, agora na universidade ou durante o ensino fundamental e médio? Por que?

Na universidade, pois aqui tenho maior independência da família, portanto os amigos são mais próximos.

Foram situações diferentes pois me tornei deficiente após o ensino fundamental e médio porém a visão da pessoa com deficiência assusta um pouco, o que torna as coisas mais difíceis, porém tem melhorado muito.

Bom não tem como opinar, pois antes da universidade eu não era deficiente.

Agora na faculdade;

devido a opção que

fiz de estudar e se

formar.

4.1. Você tem alguma dificuldade em se locomover no campus?

Não Sim Sim Não

Qual é a sua dificuldade? Entrar e sair da sala que tem degrau, acesso a pista de atletismo, a piscina, a sala da direção, a graduação, a biblioteca.

Tenho dificuldade de se locomover nas áreas antigas do campus.

17

5

Page 177: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

4.2. Quais ações você entende que a universidade deveria promover para facilitar sua locomoção física no campus?

O piso deveria ser mais nivelado e limpo, existem muitas pedras no campus.

Construir ou reformar os espaços retirando degraus que é o que mais me incomoda.

Pelo que me interei a direção está em fase de aprovação de projetos de acessibilidade.

Corrimão.

4.3. Quais recursos de acessibilidade física a universidade deveria possuir para facilitar a locomoção dos alunos com deficiência no campus?

Rampas, piso tátil e elevadores.

Diversos, rampas, calçada para cegos, tutores para acompanhar os deficientes.

Rampas em certos lugares de fluxo de pessoas, que não tem. Piso tátil para deficientes visuais.

Cadeira de roda;

instrumento para

cegos; surdos.

4.4. Você acha que as instalações (sala de aula, laboratórios, sanitários, refeitório) são adaptadas para os alunos com deficiência?

Não Não Não Não

Por quê? O chão tem muitos desníveis

São prédios antigos, que não passaram por reformas visando esse propósito. se não haviam deficientes estudando, hoje estamos, e no meu caso há 3 anos e ainda esta na mesma situação.

Pois nem todos os discentes são acessíveis. Principalmente a biblioteca.

Mais ainda estão se

adaptando; não estão

de tudo errado.

4.5. Em sua sala de aula você utiliza mobiliário adaptado?

Não Não Sim Não

Qual? Não, porque não há esse tipo de material no campus e se tem não me disponibilizaram

Carteira

17

6

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4.6. Durante as aulas você necessita de algum recurso especial para fazer anotações do conteúdo ensinado?

Não Sim Não Não

Qual recurso você necessita? Eu utilizo uma prancheta para apoio na hora de escrever.

4.7. Você necessita de apoio especializado para fazer as atividades escolares, quer seja na classe ou extraclasse?

Não Não Não Não

Qual apoio você necessita? A não ser que haja uma barreira que eu não consiga superar.

4.8. Você realiza as atividades da sala de aula no próprio horário escolar?

Sim Sim Não Sim

Por quê e em qual horário realiza as atividades?

Algumas atividades são realizadas fora do horário de aula, pelo fato de ser extensas.

4.9. As atividades propostas pelos docentes são iguais as dos demais alunos?

Sim Sim Sim Sim

Exemplifique atividades adaptadas ou recursos didáticos pedagógicos utilizados pelos professores

Nas aulas práticas eu utilizo minha cadeira de basquete, pra jogos e atividades.

5.1. Você já vivenciou situação de constrangimento na universidade por conta de sua deficiência?

Não Sim Sim Não

Você poderia descrevê-la? Depender das pessoas para superar obstáculos que não

Não consegui acessar o acervo de livros da biblioteca.

17

7

Page 179: atitudes de estudantes universitários frente a alunos com deficiência ...

deveriam estar ali, não ter acesso a diversos locais do campus.

5.2. Você se sente discriminado pelos demais alunos e/ou professores da universidade?

Não Não Não Não

Por quê? Sou tratado de igual para igual por ambos.

Utilize o espaço abaixo para opinar sobre algum assunto correlato à temática, que você considera que não foi abordado convenientemente nos questionamentos anteriores

Quanto a prática de esportes, acho muito importante que a pessoa com deficiência pratique algum esporte, isso ajuda de maneira fantástica na inserção da pessoa na sociedade, pois a partir do momento que se tem contato com outras pessoas com deficiência é possível ter uma troca de experiência, que ajudará muito no desenvolvimento Psicológico.

Ao chegar na faculdade me deparei com a falta de acessibilidade no discente da Geografia. Porém fui abordado por alunos que ficaram indignados pelo fato, e me ajudaram a chegar até o coordenador do curso e ao diretor, que em seguida tomaram providências quanto a questão.

Somente a questão

de que a deficiência

não impede-nos de

agir e nos relacionar.

E se nos damos bem

como todos, nem nos

damos conta de

sermos deficientes

físicos. A

universidade criar

mecanismos para

estes deficientes

serem a cada dia

mais valorizados, por

exemplo: passe

escolar, mais

(gabinetes de

estudo).

17

8

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APÊNDICE C – Lista prioritária de tópicos sobre Inclusão no Ensino Superior 179

Prezado(a) docente A partir de sua leitura pessoal, vivência no campus e/ou prática docente na área de

educação inclusiva, solicito a sua colaboração, no sentido de indicar os tópicos abaixo

descritos, que o senhor(a) considera mais importante no estudo da Inclusão da pessoa

com deficiência na universidade. O senhor(a) deve indicar o nº 1 para o tópico que

considerar o mais importante, o nº 2 para o segundo tópico em nível de importância e

assim progressivamente:

Acessibilidade física e atitudinal ( )

Acolhimento na universidade ( )

Carência de recursos humanos para a efetivação da educação inclusiva ( )

Criação de comissões de acessibilidade nas instituições de ensino superior ( )

Democratização do acesso à educação ( )

Efetivação de medidas que promovam a valorizem das diferenças ( )

Familiares das pessoas com deficiência ( )

Flexibilização de currículos ( )

Formação discente para a discussão e fundamentações da educação inclusiva ( )

Implementação de ações afirmativas (cotas) para a viabilização da inclusão ( )

Inclusão como forma de mobilidade social, profissional e educacional ( )

Percepção dos acadêmicos quanto a inclusão ( )

Percepções dos alunos quanto as interações interpessoais no ambiente universitário ( )

Permanência na universidade e acesso ao mundo do trabalho ( )

Políticas de atendimento às pessoas com deficiência ( )

Preparação do corpo funcional - docente e funcionários ( )

Propostas pedagógicas para a inclusão ( )

Trajetórias acadêmica dos alunos no decorrer do curso ( )

Uso intensivo de Tecnologias da Informação/Assistivas ( )

Docente: ______________________________________________________________ Instituição: _____________________________________________________________

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A

A

A

ANEXO A – ELASI forma A 180

"JÚLIO DE MESQUITA FILHO"

ELASI

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181

Você vai encontrar, nas páginas seguintes, 35 enunciados, cada um seguido de

cinco alternativas que indicam a extensão em que você concorda com o enunciado ou

discorda do seu conteúdo. A sua tarefa consiste em ler atentamente cada enunciado e

assinalar uma das alternativas, aquela que expressa melhor o seu grau de

concordância ou discordância. As alternativas são:

(a) Concordo inteiramente (b) Concordo mais ou menos (c) Nem concordo nem discordo (d) Discordo mais ou menos (e) Discordo inteiramente

Cada enunciado vem acompanhado das letras (a), (b), (c), (d) e (e). Veja o

seguinte exemplo:

1. A pena de morte deve ser instituída no Código Penal

Brasileiro.

(a) (b) (c) (d) (e)

Se você concorda inteiramente com o enunciado de que a pena de morte deve ser

instituída no Código Penal Brasileiro, deve assinalar a letra (a); se concorda mais ou menos

(apenas em parte), deve assinalar a letra (b); se nem concorda nem discorda (é indiferente,

não tem opinião formada a esse respeito, está completamente indeciso ou não

compreendeu direito o enunciado), deve assinalar a letra (c); se discorda mais ou menos

(em parte), deve assinalar a letra (d); e se discorda inteiramente do enunciado, deve

assinalar a letra (e).

A1

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Responda a todas as questões e em cada questão assinale apenas uma alternativa.

Na absoluta impossibilidade de responder a alguma questão, assinale a letra (c). Não há

resposta certa nem errada. Portanto, responda de acordo com a sua própria opinião,

baseando-se na primeira impressão.

Pedimos que inicialmente preencha o quadro abaixo.

Muito obrigado!

Nome: .........................................................................................

Data de Nascimento: ..................................................................

Local de Nascimento: ................................................................

Sexo: ( ) masculino ( ) feminino

Escolaridade: ..............................................................................

Ocupação: ..................................................................................

Localidade: .................................................................................

182

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(a) = concordo inteiramente

(b) = concordo mais ou menos

(c) = nem concordo nem discordo

(d) = discordo mais ou menos

(e) = discordo inteiramente

****************************************************

1. Devemos aceitar e conviver com a singularidade das pessoas.

(a) (b) (c) (d) (e)

2. O currículo deve ser adaptado para garantir ao aluno deficiente a sua participação em classe comum.

(a) (b) (c) (d) (e)

3. Com a inclusão, o deficiente não tem o direito de optar por estudar em classe especial.

(a) (b) (c) (d) (e)

4. Dentro do processo de escolarização, os alunos devem ser separados em categorias, de acordo com o nível de aproveitamento.

(a) (b) (c) (d) (e)

5. As escolas públicas devem adaptar-se ao sistema de educação inclusiva.

(a) (b) (c) (d) (e)

6. A participação de alunos diferentes, inclusive deficientes, na mesma sala de aula, é benéfica para todos.

(a) (b) (c) (d) (e)

7. Deve ser favorecida a convivência das pessoas deficientes e não deficientes.

(a) (b) (c) (d) (e)

A3

A3

183

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(a) = concordo inteiramente

(b) = concordo mais ou menos

(c) = nem concordo nem discordo

(d) = discordo mais ou menos

(e) = discordo inteiramente

****************************************************

8.A educação inclusiva tem princípios democráticos e pluralistas, garantindo a igualdade de oportunidades educacionais a todos os alunos.

(a) (b) (c) (d) (e)

9. Não é saudável a convivência de deficientes com os normais.

(a) (b) (c) (d) (e)

10. O aluno deficiente tem o direito de receber apoio pedagógico como forma de responder às suas necessidades educacionais.

(a) (b) (c) (d) (e)

11. Todos temos direitos e deveres apesar das diferenças.

(a) (b) (c) (d) (e)

12. Os alunos deficientes não devem freqüentar classe comum.

(a) (b) (c) (d) (e)

13. Pessoas com deficiência não devem chegar à universidade porque não têm condições de cumprir com os compromissos acadêmicos.

(a) (b) (c) (d) (e)

14. A escola deve promover a convivência solidária entre os alunos deficientes e

não deficientes.

(a) (b) (c) (d) (e)

15. Os direitos de cidadania devem ser garantidos a todos.

(a) (b) (c) (d) (e)

A4

184

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(a) = concordo inteiramente

(b) = concordo mais ou menos

(c) = nem concordo nem discordo

(d) = discordo mais ou menos

(e) = discordo inteiramente

****************************************************

16. As sociedades, em geral, devem ser favoráveis à inclusão.

(a) (b) (c) (d) (e)

17. A interação entre as pessoas com as mais variadas diferenças é sempre vantajosa para todos.

(a) (b) (c) (d) (e)

18. Não há benefícios com a inclusão, ela prejudica tanto alunos deficientes quanto os normais.

(a) (b) (c) (d) (e)

19. Aquele que é muito diferente deve ter seu próprio mundo.

(a) (b) (c) (d) (e)

20. As universidades devem ter garantida a autonomia de somente atender a alunos que possam adequar-se à sua estrutura em todos os aspectos.

(a) (b) (c) (d) (e)

21. A sociedade deve exigir que as pessoas deficientes sejam atendidas em seus direitos.

(a) (b) (c) (d) (e)

22. Os alunos com deficiência auditiva possuem diferenças significativas que os impedem de aprender junto com os alunos não deficientes.

(a) (b) (c) (d) (e)

A5

185

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(a) = concordo inteiramente

(b) = concordo mais ou menos

(c) = nem concordo nem discordo

(d) = discordo mais ou menos

(e) = discordo inteiramente

*****************************************************

23. O melhor local de atendimento educacional para o deficiente é na instituição especializada.

(a) (b) (c) (d) (e)

24. Todas as pessoas deficientes, independentemente do grau de comprometimento, devem ter garantidos os seus direitos de cidadania.

(a) (b) (c) (d) (e)

25. O direito ao atendimento das necessidades básicas deve ser assegurado a todos.

(a) (b) (c) (d) (e)

26. Uma sociedade inclusiva deve estar estruturada para atender as necessidades de todos os cidadãos, por mais diferentes que sejam.

(a) (b) (c) (d) (e)

27. Os alunos com deficiência mental possuem diferenças significativas que os impedem de aprender junto com os alunos não deficientes.

(a) (b) (c) (d) (e)

28. Não devem ser atendidos os alunos surdos no ensino universitário, uma vez que não são oferecidos serviços de apoio.

(a) (b) (c) (d) (e)

A6

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(a) = concordo inteiramente

(b) = concordo mais ou menos

(c) = nem concordo nem discordo

(d) = discordo mais ou menos

(e) = discordo inteiramente

*****************************************************

29. O deficiente deve ter direito às mesmas oportunidades de emprego que os demais cidadãos.

(a) (b) (c) (d) (e)

30. As universidades não devem adaptar seus recursos para o atendimento de alunos com deficiências.

(a) (b) (c) (d) (e)

31. Não existe nenhuma possibilidade de troca de experiências positivas entre aluno comum e aluno especial.

(a) (b) (c) (d) (e)

32. O serviço de apoio ao educando com deficiência para a implantação de uma

pedagogia inclusiva é um gasto injustificado.

(a) (b) (c) (d) (e)

33. As escolas particulares devem adaptar seus recursos para o atendimento de

alunos com deficiência.

(a) (b) (c) (d) (e)

34. O sistema de saúde deve estar preparado para atender com qualidade toda e

qualquer pessoa que necessita de seus serviços.

(a) (b) (c) (d) (e)

35. A reforma agrária é uma medida necessária para a construção de uma sociedade

inclusiva.

(a) (b) (c) (d) (e)

A7

A7

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