ASSOCIAÇÃO E COOPERATIVA DE PRODUTORES RURAIS · Associações de Pais e Mestres - Representam a...

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221 ASSOCIAÇÃO E COOPERATIVA DE PRODUTORES RURAIS Ceplac/Cenex ASSOCIATIVISMO Associativismo é toda a ação ou iniciativa forma ou informal, onde pessoas, grupos ou entidades reúnem esforços, vontades e recursos, com o objetivo de superar dificuldades, resolver problemas e gerar benefícios comuns. Qual a origem do associativismo? Os homens primitivos viviam em bandos. Com a evolução o homem agrupou-se em pequenas tribos. A convivência favorecia a aprendizagem coletiva (criação de armas de pedra para a caça e domínio do fogo para cozinhar) O associativismo acompanha a evolução da humanidade e, com o passar do tempo, fez-se necessário estabelecer NORMAS para que as pessoas pudessem se sentir seguras por estarem participando de grupos e movimentos que respeitam a vontade e o desejo de todos. A sociedade democrática é fruto do aperfeiçoamento desse processo, pois a prosperidade de uma nação tem relação direta com o nível de esclarecimento de seu povo que, ao conhecer suas chances e oportunidades de participação, se organiza para viver numa sociedade que garanta a todos o direito a uma vida com maior dignidade. O associativismo se utiliza das ASSOCIAÇÕES, entidades constituídas pela união de pessoas físicas ou jurídicas que se organizam para fins não econômicos sejam eles sociais filantrópicos, esportivos científicos, culturais ou de trabalho. Existem muitos tipos de associações, que variam de acordo com o perfil, objetivos e necessidades dos seus associados: Wilson Pontes de Melo

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ASSOCIAÇÃO E COOPERATIVA DE PRODUTORES RURAIS

Ceplac/Cenex

ASSOCIATIVISMO

Associativismo é toda a ação ou iniciativa forma ou informal, ondepessoas, grupos ou entidades reúnem esforços, vontades e recursos, como objetivo de superar dificuldades, resolver problemas e gerar benefícioscomuns.

Qual a origem do associativismo?

Os homens primitivos viviam em bandos. Com a evolução o homemagrupou-se em pequenas tribos. A convivência favorecia a aprendizagemcoletiva (criação de armas de pedra para a caça e domínio do fogo paracozinhar)

O associativismo acompanha a evolução da humanidade e, com opassar do tempo, fez-se necessário estabelecer NORMAS para que aspessoas pudessem se sentir seguras por estarem participando de grupose movimentos que respeitam a vontade e o desejo de todos.

A sociedade democrática é fruto do aperfeiçoamento desse processo,pois a prosperidade de uma nação tem relação direta com o nível deesclarecimento de seu povo que, ao conhecer suas chances eoportunidades de participação, se organiza para viver numa sociedadeque garanta a todos o direito a uma vida com maior dignidade.

O associativismo se utiliza das ASSOCIAÇÕES, entidades constituídaspela união de pessoas físicas ou jurídicas que se organizam para fins nãoeconômicos sejam eles sociais filantrópicos, esportivos científicos, culturaisou de trabalho.

Existem muitos tipos de associações, que variam de acordo com operfil, objetivos e necessidades dos seus associados:

Wilson Pontes de Melo

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Associações Filantrópicas - Congregam voluntários que prestam as-sistência social.

Associações de Pais e Mestres - Representam a organização da co-munidade escolar, integrando pais, alunos, dirigentes, professores e tra-balhadores de unidades de ensino.

Associações em Defesa da Vida - Delas participam pessoas e entida-des que se unem em torno de questões sociais, políticas e culturais, pró-prias de grupos sociais marginalizados, tais como os grupos dos alcoóla-tras anônimos, de prevenção da AIDS, diabéticos, entre outros.

Associações de Moradores - Formados por grupos de moradores dedeterminada localidade, visando o fortalecimento da comunidade na con-quista de bens comuns.

Associações Culturais, Desportivas e Sociais - Caracterizam-se pelaunião de pessoas ligadas às atividades literárias, artísticas, desportivas,etc.

Associações de Consumidores - União de consumidores que, ao seorganizarem, exigem produtos de melhor qualidade e preços mais justos.Geralmente lideradas por donas de casa, vêm se fortalecendo em vistados crescentes avanços na legislação brasileira.

Associações de Classe - São os conselhos de classe dos profissio-nais liberais, federações e confederações que representam os interessesde suas categorias empresariais ou de trabalhadores. Por outro lado, ossindicatos e as centrais trabalhistas reivindicam junto ao patronato e aogoverno melhores salários e benefícios, objetivo cada vez mais essencialpara uma maior participação nos resultados obtidos pelo trabalho coletivo.

Associações Ambientais/Ecológicas - Caracterizam-se pela ação emdefesa de questões ambientais, congregando grupos de ecologistas.

Associações de Interesse Econômico - São entidades que buscam ofortalecimento econômico de seus associados, tornando-os mais compe-titivos, como forma de garantir a sua sobrevivência no mercado. Diferentede uma cooperativa, como veremos adiante, a associação também admi-te pessoas jurídicas no seu quadro social. Uma associação é uma socie-dade de fins não econômicos, o que significa dizer que ela não pode rea-lizar operações comerciais em seu nome, mas é um excelente instru-mento de defesa dos interesses dos seus associados, auxiliando no acessoao mercado, estimulando a melhoria técnica, profissional e social e pro-movendo a qualidade de vida e desenvolvimento integrado e sustentáveldas comunidades e regiões.

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A forma mais usual de associações para a defesa de interesses eco-nômicos é a associação de trabalho. Nelas se associam profissionais etrabalhadores, organizados para a viabilização de suas atividades produti-vas. A prestação de serviços ou trabalho de produção, apoio nacomercialização de mercadorias e capacitação de forma associativa, en-tre outras iniciativas, são alternativas de qualificação e de expansão nomercado. Exemplos dessa iniciativa são as associações de produtoresrurais, artesãos, taxistas, médicos, costureiras, etc.

Associativismo de interesse econômico – vantagens competitivas

• aumento do poder de barganha• preços mais competitivos• ausência de intermediários• menor custo de estocagem, frete e administração• acesso a grandes fornecedores• auxílio em campanhas de divulgação• facilidade de crédito• qualificação empresarial

Cada associação, dependendo dos seus objetivos e do tipo de associ-ados que representam, tem suas particularidades. Entretanto, em todaselas observam-se características comuns, tais como:

• reúnem duas ou mais pessoas físicas e/ou jurídicas para a realização de objetivos comuns;• têm seu patrimônio constituído por cotas, frações ideais ou taxas pagas pelos seus associados, doações, fundos, reservas, subvenções, etc.

; • não possuem capital social;• têm seus fins alterados pelos associados, em assembléia geral;• seus associados deliberam livremente em assembléia geral, tendo cada associado direito a um voto.• as possíveis sobras das operações financeiras não são divididas entre os associados, sendo aplicadas na própria associação;• têm personalidade jurídica de direito privado;• uma vez dissolvida a associação, as cotas ou frações poderão ser devolvidas aos associados e a sobra do patrimônio líquido será destinada à instituição de fins idênticos ou semelhantes.

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OBJETIVOS E ATIVIDADES DAS ASSOCIAÇÕES DE TRABALHO DEPRODUTORES RURAIS

OBJETIVOS

A Associação de trabalho tem por objetivo incentivar, auxiliar, orientar,reivindicar, defender e representar os associados nas suas atividades comoprodutor rural, com vistas à melhoria da organização, produtividade e qua-lidade de sua produção visando o seu desenvolvimento sócio-econômico.

Atividades

• congregar os produtores estimulando o associativismo• prestar orientação técnica• orientar a venda da produção• adquirir máquinas e equipamentos para uso coletivo• cadastrar a produção com vistas à informação de mercado• manter um cadastro de compradores da produção• realizar pesquisa de mercado para os produtos e insumos• orientar sobre preços de insumos• orientar sobre preços de produtos e eventuais compradores• transportar ou fazer transportar a produção para suas dependências• registrar as marcas• classificar, padronizar, industrializar, beneficiar e embalar a produção• armazenar a produção coletiva• padronizar a produção com garantia de selo de qualidade• criar marcas que tornem a produção conhecida na comunidade em geral• promover cursos, congressos, seminários reuniões técnicas e expo sições• participar de campanhas de expansão do associativismo• adquirir construir ou alugar os imóveis necessários às suas instala-ções• celebrar convênios com entidades púbicas ou privadas• filiar-se a entidades associativas ou cooperativas•racionar as atividades econômicas, estimulando formas de coopera-ção• reivindicar dos órgãos públicos melhoria nas comunidades

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• desenvolver ações/projetos que tragam melhoria nas condições de trabalho• promover parcerias com instituições públicas e/ou privadas• promover a obtenção de crédito, individual ou comunitário• desenvolver quaisquer outras atividades de interesse da Associação• sustentar e defender, perante os poderes públicos e onde quer que se façam necessários, os direitos, interesses e reivindicações de seus associados• desenvolver e estimular o espírito associativista e a franca e efetiva colaboração• prestar assistência jurídica, contábil e administrativa,• colaborar com movimentos voltados para a preservação do meio am-biente• colaborar com os órgãos públicos no interesse restrito dos associa-dos• preservar e proteger os ecossistemas interligados através do desen-volvimento sustentávelpublicar periodicamente um boletim informativo

COOPERATIVISMO

O surgimento da primeira cooperativa

O surgimento do Cooperativismo como empreendimento sócio-econô-mico aconteceu na Inglaterra em 1844, na cidadezinha de Rochdale, pertode Manchester.

Sob a crescente ameaça de serem substituídos pelas máquinas a va-por e com o agravamento do estado de extrema miséria da classe operá-ria, 27 tecelões e uma tecelã reuniram-se para buscar outra alternativa detrabalho e sobrevivência.

Baseados na experiência dos precursores do Cooperativismo e ten-tando evitar seus erros, esses pioneiros traçaram o seguinte plano deação:

a) fundação de um armazém para fornecimento de alimentos e vestu-ários aos cooperados;b) construção ou compra de boas casas para os cooperados;

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c) montagem de uma linha de produção que garantisse trabalho aos cooperados sem emprego ou com salários irrisórios;d) compra e arrendamento de terrenos para cultivo, pelos desempre- gados, para posterior divisão da terra em propriedades individuais;e) destinação de parte das sobras (excedentes financeiros) à criação de um estabelecimento para a instrução e o desenvolvimento mora dos cooperados;f) dentro das possibilidades, organização do trabalho e da educação, além de ajuda a outros grupos, visando a fundação de novas coopera- tivas.

O idealismo desses tecelões e, sobretudo, o realismo de adequar oprojeto às suas possibilidades de execução, constituindo uma pequenacooperativa de consumo no então chamado “Beco do Sapo” (Toad Lane),foi que deu alicerce ao movimento cooperativista.

Apenas dois cooperados atendiam na cooperativa. Um entregava osprodutos enquanto o outro recebia o dinheiro.

Essa nova forma de organização foi motiva de deboche por parte doscomerciantes vizinhos, que previam vida curta para essa iniciativa. Parasurpresa geral, a união dos operários em torno da cooperativa prosperou.

No final do primeiro ano de atividades, a cooperativa aumentou seucapital integralizado de 28 para 180 libras. Em 1855 ela já contava com1.400 cooperados.

Foi a partir de 1860, porém, que essa experiência se multiplicou deforma vertiginosa, a tal ponto que em 1881 já existiam mil cooperativas deconsumo e cerca de 550 mil cooperados.

Simultaneamente o ideal cooperativista se espalhou pelos cinco conti-nentes, bem como por todos os setores da economia, e hoje oCooperativismo é reconhecido e aceito em todos os países do mundocomo fórmula mais adequada para atender às necessidades e interessesespecíficos das pessoas.

Por causa desse movimento, até hoje, o cooperativismo se utiliza dosseus princípios para norteá-lo. Os princípios do cooperativismo devemser conhecidos e praticados por todas as cooperativas de qualquer ramo.

Princípios do cooperativismo

De acordo com a redação adotada pela ACI, Aliança Cooperativa Inter-nacional, em congresso internacional (Manchester, 1996), os Princípios

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do Cooperativismo atualmente são os seguintes:

I) ADESÃO VOLUNTÁRIA E LIVREAs cooperativas são organizações voluntárias, abertas a todas as pes-

soas aptas a utilizar os seus serviços e assumir as responsabilidadescomo membros, sem discriminações de sexo, sociais, raciais, políticas ereligiosas.

II) GESTÃO DEMOCRÁTICA E LIVREAs cooperativas são organizações democráticas, controladas pelos

seus membros, que participam ativamente na formulação das suas políti-cas e na tomada de decisões. Os homens e as mulheres, eleitos comorepresentantes dos demais membros, são responsáveis perante estes.Nas cooperativas de primeiro grau, os membros têm igual direito de voto(um membro, um voto); as cooperativas de grau superior são tambémorganizadas de maneira democrática.

III) PARTICIPAÇÃO ECONÔMICA DOS MEMBROSOs membros contribuem eqüitativamente para o capital das cooperati-

vas e controlam-no democraticamente. Parte desse capital é, normalmente,propriedade comum da cooperativa. Os membros recebem, habitualmen-te, se houver, uma remuneração limitada ao capital integralizado, comocondição de sua adesão. Os membros destinam os excedentes a uma oumais das seguintes finalidades:

a) desenvolvimento das suas cooperativas, eventualmente através dacriação de reservas, parte das quais, pelo menos, será indivisível.

b) beneficio aos membros na proporção das suas transações com acooperativa;

c) apoio a outras atividades aprovadas pelos membros.IV) AUTONOMIA E INDEPENDÊNCIAAs cooperativas são organizações autônomas, de ajuda mútua, con-

troladas pelos seus membros. Se firmarem acordos com outras organi-zações, incluindo instituições públicas, ou recorrerem a capital externo,devem fazê-lo em condições que assegurem o controle democrático pe-los seus membros e mantenham a autonomia da cooperativa.

V) EDUCAÇÃO, FORMAÇÃO E INFORMAÇÃO.As cooperativas promovem a educação e a formação dos seus mem-

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bros, dos representantes eleitos e dos trabalhadores, de forma que estespossam contribuir, eficazmente, para o desenvolvimento das suas coope-rativas. Informam o público em geral, particularmente os jovens e os líde-res de opinião, sobre a natureza e as vantagens da cooperação.

VI) INTERCOOPERAÇÃOAs cooperativas servem de forma mais eficaz os seus membros e dão

mais força ao movimento cooperativo, trabalhando em conjunto, atravésdas estruturas locais, regionais, nacionais e internacionais.

VII) INTERESSE PELA COMUNIDADEAs cooperativas trabalham para o desenvolvimento sustentado das suas

comunidades através de políticas aprovadas pelos membros.

OBJETIVOS E ATIVIDADES DAS COOPERATIVAS DE PRODUTORESRURAIS

Objetivo

A Sociedade Cooperativa de produtores rurais tem por objetivo a defe-sa econômica e social dos seus cooperados, através da prestação deserviços voltados para a venda em comum da produção, aquisição e for-necimento de insumos e materiais usados para a produção.

Atividades

• congregar os produtores estimulando o cooperativismo• prestar orientação técnica• promover a venda coletiva da produção• adquirir máquinas e equipamentos para fornecimento aos cooperados• cadastrar a produção com vistas à informação de mercado• manter um cadastro de compradores da produção• realizar pesquisa de mercado para os produtos e insumos• orientar sobre preços de insumos• orientar sobre preços de produtos e eventuais compradores• transportar ou fazer transportar a produção para suas dependências

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• registrar as marcas• classificar, padronizar, industrializar, beneficiar e embalar a produção• armazenar a produção coletiva• padronizar a produção com garantia de selo de qualidade• criar marcas que tornem a produção conhecida na comunidade em geral• promover cursos, congressos, seminários reuniões técnicas e exposições• participar de campanhas de expansão do cooperativismo• adquirir construir ou alugar os imóveis necessários às suas instalações• celebrar convênios com entidades púbicas ou privadas• filiar-se a entidades associativas ou cooperativas• racionar as atividades econômicas, estimulando formas de cooperação• reinvidicar dos órgãos públicos melhoria nas comunidades• desenvolver ações/projetos que tragam melhoria nas condições de trabalho• promover parcerias com instituições públicas e/ou privadas• promover a obtenção de crédito, individual ou comunitário• desenvolver e estimular o espírito associativista e a franca e efetiva colaboração• prestar assistência técnica, jurídica, contábil e administrativa,• colaborar com movimentos voltados para a preservação do meio ambiente• colaborar com os órgãos públicos no interesse restrito dos associados• preservar e proteger os ecossistemas interligados através do desenvolvimento sustentável• publicar periodicamente um boletim informativo

Podemos observar que as atividades de uma associação são derepresentação e defesa dos interesses dos associados enquanto que acooperativa age defendendo os interesses econômicos com reflexo nosocial.

Dessa forma a associação não pode vender a produção dos associa-dos e nem comprar insumos para fornecimento aos mesmos. Esta é umatarefa da cooperativa. Nada impede, no entanto, que a associação atueorientando os associados ou mesmo prestando serviços coletivos volta-dos para a produção.

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Manutenção

A associação é mantida pelos associados através da contribuição so-cial, um valor fixo, definido em assembléia geral e pago mensalmente in-distintamente por todos os associados, excetuando-se os serviços indivi-duais que é pago somente pelos que se beneficiaram do mesmo. Quantomaior o número de serviços prestados pela a associação, isto é, quantomaior for a sua despesa, e quanto menor for o número de associadosmaior será o valor dessa contribuição, por isso ela não pode deixar de serpaga sob pena de onerar os demais associados. Caso a associação, du-rante o ano, não gaste toda a contribuição arrecadada o excedente passapara o ano seguinte.

A sociedade cooperativa, por outro lado, cobre os custos da prestaçãode serviços através de uma taxa denominada taxa de administração cujovalor é pago somente pelos cooperados que se beneficiaram dos servi-ços. Assim, se o cooperado não participou, no ano, das vendas em co-mum ou do fornecimento de insumos, considerando somente estes doisserviços, ele não paga nenhuma taxa. Ao contrário da associação, caso acooperativa não gaste os recursos arrecadados na forma de taxa de ad-ministração ela promove a devolução do excedente, denominada de so-bras, de acordo com a participação dos cooperados. Evidentemente ocooperado que não operou no ano não contribuiu com a taxa de adminis-tração e, conseqüentemente não terá direito à devolução.

Organização Administrativa

Tanto na associação quanto na cooperativa a assembléia geral é o prin-cipal órgão social, constituída pela reunião dos associados convidadospela diretoria através de edital de convocação. A assembléia geral deliberasobre qualquer assunto de interesse social e suas decisões devem serobedecidas por todos mesmo aqueles que não participaram ou que dis-cordaram da decisão. Dentre os principais assuntos podemos citar: apro-vação da prestação de contas da diretoria, reforma do estatuto social,eleição da diretoria e conselho fiscal e destituição dos eleitos. No caso decooperativa a assembléia geral compete decidir sobre a remuneração dosdirigentes e conselheiros e dar destino aos excedentes financeiros refe-rentes ao exercício social findo.

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A associação deve ter uma estrutura administrativa mínima, compostade um presidente, um vice-presidente, um tesoureiro e um secretário, cadaum com um suplente, ou apenas um suplente para ambos os cargos. Issonão quer dizer que a diretoria assim constituída trabalhe sozinha. Paraprestar os serviços a associação organiza os associados em comissõesde trabalho de duas ou mais pessoas, encarregadas de coordenar cadaatividade da associação. Dessa forma, teremos comissão de assistênciatécnica, de pesquisa de mercado, de cadastro da produção e assim pordiante. Com essa estrutura todos os associados terão tarefas a desem-penhar, deixando de responsabilizar a somente a diretoria pelo que acon-tece na associação.

A sociedade cooperativa, por sua vez, apresenta uma estrutura admi-nistrativa mais complexa, constituída de um conselho de administraçãoeleito pela assembléia geral para um mandato de, no máximo quatro anos,composto de uma diretoria executiva (presidente, vice-presidente e se-cretário) e três ou mais conselheiros vogais, sendo obrigatória renovaçãode pelo menos 1/3 do total.

O conselho de administração rege-se pelos dispositivos do estatutosocial e tem a responsabilidade de administrar a cooperativa elaborandoas normas de funcionamento em todos os seus aspectos, cabendo aosdiretores a incumbência da execução.

O conselho fiscal na cooperativa é composto de três membros efetivose três suplentes eleitos pela assembléia geral para um mandato de umano, sendo obrigatória a renovação de pelo menos quatro conselheiros.No caso das associações, fica a critério dos associados o número deconselheiros, o mandato e a renovação, podendo adotar o mesmo critérioutilizado para as cooperativas.

Organização do quadro social

A organização do quadro social é grande importância para o sucessode uma cooperativa porque é através dela que se consegue a capacitaçãoem cooperativismo dos cooperados o que contribui para aumentar a par-ticipação de todos nos aspectos econômicos e sociais da cooperativa demaneira consciente.

O trabalho é feito, organizando os associados em núcleos, comissões,comitês, etc de maneira que possam atuar em grupos com as mesmas

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características. Cada grupo, tenha a denominação que tiver, elege um re-presentante ou coordenador que passa a ser a pessoa que serve comoelo entre os associados e a administração da cooperativa, levando e tra-zendo informações sugestões etc, tornando a vida societária dinâmica eparticipativa.

Para a criação de uma cooperativa forte e atuante é imprescindível queo montante dos negócios seja suficiente para cobrir os seus custos. Denada adiante querer criar cooperativas cujo quadro social detém uma pro-dução que não compense o empreendimento.

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PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO DE PALMITO DEPUPUNHA (BACTRIS GASIPAES KUNTH) IN NATURA NO

SISTEMA DE INTEGRAÇÃO DA INACERES AGRÍCOLA

1Eng. Agro - Gerente Agrícola da INACERES – [email protected]. Agro - Supervisor de Integração da INACERES [email protected]

Manoel Aboboreira Neto 1

José Marcelo O. Pimentel 2

1. INTRODUÇÃO

O cultivo da Pupunheira com o objetivo de comercializar as hastes depalmito é uma atividade que está se consolidando no Brasil e principal-mente na Bahia. Em países como Costa Rica esta atividade foi desenvol-vida a partir do final da década de 70 e no Brasil só na última década coma implantação de várias áreas, principalmente nos estados do Pará, Bahiae São Paulo. Esta nova estratégia de produção, aliada a outras açõesfruto da rigorosa legislação ambiental e sanitária fez com que negóciopalmito começasse a perder o caráter de atividade extremamenteextrativista e o transformou em um agronegócio viável.

O cultivo de palmito para a produção de hastes é um negócio que pre-cisa ter uma correta planificação visando, principalmente, adequar-se aosistema de comercialização. Não basta apenas ter um excelente produto,é necessário também ter opções onde vender sua produção por um preçoremunerador e assegurar uma constância na entrega, pois neste cultivo,realiza-se a colheita periodicamente com intervalos de 20 a 45 dias.

Existe na Bahia, um novo modelo que busca atender a todos os quedesejam incluir a exploração do palmito cultivado de Pupunha como maisuma atividade na sua fazenda e na busca de aumento de sua renda, semnecessidade de implantar as etapas de industrialização, logística,comercialização e marketing. É o sistema de Integração, onde produtorese indústria formam a cadeia produtiva do palmito, que tem também, outrosimportantes participantes como Bancos, Governo do Estado e Empresasde Pesquisa e de Projetos e Assistência Técnica.

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2. SISTEMA DE INTEGRAÇÃO NO CULTIVO DE PALMITO

2.1. Principais ações das indústrias e produtores

2.1.1. Indústria

Comprar toda a produção de palmito dos Produtores Integrados, asse-gurando-lhe o pagamento por haste nos preços do mercado regional enos prazos acertados.

Prestar Assistência Técnica durante todas as etapas do cultivo.

2.1. 2. Produtores

Implantar sua lavoura de palmito e comercializar sua produção junto aIndústria Integradora. A base fundamental é a produtividade e a qualidade.

2. 2. Processos do sistema de Integração

2. 2.1. Sementes

Para facilitar a disponibilidade de sementes em qualidade e quantida-des adequadas, a INACERES adquire as sementes, realiza o processode germinação e repassa as plântulas selecionadas e classificadas paraos Integrados.

Estima-se uma oferta de sementes de palmito de Pupunheira sem es-pinhos, produzidas no Sul da Bahia, superior a 10 toneladas por ano. Alémdisso, no Norte do Brasil (Acre, Rondônia e Pará) pode-se adquirir quanti-dades superiores a 30 toneladas de sementes certificadas, por ano.

2.2.2. Capacitação

Produtores e trabalhadores recebem treinamento sobre todas as eta-pas de produção do cultivo. Esta capacitação é realizada, principalmente,pela INACERES para os seus integrados.

2. 2. 3. Assistência Técnica

Este processo é um dos pilares do sistema. A INACERES fornece As-sistência Técnica periódica para seus produtores Integrados em todas asetapas de produção (preparação do solo, plantio, manejo, colheita).

As empresas que realizam os projetos também fornecem assistênciatécnica para os produtores.

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2. 2. 4. Práticas culturais

Como toda atividade agrícola faz-se necessário à realização de práti-cas culturais como controle de ervas, adubação, replantio, controle depragas e desbrota. Estas atividades são realizadas pelos funcionários dosIntegrados sob orientação dos Técnicos que assessoram o projeto.

2. 2. 5. Colheita

Os Integrados realizam a colheita nas datas acertadas com a Indústria.

2. 2. 6. Coleta de palmito na propriedade

Coletar o palmito na propriedade do Integrado é uma ação daINACERES. O processo é organizado de tal forma que o palmito seja co-letado a tempo suficiente de ser processado, sem que haja perdas dequalidade.

2. 2. 7. Cronograma de implantação

As atividades são programadas em função da oferta de sementes oumudas. As sementes oriundas da região Sul da Bahia estão disponíveispara serem germinadas entre os meses de junho e setembro. As semen-tes provenientes do Norte do Brasil estão disponíveis entre fevereiro e abril.

Sabendo que são necessários entre 5 e 6 meses para a obtenção demudas a partir da repicagem para os saquinhos, as mudas formadas comsementes oriundas do Sul da Bahia ficam disponíveis para o plantio noprimeiro semestre do ano, enquanto as que são provenientes do Norte doBrasil estão prontas na metade do segundo semestre.

2. 2. 8. Financiamento

Os Bancos oficiais dispõem de linhas de crédito para financiar os pro-dutores que desejam implantar suas lavouras de palmito. Logicamente,atendendo as regras básicas do sistema de crédito vigente no país.

As indústrias integradoras assessoram o produtor na busca do créditojunto aos Bancos oficiais para implantação de sua lavoura.

Preocupados com a dificuldade de crédito para pequenos e micro pro-dutores, a cadeia Produtiva do Palmito criou com recursos das indústriasintegradoras um FUNDO DE AVAL para garantir o financiamento de proje-tos destes agricultores. Isso dispensa as garantias reais, uma vez que na

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sua grande maioria, estes produtores já não dispunham de lastro parafinanciar novas atividades.

A INACERES tem um sistema de financiamento próprio. Com este sis-tema todas as mudas são financiadas, o que representa a maior parte dofinanciamento, e também financia as adubações do 1º e 2º ano, sobrandoapenas o preparo do solo e manejo do cultivo. O pagamento é semprefeito em palmito, e esta amortização só inicia 1 ano após o início da colhei-ta, em parcelas cuja quantidade de hastes entregues não interferem nocusteio da produção.

2. 2. 9. Contrato

3. ASPECTOS TÉCNICOS DA PRODUÇÃO DE PALMITO CULTIVADO

O palmito cultivado de Pupunheira se desenvolve muito bem nas regi-ões onde a precipitação pluviométrica é superior a 1.600 mm e bem distri-buída ao longo do ano. Altitudes inferiores a 900 msm; solos de texturafranca arenosa; franca argilosa ou arena argilosa; pH acima de 4,5 e má-ximo de 6,5; boa drenagem e profundidade superior a 0,50 m. O local deplantio deve possuir ramal de acesso que permita o escoamento da pro-dução durante todo o ano.

Produtores e indústria firma contrato de integração que visa disciplinaros processos descritos anteriormente.

3. 1. Formação de Mudas

O viveiro deve ser projetado considerando que 1 m2 de área permite aformação de 70 a 80 mudas. Devido à forma de desenvolvimento do siste-ma foliar, faz-se necessário uma separação entre os saquinhos dentro docanteiro. Uma forma prática é ordenar os saquinhos em dois grupos detríplices fileiras separadas por um vão de 20 cm.

Na região do Sul da Bahia, as plântulas (sementes germinadas) preci-sam de sombreamento na sua etapa inicial de desenvolvimento. Isto ocor-re até o terceiro ou quarto mês após o transplante para os saquinhos. Ouso de telas tipo ráfia que permitem um sombreamento de 30% tem sidomuito eficiente, permitindo um rápido crescimento das mudas. Após esteperíodo inicia-se o processo de aclimatação, ou seja, a retirada gradativada sombra permitindo no final a completa exposição das mudas ao sol.

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De forma geral o substrato deve ter a seguinte composição:

• 20 a 30 % de material orgânico de qualidade (esterco, composto, etc);• 10 % de casca de café, arroz ou outro material seco;• 60 a 70 % de solo (preferencialmente de textura franca, arenosa ou arenosa-argilosa);• Calcário Dolomítico (4,5 kg/m3);• Fertilizante Osmocote (2 kg/m3) ou a Fórmula A (1,2 kg/m3);• Superfostato Triplo (1,2 kg/m3);

Para preparar este substrato é necessário que os materiais de grandevolume estejam secos. Os saquinhos devem ter as dimensões 14 cm X20 cm X 0,10 mm.

A aplicação de água pode ser realizada através de regador ou sistemade irrigação. Estima-se um consumo de até 3 mm/dia em períodos de altaevapotranspiração, na fase final de produção das mudas.

Algumas enfermidades que podem ocorrer em plantas enviveiradas:Podridão do talo e raízes (Fusarium sp); Podridão de plântulas (Pythiumsp. e Rizoctonia sp.); Antracnose (Colletotrichum spp.); Mancha parda(Mycosphaerella spp.); Podridão da flecha (Phytophthora sp. e Erwiniasp.). Entretanto, são controladas com ações preventivas como:

• O viveiro deve ser construído em local de fácil drenagem e entre os canteiros devem ser construídos drenos para a retirada completa do excesso de água;• As sementes germinadas devem ser tratadas antes de serem transplantadas;• Após o transplante, usar serragem grossa (maravalha), desde que seja nova, para proteger o substrato de salpicado da chuva e o desenvolvimento de ervas;• Realizar aplicações preventivas de fungicidas.

As principais pragas que atacam as mudas nos viveiros são os ratos eeventualmente os gafanhotos. O controle é realizado mediante a utiliza-ção de iscas para ratos e a catação de gafanhotos.

Durante o desenvolvimento das mudas pode-se aplicar um fertilizantefoliar completo (macro e micronutrientes) e bioestimulantes.

As mudas estão aptas para serem plantadas definitivamente no campoquando apresentarem um diâmetro do coleto superior a 1 cm, tenham umbom vigor e livres de enfermidades e pragas.

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3. 2. Preparo da ÁreaA legislação ambiental deve ser respeitada e o plantio deve ser realiza-

do em áreas onde não seja necessária a supressão de espécies arbórease preferencialmente em áreas de pastagens ou de cultivos anteriores. Portratar-se de uma espécie heliófila não deve ser cultivada em áreas comsombreamento.

3. 3. Densidade de plantio

Os primeiros trabalhos relacionados com a busca de uma densidadeideal para palmito de Pupunheira, ocorreram na Costa Rica no início dadécada de oitenta. (Zamora y Vargas 1985).

A evolução para novas densidades de plantio surgiu a partir da deman-da do mercado consumidor que optava por consumir palmitos mais finos.Além disso, segundo Vargas, 2000, as opções de maior rentabilidade es-tavam associadas às maiores densidades.

Na região Sul da Bahia, a densidade de 7.200 plantas por hectare temproduzido bons resultados econômicos e é hoje a mais utilizada para aimplantação de novas áreas. O espaçamento usado é 1,85 m (entre li-nhas) x 0,75 m (entre plantas).

3. 4. Implantação

O preparo da área pode ser manual ou mecanizado. As principais ativi-dades são:

• Limpeza da área (roçar ou arar e gradear);• Aplicação de corretivo do solo (fosfatos, calcários);• Balizamento (utilizam-se apenas 160 balizas por hectare)• Trilhamento (apenas nas linhas de plantio);• Coveamento (25 cm x 30 cm);• Distribuição de mudas;• Aplicação de fertilizante (Superf. Triplo ou Fórmula A). A dosagem varia de acordo ao solo.• Plantio;• Recoleta de sacos plásticos

3. 5. Manutenção

Após a implantação as principais atividades são o controle de ervas,fertilização, monitoramento e controle de pragas e enfermidades

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3. 6. Controle de ervas

As principais técnicas utilizadas no controle de ervas são: coberturasvivas, uso localizado de herbicidas, roçagem e capina. Sendo esta última,apenas nos três primeiros meses após a implantação do cultivo. Após oinício da colheita, ocorre uma redução significativa no controle de ervas,uma vez que as folhas e parte das cascas do palmito formam uma cober-tura morta. A densidade de plantio é outro fator importante que contribui naredução da incidência de ervas. Atualmente o uso de coberturas vivas temsido implementado e os resultados tem sido significativos com (Hydrocotileleucocephala), Mucuna spp (arbustiva).

3. 7. Fertilização

Deve ser realizada de acordo com resultado das análises de solo. Aaplicação pode ser fracionada em quatro vezes por ano. O local de aplica-ção do fertilizante varia de acordo ao desenvolvimento do cultivo. Inicia-secom a aplicação ao redor da planta, aproximadamente 20 cm. Após umano de desenvolvimento, pode-se aplicar o fertilizante na área total da planta,uma vez que as raízes absorventes encontram-se amplamente distribuí-das nesta área. Os principais fertilizantes utilizados são Cloreto de Potás-sio, Superfosfato Simples/Triplo, Uréia e micronutrientes. É importanteressaltar que a fertilização deve contemplar o equilíbrio nutricional da plan-ta. Excesso de fertilizantes aplicados no solo ou mal quantificados provo-ca desequilíbrio entre os nutrientes e conseqüentemente induzem perdastanto para a nutrição da planta quanto no aumento dos custos.

3. 8. Controle de pragas

As principais pragas que atacam a lavoura estabelecida são:

Falsa Broca da bananeira (Metmasius hemipterus Sericeus);A larva e o adulto atacam as touceiras (cepas) e plantas em desenvol-

vimento. Neste mesmo local ocorre o desenvolvimento das outras etapasdo ciclo de vida do inseto, como ovo e pupa.

O controle desta praga é realizado conjuntamente contra oRhynchophorus.

Bicudo do Coqueiro (Rhynchophorus palmarum Linne);A larva ataca principalmente o rizoma sob a superfície ou na região do

coleto das plantas fazendo galerias em direção ao centro do rizoma pro-

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vocando a perda do palmito e a morte da planta. Além disso, são transmis-sores de enfermidades fúngicas.

O adulto ataca a touceira após o corte, depositando ovos e sugando aseiva. Tem sido registrada a presença do adulto atacando entre as inser-ções das folhas com o talo.

Ambos os insetos são controlados mediante dois métodos:• O uso de armadilhas com feromônio: As armadilhas são semelhan-

tes àquelas usadas na cultura do coqueiro. Utiliza-se um galão plásticocom duas aberturas laterais (5 cm x 10 cm) amarrado em uma estaca àaltura de 0,80 cm do solo. Na parte interna do galão prende-se o feromônio.No seu interior acrescentam-se pequenos pedaços de palmito ou cana-de-açúcar e finalmente aplica-se um inseticida (Sevin a 1%) sobre estematerial. Semanalmente troca-se o material no interior da armadilha. Oferomônio tem duração média de 60 a 90 dias. A quantidade de armadilhasvaria de acordo ao grau de infestação, podendo ter 4 armadilhas para cadahectare até 1 para cada 5 hectares.

• A aplicação dos fungos Beauveria e Metarrizium deve ser realizadano período de baixa temperatura e alta umidade. Realizar a seguinte ope-ração para cada produto: colocar 1 kg do produto comercial em 10 litrosde água. Misturar e após 15 minutos retirar a parte líquida e colocar emoutro recipiente. No balde com o resíduo deve ser novamente acrescentarágua e coar com uma peneira plástica e também ser colocado junto dorecipiente. Após esta ação aplicar o resíduo na própria lavoura. Usar destasolução, 200 ml para cada 20 litros de água. A aplicação deve serdirecionada para o toco colhido, bainhas e restos de colheita no campo.Realizar duas aplicações por ano em cada área. A transmissão do fungoocorre também através das moscas do gênero Drosophila (mosca pre-sente nos processos de fermentação natural).

Besouro Rinoceronte (Strategus spp.);A larva é facilmente encontrada em madeira em decomposição. O adulto

perfura o solo abrindo galerias e ataca o rizoma.Pode ser controlado cavando as galerias e eliminando o adulto.

3. 9. Manejo de enfermidades

Podridão Basal (Phytophthora palmivora)Produz morte das folhas centrais e apodrecimento do meristema apical.

A principal medida de controle é evitar o uso de substrato cujo solo tenha

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sido oriundo de áreas de cacau, além disso, manter as plantas bem nutri-das e livres de ervas.

Podridão mole (Erwinia chrysanthemi)Causa o apodrecimento do meristema apical, provocando a morte das

folhas centrais. A lesão apresenta-se úmida e com forte cheiro de podri-dão. Algumas medidas de controle são: drenagem e nutrição equilibrada.

3. 10. Colheita

A partir dos 14 meses após o plantio no campo começa a colheita. Estaé realizada a cada intervalo de 20 a 45 dias em uma mesma área. A plantadeve ser colhida quando estiver no seu melhor estado de maturação. Estacondição se observa através do diâmetro basal (verificado entre 10 a 15centímetros do solo, devendo esta planta ter um diâmetro mínimo de 10centímetros) e das disposições das três últimas folhas a uma altura deaproximadamente 1,70 metros.

A haste colhida deve ter um comprimento final mínimo de 65 e máximode 75 centímetros e apresentar uma base (maçã ou gema) com 10 cm decomprimento e ter duas capas protetoras. O palmito não deverá perma-necer exposto ao sol depois de colhido.

A produtividade média por hectare é de 8,5 mil hastes/ano, podendosuperar 10 mil hastes/ha/ano, de acordo ao manejo realizado.

A produtividade média por touceira de 1,5 hastes/planta. É uma realida-de nos cultivos bem manejados no Sul da Bahia.

4. BREVE ANÁLISE FINANCEIRA

• Investimento médio inicial por hectare (Ano 1): R$: 7.013,12.• Custo médio anual por hectare (a partir do Ano 2): R$ 1.684,85.• Receita bruta média anual por hectare (a partir do 3º ano de colheita): R$ 4.821,00.Uma análise direta permite expressar que se trata de uma atividade

com alto rendimento por hectare, superior a muitas atividades que hojesão exploradas comercialmente. É sem dúvida um importante cultivo quepode gerar renda e liquidez, inclusive para os produtores de cacau quetem durante o ano uma entressafra muitas vezes superior a cinco mesesficando descapitalizados e tendo que obter recursos externos neste perío-do.

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Uma maior profundidade na análise financeira dependerá de variáveiscomo taxa de juros e prazo de carência. Entretanto, o cultivo de palmito éviável e destaca-se por apresentar durante todo o ano um bom e regularfluxo de caixa.

Atualmente no Sul da Bahia existem empresas que industrializam pal-mito e são credenciadas pela ANVISA. A área de produção estimada depalmito é de 2.983 hectares. (Rodrigues, 2003). Apesar destes dados, houveum incremento de área superior a 450 hectares, influenciado principal-mente pelo sistema de Integração da INACERES.

A meta da INACERES, que faz parte da Cadeia Produtiva do Palmito, écomprar e industrializar palmito de 4 mil hectares oriundos de produtoresINTEGRADOS. Na cidade de Uruçuca, no estado da Bahia, está instaladae em funcionamento uma das mais modernas fábricas de processamentode palmito do mundo.

O programa de Integração da INACERES teve início no ano de 2002com apenas quatro produtores integrados. Após quatro anos, em maio de2006, a empresa registra parceria com 92 produtores que juntos totalizamuma área de 365 hectares de palmito.

O sistema de Integração da Cadeia Produtiva do Palmito visa atender:

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

• Pequenos, médios e grandes produtores.• Associações de produtores oriundas dos programas de assentamento do Governo;• Associações de pequenos produtores;

Trata-se de uma alternativa para o Sul da Bahia e difere de muitas ou-tras por ter os distintos processos coordenados para que os envolvidos(Integrados e Empresa Integradora) possam produzir e obter seus lucrosa partir de seus investimentos, ter constância na entrega e principalmenteno recebimento dos pagamentos pela produção comercializada ao longode todo o ano.

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CONCEITOS E ASPECTOS LEGAIS SOBRE ÁREAS DEPRESERVAÇÃO PERMANENTE

Elias Leal Veloso 1

1 CEPLAC / Centro de Extensão. [email protected]

AS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE (APPS)

São áreas de grande importância ecológica e social, que têm a funçãode preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, abiodiversidade, o fluxo gênico da fauna e flora, proteger o solo e asseguraro bem estar das populações humanas.

Conceitos e aspectos Legais

No artigo 2º do Código Florestal são consideradas de preservação per-manente, as seguintes áreas, cobertas ou não por vegetação nativa, loca-lizadas nas áreas rurais e urbanas:

a) ao longo de cada lado dos rios ou de outro qualquer curso de água;b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios de água naturais ou ar-

tificiais;c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados “olhos de

água”, qualquer que seja a situação topográfica;d) no topo de morros, montes, montanhas e serras;e) nas encostas ou parte destas com declividade superior a 45°;f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadores de man-

gues;g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas;h) em altitudes superiores a 1.800 metros, qualquer que seja a vegeta-

ção.O Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA, levando em

consideração que: a função sócio-ambiental da propriedade prevista nosartes. 5º, inciso XXIII, 170, inciso VI, 182, § 2º, 186, inciso II e 225 da

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Constituição e os princípios da prevenção, da precaução e do poluidor-pagador; a necessidade de regulamentar o art. 2º da Lei nº 4.771/65, noque concerne às APP’s; as responsabilidades assumidas pelo Brasil porforça da Convenção da Biodiversidade, de 1992, da Convenção Ramsar,de 1971 e da Convenção de Washington, de 1940, bem como oscompromissos derivados da Declaração do Rio de Janeiro, de 1992; asAPP’s e outros espaços territoriais especialmente protegidos, comoinstrumentos de relevante interesse ambiental, integram o desenvolvimentosustentável, objetivo das presentes e futuras gerações. Revogou daResolução CONAMA nº 004/85, e regulamentou a Resolução CONAMA nº303/02, da qual relacionamos abaixo os artigos que estabelecem osparâmetros, definições e limites referentes as APP’s.

Art. 2º Para os efeitos desta Resolução, são adotadas as seguintesdefinições:

I - nível mais alto: nível alcançado por ocasião da cheia sazonal docurso d’água perene ou intermitente;

II - nascente ou olho d’água: local onde aflora naturalmente, mesmoque de forma intermitente, a água subterrânea;

III - vereda: espaços brejosos ou encharcados, que contém nascentesou cabeceiras de cursos d’água, onde há ocorrência de solos hidromórficos,caracterizado predominantemente por renques de buritis do brejo (Mauritiaflexuosa) e outras formas de vegetação típica;

IV - morro: elevação do terreno com cota do topo em relação à baseentre 50 e 300 trezentos metros e encostas com declividade superior a30% (aproximadamente 16º) na linha de maior declividade;

V - montanha: elevação do terreno com cota em relação à base superiora 300 metros;

VI - base de morro ou montanha: plano horizontal definido por planícieou superfície de lençol d’água adjacente ou, nos relevos ondulados, pelacota da depressão mais baixa ao seu redor;

VII - linha de cumeada: linha que une os pontos mais altos de umaseqüência de morros ou de montanhas, constituindo-se no divisor deáguas;

VIII - restinga: depósito arenoso paralelo à linha da costa, de formageralmente alongada, produzido por processos de sedimentação, ondese encontram diferentes comunidades que recebem influênciamarinha, também consideradas comunidades edáf icas pordependerem mais da natureza do substrato do que do clima. A

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cobertura vegetal nas restingas ocorre em mosaico, e encontra-se empraias, cordões arenosos, dunas e depressões, apresentando, de acordocom o estágio sucessional, estratos herbáceos, arbustivos e abóreo, esteúltimo mais interiorizado;

IX - manguezal: ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos,sujeitos à ação das marés, formado por vasas lodosas recentes ouarenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação naturalconhecida como mangue, com influência flúvio-marinha, típica de soloslimosos de regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo dacosta brasileira, entre os estados do Amapá e Santa Catarina;

X - duna: unidade geomorfológica de constituição predominante arenosa,com aparência de cômoro ou colina, produzida pela ação dos ventos, situadano litoral ou no interior do continente, podendo estar recoberta, ou não, porvegetação;

XI - tabuleiro ou chapada: paisagem de topografia plana, com declividademédia inferior a 10%, aproximadamente 6º e superfície superior a 10hectares, terminada de forma abrupta em escarpa, caracterizando-se achapada por grandes superfícies a mais de 600 metros de altitude;

XII - escarpa: rampa de terrenos com inclinação igual ou superior a 45º,que delimitam relevos de tabuleiros, chapadas e planalto, estando limitadano topo pela ruptura positiva de declividade (linha de escarpa) e no sopépor ruptura negativa de declividade, englobando os depósitos de colúvioque se localizam próximo ao sopé da escarpa;

Art. 3º Constitui Área de Preservação Permanente a área situada:I - em faixa marginal, medida a partir do nível mais alto, em projeção

horizontal, com largura mínima, de:a) 30 metros, para o curso d’água com menos de 10 metros de largura;b) 50 metros, para o curso d’água com 10 a 50 metros de largura;c) 100 metros, para o curso d’água com 50 a 200 metros de largura;d) 200 metros, para o curso d’água com 200 a 600 metros de largura;e) 500 metros, para o curso d’água com mais de 600 metros de largura;II - ao redor de nascente ou olho d’água, ainda que intermitente, com

raio mínimo de 50 metros de tal forma que proteja, em cada caso, a baciahidrográfica contribuinte;

III - ao redor de lagos e lagoas naturais, em faixa com metragem mínima de:a) 30 metros, para os que estejam situados em áreas urbanas

consolidadas;b) 100 metros, para as que estejam em áreas rurais, exceto os corpos

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d’água com até 20 hectares de superfície, cuja faixa marginal será de 50metros;

IV - em vereda e em faixa marginal, em projeção horizontal, com larguramínima de 50 metros, a partir do limite do espaço brejoso e encharcado;

V - no topo de morros e montanhas, em áreas delimitadas a partir dacurva de nível correspondente a 2/3 da altura mínima da elevação emrelação à base;

VI - nas linhas de cumeada, em área delimitada a partir da curva denível correspondente a 2/3 da altura, em relação à base, do pico maisbaixo da cumeada, fixando-se a curva de nível para cada segmento dalinha de cumeada equivalente a 1.000 metros;

VII - em encosta ou parte desta, com declividade superior a 100% ou45% na linha de maior declive;

VIII - nas escarpas e nas bordas dos tabuleiros e chapadas, a partir dalinha de ruptura em faixa nunca inferior a 100 metros em projeção horizontalno sentido do reverso da escarpa;

IX - nas restingas:a) em faixa mínima de 300 metros, medidos a partir da linha de preamar

máxima;b) em qualquer localização ou extensão, quando recoberta por

vegetação com função fixadora de dunas ou estabilizador de mangues;X - em manguezal, em toda a sua extensão;XI - em duna;XII - em altitude superior a 1.800 metros, ou, em Estados que não tenham

tais elevações, a critério do órgão ambiental competente;XIII - nos locais de refúgio ou reprodução de aves migratórias;XIV - nos locais de refúgio ou reprodução de exemplares da fauna

ameaçadas de extinção que constem de lista elaborada pelo Poder PúblicoFederal, Estadual ou Municipal;

XV - nas praias, em locais de nidificação e reprodução da fauna silvestre.Parágrafo único. Na ocorrência de dois ou mais morros ou montanhas

cujos cumes estejam separados entre si por distâncias inferiores a 500metros, a Área de Preservação Permanente abrangerá o conjunto demorros ou montanhas, delimitada a partir da curva de nível correspondentea 2/3 da altura em relação à base do morro ou montanha de menor alturado conjunto, aplicando-se o que segue:

I - agrupam-se os morros ou montanhas cuja proximidade seja de até500 metros entre seus topos;

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II - identifica-se o menor morro ou montanha;III - traça-se uma linha na curva de nível correspondente a 2/3 deste; eIV - considera-se de preservação permanente toda a área acima deste

nível.A Constituição do Estado da Bahia, além de estabelecer a obrigação do

Estado e Municípios preservarem a diversidade e a integridade do patrimôniobiológico e genético, bem como definirem espaços territoriais e seuscomponentes a serem protegidos, considera como Áreas de PreservaçãoPermanente as nascentes e margens de rios, as matas ciliares e áreasque abriguem exemplares raros da fauna, da flora e de espéciesameaçadas de extinção - (art. 214, V e VI c/c art. 215, VI, VII e VIII). Adianteno art. 215, define como Áreas de Preservação Permanente, osmanguezais; as áreas estuarinas; os recifes de corais; as dunas erestingas; os lagos, lagoas e nascentes existentes em centros urbanos,mencionados no Plano Diretor do respectivo Município; as áreas deproteção das nascentes e margens dos rios, compreendendo o espaçonecessário à sua preservação; as matas ciliares; as áreas que abriguemexemplares raros da fauna, da flora e de espécies ameaçadas de extinção,bem como aquelas que sirvam como local de pouso ou reprodução deespécies migratórias; as reservas de flora apícola, compreendendo suasespécies vegetais e enxames silvestres; as áreas de valor paisagístico;as áreas que abriguem comunidades indígenas, na extensão necessáriaa sua subsistência e manutenção de sua cultura; as cavidades naturaissubterrâneas e cavernas; as encostas sujeitas à erosão e deslizamento.

Funções ecológicas das Áreas de Preservação Permanente

A vegetação ciliar, também conhecida como mata ripária, ou de galeria,está contemplada nas alíneas “a”, “b” e “c” do art. 2º do Código Florestal.

Chama-se ciliar porque, tal e qual os cílios que protegem os olhos,essa mata resguarda as águas, depurando-as, filtrando-as.

Essas matas funcionam como controladoras de uma bacia hidrográfica,regulando os fluxos de água superficiais e subterrâneas, a umidade dosolo e a existência de nutrientes.

Além de auxiliarem, durante o seu crescimento, na absorção e fixaçãode carbono, os principais objetivos dessas matas são:

a) reduzir as perdas do solo e os processos de erosão e, por via reflexa,

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evitar o assoreamento (arrastamento de partículas do solo) das margensdos corpos hídricos;

b)garantir o aumento da fauna silvestre e aquática, proporcionando re-fúgio e alimento para esses animais;

c)manter a perenidade das nascentes e fontes;d)evitar o transporte de defensivos agrícolas para os cursos d’água;e)possibilitar o aumento de água e dos lençóis freáticos, para

dessedentação humana e animal e para o uso nas diversas atividades desubsistência e econômicas;

f)garantir o repovoamento da fauna e maior reprodução da flora;g)controlar a temperatura, propiciando um clima mais ameno;

h)valorização da propriedade rural; ei) formar barreiras naturais contra a disseminação de pragas e doen-

ças na agricultura.Além de funcionar como filtro, protegendo o corpo d’água de fontes

poluidoras localizadas no ambiente terrestre lindeiro, a vegetação marginalé responsável pela criação de micro-ambientes que são essenciais paraa manutenção de muitas espécies animais. Diversos grupos deinvertebrados e mesmo vertebrados, como os anfíbios, possuem hábitosterrestres quando adultos, mas apresentam formas jovens que dependemde ambientes aquáticos. Uma margem nua, desprovida de vegetação, viade regra não oferece condições adequadas para a manutenção dessesanimais. Além disso, é sabido que as áreas de margem funcionam comoberçários de muitas espécies aquáticas, que encontram nos pequenosnichos localizados entre a vegetação ribeirinha à proteção que necessitamnas primeiras fases da vida.

Nas alíneas “d” a “h”, o art. 2º do Código Florestal elenca hipóteses deproteção à flora que recobre espécies de relevo, destinada ao combate daerosão. Conquanto esse Código silencie sobre as faixas de proteção dasencostas e elevações, com exceção das altitudes superiores a 1.800metros, a Resolução CONAMA nº 4/85 as define na alínea “b”, incisos IV,VI, X e XI.

Essas coberturas vegetais, especialmente as previstas nas alíneas “d”e “e”, são por demais importantes na preservação dos morros. Além disso,a deterioração dessas áreas resulta em danos paisagísticos, associadosà alteração da morfologia das encostas afetadas, e prejuízos aodesenvolvimento do turismo, especialmente do ecoturismo, hoje tãoexplorado em propriedades dotadas de morros recobertos por vegetação.

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No meio rural, não são menos importantes as funções dessa vegetação,assim como não é menos intensa a sua degradação para propiciar a práticada agricultura e da pecuária sobre os topos dos morros e nas encostas. Aexploração econômica dessas áreas pode até render dividendos para osseus responsáveis num momento inicial. Mas, considerando os efeitossinérgicos e de longo prazo verificáveis no meio ambiente, sem a coberturavegetal, a chuva leva os sedimentos do solo descoberto, acentuando a erosãoe o assoreamento de rios, arroios e lagoas. Ademais, essa vegetaçãotambém é responsável pela manutenção do microclima de sua área deinfluência, regulando a vazão dos cursos d’água e garantindo a captaçãode água para as populações que vivem nessas regiões.

Recuperação de Áreas de Preservação Permanente

Mediante uma parceria Estado-Coletividade, firmada para formulação,implementação e gestão de políticas públicas ambientais, instituídas peloart. 225, “caput”, da Constituição Federal vigente, compete aos movimen-tos sociais rurais buscar, formal e informalmente, em parceria com o Po-der Público, Organizações Não - Governamentais, Universidades, Sindi-catos, dentre outras instituições, alternativas para a recuperação de áreasdegradadas.

Cumpre ressaltar importante avanço da legislação e da política flores-tal baiana - Lei nº 6.569/94, que tem por objetivo, dentre outros, promovera recuperação de áreas degradadas, por meio de fomento. Além disto, alegislação florestal baiana obriga, a partir de 10.1.94, os proprietários ru-rais recomporem, em sua propriedade, a reserva legal, mediante plantioou regeneração em cada ano de, ao menos, 1/30 da área da reserva - (art.10, § 2º).

No intuito de incentivar a recuperação de áreas degradadas o Estadoda Bahia instituiu o Programa de Fomento Florestal - Florestas para oFuturo, mediante a Lei nº 7.396, de 4.8.98.

Conforme o disposto no art. 10, dessa lei, qualquer produtor ruralinteressado deverá inscrever-se no Programa Florestas para o Futuro,sendo beneficiado com o reflorestamento de até 50 ha e de até 500 ha demanejo florestal. Pequenos e médios proprietários são prioritariamentebeneficiários do Programa.

Por meio desse Programa de Fomento Florestal torna possível aosmovimentos sociais rurais, aqui representados pelo recorte especifico dos

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assentamentos de trabalhadores rurais, implementar ações de recuperaçãode áreas degradadas, seja utilizando espécies nativas, seja utilizandoespécies ecologicamente adaptadas, visando uma melhoria nas condiçõessócio-econômicas e ambientais das áreas de assentamentos.

Nessas áreas é necessário que se assegure de ampla participação dacomunidade local e da sociedade que civil organizada, atendendo ao prin-cipio da participação popular, previsto no direito e na legislação ambiental,a exemplo do art. 225, da C.F. /88. Somente com envolvimento, democra-tização das relações e efetiva participação podem-se manusear com efi-cácia os instrumentos jurídico-políticos disponíveis para a recuperação deáreas de preservação degradadas, edificando uma ordem de justiça soci-al no campo.

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CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA NA REGIÃOCACAUEIRA DA BAHIA

Quintino Reis de Araújo 1, 2

Arlicélio Queiroz Paiva 2

1 CEPLAC / Centro de Pesquisa do Cacau. E-mail [email protected] 2 UESC /Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais. E-mail [email protected]

REFLEXÃO INICIAL

A relação que existe entre solo e planta é de completa dependência umdo outro. O solo serve para dar sustentação às plantas e funciona comoum reservatório de água e nutrientes necessários para a vida das plantas.Por outro lado, as plantas promovem a cobertura do solo e fornecemmatéria orgânica que é importante para a formação e conservação dosolo.

O solo é composto por pequenos espaços vazios, chamados de poros.Os poros de tamanho maior são conhecidos como macroporos e os demenor tamanho, de microporos. Eles desempenham funções específicasno solo, os microporos servem para armazenar água, enquanto que osmacroporos são responsáveis pela drenagem da água, pela entrada esaída dos gases no solo e pela penetração das raízes das plantas.

Assim sendo, é de extrema importância que as técnicas adotadas parao cultivo de plantas não promovam a alteração na porosidade do solo. Noentanto, sempre ocorrem mudanças, a mais comum é o aumento daquantidade de microporos e a diminuição de macroporos. Com isso, avelocidade de infiltração da água no solo fica mais lenta e a água passa ase acumular na superfície, provocando o escoamento que é conhecidocomo enxurrada. Esse escoamento superficial é um importante fator queprovoca erosão.

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A erosão é o processo de desgaste acelerado do solo, provocadopela utilização de técnicas inadequadas para o cultivo. Ela provoca o em-pobrecimento do solo e a perda da capacidade produtiva com o passardos tempos. Além disso, ela é responsável por importantes desajustesambientais. Um deles é o transporte de terra para dentro dos rios que,muitas vezes, provoca a sua morte. Outro impacto importante é a polui-ção dos mananciais, que compromete a qualidade da água para consumohumano e animal.

Observa-se que existe uma interação intrínseca e muito importanteentre o solo e a água, o conhecimento que se tem deles, o “valor” que sedá aos mesmos, os usos que se aplicam, os cuidados adotam quanto aesses componentes essenciais do ambiente. A água, assim como o solo,é um elemento vital para a sustentabilidade do homem na natureza, epassa a se constituir como um bem de planejamentos, legislações, dispu-tas, mercados decisivos quanto à qualidade de vida e o equilíbrio entre ospovos e as comunidades.

Conservação do Solo e da Água

O solo é um recurso natural que deve ser utilizado como patrimônio dacoletividade, independente do seu uso ou posse. É um dos componentesvitais do meio ambiente e constitui o substrato natural para o desenvolvi-mento das plantas.

A ciência da conservação do solo e da água preconiza um conjunto demedidas, objetivando a manutenção ou recuperação das condições físi-cas, químicas e biológicas do solo, estabelecendo critérios para o uso emanejo das terras, de forma a não comprometer sua capacidade produti-va. Estas medidas visam proteger o solo, prevenindo-o dos efeitos dano-sos da erosão, aumentando a disponibilidade de água, de nutrientes e daatividade biológica do solo, criando condições adequadas ao desenvolvi-mento das plantas.

Do ponto de vista da conservação do solo, a ocorrência de chuvasfortes em uma determinada região é preocupante, pois essas chuvas têmum alto potencial de desgaste dos solos. Na região cacaueira da Bahia émuito comum a ocorrência de chuvas intensas, donde se pode concluirque é uma região onde pode ocorrer erosão, dependendo apenas do tipode uso do solo. O impacto das gotas das chuvas fortes sobre a superfíciede um solo sem cobertura vegetal, provoca a separação das partículas de

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argila, silte e areia. As partículas individualizadas que são transportadaspela água para dentro do solo, estacionam no interior dos macroporos eprovocam o entupimento. Como os macroporos são responsáveis pelainfiltração da água, começa a ocorrer um acúmulo de água na superfície,resultando em enxurrada e conseqüente erosão. Portanto, as aparente-mente inofensivas gotas de chuva são as principais responsáveis pelodesgaste dos solos sem cobertura vegetal.

Diante disso, o agricultor deve se empenhar ao máximo para manter acobertura vegetal do solo, uma vez que ela amortece o choque das gotasde chuva contra a superfície do solo, diminuindo os riscos de ocorrênciade erosão. Essa cobertura pode ser feita por intermédio da preservaçãodas florestas, pelas culturas agrícolas, pelas plantas de cobertura e/oupela adição de restos de plantações.

Outro componente importante na ocorrência de erosão é a topografiado terreno. Em locais muito declivosos, a possibilidade de ocorrer erosãoé muito maior do que em locais mais planos. A região cacaueira da Bahiatem extensas áreas declivosas, as quais são susceptíveis à erosão. Odeclive acentuado favorece a uma maior velocidade de escoamento daságuas e conseqüente aumento da capacidade de transporte de terras paraas partes mais baixas do relevo.

Nesse contexto, pode-se afirmar que, por apresentar a maior parte dasterras ocupadas por sistemas agroflorestais, nos quais o cacau é a cultu-ra de interesse econômico principal, a região cacaueira da Bahia possuiuma boa estratégia para evitar a erosão, uma vez que as plantas quecompõem o agroecossistema funcionam como amortecedores do cho-que das gotas de chuva sobre o solo.

No entanto, isso não significa que o cacauicultor possa ficar despreo-cupado com a erosão. Em visitas freqüentes feitas em diversas fazendasde cacau da região, engenheiros agrônomos que trabalham com manejoe conservação do solo, têm observado a ocorrência de erosão laminar emáreas declivosas. Nessas áreas, as coberturas do solo proporcionadaspelo cacau, juntamente com as demais plantam que compõem os siste-mas agroflorestais, não é suficiente para evitar a erosão. Desse modo, ocacauicultor deverá introduzir uma técnica de conservação do solo paraaumentar a resistência do solo contra a erosão, evitando assim o seuempobrecimento. Faz-se necessário conhecer e adotar algumas técni-cas conservacionistas que são eficientes para o controle da erosão.

Nos últimos tempos, a região sul da Bahia passou por uma mudança

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muito importante no uso de seus solos, em decorrência da criseestabelecida na lavoura cacaueira. A alteração mais significativa foi à subs-tituição da cabruca por áreas de pastagem, de fruteiras e de café, entreoutros. Essas modificações ocorridas têm gerado preocupações com re-lação à conservação do solo, pois, até então, os agricultores não viamnecessidade de se adotar técnicas conservacionistas, uma vez que a pro-teção do solo promovida pelo sistema cabruca é mais eficiente do que osoutros tipos de usos que surgiram.

As pastagens bem manejadas, nas quais se utiliza o sistema de rota-ção de pastos, a associação com plantas leguminosas, à calagem e aadubação, contribuem para a conservação dos solos, pois promovem acobertura dos solos por intermédio das gramíneas e pelo fornecimento dematéria orgânica. No entanto, em boa parte das terras ocupadas por pas-tagens na região cacaueira, o que se observa é o pastoreio excessivo, noqual, os animais cortam o capim rente à superfície do solo, levando a umacompleta degradação dos pastos e deixando o solo exposto à erosão.Para piorar a situação, a técnica mais utilizada no manejo de pastagensdegradadas é o uso indiscriminado do fogo.

Com a diversificação dos cultivos ocorrida na região, houve um au-mento das áreas ocupadas por fruteiras e café. Como essas plantaçõesnaturalmente promovem uma menor cobertura do solo quando compara-das com o sistema cabruca, ocorreu, possivelmente, um aumento dasperdas de solo por erosão. Entretanto, essas perdas podem serminimizadas com a adoção de técnicas eficientes de controle da erosão.

Alguns dados sobre a água

Torna-se essencial para o futuro social, econômico e ambiental dasNações, e suas comunidades, a adoção de programas mais coerentesquanto ao uso da água. As informações seguintes registram aspectos pri-mordiais para o entendimento da importância da água:

Cerca de 70% do corpo humano consiste em água; Aproximadamente34.000 pessoas morrem diariamente em conseqüência de doenças rela-cionadas com a água; 65% das internações hospitalares no Brasil se de-vem a doenças de veiculação hídrica. O homem consegue O homem podeficar até 28 dias sem comida, mas não suporta três dias sem água. Umapessoa necessita de no mínimo cinco litros de água por dia para beber ecozinhar e 25 litros para higiene pessoal; Uma família média consome

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cerca de 350 litros de água por dia no Canadá, 20 litros na África, 165 litrosna Europa e 200 litros no Brasil; As perdas de água na rede de distribuiçãono Brasil variam de 30% a 65% do total aduzido; Aproximadamente 1,4bilhão de litros de água são necessários para produzir um dia de papelpara a imprensa mundial; Um tomate contém 95% de água; 9400 litros deágua são necessários para produzir 4 pneus de carro; Abastecimento esaneamento adequados reduzem a mortalidade infantil em 50%; Umapessoa sobrevive apenas uma semana sem água; Mulheres e criançasem muitos países em desenvolvimento viajam em média de 10 a 15 kmtodos os dias para obter água; No mundo, hoje, 1.00 milhões de pessoasnão têm acesso à água potável, mas a indústria de água engarrafadamovimenta 22.000 milhões de dólares ao ano.

Outros dados importantes: 97% da água do planeta está nos oceanos;2% nos pólos congelados; 0,89% nos subterrâneos; 0,03% nos lagos; e0,01% nos rios; ou seja, cerca de 1% está disponível para consumo. Nosúltimos 50 anos, as reservas de água doce foram reduzidas em 62% nomundo. Segundo dados da OMS e de ONGs, cada 1.000 litros de águautilizada pelo homem resultam em 10.000 litros de água poluída. Na terra,25 mil pessoas morrem por dia por falta de água ou contaminadas por ela.Cada R$ 1,00 investido em saneamento básico equivale à economia deR$ 5,00 gastos na saúde.

A água é fundamental para todas as espécies e não deve ser um recur-so a ser apropriado.

Planejamento Conservacionista

A solução dos problemas decorrentes da erosão não depende da açãoisolada de um produtor. A erosão produz efeitos negativos para o conjuntodos produtores rurais e para as comunidades urbanas. Um plano de uso,manejo e conservação do solo e da água deve contar com o envolvimentoefetivo do produtor, do técnico, dos dirigentes e da comunidade.

Dentre os princípios fundamentais do planejamento de uso das terras,destaca-se um maior aproveitamento das águas das chuvas. Evitando-seperdas excessivas por escoamento superficial, podem-se criar condiçõespara que a água pluvial se infiltre no solo. Isto, além de garantir o suprimentode água para as culturas, criações e comunidades, previne a erosão, evitainundações e assoreamento dos rios, assim como abastece os lençóisfreáticos que alimentam os cursos de água.

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Uma cobertura vegetal adequada assume importância fundamental paraa diminuição do impacto das gotas de chuva. Há redução da velocidadedas águas que escoam sobre o terreno, possibilitando maior infiltração deágua no solo e, diminuição do carregamento das suas partículas.

Principais Técnicas de Conservação do Solo

Práticas Vegetativas Práticas Edáficas Práticas Mecânicas

√ Florestamento ereflorestamento√ Plantas de cobertura√ Cobertura morta√ Rotação de culturas√ Formação e manejode pastagem√ Cultura em faixa√ Faixa de bordadura√ Quebra vento e bos-que sombreador√ Cordão vegetativopermanente√ Manejo do mato ealternância de capinas

√ Cultivo de acordo com acapacidade de uso da terra

√ Controle do fogo√ Adubação: verde, química,

orgânica√ Calagem

√ Preparo do solo e plantioem nível

√ Distribuição adequadados caminhos

√ Sulcos e camalhões empastagens

√ Enleiramento em contor-no

√ Terraceamento√ Subsolagem √ Irrigação e drenagem

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

A Bacia Hidrográfica como unidade de estudo, pesquisa,planejamento e gerenciamento

Os rios agem como integradores de processos biogeoquímicos (a águaatua como veículo energético, catalisador, aglomerador, modelador dapaisagem, solvente universal, “ALMA” da paisagem). Pensar em baciahidrográfica requer a consideração da mesma como um sistema (que éum conjunto de elementos que se inter-relacionam, coordenados entre si,e que funcionam como estrutura organizada). As bacias, como sistemasdinâmicos, são constituídas de ecossistemas semifechados à favorecemimplantação de sistemas intergados de desenvolvimento rural sustentá-vel. O enfoque da bacia como Unidade de Estudo requer grande diversida-de multidisciplinar, isto é, de conhecimentos múltiplos dos agentes sociaisque convivem com a mesma.

Os maiores avanços da atuação humana, quanto aos planos de conser-vação do solo e da água, têm sido verificados quando os programas de traballhotomam por base o manejo ambiental com base em bacias hidrográficas.

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Palavras FinaisA história da humanidade está intimamente ligada à história de uso da

terra. A conservação do solo e da água mantém a riqueza (capacidadeprodutiva) das terras, melhora o rendimento das culturas e garante umambiente equilibrado, para a atual e as futuras gerações. É responsabili-dade de todos os cidadãos a “convivência” racional com os recursos so-los e água, e os agricultores, como um dos protagonistas desta história,têm um papel fundamental na construção de uma vida saudável.

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CULTIVO DE FLORES TROPICAIS NA REGIÃO SUL DABAHIA

Narciso Bezerra de Freitas

1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS

A Região Sul da Bahia, notadamente a Região Cacaueira, vem atraves-sando nas duas últimas décadas, uma forte crise econômica, com signi-ficativos reflexos sociais e ambientais. A doença “vassoura-de-bruxa”, cau-sada pelo fungo Crinipellis perniciosa (Stahel) Singer, sem dúvida, foi agrande causadora desta situação, tendo como aliados o baixo preço daarroba de cacau e as adversidades climáticas, levando os cacauicultoresa descapitalização e até ao abandono da lavoura.

No ano de 1990, estimava-se em 25.000 o número de cacauicultores,os quais empregavam aproximadamente 130.000 trabalhadores rurais.Sendo a lavoura cacaueira a principal fonte de renda, emprego regional eatrativa de segmentos agroindustriais, o impacto social negativo foi muitogrande.

A crise, sem uma perspectiva de solução a curto e/ou médio prazo,levou as instituições e dirigentes regionais pela busca de alternativas noagronegócio, as quais se adequassem às características de clima e solo,dentro de um programa de diversificação de cultivos, introduzindo-se apupunheira, cafeeiros, intensificação da exploração da piaçaveira, amplia-ção das áreas de produção de coco, expansão das áreas de pastagens,incentivo à produção de camarões e peixes, dentre outros.

Mais recentemente surgiu uma nova oportunidade dentro do agronegócio,grande agregadora de mão-de-obra, perfeitamente adaptável às condiçõesde clima e solo regionais – a “floricultura tropical”, que vem despontandode forma rápida e ganhando espaço, notadamente nas proximidades doeixo Ilhéus/Itabuna e no Baixo Sul, com apoio das instituições públicas e

Engenheiro Agrônomo, MSc. Em Agronomia/Fitotecnia, Fiscal Federal Agropecuário doMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, lotado na Superintendência Federalde Agricultura de Pernambuco (SEPDAG/SFA-PE/MAPA).

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privadas afetas ao setor. É muito importante salientar que a floriculturatropical é um negócio como qualquer outro dentro do agronegócio. Temsuas vantagens, mas também tem os seus riscos.

O floricultor deve ter em mente sempre alguns objetivos, tais como:� Estar sempre antenado na busca de novos mercados;� Estabelecer parcerias para produção e comercialização;� Agregar-se a outros produtores;� Estabelecer um programa de melhoria permanente da qualidade de seus

produtos e/ou serviços;� Sempre que possível, ampliar sua oferta de produtos e/ou serviços;� Agregar valor ao seu produto e/ou serviço;� Buscar sempre soluções coletivas.

2. O AGRONEGÓCIO DA FLORICULTURA

A floricultura compreende a produção de sementes e propágulos, floresde corte e em vaso, mudas de plantas ornamentais, para arborização erecomposição florestal, forrações e grama, implantação de bancos ativosde germoplasma (BAG) e coleção de espécies e variedades, paisagismoe jardinagem, arte floral, topiária, bonsai e biotecnologia vegetal.

3. ESTATÍSTICA MUNDIAL DA FLORICULTURA

A área mundial cultivada pela floricultura é de 380.735 hectares, onde aÁsia e Oceania compreendem 65% desse total, a América 19%, a Europarepresenta 15% e a África detém apenas 1%.

O mercado internacional se aproxima dos US$ 100 bilhões anuais e ofluxo internacional de comércio (exportações) estão estimado em US$ 9,4bilhões. Os principais países exportadores são Holanda, Colômbia, Itália,Dinamarca, Bélgica, Quênia, Zimbabwe, Austrália, Costa Rica, Equador,Tailândia, Israel, Estados Unidos (Hawaii) e outros. A participação brasilei-ra é de apenas 0,22% desse total. São 84 países que exportam produtosda floricultura, mas o Brasil é que tem o maior mercado interno.

4. ESTATÍSTICA DA FLORICULTURA BRASILEIRA

O Brasil tem 5.560 municípios, dos quais apenas 304 têm produção noagronegócio da floricultura, totalizando uma área de 5.200 hectares, onde

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o tamanho médio das propriedades em produção é de 3,5 hectares. Adistribuição da área cultivada com flores e plantas ornamentais no Brasilestá estimada em 50,4% para mudas; 13,2% para flores envasadas; 28,8%para flores de corte; 3,1% para folhagens em vasos; 2,6% para folhagensde corte e 1,9% para outros produtos. São gerados, em média, quatroempregos para cada hectare cultivado, onde existem cerca de 4.000 pro-dutores. Estima-se uma geração de 120.000 empregos diretos, assim dis-tribuídos: 58 mil no setor produtivo, 4 mil na distribuição, 51 mil no varejo e7 mil no apoio. Existem 28 centros atacadistas e 20 mil pontos de vendano varejo, com faturamento anual da ordem de R$ 2 bilhões. Os rendi-mentos econômicos na produção de flores e plantas ornamentais podematingir de R$ 50 mil a R$ 100 mil, para cada hectare cultivado.

Com todo esse cenário favorável, a de se convir que o setor deve seressencialmente profissional, notadamente quando se deseja vender parao mercado internacional e/ou exportar para os grandes centros consumi-dores brasileiros. Assim sendo, se faz necessário o uso intensivo detecnologia, mão-de-obra bem qualificada e uma cadeia produtiva profissi-onal.

O consumo brasileiro de flores e plantas ornamentais é muito baixo, daordem de US$ 4,70 por pessoa/ano, principalmente quando comparadocom os dos países como a Suíça e Noruega, que corresponde respectiva-mente a US$ 170,00 e US$ 143,00/pessoa/ano. Até mesmo a Argentinasupera significativamente o nosso consumo per capita, consumindo emmédia US$ 25,00/pessoa/ano.

O Instituto Brasileiro de Floricultura (IBRAFLOR), instituiu no ano de2000 o Programa Brasileiro de Exportação de Flores e Plantas Ornamen-tais (Flora Brasilis), objetivando implementar ações para o incremento dasexportações internacionais, cuja meta é passar dos atuais 0,22% para1,50% até o ano de 2007. Os mercados-alvo prioritários são a Alemanha,Holanda, Estados Unidos, Itália, França, Inglaterra, Japão e Argentina. Parao mercado interno o IBRAFLOR criou recentemente o Projeto Pólen, quetem como objetivo aumentar as vendas de flores e plantas ornamentais.Este projeto foi iniciado experimentalmente em Campinas/SP, devendo-se estender para todo o país.

As exportações brasileiras de flores e plantas ornamentais em 2004foram de US$ 23,5 milhões, correspondendo a um aumento de 20% emrelação ao ano anterior, no entanto contribui inexpressivamente para como mercado mundial.

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O consumidor, notadamente o europeu, está cada vez mais exigente,fazendo com que o produtor tenha um maior controle de qualidade, usemétodos limpos em seus processos produtivos e tenha senso máximoem relação à preservação ambiental, ou seja, que sua propriedade sejaeconomicamente viável, socialmente justa e ecologicamente correta.

O mercado internacional é ávido por produtos de elevado padrão dequalidade, exóticos, com maior vida útil e preferencialmente comcertificação. Este fato abriu espaço significativo para as flores tropicais.

As extraordinárias condições de clima e solo, bem como a infra-estru-tura regional que o Sul da Bahia dispõe, trabalhando de forma organizada,profissional e com apoio institucional e das entidades privadas afetas aosetor, sem dúvida alguma fará com que esta região se torne num dosmaiores pólos de floricultura tropical do mundo.

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), criou oPrograma Proflores, com o objetivo de apoiar o desenvolvimento e aprofissionalização do setor de flores e plantas ornamentais, estabelecen-do parcerias com instituições competentes da cadeia produtiva. Aabrangência desse programa compreende todo o território nacional e asmetas visam à incorporação de 2.500 hectares na produção de flores,geração de 25 mil empregos diretos, capacitação técnico-gerencial de5.000 profissionais e produtores, implantação de normas de produção in-tegrada de flores e plantas ornamentais, estabelecimento inicial da prote-ção de 10 espécies de tropicais e 10 espécies de temperadas, e finalmen-te ampliar as exportações para US$ 80 milhões/ano até o final do ano de2007.

As ações desse programa compreendem: pesquisa e desenvolvimento,assistência técnica aos produtores de flores e plantas ornamentais, sistemade informações gerenciais e tecnologias do setor florícola e produçãointegrada de flores e plantas ornamentais.

5. CARACTERÍSTICAS DA REGIÃO SUL DA BAHIA

5. 1. Infra-estrutura

A Região Sul da Bahia, com foco principal para a Região Cacaueira,dispõe de excelente infra-estrutura para o desenvolvimento da floriculturatropical:

� � Aeroporto e porto marítimo com saídas para conexões internacionais;

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� � Malha viária interligada às demais unidades da federação;� � Centros oficiais de pesquisas, extensão rural e ensino, com convênios institucionais em níveis nacional e internacional e corpo técnico de elevado nível técnico e pedagógico;� � Universidades e escolas de nível médio profissionalizantes;� � Instituições de comércio exterior;� � Mídia televisiva, falada e escrita de excelentes padrões de qualidade;� � Agentes financeiros oficiais e privados.

5. 2. Edafoclimáticas

5. 2. 1. Solo

O levantamento pedológico realizado pelo Centro de Pesquisas doCacau (CEPEC/CEPLAC/MAPA), tem toda a identificação e caracteriza-ção dos solos da Região Sul da Bahia onde, com base nas exigênciaspara o cultivo de flores tropicais, pode-se identificar as áreas destinadas àprodução dessas espécies.

De uma maneira geral são encontrados solos de relevo plano a forte-mente ondulado; tipos arenosos, próximos ao litoral, até argilosos, locali-zados mais afastados da parte costeira; fertilidade natural variando desdemuito pobres, como as areias quartzosas até os de alta fertilidade, comoos solos do “tipo Cepec”; Com relação à drenagem, existem desde oslocalizados em áreas alagadas até os excelentemente bem drenados.

5. 2. 2. Clima

A temperatura média anual varia entre 25º a 27º C. A umidade relativado ar é superior a 70%. As chuvas são superiores a 1.200 mm/ano, comexcelente distribuição ao longo do ano. A intensidade luminosa é superiora 1.500 horas de luz/ano. Os ventos são amenos na maioria dos mesesdo ano.

6. EXIGÊNCIAS TÉCNICAS DO CULTIVO DE FLORES TROPICAIS

As características a seguir são consideradas as ideais, no entanto ape-nas a necessidade de água é que não pode ser ajustada. É necessárioque haja grande disponibilidade de água de boa qualidade. Trata-se de umfator limitante para o cultivo das flores tropicais.

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De uma maneira geral, em relação ao solo para a produção de florestropicais necessário se faz ter:

� Solo de textura arenosa a argilo-arenosa, tendo em vista que asplantas produtoras de flores tropicais são rizomatosas e necessitam desolos mais leves para o seu desenvolvimento e expansão das touceiras;

� � Relevo preferencialmente plano, para facilitar todas as operaçõesdepreparo da área, coveamento, transporte aplicação de corretivos e adu-bos, tratos culturais, colheita e transporte das flores, fazendo com que orendimento da mão-de-obra seja baixo e os custos sejam altos. No entan-to, em caso de declive, realizar o plantio utilizando-se os métodos de con-servação do solo. Devem ser evitadas as áreas de declive acentuado;

� Naturalmente férteis, no entanto nas adubações de correção defertilidade e/ou suplementares, basicamente são utilizados adubos orgâ-nicos de qualquer origem, podendo ser complementado com adubaçãoquímica por via foliar ou com adubos granulados. Vale salientar que sedeve realizar análise do solo previamente;

� Bem drenados, pois as flores tropicais não suportam solosencharcados; pH de 4,5 a 6,5. Em caso de estar fora desta faixa, deve-seproceder à devida correção;

As flores tropicais, por serem originárias de regiões de climas tropical esub-tropical, apresentam algumas exigências em relação aos fatores cli-máticos, tais como:

� Temperaturas médias em torno de 26º C;� Chuvas superiores aos 1.200 mm/ano e com boa distribuição, não

dispensando com isso as irrigações suplementares, notadamente nosperíodos em que a ocorrência entre uma chuva e outra se prolongue pormuito. O sistema de irrigação ideal para as flores tropicais é o de micro-aspersão, por ser localizado, econômico e eficiente;

� Umidade relativa do ar em torno de 70 a 80%;� Luminosidade superior a 1.200 horas/luz/ano;� Ventos amenos, para que não ocorra tombamento das plantas. No

entanto pode-se implantar cerca viva com planta de crescimento rápido,resistente e de porte alto, para formar uma cortina vegetal que funcionarácomo “quebra-ventos”.

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7. CARACTERIZAÇÃO DAS FLORES TROPICAIS

As flores tropicais são originárias das regiões intertropicais (Trópicosde Câncer e de Capricórnio), compreendendo a faixa localizada entre aslinhas imaginárias à altura de Miami (Estados Unidos) e o Norte de SantaCatarina (Brasil). De uma maneira geral apresentam maiores desenvolvi-mentos em regiões de clima quente e úmido, e como sombreamento par-cial.

Botanicamente, as flores tropicais estão classificadas e distribuídasem oito famílias, as quais constituem a Ordem Zingiberales, a saber

� Cannaceae – Canna indica;� Costaceae – Costus barbatus;� Heliconiaceae – Heliconia bihai;� Lowiaceae – Orchidantha sp.;� Marantaceae – Calathea burle-marxii;� Musaceae – Musa coccínea;� Strelitziaceae – Strelitzia reginae;� � Zingiberaceae – Zingiber spectabilis.

8. SUGESTÕES PARA O DESENVOLVIMENTO DA FLORICULTURATROPICAL NA REGIÃO SUL DA BAHIA

A Região Sul da Bahia tem potencial climático e edáfico que atendeplenamente todos os requisitos técnicos para o cultivo de flores tropicais,como também a infra-estrutura existente servirá como excelente suportepara o escoamento da produção. Também outros segmentos da floricultu-ra podem ser explorados, ampliando assim o leque de opções de produ-tos e serviços no segmento da floricultura, possibilitando uma grande opor-tunidade de geração, tais como a produção de flores em vaso, plantasornamentais, orquídeas, bonsai, plantas suculentas e cactáceas, forraçõese grama em tapetes e em plugs, plântulas por cultura de tecidos,paisagismo, jardinagem e arte floral.

Carece aqui se evidenciar algumas sugestões de ordem técnico-organizacional, para que se consiga êxito nesse segmento do agronegócio:

� Criar e instalar uma Câmara Setorial Integrada Regional, para atu-ar em consonância com os programas estadual e nacional da floricultura;

265

� Identificar, catalogar e multiplicar as espécies de potencialeconômico;

� Inserir a floricultura nos ensinos fundamental, médio e superior;v Incentivar o desenvolvimento de trabalhos científicos e acadêmicos

em níveis de Doutorado, Mestrado, Especialização e de Estágio Supervi-sionado Orientado (ESO);

v Realizar cursos de capacitação técnico-administrativa para toda acadeia produtiva, buscando apoio nas instituições públicas e entidadesprivadas afetas ao setor;

� Participar de missões técnicas nacionais e internacionais,objetivando a transferência de tecnologias e abertura de fronteiras comer-ciais;

� Estimular o associativismo e cooperativismo;� Implantar um Banco Ativo de Germoplasma (BAG) no Centro de

Pesquisas do Cacau (CEPEC/CEPLAC/MAPA);� Instalar uma coleção de espécies e variedades de flores tropicais

no Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC/CEPLAC/MAPA), com osobjetivos de realização de pesquisas multi-setoriais, multiplicação e fo-mento, além de se constituir num local de visita técnico-pedagógica e dedivulgação;

� Inserir a floricultura num programa de agro-ecoturismo regional;� Adequação do imposto sobre circulação de mercadorias (ICMS),

que servirá de incentivo aos floricultores;� Incentivar permanentemente o consumo de flores tropicais, atra-

vés de um plano de marketing;� Apoiar as exportações;� Usar adequadamente todos os meios de comunicação, objetivando

a popularização dos produtos e serviços relacionados com a floriculturatropical.

9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CHAGAS, A. J. da; FREITAS, N. B. de – Características do cultivo de flores tropi-cais na região da mata atlântica de Pernambuco. Recife/PE, 1999;

CHAGAS, A. J. da. Floricultura tropical na zona da mata de Pernambuco. SérieEmpreendedor. Edição Sebrae, 2.000;

266

CASTRO, C. E. F. de. Helicônias para exportação – aspectos técnicos da produ-ção. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Brasília, EMBRAPA– SPI, 1995;

CASTRO, C. E. F. de. Projeto de implantação de cultivo de flores de corte deorigem tropical para a AFLORAL. Maio de 1997;

GARCES, L. A. Aves del paraíso (Strelitzia), ginger (Alpinia), heliconias (Heliconia).Ediciones HortiTecnia Ltda. Santa-fé de Bogotá, D. C. Colombia, 1998;

LWITÃO, A. P. de S. Custos de produção de flores tropicais, FLORTEC Consultoriae Treinamento. Holambra/SP. Agosto de 2000;

LAMAS, A. da M. Floricultura tropical – técnicas de cultivo. Sebrae/PE. Novembrode 2000.

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A OBTENÇÃO DE BEZERROS DE BOA QUALIDADE E APRODUÇÃO DE LEITE

Marcos Almeida Sousa

INTRODUÇÃO

Um sistema de produção de leite, por definição, é aquele cuja principalfinalidade da exploração é a produção de leite. Os bezerros são, predomi-nantemente, comercializados após a apartação. Portanto, no conjunto dasreceitas de uma exploração de Bovinocultura Leiteira, além da venda doleite, observa-se a importante participação da venda de animais para re-produção (novilhas excedentes e tourinhos) e para recria, engorda e abate(bezerros, novilhas e vacas de descarte). É importante salientar que mes-mo em um rebanho de alto nível de especialização leiteira (matrizes purasde raças européias especializadas), haverá receita com a venda de ani-mais para abate (vacas de descarte) e que quanto menor for o nível deespecialização leiteira do rebanho, tanto maior será a importância da ven-da de animais no conjunto de suas receitas.

Há um entendimento comum entre os pecuaristas de corte da RegiãoSul da Bahia, compradores de bezerros para recria e engorda, de que osbezerros azebuados, ditos “bezerros brancos”, procedentes de rebanhoszebuínos comerciais de corte, comuns nesta região, são muito superio-res aos bezerros procedentes de rebanhos mestiços euro-zebuínos leitei-ros, ditos pejorativamente ”bezerros de leite”, “sorados”, “goelas-secas”ou “gabirus”, os quais são depreciados no mercado e comercializadoscom um deságio em torno de 10% a 15%. Diagnósticos de situação daPecuária leiteira desta região têm demonstrado que, de fato, o bezerroprodutos desta exploração apresenta alto índice de mortalidade, baixo pesovivo à apartação, baixa performance na recria e engorda e baixo rendi-mento de carcaça. Será que esta situação é imutável? Será que os bezer-

Eng.º Agr.º, CEPLAC/CENEX/SERAT, Km 22 Rodovia Ilhéus/Itabuna - Ilhéus-BA.E-mail: [email protected]

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ros procedentes de rebanhos mestiços euro-zebuínos leiteiros são ne-cessariamente ruins, por uma condição genética? Ou será que podemosobtê-los com uma boa qualidade, adotando-se um melhor manejo?

Estes mesmos diagnósticos referidos acima sugerem as prováveiscausas principais para esta situação: falta de higiene, inobservância doscuidados ao nascimento, subnutrição, carência mineral, alta infestaçãode endo e ectoparasitos e negligência das vacinações.

Acreditamos que com a adoção de um manejo adequado da reprodu-ção, alimentação e sanidade, podemos mudar esta realidade regional eproduzirmos bezerros de boa qualidade em rebanhos mestiços euro-zebuínos leiteiros, capazes de agregar receitas importantes à atividadeleiteira através da recria e engorda, caso a propriedade tenha área dispo-nível, ou pela venda após a apartação a pecuaristas de corte.

Em 1996, foi implementado na Granja Experimental Carlos Brandão(GECAB), Ilhéus-BA, de propriedade da CEPLAC, um Sistema deProdução de Leite que pudesse servir de referência a uma parcelaconsiderável de fazendas que exploram a atividade leiteira ou quetenham bom potencial para fazê-lo, especialmente na RegiãoCacaueira Baiana, como alternativa concreta de diversificaçãoagroeconômica. Neste presente trabalho, este Sistema será apre-sentado dando-se ênfase à criação de bezerros, um dos seus as-pectos mais fortes.

OBJETIVOS- Avaliar técnica e economicamente um Sistema de Produção de Leite alternativo aos tradicionais;- Auxiliar na indicação de projetos de pesquisa para a solução de problemas identificados;- Servir como instrumento de validação e difusão de tecnologias geradas pela pesquisa; Proporcionar o treinamento de técnicos, produtores e mão-de-obra.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

A GECAB possui uma área total de 122 ha, dos quais 87 ha foramocupados com o Sistema de Produção, está localizada a 50 m de altitude,14º45‘15” de latitude sul e 39º13’59” de longitude oeste, segundo Koppen,o clima é do tipo AF (clima das florestas tropicais, quente e úmido, sem

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estação seca definida e com pluviosidade total superior a 1.300mm/ano).A precipitação média é de 1.741 mm/ano, bem distribuída. A temperaturamédia é de 23,3ºC. Os solos predominantes são Alfisois e hidromórficos,num relevo plano e levemente ondulado, apresentando má drenagem emsua maior parte. A área total destinada ao Sistema de Produção esteve assim distribuída:

- 86,00 ha de pastagens, predominando Brachiaria arrecta e Brachiaria mutica;- 0,50 ha de cana-de-açúcar (Saccarum officinarum L.);- 0,50 ha de capim elefante (Pennisetum purpureum Schum).

RESUMO DA TECNOLOGIA UTILIZADA

O rebanho do Sistema de Produção constitui-se de animais mestiçoseuro-zebuínos das raças européias Holandesa e Schwyz e da raça zebuínaGir, com grau de sangue variando de 1/4 a 3/4 EZ.

A base da alimentação é a forragem produzida nas pastagens, coleta-da através de pastejo direto. Às vacas em lactação são destinados ospiquetes mais próximos ao curral sob pastejo rotacionado, demais pique-tes são destinados às vacas secas, bezerros e animais em recria sobpastejo alterno, de acordo com a disponibilidade de forragem. Todos ospiquetes têm acesso a cocho saleiro e bebedouro. As vacas com produ-ção até 10 kg de leite/dia não recebem concentrado, acima disso, rece-bem 1 kg de concentrado para cada 3 kg de leite produzidos acima destepatamar. As vacas secas e novilhas de recria só recebem ração de con-centrado se houver necessidade. Durante o período de escassez de for-ragem, os animais, especialmente as vacas em lactação, recebem umasuplementação volumosa constituída de capim-elefante picado e/ou cana-de-açúcar picada com 1% da mistura uréia: sulfato de amônio (9:1).

Ao nascimento, faz-se o corte e desinfecção do cordão umbilical comsolução de iodo a 10% (1º ao 3º dia), promove-se a imediata ingestão docolostro, identifica-se o bezerro com brinco na orelha esquerda com onúmero de ordem da matriz e procede-se a sua pesagem, o que tambémé realizado aos 4 meses e à apartação. A descorna, com ferro quente, érealizada entre o 15º e 30º dia de vida.

Durante a primeira semana de vida, os bezerros permanecem com avaca mamando o colostro à vontade e o excesso é ordenhado duas vezes

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ao dia (manhã e tarde), a partir da segunda semana até 120 dias de idade,mamam um teto mais o resíduo dos outros três tetos por ocasião dasordenhas, após têm acesso à forragem de piquetes e, em cocho cobertorecebem, à vontade, concentrado para bezerros até o limite de 300 g/cabeça/dia e suplemento mineral. Dos 121 dias até a apartação, mamamapenas o leite residual por ocasião das ordenhas, após têm acesso àforragem de piquetes e, em cocho coberto recebem, à vontade,concentrado para bezerros até o limite de 500 g/cabeça/dia e suplementomineral.

Os bezerros têm o seguinte esquema de vacinação:

� Paratifo – Vacinar vacas no 8º mês de gestação e bezerros no 15ºdia de vida.

� Febre aftosa – Vacinar em março e setembro.� Brucelose – Vacinar as fêmeas entre 3 e 8 meses de idade.� Clostridioses – Vacinar entre 4 a 6 meses de idade. Reforço após

30 dias.� Raiva – Vacinar entre 4 a 6 meses de idade.

Os bezerros são everminados aos 30 dias de idade e, a partir daí,bimestralmente, até a apartação.

Os carrapatos são combatidos sistematicamente a intervalos de 15 a21 dias com produtos de multiação, que também atuam sobre bernes emoscas do chifre.

Os bezerros são marcados a fogo com o número de ordem e o ferro“CG” da CEPLAC/GRANJA na perna direita, à apartação, quando são ven-didos todos os todos os machos e fêmeos excedentes.

As novilhas de reposição são recriadas em regime exclusivo de pastoaté atingir o peso vivo de 300 kg, a partir do qual entram em reprodução.

O método de reprodução é a inseminação artificial, sem estação demonta, sem repasse com touro e usando-se sêmen de touros provados.Para detectar o cio são utilizados rufiões que auxiliam o trabalho dos va-queiros. As fêmeas com grau de sangue abaixo de 1/2 EZ são inseminadascom sêmen de touro Holandês. As fêmeas com grau de sangue acima de1/2 EZ são inseminadas com sêmen de touro Gir. As fêmeas com grau desangue 1/2 EZ são inseminadas com sêmen de touros das raças Holan-dês, Schwyz e Gir (1/3 para cada); entretanto, nos últimos três anos, utili-zamos apenas Schwyz. Com isso conseguimos manter o padrãozootécnico do rebanho entre 1/4 e 3/4 EZ.

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A ordenha é mecânica e realizada duas vezes ao dia (às 06:00 horas eàs 14:30 horas) para as vacas com produção igual ou superior a 5 kg nosomatório das duas ordenhas. O controle leiteiro é feito duas vezes aomês, com intervalo de l5 dias. As vacas gestantes em lactação são secadas60 dias antes do parto. Vacas com produção diária de até 2 kg de leite sãosoltas com suas crias até a apartação.

O controle sanitário preventivo se inicia desde os cuidados com osrecém-nascidos e continua com um calendário de vacinações e testespara as principais doenças, controle de endo e ectoparasitos, além delimpeza e desinfecção das instalações e cuidados de higiene da ordenha.

O controle zootécnico é rigoroso e garantido pela identificação individu-al de todo o rebanho.

RESULTADOS ALCANÇADOS

A implantação efetiva do Sistema de Produção foi iniciada a partir deoutubro/95, com uma duração de quatro anos, portanto, encerrando-seem outubro/99.

Apresentamos, na tabela abaixo, as metas e os resultados alcançadosneste período:

NatalidadeMortalidade de 0 a 1 anoMortalidade acima de l anoVacas em lactaçãoTaxa de lotaçãoProdução/vaca/diaPeríodo de lactaçãoProdução/vaca/lactaçãoProdução/ha/ano(vacas lactantes)Peso líquido à apartação - M/FPeso vivo de fêmeas - 12 mesesPeso vivo ao 1º serviçoIdade ao 1º serviçoIdade ao 1º partoIntervalo entre partos

%%%%

U.Akgdiakgkg@kgkg

mêsmêsmês

8552

712,010

3003.0006.0007,0/6,0

200300182714

76,85< 5< 264

1,447,8266

2.0752.9887,0/6,5

2103082030

14,63

Índices Zootécnicos Unidade Metas Resultados

Em apenas quatro anos de implantação do Sistema de Produção, fo-ram obtidos expressivos índices de desempenho, comparativamente àsestimativas regional e nacional, em que pese à simplicidade da tecnologiautilizada e o pequeno investimento necessário:

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Quanto aos resultados diretamente relacionados à criação de bezer-ros, destacamos:

� Os índices de mortalidade de 0 a 1 ano (< 5%) e acima de 1 ano (<2%) são muito bons em relação às estimativas médias regionais de 15e 5%, respectivamente;

� Os pesos líquidos ao desmame de 7 @ para machos e 6,5 @ parafêmeas são, respectivamente, 40% e 62,5% superiores às médias re-gionais;

� As idades médias obtidas a 1ª inseminação (20 meses) e ao 1º parto(30 meses) são excelentes, comparadas às médias nacionais e regio-nais, estimadas em 33 e 42 meses, respectivamente.

A análise destes resultados mostra que, com um manejo correto, be-zerros procedentes de rebanhos mestiços euro-zebuínos leiteiros apre-sentam baixo índice de mortalidade, excelente peso vivo à apartação e,em função disso, desde que seja mantido o bom manejo, uma ótimaperformance na recria e engorda, podendo superar os bezerros proce-dentes de rebanhos zebuínos de corte em quesitos como precocidade erendimento de carcaça. Com relação às fêmeas, especificamente, obser-vamos que, por apresentarem uma boa performance nas fases de cria erecria, atingem mais precocemente o peso vivo ideal para entrada na fasereprodutiva, reduzindo a idade ao primeiro parto, o que é extremamentevantajoso.

� O índice de natalidade de 76,85% obtido é bom comparando-se aoestimado para a região em torno de 60%;

� A taxa de lotação média anual das pastagens de 1,44 U. A é o dobro damédia regional;

� A produção de 7,8 Kg de leite/vaca/dia com um período de lactação de266 dias é muito superior à média do rebanho regional, estimada em2,5 Kg de leite/vaca/dia com um período de lactação de 210 dias;

� A produção de 2.075 kg de leite/vaca/dia é 2,6 vezes superior à médianacional e 4,2 vezes superior à média regional;

� A produtividade de 2.988 kg de leite/ha/ano é muito superior às médiasnacional e regional, inferiores a 1.000 Kg/ha/ano;

� O intervalo entre partos de 14,63 meses, próximo à meta preconizada(14 meses), pode ser considerado muito bom, comparando-se com onacional e o regional, estimados entre 18 a 20 meses.

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O Sistema ora apresentado foi revisado e aperfeiçoado por seus auto-res e está previsto um segundo período de teste de mais quatro anos. Ajulgar pelo melhoramento genético já obtido, aliado à adoção de técnicasde manejo intensivo de pastagens, tais como pastejo rotacionado e adu-bação (até então se explorou somente a fertilidade natural do solo), alémda conservação de forragem através da ensilagem para suplementaçãodo rebanho nos períodos de escassez, os índices de desempenhoreprodutivo e de produtividade animal e por área melhorarão significativa-mente, reduzindo os custos de produção e aumentando a receita líquidamensal.

Este Sistema de Produção é perfeitamente viável e poderá ser bastan-te útil à grande massa de produtores de leite da Região Cacaueira Baiana.A tecnologia preconizada no Sistema já está sendo implementada por pro-dutores regionais, os demais interessados devem procurar o Serviço deAssistência Técnica ou os Escritórios Locais do Centro de Extensão daCEPLAC.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Sistema de Produção de Gado Leiteiro. CEPLAC/CEPEC. 1989.Projeto para o Desenvolvimento da Pecuária na Região Cacaueira do Sul da Bahia.

CEPLAC. 1992.Sistema de Produção de Gado Leiteiro. CEPLAC/CEPEC. 1992.Sistema de Produção de Gado Leiteiro. CEPLAC/CENEX. 1992.Sistema de Produção de Gado Leiteiro para o Agrossistema Cacaueiro. CEPLAC/

CENEX/NUTEA. 1998.O Leite a Pasto da Embrapa. Noticiário Tortura. Edição de Setembro/Dezembro.

1998.Sistema de Produção de Leite com Gado Mestiço a Pasto.CEPLAC/CENEX/NUTEA.

2002.

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O AGROPOLO VALE DO RIO DAS CONTAS NO ESTADO DABAHIA COMO INSTRUMENTO DE DESENVOLVIMENTO

REGIONAL

Antônio Carlos de Araújo 1

Leonardo Ventura de Araújo 2

Marcelo de Quadros Sampaio 3

1.Economista, MSc., Pesquisador do Centro de Pesquisas do Cacau– CEPLAC/CEPEC, Km 22 darodovia Ilhéus/Itabuna. Caixa Postal 07 - Itabuna-BA, Email: [email protected]. 2.Graduando doDepartamento de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC. Km 16 darodovia lhéus/Itabuna. Cep: 45662-000 – Ilhéus – BA. Email: [email protected]. 3.Graduando daFaculdade de Tecnologia e Ciências de Itabuna – FTC, Praça José Bastos, nº 55 - Itabuna-BA. Email:[email protected].

INTRODUÇÃO

A criação de agropolos, também chamados de projetos dedesenvolvimento integrado com base nas cadeias agroindustriais, tem sidouma das estratégias utilizadas no sentido de promover o crescimentoeconômico e social de uma determinada região. Os agropolos passarama ser implantados em várias partes do mundo através de iniciativas deinstituições governamentais e/ou outros atores sociais. No Brasil, osagropolos têm sido utilizados para alavancar regiões pobres, principalmenteno Nordeste, e para fortalecer alguns nichos de agricultura em regiõesmais desenvolvidas (ARAUJO et al., 2004).

Os agropolos estão surgindo em razão das condições naturaisfavoráveis para o desenvolvimento do agronegócio sub-regional e, tambémdevido à expressiva descentralização da agroindústria para as áreasprodutoras beneficiadas com obras de infra-estrutura (transporte, energia,irrigação, etc.) e serviços tecnológicos. Os agropolos poderiam serconsiderados clusters de empresas e instituições interconectadas, de

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caráter complementar entre si, concentradas em uma dada regiãogeográfica e trabalhando em um determinado setor econômico. Essessetores estariam relacionados ao sistema agroindustrial (VIEIRA ,1998;HADDAD, 1998; e PORTER ,1998).

No Estado da Bahia, os agropolos têm se multiplicado em várias regi-ões a exemplo do Oeste do Estado, merecendo destaque a região dosubmédio Rio São Francisco, no qual os produtores dos municípios deJuazeiro, Curaçá, Sento Sé e Casa Nova cultivam vários tipos de frutas esão grandes exportadores de manga e uva, possuindo aproximadamente100.000 ha irrigados entre projetos públicos e privados, com potencial paraatingir 200.000 hectares, que requerem, estudos ambientais preventivos(EMBRAPA, 2005).

A região Sudeste da Bahia teve o seu desenvolvimento sustentado naeconomia do cacau, cujo modelo econômico-social, contribuiu, no passa-do, para uma forte concentração de renda e dos fatores de produção.Com a crise causada pelos baixos preços do produto no mercado interna-cional e a ocorrência danosa, a partir de 1989, da enfermidade conhecidapor vassoura-de-bruxa, doença de origem amazônica que ataca o cacau-eiro e causa enormes prejuízos, está ocorrendo a busca de novas alterna-tivas de geração de emprego e renda (ARAUJO et al., 2004).

Segundo SAMPAIO (2005), o surgimento do agropolo do Vale do Riodas Contas foi resultado de um movimento realizado pela comunidaderegional na busca da retomada do processo de desenvolvimento, em umaregião penalizada com a crise da cacauicultura que atingiu com mais vi-gor os maiores produtores. Esta situação contribuiu para a redução doíndice de Gini, já que a diminuição da riqueza dos mais abastados impli-cou em uma sociedade menos desigual do ponto de vista da distribuiçãoda renda, e, também na redução expressiva da população rural.

O Agropolo tem também recebido importante incentivo de pesquisado-res da CEPLAC – Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira,instituição pertencente ao Ministério da Agricultura, e do Departamento deEconomia Agrícola da Universidade Federal do Ceará, que através de es-tudos comprovaram o potencial da região para a fruticultura, além de ob-servarem a existência de um parque agroindustrial dinâmico de polpa esucos de frutas. Maiores detalhes encontram-se em ARAÚJO et. al, (1999).

Neste estudo foi realizada a descrição de algumas características daregião, além de explicitar as principais estratégias para a consolidação doagropólo.

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PRODUTO INTERNO BRUTO

Com base na Tabela 1 verifica-se o grau de empobrecimento dos mu-nicípios integrantes do agropolo do Vale do Rio das Contas. A soma dasriquezas geradas (PIB) por esses municípios no ano de 1991 alcançou1.445 milhões de reais, enquanto em 2000 foi reduzido para 735 milhões,ou seja, decresceu para quase a metade em um período de nove anos.Nesse mesmo período, a cacauicultura, considerada a principal fonte derenda da região, apresentou, segundo ARAUJO et. al. (2004), uma redu-ção expressiva do valor da produção e um comportamento dedestruturação da base produtiva. O PIB per capita da região, no mesmoperíodo, caiu de R$ 3.828,00 para R$ 2.019,00, o que mostra que cadahabitante, em média, ficou mais pobre. O município de Jequié, considera-do como a principal economia do Agropolo, com maior grau de diversifica-ção da agricultura, algumas indústrias, além de um setor terciário maisdinâmico, produziu em 1991, 44,24% da riqueza da região, evoluindo em2000 para 48,31%. O município de Ipiaú vem em segundo lugar no ranking,embora a participação relativa do seu PIB, em relação aos demais municí-pios, tenha reduzido de 13,50% para 12,90% no período.

Aiquara 24.912 19.771 3.768 3.720 1,72 2,69Apuarema 21.152 15.668 2.766 2.105 1,46 2,13Barra do Rocha 27.971 22.221 2.886 2.752 1,93 3,02Dario Meira 42.241 22.833 3.127 1.500 2,92 3,10Ibirapitanga 98.710 29.912 3.685 1.349 6,83 4,07Ibirataia 57.954 37.202 2.554 1.504 4,01 5,06Ipiaú 193.403 94.893 4.578 2.175 13,5 12,9Itagi 64.997 25.999 4.466 1.777 4,50 3,54Itagibá 96.151 43.705 4.828 2.542 6, 65 5,95Itamari 43.598 13.305 4.937 1.594 3, 01 1,81Jequié 639.299 355.166 4.416 2.413 44,24 48,31Jitaúna 64.096 20. 030 3.077 951 4, 43 2,72Nova Ibiá 22.239 6. 739 2.118 940 1, 54 0, 93Ubatã 48.401 27.675 1.869 1.269 3, 35 3, 73Total 1.445.124 735.120 3.828 2.019 100,00 100,00

Fontes dos dados básicos: SAMPAIO, 2005.

PIB (em R$ 1.000) PIB (em R$ 1,00) Participação noPIB da região (%)Total per capita

Municípios 1991 2000 1991 2000 1991 2000

Tabela 1 – Produto Interno Bruto dos municípios do agropólo do Vale do Rio dasContas nos anos de 1991 e 2000. Valores monetários em reais de 2004.

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ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO

A utilização desse índice é uma forma de mensurar o grau de desenvol-vimento dos municípios integrantes do agropolo do Vale do Rio das Con-tas e permite também a comparação com outras regiões fornecendo uminstrumental importante para a implementação de ações de melhoria daqualidade de vida da população estudada. Através da Tabela 2 verifica-seo IDH dos municípios que compõem o Agropolo nos anos de 1991 e 2000.

A análise revelou que no ano de 1991 o município a apresentar o maioríndice de desenvolvimento foi Jequié com 0,603, enquanto Barra do Ro-cha apresentou o menor, ou seja 0,419, estando, respectivamente, nasfaixas de médio e baixo IDH.

Em 2000, o município de Jequié continuou com o maior IDH. Dário Meira,apesar de ter aumentado o valor do índice (0,549) passou a ocupar o últi-mo lugar no conjunto dos municípios, tomando o lugar de Barra do Rochano ranking. Todos os municípios apresentaram maiores valores do IDHem 2000 quando comparado com 1991. O município de Barra do Rochafoi o que teve o maior incremento relativo, com um crescimento de 38,19%,enquanto Jequié apresentou o menor incremento, apenas 15,09% .

Através dos dados da Tabela, observa-se que um número expressivode municípios apresentava, no ano de 1991, baixo Índice de Desenvolvi-mento Humano, inferior a 0,500. Em 2000 ocorreu uma mudança positivanos indicadores de todos os municípios superando o índice 0,500, o quesignifica uma mobilização de baixo para médio IDH. Essa mudança foi,em parte, influenciada pela implementação de políticas públicas nas áre-as de saúde e educação, já que nesse período ocorreu um declínio acen-tuado do produto regional.

Deve-se mencionar que o Estado da Bahia, no ano 2000, apresentouum índice de 0,688 e o Brasil, no mesmo ano 0,766. O que significa queambos apresentaram um Índice de Desenvolvimento Humano considera-do médio (PNUD, 2005). Observa-se, portanto, que com exceção de Jequié,os municípios que fazem parte do agropolo do Vale do Rio das Contasapresentam índices de Desenvolvimento Humano inferiores à média doEstado.

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Aiquara 0,507 0,627 23,67Apuarema 0,48 0,617 28,54Barra do Rocha 0,419 0,579 38,19Dário Meira 0,426 0,549 28,87Ibirapitanga 0,458 0,601 31,22Ibirataia 0,537 0,642 19,55Ipiaú 0,572 0,662 15,73Itagí 0,472 0,586 24,15Itagiba 0,5 0,615 23Itamari 0,495 0,635 28,28Jequié 0,603 0,694 15,09Jitaúna 0,492 0,619 25,81Nova Ibiá 0,466 0,616 32,19Ubatã 0,526 0,64 21,67

Municípios 1991 2000 Variação

Fonte: PNUD, 2005.

Tabela 2 – Índice de Desenvolvimento Humano dos municípios quecompõem o agropolo do Vale do Rio das Contas nos anos de 1991 e 2000.

INSTITUCIONALIZAÇÃO DO AGROPÓLO DO VALE DO RIO DAS CONTAS

Com o envolvimento de um número crescente de produtores na cadeiaagroindustrial da fruticultura, tornou-se necessária a institucionalização doagropólo do Vale do Rio das Contas, o que ocorreu, no mês de dezembrode 2006, na cidade de Salvador, em solenidade no auditório da Secretáriade indústria, Comércio e Mineração do Governo do Estado, a assinaturado documento que reconhece a existência do agropólo e instrumentalizaos meios para a sua consolidação. Participaram da assinatura desse ins-trumento, as seguintes instituições:

�� CEPLAC�� SENAR�� SEBRAE�� Consórcio dos Municípios do Vale do Rio das Contas�� Prefeituras Municipais�� Governo do Estado da Bahia: Secretaria de Indústria, Comércio e Mine- ração, da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária e EBDA� Centro Internacional de Negócios da Bahia – PROMO� Instituto Biofábrica� Organizações de Produtores

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MISSÃO DO AGROPÓLO

• Dinamizar a atividade rural através de investimentos na fruticultura e agregação de renda à cacauicultura;• Proporcionar o crescimento dos setores agroindustrial e de serviços;• Criar emprego e renda em nível compatível com as necessidades de desenvolvimento regional;• Contribuir na melhoria da qualidade de vida da população regional.

SITUAÇÃO ATUAL DO SETOR AGRÍCOLA

Com base em informações da Tabela 3 verifica-se que o agropólo doVale do Rio de Contas vem expandindo a área cultivada com fruteiras, játendo alcançado em 2005 uma produção de 3.943 toneladas de fruteirasem uma área de 372,5 ha, gerando 1.118 empregos diretos e um valor daprodução de 2 milhões de reais. Atualmente toda a produção de frutas édirecionada ao parque agroindustrial de polpa de frutas existe na região.

Número de Associações 22,0Produtores envolvidos 180,0Área plantada (ha) 372,5Produção (t) 3.943,0Empregos Diretos 1.118,0Valor da produção (milhões de reais) 2,0

Discriminação 2005

Fonte dos dados básicos: CEPLAC, 2006

Tabela 3 – Situação do setor agrícola do agropólo do Vale do Rio dasContas no ano de 2005.

SITUAÇÃO ESPERADA PARA O SETOR AGRÍCOLA

As projeções para os anos de 2006 e 2007 (Tabela 4) indicam umimportante crescimento da área cultivada com reflexos positivos nosdemais indicadores, a exemplo de 2.940 novos empregos e uma rendaadicional de 5,1 milhões de reais.

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Fonte: dados da pesquisa.

Número de Associações 20 100 120Produtores envolvidos 120 600 720Área plantada (ha) 180 800 980Produção (t) 1.890,00 8.400,00 10.290,00Empregos esperados 540 2.400,00 2.940,00Valor da produção (milhões de reais) 0,9 4,2 5,1

Discriminação 2006 2007 Total

Tabela 4 – Metas para o setor agrícola do agropólo do Vale do Rio das Contas paraos anos de 2006 e 2007.

Para dar sustentabilidade ao agropólo, além da existência de um GrupoGestor, responsável pela coordenação e execução das ações, o Presi-dente do Consórcio dos Municípios do Vale do Rio das Contas, através deportaria, criou um Grupo de Trabalho, constituído por técnicos de váriasinstituições no sentido de elaborar um Plano de Ação de médio e longoprazo para o agropólo. Esse Grupo deverá analisar toda a cadeia produti-va da fruticultura em um ambiente de cluster dando ênfase às questõesde processamento e comercialização.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ARAÚJO, A.C. de, KHAN, A. S., SILVA, L. M. R., VALENÇA, L. H. R. , CARVALHO, R. M. Oagribusiness de polpa de frutas no Estado da Bahia. In: CONGRESSO BRASILEI-RO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 37, Foz do Iguaçu. Anais. –Brasília:SOBER, 1999.

CEPLAC. Área e produção das principais culturas. Ilhéus: CEPLAC/CENEX (Setor deprogramação), 2006. 1 p. (Mimeo).

EMBRAPA. A Região do São Francisco. Disponível em: <http://www.cnpma.embrapa.br>.Acessado em 10 de julho de 2005.

HADAD, Paulo. R.A. A competitividade do agronegócio: estudo de cluster. In CALDAS, Rde Araújo (EDITOR). Agronegócio Brasileiro: Ciências, tecnologia e competitividade.– Brasília: CNPq, 1998.

PNUD. Desenvolvimento Humano. Disponível em: <http:// www.pnud.org.br.> Acessadoem 08 de fevereiro de 2005.

PORTER, M.E. Clusters and the new economics of competition. Havard Business Revew,novembro-dezembro, 1998.

SAMPAIO, M. Q. Características Sócio-Econômicas do Agropolo do Vale do Rio das Con-tas. – Itabuna: FTC, 2005, 31 p. (Monografia de Graduação).

VIEIRA, P.M. Caracterização básica desejável dos Agropólos. Workshop sobre políticasde implementação de Agropólos. – Brasília: ABIPTI, 1998

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AGRICULTURA DE BAIXO USO DE INSUMOS EXTERNOS EAGROECOLOGIA

João Antonio Firmato de Almeida

Técnico em Agropecuária CEPLAC/CENEX-Núcleo de Agroecologia

A VISÃO AGROECOLÓGICA

Os ecossistemas atualmente existentes são o resultado de milhões deanos de “ensaio e erro” no processo de coevolução de um enorme númerode espécies. Nesse processo, as espécies não sustentáveis forameliminadas, possivelmente por não se adaptarem às condições climáticas,por serem excessivamente suscetíveis a pragas e doenças, por não seremcapazes de obter alimentos e energia suficiente ou simplesmente por quenão puderam competir com as espécies mais eficientes. Assim, osecossistemas estão sempre em mudança, à medida que prossegue esseprocesso de seleção natural.

A ecologia, enquanto ciência biológica, é o estudo das relações entreos organismos e seu ambiente. Apesar da grande diversidade deecossistemas que, felizmente, ainda existem, foi possível identificarem-se alguns princípios e processos básicos comuns. A ecologia pode oferecerimportantes percepções para o estudo dos sistemas agrícolas que, porforça ou por escolha, também sofrem mudanças constantes e se adaptama restrições em função do ambiente. A fusão de ciências que constitui anova ciência da agroecologia procura combinar elementos tanto da ciênciaagrícola como da ecologia convencionais. Compreendendo os princípiosque fundamentam essa nova ciência os princípios agroecológicos podemser aplicados para criar sistemas agrícolas de baixo uso de insumosexternos.

282

NICHOS ECOLÓGICOS PARA A DIVERSIDADE FUNCIONAL

Um dos conceitos centrais da ecologia é o de nicho: refere-se à funçãoou ao papel de um dado organismo no ecossistema, conjuntamente comos recursos de que esse organismo depende, que são também os fatoresque vão determinar as suas chances de sobrevivência e seus efeitospositivos ou negativos sobre outros componentes. Um nicho pode serocupado por mais de uma espécie, e cada uma delas pode ajudar a criaras condições de sobrevivência para as outras. Pode também existir nichosvazios ou temporariamente vazios, o que significa que há recursos locaissubutilizados e que existem oportunidades no sistema para o surgimentode novos componentes.

Os agroecossistemas que abrangem muitos nichos distintos, cada umdeles ocupado por muitas espécies diferentes – em outras palavras,agroecossistema com alto grau de diversidade – serão, provavelmente,mais estáveis do que aqueles compostos por apenas uma espécie (umamonocultura, por exemplo). Por conseguinte, redundam em maiorsegurança para o agricultor. No entanto, a diversidade não levanecessariamente à estabilidade: pode até causar instabilidade, se oscomponentes não forem bem escolhidos. É o caso, por exemplo, dealgumas espécies arbóreas, que são hospedeiras de insetos e doençasprejudiciais à lavoura; ou o caso em que há competição entre culturasagrícolas, animais domésticos e árvores por mão de obra, nutrientes ouágua (Dover & Talbot, 1987). No entanto, se for possível alcançar adiversidade funcional através da combinação de espécies animais evegetais que tenham características complementares e que estejamenvolvidas em interações sinérgicas positivas, então serão aprimoradasnão apenas a estabilidade como também a produtividade dos sistemasagrícolas de baixo uso de insumos externos.

A COMPLEMENTARIDADE NOS AGROECOSSISTEMAS

Dentro do sistema de produção de um estabelecimento agrícola, oscomponentes se complementam quando realizam diferentes funções (pro-dutivas, reprodutivas, de proteções, sociais) e quando preenchem dife-rentes nichos ecológicos, espaciais, econômicos ou organizacionais. É ocaso, por exemplo, dos componentes que aproveitam:

• diferentes camadas de solo (plantas com enraizamento superficial ouprofundo);

283

• diferentes graus de absorção dos nutrientes (plantas com maiorou menor necessidade de determinados elementos, que absorvemou não nutrientes residuais ou nutrientes com maior ou menoreficiência);

• diferentes intensidades de luz (plantas que preferem a sombra oua claridade);

• diferentes níveis de umidade do ar (maior ou menor necessidadede umidade, maior ou menor resistência ao vento);

• diferentes graus de umidade do solo (maiores ou menoresnecessidades);

• solos de diferentes qualidades (mais ou menos pedregosos,profundos, declivosos, ou férteis; com maior ou menor umidade;com diferentes graus de resistência ao encharcamento);

• biomassa não diretamente utilizável pelos humanos (ervasinfestantes, restos de cultura, insetos, folhas de plantas lenhosas);

• diferentes tipos de mão de obra, em diferentes períodos;• diferentes mercados (culturas agrícolas com diferentes graus de

risco no mercado, produtos fora de época, gado);• diferentes necessidades da família.

A SINERGIA NOS AGROECOSSITEMAS

Diz-se que os componentes do sistema de produção do estabeleci-mento agrícola interagem sinergicamente quando eles, além de cumpri-rem sua função primária, levam à melhoria das condições para outroscomponentes do sistema, através, por exemplo:

• da produção de microclimas favoráveis;• da produção de substâncias químicas que estimulem os compo-

nentes desejáveis ou suprimam os prejudiciais (efeitos alelopáticosdas secreções das raízes ou das coberturas mortas);

• da redução das populações de pragas (por exemplo, plantios con-sorciados, plantas usadas como armadilha);

• do controle de ervas infestantes;• da produção de medicamentos (tanto para os humanos como para

os animais de criação) ou de pesticidas e repelentes de origemvegetal;

• da produção e da mobilização de nutrientes (por exemplo, fixaçãode nitrogênio ou simbiose das micorrizas);

284

• da produção de biomassa ou resíduos vegetais que sirvam paraalimentação animal ou para a nutrição mineral das plantas;

• da produção de cobertura sobre o solo ou de estruturasradiculares que aprimorem a conservação da água e do solo;

• dos sistemas radiculares profundos que aprimoram a reciclagemde água e nutrientes perdidos por causa da lixiviação ou que es-tejam fora do alcance das plantas cultivadas;

• do uso da tração animal.

As funções sinérgicas dos componentes também podem serexemplificadas através de: faixas de plantio em nível, que conservam osolo e a água, e que, ao mesmo tempo, produzem alimentos e forragem;quebra-ventos ao redor de campos de plantio, que os protegem contra osanimais e o vento, e que, ao mesmo tempo, produzem combustível, ali-mentos, forragens e remédios. Plantas e animais que cumprem váriasfunções como, por exemplo, espécies de capim que são usados em ter-raço e também para produção de forragem ou animais que fornecem es-terco, leite e tração servem também como reserva de capital, sendo muitoimportante nesse sentido.

A exploração mais completa possível dessa diversidade de funçõesresulta em sistemas de produção de estabelecimentos agrícolas comple-xos e integrados, que fazem uso ótimo dos recursos e dos insumos dis-poníveis. O desafio é descobrir-se qual a combinação de plantas, animaise insumos levam à maior produtividade, segurança e conservação de re-cursos, dadas as restrições de terra, trabalho e capital.

PRINCÍPIOS DA ECOLOGIA

RedesEm todas as escalas da natureza, encontramos sistemas vivos aloja-

dos dentro de outros sistemas vivos – redes dentro de redes. Os limitesentre esses sistemas não são limites de separação, mas limites de iden-tidade. Todos os sistemas vivos comunicam-se uns com os outros e par-tilham seus recursos, transpondo seus limites.

Ciclos

Todos os organismos vivos, para permanecerem vivos, têm de ali-mentar-se de fluxo contínuo de matéria e energia tiradas do ambiente emque vivem: e todos os organismos vivos produzem resíduos continuamente.

285

Entretanto, um ecossistema, considerado em seu todo, não gera resíduonenhum, pois o resíduo de uma espécie é o alimento da outra. Assim, amatéria circula continuamente dentro da teia da vida.

Energia solar É a energia solar, transformada em energia química pela fotossíntese

das plantas verdes, que move todos os ciclos ecológicos.

Alianças (parcerias) As trocas de energia e de recursos materiais num ecossistema são

sustentadas por uma cooperação generalizada. A vida não tomou contado planeta pela violência, mas pela cooperação, pela formação de parce-rias e pela organização em redes.

Diversidade Os ecossistemas alcançam a estabilidade e a capacidade de recu-

perar-se dos desequilíbrios por meio da riqueza e da complexidade desuas teias ecológicas. Quanto maior a biodiversidade de um ecossistema,maior a sua resistência e capacidade de recuperação.

Equilíbrio dinâmico Um ecossistema é uma rede flexível, em permanente flutuação. Sua

flexibilidade é uma conseqüência dos múltiplos elos e anéis de realimen-tação que mantêm o sistema num estado de equilíbrio dinâmico. Nenhu-ma variável chega sozinha a um valor máximo; todas as variáveis flutuamem torno do seu valor ótimo.

A Agroecológia tem sido definida na América Latina especialmente noBrasil, como sendo exatamente este padrão técnico agronômico, (assen-tado em pesquisa científica e gradativa participação popular), por certocapaz de orientar as diferentes estratégias de desenvolvimento rural sus-tentável, avaliando as potencialidades dos sistemas agrícolas através deuma perspectiva social, econômica e ecológica, que possa viabilizar aagricultura com baixo uso de insumos externos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALTIERE, M. Agroecologia. Rio de Janeiro, PTA/FASE, 1989.CAPRA, Fritjof. As Conexões Ocultas ciência para uma vida sustentável. Tradução

de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo: Editora Cultrix, 2002.

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CHABOUSSOU, F. Plantas Doentes Pelo Uso de Agrotóxicos teoria da trofobiose.Tradução de Maria José Guazzelli. Porto Alegre: Editora L&PM, 1ª ed., 1987.

GLIESSMAN, S. R. Agroecologia: Processos Ecológicos em Agricultura Sustentá-vel. Porto Alegre: Editora da Universidade, 2ª ed., 2001.

KHATOUNIAN, Carlos A. A Reconstrução Ecológica da Agricultura. Botucatu:Agroecológica, 2001.

PASCHOAL, Adilson D. Produção Orgânica de Alimentos: agricultura sustentávelpara o século XX e XI. Piracicaba: PCLQ/USP, 1ª edição, 1994.

PRIMAVESI, A. M. Manejo Ecológico do Solo: a agricultura em regiões tropicais.São Paulo, Editora Nobel, 1ª edição, 1979.

REIJNTJES, Coen. Agricultura Para o Futuro: uma introdução à agricultura susten-tável e de baixo uso de insumos externos. Coen Reijntjes, Bertus Haverkort,Ann Waters-Bayer. Tradução John Cunha Comeford. Rio de Janeiro: AS-PTA/FASE, 1994.

287

AGROINDÚSTRIA COMO ALTERNATIVA DE AGREGAÇÃODE VALORES

Gilmar Vieira

Com o avanço tecnológico no setor agrícola e os incentivos de produçãoem grandes áreas, surgiu uma pequena parcela de empresários ruraiscom grande concentração de terras e de renda. Este avanço tem provocadoem geral resultados negativos, principalmente, na falta de emprego nasfamílias de pequenos e médios agricultores, apesar do aumento daprodução dos produtos agrícolas. Também tem provocado uma migraçãodos filhos ou de toda família para os centro urbanos, gerando índice elevadodo desemprego. Além de muitos outros problemas, tais como: diminuiçãona qualidade de vida destas famílias, degradação do meio ambiente, devidoà falta de um planejamento de ocupação das áreas agrícolas, e um fatomuito importante, o desaparecimento das tradições e das técnicasartesanal de processamentos dos alimentos, no meio rural. Mas de todosestes problemas, o mais grave, são os índices elevados de perdas dosprodutos agrícolas, principalmente frutas e hortaliças. No Brasil estas perdassão estimadas até 40%, deste a colheita ao consumidor. A maioria ocorredevido ao mau manuseio, a comercialização “in natura”, e a falta deconhecimento das boas práticas de produção, para evitar as perdas. Estasperdas poderiam estar alimentando e melhorando a vida dos agricultoresfamiliares. Em vista de todos estes problemas, nos últimos anos, o governovem incentivando a fixação dos agricultores no campo, através deprogramas de desenvolvimento de pequenas agroindústrias ouagroindústria familiar, com o aproveitamento e agregando valor em todaprodução. A agroindústria é um segmento de elevada importânciaeconômica, por sua participação na cadeia produtiva e pelas ligações que

UESC- BA

288

mantém como os demais setores da economia. Nestas agroindústriaspodem ser fabricados doces, geleias, desidratados, polpas, picles e osderivados do leite e da carne, além do aproveitamento de um processo deprodução etc. Todas estas atividades possuem características comuns,no que se refere às tradições e métodos de industrialização dos produtos.Bem como, baixo desenvolvimento tecnológico e elevada aceitação pelosconsumidores nos grandes centros urbanos. Um outro fator muitoimportante é o processo de fabricação dos produtos que é realizado emgrande parte por mão-de-obra familiar, consequentemente, baixos custode produção e melhoria na renda familiar, porém, com baixa controlesanitário. As agroindústrias rurais vêm crescendo nos últimos anos, e têmrefletido um aumento na organização entre os agricultores em associações,que é muito importante na comercialização dos produtos. A comercializaçãode toda produção é realizada em feiras livres, lojas de produtos alimentíciosou em lojas da própria associação. Dentro do processo de industrialização,uma vertente muito importante são os cuidados com a higiene com a matériaprima e os produtos já elaborados. Numa unidade agro-industrial, as boaspráticas de fabricação são muito importantes, e devem ser seguidascorretamente, pois, um produto produzido fora das boas práticas defabricação não pode ser comercializado, além de trazer risco para oconsumidor. Estes cuidados também são responsáveis pela aceitação econservação dos produtos processados.

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CONSTRUÇÃO COM SOLO CIMENTO

Efren de Moura Ferreira Filho 1

Eduardo César Almeida Lavinsky 2

*Eng°. Agrimensor, Técnico em Assuntos Educacionais (Escola Média de AgropecuáriaRegional da CEPLAC/EMARC – URUÇUCA – BAHIA). 2 Tec. Agrimensor, Agente deServiço de Engenharia (Escola Média de Agropecuária Regional da CEPLAC/EMARC –URUÇUCA – BAHIA).

RESUMO

O solo-cimento é um material alternativo de baixo custo, obtido pelamistura de solo, cimento e um pouco de água. No início, essa misturaparece uma “farofa” úmida. Após ser compactada, ela endurece e com otempo ganha consistência e durabilidade suficiente para diversas aplica-ções no meio rural. Uma das grandes vantagens do solo-cimento é que osolo, um material local, constitui justamente a maior parcela da mistura.A solo-cimento é uma evolução de materiais de construção do passado,como o barro e a taipa. Só que as colas naturais, de características muitovariáveis, foram substituídas por um produto industrializado e de qualida-de controlada: o cimento.

Este material de construção vem suprir boa parte das necessidadesde instalações econômicas na maioria das regiões rurais e suburbanasno Brasil.

O uso do solo-cimento no Brasil vem, desde 1948, ajudando na satisfa-ção de tais necessidades, encontrando-se hoje já bastante difundido.

A presente comunicação relata aspectos técnico-econômico-sociaisde alguns anos de trabalho com esta modalidade de construção naCEPLAC/EMARC-UR.

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Nesses quase 27 anos de experiência na região cacaueira, destacam-se obras no meio rural e urbano, em particular a construção de uma cre-che com 1.240 m2 em Juçari-Ba, sendo a segunda maior obra de solo-cimento no Brasil.

A tecnologia do solo-cimento é aplicada às construções das popula-ções de baixa renda e foi introduzida na comunidade da região cacaueiraporque tem como benefícios: a economia de tempo e material, bem comofacilidade de execução atendendo a segmentos da população na faixa depobreza, como é o caso dos “sem-terra”, permitindo o uso de mutirões.

Palavras chaves: Construção (solo-cimento) Solo-cimento (Região cacaueira/Ba)

MODOS DE UTILIZAÇÃO

Há quatro modos de utilização do solo-cimento: tijolos ou blocos, pa-vimento, parede maciço e ensacado. Os tijolos ou blocos de solo-cimento são produzidos em prensas, dispensando a queima em fornos.Eles só precisam ser umedecidos, para que se tornem resistentes. Alémde grande resistência, outra vantagem desses tijolos ou blocos é o seuexcelente aspecto. Os pavimentos também são compactados no local,com o auxílio de formas, mas em uma única camada. Eles constituemplacas maciças, totalmente apoiadas no chão.

As paredes maciças s ão compactadas no próprio local, em camadassucessivas, no sentido vertical, com o auxílio de formas e guias. O pro-cesso de produção assemelha-se ao sistema antigo de taipa de pilão,formando painéis inteiriços, sem juntas horizontais.

O solo-cimento ensacado resulta da colocação da “farofa” úmida emsacos, que funcionam como formas. Depois de terem a sua boca costu-rada, esses sacos são colocados na posição de uso, onde são imediata-mente compactados um a um. O processo de execução assemelha-se àconstrução de muros de arrimo com matacões de pedra.

VANTAGENS

O solo-cimento vem se consagrando como tecnologia alternativa poroferecer o principal componente da mistura - o solo – em abundância nanatureza e geralmente disponível no local da obra ou próxima a ela.

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O processo construtivo do solo-cimento é muito simples, podendo serrapidamente assimilado por mão-de-obra não qualificada.

Apresenta boas condições de conforto, comparáveis às construçõesde alvenarias de tijolos cerâmicos, não oferecendo condições para insta-lações e proliferações de insetos nocivos à saúde pública, atendendo àscondições mínimas de habitabilidade.

É um material de boa resistência e perfeita impermeabilidade, resistin-do ao desgaste do tempo e à umidade, facilitando a sua conservação.

A aplicação do chapisco, emboço e reboco são dispensáveis, devido aoacabamento liso das paredes monolíticas, em virtude da perfeição das fa-ces (paredes) prensadas e a impermeabilidade do material, necessitandoaplicar uma simples pintura com tinta à base de cimento, aumentando maisa sua impermeabilidade, assim como o aspecto visual, conforto e higiene.

SOLO-CIMENTO – MATERIAIS CONSTITUINTES

Solo

Os solos adequados são os chamados solos arenosos, ou seja, aque-les que apresentam uma quantidade de areia na faixa de 60% a 80% damassa total da amostra considerada, conforme figura.

A areia não é um solo arenoso, porque não tem nenhuma quantidadede argila. Portanto ela não é adequada para produzir solo-cimento.O solo argiloso, que contém mais argila do que areia, também não é ade-quado. Ele requer uma quantidade maior de cimento, e é difícil de misturare de compactar. Mas ele pode ser corrigido, com a adição de areia.O solo adequado não deve conter pedaços de galhos, folhas, raízes ouqualquer outro tipo de material orgânico que podem prejudicar a qualida-de final do solo-cimento. Solos com muito material orgânico devem serdescartados para a produção de solo-cimento, pois a sua limpeza é muitodifícil.

Quando este tipo de solo não for encontrado, pode-se fazer uma corre-ção granulométrica no solo encontrado (70% de areia e 30% de silte eargila), misturando uniformemente e peneirando-os, obtendo-se o mesmoresultado.

Nas misturas usuais, as quantidades variam na faixa de 12 a15 partesde cimento para 100 partes de solo seco, em massa, o que corresponde,em média, à proporção cimento: solo. Desta maneira, é facilmente notada

292

a importância que a escolha de um solo adequado representa para a pro-dução de um solo-cimento com qualidade.

Na obtenção do solo, para grande volume de obras, a dosagem docimento deve ser determinada em laboratório, atendendo não só a quali-dade final, mas também à economia, pois um traço exageradamente ricoem cimento poderia comprometer a construção.

Escolhido o material e determinada a dosagem (traço), o construtorprepara a mistura de forma semelhante a que se faz para outras arga-massas.

Quando o volume de obras é pequeno, existem testes para a avaliaçãodas características granulométricas de um solo. Alguns deles são feitos,como o Teste da garrafa e o da Retração do solo.

Solos adequados para a produção de solo-cimento

PREPARO DA MISTURA

Mistura manual do solo-cimento

a) Passe o solo por uma peneira de malha (abertura) de 4cm a 6cm;b) Esparrame o solo sobre uma superfície lisa e impermeável, forman-

do uma camada de 20cm a 30cm. Espalhe o cimento sobre o solo penei-rado e revolva bem, até que a mistura fique com uma coloração uniforme,sem manchas de solo ou de cimento;

3 0%

A R E IA

S IL T E e A R G IL A

7 0 %

293

c) Espalhe a mistura numa camada de 20cm a 30cm de espessura,adicione água, aos poucos ( de preferência usando um regador com“chuveiro” ou crivo), sobre a superfície e misture tudo novamente.

Os componentes do solo-cimento podem ser misturados até que omaterial pareça uma “farofa” úmida, de coloração uniforme, próxima dacor do solo utilizado, embora levemente escurecida, devido à presença daágua.

É muito importante que a quantidade de água da mistura esteja correta.O solo-cimento compactado com muita água perde resistência e pode atétrincar. Se a mistura tiver pouca água, a compactação fica difícil e tambémhaverá perda de resistência.

Existem testes práticos para verificar se a quantidade da mistura estácorreta:

- Encha bem a mão com a mistura e aperte com muita força. Logo emseguida, abra a mão. O bolo formado deve apresentar a marca dos seusdedos com nitidez. Se não apresentar essas marcas, há falta de água namistura. Nesse caso, ponha aos poucos mais água na mistura, e repita oteste até aparecer a marca dos dedos;

A seguir, deixe o bolo cair no chão, de uma altura de cerca de 1m. Noimpacto, o bolo deve se desmanchar. Se isso não ocorrer, há excesso deágua na mistura. Nesse caso, esparrame e resolva a mistura, para que oexcesso de água evapore. Repita o teste, deixando o bolo cair de novo,para verificar se a quantidade de água chegou ao ponto correto.

A mistura do solo-cimento começa a endurecer rapidamente. Por isso,ela deve ser usada, no máximo, duas horas após o preparo. Portanto, evitepreparar mais solo-cimento que possa utilizar nesse intervalo de tempo.

FERRAMENTAS NECESSÁRIAS

BÁSICAS: cavador, enxada, enxadete, pá, picareta, cordão de nylon,martelo, escala numérica, serrote, colher de pedreiro, balde, nível de bo-lha, mangueira de nível, esquadro, carro de mão, prumo, peneira, etc.

ESPECIAIS: forma para estaca de concreto, forma para compactaçãode parede com parafusos específicos.

COMENTÁRIOS FINAISAs possibilidades de aplicação do solo-cimento na área rural e urbana

estão longe de serem esgotadas.

294

Por ser um processo de fácil assimilação por qualquer pessoa, utili-zando somente materiais locais, não necessitando de energia de qual-quer natureza para sua produção, nem mesmo animal, a tecnologia dosolo-cimento certamente se constitui no processo que permitirá uma ver-dadeira revolução nas construções rurais e urbanas brasileiras, pois as-socia um baixo custo a uma elevada qualidade.

A EMARC URUÇUCA dispõe de informações específicas sobre as dife-rentes aplicações do solo-cimento, disponibilizando-se para fornecer mai-ores detalhes das técnicas construtivas.

295

COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS ORGÂNICOS

Agamenon de Almeida Farias 1

1CEPLAC/CENEX (73) 3214-3326/3328 E-mail: [email protected]

APRESENTAÇÃO

A CEPLAC, através do CENEX/Núcleo de Agroecologia, vem conduzin-do um trabalho técnico e cientifico voltado para a agroecologia, onde apequena produção e a agricultura familiar estão sendo beneficiadas comconhecimento e aprendizagens em suas propriedades, visando um me-lhor entendimento dessas comunidades para que se faça uma reflexãosobre a agricultura convencional aplicada na região do cacau, que nosfizeram “ricos” e que também nos empobreceu. Uma agricultura que ex-cluiu mais de 300.000 operários rurais desmatou a mata atlântica, poluiunossos solos e rios, intoxicou nossos trabalhadores e provocou um inchaçohumano de miseráveis em nossas cidades. O Núcleo de Agroecologiaestá introduzindo um novo conceito de produção de cacau e de outroscultivos por entender que é só através da diversificação com policultivo,utilização de resíduos orgânicos da propriedade como fertilizantes; mane-jo ecologicamente correto com adubação verde, cobertura morta, criaçãode pequenos animais, reflorestamento e outros, se pode garantir a tãosonhada sustentabilidade do nosso ambiente e melhor qualidade de vidado povo da região cacaueira.

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INTRODUÇÃO

O conhecimento das propriedades físicas e químicas das substânciashúmicas, assim como da atividade microbiana (Adhikari e Mendel, 1970,Baker, 1973; Ghosh et al, 1983; Igue, 1984; Schelmitzer e Poapst, 1967;Tan, 1975; Tiessen et al, 1984) indica a necessidade de um melhor apro-veitamento dos resíduos rurais (esterco, cama de aviário, restos de cultu-ra, ervas daninhas, folhagem, etc.) utilizados num adequado manejo dosolo, permitindo a manutenção e incremento da produtividade do mesmo.Isso porque a matéria orgânica fisicamente estabilizada é um reservatórioimportante, com um período de transformações intermediário, tendo gran-de participação no suprimento de nutrientes e na formação e estabilidadedos agregados em solos agrícolas (Cheshine et al, 1984, Lynch, 1984,Oades, 1984).

De maneira geral a compostagem é uma técnica, relativamente sim-ples, que pode ser utilizada por qualquer individuo (grandes, médios, pe-quenos e agricultores familiares), contudo, alguns princípios devem serlevados em consideração de modo a garantir qualidade em sua elabora-ção e no húmus produzido. A compostagem é um processo de decompo-sição aeróbica onde a ação e a interação dos microrganismos tambémdependem da ocorrência de condições favoráveis, tais como:

1. Temperatura;2. Umidade;3. Aeração;4. pH;5. Tipo de compostos orgânicos e concentração;6. Tipo de nutrientes disponíveis;7. Formato das leiras;8. Relação C/N

O Centro de Pesquisas do Cacau (CEPEC) desenvolve trabalhos téc-nicos e científicos com compostos orgânicos de: casca de cacau e ester-co bovino, casca de cacau e esterco suíno, vermicomposto da casca decacau, esterco de curral e atualmente o composto da casca de cacau.

Em nível da pequena produção a recomendação do composto da cas-ca de cacau picotado, no mesmo lugar da quebra dentro da roça e obede-cendo ao manejo recomendado reduz significativamente os custos de pro-dução do composto com a mesma qualidade.

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Vantagens do composto da casca de cacau picotado produzido na roça:• Elimina o transporte para a sede (redução nos custos);• Elimina o transporte do composto pronto para as roças (redução

nos custos);• Associa a prática da quebra com a prática da compostagem

(qualidade do composto);• Menor perda de nutrientes do composto;• Proximidade dos resíduos necessários para cobertura do

composto (folha de banana, etc);• Redução do tempo de aplicação do composto;• Redução da fonte de patógenos (podridão parda e vassoura-de-

bruxa);• Redução dos custos de adubação.

Às propriedades que possuem agroindústria de beneficiamento de ca-cau e que obrigatoriamente recolhe os frutos até a sede se recomenda atrituração da casca de cacau com máquina, devido ao grande volume pro-duzido, o que resultará um composto da casca de cacau com 105 dias,com revolvimentos a cada 21 dias.

No campo de compostagem da CEPLAC foram executados experimen-tos com resíduos orgânicos, aguapé (baronesa), capim e lixo orgânico, deItabuna. As recomendações para formação dos compostos e suas análi-ses estão a seguir

Composto OrgânicoCasca de Cacau: Após a quebra do cacau nos primeiros dias (até o 7º

dia), picotar com facão na roça em pedaços bem pequenos (3 cm) outriturar com máquina apropriada, no caso de fazendas que beneficiam osfrutos (polpa), depois faz-se um monte no formato de cupinzeiro até aaltura máxima de 95 cm, depois cobrir com folhas. Revolvimento: a cada21 dias durante 05 revolvimentos, totalizando 105 dias.

Aplicação do Composto (Cacau):Recomendações: Segundo Chepote (2003), a aplicação de 8,8 t/ha/

ano de composto de casca do fruto de cacau promoveu um incremento

Composto pH Ca Mg P2o5 C/N N% K2O M.O. Fe Zn Cu MnCasca de Cacau 6,5 1,41 0,5 0,4 12 1.3 1,64 - 10.513 102 53 422

Fonte: CEPEC

298

de 133% na produção de amêndoas secas de cacau em relação àtestemunha. Os adubos orgânicos devem ser aplicados nas seguintesdoses: 2 kg/cova de composto de casca de cacau e/ou esterco de gadono momento do plantio, e 4, 6 e 8 t/ha no 1º, 2º e 3º ano, respectivamente.

O CEPEC mantêm um minhocário nas suas instalações paratreinamentos de produtores que desejam produzir vermicomposto.

Capim + Chorume: Deve-se colocar uma camada de 30 cm de capime regar com chorume de esterco verde de curral e água (50 kg de estercoe 100 litros de água), após a rega colocar outra camada de capim e assimsucessivamente até a altura de 1,2 metros, revolvimento de 10 em 10 diascom 4 revolvimentos, largura de 1,50 a 2,0 m e comprimento máximo de15 metros. (Fonte: Agamenon Farias, CEPLAC/CENEX).

0

100

200

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400

500

600

700

1 2 3 4 5 6 7 8

Testemunha

Adubo Mineral (340 kg/ha da

fórmula 19-19-19)

Vermicomposto da Casca de

Cacau (8,8 t/ha)

Vermicomposto da Casca de

Cacau e esterco de curral (8,8

t/ha)

Composto de casca de Cacau

(8,8 t/ha)

Vermicomposto de casca de

Cacau(4,4 t/ha) + Adubo Mineral

(70 kg/ha da fórmula 19-19-19)

Vermicomposto de casca de

Cacau e esterco de curral (4,4

t/ha) +Adubo Mineral (70 kg/ha

da fórmula 19-19-19)Composto de casca de Cacau

(4,4 t/ha) +Adubo Mineral (70

kg/ha da fórmula 19-19-19)

FONTE: Chepote R.E. – CEPEC.

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COMPOSTO ORGÂNICO ESTÁTICOBaronesa + Esterco Bovino: Deve-se 1º formar uma parede de ca-

pim de 30 cm de altura e 30 cm de largura e comprimento no máximo até10 metros. Coloca-se uma camada de 30 cm de baronesa picotada comfacão e a 2ª camada de esterco e assim sucessivamente até a altura de1,0 metro, a camada de capim segue o comprimento e a altura do com-posto. A parte superior do composto deve ser de capim (30 cm), é feito orevolvimento não convencional por cima do composto de 10 em 10 dias,sendo 7 revolvimentos no total. (Fonte: Agamenon Farias, CEPLAC/CENEX).

pH Ca Mg P2o5 C/N N% K2O Fator M.O. Umid. Fe Zn Cu MnUmidade

6 1,1 0,7 1,07 19,06 0,9 0,81 14.573 43,38 31,18 12080 102 28 825

Fonte: CEPEC

Composto

Capim +Esterco Bovino

pH Ca Mg P2o

5C/N N% K

2O Fator M.O. Umid. Fe Zn Cu Mn

Umidade

- 0,8 0,3 0,4 18,92 - 0,15 2 54,24 50 6.188 95 9 450

Composto

Baronesa(aguapé)

Fonte: CEPEC

Metais Pesados: (mg/g)

Cádmio Chumbo Cromo Molibdênio < 15 < 50 < 50 < 125

FONTE: CEPED/Camaçari

O produtor deve dar um bom manejo as plantas aquáticas de seuimóvel, que além de melhorar a qualidade da água também produzem umexcelente composto orgânico em grande quantidade.

COMPOSTO ORGÂNICO ESTÁTICO

Composto Orgânico: Lixo Orgânico + Esterco + Maravalha: Deve-seinicialmente colocar uma camada de 30 cm de capim formando as paredeslaterais e do piso, depois de formada a parede, coloca-se a 1ª camada de20 cm de maravalha, sobre a camada de maravalha coloca-se o lixoorgânico, a 3ª camada coloca-se uma camada de 10 cm de esterco verde,

300

a 4ª camada é de maravalha, a 5ª camada coloca-se o lixo orgânico eapós o lixo orgânico coloca-se a maravalha, assim sucessivamente até aaltura de no máximo 1,5 m. A largura máxima é de 2,0 m e o comprimentoaté 15 metros. Esse composto não é necessário o revolvimento e airrigação. (Fonte: Agamenon Farias, CEPLAC/CENEX).

Esse composto está sendo recomendado para locais com grandesaglomerados humanos, com produção de lixo orgânico diário de no mínimo200 kg/dia. Ideal para assentamentos rurais, cooperativas e cidades.

pH Ca Mg P2o

5C/N N% K

2O M.O. Umid. Fe Zn Cu Mn

7,2 1,10 0,30 0,40 43,69 0,60 0,50 75,58 43,38 2.182 65 21 203

Composto

Lixo Orgânico +Esterco +Maravalha

Fonte: CEPEC

Este resultado foi analisado com 4 meses de idade do composto, reco-menda-se um período mínimo de 1 mês de repouso para que o compostopossa ser aplicado na agricultura.

Vantagens do composto estático do lixo orgânico

� Redução do lixo orgânico nos lixões.� Redução de insetos nocivos ao homem (mosca, etc).� Menor impacto ambiental� Menor custo de produção� Maximização da reciclagem� Educação ambiental

Os produtores rurais devem solicitar que as suas amostras de solosejam também analisados os percentuais de matéria orgânica. Esse dadoé muito importante para se analisar com mais segurança as recomenda-ções para adubação.

Segundo Primavesi – Compostos enterrados em 20 e 40 cm de pro-fundidade sofrem decomposição anaeróbica que não contribui a agrega-ção do solo que produz gases tóxicos como metano e gás sulfidrico, dosquais as raízes fogem, ficando superficiais, cheirando de pântano ou deovos podres que prejudicam as raízes. “É a maior razão da produção or-gânica baixa”. Ideal é colocar o composto entre 00 a 05 cm superficiais.

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Enriquecimento dos compostos: A compostagem é apenas uma dastécnicas recomendadas pelo Núcleo de Agroecologia da CEPLAC. O au-mento da produtividade está relacionado ao manejo como um todo, poda,roçagem da área, fertilização com biocalda, controle biológico(trichoderma), inseticidas biológicos (caseiros) e fungicidas biológicos parao controle de pragas e doenças. Além do manejo agroecológico da propri-edade. Evitando o desmatamento, queimada e a monocultura, interagindocom o produtor na busca de uma agricultura ecologicamente correta, eco-nomicamente viável e socialmente justa. Recomenda-se o enriquecimen-to dos compostos orgânicos com cinzas e fosfato natural para aplicaçãonas roças de cacau, nas leiras para produção de hortaliças, e outros.

Recomendações para o enriquecimento dos compostos orgânicos comcinzas e fosfato natural para aplicação nas culturas (cacau, pomar e ou-tras):

Composto orgânico 09 toneladas Cinzas 400 kg Fosfato natural 600 kg

Fertilizantes naturais Quantidade/ha

Fonte: CENEX/SETEC

O enriquecimento dos compostos com cinzas e fosfato natural se faznecessário, porém as dosagens recomendadas estão diretamente relaci-onadas com a amostra de solo da propriedade e as análises químicas efísicas dos compostos.

BIOFERTILIZANTE

Preparo para Tambor de 200 litros

� 100 l de água� 1 carrinho de mão de esterco (microorganismo)� 2 kg cinza (fonte de potássio)� Matos diversos (nutrientes)� 5 kg açúcar ou melaço (energia)� 5 kg de terra de cupim (nutrientes)� 01 Casa de cupim (microorganismo)� 3 l de leite (microorganismo)� 3 Kg Pó de rocha (fonte de fósforo)

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� Misturar todos os dias durante 10 minutos por um período de 21dias.

� Aplicação em plantas perenes: 5 l para cada 100l de água

� Horticultura 1 l para cada 100 l de água

� Fertilização laminar: sempre após a roçagem ou a poda 1 l dacalda/1 l água

Só deve ser utilizado até 30 dias e sempre pela manhã,até às 9:00 horas.

O composto orgânico, biocalda, fungicidas e inseticidas biológicos,adubação verde, cobertura morta e o policultivo são técnicas que os pro-dutores podem praticar para produzir sem agredir o meio ambiente, ga-rantir a sobrevivência de sua família e torna-se independente da agricultu-ra agroquímica insustentável.

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CULTIVO DA GRAVIOLA

Enio Coêlho Junior

CEPLAC/CENEX

I. ORIGEM:

A Graviola provavelmente possui o seu centro de origem nos vales dafloresta amazônica, no Peru e Brasil.

II. BOTÂNICA:

A gravioleira pertence à família Anonaceae, da qual fazem parte cercade 75 gêneros e mais de 600 espécies. Todavia, somente os gênerosAnona, Rollinia, Uvária e Asimina produzem frutos comestíveis, emboraos dois primeiros tenham maior importância comercial, em virtude daqualidade de seus frutos.

A graviola (A. muricata L.) é uma planta que alcança uma altura médiade 6 metros, podendo atingir quando adulta até 08 metros em condiçõesecológicas favoráveis. As folhas possuem pecíolo curto, são oblongo-lanceoladas ou elípticas, medem de 14 a 16 cm de comprimento e 5 a 7cm na maior largura, coriáceas, aromáticas e reluzentes; suas nervurassão pouco perceptíveis.

As flores são perfeitas ou hermafroditas, de formato subgloboso oupiramidal, de cor verde escuro quando em crescimento e verde claraquando próximas da antese. Em geral, as flores são distribuídas empedúnculos curtos axilares ou diretamente no tronco, podendo estarsolitárias ou agrupadas, como em alguns tipos ou indivíduos de gravioleira.O cálice é formado por três sépalas pequenas e a corola por seis pétalascôncavas e carnosas formadas por dois verticilos (3 + 3), sendo o

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externo de pré – floração valvar. Os estames são numerosos, comfiletes curtos, cada um deles possui duas anteras que se abremlongitudinalmente, para lançar os polens; os carpelos, que tambémsão numerosos e uniovulados, ajuntam-se em forma de abóbadaacima dos estames.

O fruto é uma baga composta ou sincarpo cujo peso oscila de 0,4 kg a11 kg, podendo apresentar-se na forma ovóide, cordiforme, periforme ouirregular, em função dos óvulos que não foram fecundados, ocasionadospor insuficiência de polinização, ou seja, a polinização não ocorre em to-dos os carpelos ou pelo menos na maioria deles, por apresentar o fenô-meno da dicogamia protogínica, que consiste na diferença de período dereceptividade do gineceu (órgão feminino de reprodução) e o amadureci-mento do androceu (órgão masculino de reprodução), ou seja, não ocor-rem simultaneamente entre os dois órgãos reprodutores. Outro problemafisiológico floral que ocorre na gravioleira é a heterostilia, refere-se à posi-ção do gineceu acima do androceu o que também dificulta a polinizaçãonatural, é possível que a má formação dos frutos se deva a heterostilia.Como os insetos polinizadores não têm um contato uniforme com a áreacurva do gineceu ocorre à formação do fruto composto (sincarpo) irregu-larmente.

A posição da flor e o odor do etil – acetato, emanado pelo estigma re-ceptivo, que atua como atrativo para os insetos, durante a antese, eviden-cia que a polinização da gravioleira é feita por insetos, ou seja, é entomófila.Um dos poucos insetos citados como polinizador é um pequeno coleópteroColatus truncatus (Wester, 1910).

III. CLIMA E SOLO:

A gravioleira é a mais tropical das anonáceas, com temperaturas vari-ando de 21°C a 30°C, sendo o ideal a temperatura média em torno de25°C a 28ºC e precipitações superiores a 1.200 mm anuais e bem distri-buídas, porém as oscilações de temperaturas são os fatores climáticosque mais limitam o cultivo da graviola, que não suporta temperaturas abai-xo dos 12°C. A umidade relativa do ar entre 70% a 80%. A altitude de até1.000m, no momento não foi identificada problemas que inviabilizasse aimplantação do cultivo.

Com relação ao solo, a gravioleira adapta-se bem em diversos tipos desolo, desde as areias quartzosas do litoral nordestino, solos pobres e áci-

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dos aos argilo-silicosos, contanto que sejam profundos bem drenados ericos em matéria orgânica e com pH ligeiramente ácido, variando de 6,0 a6,5. Apesar de não possuir um sistema radicular com raiz pivotante longa,o seu sistema radicular é abundante, por isso prefere solos profundos ede boa aeração e sem encharcamento.

IV - ESCOLHA DA VARIEDADE:

Não existe uma variedade de gravioleira que seja portadora de caracte-rísticas botânicas e genéticas nitidamente definidas, principalmente devi-do ao fator da dicogamia apresentada pela planta. Nos principais Paísesprodutores (Venezuela, Porto Rico e Costa Rica) os inúmeros tipos degravioleira encontrados se diferenciam pela forma, sabor (ácidos, sub-ácidos e doces) e consistência de seus frutos (polpas moles e sucosa,polpa firme, polpa comparativamente seca e polpa fibrosas).

No Nordeste brasileiro predomina a gravioleira nordestina ou crioula eBahia, são frutos cordiforme, pesando entre 1,0 a 3,0 kg, com polpa mole,doce a subácida.

As gravioleiras Colombianas: Moradas, Lisa e Blanca, introduzidas pelaEMBRAPA-CPAC em 1981, são excelentes. A Morada é das três a queapresenta as seguintes características desejáveis: melhor rendimento porplanta e área, tamanho de frutos, forma cordiforme, polpa firme, e saborsubácido a ácido, ou seja, são frutos de qualidades muitos bons.

V – PROPAGAÇÃO E FORMAÇÃO DE MUDAS:

A propagação da gravioleira pode ser feita através método sexuado ouvia seminal e método assexuado como: Alporquia; Estaquia; Enxertia eCultura de tecido.

Para qualquer dos processos a planta matriz, deve ser precoce, sadia,produtiva e produtora de frutos de qualidade de acordo com o propósito dafruta (indústria de polpas, refrescos, sorvetes, etc. ou fruto para consumoin natura.).

VI – INSTALAÇÃO DO POMAR:

Preparo do Solo – O preparo do solo pode ser manual ou mecanizado,com aração e gradagem, o importante é que se faça a analise do solo, nointuito da correção da acidez e mapa de adubação de plantio (fundação) eda planta em desenvolvimento.

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VII – TRATOS CULTURAIS:

Manter a cultura livre de ervas daninhas sendo efetuado com a roçagemmanual, mecânica ou química, além de manter o coroamento.

A poda de formação inicial é feita cortando o broto terminal da plantaquando se alcança aproximadamente a altura da cintura (aproximadamenteentre 0,70m a 0,80m). A altura máxima da planta é a altura da mão dooperador com o braço esticado, para facilitar os tratos culturais, aplicaçãode inseticida, fungicida, poda de limpeza e frutificação, ensacamento dofruto e colheita.

A poda de limpeza consiste na tirada de ramos e galhos doentes, ra-mos indesejáveis (cupões e ladrões) e ramos secos. A poda de frutificaçãoe de aeração consiste no estímulo a floração com a entrada de luz.

A nutrição mineral de manutenção e produção de acordo com a anali-se do solo e o mais fracionado possível (no mínimo 06 aplicações ao ano).

As pragas e doenças devem ser monitoradas e em caso de dano eco-nômico devem ser controlados de acordo com a recomendação técnica,levando-se em conta o local e área afetada, o tipo de dano e qual o modode aplicação se localizado ou geral na planta, e, o tipo de inseticida e oufungicida, específicos, de baixo poder residual e baixa toxidez e conse-qüentemente o período de carência.

VIII – COLHEITA E BENEFICIAMENTO:

O espaçamento pode variar de 5m X 4m até 8m X 8m, em áreas detopografia acidentada o é ideal que se faça a curva nível.

As covas devem ter a dimensão de no mínimo 0,40m X 0,40m X 0,40m,realizando a adubação de acordo com a analise do solo, tanto à parte deadubação orgânica, quanto à fertilização mineral (fósforo e micronutrientes),misturando bem com a terra da parte de cima das covas e recolocando-as no lugar. Efetuar o plantio no período chuvoso.

A colheita da gravioleira inicia aproximadamente no 2º ano de implanta-ção, as colheitas devem ser diárias, e o beneficiamento que consiste nadescasca, ensacamento da massa e congelamento também deve serrealizado diariamente.

A produtividade no município de Una, os agricultores estão conseguin-do em torno de 25.000 kg de massa congelada por ha.

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Joaquim Raimundo Nunes Marinho

UTRA/SFA/BA

CONTROLE DE PRAGAS E DOENÇAS DA GRAVIOLEIRA

DOENÇAS

Antracnose

1. Agente causal: colletotrinchum gloesporioidesAtaca as folhas jovens, ramos, frutos jovens e desenvolvidos e botões

florais.

2. Controle:

- QuímicoPulverizações com fungicida protetores como Oxicloreto de cobre ou

Mancozeb (2 a3g/litro de água) ou fungicida sistêmico como Benomil ouDerosal na dosagem de 1g ou ml/litro d’água a intervalos que variam de 7a 30 dias.

- CulturalPoda de limpeza e abertura da copa da planta para que haja maior

penetração de luz e maior aeração.

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Podridão seca, podridão-da-casca, podridão-preta-do-tronco oupodridão-seca-do-fruto.

1. Agente causal : Lasiodiplodia theobromae

2. ControleFazer o controle sistemático da broca-do-tronco, poda de limpeza, de-

sinfecção dos instrumentos de poda e aplicação de pasta fungicida nashastes decepadas.

PRAGAS

Broca-dos-Frutos

Podridão-parda-do-fruto

1. Agente causal: Rhizopus stolonifer

2. Controle- QuímicoNão existe fungicida eficaz que possa ser recomendo.- CulturalRetirar do pomar e destruir todos os frutos atacados.

1. Agente causal: Cerconota OnonellaÉ uma praga que ocorre em maior freqüência na época das chuvas.

Ataca os frutos formando galerias no seu interior destruindo a polpa, comotambém botões florais ocasionando a sua queda.

2. Controle:- Químico:Fazer pulverizações a cada 15-20 dias, utilizando-se o inseticida turbo

alternado com Trichlorfon ou Deltametrina, adicionando-se às soluçõesdesses inseticidas o fungicida Derosal na proporção de 1ml do produto/litro d’água.

Uso de barreira física:Consiste no ensacamento dos frutinhos quando estes atingirem de 2 a

4 cm. de comprimento.

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Pode-se também fazer aplicação de substâncias tóxicas voláteis a basede DDVP, injetando nas perfurações abertas pela broca o produto com oauxílio de uma seringa e depois tampar as perfurações com sabão embarra ou argila.

- CulturalRetirar após as podas de limpeza, galhos e demais materiais infesta-

dos e queima-los.

- Cultural:Retirada periódica do pomar, de frutos atacados, procedendo-se à quei-

ma ou enterrio dos mesmos.

Broca-das-sementes:

1. Agente causal : Bephratelloides maculicollis

Broca-do-tronco:Esta broca ataca ramos, galhos e tronco podendo causar a morte da

planta.

1. Agente causal : Cratosomus bombina.

2. Controle:- QuímicoPincelar os locais atacados, utilizando-se a seguinte mistura.1 litro de óleo de dendê40 ml do inseticida (Losban ou Clorpan)

Pode-se também fazer aplicação de substâncias tóxicas voláteis a basede DDVP, injetando nas perfurações abertas pela broca o produto com oauxílio de uma seringa e depois tampar as perfurações com sabão embarra ou argila.

- CulturalRetirar após as podas de limpeza, galhos e demais materiais infesta-

dos e queima-los.

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1. Evite aplicar o produto durante as horas quentes do dia;2. Não aplique produtos em dias chuvosos ou de ventos fortes;3. Não fume, não beba e não coma durante a aplicação;4. Conserve a barra das calças por fora das botas e os punhos da

camisa por fora das luvas;5. Caso sua pele seja atingida, lave imediatamente com água e sabão;

se forem os olhos lave imediatamente com bastante água;6. Mantenha crianças e animais domésticos afastados dos locais de

manuseio e aplicação;

CUIDADOS A SEREM ADOTADOS DURANTE A APLICAÇÃO DEDEFENSIVOS QUIMICOS

Broca-do-coletoAtaca a região do coleto, principalmente de plantas adultas fazendo

galerias. Ocorre com maior intensidade no período das chuvas.

1. Agente causal: Helipus catagraphus

2. Controle:- QuímicoPulverizações direcionadas para o coleto da planta, utilizando insetici-

das monocrotophós na proporção de 30 ml do produto para 100 litros deágua. Também pode ser utilizado o mesmo tratamento indicado para bro-ca-do-tronco com intervalo de 30 dias entre as aplicações.

- CulturalRetirar do pomar plantas mortas ou severamente atacadas pela broca

e queima-las.

Soldadinho (Membracis foliata)

Cochonilhas (Pinnaspis aspidistrae)

São pragas de menor importância, mas que devem ser controladasdependendo do nível de ocorrência e danos causados a cultura.

OUTRAS PRAGAS QUE ATACAM A GRAVIOLEIRA

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CUIDADOS A SEREM ADOTADOS DEPOIS DA APLICAÇÃO:

1. Não lave os equipamentos utilizados na aplicação ou de proteçãoindividual e as embalagens vazias em rios, córregos, canais de irrigação,aguadas, poços etc;

2. Tome banho frio com bastante água e sabão e vista roupas limpas;3. Não reutilizar as embalagens vazias para qualquer outro fim, por

mais que tenha lavado;

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TURISMO SUSTENTÁVEL COMO NEGÓCIO

Antonia Marli V. da EncarnaçãoAntonio Fontes de Faria Filho

Ceplac/Cepec

Do ponto de vista mercadológico, o turismo é o setor econômico queapresenta os mais elevados índices de crescimento no contexto mundial.Superou setores tradicionais, como a indústria automobilística, a petrolífe-ra e a eletrônica. Em 2005, segundo dados da Organização Mundial deTurismo (OMT) o setor cresceu 5,5% ao ano, movimentando mais de US$4 trilhões com os 808 milhões de turistas que circularam no mundo, gas-tando 500 bilhões de dólares na economia internacional.

Em termos mundiais, é irrefutável a importância da atividade turística apartir do momento em que se analisa a criação e manutenção de empre-gos. Os dados apontam que o setor é responsável pela criação de 170milhões de postos de trabalho no mundo (OMT). O movimento da econo-mia gerado por esse enorme fluxo de pessoas é extraordinário e difícil deser dimensionado, pois o turismo produz efeitos nos mais diferentes seto-res produtivos.

No Brasil, o turismo apresentou bons resultados que impulsionaram ocrescimento da economia. A Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR)estima que 5,5 milhões de estrangeiros visitaram o país em 2005, geran-do US$ 3,861 bilhões de divisas estrangeiras, e criando 250 mil novosempregos.

O turismo brasileiro se destaca no cenário internacional como umaatividade altamente viável em decorrências das variadas paisagens natu-rais, de beleza e valor ecológico ímpar, aliada a um ambiente cultural, ondese vêem preservados o modo de vida simples, a arte e as crenças de

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comunidades que vivem em harmonia com a natureza, tornando-se umenorme potencial para todas as modalidades de turismo.

Atualmente, a destinação turística vem sendo direcionada com basena originalidade das atrações ambientais e no bem estar que proporcio-nam aos visitantes. Neste sentido, a natureza e todos os seus componen-tes, tornam-se pretextos para a descoberta, a iniciação, a educação e oespírito de aventura. Dessa forma, cria-se um novo mercado, o turismoque convive diretamente com a natureza e se preocupa com sua preser-vação.

Do conjunto de atividades que se pode incluir como turismo voltadopara a natureza, o segmento específico que mais cresceu foi o ecoturismo,que preserva o patrimônio natural e cultural, além de promover o bemestar das populações envolvidas. Pode ser compreendido como uma redede serviços e facilidades oferecidas para realização do turismo em áreascom recursos turísticos naturais, sendo considerado como um modelo deturismo sustentável.

No Brasil, onde o ecoturismo começa a despontar, a atividade se re-veste de extrema importância para os esforços nacionais de promoção dodesenvolvimento econômico e social, sendo exigente na qualificação damão-de-obra, promovendo elevação dos padrões educacionais e cultu-rais locais. O adequado aproveitamento dos variados ecossistemas exis-tentes, ainda pouco explorados, pode propiciar a abertura de alternativaseconômicas e as conseqüentes melhorias das condições de vida daspopulações diretamente envolvidas.

No Sul da Bahia, o ecoturismo conta com belezas cênicas impressio-nantes, destacando-se áreas de florestas naturais, cachoeiras, rios, ria-chos, praias, detentora da maior biodiversidade vegetal do mundo, dis-pondo de grande número de espécies endêmicas, raras ou em extinção.Dotada de uma cultura diversificada, com populações indígenas equilombolas, interagindo com outras comunidades tradicionais e recémchegados à região, como os da reforma agrária, promovem um enriqueci-mento cultural excepcional e evidencia-se a produção artística e artesanal.

O valor turístico regional evidencia a religiosidade como fator promotorde eventos culturais em todos os municípios. Destacam-se as festas tra-dicionais como a Puxada do Mastro de São Sebastião, Festas Juninas,Candomblés, Vaquejadas; além das de natureza festiva como Carnaval eMicareta. Uma inovação na região tem se revelado as “Feiras da Agricultu-ra Familiar e Economia Solidária” que se tornam itinerantes e, além de

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mostrar e comercializar os produtos de derivados agropecuários está setornando importante atração turística por evidenciar a produção culturaldas famílias da região, promovendo ainda a troca de experiências entre osparticipantes, mostrando o valor artístico da população que nelas se es-meram em apresentar seu diferencial, com belíssimas exposições de ar-tesanato, artes plásticas, balés, danças tradicionais (maculelê, capoeira,reisado, quadrilhas juninas). Tudo isto acrescido do valor do conhecimen-to técnico-científico e dos interesses dos atores da cadeia produtiva regi-onal, formando um interessante conjunto para participação do turista, in-cluindo o expositor como turista no município vizinho.

Outro segmento turístico de grande potencial na região é o turismo ru-ral, onde os visitantes vivenciam o ambiente das fazendas de cacau e alida dos animais e da terra, mantendo contato com a agricultura local e oscostumes dos trabalhadores. O turismo rural reserva aos seus interessa-dos a oportunidade de interação e integração com o meio rural produtivo.

Com a crise da cultura do cacau, o turismo rural se apresenta para osagricultores como uma atividade, em um contexto de contribuição ao de-senvolvimento sócio-econômico e ambiental para a região, usufruído eprotegido pelo homem.

Ao enumerar todos esses valores regionais, pretende-se destacar anecessidade de melhor organizar as oportunidades que a natureza e acultura local oferece para a realização de negócios de sucesso. Falta maiordisponibilidade técnica e de recursos financeiros para investimentos inte-grados às políticas públicas que auxiliem no seu gerenciamento, com omínimo impacto negativo sócio-ambiental para as comunidades nativas.Para o agricultor familiar, a gestão ambiental na ótica da exploração dopotencial regional, na modalidade interativa do turismo sustentável, servi-rá de agregador de renda e se planejado, poderá atingir cifras semelhan-tes às obtidas no Sul e Sudeste do Brasil, com índices em torno de 40%da renda da propriedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÀFICAS

DIAS, R. Turismo Sustentável e Meio Ambiente. São Paulo: Atlas, 2003. 208p.LEMOS, I. G. de. Turismo: Impactos socioambientais. 2. ed. São Paulo: Hucitec,

1999. 305p.www.turismo.gov.br , acessado em 02 de maio de 2006www. Sebraeep.com.br, acessado em 02 de maio de 2006.

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ECOTURISMO: PLANEJAMENTO PARA ASUSTENTABILIDADE

Maurício Guimarães Guedes

ECOTURISMO – CONCEITO

A atividade turística, principalmente nas últimas décadas, tem assumi-do um papel importante no desempenho econômico de muitas regiões epaises em diferentes partes do globo. No Brasil, é observado um grandeaumento no fluxo de turistas que procuram os locais que têm a naturezacomo principal atrativo e motivação na escolha do próximo destino a servisitado. Nesse contexto, o ecoturismo pode ser uma boa alternativa parao desenvolvimento de ações que promovam a inclusão social das comu-nidades que vivem próximas aos atrativos turísticos, bem como para aconservação desses ambientes naturais.

Esse texto procura demonstrar, mesmo que rapidamente, que o de-senvolvimento do ecoturismo, não é tão simples como alguns podem pen-sar. Uma atividade que traz consigo o compromisso com inclusão socialde comunidades, muitas vezes carentes, que habitam em regiões de gran-des riquezas culturais e ambientais e beleza cênica surpreendente exigeum prévio conhecimento e planejamento por parte daqueles que a desen-volverão.

Os assuntos aqui abordados referem-se ao significado da palavraecoturismo, seu sentido teórico e seu uso prático, a importância do plane-jamento da atividade e seu primeiro passo que é a realização do inventárioecoturístico. Vale ressaltar que esses são apenas alguns elementos, bre-vemente descritos, que devem ser considerados na concepção do produ-to ecoturístico. Para um maior aprofundamento no assunto, as publica-ções apresentadas na bibliografia poderão ser importantes ferramentas.

O QUE É ECOTURISMO?

Apesar de toda controversa envolvendo a origem do termo ecoturismo,alguns estudiosos especulam que o termo foi utilizado pela primeira vezem 1965, por W. Hetzer, que o utilizou para identificar os quatro princípios

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para o turismo responsável: respeitar as culturas locais, minimizar impac-tos ambientais, maximizar a satisfação do visitante e maximizar os bene-fícios para as comunidades locais (Mourão, 2004).

Em 1994, a Embratur definiu o ecoturismo como “Um segmento deatividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural ecultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consci-ência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo obem-estar das populações envolvidas.”

Analisando essa definição, é observado que três grandes eixos susten-tam o conceito brasileiro de ecoturismo: sustentabilidade, a educação dovisitante e os benefícios às comunidades locais (Salvati, 2002).

A utilização de forma sustentável diz respeito ao desenvolvimento daatividade turística em ambientes naturais minimizando os impactos ine-rentes à visitação nesses locais, envolvendo a comunidade tradicional eobtendo um retorno financeiro, permitindo a viabilidade econômica do pro-duto turístico.

Trocando em miúdos, se fizéssemos uma fórmula para o ecoturismopoderíamos obter:

E= CA+IS+VE

Onde:

E= Ecoturismo CA = conservação do ambiente naturalIS = inclusão social VE= viabilidade econômica

Quando estamos nos referindo à viabilidade econômica, isso quer di-zer que devemos tratar o ecoturismo como uma atividade econômica quepossui a característica de apresentar como principais patrimônios os re-cursos naturais, históricos e culturais. Ou seja, o principal investimentopara o desenvolvimento do ecoturismo se refere à conservação cultural eambiental e melhoria da qualidade de vida da comunidade tradicional.

E como toda atividade econômica, o ecoturismo necessita de investi-mentos e deve ser desenvolvido de forma organizada. Os responsáveispela visitação nesses locais devem ser parceiros da inteligência no usodos recursos naturais, históricos e culturais para a continuidade da ativi-dade, o que só se torna possível com o seu planejamento.

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ECOTURISMO, UMA ATIVIDADE SIMPLES?Aqueles que acham que o ecoturismo é somente uma atividade de

visitação em ambientes naturais, também acreditam que esse tipo de tu-rismo é muito simples de ser desenvolvido se apresentando como maisuma oportunidade de negócios.

Desenvolver o ecoturismo é uma tarefa muito mais complexa do quealgumas pessoas podem ou querem achar. Todos os envolvidos preci-sam saber a importância do desenvolvimento da atividade, sejam elesrepresentantes da comunidade tradicional, dos setores públicos, empre-sários ou visitantes.

Como escrito anteriormente, o ecoturismo precisa ser viável economi-camente, mas, devido às especificidades dos seus principais patrimôni-os, é preciso ter cuidado para que os interesses econômicos não sobre-pujem os interesses ambientais, o que geralmente acontece se não hou-ver um planejamento do local a ser visitado, acarretando em degradaçãoambiental, descaracterização cultural e fracasso econômico.

Por isso, na concepção do produto ecoturístico, alguns elementos de-vem ser considerados, como:

� A atividade só pode ser desenvolvida quando o potencial de impac-tos ambientais do ecoturismo é valido e considerado aceitável;

� Qualquer área natural que receba visitação ecoturística deve pos-suir mecanismos para monitoramento e controle de impactos ambientais;

� Os rendimentos econômicos do ecoturismo devem colaborar paraa proteção da área como um todo1 .

Para que a sustentabilidade do ecoturismo seja efetiva, devemos nosater às suas próprias características gerais que, ao final, se confundemcom os resultados almejados. São elas:

� Conservação ambiental;� Inclusão social;� Geração de renda e emprego;� Viabilidade econômica;� Planejamento;� Ser informativo e educacional;� Respeito às características sócio-culturais e ambientais do local visitado;� Transformação e renovação do indivíduo;� Desenvolvimento da compreensão e conscientização da natureza,

da história e da cultura;

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� Mudança de postura do visitante;� Capacitação dos envolvidos;� Preocupação com os benefícios locais1 ;

REALIDADES E DESAFIOS

Se por um lado, a atividade turística alavanca a economia trazendouma série de benefícios, por outro também é geradora de impactos nega-tivos, principalmente quando a mesma acontece nos espaços naturais,onde os ambientes são extremamente sensíveis (Salvador Ribeiro, 2005).

Por ser ainda uma atividade recente, o ecoturismo no Brasil é feito deforma desordenada, tendo como principal objetivo à obtenção do lucro. Énormal ver operadoras e agências concentrarem todo tipo de serviços deum roteiro ecoturístico deixando de gerar os benefícios sociais, econômi-cos e ambientais que a atividade requer.

O modelo de ecoturismo instalado no Brasil, sobretudo no nordeste, éum modelo que evidencia os impactos negativos, o que provoca a degra-dação ambiental e a exclusão social, o desemprego e a marginalizaçãoda comunidade tradicional.

Por outro lado, é observado que alguns destinos turísticos estão seorganizando e já se apresentam como referência nacional no que diz res-peito ao desenvolvimento do ecoturismo. Mas para que isso aconteça, éde fundamental importância planejar o destino para que o mesmo possaalcançar seus objetivos de conservação e desenvolvimento local.

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

O planejamento é uma atividade interdisciplinar, dinâmica, contínua epresente em todas as diversas fases de desenvolvimento do turismo(Salvati, 2002). É através do planejamento que são definidas as estratégi-as e os meios para transformar uma situação atual inadequada em umasituação desejada.

Para que o ecoturismo apresente o resultado almejado de conserva-ção dos seus principais patrimônios - os recursos naturais e culturais –,promova a melhoria de qualidade de vida da população local e seja viável

1(Dados transcritos do Manual de Ecoturismo de Base Comunitária, organizadopela WWF – Brasil):

319

economicamente, é primário que seja feito um planejamento “construídosob uma base bem delimitada de princípios e características desejáveispara o seu desenvolvimento responsável” (Salvati, 2002).

A exemplo do ecoturismo que se apresenta como uma atividade di-nâmica que implica na visitação em ambientes naturais, sendo os mes-mos suscetíveis a mudanças que podem ser de origem antrópica ou natu-ral, o planejamento deve ter o atributo de ser dinâmico e contínuo, de cará-ter flexível que pode e deve ser re-planejado conforme novos elementos,oportunidades e problemas venham surgindo no decorrer da atividade.

Contudo, para planejar a atividade, é preciso conhecer bem apotencialidades e os pontos fracos do produto turístico: quais as princi-pais características históricas, culturais ou ambientais; qual o grau de con-servação do produto; que tipos de capacitação para os envolvidos sãonecessários; quais são os serviços, equipamentos e infra-estrutura im-prescindíveis; quais são as empresas competentes para operar o produ-to; como é o percurso até o atrativo; quais as atividades mais recomenda-das (trekking, rapel, contemplação, etc.); como a comunidade enxerga oecoturismo e o meio ambiente; quais são os maiores problemas enfrenta-dos, etc. Ou seja, para que o produto ecoturístico seja bem planejado, épreciso ter a compreensão mínima das suas características e necessida-des, para tal, o primeiro passo é realizar o levantamento do potencialecoturístico.

LEVANTAMENTO DO POTENCIAL ECOTURÍSTICO

O levantamento do potencial ecoturístico é a primeira e principal etapado processo de planejamento da atividade, através dessa ferramenta, épossível obter informações importantes a respeito dos pontos fortes e dospontos fracos do local ou comunidade onde se pretende desenvolver oecoturismo.

Sob forma de um questionário a ser aplicado no local, têm-seinformações sócio-culturais que traçam o perfil das famílias que vivem nolocal a ser visitado, como por exemplo, o grau de instrução, a média e aprincipal fonte de renda do povoado, o principal sistema produtivo, asmanifestações culturais ainda praticadas ou que podem ser resgatadas.

As informações referentes ao acesso ao atrativo, grau de conservação,segurança, tipo de fauna e flora encontradas, localização do posto de saúdee tipo de problemas mais enfrentados são colhidas nesse momento e vão

320

nortear todo o planejamento de desenvolvimento do produto final. Segueabaixo um modelo de questionário que foi aplicado em comunidades ruraisda APA Itacaré/Serra Grande realizado por técnicos do Instituto FlorestaViva com o objetivo de realizar um diagnóstico das potencialidades turísticasno entorno do Parque Estadual Serra do Conduru.

Nome: Idade:Estado Civil: Nº de Filhos : Nº de Dependentes:1Grau de Escolaridade: Renda Média Mensal:Origem da renda:

Área Total: Área Cultivada:Área de Mata: Estado de Conservação:APP: Estado de Conservação:

Produção Agrícola:Espécies Frutíferas:Forma de Produção:Criação de Animais:

Animais Silvestres Constantemente Encontrados na Propriedade:

Energia Elétrica: Água Encanada:Sanitário: Tratamento de Efluentes:Condições Habitacionais:Destinação do Lixo:

Município: Povoado:Localização do Acesso (BA 001):Distância da Rodovia Ilhéus Itacaré:Distância de Serra Grande: Distância de Itacaré:Localização da Sede da Propriedade (UTM):Descrição de Acesso:Duração do Percurso:Grau de Dificuldade:Conflitos Potenciais:

DADOS PESSOAIS

DADOS DA PROPRIEDADE

INFRA-ESTRUTURA BÁSICA

DADOS DE LOCALIZAÇÃO E ACESSO

DADOS DE LOCALIZAÇÃO E ACESSO

1A (analfabeto); EFI (ensino fundamental incompleto); EFC (ensino fundamental completo); EMI (ensino médioincompleto); EMC (ensino médio completo); ESI (ensino superior incompleto); ESC (ensino superior completo).

321

Caso o município já apresente algum fluxo de visitantes, é importanteque um pequeno questionário seja aplicado aos visitantes ou às agênciase meios de hospedagem para se obter informações a respeito do perfil doturista e da oferta do mercado.

Com a coleta de todos esses dados, torna-se viável estabelecer umplano estratégico com o objetivo de estruturar o produto, identificando ostipos de intervenções estruturais, de capacitação e treinamento necessá-rios, o plano de marketing, localização do mercado emissor, os parceirose a definição dos valores

CAPACITAÇÃO COMUNITÁRIA

A capacitação dos envolvidos na operação do passeio é de fundamentalimportância, uma vez que quem está em contato direto com o visitante

V isitação Atual: Nível de Ordenamento e Controle:Interesse do Proprietário para o Turismo:Grau de Capacitação do Proprietário:Infra-estrutura Turística Existente:Atrativos (Recursos)Existentes no Imóvel: Descrição e Localização (UTM):Atrativos (Recursos)Existentes no Entorno do Imóvel: Descrição e Localização (UTM):Principais Atividades Turísticas que podem ser Realizadas na Propriedade:

DADOS SOBRE TURISMO

Item Bom R egular RuimInexistenteDimensãoDiversidade de atividadesNúmero de atrativosBeleza cênica dos atrativosConjunto paisagísticoVegetação localCondições de acessoEquipamentos turísticosInfra-estrutura básicaConservação e limpezaInformação e sinalizaçãoPossibilidade de integraçãoHierarquia da Propriedade com relação ao mercado local:Hierarquia da Propriedade com relação ao mercado regional:

AVALIAÇÃO PRELIMINAR DO POTENCIAL TURÍSTICO DA PROPRIEDADE

Continuação da tabela

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pode tornar o passeio maravilhoso, superando até as expectativas do turista,como pode pôr tudo a perder devido à falta ou a um mau treinamento.

Para se alcançar eficiência, qualidade e diversidade nos produtosoferecidos, a comunidade tem que se capacitar, profissionalizando seusserviços e produtos (Borges, 2002).

Como o ecoturismo possui o caráter de melhorar a qualidade de vidada população local, incluindo-as nas atividades, é preciso ter cuidado paranão descaracterizar a identidade das pessoas que trabalharão com oturismo, ao contrário, deve-se utilizar a cultura (sem maquiagem ouautomatização) e o conhecimento nato dos habitantes do povoadoenriquecendo assim a experiência do visitante. A originalidade nasatividades produtivas, nos aspectos culturais e até no modo de falar sãoelementos fundamentais que agregam valor ao produto.

CONCLUSÃO

No início de suas atividades, o turismo não era visto como uma atividadefundamental para a economia local, sendo feito de forma amadora tantopelos viajantes quanto pelo local que os acolhia. Hoje o turismo é vistocomo uma das principais molas propulsoras da economia de uma região,aumentando as oportunidades de emprego, melhorando o nível salarial,entre outros benefícios. Empreendimentos sofisticados concebidosunicamente para receber turistas não são mais novidade em nenhum lugarturístico do mundo. Com a crescente exigência da demanda, investimentosem infra-estrutura, profissionalização e equipamentos de apoio se tornaramregra básica para a consolidação de um local como destino turístico.

Contudo, como toda atividade econômica, o turismo também apresentaseus efeitos negativos, como, por exemplo, aumento na produção de lixo,degradação do patrimônio histórico e ambiental, exclusão social e aumentoda violência. Por estarem localizados geralmente em pequenas cidadesou povoados, nos destinos com potencial para o desenvolvimento doecoturismo, esses elementos se tornam ainda mais visíveis.

Hoje, pode ser observado um maior compromisso dos segmentosenvolvidos com a atividade visando minimizar esses problemas e garantira viabilidade do destino. Esse fato tem propiciado possibilidades concretaspara conservar e valorizar o patrimônio natural e cultural das regiões, comreflexos diretos na melhoria da qualidade de vida das populações locais eda conservação do patrimônio natural e cultural. Com isso, a atividade

323

torna-se mais equilibrada e as chances são muito maiores para que oproduto seja um sucesso e se consolide por muitos e muitos anos comodestino ecoturístico.

BIBLIOGRAFIA

WWF Brasil. Manual de Ecoturismo de Base Comunitária – Ferramentas para umPlanejamento Responsável/ Organizadora: Sylvia Mitraud 2002.

WWF Brasil. Turismo Responsável. Manual para Políticas Locais/ Organizador:Sérgio Salazar Salvati, Brasília DF, 2004.

MPE – Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo. Ecoturismo e TurismoSustentável/ Organizador: Roberto M. F. Mourão, Rio de Janeiro: FUNBIO:Instituto Ecobrasil, 2004.

MPE – Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo. Gestão de Empreendi-mentos Turísticos/ Organizador: Roberto M. F. Mourão, Rio de Janeiro: FUNBIO:Instituto Ecobrasil, 2004.

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PRONAF, SISTEMAS AGROFLORESTAIS EDESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO BAIXO SUL DA

BAHIA

Alicia Ruiz Olalde 1

Eloina Neri de Matos 2

O Ministério do Meio Ambiente, diante da grave situação de degradaçãoda Mata Atlântica, fez uma avaliação da biodiversidade e identificou asáreas prioritárias e estratégias para a conservação deste bioma. Um dosmecanismos propostos é a implementação de corredores ecológicos complanejamento e manejo da paisagem dentro de um contexto mais amplode desenvolvimento sustentável regional.

Os sistemas agroflorestais (SAFs) são um dos componentes do ma-nejo da paisagem diretamente ligado à implementação de corredores eco-lógicos e ao desenvolvimento sustentável. Funcionam como estratégia deunião dos objetivos da produção agropecuária com a conservação do solo,da água, do clima local e da biodiversidade. Em uma perspectiva atual, osSAFs são considerados sistemas que incluem árvores e arbustos lenhososdiversificando a produção para aumento de benefícios sociais, econômi-cos e ambientais (SCHROTH et al., 2004).

Um dos corredores em fase de implementação é o Corredor Central daMata Atlântica que tem o seu limite norte no Vale do Jiquiriçá na Bahia,alcançando o Sul do Espírito Santo. A região do Baixo Sul da Bahia estálocalizada na porção Norte deste Corredor, constituindo uma das áreasprioritárias para a conservação da biodiversidade (MMA, 2000).

1 Universidade Federal da Bahia e-mail: [email protected]; Sociedade de Estudo dosEcossistemas e 2Desenvolvimento Sustentável e-mail: [email protected]

325

O Baixo Sul corresponde a uma sub-espacialização da Região Sul,uma das 15 regiões econômicas definidas pelos órgãos de planejamentodo Governo da Bahia (SEPLANTEC e CAR). Está formado por 11 municí-pios: Cairu, Camamu, Igrapiúna, Ituberá, Maraú, Nilo Peçanha, Pirai doNorte, Presidente Tancredo Neves, Taperoá e Valença. Ocupa 6.138 km2,contando com uma população 259.191 pessoas, no ano 2000.

Segundo a pesquisa FAO/INCRA, nos municípios do Baixo Sul há 17.856agricultores familiares, que correspondem a 82,9% das propriedades ru-rais e ocupam 37,5 % da área. As condições do Baixo Sul revelam umcenário de dificuldades, onde 50 % das famílias são consideradas pobres,especialmente na área rural[1]. Destaca-se a importância do fortalecimentoda agricultura familiar e da pesca artesanal, como atividades geradorasde ocupação e renda para uma proporção importante das famílias quehabitam a região.

No caso do Baixo Sul, um elemento favorável à difusão dos SAFs é queestes sistemas já constituem uma prática desenvolvida por muitos agri-cultores familiares da região, que realizam cultivos bastante diversifica-dos nas mais variadas combinações, e em muitos casos estabelecendoconexões entre os remanescentes florestais. O projeto “SistemasAgroflorestais no Baixo-Sul da Bahia: Potencial Econômico e Ecológicopara a Conservação da Mata Atlântica”, desenvolvido pela organizaçãonão governamental Sociedade de Estudo dos Ecossistemas e Desenvol-vimento Sustentável, está avaliando sob o ponto de vista econômico, soci-al e ambiental, os sistemas agroflorestais já desenvolvidos pelos agricul-tores familiares. Este projeto é financiado pelo CEPF - Fundo de Parceriapara os Ecossistemas Críticos e se encontra no período final de execu-ção.

O projeto tem uma orientação etnoecológica. Segundo MARQUES(2001), “Etnoecologia é o campo de pesquisa (científica) transdisciplinarque estuda os pensamentos (conhecimentos e crenças), sentimentos ecomportamentos que intermediam as interações entre as populações hu-manas que os possuem e os demais elementos dos ecossistemas queas incluem, bem como os impactos ambientais daí decorrentes”. Para oprojeto a utilização deste enfoque significa que foi feito todo esforço de tercomo foco a família rural, de compreender sua percepção, sua lógica deproduzir, de manejar e conservar os recursos naturais. É necessário sedespir da visão tecnicista para compreender como famílias de pequenosprodutores de sistemas agroflorestais podem se relacionar com as políti-cas públicas.

326

Os sistemas agroflorestais possuem diversos benefícios largamentecitados na literatura (GOMES 1992). Neste estudo os agricultores identifi-caram 20 vantagens e apenas oito desvantagens. As principais vantagensforam: aproveitamento do terreno, venda de vários produtos, aproveita-mento dos adubos, produção distribuída no ano, aproveitamento da mão-de-obra, conforto do trabalho e beleza do sistema.

Como observa um agricultor da Colônia: “Quem tiver uma cultura ouduas vai passar fome, mais quem tem várias se vira. Eu plantei a serin-gueira, mas pensei: eu não posso zelar só da seringa, então planteicupuaçu e ainda achei pouco e plantei cacau”.

Os benefícios dos SAFs percebidos pelos agricultores estão relaciona-dos com as características da agricultura familiar: aproveitamento do ter-reno associa-se com os minifúndios muito freqüentes na região, venda devários produtos e a produção distribuída durante o ano estão ligados coma diversificação agrícola em oposição à monocultura. O aproveitamentoda mão de obra está ligado com o fato se contar principalmente com otrabalho familiar. O conforto do trabalho e a beleza do sistema podem serelacionar com “as dimensões intangíveis do desenvolvimento sustentá-vel”, neste caso valorizado pelos agricultores, mas muitas vezes não per-cebidas pelos técnicos. Outros benefícios apontados coincidem exata-mente com as vantagens mencionadas por especialistas: melhoria do solo,diminuição das ervas daninhas, conservação da umidade do solo e prote-ção contra erosão. As principais desvantagens citadas pelos agricultoresforam: menor produtividade e incompatibilidade de alguns cultivos, espe-cialmente palmeiras, principalmente o dendê, pela expansão do sistemaradicular.

“Tem que aproveitar a pouca área que tem para plantar muitos cultivos.Não adianta botar um mundo de roça e não dar conta de zelar” (agricultordo Marimbondo).

Além dos benefícios percebidos pelos agricultores, outros são citadosna literatura para os sistemas agroflorestais como: fixação de carbono(contribuindo para a minimização dos efeitos da mudança global climáti-ca), conservação da biodiversidade já que os sistemas agroflorestais fun-cionam como corredores ecológicos locais permitindo muitas vezes aconexão entre fragmentos florestais e propiciando principalmente o fluxogenético animal e vegetal. Este benefício pode ser evidenciado neste es-tudo pelo alto índice da presença de espécies florestais nativas presentes

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nos SAF´s (82%), como pelo grande número de agricultores (71%) queafirmaram ver animais silvestres com freqüência nestes sistemas. Estesbenefícios talvez não sejam percebidos pelos agricultores porque aindanão obtiveram nenhuma vantagem econômica com eles.

A pesquisa registrou as estratégias dos agricultores familiares em co-munidades que desenvolvem diversos tipos de SAFs. Discute-se o papeldo PRONAF, constatando que o mesmo tem atendido a uma parcela res-trita de agricultores e que o modelo empregado para a elaboração e avali-ação de projetos é igual ao da agricultura convencional. Registram-se asdificuldades das entidades que prestam assistência técnica para elaborare acompanhar os projetos e o limitado impacto das atividades financiadaspara o fortalecimento da agricultura familiar na região.

Para analisar o funcionamento do crédito rural no seu papel de promo-tor do desenvolvimento sustentável foram realizadas entrevistas com agri-cultores familiares em três comunidades selecionadas. Também se efe-tuaram 10 entrevistas com técnicos e agentes bancários que estão direta-mente envolvidos na elaboração e avaliação de projetos de crédito rural naregião. Estes técnicos atuam nas instituições públicas de extensão ruralpresentes na região (EBDA e CEPLAC), em ONGs ou prestam assesso-ria aos movimentos e organizações de agricultores familiares (MST eFETAG). Após o processamento das respostas obtidas nas entrevistasindividuais foi convocada uma oficina para debater a questão do crédito epropor medidas que viabilizem a expansão da utilização do crédito paraSAFs. Esta oficina contou com a presença de mais de 40 participantesdas comunidades e das instituições citadas, além de alguns representan-tes do poder público local.

A maioria dos técnicos e agentes bancários entrevistados consideraque existem várias restrições para generalizar o acesso ao crédito para amaioria dos agricultores familiares. Entre as restrições, foi identificado oendividamento, o limitado acesso à informação e a carência de documen-tação. Em função do baixo nível de escolaridade e das condições de po-breza em que vivem os pequenos agricultores, os mesmos muitas vezescarecem de documentos pessoais, como CPF, por exemplo, além de nãoter a informação necessária sobre o funcionamento do crédito rural. Naquestão do endividamento, existe o problema do aval cruzado, que foi apon-tado por vários entrevistados como uma dificuldade, pois muitos agriculto-res estão impossibilitados de tomar novos empréstimos porque outros

328

agricultores não pagaram suas dívidas. Observa-se que, em vários ca-sos, os agricultores que participaram dessa modalidade não se conheci-am suficientemente e só entraram nos grupos para ter acesso aos recur-sos.

Mas, a maior dificuldade que se observa é que a maioria das atividadesem que foram aplicados os recursos do crédito na região não foram bemsucedidos e conseqüentemente os agricultores tiveram dificuldades paradevolver os empréstimos. A principal causa identificada para o fracassodos investimentos foi à evolução negativa dos preços com relação às pre-visões realizadas quando o projeto foi elaborado (caso do guaraná e dococo, por exemplo). Também ocorre com freqüência um aumento doscustos de produção superior ao previsto, que não é acompanhado peloaumento no preço do produto, comprometendo a rentabilidade da ativida-de. Em geral, os rendimentos previstos nos projetos são calculados apartir de coeficientes técnicos distantes da realidade do pequeno agricul-tor. Há também casos em que os rendimentos previstos no projeto nãoforam alcançados devido à quebra de safra por fatores climáticos ou porproblemas fitossanitários (como no caso do cacau, do coco-da-bahia e dapimenta do reino).

Também foi apontado, na oficina organizada para discutir o tema, que otamanho do corpo técnico das instituições oficiais de assistência técnica,que é quem elabora a quase totalidade dos projetos, é claramente insufici-ente para dar orientação individualizada aos agricultores. Os escritórioslocais contam com dois ou três técnicos para dar orientação a uma áreade abrangência de vários municípios, com um público alvo de mais de5.000 agricultores. Soma-se a isto a falta de renovação do corpo técnico,pois quase não ocorreram contratações nas últimas décadas, e as restri-ções orçamentárias para o normal cumprimento das funções dessas ins-tituições. O resultado é a padronização dos projetos e o escasso acom-panhamento técnico, restrito na maioria dos casos a visitas de fiscaliza-ção para a liberação de novas parcelas, além de algumas atividades decapacitação.

Foi citado pelos técnicos que o agricultor enfrenta dificuldades nogerenciamento dos recursos do crédito. Em alguns casos, os recursosnão são aplicados integralmente na atividade programada. O agricultorrealiza economias na adubação e tratos culturais, por exemplo, seja por-que existem muitas carências de investimentos em outras atividades pro-

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dutivas na mesma propriedade agrícola ou porque ele não tem como sus-tentar a família até que o projeto comece a dar retorno, e acaba tirandoparte do sustento do crédito rural. Este último caso se observa com maisfreqüência nos assentamentos de Reforma Agrária, quando os agriculto-res não têm outras fontes de rendimento. Uma vez esgotados os recur-sos do crédito, os produtores começam a ter que “vender o dia”, parasustentar a família e pagar a dívida, com o que os lotes deixam de ter ocuidado necessário, chegando em alguns casos a comprometer o resul-tado do projeto. Apesar das dificuldades, a maioria dos agricultores teminteresse e procura tomar novos empréstimos.

Concluiu-se que o crédito é muito importante para os agricultores daregião, porque a maioria deles está longe de pertencer à categoria dosagricultores familiares “consolidados”, como definida na pesquisa FAO/INCRA (1994) e sem a injeção de recursos externos têm dificuldades paramanter e/ou expandir as atividades da propriedade. Contudo, por ser aagricultura uma atividade de alto risco, com grande variabilidade de pre-ços e sujeito a múltiplos fatores ambientais, além das carências de assis-tência técnica e da falta de agregação de valor (por exemplo, no caso daspolpas de frutas) e de organização na comercialização, o crédito não estáservido como fator de capitalização para a maioria dos agricultores famili-ares da região. Assim, aos problemas que eles já tinham soma-se agoraum novo problema que é o endividamento.

Colônia Marimbondo

Boa 33% 21% 26%

Mais ou menos 11% 43% 30%

Ruim 56% 36% 43%

Tabela 7: Avaliação da utilização do crédito rural pelos agricultores dascomunidades rurais

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Mais ou menos 11% 43% 30%

Ruim 56% 36% 43%

Tem interesse em tomar empréstimo novamente?

Sim 83% 75%

Não 17% 25%

As atividades em que foram aplicados os recursos foram sucedidas?

Sim

7% 4%

Mais ou menos 11% 7% 8%

Não 89% 86% 88%

Fonte: pesquisa de campo.

Nas agências bancárias visitadas disseram que os bancos não têmnenhum tipo de restrição ao cultivo consorciado. De acordo com os entre-vistados, os bancos não financiaram este tipo de projeto porque não teria

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sido apresentado. Um agente bancário expressou que para o banco seriaaté melhor o cultivo consorciado, porque ao reduzir o risco do agricultorreduz também o risco do banco. No entanto, durante a oficina foi demons-trado que os agentes financeiros não teriam capacidade técnica para ava-liar os projetos de agrofloresta, especialmente por sua complexidade (gran-de número de cultivos em diversos estágios produtivos e com variabilida-de de arranjos). Esta dificuldade também foi constatada em estudo deavaliação dos sistemas agroflorestais na região Amazônica (SMITH et al.,1998).

Foi apontada pelos técnicos a ausência de pesquisas e resultadosexperimentais que permitam corroborar a eficiência produtiva e econômicade certos sistemas produtivos. Na maioria dos casos, há carência decoeficientes técnicos para elaborar projetos de SAFs, principalmente naperspectiva agroecológica. SMITH et al. (1998) no mesmo estudo revelaque outra restrição para consolidação dos sistemas agroflorestais, alémda escassez de pesquisa é o fato de que quando realizadas, osexperimentos são conduzidos de cima para baixo, sem a participação dosagricultores.

Considera-se que a maior restrição para o financiamento de SAFs é opredomínio do paradigma da agricultura intensiva, fundamentado no modeloagroindustrial de monocultura e uso intensivo de insumos, muito maisapropriado para a agricultura patronal e distante da lógica do pequenoagricultor familiar. Este modelo tem consolidado rotinas na elaboração eavaliação de projetos, que parecem reforçadas pela sobrecarga de trabalhoe ausência de investimentos na capacitação do corpo técnico dasinstituições.

A lógica do crédito ainda é a monocultura, no sistema convencional,mas hoje há vários modelos alternativos sendo testados. A articulaçãodas instituições de ATER, agricultor e ONGs poderão permitir a troca deexperiências e informações. Há interesse de quase todos os agentes emrelação a essa mudança, mas a articulação e incentivos das políticas pú-blicas são ainda necessários.

Vale ressaltar, que apesar dos projetos serem elaborados para cultu-ras “solteiras”, o agricultor da região acaba introduzindo outras lavourasnos espaços livres. Esta prática está sujeita ao parecer dos técnicos comrelação aos possíveis prejuízos que os novos cultivos possam vir a provo-car na lavoura financiada. Se o agricultor fizer um consórcio não previsto,o técnico pode dar um laudo desfavorável. Observa-se que alguns técni-

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cos têm maior preocupação em cumprir estritamente as cláusulascontratuais, enquanto outros são mais flexíveis.

Existe certa divergência entre a avaliação feita pelos técnicos e a práti-ca dos agricultores: “O técnico não queria que plantasse nada com oguaraná, só ele purinho. Se tivesse plantado outro cultivo no meio, bemque a gente estava feliz” (agricultor da comunidade Marimbondo). Ou, naspalavras de outro agricultor da mesma comunidade: “A CEPLAC não acei-tou plantar nada dentro, depois que a pimenta começou a morrer foi queeles mandaram plantar coisa dentro. Estou replantando tudo com seringae cacau. Já era para estar replantado”. De fato existiriam dificuldades parao planejamento dos SAFs, porque para o agricultor os consórcios sãobastante dinâmicos e vão mudando em função da evolução dos preços,dos custos das lavouras, do desempenho agronômico e aparecimento deproblemas fitossanitários, entre outros fatores.

Cabe destacar que o PRONAF Florestal contempla a possibilidade definanciamento de SAFs. Embora seja conveniente flexibilizar sua aplica-ção, para os casos que não se incluem espécies madeiráveis, como ossistemas implementados pelos agricultores, que apesar de não incluirespécies florestais plantadas, cumprem um papel na conservação da MataAtlântica ao manter os remanescentes florestais, permitir a circulação dafauna e principalmente pelo alto índice de espécies nativas pioneiras pre-sentes junto com os cultivos agrícolas. Isto não exclui a possibilidade doplantio de espécies nativas, que também interessa aos agricultores daregião, fato constatado nas entrevistas. A concessão da “bolsa verde”,prevista no PRONAF Florestal, pode ser um mecanismo interessante paraincentivar o agricultor familiar a preservar e expandir os componentes flo-restais nos sistemas, sendo que esse recurso poderá ser investido nosoutros componentes do SAF, evitando o endividamento excessivo.

Conclui-se que a política de crédito, associada a um novo modelo deATER será um instrumento importante, desde que integrada nesse mode-lo de desenvolvimento regional que terá no desenvolvimento dos SAFs umdos instrumentos mais promissores. Para ampliar o acesso ao créditopara sistemas agroflorestais é necessário capacitação dos técnicos queelaboram projetos e daqueles que os avaliam. O mais interessante é queos agricultores já desenvolveram uma rica e ampla experiência no manejodestes sistemas. Agora compete aos gestores “correr atrás do prejuízo”no sentido de valorizar e incorporar as experiências bem sucedidas naspolíticas públicas.

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FAO/INCRA Diretrizes de Política Agrária e Desenvolvimento Sustentável. Brasília,Versão resumida do Relatório Final do Projeto UTF/BRA/036, março, 1994.

GOMES, A. R. S. Sistemas Agrossilviculturais do Sudeste da Bahia. EncontroBrasileiro de Economia e Planejamento Florestal. Anais. Volume I: SistemasAgroflorestais no Brasil: Aspectos Técnicos e Econômicos. Colombo:EMBRAPA-CNPF, 1992.

MARQUES, J. G. W. Pescando Pescadores. In: Ciência e etnociência em umaperspectiva ecológica. 2a. ed. São Paulo: NUPAUB-USP, 2001.

MMA Ministério do Meio Ambiente. Avaliação e ações prioritárias para a conserva-ção da biodiversidade da Mata Atlântica e Campos Sulinos. Brasília: MMA/SBF, 2000.

SCHROTH, G. et al. Agro forestry and Biodiversity Conservation in TropicalLandscapes. Washington: Island Press, 2004.

SMITH, N. et al. Agro forestry Experiences in the Brazilian Amazon: Constraintsand Opportunities. The Pilot Program to Conserve the Brazilian Rain Forest,Brasilia, 1998.

BIBLIOGRAFIA

[1] Levantamento realizado pela Secretaria de AssistênciaSocial em 2002 para o projeto Alvorada.

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A PIAÇAVA DO LITORAL DA BAHIA

Luiz Alberto Mattos Silva 1

Carlos Alex Lima Guimarães 2

1Biólogo, Professor Assistente e Pesquisador da Universidade Estadual de SantaCruz (UESC) – [email protected]. 2Engenheiro Agrônomo, Agricultor - [email protected]

INTRODUÇÃO

A palavra piaçava, que no tupi-guarani significa amarrar, nó, vínculo, éum termo aplicado internacionalmente a várias fibras produzidas porpalmáceas. Dentre elas, podemos citar as brasileiras Attalea funífera(Bahia) e Leolpodinia piassaba, L. major, Aphandra natalia e Barcela odora(Norte do país), as africanas Raphia hookeri e R. gracilis e a piaçava deMadagascar Vonitra fibrosa. A piaçava da Bahia é responsável por 90% daprodução nacional.

Nas pesquisas sobre o extrativismo vegetal no Brasil, verificou-se queas palmeiras contribuem com 36% do total explorado. Dentre as palmeirasque produzem fibra, a piaçaveira é considerada como a de maiorimportância econômica, sobretudo pela qualidade da fibra e a boa aceitaçãono mercado internacional (Pinto e Bautista, 1985). A palmeira Attalea funiferaMartius, conhecida por piaçava, piassava ou piaçaba, é uma espécie nativae endêmica, ou seja, de ocorrência limitada ao litoral da Bahia. Estende-se desde a região do Prado até a fronteira com o Estado de Sergipe,afastando-se no máximo 65 km do litoral. A maior concentração encontra-se no município de Cairu. Em 2004, somente este município tinha umaparticipação de 37,47% da produção total de piaçava, seguido pelosmunicípios de Nilo Peçanha, Ilhéus e Canavieiras (IBGE, 2004). Estudosrealizados por Silva e Vinha (1982; 1985) e Vinha e Silva (1998), mostraram

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que essa palmeira ocupa áreas significativas nos municípios litorâneos,associada à vegetação secundária, ou sob mata ou mesmo emáreas abertas. Uma de suas características importantes é ser umaplanta bem adaptada a solos de baixa fertilidade, consideradosimpróprios para outras culturas.

Apesar de ser uma espécie de valor econômico para a Bahia, ométodo utilizado para a sua exploração é o extrativismo. Suaimplantação, em geral, é feita empiricamente, sem o auxílio dequalquer norma técnica pré-estabelecida, encontrando-se palmeirascom diferentes estádios de desenvolvimento, competindo comespécies arbóreas e um sub-bosque herbáceo-arbustivo denso.Como não há um cultivo perfeitamente racionalizado, grandes áreascom as condições edafo-climáticas ideais para o plantio dessapalmeira ainda não são aproveitadas.

Até agora, poucos são os trabalhos científicos que respaldem adifusão e racionalização de técnicas sobre o cultivo da piaçaveira.Os mais recentes estão relacionados com o levantamento dedensidade populacional , b io logia f lora l , comercia l ização emelhoramento genético. Visando atender a expectat iva dosagricultores, já que se trata de uma excelente alternativa para adiversificação do litoral baiano, a CEPLAC e a UESC buscam omelhor método de germinação em condições de laboratório e decampo e realizam coletas de material botânico para a formação do bancode germoplasma, visando uma futura seleção do material para estabelecer,através de trabalhos de melhoramento genético da espécie, a raça maisprodutiva.

USO POTENCIAL E VALOR ECONÔMICO

Por serem longas, não elásticas, com alta flexibilidade e imper-meáveis, as fibras retiradas das folhas das piaçaveiras são usa-das, tanto no mercado interno como externo, para a fabricação devassouras de uso caseiro e industrial (mecânicas), isolante térmi-co e cordas para amarração de navios. Um subproduto da extra-ção da fibra - a borra - que geralmente gira em torno de 20% dacolheita da piaçava, é bastante procurada para a cobertura de ca-sas e choupanas e atinge, em algumas épocas, valor comercialmaior que a própria fibra. O mercado interno utiliza cerca de 95%

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da produção. Os principais países importadores de fibras dapiaçaveira são Portugal, Alemanha e Holanda, seguidos dos Esta-dos Unidos, Inglaterra e Bélgica.

Além da fibra, o fruto pode apresentar algum valor econômico, em fun-ção da quantidade de óleo presente nas sementes. Hoje, porém, apresen-ta pouca utilidade, já que outros produtos de origem vegetal são facilmen-te adquiridos. Uma outra opção de grande importância do fruto, no que serefere à produção de biomassa cultivada, para produção de energia nanova política de Agroenergia, seria sua utilização para carvão vegetal, atu-almente muito procurada devido à escassez de madeira e, sobretudo, aoalto teor calorífico.

ASPECTOS BOTÂNICOSNo gênero Attalea são conhecidas 69 espécies de palmeiras que

ocorrem desde a América Central ao centro sul do Continente SulAmericano. Das 36 espécies encontradas no Brasil, pelo menos 10 sãocitadas por Pinto e Bautista (1985) para o Estado da Bahia: A. acaulis, A.barreirensis, A. borgesiana, A. burretiana, A. compta, A. concentrista, A.funifera, A. humilis, A. pindobassu e A. seabrensis, além do híbrido A. xpiassabossu. Com base nas coletas de palmeiras realizadas em todo oEstado da Bahia, e no levantamento das espécies da família Arecaceae(=Palmae) depositadas nos acervos dos herbários deste Estado, Noblick(1991) relatou a existência de 8 espécies de Attalea (A. barreirensis, A.burretiana, A. funifera, A. geraensis, A. humilis, A. pindobassu, A. salvadorensise A. seabrensis), além de dois hí-bridos A. x piassabossu e A. x voeksii,sendo este último descrito recentemente como novo para a literatura. Entretodas, a mais importante é a Attalea funifera, descrita por Martius em 1825.

A piaçaveira é uma palmeira solitária, sem espinhos, caulescente nosul da Bahia e praticamente sem caule (estipe) no norte do Estado. Aaltura média varia entre 8 e 15 m e o diâmetro em torno de 20 e 25 cm.Apresentam 8 a 10 folhas, cerca de 9 m de comprimento; a face internado pecíolo apresenta fibras rígidas de até 3,5 m de comprimento. Asinflorescências podem ser hermafroditas (constituídas por flores femininase masculinas na mesma ráquis) ou podem apresentar apenas floresmasculinas (estaminadas) ou somente femininas (pistiladas). As primeirasflores aparecem quando as plantas têm aproximadamente 10 anos deidade e estão no período de “coqueiro”. A floração pode ocorrer durantetodos os meses do ano, porém, com maior incidência, durante os meses

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de verão. A liberação do pólen das flores masculinas ocorre logo após aabertura da espádice. Pela quantidade de pólen produzido, acreditava-seque a polinização era anemófila (pelo vento). No entanto, Voeks (1985),observou uma grande quantidade de insetos que visitavam regularmenteas flores, principalmente Apis mellifera, Trigona sp., Drosophila sp. e duasespécies de Curculionidae. Os frutos quando maduros são de coresverdeado no ápice a dourado na base, medem 10 a15 cm decomprimento, 5 a 9 cm de diâmetro e pesam entre 200 e 270 g; o endocarpoé ósseo, 15 a 18 mm de espessura e o nº de sementes varia de 1 a 3.

Segundo Bondar (1942) são reconhecidos tres períodos dedesenvolvimento da piaçaveira. No primeiro, denomina-do “patioba”, aspalmeiras são novas, o caule ainda está totalmente subterrâneo e quandoproduzem fibras, estas são poucas e curtas. No segundo, chamado de“bananeira”, as fibras são longas, de boa qualidade, porém aindaapresentam caule subterrâneo. No terceiro, o de “coqueiro”, o caule seencontra totalmente acima da superfície do solo. O período de bananeiraé o que apresenta maior produção de fibras, e com maior comprimento,que pode atingir mais de 2 metros. As fibras produzidas têm granderesistência à ruptura, variam de 2,5 a 7,5 kg por planta (valor médio de 5,3kg) e a elasticidade varia entre 1,75 e 9,0%, sendo o valor médio de 4,25%e o diâmetro em torno de 1,1 mm.

SOLOS, CLIMA E VEGETAÇÃO

Em seu estado nativo, a piaçaveira é normalmente encontrada ao longoda faixa litorânea, formada basicamente por quatro unidades de solos, asaber: a) solo variação Cururupe - pobre, com teor de argila abaixo de10% no horizonte A, aumentando para 25-35% nos horizontes abaixo, pHestá em torno de 5,0 e do total da área ocupada com esse tipo de solo,5% está apta para a cultura da piaçaveira; b) solo variação Tabuleiro -pobre, de textura mediana à argilosa, profundos e bem drenados, oconteúdo de argila é superior a 60% nos horizontes inferiores, pH varia de4,5 a 5,5 e cerca de 80% desta área está apta para o cultivo da piaçaveira;c) solo com horizonte spódico - pobre, de textura arenosa, drenagemrápida, pH inferior a 4,0 e 10% da área serve para o cultivo da piaçaveira;e d) solo variação Cairú - arenoso, muito pobre, com mais de 85% deareia, baixo teor de matéria orgânica, com pH acima de 5,5 e menos de1% da área com piaçaveiras. Sobre eles estão os maiores maciços desta palmeira.

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O clima da região onde se cultiva a piaçaveira é do tipo Af, caracterizadopor ser quente e úmido, sem estação seca definida. A temperatura médiamensal está entre 20 e 26 ºC, com média anual em torno de 24 ºC, e aumidade relativa do ar está freqüentemente acima de 80%. A precipitaçãoé relativamente uniforme ao longo do ano e varia de 1.600 a 2.000 mm.

A piaçaveira é encontrada predominantemente na faixa de transição daRestinga para a Mata Higrófila. Ambas as vegetações são pertecentes aobioma Mata Atlântica. Na mata de restinga, a piaçaveira forma o doselsuperior da vegetação, enquanto que na mata sobre os tabuleiros, vai aospoucos desaparecendo, não sendo mais encontrada nas partes densasdessa vegetação. Dentre as espécies herbáceas e arbustivas associadasa piaçaveira, predomina a tiririca (Rhynchospora splendens), cujabiomassa representa cerca de 77% da biomassa total dessa vegetação.As espécies arbóreas mais comuns, com DAP acima de 5 cm, são omundururu e a quaresmeira, além de várias espécies de Myrtaceae. Asespécies associadas são características da vegetação secundária o quemostra, juntamente com a ausência de espécies nobres de madeira, quea área de ocorrência natural da piaçaveira já foi bastante manejada (Silvae Vinha 1982; 1985).

TECNICAS AGRONOMICAS

A ciência só considera 4 espécies de palmáceas domesticadas: ococo, o dendê, a tâmara e a pupunha. O processo de domesticação élento podendo demorar décadas ou mesmo séculos (Coradin e Lleras,1978). Para se qualificar uma planta considerada até o momento umaespécie extrativista e transformá-la em uma cultura agrícola, uma seriede praticas agronômicas devem ser criadas a fim de que se tenha o seuciclo biológico dominado. Dentre estas práticas agronômicas podemoscitar: escolhas de frutos para plantio, formação de mudas, plantio, combateàs pragas e doenças, nutrição, roçagens, limpeza, colheita etc.

GERMINAÇÃO E PROPAGAÇÃO

A germinação da piaçava tem uma característica própria que é olançamento de uma raiz vertical que pode atingir 40 a 50 cm decomprimento. Daí a dificuldade de se transportar para o campo. Pelo fatode apresentar esta dificuldade, o problema foi resolvido com o advento

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das mudas pet, provenientes da semeadura em vasos de refrigerantesusados. Estas mudas podem ser levadas a campo com quase um metro de altura.

Até bem pouco tempo, se acreditava que a propagação da piaçaveiraera provocada pela ação do fogo – após a derruba e queima da capoeira- induzindo a germinação através da quebra da dormência das sementes.Trabalhos realizados por Voeks e Vinha (1988) na ESPAB, em Porto Seguro,mostrou que o fogo tem pouco ou nenhum efeito sobre a quebra dedormência das sementes desta espécie. Naquela Estação foram plantadassementes em quatro tipos de tratamentos. No primeiro, as sementesdespolpadas foram plantadas em uma capoeira de aproximadamente 12anos de idade; no segundo, após a derrubada de parte da mesma capoeira,toda a vegetação foi retirada manualmente, deixando o solo exposto aosol e, logo após, foram plantadas as sementes; no terceiro, após a derruba,plantaram-se as sementes e queimou-se a capoeira; no quarto tratamento,a capoeira previamente derrubada foi queimada e em seguida plantaram-se as sementes. Observou-se, que as sementes plantadas na capoeirativeram índice de germinação de aproximadamente 60%, bem superioraos outros tratamentos, onde esse índice não atingiu 40%, sendo que otratamento onde se plantaram as sementes antes da queima foi o queapresentou pior resultado, pois, além de retardar a germinação, esse índicefoi inferior a 30%. No caso da piaçaveira, o período desde o início dagerminação, até o aparecimento da primeira folha na superfície do solo,pode demorar até 7 meses. Nesse estágio, o sistema radicular já seencontra bastante desenvolvido, com mais de 20 cm de comprimento.Com o objetivo de aumentar o índice de germinação, efetuaram-se algunstestes em casa-de-vegetação, utilizando frutos com e sem o mesocarpo(casca), submetidos a uma temperatura constante de 40 ºC durante 7,14, 21, 28 e 35 dias. Os resultados mostraram que a exposição a 40 ºCdurante 7 dias foi o que apresentou melhor resultado.

A distribuição da piaçaveira em condições naturais sempre foi atribuídaa pequenos roedores (pacas e cotias) que utilizam o mesocarpo na suaalimentação ou por enxurradas que transportam os frutos. Afim decomprovar tal fato, Voeks (1985) coletou vários frutos maduros e colocou-os, devidamente marcados, em vários locais. Após algum tempo, retornou aolocal de origem e constatou que os frutos não tinham sido removidos. Atribuiu o fatoao desaparecimento dos referidos roedores. Por isto, e pelo ataque normal que sofreos frutos maduros pelos bruquídeos, destruindo as sementes, a dispersão natural dapiaçaveira é, hoje, bem pequena e só pode ocorrer com a intervenção do homem.

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DENSIDADE DOS POVOAMENTOS

Por ser uma espécie espontânea, o número de piaçaveiras por unida-de de área varia consideravelmente de um local para outro. Essa variabi-lidade está relacionada com a distribuição natural da espécie como, tam-bém, com o grau de interesse dos proprietários rurais na sua exploração.Com o objetivo de conhecer o número de piaçaveiras por unidade de áreanas regiões tradicionais de produção, bem como caracterizar osecossistemas onde as piaçaveiras ocorrem, foram feitas prospecçõesnos municípios de Ilhéus, Canavieiras e Cairu. No município de Cairu, tradicionalprodutor de fibras, foi encontrado o maior povoamento - com 2.690 palmeiras porhectare - seguido pelo município de Ilhéus com 1.626 e o de Canavieiras com 700.

PRODUÇÃO

Os dados de produção de piaçaveira são desencontrados, muitas ve-zes obtidos através de informações, nem sempre muito confiáveis, juntoaos proprietários. Bondar (1942) indica uma produção de 8 a 10 kg defibras/planta/ano. Visando obter mais informações sobre a produção, foiconduzido um experimento na Fazenda Barra do Manguinho, município deIlhéus. Neste experimento foram marcadas 25 palmeiras consideradasjovens, ou seja, na fase “patioba”, sem nunca terem apresentado floraçãoe outras 25 consideradas adultas, isto é, que já lançaram inflorescênciase apresentam estipe com altura superior a 1,5 m (fase “coqueiro”). A pro-dução média das 25 plantas jovens foi de 1.8l5 g/planta, 40% acima dasplantas adultas, as quais alcançaram uma produção média de 1.282 g/planta. O comprimento das fibras também foi superior nas plantas jovensem cerca de 36%, porém o diâmetro não apresentou diferenças significa-tivas. Como a produção de fibras está diretamente relacionada com a pro-dução das folhas, a maior e melhor quantidade de fibras nas plantas jo-vens foi atribuída ao fato de que nestas, toda a energia é alocada na produ-ção vegetativa, enquanto na planta adulta uma grande parte da energiaobtida é alocada para a produção de flores e frutos. Vale salientar que apropriedade apresenta solo de baixa fertilidade e não se pratica qualquermanejo agronômico.

PRAGAS E DOENÇAS

Com uma distribuição geográfica bastante restrita, e no clima favorávelno seu local de origem, é possível que o equilíbrio biológico impeça o apa-

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PRODUTIVIDADE

A produtividade da piaçava foi medida por Moreau (1997) em quatrosistemas de manejo: mata, sistema agroflorestal, pastagem e área plan-tada. A maior produtividade foi das palmeiras vegetando em pastagem eem área plantada e a menor em mata densa, isto é, em ambiente fechado.Se agregarmos os rendimentos de outras culturas presentes no sistemaagroflorestal, provavelmente este será o mais rentável, por unidade deárea, além de preservar os recursos naturais como água e solo. Ressal-va-se que a mata com piaçaveiras, apesar de apresentar menor produtivi-dade, é de grande importância, pois pode tornar rentáveis áreas de reser-vas legais e outras matas mantidas preservadas, que tenha piaçaveirasou possam ser enriquecidas com elas. Essa ressalva é feita para que osprodutores não pensem que devem derrubar matas para plantar piaçava etrazer conseqüências negativas no futuro, tanto em termos econômicoscomo ambientais.

recimento de pragas que venham a inviabilizar a sua sobrevivência. Esteequilíbrio, entretanto, pode ser rompido se o povoamento da espécie e orápido desaparecimento da vegetação a ela associada foremdescontrolados. Todos os insetos encontrados nas piaçaveiras são co-muns a outros tipos de palmeiras regionais, principalmente nos coqueirose dendezeiros. Dentre as principais pragas que atacam as piaçaveiraspodemos citar: Brocão-do-solo (Strategus aloeus) e Brocão-do-ar, naspiaçaveiras novas e o último transmite a doença “anel-vermelho”; Broca-da-ferida (Rhychophorus palmarum), que ataca através dos ferimentosfeitos pelo homem na estipe e pode causar a morte da palmeira; Serrador(Macrodontia cervircornis), nas palmeiras adultas e o Pachymerusnucleorum, que ataca os frutos. Moura et al. (1991) apresentam algumasmedidas baseadas no controle comportamental, químico, mecânico, cul-tural e biológico de algumas pragas.

Dentre as doenças podemos citar: Murcha-de-Phytomonas, Murcha-de-Phythophtora e Anel-vermelho.

COMERCIALIZAÇÃO

A produção da fibra é uniforme durante todo o ano, mantendo regular oabastecimento do mercado. Além disso, a piaçava é um produto não pere-

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LITERATURA CITADA

BONDAR, G. A piaçaveira e outras palmeiras Attaleaineas na Bahia. Instituto Cen-tral de Fomento Econômico da Bahia (ICFEB), Salvador, Bol. n. 13, 73 p.,1942.

MOREAU, M. S. Ocorrência, Manejo, Produtividade e Canais de Comercializaçãoda Piaçaveira (Attalea funifera Mart.) em Ilhéus, Una e Canavieiras – Bahia.Dissertação de Mestrado, UFBA/Escola de Agronomia, Cruz das Almas (BA),64p. 1997.

MOURA, J. I. L., RESENDE, M. L. V. de, LIMA, M. F. et al. Táticas para o controleintegrado de Rhynchoporus palmarum (L.). CEPLAC/CEPEC (Pub. Avulsa),Ilhéus, 16 p., 1991.

NOBLICK, L. R. The indigenous palms of the State of Bahia, Brazil. Dissertação(Doutorado em Botânica). University of Illinois, Chicago, 523 p., 1991.

SILVA, L. A. M. e VINHA, S. G. da. A Piaçaveira (Attalea funifera Mart.) e a vegeta-ção associada no município de Ilhéus, Bahia. CEPLAC/CEPEC, Ilhéus, Bole-tim Técnico n. 101, 12 p., 1982.

______ e ______. Ocorrência da piaçaveira e a vegetação associada no municípiode Canavieiras, Bahia. CEPLAC/CEPEC, Ilhéus, Boletim Técnico n. 132, 19p., 1985.

VINHA, S. G. DA e SILVA, L. A. M. A Piaçaveira da Bahia. UESC, Ilhéus, Bahia, 48p. 1998.VOEKS, R. A. Preliminary observation on the reproductive ecology of the piassava

palm (Attalea funifera). Anais. Academia Brasileira de Ciências, Rio de Janei-ro, n. 57, p. 524-525, 1985.

______ e VINHA, S. G. da. Fire manegement of the piassava fiber palm (Attaleafunifera) in Eastern Brazil. In Conference of Latin Americanist Geographers,Alburn, 1988. Proceedings: Depart. of Geog. & Anthropology, U. S. A., v. 14,p. 7-13, 1988.

ZUGAIB, A. C. C. e COSTA, D. A. M. Comercialização da piaçava. CEPLAC/DEADE (Public. Avulsa), Ilhéus, Bahia, 28 p. 1988.

cível, podendo ficar longos períodos na planta ou armazenados. Após acolheita separa-se a borra da fibra que geralmente é molhada para ganharpeso. Os ganhos obtidos pelas diferentes classes da cadeia comercialvariam de acordo com os seis caminhos possíveis a serem seguidos atéchegar ao consumidor. O pagamento do produto geralmente é feito nabalança, ou seja, no ato da pesagem.

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QUALIDADE E BENEFICIAMENTO DO CACAU

* Joseval Menezes Martins * Vanildo Bispo Silva

Todos estes questionamentos que envolvem atualmente a colheita e após-colheita do cacau e a normatização de suas amêndoas, da mesmaforma como também vem ocorrendo com outros produtos, abrem umdebate enfocado em novas concepções e exigências de mercado, quedetermina e beneficia positivamente a qualidade de vida do consumidor-cidadão, com direito e liberdade para aceitar ou rejeitar qualquer um produto.

Provavelmente, pouca coisa contribui mais para um exemplo deinsucesso de um produto, levando em conta os altos custos da suaimplantação a partir do trabalho de melhoramento genético até obeneficiamento e armazenagem, do que o desinteresse por este produto,por parte de um mercado consumidor, acentuadamente exigente em qualidade.

Sabemos das dificuldades que vem enfrentando determinados paísesprodutores de cacau, e como exemplo o Equador, que se esforça paraexportar para o Brasil, mas cuja importação está suspensa por barreirassanitárias, devido ao seu produto está afetado pela doença monília, tão oumais virulenta que a vassoura de bruxa.

De outra forma também, a Indonésia se encontra desestimulada aproduzir, pela dificuldade em encontrar mercado para seu cacau semfermentação e baixo padrão de qualidade das amêndoas, com tendênciaa refluxo na produção, provocado pela a broca do cacau e pelos preçosbaixos devido à desqualificação do seu produto.

O governo japonês, através de seu ministério da saúde, há algum tempopassado, rejeitou cacau da Venezuela, por se encontrar contaminado nonível de 0,82ppm (partes de milhão) do inseticida fosforoso “dichlorvos”,acima dos 0,5ppm permitidos e ordenou aos importadores a devolução da

* Ag. de Ativ. Agropecuárias/Controle de Qualidade de Cacau/CEPLAC/CENEX/ILHEUS

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carga a sua origem ou sua destruição, com o fim de assegurar que ocacau não chegasse ao mercado.

Então, é quase obrigatório imaginar, que no momento presente, aqualidade de um produto pode até envolver interesses diversos como formade barreira estratégica ou proteção de algum setor, com a finalidade de seapoderar de mais alguma vantagem; porem é bom ficar claro e nãodesconhecer o outro lado da moeda; e entender que muito mais coisasestão em jogo, assim como também não desconhecer a evolução quevem alcançando mundialmente o consumidor, que tem se deparado commuitas dificuldades no que diz respeito a doenças provocadas porintoxicações alimentares de diversas formas, e contra isto vem lutando nosentido de separar o bom e seguro alimento do perigoso e agressivo,respaldado naquilo que é do seu pleno direito, ter uma matéria prima dealta qualidade para um alimento saudável e seguro, comprovado pelo opoder publico e não um alimento que coloque a saúde publica numa crise,provocada principalmente por alimentos que levam a população àobesidade, a diabete, a arteriosclerose, ao câncer e tantas outras.

Consequentemente, aos poucos se começa reconhecer a necessidadede grandes mudanças do individuo em relação com o meio ambiente ecom os alimentos, e enfim com toda a natureza e com as coisas simplese naturais, contrapondo-se as coisas puramente artificiais.

Em uma publicação sobre a “Alimentação do presente e do futuro”, oagrônomo Jocimar da Silva, colocou muito bem esta questão do futuro daseguinte forma: “Há algumas décadas atrás, quando se falava dealimentação do futuro, se imaginava aqueles alimentos processados,industrializados e em forma de cápsula, conforme se alimentam osastronautas ou se divulga nos filmes de ficção cientifica.

Entretanto, o que não se imaginava é que a maior preocupação dasociedade nos dias de hoje fosse à qualidade dos alimentos in natura”.

� E é neste sentido, que é fundamental ter o máximo de cuidado nahora do beneficiamento do cacau, que tem como objetivo principal obterum produto de qualidade superior, com as amêndoas secas de no máximo8% de umidade, livre de impurezas, ausência de cheiros estranhos, bemfermentadas e com boa apresentação externa.

Este cacau deve ser bem elaborado a partir da primeira fase, com a colheitade frutos somente maduros, sem nenhuma mistura com os frutos sobre-maduros, verdoengos, atacados por insetos ou outros animais e frutos doentes.

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Para que haja uma boa fermentação, é necessário que a colheita sejabem conduzida e seletiva para não permitir uma mistura com frutosdesqualificados (doentes), que quando aproveitados conferem um gosto es-tranho ao produto (chocolate). Frutos doentes que apresentam sementes ata-cadas devem ser aproveitados apenas para extração de manteiga de cacau.

Os frutos sobre-maduros, além de terem um peso menor, quandogerminados, estão diretamente mais expostos à contaminação por mofosou a infestação por insetos.

A colheita de frutos verdes, ou parcialmente maduros, também implicaem queda de rendimento em peso e em uma fermentação retardada oumesmo deficiente, devido ao baixo teor de acúcares presentes na polpa eas condições físicas em que ela se encontra. O intervalo entre a colheita ea quebra não deve ultrapassar cinco dias.

Na fermentação inicia a formação de substâncias que contribuem parao processo de desenvolvimento das características peculiares de sabor,aroma e cor do chocolate, reveladas posteriormente na fase deindustrialização do cacau. Para se obter uma boa fermentação, as etapasanteriores devem ser efetuadas corretamente. Além disso, a fermentaçãoem si deve ser realizada de maneira adequada embora as instalaçõespara fermentação sejam bastante simples, o processo exige algunscuidados, como: cochos de madeiras com drenos no fundo de 6 a 7 mmde largura de diâmetro e espaçamento de 15 por 15 cm 15 cm entre drenospara escoamento do mel e a aeração da massa, com no mínimo 2compartimentos de 1,2m de largura, 1,0 m de altura e 1.0 m de comprimentoe capacidade para 900 kg de sementes frescas para cada umcompartimento, com divisórias removíveis, com a finalidade de facilitar orevolvimento da massa em fermentação nas primeiras 48 horas; 72horas;96 horas e 120 horas após a entrada da massa no cocho.

O revolvimento tem a finalidade de promover a aeração e uniformizaçãoda massa de cacau. Durante o processo a massa deve ser mantida cobertacom sacos de juta ou folhas de bananeira para reduzir perdas de calor eevitar o ressecamento excessivo das sementes da camada superficial. Ouso de plástico deve ser descartado por permitir a condensação de águasobre a massa, dificultando a aeração e propiciando o desenvolvimentode fungos indesejáveis.

A fermentação pode ser acompanhada pelas transformações queocorrem no produto como mudanças de coloração, cheiro e temperaturano interior da massa de cacau. As sementes frescas têm coloração externa

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branco-leitosa a rosada, passando gradativamente, durante a fermentação,para marrom-claro e marrom escuro. No inicio do processo, o cacau exalaodores de álcool, passando a ter cheiro de vinagre após o terceiro ou quartodia de fermentação. A temperatura da massa apresenta elevações quenormalmente alcançam valores entre 47 e 50ºC.

O cacau, ao atingir o grau de fermentação desejado, apresenta umacoloração externa marrom intensa e cheiro de vinagre. Internamenteverifica-se a presença de liquido também de coloração marrom intensaque exuda facilmente quando as sementes são comprimidas. O produtooriundo de uma fermentação de cinco dias apresenta coloração violetainternamente, acidez elevada e produz um chocolate com fraco aroma esabor amargo e ácido. Cacau não fermentado é classificado como ardósiae apresenta amêndoas compactas de coloração cinza-escura que produzchocolate de aspecto visual semelhante, sabor amargo e adstringente, sem aromacaracterístico. A fermentação excessiva além dos sete dias, resulta em um cacaude coloração castanho-escura, com cheiro de amônia ou odor desagradável dematerial em putrefação. O chocolate obtido deste tipo de cacau, normalmentepossui cheiro de peixes e sabores estranhos, não característicos do produto.

A secagem é a fase do beneficiamento em que o excesso de água éretirado do cacau recém-fermentado, diminuindo a umidade inicial de 50 a55% para 7 a 8%. Tem o objetivo de assegurar as condições propíciaspara o armazenamento, além de proporcionar a redução da acidez econtinuidade da cura do cacau.

O armazenamento do cacau recém-beneficiado visa dá-lhe proteçãocontra a chuva, excesso de temperatura e conservação de suas qualidades.

É através deste processo que se pode garantir para a produção dechocolate e consequentemente para os consumidores, uma matéria primade alta qualidade, resultante do beneficiamento, feito em cada uma dascinco fases bem definidas e diferenciadas, na seguinte ordem:

Colheita - Quebra - Fermentação - Secagem - Armazenamento

Fonte: Cultura do Cacaueiro no Estado do Espírito Santo/CEPLACG. Enrique Smith Figueroa/CEPLACJornal A Tarde de 06.05.04www. Todafruta.com. br

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CONTROLE BIOLÓGICO DE DOENÇAS DO CACAUEIRO

Givaldo Rocha Niella 1

João de Cássia do Bonfim Costa 2

José Luiz Bezera 3

José Laureano M. Veloso 4

Cleber Novais Bastos 5

1Ceplac/Cepec. E-mail: [email protected]. 2Ceplac/Cepec. E-mail:[email protected]. 3Ceplac/Cepec. E-mail: [email protected] Ceplac/Cepec.E-mail: [email protected]. 5Ceplac/Supor/Erjoh. E-mail:[email protected].

O controle biológico consiste no emprego de um organismo (predador,parasita ou patógeno) que ataca outro que esteja causando danoseconômicos às lavouras. É baseado em uma idéia simples: controlar umapraga (inseto) ou doença, usando seus próprios inimigos naturais. Aspesquisas, entretanto, exigem a integração de esforços entre profissionaisde muitas áreas e também a mudança de hábitos do agricultor. É umatarefa importante em um país que despeja, por ano, cerca de 260 miltoneladas de agroquímicos nas lavouras e onde o consumo de praguicidascresceu 60% nos últimos quinze anos. Em 2002, a venda de agrotóxicosatingiu US$ 2,5 bilhões por ano. O uso do baculovírus Anticarsia gemmatalisnucleopolyhedrovirus (AgMNPV) contra a lagarta da soja (Anticarsiagemmatalis) já é usado em mais de 1 milhão de hectares de soja no paíse constitui uma alternativa real ao controle químico dessa praga. Umexemplo bem-sucedido de controle biológico, como parte de um programade Manejo Integrado de Pragas - MIP, com a utilização de um vírusentomopatogênico, do grupo dos baculovírus. O controle biológicode doenças e pragas do cacaueiro ainda tem muito que avançar. O

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Tricovab, nome “comercial” do antagonista que controla o fungo davassoura-de-bruxa do cacaueiro já é uma realidade no campo. Masnão se tem ainda nenhum controle biológico das inúmeras pragas(insetos) que atacam esta cultura. Já existem várias pesquisas como controle biológico das podridões de raízes e frutos utilizandofungos do gênero Trichoderma sp. Um exemplo é o controle dapodr idão da ra iz e dos f rutos do mamoeiro, causados porPhytophthora sp, com a utilização de espécies de Trichoderma.Será que também não funcionaria no controle da podridão parda docacaueiro? Cabe a pesquisa responder esta e outras indagações,demonstrando inclusive a relação custo X benefícios das práticas.Sabe-se que existem inúmeros fungos patógenos do solo quecausam danos às raízes do cacaueiro e que podem ser controladoscom o uso de agentes de biocontrole. Além das dificuldades técnicaspara identificar, testar e avaliar a ação dos vários agentes debiocontrole, nos três ambientes físicos, ou seja, em laboratório,casa-de-vegetação e campo, tem-se também o registro e patentedo produto f ina l . A t ravés de ins t rução normat iva emi t idarecentemente, 17 de março de 2006, o governo diferencia ostrâmites legais para registro de produtos biológicos, entretanto,ainda tem que tramitar nos ministérios da agricultura, saúde e meioambiente, acarretando algum tempo até que se obtenha um registrodefinitivo e o produto seja disponibilizado para que a iniciativaprivada o produza e comercialize em larga escala. O Tricovab jácumpriu todos os testes necessários e esta tramitando o pedidode registro definitivo do mesmo. Em pesquisas realizadas para seavaliar a toxicidade sobre mamíferos, todos os testes demonstrarambaixo potencial de dano contra os mesmos. As unidades dedemonstração em campo também comprovaram a eficiência desteagente de biocontrole ao longo de mais de cinco anos de pesquisas.Vale salientar, entretanto que a aplicação apenas do Tricovab, oude qualquer outra ferramenta de controle da vassoura-de-bruxa docacaueiro isoladamente não surtirá os efeitos desejados. O controlebiológico de doenças do cacaueiro deverá esta associada a práticasde manejo da cultura, ou seja, associado a um manejo integradoda doença. Não se pode conceber que uma prática isoladamenteirá resolver o problema. O agrossistema cacaueiro é muito

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complexo e envolve outras espécies de plantas além do cacau eisto aumento o grau de complexidade do controle de doenças domesmo. Considerando-se que no sul da Bahia existem mais de dezdiferentes agrossistemas, com diferentes condições de solo e clima,é de se esperar variações nas respostas com o controle biológico.Outro aspecto que se deve levar em conta é que o Brasil é hoje umdos países que apresenta maior potencial para produtos biológicospara serem utilizados na agricultura. Isto devido ao simples fato deque temos a maior biodiversidade de espécies por hectare doplaneta. O mal-do-facão também é outra doença que pode ser controladacom o manejo integrado utilizando-se agentes de biocontrole. Para queisto seja possível é necessário pesquisas para identificação dos possíveisinimigos naturais do fungo causador desta doença (Ceratocystis fimbriata).

O controle biológico de doenças de plantas pode ser definidotradicionalmente como a redução da soma de inóculo ou dasatividades determinantes da doença provocada por um patógeno,realizada por um ou através de um ou mais organismos que não ohomem (Cook e Baker, 1983 citado por Bettiol e Ghini, 1995). Oconhecimento dos mecanismos envolvidos no controle biológico éde fundamenta l impor tânc ia para aumentar as vantagenscompet i t ivas no ambiente. Os pr inc ipa is mecanismos dasinterações antagoníst icas entre microrganismos incluem: a)competição: interação entre dois ou mais organismos disputandoo mesmo recurso que, no caso dos microrganismos ocorreprincipalmente quando, nutr ientes, espaço ou oxigênio sãolimitantes; b) antibiose: interação entre organismos na qual um oumais metabólitos produzidos por um organismo têm efeito danososobre o outro, causando, usualmente, inibição no crescimento e/ou na germinação; c) micoparasitismo: fenômeno pelo qual ummicrorganismo parasita outro. Trichoderma é um dos hiperparasitasmais estudados recentemente (Melo, 1996; Tronsmo e Hjeljord,1998). Os estudos do controle biológico clássico feitos pelaintrodução/aplicação de inimigos naturais vivos de C. perniciosa jáidentificaram fungos antagônicos na forma hiperparasítica queatacam basid iomas ou co lonizam tec ido morto doente emcompetição com C. perniciosa (Rudgard et al., 1993). Durante oprocesso de seleção de microrganismos para o controle biológico,

350

CONTROLE BIOLÓGICO DA VASSOURA-DE-BRUXA NA CEPLAC

Com as pesquisas realizadas pela CEPLAC, órgão subordinado aoMinistério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o Brasil tornou-se referência no combate à vassoura-de-bruxa. Desde o surgimento dadoença na região cacaueira da Bahia, em 1989, esforços foram envidadosno sentido de encontrar uma solução para o problema (Stadinik e Talamini,2004). Especificamente no estudo do controle biológico da vassoura-de-bruxa do cacaueiro, os marcos históricos mais importantes das pesquisasconduzidas na CEPLAC foram os seguintes:

1978-Início dos trabalhos pioneiros na Amazônia (C.N. Bastos),CEPLAC/SUPOR;

1989 - Constatação da vassoura-de-bruxa do cacaueiro na Bahia(Pereira et al.),

1989), CEPLAC/CEPEC (Centro de Pesquisas do Cacau);1991 - Isolamentos de antagonistas a C. perniciosa na Bahia (D.P.

Oliveira), CEPLAC/CEPEC; 1992 - Início de experimentos in vitro e in vivona Bahia (Costa et al. 1994), CEPLAC/CEPEC;

1995 - Primeiro experimento de campo com T. stromaticum na Bahia(Costa et al., 1996), CEPLAC/CEPEC;

1997 - Início de parcerias institucionais e individuais (I.S. Melo; P. Hebbar;R.D. Lumesden; e G.J. Samuels), Embrapa, Universidades e USDA (UnitedStates Department of Agriculture);

1999 -Inauguração da Unidade de Biocontrole da CEPLAC (J.C.B. Costaet al.), CEPLAC/CEPEC;

podem ser encontrados fungos, bactérias ou actinomicetos, quepodem apresentar boas respostas sobre o patógeno alvo, mas osresultados mais positivos na região cacaueira até o momento, têmsido verificados com a aplicação de Trichoderma e Clonostachys,considerados como os micoparasitas que apresentam o maiornúmero de vantagens e, portanto, têm sido os mais estudados nocontrole biológico de enfermidades (Melo, 1996).

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2000 - Descrição de T. stromaticum (Samuels et al., 2000), USDA/CEPLAC/CEPEC; 2000 -Início dos estudos morfológicos e avaliação derisco ecotoxicológico de T. stromaticum (I.S. Melo e V.L.S. Castro),Embrapa Meio Ambiente;

2000 -Produção de Tricovab® para o controle da vassoura-de-bruxado cacaueiro (Bezerra et al., 2000), - controle biológico da vassoura-de-bruxa do cacaueiro na Bahia CEPLAC/CEPEC;

2002 -Teste de campo com nova formulação de T. stromaticum(J.C.B.Costa e J.L. Veloso), CEPLAC/CEPEC;

2003 -Descrição de Hypocrea stromatica (Bezerra et al., 2003),CEPLAC/CEPEC;

2003 -Organização da VIII Reunião de Controle Biológico deFitopatógenos (J.L. Bezerra et al.), CEPLAC/CEPEC;

2004 -Continuação do aprimoramento da produção massal de T.stromaticum para o controle da vassoura-de-bruxa do cacaueiro (Niella,2005), CEPLAC/CEPEC.

CONTROLE COM Trichoderma sp.

O potencial de uso de Trichoderma como agente controlador de doen-ças de plantas é resultado de inúmeros fatores, como a ação competitivapor fontes de energia, a produção de antibióticos ou outros metabólitosque inibem a atividade do patógeno e o efeito predatório ou micoparasitismo(Chet, 1987). O gênero Trichoderma consiste de um grupo de fungossaprófitos e micoparasitas encontrados principalmente no solo e madeiraem decomposição. A capacidade antagonística do Trichoderma foi descri-ta em meados do século XX (Weindling, 1932), porém só recentemente,com o interesse voltado para o controle biológico e o desenvolvimento dabiotecnologia em agricultura, é que produtos comerciais vêm sendo de-senvolvidos, a exemplo de F-Stop®, Tricodex® e Supravit®, à base de T.harzianum, registrados para uso em Israel no controle de doenças causa-das por Rhizoctonia sp., Pythium sp., Fusarium sp., Botrytis cinerea eSclerotium rolfsii (Melo, 1998), e Tricovab®, desenvolvido e formulado noBrasil a partir de T. stromaticum, disponibilizado pelo CEPEC para o con-trole da vassoura-de-bruxa do cacaueiro (Oliveira e Luz, 2005). Espécies

352

de Trichoderma têm sido documentadas limitando o crescimento de mui-tos fungos fitopatogênicos em raízes e folhas e têm sido usados comoagentes de biocontrole para proteção de várias culturas contra diferentesgêneros de fungos, como é o caso de T. koningii no controle de Sclerotiumcepivorum, causador da podridão-branca da raiz de cebola (Metcalf et al.,2004), de T. harzianum no tratamento de sementes de milho reduzindo ossintomas de antracnose, causada por Colletotrichum graminicola (Harmanet al., 2004), e T. virens no controle do tombamento em plântulas de algo-dão, causado por Rhizopus oryzae e Pythium (Howell, 2002), além de T.stromaticum no controle de C. perniciosa em cacaueiro (Bastos e Dias,1992; Oliveira e Luz, 2005; Samuels et al., 2000). No Brasil, com relação àvassoura-de-bruxa do cacaueiro, Bastos (1986) constatou, a partir de ex-perimentos realizados em condições controladas, que uma suspensãode conídios de “T. viride” aplicada em vassouras secas colonizadas por C.perniciosa provocou a paralisação na produção dos basidiomas. Em ex-perimentos conduzidos no campo, utilizando vassouras colocadas no soloe na copa de cacaueiros, “T. viride” reduziu significativamente a produçãode basidiomas (Bastos, 1988). O antagonista isolado de vassouras-de-bruxa do cacaueiro anteriormente classificados como T. viride (Bastos,1988) e T. polysporum (Costa et al., 1996), foi reclassificado como umanova espécie, denominada de T. stromaticum. (Samuels et al., 2000), sendoseu anomorfo descoberto e descrito em vassouras e frutos secos de ca-caueiro e outras espécies de Theobroma, na Bahia, como Hypocreastromatica Bezerra, Costa e Bastos (Bezerra et al., 2003). Na regiãocacaueira da Bahia, utilizando o isolado de T. stromaticum, verificou-seinibição expressiva da produção de basidiomas de C. perniciosa em“vassoureiro” (Costa et al., 1995); em Uruçuca (BA), no campo, foi obser-vada redução de 99,7% no número de basidiomas nas vassouras deixa-das na serrapilheira e de 56,6% nas vassouras penduradas na copa doscacaueiros (Costa et al., 1998). Estudos realizados no campo em Marituba(PA) mostraram a ação do antagonista T. stromaticum reduzindo a infec-ção em ramos e almofadas florais e a formação de basidiomas nas vas-souras deixadas tanto na copa quanto na serrapilheira dos cacaueiros(Bastos, 2000). Buscando ajustar o número de aplicações de T.stromaticum na redução da produção de basidiomas de C. perniciosa nocampo na Bahia.

353

Observou-se redução de 64% na produção de basidiomas emvassouras do tratamento que recebeu quatro aplicações de T. stromaticumdurante o período chuvoso (a partir de junho), sendo as duas primeirascom intervalo de 15 dias e as duas seguintes com 30 dias, mais quatroremoções de vassourada- bruxa anuais, quando comparado com atestemunha que consistiu em quatro remoções a cada 90 dias (a partir demaio), sem aplicação de T. stromaticum e de óxido cuproso (Costa et al.,2000). Para investigar o mecanismo de ação antagonista de T.stromaticum sobre C. perniciosa foram retiradas amostras de ramos decacaueiro hipertrofiados e secos (vassouras secas) encontradas naserrapilheira do cacaueiro. As amostras foram processadas pelo métodoconvencional de microscopia eletrônica de varredura (MEV). Constatou-se a presença de hifas de T. stromaticum interagindo parasitariamentecom hifas de C. perniciosa no interior de vassouras secas de cacaueiros,além de clamidósporos e conídios do antagonista (Costa et al., 2001),que posteriormente também foram caracterizados morfologicamenteatravés de MEV (Melo e Faull, 2004). Em vista da alta capacidaderecombinatória de T. stromaticum, estudou-se a diversidade genética deisolados de Trichoderma sp. Coletados no Brasil, com base em marcadoresmoleculares RAPD, morfológicos e biométricos, para analisar asimilaridade genética entre o T. stromaticum usado no biocontrole de C.perniciosa, seu anamorfo, H. stromatica e isolados mutantes de T.stromaticum resistentes ao benomil, TVC 5.15, (Melo et al., 2001).Verificou-se alta variabilidade genética entre os isolados de Trichodermasp. de cacaueiro (1 a 85%). Não houve diferenciação genética entre osisolados do tipo selvagem e mutante (= 96%). As análises dascaracterísticas morfo-biométricas incluíram formas de conídios, tipos defiálides, presença/ausência de clamidósporos, esporulação e tipos decoloração em meio de cultura. A característica tipo de fiálides foi a quemais contribuiu para a divergência dos isolados. Concluiu-se que o isoladodo tipo mutante pode ser utilizado para estudos epidemiológicos porconservar as características genéticas da espécie e que marcadoresmoleculares têm potencial na indicação da capacidade antagonística deespécies de Trichoderma (Costa et al., 2003).

CONTROLE BIOLÓGICO DA VASSOURA-DE-BRUXA DOCACAUEIRO NA BAHIA

354

PRODUÇÃO ORGÂNICA DE LEITE NO SUL DA BAHIA

Cláudia de Paula Rezende 1

1 Pesquisadora da Ceplac/Cepec - Km 22 da Rodovia Ilhéus-Itabuna, Caixa Postal 07 –45600-000 – Itabuna, Bahia. E-mail: [email protected]; [email protected]: (73) 3270-2264.

O Brasil ocupa a sexta posição mundial na produção de leite e tempotencial para a atingir melhores posições, segundo Vilela (2004), poiscresce mais rapidamente que seus competidores. Segundo o autor, noque diz respeito ao Valor Bruto da Produção Agropecuária – VBPA, indica-dor da renda do setor rural, o leite está entre os seis produtos mais impor-tantes, à frente até de produtos tradicionais exportados como café e sucode laranja. De cada dez reais produzidos na agropecuária, um real veio doleite, e entre os produtos pecuários, só ganha dele a carne bovina e a defrango.

A expansão de novas áreas de produção tais como os Cerrados deGoiás e as Regiões do Triângulo e Alto Paranaíba, em Minas Gerais, favo-receu este aumento de produção. As novas fronteiras como Rondônia,Mato Grosso e o Sul do Pará, serão os futuros centros de crescimento daprodução. No entanto, a expansão dessas áreas não foi o principal fatorresponsável pelo crescimento da produção leiteira brasileira, mais sim, oaumento da produtividade por unidade de área. Resultado da aplicação depráticas inovadoras, envolvendo os vários setores da atividade, comomelhoria geral do rebanho através de cruzamentos, elevação dos índiceszootécnicos, reconhecimento da importância da produção forrageira emanejo da pastagem, além da melhoria da sanidade animal.

Não obstante, a atividade pecuária sempre foi relegada a áreas comtopografia acidentada, solos erodidos, ou exauridos por queimadas fre-qüentes ou super-pastejo. Conseqüentemente com baixa disponibilidade

355

de forragem, apresentando grande incidência de plantas invasoras, algu-mas delas tóxicas aos animais. Uma atividade pecuária desenvolvida emtais condições estará fadada ao fracasso.

A comunidade científica tem continuamente contribuído de forma efeti-va no desenvolvendo e difusão de novas tecnologias, com resultados con-cretos e positivos no incremento da produtividade. Como exemplo, a sele-ção de novos materiais genéticos promissores sejam gramíneas ouleguminosas, aliadas às práticas adequadas de manejo de solo e da pas-tagem, podendo elevar os índices produtivos do rebanho nacional. Inega-velmente tornando o rebanho nacional mais competitivo no mercado inter-nacional. Não se questiona, que é mais econômico produzir leite ou carnea pasto, e que o Brasil, reúne características que propiciam essa ativida-de, no entanto, é necessário ajustar práticas de manejo de pastagens,suplementação alimentar, manejo reprodutivo e sanitário dos rebanhos,entre outras, e adequá-las à relação custo-benefício da atividade.

As propriedades envolvidas com a produção de leite apresentam demodo geral, uma superlotação animal nas pastagens e conseqüentemen-te uma baixa disponibilidade de forragem tanto em quantidade como qua-lidade. Sem alimentação ou alimentação deficiente os animais se tornamsubnutridos e conseqüentemente terão baixos índices de eficiênciareprodutiva e altas taxas de mortalidade, sem considerar a baixa produtivi-dade, que é na verdade, a maior evidência da ineficiência da exploraçãoem questão.

O clima é entre as condições naturais, um dos mais importantes fato-res limitantes de produção, e pode ser considerado como o regulador daprodução animal ou seu limitador. O stress térmico causa diretamenteredução do consumo de alimento e conseqüentemente a redução dosíndices produtivos e reprodutivos do rebanho leiteiro, primordialmente osde origem européia.

Na bovinocultura de leite, por se tratar de rebanhos muitas vezes comelevado grau de sangue europeu, as condições de clima podem a vir a serlimitantes, nesse aspecto, devesse considerar o cruzamento com ani-mais de maior rusticidade, como é o caso do zebu. Logicamente por setratar desse tipo de exploração alguns condicionantes deverão inserir-seno sistema, tais como: áreas de sombra para o rebanho, facilidades deacesso à água, pastejo rotacionado com forrageiras de melhor qualidade,consórcio de gramínea com leguminosa, suplementação alimentar, ma-nejo sanitário mais criterioso, etc.

356

Outro aspecto importante a ressaltar seria a forma de favorecer ade-quados índices produtivos e reprodutivos com o uso mínimo de agentesquímicos. A crescente conscientização da sociedade em respeito à pre-servação ambiental, acompanhada da preocupação com a segurança ali-mentar dos produtos consumidos, têm conduzido a uma transformaçãogradual dos sistemas de produção, processamento, comercialização econsumo de alimentos de origem animal. A produção agro-ecológica ouorgânica em pecuária, baseada principalmente nos princípios desustentabilidade ambiental, econômica e social, apresenta-se, neste caso,como uma alternativa viável ao sistema convencional utilizado. No Brasilexiste uma grande demanda em transformar os sistemas de produçãopecuária convencional em sistemas orgânicos, tornado o país potencial-mente líder no setor.

Com relação à alimentação do rebanho em um sistema de produçãoorgânica, os consórcios de gramíneas e leguminosas nas pastagens sãopráticas recomendadas, garantindo a diversificação de espécies vegetaisno ecossistema. Conseqüentemente a produção de leite poderá serincrementada com introdução de leguminosas nas pastagens e estabele-cimento de sistemas silvipastoris nas propriedades, evitando-se assim ouso de adubos químicos e preservando o meio ambiente.

Na produção orgânica de leite a alimentação das vacas deve ser pro-duzida, majoritariamente, sem agrotóxicos (é permitido incluir apenas 15%a 30% de produtos não orgânicos na composição das rações) e a medi-ção dos animais tem que ser natural.

A conversão dos sistemas de manejo convencional tradicional para oorgânico, segundo as literaturas revisadas tem que ser gradual, e no míni-mo levaria dois anos. Nos procedimentos técnicos de produção orgânicaanimal (Tabela 1), se observa que algumas práticas embora não indicadaspodem ser usadas nesse período, até o completo estabelecimento do sis-tema de produção orgânica.

Na visão da exploração da pecuária leiteira para pequenos produtores,estudos já foram feitos por varias instituições, associando práticas paratornar a atividade competitivamente lucrativa. Segundo Camargo (2005)esta situação se concretizará se duas preocupações estiverem constan-temente presentes no dia a dia: a busca pela redução de custo na produ-ção de leite e o concomitante aumento de produtividade da terra. Ambosserão os passaportes para o amanhã.

357

Tabela 1: Procedimentos técnicos para produção orgânico animal.

Procedimentos

RecomendadosAtividades Restritos Proibidos

Nutrição e Tra-tamento veteri-

nário

Auto-suficiênciaalimentar orgânica;forragens frescas,silagem ou fenaçãoproduzidas napropriedade ou defazendasorgânicas;

Aditivos naturaispara ração esi lagem(algas, plantasmedicinais,aromáticas, soro deleite, leveduras,cereais, outrosfarelos);

Mineralização comsal marinho;Suplementosvitamínicos (óleod efígado de peixe elevedura);

Homeopatia,fitoterapia eacupuntura;

São obrigatórias asvacinasestabelecidaspor lei, erecomendadas asvacinações para asdoenças maiscomuns a cadaregião

Aquisição dealimentos nãoorgânicos,equivalente a até20% do total damatéria secapara animaismonogástricos e15%pararuminantes;

Aditivos, óleosessenciais,suplementosvitamínicos,aminoácidos esais minerais(de formacontrolada);

Agentesetiológicosdinamizados(nosódios oubioterápicos);

Amochamento ecastração.

Uso de aditivos,estimulantessintéticos;

Promotores decrescimento;

Uréia;

Restos deabatedouros;

Aminoácidossintéticos;

Transferênciade embriões;

Descorna eoutrasmutilações;

Presença deanimaisgeneticamentemodificados.

358

Continuação da Tabela 1

Procedimentos

RecomendadosAtividades Restritos Proibidos

Manejo do re-banho e insta-

lações

Raças animaisadaptadas à região,raças rústicas;

Aquisição dematrizes decriadoresorgânicos;

Animais de foradevem ficarem quarentena;

Instalaçõesadequadas para oconforto e saúdedos animais, fácilacesso à água,alimentos epastagens;

Espaço adequado àmovimentação;

Número de animaispor área não deveafetar ospadrões decomportamento;

Criações depreferência emregime extensivo ousemi-extensivo, comabrigos;

Monta natural paraReprodução;

Desmame natural

Raças exóticasnão adaptadas;

Bezerros podemser adquiridosde criadoresconvencionaisaté 30 dias;

Inseminaçãoartificial sobcontrole;

Separação dosbezerros por barreiras

Raças exóticasnão adaptadas;

Estabulaçãopermanente deanimais;

Confinamento eimobilizaçãoprolongados;

Instalações forados padrões;

Manejoinadequado quelevem animaisao sofrimento, estresse e alte-rações de com-portamento

359

Continuação da Tabela 1

Procedimentos

RecomendadosAtividades Restritos Proibidos

Manejo de Pas-tagens

Uso de técnicas demanejo econservação desolo e água;

Nutrição daspastagens deacordo com asrecomendações;

Controle depragas,doenças einvasorasdas pastagens deacordo com asnormas;

Pastagens mistasde gramíneas,leguminosas eoutras plantas(diversificação);

Pastoreio rotativoracional, comdivisão depiquetes;

Manter solocoberto, evitandopisoteio excessivo;

Rodízio de animaisde exigências e

hábitosalimentares

Fogo controladopara limpeza depastagens;

Pastoreiopermanentesob condiçõessatisfatórias;

Estabelecimentode pastagem emsolosencharcados,rasosou pedregosos

Monocultura deforrageiras;

Queimadasregulares;

Superlotação depastos;

Uso de agrotóxicose adubaçãomineral de altasolubilidadenas pastagens

Fonte : Arenales, 2001; Darolt, 2002.

360

Nos custos de produção em uma propriedade leiteira o item de maiorpeso é a alimentação que varia de 50 a 60% no custo total (2/3 devido aoalimento concentrado e o restante é atribuído ao volumoso). Isto significaque para reduzir custos de produção de leite, será preciso diminuir osgastos principalmente nos alimentos concentrados. O que ocorrerá casoo volumoso principal tenha qualidade (teores mínimos de proteína de 10%e 60% de nutrientes digestíveis totais), e que apresente custo de produçãomais barato possível. Na Tabela 2, estão relacionados os principais ali-mentos volumosos disponíveis para os produtores de leite no Brasil e seusrespectivos custos de produção

A tabela acima dá respaldo à afirmativa que a melhor opção seria forne-cer durante o ano todo, apenas pastagens de gramíneas forrageiras tropi-cais em sistema rotacionado. No caso da cana de açúcar, da silagem demilho e do feno, há de ser acrescentado o gasto com mão de obra, elevandoainda mais a despesa e conseqüentemente o custo da atividade. No entanto,o desafio maior dos produtores e do meio técnico-científico e criar condiçõespara garantir maiores índices de produção de volumoso sem o uso sistemá-tico de agrotóxicos, sejam como fertilizantes, vermífugos, herbicidas, etc.

Em se tratando de fertilizantes, o uso de pastagens consorciadas éuma realidade, e tem sido bastante estudada e já é utilizada por vários produtores.

Na produção de leite utilizando leguminosas consorciadas comgramíneas foram observados aumentos na ordem de 20% e 12% naprodução de leite de vacas do rebanho comercial da estação da Ceplac,em Itabela-Ba, mantidas em pastejo rotacionado em pastagens de B.dictyoneura consorciada com a cv. Belmonte e em pastagens exclusivasde B. brizantha cv. Marandu e B. decumbens, respectivamente. Lascano

- Pastagem rotacionado de gramíneaforrageira tropical

- Cana de açúcar

- Silagem de milho

- Feno de gramínea forrageira tropical

40 a 60

80 a 100

120 a 150

150 a 200

Alimento volumoso Custo de produção (R$/tMS)

Fonte : Boletim do Leite, FEALQ, Piracicaba (SP), nº 78 e 79, 2000

Tabela 2. Custo de produção dos principais alimentos volumosos

361

(1994) também apresenta resultados similares, onde a inclusão de A. pintoiem pastagens de gramíneas promoveu acréscimos de 17 a 20% naprodução de leite. Esses resultados têm variado com o valor nutritivo daleguminosa utilizada no consórcio. Gonzalez et al. (1996), verificaramincremento de 1,3 kg de leite/vaca/dia quando utilizaram a consorciaçãode capim-estrela africana com A.pintoi em relação à pastagem exclusiva.

Em um sistema silvipastoril a presença de leguminosas arbóreas éimportante na retenção de água, ciclagem de nutrientes e na conservaçãodo próprio solo. Bem como ser uma opção forrageira de alimentação parabovinos, principalmente na época de críticas do ano. Entre as leguminosasarbóreas e arbustivas que podem fazer parte da alimentação de ruminantespode-se fazer menção da Cratylia argentea, Leucaena leucocephala eGliricidia sepium. Estudos realizados na Embrapa Gado de Leite indicaramque a gliricidia e a amoreira foram às forrageiras de maior potencial, seguidaspela leucena e pelas espécies de estilosantes e cratylia (Tabela 3). Asespécies avaliadas podem ser utilizadas em sistemas silvipastoris,contribuindo para o fornecimento de energia/proteína aos animais (Aroeiraet al., 2003). Em Cuba Hernandez et al., (1998) mostram que a produçãode leite de um sistema de produção a pasto aumentou em 3.557 L/ha/ano,quando se explorou, na propriedade, um sistema multiestratificado (Gráfico 1)

Na Colômbia, Murgueitio (2000) observou que com o uso de sistemasilvipastoril, incrementou na produção de leite de 10.585 para 12.702 L/ha/ano. O teor de matéria orgânica no solo de 1,6% aumentou para 2,6%,simplesmente com a introdução de Prosopis juliflora e Leucaenaleucocephala, numa pastagem de capim-estrela (Tabela 4).

Espécies MS FDN FDA Celulose Lignina DIVMS PB

S. guianensis 33,3 54,9 38,4 27,0 10,8 52,5 11,8G. sepium 24,8 44,8 27,9 16,1 12,2 60,5 19,6L. leucocephala 24,3 42,6 28,3 16,2 12,7 56,2 28,9C. argêntea 45,5 59,0 36,6 18,1 16,7 48,3 21,4M. alba 43,6 45,3 29,6 20,5 6,4 60,0 14,8

Tabela 3. Teores de matéria seca (MS), fibra em detergente neutro (FDN),fibra em detergente ácido (FDA), proteína (PB) e digestibilidade in vitro damatéria seca (DIVMS), de diferentes espécies.

Fonte: Aroeira et al. (2003).

362

Tabela 4. Indicadores técnicos e ambientais de um sistema silvipastoril (C.plectostachyus + L. leucocepha + Prosopis juliflora) x pastagem de capim-estrela.

Carga animal (vacas/ha) 4,0 4,8

Produção de leite (kg/vaca/dia) 9,5 9,5

Produção de leite (kg/ha) 10.585 12.702

Adubação (uréia) (kg/ha) 400 0

Água consumida (m3/ha/ano 16.000 12.000

Pássaros (nº de espécies) ? 4 6

Matéria orgânica do solo (0 - 10 cm) (%)1,6 2,8

Indicadores Capim-estrela+Nitrogênio

SistemaSilvipastoril

Fonte: Murgueitio (2000).

Gráfico 1. Incrementos na produção de leite com introdução de espécies.

Fonte: Hernandez et al. (1998).

Pasto Pasto + bancode proteina

Pasto + árvore Pasto + multiestrato

Pro

duçã

o de

lei

te (

Kg/

ha/a

no)

363

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Brasil responde por 66% do volume total de leite produzido nos paísesque compõem o Mercosul. O consumo cresceu nos últimos anos,maisainda está abaixo do mínimo recomendada por organismos oficiais (146kg/habitante/ano) como a Organização Mundial de Saúde. É um produtode alta elasticidade-renda, significando que um aumento de 10% na renda podeincrementar o consumo de lácteos em 12%. A produção de leite tem perspectiva decontinuar a crescer nos próximos anos, e o Brasil tornar-se exportador neste setor.

Os produtores e suas entidades de classes têm uma participaçãodecisiva para o alcance na conquista de mercados. O pecuarista melhorouo manejo, principalmente o relacionado com alimentação, qualidade dasforrageiras, genética e a saúde animal. A sazonalidade da produção diminuiunos últimos anos e tende a continuar caindo.

Segundo a FAO (Food Agriculture Organization), órgão da ONU(Organização das Nações Unidas) defina-se como agricultura orgânica, aprodução que abrange um sistema de manejo que promove e estimula asaúde do agrossistema, incluindo a biodiversidade, ciclos biológicos e aatividade biológica do solo.

Os produtos obtidos a partir de uma exploração orgânica deverão terum valor agregado mais elevado, permitindo a melhor remuneração dasunidades produtoras e, conseqüentemente, eliminado a ameaça de máutilização dos recursos naturais existentes.

Maximizar a produção sem causar num prejuízo ao ecossistema é umdos maiores desafios dos estudiosos das diversas áreas, incluindo naagropecuária. A utilização do consórcio entre leguminosas e gramíneas ea formação de sistemas silvipastoris são alternativas promissoras e queapresentam excelentes resultados No entanto é importante se atentar paraa escolha das forrageiras e adequá-las a um manejo que propicie apersistência e auto-sustentabilidade dos sistemas adotados.

É possível produzir leite a partir de um modelo economicamente viável,socialmente justo e ambientalmente correto, fundamentado em tecnologiasconcretas, e que favoreçam a maior integração entre o homem e a natureza.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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FITOTERAPIA

Josué Sarmento de Souza

Terapeuta Naturista

A fitoterapia (tratamento da saúde com ervas medicinais) é uma dasmodalidades da medicina holística. Todos os vegetais produzem uma sériede substâncias químicas durante o seu metabolismo. Entre estas,encontram-se substâncias especiais que ajudam na adaptação das plantasao meio em que vivem, atuando contra agentes agressores, protegendo aplanta contra doenças e pragas. Essas substâncias, também chamadasde princípios ativos naturais, podem ser aproveitados na forma medicinalpara tratar enfermidades e promover a saúde.

As plantas são usadas pelo homem desde o início dos tempos parasua sobrevivência, saúde e bem estar. No início do século 19, quandoforam descobertos os primeiros métodos de análise química, os cientistasaprenderam a extrair e modificar os ingredientes ativos das plantas. Maistarde os químicos começaram a produzir suas próprias versões doscomponentes das plantas, iniciando, assim, a transição de medicamentosnaturais para sintéticos. Com o passar do tempo, o uso de ervas medicinaisfoi largamente substituído pelos medicamentos sintéticos.

O objetivo da medicina convencional é localizar a fonte física da doençae, em seguida, removê-la. Por exemplo, se um paciente tem uma infecçãoprovavelmente lhe será prescrito um antibiótico para matar a bactériainvasora. Já os praticantes da “medicina holística” acreditam que saúde edoença envolvem uma complexa interação entre fatores físicos, espirituais,mentais, emocionais, genéticos, ambientais e sociais. Para tratar umadoença ou promover a saúde à medicina holística procura “tratar a pessoa”,levando em consideração todos esses fatores.

Por uma série de motivos científicos, culturais e políticos essa medicinapassou a ser rotulada como “alternativa”. O mais correto seria denominá-

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la de “complementar e alternativa”, como já ocorre nos Estados Unidosonde ela é conhecida como CAM (Complementary and Alternative Medicine),pois determinados procedimentos da “medicina convencional”, tais comocertos exames e cirurgias, jamais poderão ser prescindidos. Jámedicamentos naturais e outras práticas holísticas podem perfeitamentesubstituir medicamentos sintéticos e também complementares ou integraro tratamento convencional.

Atualmente verifica-se em todo o mundo uma volta às origens. A“medicina holística” vem, a cada dia, conquistando mais crédito junto aosusuários e as comunidades científicas. A fitoterapia é recomendada pelaORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAUDE na prevenção e tratamento dedoenças, porque alia eficácia a um custo mais acessível e provoca menosefeitos colaterais do que os medicamentos sintéticos.

Tudo que Deus criou, por mais insignificante que seja, tem um significadoespecial e uma determinada finalidade. Portanto, não resta a menor dúvidade que Deus criou e fez crescer as plantas para o beneficio do homem;disto pode-se deduzir que enquanto existir o homem haverá plantas. É umfato comprovado que onde vivem seres humanos, crescem os vegetaisalimentícios e as plantas curativas. Até pareceria que Deus tivesse confiadoàs plantas a missão de crescer junto às moradas dos homens parabeneficiá-los. Apesar de serem ricas em todas as substâncias que ohomem necessita para seu organismo, as plantas são muito humildes,parecendo-se a um mendigo que pede ao dono de casa que o deixe entrar.Geralmente, porém, o homem despreza as plantas curativas, deixando-as para comida dos animais ou destruindo-as ele mesmo.

As plantas têm uma tríplice tarefa: purificar, reconstruir e curar.As plantas curam inclusive nos casos em que outros meios terapêuticos

falham.Na maravilhosa farmácia da natureza, que se renova cada ano

(principalmente, na primavera), encontramos uma variedade tão grandede plantas curativas, que se poderia envolver totalmente o homem, dospés à cabeça, colocando cada planta no seu lugar correspondente paracurar uma determinada enfermidade.

Estes dados têm como objetivo informar sobre como podemos utilizaros recursos que a natureza nos disponibiliza para a nossa saúde e bemestar. Os dados aqui contidos não devem ser usados para diagnose outratamento nem para substituir a orientação médica apropriada.

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SAIS MINERAIS QUE CONTÉM AS PLANTAS CURATIVASAs plantas contêm os sais minerais e as vitaminas que o corpo huma-

no precisa para seu bom funcionamento, e inclusive facilitam o trabalhodas glândulas na secreção de hormônios. Sabendo que os hormôniosdesempenham um papel sumamente valioso em todos os processos vi-tais, pois regularizam a atividade dos órgãos e agem como fieis guardiõesdo bom funcionamento do corpo. Os hormônios intervêm imediatamentequando no organismo falta alguma substância ou há excesso de outra.

Deus colocou à nossa disposição as plantas curativas para manter emordem o metabolismo (assimilação e desassimilação), desintoxicar o san-gue e os tecidos orgânicos, expulsar as substâncias estranhas e morbosase purificar e reconstruir o organismo.

Para melhor compreensão do valor curativo das plantas, em continua-ção daremos algumas explicações sobre diversos sais minerais que elascontêm e seu benefício para o corpo humano.

CÁLCIOA maior parte dos alimentos que o homem e geralmente consome são

pobres em cálcio. As crianças são as mais afetadas pela falta de cálcio eposteriormente, quando se tornam adultas, sofrem uma série de perturba-ções orgânicas.

Aquele que deseja prolongar sua vida e estar prevenido contra todaclasse de enfermidades deve proporcionar a seu organismo os alimentosnaturais que contêm cálcio em abundância. Os vegetais, as frutas e ver-duras, e de maneira especial às plantas curativas, possuem muito cálcio.

FERROO sangue necessita continuamente de ferro, pois ele tem a missão de

transportar uma parte do oxigênio que os pulmões recebem mediante arespiração.

Entre as muitas doenças ocasionadas pela falta de ferro na alimenta-ção, podemos mencionar a anemia e a icterícia. O ferro tem um papelmuito valioso no tratamento das enfermidades do sangue.

SILICATO

Muito importantes é o papel que o silicato desempenha tanto no reinovegetal e animal como no corpo humano. Sem o silicato, as árvores e asplantas não teriam firmeza e força, e se quebrariam ao serem mexidaspelo vento.

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Sem o silicato, os animais não poderiam correr e os homens não pode-riam caminhar, ver, ouvir, cheirar, ou falar.

O silicato que se encontra nas plantas, ervas, verduras e frutas formaas fibras dos músculos, os tendões e todos os tecidos, os brônquios, oesmalte dos dentes, a suavidade e a resistência dos cabelos, a cartila-gem do nariz e dos ouvidos, a pupila, os vasos sanguíneos, os tendões damusculatura abdominal e os que unem a coluna vertebral e os ossos, etc.

É aconselhável tomar chás de ervas que contém silicato, a fim de com-bater com êxito as enfermidades da pele, dos rins e dos nervos, e auxiliaro organismo na formação do tecido conjuntivo.

SÓDIO

A falta de sódio no corpo provoca o aparecimento de diversas enfermi-dades e perturbações no metabolismo. Ademais, a falta de sódio produz oenvenenamento do sangue e, finalmente, de todo o organismo.

O sódio neutraliza os ácidos e regulariza o metabolismo, evitando as-sim que no corpo se acumulem substâncias estranhas, que são a causado desequilíbrio no organismo. O sódio também regulariza o funciona-mento das glândulas de secreção interna.

As frutas, verduras e plantas que contêm sódio combatem com magní-ficos resultados o reumatismo, a gota, o artritismo, a diabete, a amidalite eas doenças da bexiga, dos rins e das glândulas.

POTÁSSIO

Para estimular e fortificar o organismo, para dar elasticidade e movi-mento ao corpo, Deus nos tem concedido plantas, frutas e verduras quecontém potássio. Aquele que deseja conservar ou recuperar a saúde, equer prolongar sua agilidade até a velhice, deve consumir alimentos ricosem potássio.

ENXOFRE

É de conhecimento geral que o enxofre é um grande purificador e de-sinfetante não só das habitações e do ambiente que rodeia o homem,mas também do organismo. A pele continuamente precisa de enxofre.

MAGNÉSIO

Da mesma forma que o teto protege o homem das inclemências dotempo, o magnésio lhe proporciona proteção contra as influências desfa-

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voráveis do clima, contra contágios, etc. Para manter os pulmões livresda bronquite, da asma e de outras doenças, e para conservar fresca esadia a pele, é necessário comer alimentos ricos em magnésio e tomarchás de plantas que tenham essa valiosa substância. O magnésio tam-bém protege e conserva em bom estado os ossos, os dentes, os cabelos,etc.

MANGANÊS

Está perfeitamente comprovado que o Manganês, junto com o ferro,produz sobre o sangue efeitos favoráveis para a saúde e o bem-estargeral do organismo.

FÓSFOROA insônia, as dores de cabeça e os esgotamentos são causados pela

falta de fósforo. O cérebro e os nervos continuamente necessitam receberfósforo para seu bom funcionamento.

IODONão estamos falando aqui da tintura de iodo vendido nas farmácias e

que tem um efeito nocivo, mas do iodo natural das plantas que tem umavaliosa tarefa no corpo humano. O iodo é muito importante para asglândulas de secreção interna que não trabalha bem. Além disso, evita orápido envelhecimento dos tecidos e constitui um poderoso auxiliar paraque as mulheres passem a idade critica (menopausa) sem maioresperturbações.

COMO RECOLHER, PREPARAR E APLICAR AS ERVAS CURATIVAS

Para não diminuir o valor curativo das plantas medicinais, só se deverecolhê-las quando a parte superior delas não está úmida. Além disso, énecessário considerar que as ervas curativas silvestres têm um efeitocurativo muito maior que aquelas que se cultivam no jardim ou na horta.

Logicamente, devem recolher-se unicamente as ervas que não sãovenenosas; por isso, deve ter-se muito cuidado para não recolher algumaerva prejudicial. As ervas se devem secar a sombra, pois está comprovadoque os fortes raios solares tiram das plantas uma parte das substâncias,

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que se evaporam ao serem expostas ao sol durante algum tempo, quantoàs raízes, deve-se lavá-las bem, antes de secá-las, parti-las e cortá-lasem pedacinhos. Desta maneira secam-se mais depressa.

Uma vez que as ervas estão bem secas, devem ser examinadasnovamente antes de guardá-las, e separam-se as que não servem. Depois,guardam-se os galhos, flores e raízes numa caixa ou num lugar seco. Devez em quando é bom verificar se não estão úmidos, pois então serianecessário seca-las outra vez.

Nunca se deve esquecer de anotar o nome das ervas sobre as caixasou qualquer outro lugar onde elas estejam guardadas, para que possamossaber seu conteúdo a qualquer momento. Desejo ressaltar que as ervas eraízes que cheira a mofo, não servem para fins curativos.

Se alguém não tem possibilidade de recolher as plantas medicinais,pode adquiri-las nos herbanários (casas de ervas).

As maneiras mais conhecidas para preparar e aplicar as ervascurativas são:

1. SALADAS;2. SUCOS;3. BANHO;4. PÓS;5. CATAPLASMAS E COMPRESSAS;6. GARGAREJOS;7. INALAÇÕES;8. LAVAGENS (ENAMAS OU CLISTERES);9. EXTRATOS;10. XAROPES;11. ÓLEOS;12. UNGUENTOS;13. CHÁS: Que podem ser preparados das seguintes maneiras:

a) Infusão;b) Tisana;c) Cozimento;d) Maceração

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ECOTURISMO E O DIREITO AMBIENTAL: UM OLHAR DEARTICULAÇÃO MUNICIPAL

Roberto da Costa e Silva Mendonça

Administrador de Empresas, Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.Professor no Curso de Engenharia Ambiental – FTC Itabuna.

INTRODUÇÃO

O processo de desenvolvimento mundial sempre foi baseado em ummodelo voltado essencialmente para a questão econômica (lucro) com ouso intensivo de energia, alto padrão de consumo, e aproveitamento tem-poral de recursos naturais na crença de que esses recursos seriam infini-tos. Porém, esse processo histórico baseado na exaustão dos recursosnaturais pelo homem, está nos limites determinados pela sobrevivênciada espécie humana.

Esse processo tem comprovado que o uso inadequado dos recursosnaturais tem levado à destruição de habitats, extinção de espécies,desequilíbrio de ciclos vitais, poluição de recursos hídricos, exclusão deseres humanos ao processo de consumo, exaurindo de forma compro-metedora os recursos naturais do planeta, independentemente declassificá-los como renováveis ou não, por uma razão muito simples: eleseram renováveis, mas não infinitos. Essa constatação conduz à mudançado paradigma homem-natureza deixando de ser manipulativa para ser deintegridade.

No período da ‘Revolução Verde’, expressão máxima do princípioutilitarista, a natureza sempre foi relegada a um segundo plano, e diversas

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regiões no Brasil, sobreviveram apenas com sua economia baseada emum único cultivo e suas mazelas decorrentes da dependência cíclica des-se modelo.

O desenvolvimento regional do Sul da Bahia teve o seu apogeu com aimplantação da cultura do cacau. Era tal a sua força econômica que che-gou a financiar, em determinado período, o desenvolvimento do Estado daBahia. Hoje, convive-se com um fator que ocorre sempre após um perío-do de abundância: o processo de desaceleração. Tal reversão ocorre emperíodos cíclicos, desde o mercantilismo. Os períodos de abundância nãose perpetuam; os períodos de crise não são eternos.

Porém, a reversão das tendências em curso na região, sugere umaintervenção global e profunda, que implica em mudanças no atual estilo dedesenvolvimento. Não apenas nos aspectos conjunturais, mas, também,na mobilização e viabilização do potencial da Região.

O ecoturismo, por usar os recursos naturais de forma que causemmínimos impactos, é tido como uma das atividades econômicas que me-lhor se adaptam ao nosso contexto regional. Mas onde está sendo implan-tado? de que forma ele está sendo implantado? Quais os atores sociaisenvolvidos? Quais as responsabilidades dos atores sociais. É dentro des-te panorama que discutimos, neste artigo, o Ecoturismo e o DireitoAmbiental: um olhar de articulação municipal.

O CONTEXTO REGIONAL

Muito se tem falado e escrito sobre a crise da Região Sul da Bahia1 -uma região que sofreu pelo seu modelo de monocultora, ficando vulnerá-vel aos baixos preços internacionais do cacau, fragilizada pela ocorrênciade Crinipellis perniciosa (Vassoura-de-Bruxa)2 , e pela conseqüentedescapitalização dos seus meios produtivos.

O problema dessa crise é regional e as suas soluções, necessariamente,terão que ser regionais, buscando a complementaridade através dacooperação e não da competição de atividades outras. Torna-se

1Segundo CAR – Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (1995, p.21), formado por 74municípios, tendo como limite norte o município de Valença e no limite sul o município de Mucuri.

2Doença que ataca os frutos, almofadas florais e gemas terminais do cacaueiro gerando grandesprejuízos.

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imperativa a busca de atividades econômicas que, dentro de alto padrãode sustentabilidade, promovam a satisfação das necessidades e dasaspirações da espécie humana. Qualidade de vida é a palavra chave.

Quando se fala em mudanças de paradigmas e de sustentabilidade,Delgado (1997, p.8) entende, que “o futuro de cada região [grifo nosso]é produto do entusiasmo, da perseverança e do planejamento, aliado auma alta dose de consciência política e social”. E questiona de formaincisiva (...) “que tipo de região [grifo nosso] se deseja construir? Queoportunidades desejam-se oferecer para nossos descendentes e, quevalores e princípios terão que ser resguardados do insaciável progressoeconômico?”.

Estes questionamentos levam ao eterno dilema: como efetivarcrescimento econômico com a proteção do meio ambiente. Esse dilemaincide de forma contundente em diversos empreendimentos realizadosou em realização e sempre gerando conflitos sociais. Daí ser necessárioe imperativo efetuar avaliações completas sobre os impactos ambientais de tais ações.

Entende-se, porém ser necessário, antes de definir o que é impactoambiental, assinalar os componentes que sofrem esse impacto no meioambiente. O meio ambiente natural e o meio ambiente social.

O meio ambiente natural é a inter-relação dos sistemas: atmosfera,hidrosfera, litosfera e biosfera. Já o meio ambiente social é formadopelo conjunto de infra-estruturas materiais constituído pelo homem e ossistemas sociais que este criou. Assim, pode-se entender o meio ambientesocial, como a forma que as sociedades se organizam para satisfazer suasnecessidades.

Definindo-se então impacto ambiental, tem-se a compreensão deBolea apud Schlittler (1998, p. 2), de que “existe um impacto ambientalquando uma ação ou atividade produz uma alteração no meio ou emalgum de seus componentes”.

Os critérios básicos e as diretrizes gerais para o Estudo de ImpactosAmbientais - EIA e o Relatório de Impacto Ambiental - RIMA são definidospela resolução no 001/86 do Conselho Nacional de Meio Ambiente –CONAMA.

Para Schlittler (1998, p. 3), “os estudos de impacto ambiental devemavaliar as conseqüências de uma ação, com o intuito de prevenir aqualidade do ambiente que haverá no meio após a execução desta açãoou projeto”. Apresentando ainda os fatores objeto de análise ambiental.

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Os principais fatores ambientais que devem integrar a análise ambientalde uma determinada área, ou ainda, que devem obrigatoriamente serconsiderados na avaliação de um possível impacto ambiental, são osseguintes: poluição atmosférica e da água, uso e degradação dos solos,substâncias radioativas, ruído, alterações da biocenose (flora e fauna), usodo território e dos recursos naturais, mudanças no uso do território,expropriação do terreno e especulações imobiliárias, doenças, variação dapopulação, taxas de emprego, incrementos econômicos (comércio, serviços,etc.), locais histórico-culturais que possam ser afetados, moradia, infra-estrutura viária e sanitária, serviços comunitários e equipamentos urbanos.

Esses fatores são particularmente importantes quando a ativi-dade turística é implantada em uma determinada área.

No mundo globalizado, as pessoas tendem cada vez mais, a terum ritmo de vida muito acelerado o que pode levá-las, rapidamenteao stress, o que as tendem buscar alternativas diversas, que pos-sam identificar como estado de felicidade. Essa busca pode ter osmais diferentes motivos dentre eles: “desejo ou necessidade deevasão, espírito de aventura, aquisição de status, necessidade detranqüilidade, desejo ou necessidade cultural, desejo ou necessi-dade de compra”, segundo Andrade apud Santos & Nunes (2001, p. 64).

Para satisfazer esses motivos, o homem se sujeita a percorrerlongas distâncias e enfrentar certas dif iculdades para poderdesfrutar da natureza, de alguma obra de arte ou arquiteturahistórica, para rememorar e conviver com costumes socioculturaisde determinada região. Nesse momento, surge a atividade turística quese apropria dessas motivações, tornando-as bens comercializáveis(intangíveis).

As regiões consideradas ru-urbanas detêm enormes vantagenscomparativas em relação às regiões estritamente urbanas, quando asmesmas conservam seu potencial paisagístico e patrimonial, além de todoum espectro cultural de fazeres e saberes que singularizam seu modusvivendi, aí inserida a gastronomia regional e a produção caseira. Para oturista o que não está no seu dia a dia torna-se inusitado e atraente. Poroutro lado, é imensamente conveniente que os tomadores por empréstimo,de todo esse arcabouço natural e cultural desenvolvam atitudes deconservação dos mesmos para que as futuras gerações, também, opossam desfrutar.

Prega-se a atividade turística como uma das alternativas econômicasque possa florescer na Região Sul da Bahia.

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O produto turístico é composto de um conjunto de bens e serviçosunidos por relações de interação e interdependência que o tornamextremamente complexo. Suas singularidades o distinguem dos bensindustrializados e do comércio, como também dos demais tipos de serviços.Uma de suas características mais marcantes, é que se trata de um produtoimaterial – intangível – cujo resíduo, após o uso é uma experiência vivencial.A heterogeneidade da demanda, outra de suas características, faz com queas expectativas, com relação aos serviços a prestar, sejam altamentediversificadas, tornando a sua apreciação sujeita às mais diversasinterpretações. Por se tratar de um bem de consumo abstrato, não pode, aocontrário dos bens tangíveis, ser avaliado de acordo com seu tamanho,peso, formato ou cor. É representado aos consumidores potenciais por meiode descrições e fotos, e o que induz a sua compra são as promessas desatisfação. A maneira pela qual o produto é apresentado ou a sua promessaé retratada nas ações publicitárias e promocionais, é fundamental para adecisão de compra do turista.

O que é atraente no ecoturismo é que o interesse econômico está alia-do à proteção ambiental: se os recursos naturais forem destruídos, osecoturistas desaparecerão. A conservação ambiental é a essência da ati-vidade. Allievi (s.d., p.7), esclarece que “atividades ecoturísticas não serestringem às costumeiras caminhadas em meio à floresta” e identificaalgumas práticas de uso do ecoturismo:

Trekking (de viajar) – caminhada longa, com pernoite, onde o clienteleva na mochila parte dos equipamentos; Hikking (de passear) – caminhadacurta, normalmente de um só dia, sem pernoite na trilha; Rafting (viajar dejangada/bote inflável) – descida de rios encachoeirados, a bordo de botes;Cannyoning (descer cannyons) – descida de cachoeiras e penhascos, comauxílio de cordas (rappel); Canoeing (de canoa) – navegar por rios ou lagosem canoas a remo; Mountain-Bikking (de bicicleta) – fazer trilhas em bicicletasespeciais; Turismo Eqüestre ou Troperismo – andar a cavalo, à moda dastropas de mulas; Turismo Rural – vivência no ambiente rural, entre fazendas,gado, e tradições regionais; Turismo Esotérico – atividade ao ar livre,relacionado, ao místico, espiritual ou sobrenatural (ovnis); Alpinismo/Montanhismo – prática de escaladas em rocha ou gelo, sem competição;Espeleologia – exploração de cavernas e/ou estudo dos ambientessubterrâneos; Astronomia – observação do céu noturno com ajuda deinstrumentos; Observação de Pássaros / Observação de Orquídeas, deFauna.

Aqui, entende-se e concorda-se com a definição de atividadeturística que Ruschmann (1995, p.3), apresenta:

O mesmo Allievi1 faz ainda a seguinte observação “Não foram incluídasnesta relação, as atividades feitas com ajuda de motores (moto-náutica,

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1 Ibidem2 No escopo deste trabalho adota-se a conceituação da EMBRATUR – Empresa Brasileira de

Turismo / IBAMA – Instituto Brasileiro dos Recursos Naturais e Meio Ambiente.

Um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, opatrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formaçãode uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente,promovendo o bem-estar das populações envolvidas.

Entende-se que a matéria-prima para a formatação e implementaçãode atividades ecoturísticas em nossa região encontra-se localizada naunidade administrativa dos municípios e como tal a sua gestão passanecessariamente pela implantação e estruturação de uma SecretáriaMunicipal de Meio Ambiente.

motocicleta, veículos off-road etc) por entendê-las, às vezes incompatíveisentre si – por exemplo: observação de pássaros e jet-ski”.

A identificação desses tipos é importante para as diversas regiões umavez, que cada uma delas tem o seu perfil delineado, em função de suasaptidões, podendo até fazer-se um mix delas. Muitas são as regiões compotencial para essa atividade e que tem procurado adotar o turismo, e emalguns lugares, o ecoturismo como atividade econômica alternativa.

Por ser uma atividade recente no Brasil o ecoturismo provocava, atérecentemente, danos potenciais ao meio ambiente e às comunidadesdevido à inexistência de ordenamento uma vez que era impulsionado pelaoportunidade mercadológica, deixando de gerar os benefícios sócio-econômicos e ambientais esperados.

Essa situação foi analisada pela Associação de Silves para PreservaçãoAmbiental e Cultural - ASPAC (1999, p.1), a qual alerta que devido à faltade adoção dos princípios de ecoturismo, a maioria dos empreendimentosnessa área limita-se à exploração do “turismo na natureza”, e para que oecoturismo avance no sentido de se tornar instrumento de conservação ede desenvolvimento sustentável da natureza, é necessária e fundamentala participação da comunidade local na atividade e principalmente no seuplanejamento.

O primeiro passo para a profissionalização da atividade no país deve-se a EMBRATUR/IBAMA (1994 p.19)2 que editou as “Diretrizes para umapolítica nacional de ecoturismo” que conceituam “ecoturismo” da seguinteforma:

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UM OLHAR DE ARTICULAÇÃO MUNICIPAL

Ao longo dos tempos a questão ambiental tem sido tratada, tanto pelosgovernos quanto pela sociedade, de forma genérica e até mesmosuperficial.

No contexto dos Municípios tem-se observado que há acúmulo deatividades que precisam ser cumpridas sem mais perda de tempo, sob orisco de gerar irreversivelmente o caos ambiental.

O artigo 225 da Constituição de 1988 diz: “Todos têm direito ao meioambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo eessencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e àcoletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futurasgerações”.

Com esse fato fica evidente que a Constituição Federal fortaleceu opapel federativo dos municípios e especificamente reforça o papel do poderlocal nas responsabilidades sobre as questões ambientais.

Nessas questões últimas, cabe ao município não só legislar em maté-ria de interesse local, mas também suplementar a legislação estadual efederal quando a matéria tiver características locais. Por outro lado essemesmo artigo constitucional estabelece que a responsabilidade pela pro-teção e preservação diz respeito aos vários setores que norteiam e exe-cutam as políticas públicas de cada município.

Segundo Salles apud Philippi Jr. et al, 2004, a base institucional para aconsecução da Política Nacional de Meio Ambiente foi estabelecida pelaLei Federal No 6.938/81, dispondo que a União, os Estados, o Distrito Fe-deral e os Municípios são responsáveis pela proteção e melhoria da quali-dade de ambiental e constituem o Sistema Nacional de Meio Ambiente –SISNAMA.

O SISNAMA é estruturado da seguinte forma: a) Órgão Superior – oConselho de Governo; b) Órgão Consultivo e Deliberativo – o ConselhoNacional de Meio Ambiente – CONAMA; c) Órgão Central – o Ministério deMeio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal; d) ÓrgãoExecutor – o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos RecursosRenováveis – IBAMA; e) Órgãos Setoriais – órgãos ou entidades daadministração direta ou indireta; f) Órgãos Seccionais – órgãos ou entidadesestaduais comprometidas com execução de programas e projetos e pelocontrole e fiscalização de atividades que provoquem degradação ambiental;

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g) Órgãos Locais – órgãos ou entidades municipais responsáveis pelocontrole e fiscalização de atividades que provoquem degradação ambiental.

Embora esta estrutura também seja aplicada, guardando as devidasproporções, nos Estados e nos Municípios através de estruturas própriase adequadas para a resolução dos conflitos que ocorram, os municípios,principalmente, tem revelado uma condição de fragilidade pela reduzidacapacidade de articulação interna e a falta de visão ampla da questão parao estabelecimento de estratégias de planejamento a curto, médio e longosprazos.

Para a implementação da Lei em nível municipal devem serdesenvolvidos e utilizados os instrumentos propostos para o cumprimentode sua missão constitucional, a saber: a) padrões de qualidade ambiental;b) zoneamento ambiental; c) avaliação de impactos ambientais; d)licenciamento e revisão de atividades poluidoras; e) criação de reservas eestações ecológicas, áreas de proteção ambiental e de interesse ecológico,entre outros.

O quadro abaixo sintetiza quais os instrumentos de gestão ambientalque os municípios tem ao seu dispor:

•6.938/81 (Sisnama)• Art. 225 (CF/88)• 9.605/98 (Crimes)• 9.795/99 (EA)• 10.257/01(Estatuto)• Lei Orgânica• Plano Diretor• Diretrizes Orçamentárias

• Fundo Municipalde Meio Ambiente• Incentivos Tributários (IPTU)• Consórcio Municipal

• EIA/RIMA• Ações MP• Conselho Municipal• Comi tês de Bac iasHidrográficas• Sociedade Civil

• EducaçãoAmbiental• Agenda 21• ConselhoMunicipal

Normativos Comando e Controle Gestão Participativa Capacitação eEstruturação

Legais Econômicos Controle Social InstitucionaisINSTRUMENTOS DE GESTÃO AMBIENTAL

Fonte: Philippi Jr. et al, 2004 (adaptado)

O censo do IBGE em 2005 indica que as gestões municipais no Brasil:a) 66% não dispõem de Conselhos Municipais; b) 82% não tem Fontes deRecursos Financeiros Específicos; c) 58% não tem Legislação AmbientalEspecífica e, d) que somente 8,1% dos municípios tem os três instrumen-tos simultaneamente.

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E DAÍ TUDO ISSO?

A política Nacional de Meio Ambiente exige que haja licenciamento pré-vio para toda e qualquer atividade utilizadora de recursos ambientais que,efetiva ou potencialmente, cause degradação ambiental.

Como parte imprescindível do planejamento ecoturístico, deve-se atentarpara a avaliação do impacto que a atividade venha causar ao meio sócio-ambiental.

Para verificar a necessidade de licenciamento ambiental para o empre-endimento o planejador deve dirigir-se: a) ao IBAMA para licenciamentofederal, b) ao CRA para licenciamento estadual e, c) ao Órgão Municipalde Meio Ambiente para licenciamento em nível local.

As perguntas que ficam são: 1) o estamos fazendo que precisamosparar de fazer? e, 2) o que não estamos fazendo que precisamos fazer?

Então o grande desafio dos municípios passa a ser: a) implantar o Sis-tema Municipal de Meio Ambiente – SISMUMA (figura 01) e, b) fazer osConselhos Municipais de Meio Ambiente funcionarem.

Desenvolvimento

Sustentável

Qualidade Ambiental

Qualidade de Vida

Sistema Municipal de Meio

Ambiente

SISMUMA

Estrutura

Administrativa

Conselho Municipal deMeio Ambiente –

Gestão Participativa

Instrumentos:

Fundo Municipal de Meio

Ambiente, Código Ambiental

E Outros

Figura 01: Sistema Municipal de Meio Ambiente – SISMUMA.Fonte: Salles, 2000.

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Para Salles apud Philippi Jr. et al, 2004, o Conselho Municipal de MeioAmbiente é um Instrumento com poder Deliberativo e Participação deRepresentantes de Órgãos Públicos e de vários Setores da SociedadeCivil Organizada, com incumbência de propor políticas públicas, diretrizese normas, acompanhar sua execução pelos diversos órgãos do municí-pio, e ainda manifestar-se sobre o Plano Diretor da Cidade. Este é o cami-nho da participação das comunidades no planejamento e controle socialdas questões ambientais.

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ADMINISTRAÇÃO RURAL E OS TESTES DECOMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA

Almir Martins dos Santos

O objetivo principal da administração rural é orientar o fazendeiro adecidir racionalmente. O que a administração rural pretende é ajudar oprodutor a administrar a sua fazenda de forma a obter maior lucro possível.Para atingir este objetivo, os estudiosos da administração têmrecomendado aos empresários (agricultores) a execução das funçõesadministrativas de planejamento, organização, direção e controle, em cadaum dos setores básicos da empresa rural (fazenda) que são: produção,pessoal, finanças e mercado. Isto quer dizer que para obter sucesso emseu negócio, os fazendeiros devem, criteriosamente, planejar, organizar,dirigir e controlar a produção, como se ele fosse o diretor de produção dasua empresa. Em outro momento ele deverá, também, planejar, organizar,dirigir e controlar suas finanças, como se ele fosse o diretor financeirodesta mesma fazenda (empresa). Este mesmo critério ele deverá utilizar,para os setores de pessoal e mercado.

Este cruzamento das funções com os setores constitui, de uma formasimplificada, a recomendação básica para se administrar com sucessouma empresa rural, entretanto como o fazendeiro pode se certificar quesua administração está dando certa? A resposta a esta pergunta pode serencontrada nos “indicadores de boa administração”, que também podemser chamados de “testes de competência administrativa”. O objetivodeste artigo é apresentar e comentar estes testes de competênciaadministrativa.

Ceplac/Cepec/Sesoe

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Este é o primeiro teste de competência administrativa que o fazendei-ro ou outros administradores rurais precisam se submeter: o fazendeirocompetente obtém boa produtividade e fazendeiro que produz com baixaprodutividade não está administrando bem.

O que é produtividade e como obtê-la?

Na pecuária a produtividade é entendida como a produção por área oupor animal. Exemplo Fazenda “Y” está obtendo 10 litros de leite por vaca,ou a Fazenda “Y” está criando 2 vacas por hectare.

Observem que existe uma diferença entre Produção Total e produtivi-dade. Por exemplo: o fazendeiro A tem 100 hectares de cacau e produz 4.000arrobas. Esse fazendeiro tem uma produtividade de 40 arrobas por hectare.

O fazendeiro “B” tem 10 hectares e produz 1000 arrobas. Ele tem umaprodutividade de 100 arrobas por hectare. Observe que o fazendeiro “A”tem uma produção total maior que o “B”. 4000 arrobas do “A” contra 1000do “B”, entretanto cada hectare do fazendeiro “B” produz 100 arrobas, umhectare do “A”, só obtém 40 arrobas. A produtividade do fazendeiro B ébem maior.

LUCRO DEPENDE DA PRODUTIVIDADE DA PRODUÇÃO

O que o fazendeiro precisa fazer para elevar a produtividade?

Abaixo estão citados alguns fatores que influenciam a produtividade:

� Clima – o tempo é chuvoso ou estiado� Solos – o terreno é bom ou ruim� Planta – plantação é forte ou fraca� Tecnologia – a técnica (trato) que é usada na fazenda� Administração – ou seja, de quem comanda a fazenda.

Produtividade – na agricultura, produtividade é a produção por área oupor planta. Exemplo de produtividade: A Fazenda “A” obtém 100 arrobaspor hectare ou a Fazenda “A” obtém 100 por 1000, ou seja, 100 arrobaspor cada 1000 pés de cacau.

1. PRODUTIVIDADE:

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Para se obter uma boa produtividade, o fazendeiro precisa dominarbem esses fatores. Sabe-se que, quando o clima é adverso, a produtivida-de reduz. Entretanto o clima não reduz a produtividade das fazendas indi-vidualmente. Quando ele é desfavorável, interfere na produtividade de todauma região ou zona de produção.

Assim o clima não explica porque um fazendeiro obtém 100 arrobas/hectare e outro só obtém 40 arrobas/hectare, numa mesma região.

Os outros fatores são possíveis de se controlar: o maior ou menor con-trole vai depender do administrador (fazendeiro). Existem inúmeros exemplosde fazendeiros que, mesmo em solos de baixa fertilidade, possuem uma pro-dutividade maior que outros em solos férteis. Conhecemos também casos defazendeiros que tinham plantações velhas e decadentes e fizeram renovaçãoou clonagem dos seus cacauais e hoje têm uma produtividade excelente. Issoprova como a boa administração é decisiva na obtenção da produtividade.

É preciso lembrar que uma condição para se alcançar lucro alto é seobter uma boa produtividade. È por isso que se afirma que o primeiro testede competência de um fazendeiro é o teste da produtividade.

Normalmente as fazendas, principalmente as de cacau, são divididasem roças ou quadras. Infelizmente a maioria dos fazendeiros não sabeexatamente a área ocupada com os cultivos, nem a área das roças ouquadras. Ele tem uma estimativa (cálculo) da área e do númerode pés, mas não sabe precisamente. Si se desejar perseguir uma altaprodutividade, o primeiro passo é medir a área plantada e contar o númerode plantas existentes e depois anotar a produção obtida por cada roça.Assim ficar-se-á sabendo qual a roça mais ou menos produtiva. É comumnuma mesma fazenda se ter roças ou quadras com 30 arrobas/hectare eoutras com 100 arrobas/hectare. Se o fazendeiro não estabelece umcontrole de produção por roça e não identifica as que necessitam de maisatenção, não percebe essa diferença. A medição pode ser feita com corda.

Este é o segundo teste de competência do administrador rural,produzir a custo baixo.

Para o fazendeiro obter lucro com a sua fazenda, ele precisaobter uma produtividade alta e um custo baixo.

Normalmente os custos são classificados como fixos e variáveis ou

2. CUSTO PRODUÇÃO:

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custos diretos e indiretos. Neste artigo, não se pretende analisar os custossob esta concepção, para não tornar a análise excessivamenteacadêmica.

Para simplificar o assunto, podemos dizer que custo de produçãosignifica as despesas ou gastos que o fazendeiro faz para obter aprodução. Dessa definição, podemos tirar logo duas lições:

Se o fazendeiro comprar algum material, adubo, por exemplo, e não usar,essa despesa não entra no cálculo do custo de produção, pois ela nãocontribui para produzir.

A produção é uma face da moeda, e o custo é a outra. Para seproduzir, tem que se ter custo e se tem custo para produzir. Asduas coisas (custo e produção) são inseparáveis. Contudo deveser perseguir a produtividade, com o menor custo possível.

O custo é proveniente, basicamente, de 3 itens:a) Materialb) Mão-de-obrac) Transporte

Algumas práticas não usam materiais. Um exemplo é a roçagem ma-nual. Outras gastam mais com a mão-de-obra, é o caso da aplicação defungicida. Noutras práticas o gasto maior é com material. Adubação é umexemplo. Se o custo está alto e o produtor pretende reduzi-lo, deve buscaresta redução analisando, estes três itens (material mão-de-obra e trans-porte).

Para se saber se o custo está alto ou baixo, o produtor precisa anotarquanto está gastando e depois comparar com o custo padrão estimadopela CEPLAC.

As causas mais comuns dos custos altos são os gastos excessivosde material e rendimento baixo da mão-de-obra (operários utilizam maistempo do que deveriam utilizar para realizar a prática).

O Centro de Extensão da CEPLAC (CENEX) constatou recentementeque algumas fazendas estão gastando 10 vezes mais fungicidas do que onecessário, por falta de regulagem na vazão dos motores (saída de líqui-do) e os fazendeiros não estavam percebendo esse problema (falta decontrole sobre as técnicas de produção). Constatou-se também que, nes-sa mesma prática, em algumas fazendas, os operários estavam gastan-do mais tempo do que o previsto. A prática já é cara e o descontrole a torna

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ainda mais cara (falta de controle sobre rendimento da mão de obra).Outra constatação do CENEX é que, em algumas fazendas, osoperários se deslocam 6 km (uma légua) até chegarem ao local detrabalho. Os fazendeiros estão pagando para os operários anda-rem. Isto pode ser resolvido com a localização melhor das casas.Outra constatação do CENEX é que a localização do secador, cochoe armazém provoca elevação de custo por obrigar os operários afazerem movimentos desnecessários. O armazém distante do se-cador ou barcaça. Cocho está em baixo da barcaça. Operárioscoloca cacau mole no cocho, dias depois retira do cocho, sobeuma escada e o coloca na barcaça. Depois ensaca em cima dabarcaça, desce a escada e anda alguns metros até o armazém.Uma mudança na posição do cocho e armazém (colocar calha)reduziria muitos movimentos desnecessários e conseqüentemen-te, os custos.

Poucos fazendeiros sabem quantos dias são gastos paraadubar um hectare, para aplicar fungicida e inseticida, alguns nemsabem em quantos dias se roça uma tarefa. Isto demonstra quenão existe preocupação com o custo e nem se está seguindo arecomendação de cruzar as funções com os setores.

A seguir, enumeramos alguns passos que os fazendeiros in-teressados em reduzir custos devem seguir:

1. Calcular quanto custará à realização da prática que elepretende fazer. A Ceplac tem esse cálculo e pode forneceraos interessados.

2. Dividir o custo da prática pelo preço do produto para saberque quantidade do produto será consumida na realizaçãoda prát ica. Por exemplo, a adubação de 1 ha decacaueiros custa R$ 450, 00, e uma arroba de cacau R$50,00 (cinqüenta reais), ou seja, são necessárias 09arrobas de cacau para se adubar um hectare. Se for feitoeste cálculo para todos hectares encontram-se quantasarrobas serão gastas com tratos que se pretende fazerem um hectare.

3. Compara-se o custo previsto transformado em arrobas,com a produção esperada no hectare e posteriormenteverifica-se se compensa ou não adotar todas as práticas.

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PARA SE SABER SE O CUSTO ESTÁ ALTO, É PRECISO ANOTÁ-LO. SE O PRODUTOR ANOTAR A PRODUÇÃO E OS CUSTOS PORROÇA, ELE FICA SABENDO QUAL A ROÇA DA SUA FAZENDA QUE DÁLUCRO E QUAL A QUE ESTÁ DANDO PREJUÍZO. FAZENDEIROCOMPETENTE PRODUZ COM BAIXO CUSTO.

4. Anotam-se os gastos realmente feitos e se compara como previsto.

5. Se est iver al to, veri f icar onde está o problema. Oagrônomo local poderá ajudá-lo a encontrar e resolver oproblema. O cálculo do custo real obtido deve ser feitoassim que terminar o serviço na primeira roça, a fim dese ter oportunidade de corrigi-lo nas próximas roças.

3. INVESTIMENTOS

Muitos fazendeiros têm uma boa produtividade e um custo bai-xo, contudo estão endividados. Como se explica isso? Alta produti-vidade, baixo custo e dívida, ao invés de lucro, isto é possível? Sim,se os fazendeiros não racionalizarem seus investimentos, o resul-tado da sua administração será o fracasso.

Anteriormente definiu-se o custo de produção como as despe-sas que o fazendeiro realiza para obter a produção. Entretanto, nãoficou esclarecido que existem umas despesas que tem efeito dire-to na produção e outras têm um efeito indireto. Os tratos culturaissão exemplos de efeito direto. O adubo, por exemplo, ao ser apli-cado, se incorpora a terra, muda de forma e começa a colaborardiretamente para aumentar a produção. Existem, contudo, outrasdespesas que agem indiretamente sobre a produção, ou seja, co-laboram para aumentar a produção e não mudam de forma. Essasdespesas são chamadas de investimentos.

Custeio – são despesas feitas com produtos que colaboramdiretamente para aumentar a produção e mudam de forma quandousados.

Todos os tratos culturais são exemplos de custeio. Investimentos – são as despesas com bens que não mudam de forma

e servem ao processo produtivo por mais de uma safra. Exemplo: casas

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4. RETIRADA

É preciso ainda lembrar que, para o fazendeiro não se endividar,além de controle sobre a produtividade, custo e investimento, eleprecisa controlar as suas retiradas, ou seja, dinheiro que ele precisapara atender as suas necessidades e de família. A retirada éentendida como um salário que o fazendeiro cobra de sua fazendapara administrá-la. Se essa retirada é alta, significa que ele estácobrando um “salário” que a fazenda não pode pagar. Nesse caso,embora se tenha boa produtividade, custo baixo, investimentoracionalizado, o fazendeiro pode se endividar e até “se quebrar”,ou seja, ser obrigado a vender sua fazenda.

É preciso entender que o fazendeiro e sua fazenda (empresa),na maioria dos casos, se complementam: a fazenda requer“recursos” para produzir e o fazendeiro a oferece este recurso. Poroutro lado o fazendeiro requer “renda” para sobreviver, que é retiradada fazenda. Esta é uma interelação essencial e se ela não for bemequacionada, o fazendeiro, é reprovado neste teste de competência.

5. LUCRO

O tes te mais dec is ivo pe lo qua l tem que passar umadministrador rural, é o do lucro. É preciso criar lucro suficientepara cobrir todos os custos de sua atividade e ter clientes para oseu produto (mercado). Em uma atividade econômica viável, sealguém estiver produzindo com prejuízo, foi reprovado no principalteste de competência administrativa..

Através da figura 1, pode-se visualizar uma síntese dos principais

A decisão de investimento é normalmente mais cara que a decusteio. Uma decisão errada de investimento, além de dificuldadede corrigir, provoca um processo de corrosão financeira durantelongo tempo. Por exemplo: um fazendeiro que só podia clonar 05(cinco) hectares de cacau e clonou 20 hectares, enfrentará sériosproblemas financeiros até corrigir essa decisão.

de operários, máquinas, instalações de beneficiamento, cerca,estradas, animais de serviços, plantio de cacau, clonagem decacaueiros, etc.

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indicadores de uma boa administração (produtividade, preço,custeio, investimentos e retirada). Em uma administração racional,não se pode permitir que a soma das despesas com custeio,investimento e retirada ultrapasse a receita bruta, (produção vezeso preço).

RECEITA = PRODUÇÃO X PREÇO

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$$$CUSTEIO INVESTIMENTO RETIRADA

Fig. 1 Síntese dos testes de competência

Elaboração: O autor

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MANEJO DO REBANHO BUBALINO PARA PRODUÇÃO DE LEITE

Sérgio A. de A. Fernandes

Zootecnista. Prof. D. Sc. UESB, Itapetinga. E-mail: [email protected]

INTRODUÇÃO

A bubalinocultura ocupa, em regiões como a Ásia, importante papelcomo produtor de alimento de alto valor biológico para o homem. Na Europa,especialmente na Itália, destaca-se como importante atividade econômica.No Brasil, a bubalinocultura tem apresentado grande crescimento emfunção, principalmente do desempenho apresentado pela espécie nossistemas de produção, além da crescente demanda dos produtos lácteos.Este fato tem sido observado também na Bahia. Contudo, o manejo, emespecial o nutricional ofertado aos rebanhos bubalinos necessita de ajustes,visto que esta espécie necessita ser melhor nutrida para que possademonstrar seu potencial de produção. Igualmente necessária é a melhorano manejo de ordenha, visto que o grande paradigma atual no setor leiteirobrasileiro relaciona-se à obtenção de leite de qualidade, assim como, suamanutenção, sendo a discussão central neste texto.

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A nutrição animal tem sido bastante observada ultimamente, em fun-ção da necessidade de se melhor nutrir os animais para a obtenção demelhores rendimentos econômicos na atividade pecuária.

Os búfalos são mais eficientes que os bovinos na utilização de forra-gens de baixa qualidade, fato evidenciado pela melhor conversão alimen-tar (CA), principalmente em dietas fibrosas. Diversos autores afirmam haverindicações de que os bubalinos estariam mais ajustados por mecanis-mos anátomo-fisiológicos, ao aproveitamento e utilização das gramíneasforrageiras tropicais, nos dois aspectos de baixa digestibilidade de nutri-entes e reduzido teor de proteína bruta (Franzolin, 1994; Vale, 1994). Con-tudo, não há uma única razão para esta maior eficiência e sim uma com-binação de fatores, entre os quais estão: maior ingestão de matéria seca;maior retenção do alimento no trato digestivo; características ruminais maisfavoráveis para a utilização do nitrogênio; menor depressão na digestãoda celulose pelos carboidratos solúveis; superior habilidade para convivercom o estresse ambiental e amplo limite de preferência de pastejo.

Por sua vez, a produção de leite está associada à nutrição animal. Emregiões tropicais, o nível médio de produção de leite observado é baixo.Este fato se deve a fatores como: material genético não adaptado ao meioambiente, animais não selecionados, melhoramento animal, inadequadomanejo de pastagens, além de inadequação das políticas públicas para osetor, observado há décadas.

A composição do leite varia em função da dieta, espécie animal, raça,estágio de lactação e momento da ordenha (Durr et al, 2001). Os teoresmédios para os principais componentes do leite de búfalas obtidos emvárias pesquisas podem ser observados na Tabela 1. Como se pode ob-servar, em bubalinos, o teor de gordura no leite se mantém sempre acimade 5,5% (Tabela 1), sendo esta uma característica particular da espécie,independente das condições experimentais.

Para o teor de proteína do leite, ocorre à mesma tendência de variaçãoao longo da lactação, com os teores variando entre 3,6 e 4,9%, acima doobservado para bovino (3,4%). Apesar da maior possibilidade de alteraçãono teor de gordura do leite através da dieta, o teor protéico também podesofrer alterações em função da dieta.

REVISÃO DE LITERATURA

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Para bubalinos, poucas são as referências sobre a concentração de Nuréico no leite, ferramenta importante no acompanhamento do manejonutricional, guardando assim, relação direta com o manejo nutricional. Deacordo com Jonker et al. (1998) o intervalo ideal em bovinos deve serentre 10 e 16 mg/dL, assim, valores superiores ou inferiores a este inter-valo indicam inadequação do manejo nutricional. Pode-se adotar comoideal também para bubalinos este intervalo

Estas informações demonstram haver necessidade de que o manejonutricional de animais leiteiros deva ser priorizado, pois alterações noscomponentes do leite podem estar associadas à nutrição.

Sobre a qualidade do leite in natura ou fluido incidem variáveis zootécnicas(manejo, nutrição, genética, etc.) e fatores relacionados com a higiene do leite.

Em bubalinos, alguns trabalhos têm demonstrado haver diferença entreraças (variável zootécnica). Assim, Tonhati (1999) observou maior teor degordura no leite da raça Murrah (7,1%) quando comparado com as raçasJafarabadi (6,8%), Mediterrânea (6,1%) e Mestiças (6,9%). Outro impor-tante fator é o estresse ambiental, que pode alterar o consumo de alimen-tos, que por sua vez, poderá interferir na composição do leite.

A cadeia produtiva do leite tem sido bastante discutida no Brasil, nosúltimos anos, entre órgãos de governo e produtores, principalmente aoque se refere à obtenção e manutenção da qualidade do leite. Estas dis-cussões culminaram com a aprovação da Instrução Normativa 51 (IN 51),que legisla sobre esta qualidade.

Isto se deve ao fato de que não só é necessário produzir mais leite,mas produzi-lo e mantê-lo com a qualidade natural até seu consumo. Istonão é tarefa fácil, visto as dificuldades observadas entre os agentes envol-vidos com a questão.

Campanile et al. (1998) Mediterrânea - - - - 14,5-17,9Tonhati (1999) Diversas - 6,9 3,9 - -Mesquita et al. (2001) Jafarabadi 83,3 6,3-10,4 3,8-4,1 5,5-5,7 -

Murrah 82,9-84,5 5,6-6,6 3,6-4,0 5,3-5,6 -Bovera et al. (2001) Mediterrânea - 6,6-8,4 4,3-4,9 - 13,7-16,5Faria et al. (2002) Diversas 81-84,2 5,5-8,3 4,2-4,5 - -Fernandes et al. (2005a) Diversas 82,7 6,9±0,04 4,2±0,06 5,0±0,13 15,9±2,47

% mg/dL

Água Gordura Proteína Lactose N uréico

Fonte Raças Componentes

Tabela 1. Componentes do leite de búfalas

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A IN 51 impõe prazos para adequações aos padrões de referência deacordo com a região geográfica do Brasil, assim, a região Sul e Sudestedevem a tender as exigências desde Julho de 2005, enquanto a regiãoNorte e Nordeste devem se adequar até Julho de 2007 quando passam,então, a seguir esta legislação. Para isso, os agentes envolvidos com aprodução de leite, em especial os produtores, devem se adequar a estanormativa.

O leite de qualidade, de acordo com a IN 51, possui diversascaracterísticas, destacando-se a contagem de células somáticas (CCS)e unidades formadoras de colônia (UFC), como fatores que interferem naqualidade do leite e seus subprodutos, por sua vez, existem fatores comoa acidez, índice crioscópico, redutase, entre outros, que servem para seavaliar esta qualidade. Os requisitos destas características variam emfunção do tipo de leite (A, B ou C), observando que, cada tipo possui seupadrão próprio.

Cabe ressaltar que os valores para a CCS no leite de búfalas sãodiferentes dos observados em bovinos. Assim, os requisitos exigidos pelaIN 51, em relação a CCS no leite, são facilmente atingidos em bubalinos,visto que a média observada em diversos artigos científicos é diferentedos observados em bovinos. Ceron-Muñoz et al. (2002) observaram valormédio de 79.000 células/mL, Amaral et al. (2002) observaram 22.000células/mL, enquanto Fernandes et al. (2005) observaram de 126.000células/mL.

A qualidade do leite está diretamente associada à sanidade do rebanho,à higiene da ordenha, assim como, aos cuidados pós-ordenha com o leite.Os aspectos sanitários estão diretamente associados com as mastites(causadas por agentes infecciosos como bactérias, fungos), que por suavez, associam-se com alterações nos componentes do leite, comogordura, proteína, lactose, minerais. Também, pode diminuir a produçãode leite entre 10 e 20%. Ao se acrescentar os gastos com descarte deleite, antibióticos e descarte de animais, as perdas podem chegar aoequivalente de 1.000 kg de leite por lactação.

As mastites provocam alteração no teor protéico do leite, observando-se queda no teor de caseína, e elevação no teor de imunoglobulinas, o quedetermina queda no rendimento industrial. Já o teor de gordura pode ounão cair, na verdade depende da queda da produção de leite.

A higiene de ordenha ajuda a diminuir as contaminações do úbere.Assim, práticas como as de lavagem do teto com água corrente, secagem

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em papel toalha descartáveis, descarte dos primeiros jatos em caneca defundo preto, imersão dos tetos em solução sanitizante (iodo em geral)após a ordenha ajudam a controlar eficientemente as mastites.Outra prática que também ajuda a controlar as mastites é manutençãodos animais em pé para que o esfíncter do teto se feche. Para issorecomenda-se que se ofereça alimentação após a ordenha.Na Tabela 2, pode-se observar a qualidade do leite em função das práticasde higiene na ordenha. Ordenha higiênica não contamina o leite, enquantohigiene baixa na ordenha o contamina. Este fato é observado na avaliaçãodo leite após 24 horas. O leite com baixa contaminação inicial continuou24 horas após, com baixa carga microbiana, enquanto na ordenhaconsiderado suja (4.138 células/mL.) observou-se elevação na cargamicrobiana, que passou para 538.775 células/mL.

Outro fator relacionado com a qualidade do leite é a refrigeração.Observa-se na mesma Tabela 1, que a refrigeração atua positivamentesobre a manutenção da qualidade microbiológica do leite. Assim, leiterefrigerado em temperatura elevada 15ºC, proporciona ambiente adequadopara crescimento bacteriano, e associado ao leite obtido de forma nãohigiênica (sujo) cuja população microbiana inicial era de 4.138 células/mL,ao ser armazenado a 15ºC, esta mesma população passou para24.673.571 de células/mL. Quanto maior a população microbiana no leitemaior será a queda nos teores de proteína, gordura e lactose, o que vaideterminar diminuição do rendimento industrial. Dessa forma, o leite deveestar resfriado a 4ºC no máximo em até 2 horas após a ordenha, lembrandoque leite contaminado durante a ordenha, mesmo sob refrigeraçãoadequada sua qualidade não melhora.

Tabela 2 – Multiplicação de bactérias a diferentes temperaturas de armazenamentoe sistemas de manejo de vacas e utensílios de ordenha

Limpo 4,4ºC 4.138 4.295 5.000 8.42715,0ºC 4.138 1.587.333 33.011.111 326.500.000

Sujo 4,4ºC 4.138 281.646 538.775 749.03015,0ºC 4.138 24.673.571 643.884.615 2.407.383.333

Pós-ordenha 24 h 48 h 72 h

Fonte: adaptado de Krug et al. (1992).

Manejo Número de bactérias por mL de leiteTemp. de

armazenamento

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a finalidade de se melhorar as técnicas de produção e obtençãodo leite, alguns passos são importantes, como: adequação do manejozootécnico e nutricional dos animais, limpeza e desinfecção dos equipa-mentos de ordenha (baldes, coadores, ordenhadeira), assim como, dasinstalações, limpeza e desinfecção do úbere, água limpa e corrente, fina-lizando com a introdução dos resfriadores de leite nas propriedades ouem grupos.

A mudança nas práticas de produção rural depende, em grande parte,de adequações dos sistemas de produção. Deve-se buscar auxílio profis-sional no sentido de se melhorar o rendimento econômico das fazendas.Assim, o acompanhamento de um técnico (Zootecnista, Veterinário ouAgrônomo) visa adequações do manejo da fazenda, melhorando-o. Comovisto, a legislação sobre leite no Brasil, está em fase de implantação epara isso, não se deve esperar que as datas limites cheguem, deve-sesim se antecipar aos fatos, adaptando-se o mais depressa possível a esta.

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396

CURSO DE HORTICULTURA

Pedro Brasil Macêdo

1. CARACTERIZAÇÃO DOS TIPOS DE HORTAS

1.1 Hortas Educativas

É toda horta cujo principal objetivo é a educação dos indivíduos quedela participam direta ou indiretamente. A educação hortícola se refere aoaprendizado das técnicas básicas de produção, dos cuidados essenciaiscom as qualidades dos produtos das formas e modos de preparo econsumo, e dos aspectos nutricionais relativos à alimentação de hortaliçasdiversas. Assim, a horta educativa é sempre diversificada, cultivando-sediferentes espécies hortícolas ao mesmo tempo. Pode ser escolar, quandoconduzida pelos estudantes de uma escola de qualquer natureza:Comunitária, quando conduzida em comum por associação ou grupo depessoa, formal ou informalmente constituído e familiar também denominadacaseira ou de “fundo de quintal”, quando conduzida pelo individuo e a suafamília. Esta, localiza-se geralmente próxima à residência do proprietário.

Técnico Agrícola e Professor da EMARC-UR

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As ,hortas edúcativas geralmehte, ocupam pequenas áreas os produ-tos são destinados prioritariamente à alimentação das pessoas envolvi-das. Entretanto, podem crescer e gerar excedentes para comercializaçãoe até se transformarem em atividade com duplo objetivo, educacional ecomercial. Também pelas características dos serviços nela envolvidos,normalmente leves podendo ser executados até por velhos e criançassendo as principais práticas realizadas em horário de sol fraco, a condu-ção de uma horta educativa torna-se freqüentemente em atividade de lazer,surgindo daí a motivadora de “Horta Recreativa”.

1.2 Horta Comercial

É toda exploração hortícola cujo principal objetivo é a obtenção derendimento econômico proveniente da comercialização de produtos. Podeser diversificada ou especializada e com diferentes destinos para osprodutos obtidos.

A horta comercial diversificada é geralmente de pequeno porte elocaliza-se normalmente na periferia dos centros urbanos, formandos “Cinturões verdes” . Os produtores cultivam várias espécies hortícolas evendem os produtos nas feiras livres ou a intermediários, varejistas ounão, que os comercializam nas feiras e mercados ou centros deabastecimentos.

A horta comercial especializada é geralmente de médio e grande porte,exploradas poucas espécies e localiza-se geralmente afastada dos grandescentros urbanos, entretanto, a maior ou menor distância de centrosurbanos é a função do destino da produção e das características dosprodutos. Quando a produção se destina diretamente ao consumo e trata-se de produto altamente perecível, a exemplo das folhosas a menordistância e o acesso aos grandes centros urbanos são fatores da maiorimportância, quando a produção se destina a industria os produtos suportamtransporte à longa distância como alho, cebola, batata, etc. maior distânciados centros urbanos é irrelevante e até pode se transformar num fator deredução de custos, pelo menor preço das terras. Assim também, sãograndes explorações olerícolas para a indústria de enlatados, como as detomate, ervilha, aspargo e outras.

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2. CLASSIFICAÇÃO DAS HORTALIÇAS

2.1 Segundo as partes utilizadas como alimento

Na linguagem popular, e até utilizadas por alguns técnicos, as hortali-ças são classificadas como legumes, verduras e condimentos.

Denomina-se legume toda hortaliça cuja parte aproveitada como ali-mento é fruto, semente, bulbo, raiz ou tubérculo, como: tomate, ervilha,cebola, batata, etc..

Verduras, as hortaliças cujas partes aproveitadas são folhas, flores ehastes como: alface, couve-flor, brócolos, agrião, e etc.

Os condimentos compreendem as hortaliças cuja finalidade é melho-rar o sabor, o aroma, ou a aparência dos alimentos, como o coentro àcebolinha, a salsa pimenta, entre outros.

2.2 Segundo o parentesco botânico

Por este critério, as hortaliças compreendem um grande número defamília dentre as quais são encontradas uma ou mais espécies de inte-resse econômico.

3. IMPORTÂNCIA ALIMENTAR DAS HORTALIÇAS

As Hortaliças são, por excelência, fontes de vitaminas e sais mineraissubstâncias essenciais ao bom funcionamento do organismo humano.Auxiliam a digestão e o funcionamento dos diversos órgãos sendo, porisso, consideradas alimentos protetoras da saúde.

Como o organismo humano não tem a capacidade de armazenar vita-minas sais minerais, necessários à sua nutrição, aconselha-se a ingestãodiária de nutrientes, especialmente provenientes de hortaliças pelos bene-fícios adicionais pela ingestão de fibras. Contudo, deve-se diversificar oconsumo de hortaliças para equilibrar a nutrição vitamino-minerais, vezque a riqueza nutricional das espécies é bastante diferente. Uma hortaliçapode ser rica em um ou mais nutriente e pobre em outros (quadro 2).

4. FERRAMENTAS E EQUIPAMENTOS

Em olericultura, normalmente são empregados vários instrumentos quemuito auxiliam a execução das tarefas. Porém, para as pequenas hortas a

399

enxada e qualquer equipamento que permita regar as plantas são os úni-cos considerados indispensáveis, instrumentos como: enxadão, par, gar-fo, cavador reto, mão-de--onça, ancinho, sacho, pazinha de transplante,carro-de-mão, marcadores diversos, pulverizadores e outros improvisa-dos pelo olericultor, são importantes porque facilita os trabalhos e propor-cionam o melhor rendimento. A utilização de equipamentos como arados,grade, enxada rotativa, sulcador, conjunto de irrigação, etc., é mais fre-qüente em hortas maiores ou em pequenas hortas comerciais.

5. MATERIAIS DE PLANTIO

As hortaliças podem, ser multiplicadas por sementes, mudas ou bro-tos, hastes, ramas ou estacas, frutos, tubérculos, bulbos e bulbilhos ou“dentes”.

As sementes representam o material de multiplicação da maioria dasespécies hortícolas. Em geral estas são pequenas e perdem rapidamenteo poder germinativo na ausência de embalagens adequadas, especial-mente se mantidas em temperaturas e umidade relativas elevadas. Latase sacos de papel laminizados são as embalagens que melhor conservamo poder germinativo das sementes comercializadas. Por isso, estas de-vem ser adquiridas em quantidades necessárias para um curto período eem embalagens fechadas. O rotulo das embalagens indica a espécie, acultivar, o poder germinativo e a validade do teste de germinação, quedeverão ser observados na ocasião da compra.

São multiplicadas por sementes as seguintes espécies: abóbora, abo-brinha, agrião, alface, beterraba, berinjela, cebola, cebolinha, cenoura,coentro, couve, brócolos, couve-flor, feijão-vagem, jiló, melancia, melão,milho-doce, moranga, nabo, pepino, pimentão, pimenta, rabanete, salsa,quiabo e tomate.

As mudas podem ser originadas de sementes, plantadas em canteirosespeciais, ou de parte de vegetal (vegetativas) como as brotações lateraisde couve e pedaços de cebolinha.

Hastes, ramas, ou estacas são pedaços do caule de outras hortaliças,utilizados como material de plantio, a exemplo do agrião, a batata-doce edo hortelã. Para a batata-doce, ramas com 20 a 30 em de comprimentoconstitui o principal material de plantio.

Frutos é o material de plantio do chuchu. Este, apesar de considera-do o material vegetativo por autores, trata-se de material sexuados.

400

Tubérculo é o material vegetativo de multiplicação da batatinha, quedeve ser plantado com 3 a 4 cm de tamanho.

Bulbo é o material vegetativo da cebola ou a própria cebola, que podeser utilizada para plantio. Neste caso, deve-se escolher ou produzir bul-bos dos menores, também denominados bulbinhos.

Bulbinho ou “dente” é o material utilizado para a multiplicação doalho.

Para a produção própria de qualquer material de multiplicação dehortaliças deve-se escolher plantas mães produtivas, bem desenvolvidase isentas de pragas e doenças.

6. DESENVOLVIMENTO DAS HORTALIÇAS

6.1 Considerações sobre o soloAs plantas necessitam apenas Ter disponível no solo os componentes:nutrientes, água e oxigênio. O grau de exigência desses componentes

varia principalmente em função da espécie de planta ou cultivar. As horta-liças, em geral, se caracterizam pela alta exigência nos três componentescitados.

6.2 Considerações sobre o clima .Dentre os fatores climáticos, a luz, a temperatura e a umidade são os

de maior importância em olericultura.

7. ADUBAÇÃO

A adubação de hortaliças deve ser feita visando suprir praticamentetodas as necessidades nutricionais da planta, pelo menos emmacronutrientes.

7.1 Adubação básicaEm síntese, a regra de utilização de 150 a 250g da fórmula 4-14-8 ou 4-

16-8por m2 de área deve ser acrescida de relativa dos de bom senso. Deve-

se considerar as exigências nutricionais das espécies, os grandesespaçamentos, a duração do clima, o nível de produtividade esperando eas indicações de real estado de fertilizante do solo.

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7.2 Adubação Orgânica

8. OBTENÇÃO DE MUDAS

As mudas da maioria das espécies hortícolas são obtidas a partir desementes. A semeadura em sementeiras deve ser bastante uniforme, empequenos sulcos paralelos, distanciados 10 cm e profundidade em tornode 1 cm. A cobertura das sementes deve ser feita com uma fina camadade terra ou esterco curtido, de preferência, peneirado sobre o leito.

A cobertura do leito com folhas de dendezeiro, coqueiro ou assemelha-do ajuda a conservar a umidade, evita compactação e super aquecimentodo solo, favorecendo a germinação.

9. INSTRUÇÕES GERAIS

9. 1. IrrigaçãoA irrigação é fundamental para complementar a grande necessidade

de água, para a maioria. das espécies hortícolas, mesmo em períodos ouregiões onde ocorrem os melhores regimes de distribuição de chuvas.

Em geral, a quantidade de água a aplicar por vez, deve ser o suficientepara molhar a terra at’;e a profundidade de 20 a 25 cm, onde se concen-tram a maioria das raízes. O excesso favorece a erosão e a lixiviação dosnutrientes. A falta prejudica o crescimento e a qualidade dos produtos po-dendo acelerar o processo de maturação.

A irrigação pode ser feita por sulcos ou por aspersão.

O adubo orgânico é da maior importância para o cultivo de hortaliças.Mesmo pelo fornecimento de nutrientes, vez que na maioria dos casos épobre, mas, pela melhoria das condições físicas do solo que impõe.

A matéria orgânica torna o solo muito solto mas ligados, conferindo-Ihes maior capacidade de retenção de água e nutrientes e os solos maispesados, mais soltam, com maior poros idade e penetração do ar. O adu-bo orgânico melhora a vida macro biológica do solo favorecendo a sobre-vivência de minhocas, fungos e bactérias benéficas. Fornece aindamicronutrientes às culturas e favorece a absorção de nutrientes proveni-entes de outras fontes.

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9.3. Controle de pragas e doenças

As doenças mais comuns nas hortaliças são causadas por fungos,bactérias e vírus.

O controle das doenças deve ser feito eliminando-se as partes ataca-das ou a planta toda. Num caso de virose deve se eliminar todas as plan-tas atacadas e combater os insetos vetores. Muitas vezes, no entanto, ummau desenvolvimento das plantas, amarelecimento das folhas,murchamento e morte das plantas podem ser causados por deficiêncianutricional. Também, a falta ou excesso de água ou excesso de calor oufrio podem ser responsáveis por esses sintomas.

10. COLHEITA

As hortaliças devem ser colhidas no ponto que as características depaladar e preferências de mercado forem satisfeitas.

O ponto de colheita pode ser definido pela idade da planta, desenvolvi-mento das folhas, hastes, frutos, raízes ou outras partes utilizadas comoalimento.

9.2. Capina

A capina é a operação executada para retirar as ervas daninhas queinfestam as culturas. Deve ser realizado o quanto antes e sempre quenecessário, para evitar a concorrência por água, luz e nutrientes.

As principais pragas que atacam as hortaliças podem ser agrupadasem insetos, ácaros e nematóides.

O controle de insetos e ácaros deve ser feito por meio de catação ma-nual ou eliminação das partes muito atacadas. 05 nematóides são melhorcontrolados por meio de práticas culturais como rotação de culturas,arações e radagens sucessivas em dias de solo, inundações temporáriase uso de cultivares resistentes.

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PRAGAS E DOENÇAS DA SERINGUEIRA

Carlos R. R. Mattos

1. PRAGAS

Algumas pragas podem causar sérios prejuízos para a seringueira, di-minuindo o crescimento das plantas e a produção de borracha. Para iden-tificar e combater essas pragas é necessário examinar o seringal comfreqüência. Pode ocorrer ainda ataque de: formiga, vaquinha, mosca bran-ca, cochonilha, cupin, paquinha, coleobroca, e percevejo, que são pragasmais facilmente controláveis.

1.3. Percevejo de RendaO percevejo de renda (Leptopharsa heveae), também conhecido como

mosca de renda, tem causado grandes problemas nos seringais do MatoGrosso e São Paulo. Essa praga, tanto na forma adulta quanto na formajuvenil, ataca o seringal, sugando a seiva e provocando o desfolhamentodas plantas. Os ataques mais severos podem causar uma redução de27,7% no crescimento em altura e de 45% no diâmetro do colo das plan-tas em viveiro, bem como uma redução na produção de látex que chega aatingir 30 % do total.

O inseto adulto mede, aproximadamente, 3 mm de comprimento, temas pernas longas, e apresenta as asas de forma reticulada e alveolada, decor esbranquiçada, com a presença de espinhos minúsculos.

404

A principal forma de controle dessa praga é através da aplicação dofungo Sporothrix insectorum, que, dependendo das condições climáticas,pode apresentar 95% de eficácia. Entretanto, a utilização desse fungo sódeve ser realizada em períodos de alta umidade relativa do ar. Caso con-trario, recomenda-se a utilização dos seguintes produtos químicos:Agrophós 400 (300 ml. ha-1); Decis 25 CE (300 ml.ha-1); Endosulfan 350CE (1000 ml.ha-1); Karatê 50 CE (200 ml.ha-1); Lannate BR (300 ml.ha-1);Nuvacron 400 (300 ml.ha-1) e Sevin 400 SC (500 ml.ha-1).

2.DOENÇAS

Entre as principais doenças de importância econômica para a serin-gueira no Brasil, destacam-se o mal-das-folhas, causado pelo fungoMicrocyclus ulei, a requeima, a queda anormal, e o cancro estriado, cau-sados pelo fungo Phytophthora sp, bem como a antracnose, causada pelofungo Colletotrichum gloeosporioides.

1.3. Ácaro da Seringueira

Embora existam outras espécies, o Calacarus heveae é o ácaro maisimportante da seringueira. Essa praga tem causado grandes problemasnos seringais dos Estados de São Paulo e Mato Grosso, e já se encontranos seringais da Bahia causando problemas em alguns clones.

Os ataques ocorrem, principalmente, nas folhas maduras, e os sinto-mas, de modo geral, começam a aparecer 45 dias após o pico populacionaldo inseto. As folhas, inicialmente, perdem a coloração e o brilho, tornando-se amareladas, posteriormente bronzeadas, e caem.

O controle dessa praga pode ser feito através de pulverizações com osseguintes produtos químicos: Dicofol185 CE (300 ml/1 00 I H20), e KumulusDE 500 SC (500 g/1 00 I H20).

1.3. MandarováO mandarová (Erinnys ello) é uma praga muito importante da seringueira

e o seu ataque ocorre, normalmente, no período de setembro a fevereiro,podendo, em poucos dias, desfolhar completamente as árvores.

O controle dessa lagarta pode ser feito através de pulverizações cominseticidas químicos como o Dipterex 500 (1000 ml.100 I H20-1), o Sevin85 PM (2 kg.100 I H20-1), e o Decis 25 CE (250 ml.100 I H20-1). Pode serutilizado, também, o inseticida biológico Dipel (400 g.100 I H20-1).Entretanto, esse produto só é eficiente quando aplicado nos primeiros

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2. DOENÇAS DAS FOLHAS

Considerado como um dos principais problemas da seringueira nasAmericas do Sul e Central, essa doença, causada pelo fungo Microcyclusulei, apresenta-se em todas as regiões heveícolas do Brasil. Nas regiõesúmidas ocorre o ano inteiro nos viveiros, jardins clonais, e no plantio in-dustrial podendo causar o desfolhamento total das plantas.

Os sintomas dessa doença caracterizam-se pelo aparecimento de man-chas circulares de formas irregulares, levemente, escurecidas e cobertaspor uma esporulação de cor cinza na face inferior e /ou superior da folha.

O controle do mal-das-folhas em viveiro e jardim clonal se faz atravésde aplicações semanais de uma mistura de Tilt (Propiconazole) comManzate 800 ou Dithane PM (Mancozeb), ou Daconil BR, ou Bravonil 750PM (Chlorothalonil), nas dosagens de 30 ml de Tilt e 300 g dos outrosfungicidas / 100 L de água. Os fungicidas a base de Chlorothalonil podemser utilizados isoladamente na dosagem de 2 kg / ha, enquanto o Tilt podeser substituído por Amistar (Azoxystrobin) na dosagem de 10 ml / 100 L deágua, ou outros fungicidas do mesmo grupo químico (Triazóis), na mes-ma dosagem (30 ml / 100 L de água), sempre em mistura com os fungicidasprotetores para evitar o aparecimento de raças resistentes. Em seringaisadultos, as aplicações desses fungicidas são realizadas no período dereenfolhamento das árvores até que as folhas atinjam a maturidade.

Outra forma de controle é o emprego de clones de copa resistentes aofungo, enxertados sobre o tronco de clones altamente produtivos. Infeliz-mente, essa técnica é muito cara e ainda não existe conhecimento sufici-ente para recomendar a sua utilização. Em algumas regiões do Brasil, aexemplo do Mato Grosso e do Planalto de São Paulo, a seringueira é plan-tada sob condições adversas à manifestação epidêmica do fungo,notadamente no período da troca de folhas. Essa estratégia de controle,tida como uma solução genético-ecológica, tem se mostrado eficaz. En-tretanto, a forma de luta mais eficaz é o controle genético através do me-lhoramento genético da seringueira selecionando genes de resistência àdoença e de produção em um mesmo indivíduo. Esse trabalho é umarealidade e está sendo desenvolvido pela MICHELIN em parceria com oCIRAD (organismo de pesquisa francês) desde 1990. Atualmente 13 clonesestão sendo estudados em grande escala no Brasil e 3 desses clonessão recomendados para plantio no Estado da Bahia. O projeto realiza a

2.1. Mal-das-folhas da Seringueira .

406

cada ano 75.000 polinizações entre clones sul-americanos de alta resis-tência ao Microcyclus ulei e clones asiáticos de alta produção. 20.000genótipos estão sendo estudados e 200 deles já foram selecionados combase na resistência e no potencial de produção, além de outros caracte-rísticas agronômicas interessantes, e estão sendo estudados em Cam-pos de Clones a Pequena Escala sob forte pressão de doença nas Plan-tações Michelin da Bahia.

2.2. Requeima

Essa doença, causada pelo fungo Phytophthora sp, ocorre em perío-dos de chuvas prolongadas, principalmente, nos seringais adultos, nasplantas em reenfolhamento. Os sintomas se caracterizam pelomurchamento, seguido de queima dos folíolos jovens, dos pecíolos, dashastes e das inflorescências. Quando a infecção ocorre no penúltimo seg-mento dos folíolos, aparecem lesões com exsudação de látex que anelamo ramo, provocando a murcha terminal do mesmo.

O controle da requeima nos seringais adultos, pode ser feito através deaplicações de Ridomil Gold MZ (Metalaxil + Mancozeb), no período doreenfolhamento, até a maturidade das folhas, na dosagem de 300 g / 100L de água. Pode ser utilizado, também, o Venturol (Dodine) ou Forum(Dimetomorfe), na mesma dosagem.

2.3. Queda Anormal

Essa doença é causada pelo fungo Phytophthora sp. A sua ocorrênciaverifica-se apenas em seringais adultos, e está relacionada aos períodosde chuvas prolongadas. Os sintomas se caracterizam pelo aparecimentode lesões escuras, com exsudação de látex nos pecíolos de folhas adul-tas, as quais caem, ainda verdes, juntamente com os pecíolos. Normal-mente, não se recomenda o controle químico para essa doença.

2.4. Antracnose

Causada pelo fungo Colletotrichum gloeosporioides, essa doença ocorreprincipalmente nos períodos chuvosos, sendo observada tanto nos vivei-ros e jardins clonais, como nos seringais adultos. Os sintomas se apre-sentam em forma de pequenas lesões escuras com as bordas cloróticasque, em condições mais favoráveis, se interligam atingindo grandes por-ções dos folíolos, os quais caem em seguida.

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O controle da antracnose, nos viveiros e jardins clonais, deve ser feitologo que surgirem os primeiros sintomas através de aplicações semanaisde uma mistura de Tilt (Propiconazole) com Manzate 800 ou Dithane PM(Mancozeb), ou Daconil BR, ou Bravonil 750 PM (Chlorothalonil), nas do-sagens de 30 ml de Tilt e 300 g dos outros fungicidas / 100 L de água. Osfungicidas a base de Chlorothalonil podem ser utilizados isoladamente nadosagem de 700 g / 100 L de água, enquanto o Tilt pode ser substituído porAmistar (Azoxystrobin) na dosagem de 10 ml / 100 L de água, ou outrosfungicidas do mesmo grupo químico (Triazóis), na mesma dosagem (30ml / 100 L de água), sempre em mistura com os fungicidas protetorespara evitar o aparecimento de raças resistentes.

1.5. Oídio

Causada pelo fungo Oidium heveae, essa doença ocorre com muitafreqüência em seringais do Planalto Paulista. Os sintomas se caracterizampelo aparecimento de um micélio branco que se desenvolve nas duasfaces do folíolo e chega a provocar o desfolhamento das plantas quando oataque é severo.

Para o controle do oídio, recomenda-se três a quatro aplicaçõessemanais de fungicidas à base de enxofre, na dosagem de 5 kg / ha, empulverização.

1.6. Mancha Concêntrica

Essa doença, causada pelo fungo Periconia manihoticola, pode ocor-rer em viveiros e jardins clonais sem danos importantes. Os sintomasmanifestam-se inicialmente pelo aparecimento de lesões irregularmentecirculares, passando mais tarde à cor palha e formando anéis concêntri-cos escurecidos no seu interior.

Os fungicidas utilizados em rotina nos viveiros e Jardins clonais para ocontrole das principais doenças da seringueira, normalmente, não permi-tem a manifestação dessa doença.

1.7. Mancha de Alternaria

É uma doença causada pelo fungo Alternaria sp e pode ocorrer emviveiros e jardins clonais, sem muita importância. Os sintomas nas folhasse apresentam em forma de pequenas manchas mais ou menos circula-res, de cor palha no centro e halo verde amarelado. As lesões podem se

408

interligar atingindo uma grande porção dos folíolos e conseqüentedesfolhamento. Normalmente, não é necessário um controle químico es-pecífico para essa doença.

2.8. Mancha de Corynespora

Trata-se de uma doença sem muita importância no Brasil, causadapelo fungo Corynespora cassiicola, que pode ocorrer tanto em viveiros ejardins clonais quanto nos seringais adultos. Os sintomas da doença semanifestam inicialmente através de manchas escuras, irregularmente cir-culares e, mais tarde, apresentam a porção central mais clara, limitadapor um halo de cor amarronzada.

O controle da doença pode ser feito através de aplicações semanaisde Benlate (Benomyl), na dosagem de 400 g / ha.

3. DOENÇAS DO CAULE

3.1. Cancro-estriado

O cancro-estriado é uma doença causada pelo fungo Phytophthora sp,que ocorre nos painéis de sangria da seringueira em exploração. Ossintomas se caracterizam pelas lesões necróticas, levemente descoloridase deprimidas na casca, podendo haver exsudação de látex. Retirando-sea casca necrosada, vê-se no lenho a presença de estrias negras,principalmente, no sentido longitudinal.

O controle dessa doença deve ser feito de forma preventiva através dopincelamento no painel, até 2 cm abaixo e acima do corte de sangria, emintervalos de 15 dias no período de junho-novembro e 30 dias no períodode dezembro-maio, com o Captan (Captan) na dosagem de 30 g / L deágua ou o Venturol (Dodine) na dosagem de 10 g / L de água.

Para o controle curativo, recomenda-se aplicar o Ridomil Gold MZ(Metalaxyl + Mancozeb) na dosagem de 20 g / L de água, ou Forum(Dimetomorfe) na dosagem de 10 g / L de água, 3 vezes em intervalos dequatro dias.

3.2. Cancro-do-tronco

Essa doença, também causada por Phytophthora sp, ocorre comfreqüência nos seringais das regiões úmidas do Brasil. Os sintomas se

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3.3. Antracnose do painel

caracterizam pelo intumescimento e trincamento da casca, no tronco, comexudação de látex.

Para o controle químico, recomenda-se efetuar a retirada da casca naárea afetada até o descobrimento por completo da lesão, e aplicar o RidomilGold MZ (Metalaxyl + Mancozeb) na dosagem de 20 g / L de água, 3 vezesem intervalos de quatro dias.

Trata-se de uma doença do painel de sangria da seringueira, causadapelo fungo Colletotrichum gloeosporioides, presente, principalmente, nosseringais dos Estados de São Paulo e Mato Grosso. Os sintomas seassemelham aos do cancro estriado. O controle deve ser feito de formapreventiva através de aplicações quinzenais, via pincelamento, até 2 cmabaixo e acima do corte de sangria, de fungicidas a base de Chlorothalonil(Daconil, Bravonil, etc.), ou Chlorothalonil + Tiofanato metílico (Cerconil),na dose de 10 g / L de água.

3.4. Cancro da haste

Essa doença, causada por Phytophthora sp, pode ocorrer em viveirose jardins clonais em períodos de chuvas prolongadas, com danosimportantes. Os sintomas se apresentam, principalmente, próximo ao ápiceda planta em forma de lesões marrom-escuras, deprimidas na casca,com exsudação de látex, e pode evoluir rapidamente para todo o caule.

O controle da doença pode ser efetuado de forma preventiva nosperíodos chuvosos, ou imediatamente após o aparecimento dos primeirossintomas, com aplicações semanais de Ridomil Gold MZ (Metalaxyl +Mancozeb) ou Forum (Dimetomorfe), na dosagem de 300 g / 100 L deágua.

3.5. Secamento do painel ou brown bast

Essa é uma doença fisiológica de causa desconhecida, que ocorre emtodas as regiões heveícolas do mundo, sobretudo quando o clone é maissuscetível e os métodos de exploração são intensivos. Os sintomas secaracterizam pela ausência da exsudação de látex no corte de sangria e,mais tarde, em todo o painel podendo haver necrose da casca. Nos casosmais severos, ocorrem rachaduras e descamações na área abaixo docorte.

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4. OUTRAS DOENÇAS

Não há um método eficaz de controle curativo para essa doença. Aprática utilizada normalmente é a paralisação da sangria por um períodode, aproximadamente, um ano. No final desse período, algumas árvoresvoltam a produzir, podendo mais tarde vir a secar definitivamente. Métodosde explotação mais ajustados ao clone, às condições ambientais, bemcomo práticas de manejo mais eficazes reduzem a ocorrência dessedistúrbio.

O seringal pode também ser atacado por vírus, bactérias e nematóides.A intensidade dos danos depende das condições climáticas e culturais.

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AGRONEGÓCIO DENDÊ - UMA POTENCIALIDADE PARA OBAIXO SUL

Jonas de Souza

Jonas de Souza, Chefe do CEPEC/CEPLAC, <e.mail [email protected]>

As primeiras referências relatam que o dendezeiro chegou à Américapela costa atlântica, no recôncavo baiano, região nordeste do Brasil, trazi-do pelos escravos africanos para utilização na alimentação durante o per-curso das viagens marítimas, razão pela qual verifica-se, a partir dos pon-tos de desembarque no litoral da Bahia, a existência de grandes popula-ções subespontâneas desta palmeira.

Até o início da década de sessenta, a exploração comercial do dendêno Brasil se limitava, apenas, à exploração extrativista dos centenáriosdendezais subespontâneos existentes na Bahia, cuja produtividade eraextremamente baixa, mas a oferta de matéria-prima supria a demandarestrita do mercado que era predominantemente local, cuja importânciaestava centrada na produção e comercialização para fins alimentares,principalmente como ingrediente na elaboração de vários pratos típicos daculinária local, prosseguindo com o uso do óleo e seus derivados na in-dústria siderúrgica e em vários outros segmentos da cadeia produtiva,além do emprego como matéria-prima na fabricação de mais de uma cen-tena de produtos: gordura hidrogenada, gordura para panificação, sabões,detergentes, cosméticos e na oleoquímica.

O Estado da Bahia é o segundo maior produtor de dendê do Brasil,respondendo por 22.500 t de óleo, das quais 12.000 toneladas são prove-nientes da extração artesanal do óleo de cachos produzidos em 30.000 hade dendezeiros subespontâneos, nos municípios de Valença, Taperoá, NiloPeçanha, Ituberá, Igrapiúna, Camamu.

412

Valença 8.256 4.357 1.448 212 19.837 13.100 2,40 3,01Taperoá 3.045 1.225 328 65 7.200 3.825 2,36 3,12Nilo Peçanha 1.010 450 400 33 2.700 2.560 2,67 5,69Ituberá 1.969 1.699 91 57 10.685 10.058 5,40 5,92Camamú 5.647 2.280 526 119 11.509 5.857 2,04 2,57Total 19.927 10.011 2.793 486 51.931 35.400 2,61 3,54

Média dasáreas

assistidas

Total Assistida Total Assistidos Total Da áreaassistida

Médiaglobal

Município

Produtividade(t/ha) de cacho

Produção (t)Nº de produtoresÁrea (ha)

Situação das áreas produtoras de dendê subespontâneos na MRH Tabuleiros deValença.

Fonte: Cenex

O pólo agrícola Valença-Camamu (Costa do Dendê), tem perfilsocioeconômico caracterizado pela predominância da pequena proprie-dade, com área média de 27 ha. Entretanto, quando se analisa aestratificação observa-se que propriedades de 0-10 ha representam 55%da área cultivada. Se se amplia o tamanho do módulo para a faixa de 0-50ha, 86% da área cultivada esta constituída de propriedades desse tipo.Quando se analisa o aspecto ocupação da área por cultivos permanentesou temporários, se observa que 24,85% é ocupada por cultivos perma-nentes (cacau, cravo, dendê, seringueira etc.), que se fosse exclusiva-mente dendê, teríamos no primeiro nível de estratificação 2,4 ha de áreacultivada, que com base na produtividade média regional de 3 t de cachos/ha nos dendezais subespontâneos, representaria uma produção de 7,2 tde cachos/ano, que comercializados ao preço de R$ 160,00/t, resultariana renda de R$ 1.152,00/ano ou R$ 96,00/mês. Com o uso da tecnologiaproposta é possível obter-se uma produtividade média de 20t de cachos/ha na fase de máxima produtividade, representado 48t de cachos nos 2,4ha que comercializadas ao mesmo preço proporcionaria uma renda brutade R$ 7.680,00, deduzindo-se os custos dos insumos, orçados em R$1.140,00, resultaria numa renda líquida de R$ 6.540,00, representando umrendimento mensal de R$ 545,00 proporcionando um aumento de rendi-mento mensal superior a cinco vezes. Os cultivos temporários represen-tam apenas 3,60%, demonstrando a vocação natural deste pólo para o

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cultivo de lavouras permanentes. Vale ressaltar que de uma área de 43.964ha apenas 28,45% está ocupada com cultivos havendo, portanto, disponi-bilidade de área para novos programas, sobretudo aqueles voltados parapequenos produtores.

O aumento da produção nacional de óleo de dendê, atualmente ocu-pando a terceira posição entre os óleos vegetais com uma produção de125.000 t, pode ser alcançada com a implantação de dendezais de cultivoem substituição aos dendezais subespontâneos, através do sistema derenovação gradual das áreas existentes, utilizando-se sistemasagroflorestais, como forma de garantir o aumento da produtividade, melhoriada qualidade, geração de emprego e renda pela modernização do proces-so produtivo, com reflexo no padrão de vida do agricultor familiar, permitin-do ainda uma maior participação do óleo de dendê na matriz energéticanacional.

Para isso, nova visão deverá ser implantada em relação à produção deóleo para fins alimentares ou energéticos, com o aproveitamento integraldos seus subprodutos, envolvendo a participação direta da CEPLAC, comorientação e assistência técnicas e recomendação de material botânicode plantio, estabelecendo-se modelos de produção agro-industrial de dendêem áreas que concentrem tanto a agricultura familiar, notadamente emassentamentos agrários localizados em áreas zoneadas para o dendê,como em áreas tradicionais de exploração do cultivo, assegurando-se, viaprodução e transformação do óleo, auto-suficiência alimentar e energéticadessas comunidades.

Na atualidade, o agronegócio dendê se constitui na maior cultura pere-ne do mundo, ocupando sete milhões de hectares de área cultivada e commaior rendimento, chegando a produzir mais de 4,5 t de óleo por hectare.

Em 2001, a produção mundial atingiu 23.575.000 t de óleo de palma e2.898.000 t de óleo de palmiste, representando 30% do consumo mundialde óleos vegetais (Corley 2003). Portanto, maior que o consumo mundialde óleo de soja, que representou no mesmo ano, 29% do consumo deóleos vegetais, constituindo-se num agronegócio de aproximadamente 7,6bilhões de dólares no ano de 2001.

O agronegócio brasileiro de dendê está representado por uma áreaplantada de apenas 45.000 ha, correspondendo tão somente a 0,06% daárea disponível estimada em 74.870.000 ha na região amazônica(EMBRAPA, 1995) e em 832.000 ha dentro da faixa climática de aptidãoplena no sudeste da Bahia (Almeida et al. 1984).

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C ON SUM O M UN D IA L D E ÓLEOSVEGET A IS EM 2000

So j a

2 9 %

D e n d ê

2 7 %

C o l z a

1 5 %

G i r a s s o l

1 0 %

A me n d o i m

5 %

P a l mi s t e

3 %A l g o d ão

4 %

C o c o

4 %

O l i v a

3 %

FONT E: USDA

Produção mundial de óleos vegetaisem 2004

Soj a

27%

Al godão

4%Amendoi m

5%Ar r oz

1%Ol i va

3%Col za

14%

Gi r assol

11%

M i l ho

2%

Dendê

25%

Pal mi ste

3%

M amona

1%

Coco

4%

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O zoneamento edáfico do dendê no Sudeste da Bahia definiu uma áreaque foi estimada em 2.606.800 ha com condições para implantação destacultura, sendo 17,5% equivalente a solos bons, escolhida com base naprofundidade efetiva superior a 90 cm, textura franca a argilosa,permeabilidade moderada, úmido, relevo plano a suave ondulado,declividade de 0 a 8%, baixa concentração de ferro, alumínio e manganês(Leão, 1990).

Assim, as interações resultantes do zoneamento edafo-climático indi-caram a existência das classes I e II, respectivamente, com 198.035 ha –excelente e 747.000 ha – boa, totalizando 945.035 ha de áreas recomen-dáveis para a implantação de dendezais na faixa litorânea do sudeste baiano(Menezes et al., 1991).

Os dendezais subespontâneos estão distribuídos entre os paralelos 13e 14o S onde Almeida et al. (1984) realizaram um zoneamento climáticopara o dendê (Figura 1), definindo-se como zona de aptidão plena aquelacom precipitação pluvial acima de 1.800 mm, sem déficit hídrico, tempe-ratura mínima absoluta superior a 15oC e temperatura média acima de23oC, insolação maior que 6 h/dia, totalizando uma área de aptidão plenade 832.000 ha, com classificação climática Af de Koppen, ou seja, comclima de florestas tropicais, quente e úmido, sem estação seca durante oano, podendo ser acrescida de 1.515.000 ha, classificados como área deaptidão moderada.

Desta forma, o litoral sul da Bahia que possui uma diversidade edafo-climático excepcional para o cultivo do dendezeiro, com disponibilidade deáreas litorâneas que se estendem desde o Recôncavo Baiano até osTabuleiros Costeiros do Sul da Bahia, poderá atender uma demandainsatisfeita da ordem de 200 mil toneladas de óleo de dendê, frente àsimportações que se situam entre 100 e 150 mil toneladas, além dosaspectos ambiental-ecológico, possibilitando a recomposição do espaçoflorestal em processo adiantado de degradação, por “florestas de cultivo”;econômico-socia l, proporcionando aumento da renda regional e criaçãode novos empregos, e finalmente estratégico , buscando através daagricultura integrada a caminho do desenvolvimento harmônico dosrecursos da terra com os valores humanos.

416

Figura 1

417

BAIXA PRODUTIVIDADE EM ÁREAS COM CACAUEIROSCLONADOS - CAUSAS- ALGUMAS RECOMENDAÇÕES PARA

SOLUCIONAR O PROBLEMA

Antonio Eduardo de Souza Magno Milton José da Conceição

Engenheiro Agrônomo – CEPLAC/CENEX/SERAT Fone: (073) 3214-3326E-mail: [email protected] e [email protected]

1. USO DE MATERIAIS BOTÂNICOS AUTOINCOMPATÍVEISPRIMEIRA GERAÇÃO

2. MANEJO INADEQUADO

No inicio do programa de Recuperação da Lavoura Cacaueira aCEPLAC só dispunha de clones com resistência comprovada àVassoura-de-bruxa autoincompatíveis, porém intercompativeis, queforam distr ibuídos aos produtores. Para que essas plantaspudessem expressar todo o seu potencial de produção, foinecessário estabelece-las em campo, obedecendo a um modelode disposição para que a intercompatibilidade ou o cruzamento entre

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plantas funcionasse de forma satisfatória. Por outro lado, muitosprodutores no afã de garantirem a viabilidade do sistema radiculardos cacaueiros acometidos pela enfermidade vassoura-de-bruxa,utilizaram seleções de plantas de sua propia fazenda, bem comode outras, que apesar de apresentarem resistência à doença,detinham também o caráter da autoincompatibilidade.

A maioria das áreas comerciais formadas com os clones daprimeira geração ou autoincompatíveis estão apresentando alémde uma produtividade abaixo dos índices previstos, a produção estáconcentrada no período da safra (setembro a dezembro).

Em virtude do exposto, muitas fazendas estão com áreasclonadas significativas, apresentando resultados insatisfatórios, quenão atendem às expectativas esperadas, devidas principalmente:

a) Materiais botânicos selecionados;

b) Disposição inadequada na sua instalação;

c) Falta no ajuste do sombreamento;

d) Manejo incorreto dispensado às plantas.

Para o equacionamento dos problemas expostos, estamos pro-pondo alguns procedimentos, que já estão sendo utilizadas por al-guns produtores com o acompanhamento técnico, respaldado nasrecentes recomendações da pesquisa da CEPLAC.

ASPECTOS TÉCNICOS

No processo de aperfeiçoamento da clonagem do cacaueiro, aintrodução dos materiais botânicos autocompatíveis irá solucionaros problemas da incompatibilidade sexual, quando distribuídos deforma criteriosa com os materiais botânicos autoincompatíveis.

Clones autocompatíveis -

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50% DE AUTOCOMPATÍVEIS E 50% DE INTERCOMPATÍVEIS EMFILAS ALTERNADAS

MODELOS DE PADRÕES CLONAIS RECOMENDADOS

MODELO I

����� =AUTOCOMPATÍVEISX = INTERCOMPATÍVEIS

AUTOCOMPATÍVEIS � � � � � � � � � �

INTERCOMPATÍVEIS X X X X X X X X X X

AUTOCOMPATÍVEIS � � � � � � � � � �

INTERCOMPATÍVEIS X X X X X X X X X X

AUTOCOMPATÍVEIS � � � � � � � � � �

INTERCOMPATÍVEIS X X X X X X X X X X

AUTOCOMPATÍVEIS � � � � � � � � � �

INTERCOMPATÍVEIS X X X X X X X X X X

AUTOCOMPATÍVEIS � � � � � � � � � �

INTERCOMPATÍVEIS X X X X X X X X X X

420

MODELO II

75% DE AUTOCOMPATÍVEIS E 25% DE INTERCOMPATÍVEIS EMFILAS ALTERNADAS

AUTOCOMPATÍVEIS � � � � � � � � � �

AUTO E INTERCOMPATÍVEIS X � X � X � X � X �

AUTOCOMPATÍVEIS � � � � � � � � � �

AUTO E INTERCOMPATÍVEIS X � X � X � X � X �

AUTOCOMPATÍVEIS � � � � � � � � � �

AUTO E INTERCOMPATÍVEIS X � X � X � X � X �

AUTOCOMPATÍVEIS � � � � � � � � � �

AUTO E INTERCOMPATÍVEIS X � X � X � X � X �

AUTOCOMPATÍVEIS � � � � � � � � � �

AUTO E INTERCOMPATÍVEIS X � X � X � X � X �

� = AUTOCOMPATÍVEISX = INTERCOMPATÍVEIS

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Sombreamento - O ajuste do sombreamento definitivo e provisório coma retirada de árvores auto-sombreadas e o plantio em áreas abertas deessências florestais que atendam aos aspectos agronômicos, ecológicose econômicos proporcionam um ambiente com luminosidade adequada,que protege os cacaueiros e estabiliza as condições microambientais docultivo, traduzindo numa maior possibilidade das plantas clonadasexpressarem seu potencial de produção.

Remoção de vassouras - A remoção das vassouras vegetativas nasáreas clonadas é uma prática por demais necessária e deve obedecer aocalendário agrícola (Jan/Fev; Abr/Mai; Jul/Ago e Out/Nov), que a dependerdas variações climáticas, poderá ser alterado.

Controle de ervas daninhas - O controle eficiente das ervas daninhasdeve ser realizado pelo menos duas vezes por ano, com o uso de herbicidas,verificando-se previamente o teste de vazão e conseqüentemente adosagem recomendada.

Poda – A poda deve ser realizada de dentro para fora das plantas,eliminando-se os ramos que se cruzam, porém sem deixar espaços quepossam dar entrada de luz sobre o caule da planta e o terreno. Com isso,evita-se uma necrose do caule, pela incidência direta da luz solar e umamaior infestação de ervas daninhas na área. Quando a poda é realizadade forma excessiva, leva a eliminação de ramos produtivos o que causaum aumento e freqüência de lançamentos foliares, reduzindoconseqüentemente a produção de frutos. Porém quando a poda deixa deser realizada, ocorre um excesso de folhas e surgimento de palmas d¢águaou chupadeiras, que proporcionam competição na planta e entre plantasdeixando-as com altura acima do desejado, bem como fora do espaçodelimitado. A atividade fotossintética é reduzida nas folhas do interior dascopas, que por receberem pouca luz, começam a atuar como drenos enão como fonte de acúmulo de reservas necessárias para a produção defrutos.

Novos métodos e materiais para enxertia – A cada dia estãoocorrendo uma evolução no aperfeiçoamento dos métodos de enxertia ena utilização de materiais, que estão aumentando o rendimento da mãode obra, do índice de pegamento/brotação e da redução dos custos. Aexemplo do saco usado para o sorvete “geladinho” como câmara úmida, e

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no amarrio das enxertias feitas principalmente em mudas, através dométodo da garfagem de topo e lateral.

Decepa/Recepa - No processo de enxertia comercial deverá ser dadoum manejo de podas na planta velha que proporcione uma entrada de luzadequada e necessária para o desenvolvimento do enxerto, desse modohaverá uma convivência das duas plantas (o conjunto) por um determina-do período. Somente deve-se retirar/recepar a planta velha quando a pro-dução do enxerto for igual ou superior ao conjunto quando da instalaçãodo enxerto.

Enxertia de copa – Recomendada para áreas onde os clones foramselecionados para produtividade, que estão com um índice relativamentealto de vassouras nas copas e que a autoincompatibilidade entre os clones,tem proporcionado uma baixa produção. Nesse caso recomendam-seenxertias com clones autocompatíveis e de baixo vigor, com o intuito desolucionar o cruzamento entre plantas.

Enxertia para substituir clones indesejáveis – Recomendada paraáreas que apresentam baixa produtividade devido à seleção inadequadado clone (plantas de altíssimo vigor, que apresentam vassouras dealmofada floral, frutos de baixo rendimento e autoincompatíveis). Nestecaso é recomendável utilizar a enxertia em broto basal, sendo que asubstituição deverá ser paulatina e gradual até que a produção do novoclone supere a do clone indesejável.

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VASSOURA-DE-BRUXA, EVOLUÇÃO DO FUNGO ENECESSIDADE DE REMOÇÃO DAS PARTES AFETADAS EM

CLONES RESISTENTES

A introdução da vassoura-de-bruxa no Sul da Bahia, principal áreaprodutora do país, em 1989, conduziu, em associação com baixos preçosinternacionais do produto, câmbio desfavorável da moeda para o setorexportador e um período com clima desfavorável à cultura, aodesenvolvimento de um processo que levou a uma ampla redução daprodução nacional de cacau. Afortunadamente, a estrutura de pesquisajá estabelecida e os conhecimentos sobre a resistência do clone Scavina6 permitiram, em pouco tempo, o lançamento de variedades resistentesà vassoura mas todas elas com os principais fatores de resistênciaprocedentes deste clone.

Assim, a questão central para o melhoramento do cacaueiro na regiãopassa a ser a necessidade de inclusão, nas áreas de cultivo, de fatores deresistência distintos dos até então utilizados e a associação de genes deresistência para ampliar sua durabilidade, dificultando a evolução dopatógeno em respeito ao incremento de sua eficiência na produção dedanos. Foram, então, identificadas novas fontes de resistência, analisadasas que poderiam oferecer genes diferentes, e conduzidos os processosnecessários para a produção das novas gerações de variedadescomerciais, com maior nível e durabilidade de resistência.

Karina Perez GramachoJosé Luis Pires

Uilson Vanderlei LopesJosé Luiz Bezerra

CEPEC/CEPLAC/Segen/Sefit

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O fungo, por sua vez, também, vem passando por processos evolutivosde adaptação, o que torna vital a necessidade de se controlar, com especialzelo, a produção de esporos a partir de infecções em materiais resistentespara cercear o ciclo evolutivo do fungo e dificultar o aumento da freqüênciade tipos mais agressivos.

Esta adaptação pode ser ilustrada pelo estudo das distâncias(diferenças) genéticas entre amostras do fungo causador da doençavassoura-de-bruxa. Em uma analogia com animais poderíamos dizer queforam conduzidas as etapas: verificação e medição de diversascaracterísticas do animal – altura, peso, cor da pelagem, dos olhos, etc.,só que no caso especifico, as medições foram feitas ao nível de DNA,verificando-se a existência ou não de segmentos específicos destamolécula; dimensionamento das diferenças entre cada par de amostrasem todas as combinações possíveis (determinação numérica do quãoparecido ou diferente eram os pares); e finalmente, a partir da matriz dediferenças, por procedimentos matemáticos apropriados, elaboração deuma figura que gerasse o mínimo possível de distorção em relação a estamatriz original.

Assim, buscando analisar a possibilidade de ocorrência de diferenciaçãogenética entre isolados de Crinipellis perniciosa que se desenvolvem sobregenótipos susceptíveis e resistentes, foram amostradas vassourasvegetativas e de almofadas florais em 7 acessos de cacaueirosselecionados de acordo com sua resposta à doença, origem, distânciasgenéticas e marcas típicas da principal fonte de resistência à vassoura-de-bruxa, o Scavina. Foram, então, contemplados materiais compossibilidades de possuírem diferentes genes de resistência: CCN 10,MOQ 216, Playa Alta 4, TSH 565 , TSH 1188, e materiais suscetíveis (SIC2 e EEG 8), todos provenientes do banco de germoplasma do Centro dePesquisa do Cacau (CEPEC). Destes, 40 isolados de C. perniciosa foramobtidos a partir de vassouras vegetativas e de almofada florais, no mesmoperíodo e local.

O clone Playa Alta 4 é um material do tipo Criollo; o MOQ 216 pareceproceder da variedade nacional do Equador; os TSHs descendem deScavina e o CCN 10 tem a origem de sua resistência não adequadamentedefinida, podendo derivar de um material denominado Canelos, não pre-servado e, provavelmente, coletado no oriente do Equador, enquanto osdois materiais susceptíveis são representantes das variedades tradicio-nais da Bahia e Espírito Santo.

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Foram verificados 54 segmentos específicos de DNA que ocorreramem algumas amostras e não ocorreram em outras para os 40 isoladostestados, o que permitiu uma clara diferenciação entre aqueles procedentesdos representantes das variedades tradicionais e os procedentes degenótipos resistentes. Assim, observa-se uma clara tendência deagrupamento dos isolados originários dos clones suscetíveis e,considerando que a amostragem de vassouras em materiais susceptíveis,representantes das variedades locais, deve capturar os tipos maisfreqüentes do patógeno, temos que estes tipos mais freqüentes mostram-se ineficientes na infecção dos genótipos resistentes, visto que os isoladosdestes tendem a ser distintos. Analogamente, se a amostragem nos clonesresistentes abarca, tão somente, elementos distintos dos tipos maisfreqüentes do patógeno, há indicação de que, para uma maior eficiênciade infecção nestes materiais, o patógeno necessita de alterações genéticas;e estas alterações estão sendo produzidas.

Não há, ainda, indicativos claros de especialização e os conjuntos deisolados provenientes de cada genótipo não formam agrupamentosdefinidos. Ao contrario, mostram maior variação, como se estivessemcapturando variabilidade do patógeno (também não houve agrupamentopara o tipo de vassoura: vegetativa ou de almofada floral). No entanto, osisolados de CCN parecem ocupar uma faixa de dispersão diferente dapreenchida pelos TSHs. Ainda, as seguintes ocorrências foram verificadas:o segmento de DNA 17-8 esteve presente em 10 dos 11 isolados de TSHe em apenas um dos 11 de SIC e EEG, o segmento C5-1, presente emtodos os isolados de SIC e EEG, em todos os de MOQ e em oito dos 11 deTSH, só aparece em um dos seis isolados de Playa Alta e um dos quatrode CCN; a marca H12-4 ocorre em todos os isolados de SIC e EEG, deTSH, de MOQ e em cinco dos seis isolados de Playa Alta, mas em apenasum dos isolados de CCN, o que pode indicar que segmentos específicossão importantes para fontes específicas de resistência.

Como conclusão temos, então, que é previsível que nas áreas cultivadascom os materiais resistentes de um dado tipo, exemplo descendentes deScavina venha a ocorrer pressão de seleção para os tipos diferenciadosdo fungo, de maior eficiência na infecção destes materiais, que teriam suafreqüência aumentada e, conseqüentemente, produziriam danos cada vezmaiores, caso estes tipos mais bem sucedidos não sejam impedidos deproduzir descendentes. Daí a citada extrema necessidade de se efetuarum controle minucioso de vassouras nas áreas cultivadas com os materiais

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resistentes, evitando que estas venham a esporular. Recomenda-se, então,o controle biológico através do fungo Trichoderma stromaticum(TRICOVAB), que impede a esporulação do C. perniciosa e suasobrevivência nos restos culturais infectados, eliminação das vassourassecas e frutos infectados e, em casos excepcionais, com maiores níveisde infecção, a aplicação de fungicida sistêmico/erradicante (Folicur).