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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS Edição Nº 111 [8/11/2012 a 14/11/2012 ]

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RESENHA DE NOTÍCIAS CULTURAIS

Edição Nº 111[8/11/2012 a 14/11/2012 ]

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Sumário

CINEMA E TV..............................................................................................................3CORREIO BRAZILIENSE - Malandragem, dá um tempo!.....................................................................3VALOR ECONÔMICO - 'Verônica' retrata Brasil promissor, mas em crise existencial.........................4

TEATRO E DANÇA.....................................................................................................5O GLOBO – Musical evoca A vida e A obra do 'rei do baião'............................................................5O ESTADO DE S. PAULO – Boal além das homenagens...................................................................6O ESTADO DE S. PAULO – Fábula sobre ofício do ator.....................................................................7

ARTES PLÁSTICAS...................................................................................................8BBC BRASIL - Grafiteiros transformam muro de embaixada brasileira em Tóquio em obra de arte 8FOLHA DE S.PAULO - Crítica: Exposição de Adriana Varejão no MAM impressiona e seduz...........9FOLHA DE S.PAULO - Exposição reúne obras de grafiteiros candidatos a capa de CD de Madonna...................................................................................................................................................... 10O ESTADO DE S. PAULO – O paraíso de um esquecido..................................................................11CORREIO BRAZILIENSE - Conexões contemporâneas.....................................................................12FOLHA DE S. PAULO – Kiko Farkas exibe sua arte gráfica no Irã....................................................13ISTOÉ - Ensaio sobre a liberdade...................................................................................................14

FOTOGRAFIA...........................................................................................................16O ESTADO DE S. PAULO - SP-Arte/Foto traz o que há de mais novo na produção visual...............16CORREIO BRAZILIENSE - Brasília e Pirenópolis vão à ONU.............................................................17O ESTADO DE S. PAULO – História contada por imagens...............................................................18

MÚSICA.....................................................................................................................19CORREIO BRAZILIENSE - O canto de Villa-Lobos.............................................................................19THE NEW YORK TIMES (EUA) – Rustic Melodies Survive a Long Trip............................................20FOLHA DE S. PAULO - Paulinho da Viola celebra 70 anos com shows no Brasil e nos EUA...........21O GLOBO – De volta a depois do ANO 2000..................................................................................21CORREIO BRAZILIENSE – Olhar atento, língua afiada......................................................................22CORREIO BRAZILIENSE – Olha, que coisa mais linda!.....................................................................24O ESTADO DE S. PAULO - Mais um Grammy para a Bahia.............................................................26

LIVROS E LITERATURA..........................................................................................27FOLHA DE S. PAULO – 'Granta' exporta literatura atual brasileira....................................................27O ESTADO DE S. PAULO - Daniel Galera lança romance 'Barba Ensopada de Sangue'.................29O ESTADO DE S. PAULO - Festa Literária das UPPs discute a produção da poesia.......................29VEJA – A televisão em papel.........................................................................................................30

QUADRINHOS..........................................................................................................31CORREIO BRAZILIENSE - O virtual e o fantasmagórico em tiras.......................................................31

ARQUITETURA E DESIGN.......................................................................................31O ESTADO DE S. PAULO - Paris vista por criativos olhos brasileiros...............................................31

POLÍTICA CULTURAL..............................................................................................32O ESTADO DE S. PAULO – Bolsa familia da alma / Entrevista / Marta Suplicy................................32

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CINEMA E TVCORREIO BRAZILIENSE - Malandragem, dá um tempo!

Filme retrata a trajetória de Bezerra da Silva, um dos mais importantes e irreverentes sambistas brasileiros

Ricardo Daehn

(8/11/2012) “Com ele não tinha muito disso de representar as idílicas relações sociais. As canções tinham algo de protesto, de revolta. A radicalidade era o que nos encantava, por sermos jovens”, sublinha Simplício Neto, codiretor do recém-lançado longa-metragem Onde a coruja dorme, gabaritado a reavivar a imagem do sambista Bezerra da Silva. Doze anos depois da primeira investida no universo da música de Bezerra, também ao lado da diretora Márcia Derraik, que desembocou no curta Coruja, Simplício lembra a época de estudante,

na qual, pegou equipamento emprestado com a produtora TvZero, atual parceira na difusão do longa. “Com o curta, ganhamos o prêmio especial do júri, em Gramado (RS), e dois importantes prêmios do Festival do Rio. Usamos uma linguagem de resumo, para realizar 15 minutos de filme, a partir de mais de 60 horas de imagens e de rodarmos muitos morros e favelas”, conta.

Projeto ampliado, e vencidas problemáticas como a intrasigência das gravadoras na liberação dos direitos autorais, Onde a coruja dorme finalmente chega aos cinemas, depois de concebido em 2006. Num primeiro momento, não foi fácil convencer a adesão de Bezerra da Silva (morto aos 77 anos, em 2005, em complicações de uma pneumonia). “Ele falou que elogio não enchia barriga, com aquele jeito ácido dele. Mas, a gente disse que queria mais do que loa e elegia”, conta Simplício Neto. Para o afinamento de interesses, os realizadores sublinharam a vontade de enfocar os compositores dos sucessos de Bezerra — “queríamos reforçar eles como filósofos, pensadores da realidade brasileira”, diz. A sensibilidade de Bezerra foi acessada, na vontade de valorização de compositores anônimos como o bombeiro Pedro Butina e o carteiro Claudinho Inspiração.

“Ele garimpava, como um verdadeiro antropólogo, um pesquisador ou jornalista: garimpava essa produção anônima que poderia ter virado folclore sem a interferência dele”, observa Simplício. Ajudante de pedreiro, aos 15 anos, depois de versado em zabumba e coco, o pernambucano Bezerra, levado para o âmbito da relação profissional com a música, por empurrão do compositor Doca, sabia reconhecer esforços. “Já dava um épico contar a história de vida dele. A gente fez, na montagem do filme, uma articulação da visão que os compositores têm da música, da política e da poesia. A biografia deles transparece nas letras das músicas”, conta o diretor. No LP Alô malandragem, maloca o flagrante (1986), o sambista, por sinal, já havia reverenciado os parceiros.

Saídos da classe média, os diretores se embrenharam num mundo promissor. “Eu era mais do rock, do hip-hop. Aí, percebi algo degangsta rap no sambandido do Bezerra. Um samba mais urgente, que não se apoiava no pagode romântico. Muito de raiz, tem dose de virulência incrível que não embarca no alienante do pagode romântico”, detecta. Na investida pela trilha dos passos dos compositores, figuras raras como Embratel do Pandeiro e Alicate de Niterói ficaram de fora, mas quis o destino que os cineastas topassem com tipos como Gil de Carvalho, localizado por telegrama — “o sujeito não tinha nem telefone”, diverte-se Simplício. O caminho das pedras foi dado por Bezerra, que dizia: “O meu segredo é que eu vou onde a coruja dorme, aquele lugar difícil de ser localizado”.

Cotidiano cantadoAfundados em músicas como Candidato caô caô e Garrafada do Norte, os realizadores tiveram o privilégio da convivência com criadores do porte de Tião Miranda, Roxinho e 1000tinho, muitos dos quais formados na escola da vida. Bombeiro, militar, aposentado “por loucura ou efeitos do alcoolismo”, Popular P foi um dos integrantes da “boemia dionisíaca”.

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“Popular P acabou destruído pela cachaça e pela falta de oportunidade. Um dos compositores de Malandragem dá um tempo! Era impressionante aquele conhecimento musical forte, comentando a obra de Eumir Deodato e do César Camargo Mariano. Até o raro primeiro LP do Roberto Carlos ele tinha. E ele lá, vendendo discos na região da Baixada Fluminense”, conta Simplício. O diretor ressalta que a música imprimiu o ritmo de Onde a coruja dorme. “Tem uma relação com o humor e com as letras cantadas pelo Bezerra que falam de superação, numa nota de autoironia. As pessoas se divertem vendo o filme, já que ele mostra o bem brasileiro no jeito de ser do malandro carioca. Entram assuntos sérios, como a ação de bandidos e do narcotráfico, mas em tom engraçado. É um pouco daquilo que o hip-hop fala de maneira magoada”, avalia o cineasta.

Vencida a etapa “dos sem-tela”, como chegaram a se considerar os cineastas, dadas problemáticas no trâmite de emplacar o filme — “quase inviabilizado, pelas dezenas de milhares de reais dos direitos autorais, por causa da quantidade de música” —, Simplício comemora avanços como ter visto o Escritório Central de Diretos Autorais (Ecad) ser objeto de CPI e perceber mudanças na repercussão de documentários com pano de fundo musical, como foi o caso de Simonal — Ninguém sabe o duro que dei e Herbert de perto. “Com esses sucessos, as gravadoras viram que não vale muito a pena cercear a criação, cobrando caro. Pudemos negociar melhor. Em tempos de decadência, as gravadoras poderiam perceber o potencial promocional dessas obras. Bezerra gostava de nunca ser obrigado a pagar jabá pra tocar na rádio. Bezerra vendia pelo boca a boca, pelo natural sucesso popular”, conclui.

VALOR ECONÔMICO - 'Verônica' retrata Brasil promissor, mas em crise existencial

Por Bruno Yutaka Saito | De São Paulo

Em "Era Uma Vez Eu, Verônica", Hermila Guedes interpreta uma independente estudante de medicina recém-formada

(14/11/2012) Do sueco "Mônica e o Desejo" (1953) ao brasileiro "Todas as Mulheres do Mundo" (1967), o cinema tem longa tradição em retratar jovens mulheres fortes. Não raramente, essas personagens são síntese de espírito de época ou símbolo da busca libertária em uma sociedade repressora. A personagem central de "Era Uma Vez Eu, Verônica", filme de Marcelo Gomes que estreia amanhã nos cinemas, vive num mundo em transformação, onde a liberdade pode levar, ironicamente, ao sufocamento.

Entre o Brasil da euforia econômica e o Brasil da violência urbana, o filme está no meio, na Recife dos dias atuais. Verônica (Hermila Guedes) é uma estudante de medicina recém-formada que começa a trabalhar em um hospital público. Enquanto cuida do pai e passa por incertezas quanto ao futuro, ela faz sexo casual com homens que conhece em festas e evita assumir namoro com Gustavo (João Miguel).

Para entender "Era Uma Vez Eu, Verônica", é necessário entender o processo de criação de Gomes, que remete ao Brasil de duas décadas atrás. Naquele cenário de crise econômica e moral, o país praticamente não tinha mais uma produção cinematográfica. A maneira que Gomes, com 20 e poucos anos na época (e 49 atualmente), encontrou para se relacionar com os filmes foi criando um cineclube.

"Eu via filmes do [Ingmar] Bergman, do [Michelangelo] Antonioni, do Glauber [Rocha] e ficava imaginando como seria retratar a vida de uma jovem que vivesse no Recife", diz Gomes. Nesse hiato até a concretização de "Verônica", Gomes foi estudar cinema em Londres, filmou "Cinema, Aspirinas e Urubus" (2004) e "Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo" (2009), este ao lado de Karim Aïnouz, ganhou prêmios mundo afora e um reconhecimento crítico maior que o de público. Enquanto ia construindo uma consistente obra autoral, viu o Brasil se transformar num país onde a ascensão social é possível.

Ele sabia que os jovens de sua época não eram iguais aos de hoje. Para isso, foi a campo fazer entrevistas e levantou um painel dos anseios e aflições das jovens que estão deixando a

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adolescência para entrar na vida adulta. "Ficava até três horas entrevistando. Baixou um Eduardo Coutinho em mim", diz Gomes, que conversou com mais de 60 pessoas.

Dessa enorme quantidade de relatos, Gomes fez um diagnóstico que se estende a outras metrópoles brasileiras. "A sociedade ficou mais competitiva, o capitalismo ficou mais acirrado", afirma o diretor. "A luta por um espaço profissional está muito grande. Aos 23, 24 anos, já é necessário ter uma carreira sedimentada, mas o amadurecimento afetivo e emocional demora para chegar."

Em momentos que parecem documentário tamanho o naturalismo dos atores não-profissionais, Verônica atende pacientes e ouve relatos. Muitos sentem dores crônicas pelo corpo. Alguns sentem um vazio existencial insuportável. Um dos rapazes, em estado catatônico, não fala há dias. Retrato do Brasil dos dias de hoje?

"As condições materiais hoje são melhores do que há 20 anos. No geral, a população tem acesso a bens básicos", afirma o diretor. "Quando uma sociedade atinge certo estágio de equilíbrio, surgem as questões existenciais."

É um Brasil de contrastes, que o filme registra sem a necessidade de discursos moralistas. Basta Gomes ligar a câmera para essa realidade se descortinar. Os prédios luxuosos da Recife da especulação imobiliária não conseguem esconder um centro degradado e de sistema hospitalar precário. "Verônica sai da faculdade e vai para um hospital público, colocada na jaula com os leões. É o Brasil real."

O espírito de época do individualismo, condensado em Verônica, surge em visão sem maniqueísmos. "Verônica não é politicamente correta. Às vezes ela é egoísta, usa as pessoas, é condescendente com ela mesma. Ela quer se compreender melhor. Não é a transformação hollywoodiana, em que os personagens mudam da água pro vinho."

Nessa opção narrativa, Gomes vai na contramão do cinema que faz sucesso comercial no Brasil. "As novelas televisivas são a base dramatúrgica dos brasileiros." Mas, para um cinema que almeja não apenas o público local, é necessário uma voz local. "É aquela ideia do Fernando Pessoa: o rio que corre na sua aldeia é como qualquer outro; ele tem outro nome e é o único que corre na sua aldeia", afirma Gomes. Ao menos no circuito de festivais, o filme vai comprovando a força da produção cinematográfica do Recife, a mais pulsante hoje em termos autorais - "Verônica" venceu nos festivais de Brasília e no da Amazônia.

TEATRO E DANÇA

O GLOBO – Musical evoca a vida e a obra do 'rei do baião'

O diretor João Falcão encontra o caminho certo para mesclar pesquisa e ficção, encenando uma agradável e merecida homenagem

Barbara HeliodoraAna Branco

(11/11/2012)M As lendas sempre vivem de fato e ficção, e João Falcão soube aproveitar essa dualidade, apresentando seu espetáculo sobre a vida e a carreira de Luiz Gonzaga, "o rei do baião", de início, dizendo "Pedimos vossa licença/Pra desfiar uma história/Um fabuloso destino/Contando assim de memória/A aventura de um menino/Em seu caminho pra glória". Apoiando seu texto, de começo ao fim, na história que pode ser tirada da música do mestre, o autor encontra o caminho certo para a mescla de verdade pesquisada e ficção, pois a escassez de informações, explicando que os fatos vêm de um tempo que vai longe, e "O resto nós deduzimos/juntando pista com pista". O resultado é um espetáculo que a cada episódio da vida, seja ele fato ou ficção, evoca a música que se segue, em um conjunto alegre, que faz o público sentir a força da obra desse

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compositor/cantor/sanfoneiro, que pode ter passado de moda mas está sempre viva onde houver uma sanfona por este Brasil afora.

Tudo na encenação fala do mundo de Luiz Gonzaga; o cenário simples e os adereços fartos e típicos de Sérgio Marimba, como os figurinos de Kika Lopes, evocam tanto os tempos de Gonzagão quanto as festas populares de hoje, tudo completado pela direção de movimento de Duda Maia, e bem iluminado por Renato Machado. A direção musical é de Alexandre Elias; a preparação vocal, de Carol Futuro; e a direção de João Falcão conduz tudo para dar corpo à lenda de Gonzagão, mantendo todo o conjunto o mais próximo possível do universo de que ele nasceu e que ele tão bem cantou em sua música.

Cercando Marcelo Mimoso, cuja intimidade com o acordeão e a música do homenageado supera, com lucro, a inexperiência de palco, Laila Garin se desdobra em vários papéis, assim como fazem também Adrén Alves, Renato Luciano, Paulo de Melo, Eduardo Rios, Alfredo del Penho, Ricca Barros e Fábio Rodrigues, com bom rendimento nos diálogos e principalmente quando interpretam em conjunto as músicas de Luiz Gonzaga. Eles são acompanhados pela viola e rabeca de Beto Lemos, pelo cello de Daniel Silva/Hudson Lima, pela percussão de Rick de la Torre e pelo acordeão de Rafael Meninão/Marcelo Guerini, que dão o apoio certo para o mundo do baião.

"Gonzagão - A lenda" é uma agradável e merecida homenagem e evocação de uma figura marcante, cujo sucesso marcou época. As melodias e ritmos do "rei do baião" que a compõem mostram bem o quão variadas são as formas da imensa riqueza da música popular brasileira.

O ESTADO DE S. PAULO – Boal além das homenagens

Ciclo de peças e debates festeja legado de Augusto Boal

Maria Eugênia de Menezes

(13/11/2012) Reconhecido internacionalmente, Augusto Boal ocupa um lugar único no teatro nacional. Em 1960, revolucionou a cena ao dirigir o Teatro de Arena, mudou as feições da nossa dramaturgia e concebeu uma metodologia de trabalho, o Teatro do Oprimido, que ainda hoje corre o mundo. Por tudo isso, o diretor e teórico merece todas as honras e homenagens. Mas não é propriamente como um festejo que foi concebida a programação que o Sesc Pompeia abre nesta terça-feira, 13.

Com curadoria do diretor Sérgio de Carvalho e da psicanalista Cecília Boal, viúva do artista, o evento Pompeia Conta Boal tem a intenção de trazer para a ordem do dia ideias e conceitos formulados por Boal. "Mais do que homenagear, o objetivo era trazer o trabalho do Boal para ser utilizado como uma ferramenta de trabalho para os artistas de hoje", diz Carvalho. "Os encontros também foram concebidos pensando em aproximar diferentes gerações."

Em uma série de palestras, leituras e debates, antigos parceiros do diretor - morto em 2009 - estarão misturados a jovens criadores, novos representantes do teatro político que se pratica hoje no País. Será dessa maneira que nomes como Lauro César Muniz, Benedito Ruy Barbosa e Lima Duarte poderão conviver e trocar experiências com Georgette Fadel, Isabel Teixeira e Marco Antonio Rodrigues. "Boal sempre esteve interessado no que as outras gerações estavam fazendo. Até o fim, permaneceu aberto e curioso", observa Cecília.

Durante o ciclo, que se estende até 13 de dezembro, as obras mais marcantes de Augusto Boal estarão contempladas. Não faltarão, porém, descobertas recentes feitas dentro do arquivo do artista, hoje sob a guarda da UFRJ. Depois de quase deixar o País, a coleção agora abrigada no Rio está sendo catalogada, e deve ser submetida, em breve, a trabalhos de digitalização e organização.

Para abrir a extensa agenda, há hoje, às 21 h, uma leitura cênica de Revolução na América do Sul. Inovador, o texto marcou época ao sinalizar a aproximação de Boal com o teatro épico de Bertolt Brecht. Também surpreendia por sugerir uma apropriação das formas do teatro popular brasileiro, como as revistas musicais. Quem conduz a leitura é o curador Sérgio de Carvalho, que elencou para a tarefa o seu grupo, a Cia. d o Latão, o coletivo de cultura do MST, além de convidados especiais, como João Pedro Stédile e Nelson Xavier.

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Ao colocar na mesma situação atores e não atores, o procedimento evoca o sistema do Teatro do Oprimido, criado apenas nos 1970. E ajuda a comprovar a tese de Carvalho: de que o percurso de Boal não se divide em períodos estanques e indissociados. "Muitas das ideias que ele formalizou no período do exílio já estavam sendo gestadas nos laboratórios que ele realizava dentro do Arena."

A presença de Boal no Arena foi determinante para a virada que as artes cênicas viveriam nos anos 1960. A estreia de Chapetuba Futebol Clube, de Oduvaldo Viana Filho, em 1959, já dava sinais da direção vigorosa, distante dos cânones do realismo, que ele imprimiria à cena. Outro espetáculo marcante desse período foi Arena Conta Zumbi, musical que o público poderá conhecer em nova montagem assinada pelo veterano diretor João das Neves.

Escrito por Boal em parceria com Gianfrancesco Guarnieri, Arena Conta Zumbi revisitava, em plena ditadura militar, o episódio histórico do Quilombo dos Palmares. A peça carregava em seu bojo a experiência que Boal acumulou ao dirigir o mítico show Opinião, com Zé Kéti, João do Vale e Nara Leão, depois substituída por Maria Bethânia. Além disso, o trabalho possuía dois traços inovadores: A música, composta por Edu Lobo, que interligava as cenas e aparecia como elemento narrativo. E um sistema de interpretação conhecido como curinga. Zumbi serviu como primeiro experimento para a ideia de que os atores não deveriam ocupar papéis fixos, mas se revezar para fazer todas as personagens.

Foi justamente por conseguir conciliar prática e reflexão que Boal se destaca de maneira tão contundente. "É raro que um artista consiga formular teoricamente os princípios daquilo que faz", observa Cecília. Outro traço que diferencia a trajetória de Boal, acredita Sérgio de Carvalho, era o seu perfil mobilizador, capaz de aglutinar pessoas e de fazer projetos se concretizarem.

O ESTADO DE S. PAULO – Fábula sobre ofício do ator

Em Jacinta, Andréa Beltrão 'contracena' com Gil Vicente e Shakespeare, que revelam a imortal paixão pelo ato da encenação

UBIRATAN BRASIL

(14/11/2012) Andréa Beltrão já se preparava para cantar em cena: há 14 anos a atriz toma aulas de canto, modulando a voz que já utiliza com maestria na comédia e no drama. "A má atriz só aparece nos momentos em que Jacinta está representando para alguém. No restante do tempo, é a excelente atriz que Andrea é", comenta o diretor Aderbal Freire-Filho.

De fato, nas cenas de ensaio acompanhadas pelo Estado, no sábado, ela caprichou no timbre, pulando do drama para a comédia sem grande esforço. E, para completar, utilizando um sotaque português. "Adoro falar com sotaque, pois me dá outra persona", conta Andréa, que passou 20 dias em Portugal neste ano, conhecendo familiares do marido (o diretor de TV e cinema Maurício Farias).

O treino para valer, no entanto, foi vendo e ouvindo Raul Solnado (conhecido ator e humorista português, que morreu em 2009) e a famosa cantora Amália Rodrigues (1920- 1999). "Vi cenas hilariantes de entrevistas da Amália", diverte-se. "Ela era incisiva nas respostas, deixando qualquer perguntador atônito."

O uso do sotaque português pelos atores em boa parte do espetáculo tem um quê de fidelidade e outro de recurso teatral, reafirmando o tom cômico da peça. Em cena, Andréa divide o palco com Augusto Madeira, Gillray Coutinho, Isio Ghelman, José Mauro Brant e Rodrigo França, atores com os quais já trabalhou antes, o que reforça o sentido de homenagem ao teatro proposto pelo texto.

Todos cantam de música medieval a rock, passando pelo tradicional fado. O que poderia parecer um anacronismo - afinal, a história começa no século 16, quando Jacinta "mata" a rainha portuguesa com sua desastrosa interpretação - revela, na verdade, a despreocupação de Freire-Filho e Newton Moreno com o realismo: para eles, não houve interesse em reconstituir fielmente a História. "Fico com a neutralidade, o que, para o anacronismo, é um passo", observa o diretor.

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É tal liberdade que permite oferecer verdadeiras viagens filosóficas, como a presença do autor português Gil Vicente, morto por volta de 1536, utilizando uma máquina de escrever. Ou ainda Jacinta revelando, em um certo momento, sua enorme vontade de conhecer Nelson Rodrigues. É em um pequeno texto do escritor pernambucano, aliás, que Andréa se inspira para os momentos 'desastrosos' - autêntica defesa do mau intérprete, a crônica termina de forma ribombante, como se espera na escrita de Nelson Rodrigues: "A verdadeira vocação dramática não é o grande ator ou a grande atriz. É, ao contrário, o canastrão, e quanto mais límpido, líquido e ululante, melhor".

A música serviu ainda para a melhor costura das falas de Jacinta - Freire-Filho lembra que, em determinados momentos, trocou três cenas pela canção que conta a entrada da protagonista no Brasil. Sim, depois de provocar a morte da monarca portuguesa, Jacinta é exilada na então colônia, onde, na busca pelo sucesso e aplauso, se junta a cinco homens para formar um grupo.

Trata-se de uma nova forma de homenagear o ato teatral, como explica Freire-Filho: "Essa formação de uma mulher e cinco homens é a mesma de um cambaleo, um dos oito tipos de trupe teatral que existiam no Século de Ouro espanhol, entre o 16 e o 17", comenta. "É como se cinco atores de hoje encontrassem uma atriz portuguesa do século 16 e empreendessem com ela uma jornada que vai retornar aos dias de hoje."

"É um poema cênico de amor a esse ofício", completa Newton Moreno, em declaração que consta no material de divulgação. Ele destaca uma cena para traduzir essa ideia: atores fantasmas voltam do além para atuar, tamanha a saudade que sentem do teatro. Em um instante mágico, Shakespeare aparece em pessoa, disposto a ajudar Jacinta a se tornar uma boa atriz. Sua fala é baseada na famosa cena em que Hamlet orienta um grupo de atores. É um dos momentos de Jacinta em que a comédia divide o palco mais claramente com a emoção. "Em meio ao tom farsesco, há bolsões de certo lirismo", afirma ainda Moreno.

Em sua eterna busca pelo reconhecimento, Jacinta conhece vários personagens e chega a formar um grupo com três 'marginais' (na verdade, um homossexual, um judeu e um negro), o que resulta na sua prisão. Ela é obrigada a representar para o inquisidor, que, tal como a rainha, morre pasmo com o desastre interpretativo.

Sem se abalar, o assistente do inquisidor decide se unir à trupe, que se torna em seguida um cambaleo com a chegada de um coveiro. E a casa ao lado de um cemitério é transformada na sede do grupo - outra homenagem, agora ao Teatro Poeira, onde Jacinta estreia amanhã, reduto fundamental da arte, administrado por Andréa e Marieta Severo e que se localiza próximo do cemitério São João Batista.

Jacinta ainda enfrenta muitos percalços em sua jornada por São Vicente, Rio, Recife, Salvador, Vila Rica (hoje Ouro Preto), chegando à linha do Tratado de Tordesilhas, que dividia o chamado Novo Mundo entre Portugal e Espanha. Ao longo de tal jornada, persiste a dúvida se Jacinta conseguirá ou não se tornar uma boa atriz, resposta que vem no final, em mais um tour de force de Andréa Beltrão.

ARTES PLÁSTICASBBC BRASIL - Grafiteiros transformam muro de embaixada brasileira em Tóquio em obra de arte

(8/11/2012) A fachada da embaixada do Brasil em Tóquio, no requintado bairro de Aoyama, ganhou cores e desenhos que chamam a atenção de quem passa por lá.

Trabalho de Titi Freak e Presto foi transmitido ao vivo pela internet

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Durante cinco dias, os grafiteiros Hamilton Yokota, mais conhecido como Titi Freak, e Marcio Penha, o Presto, transformaram o espaço numa verdadeira obra de arte a céu aberto.

Todo o processo pode ser acompanhado ao vivo pela internet. Uma equipe de vídeo ficou de plantão e registrou com duas câmeras toda a transformação do muro.

Chamado de "Live Graffiti @ Brazilian Embassy", o projeto fez parte da Tokyo Designers Week, uma semana repleta de atividades na capital japonesa ligadas à arte em geral.

"Para esse trabalho, exploramos bastante os elementos regionais e folclóricos da nossa cultura brasileira", contou Presto à BBC Brasil.

A obra dos brasileiros na embaixada brasileira poderá ser vista até meados de janeiro de 2013.

"Foi uma iniciativa de muita coragem por parte da embaixada, porque por mais que o grafite já esteja incorporado à cultura brasileira e já faça parte da nossa paisagem urbana, aqui ainda é algo muito desconhecido", diz Presto.

"Acho muito corajoso trazer essa técnica para o público japonês, que não está muito acostumado e poderia até ficar chocado com nossa ação. Mas está sendo muito bem recebida e estou muito orgulhoso de participar disso."

Titi concorda com o companheiro de trabalho. "Durante esses dias, as pessoas começaram a perceber esse mural e a ter uma participação com a gente. Pelo que vimos, as pessoas estão felizes com o painel, pois aqui não tem muito esse tipo de intervenção artística."

Grafite na embaixada tem elementos da cultura e do folclore do Brasil

A japonesa Tamiko Kanaya foi uma das que registrou todo o processo. "Trabalho aqui perto e vim todos os dias para ver a evolução do mural", contou. "Estou surpresa com essa arte, tão rica em detalhes. É uma verdadeira interação com a cidade, com o concreto e com os moradores", emendou.

Experiência

Os dois artistas são mestres em intervenções urbanas. Presto já fez várias exposições e deixou sua marca em diversos projetos pelo Brasil.

Para Tóquio, ele também levou uma exposição de fotos, quadros, adesivos e desenhos, que fica exposta até dia 14 de novembro na própria embaixada brasileira.

Já Titi, que mora há um ano em Osaka, realizou um projeto artístico recentemente em parceria com a Fundação Japão e apoio da Embaixada do Brasil em Tóquio, nos alojamentos temporários para vítimas do tsunami na cidade de Ishinomaki.

Além de São Paulo, as obras do artista já foram exibidas em galerias de Londres, Madri, Paris, Newcastle, Tóquio, Osaka, Nova York, Los Angeles, Vancouver e Berlim.

FOLHA DE S.PAULO - Crítica: Exposição de Adriana Varejão no MAM impressiona e seduzFABIO CYPRIANO

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(9/11/2012) A contundência do conjunto das obras apresentadas na exposição "Adriana Varejão - Histórias às Margens", em cartaz no MAM (Museu de Arte Moderna) de São Paulo, é impressionante.

O caráter agressivo na poética da artista, de uma violência que vem à luz de azulejos asseados ou de imagens de um Brasil idílico, criado por artistas viajantes como Frans Post (1612-1680), se torna uma nova narrativa sobre o país da cordialidade.

É o que se observa em obras como "Laparotomia Exploratória 1" (1996) ou "Carne à Moda de Frans Post" (1996), duas das 39 selecionadas pelo curador Adriano Pedrosa.

Em grande parte dos trabalhos na exposição, Varejão aponta que o conflito é camuflado, escondido, mas latente, visceral. Ele emerge, contudo, de entranhas sangrentas, tal como lavas de um vulcão em ebulição, como ocorre em "Azulejaria Verde em Carne" (2000).

Entretanto, não é só nessa temática de revisionismo histórico que toda a contundência da exposição se apresenta.

Varejão prova ser capaz de criar um imaginário condizente com essa questão, que se mostra tão explícito porque ela trata suas pinturas como corpos e não apenas como meras telas.

O impressionante nas obras de "Histórias às Margens" é perceber como a busca pela tridimensionalidade, que norteou parte da produção nacional dos anos 1960 e 1970, não busca a participação do espectador, mas o repele. Como cadáveres, no entanto, elas seduzem pelo prazer da dor e do exagero, a exemplo do que faz toda a estratégia da arte barroca.

"Carne à Moda de Frans Post"(1996), obra que está na exposição do MAM

Para criar tais efeitos, Varejão se mostra, do ponto de vista formal, impecável. Suas pinturas são irretocáveis e criam uma aparência realista perfeita. A técnica, no entanto, não é a questão essencial. É apenas um meio para a artista alcançar seus objetivos, o que a distingue do debate estéril sobre a pertinência da pintura.

Varejão não merece ser tratada apenas como ótima pintora, mas sim como grande artista.

O percurso, organizado em ordem quase toda cronológica, tem entre suas últimas obras quatro trabalhos recentes, como "Pratos com Mariscos" (2011). Grandes pratos de parede, com frutos do mar ou frutas, eles destoam da agressividade da mostra, mas podem sinalizar um novo caminho em desenvolvimento.

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FOLHA DE S.PAULO - Exposição reúne obras de grafiteiros candidatos a capa de CD de Madonna(9/11/12) DE SÃO PAULO - Começa hoje no Museu da Imagem e do Som mostra com 30 obras de grafiteiros candidatas a estampar a capa de "Superstar", novo single que a cantora Madonna lançará no Brasil no mês que vem.

Desembarcando no país com a turnê de seu último disco, "MDNA", Madonna vai escolher a obra de um artista brasileiro para seu disco.

Todas as peças podem ser vistas no MIS a partir de hoje, mas também estão on-line. O público pode votar em suas preferidas em projetokeepwalkingbrazil.com.br, no Facebook. A iniciativa é uma parceria entre a Folha e a Johnnie Walker.

As obras foram elaboradas por um time de artistas ao longo de um workshop coordenado pelo grafiteiro Binho Ribeiro e pelo diretor de arte da cantora, Giovanni Bianco.

Enquanto algumas propostas são mais convencionais, com imagens do rosto de Madonna ou retratos mais ou menos distorcidos da diva, outras peças fazem alusão ao universo do grafite e à tipografia da arte de rua.

Uma das obras, assinada pela grafiteira Simone Sapienza, a Siss, mostra Madonna com uma lata de spray em cada mão e uma mensagem sobre seus shorts -um chicote completa o quadro.

Há trabalhos, como os do grafiteiro Renato Blaschi, ou Bla, e de Leonardo de Campos Patrocínio, o Leo DCO, que usam imagens de outros personagens para a capa.

"Superstar", uma das faixas do último disco de Madonna, fala de uma atração sem limites por alguém comparado na letra a Bruce Lee, Marlon Brando, John Travolta e Abraham Lincoln.

O ESTADO DE S. PAULO – O paraíso de um esquecido Galeria Estação expõe obras de Júlio Martins da Silva

Neto de escravos, pobre e sem família, artista pintou um mundo avesso à miséria que o cercou

ANTONIO GONÇALVES FILHO

(13/11/2012) Só mesmo o olhar de um pintor como Paulo Pasta para redescobrir um artista de uma delicadeza suprema, mas esquecido. Neto de escravos, órfão de pai e mãe analfabetos, Júlio Martins da Silva viveu 85 anos e morreu sozinho, numa favela do morro União, em Coelho da Rocha (RJ). Foi peão e cozinheiro, após trocar sua cidade natal, Icaraí, pelo Rio de Janeiro, aos 17 anos, quando o pai morreu. Chegou a dormir na rua, mas a pintura compensou o artista com o reconhecimento tardio da Bienal da Veneza, que mostrou suas telas em 1978, mesmo ano de sua morte. Seis anos depois, foi a vez de Washington, a capital americana, conhecer sua arte. Museus compraram trabalhos do artista.

Depois, o silêncio, interrompido vez ou outra por uma pequena mostra em galerias particulares. Agora, a Galeria Estação presta justa homenagem a ele com a abertura, nesta terça-feira, 13, de uma exposição com 17 pinturas do acervo da galerista Vilma Eid.

Curador da mostra, Pasta viu pela primeira vez o trabalho de Júlio Martins da Silva reproduzido no livro Mitopoética de Nove Artistas Brasileiros, de Lélia Coelho Frota.

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Posteriormente, assistiu a um filme dirigido pelo secretário de Cultura de São Paulo, Carlos Augusto Calil, quando era professor da ECA-USP, chamado O Que Eu Estou Vendo Vocês Não Podem Ver (1978). Ele traz imagens reveladoras do universo do pintor e do próprio, que começou a "aperfeiçoar" sua arte só quando se aposentou.

Aperfeiçoar era mesmo a palavra. Embora tenha começado a usar o lápis crayon aos 29 anos, como conta Lélia Coelho Frota em seu Pequeno Dicionário do Povo Brasileiro, Júlio Martins da Silva levaria quase duas décadas até desenhar com lápis de cor, aos 47. Só ao se aposentar é que ele foi usar tinta e pincel para produzir suas obras, a maioria paisagens em que a cor verde (sua preferida) predomina em seu mundo ideal, construído de maneira absolutamente simétrica. "Parece que o mundo criado por ele remete ao ideal renascentista, um mundo utópico, bem diferente daquele que habitamos", observa o curador. A natureza "arrumada", os jardins bem cuidados, a serenidade dos ambientes, a arquitetura solene das construções, em tudo esse mundo contrasta com a realidade vivida pelo pintor.

Involuntariamente, ele faz dessa "arrumação" um cenário equivalente ao da paisagem dos metafísicos italianos, plácida, alheia à passagem do tempo, embora não enfatize o caráter enigmático desse mundo enxertando o inaudito. Júlio tenta construir uma narrativa poética sutil, equivalente à impressão provocada nele pela leitura dos românticos Castro Alves e Casimiro de Abreu. Pasta destaca o papel desse último em sua formação. Vindo da roça, Júlio foi alfabetizado e tomou gosto pela leitura, buscando um professor particular para aprender gramática. Talvez pela simplicidade da linguagem e o tom ingênuo do poeta de Meus Oito Anos, o pintor tenha se identificado tão profundamente com Casimiro de Abreu.

A nostalgia nativista de Casimiro encontra correspondência nas telas do pintor - um "mundo ordenado, de sentimentos delicados, sublimado, em que a perspectiva do Renascimento e a simetria revelam uma vontade de livrá-lo do vazio", analisa o curador, chamando a atenção para a pequena tela (27 x 41 cm) A Leitura, em que um casal lê num jardim paradisíaco, encostado a um tronco de árvore.

Não há, segundo Pasta, a presença de exótico nessas paisagens, o que impossibilita uma comparação com as pinturas do "naïf" francês Henri Rousseau (1844-1910), francamente apaixonado pela paisagem tropical, que pintou como um protorenascentista, embora a perspectiva espacial de ambos desafie os racionalistas. "Os quadros de Júlio não são fantasiosos, suas paisagens estão mais próximas de evocações, do arquétipo do jardim, da natureza cultivada, paradisíaca, posta em ordem." O pintor gostava muito de sonhar, como diz no filme de Calil. Quando acordava, tratava de esquecer o real e mergulhar de novo nessa paisagem, para a sorte de quem ainda vive a miséria estética que Júlio testemunhou em vida.

CORREIO BRAZILIENSE - Conexões contemporâneasMostra reúne uma preciosa coleção de artistas do modernismo e estabelece um diálogo com os novos criadores

Nahima Maciel

O impacto gerado pelas ideias modernistas apresentadas durante a Semana de 22 contaminou a arte brasileira para sempre. A vontade de encontrar uma expressão genuinamente nacional e construir, a partir dela, a vanguarda artística no país guiou nomes como Anita Malfatti, Mario de Andrade, Tarsila

do Amaral, Oswald de Andrade e Heitor Villa-Lobos. Suas produções tiveram o efeito de um terremoto e foi por isso que Wagner Barja escolheu o título de Semana sísmica — correspondências modernas para a exposição que revisita o evento modernista e promove o diálogo daquele início de século com a arte contemporânea.

Pintura de Lasar Segall

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Em cartaz no Museu Nacional dos Correios, a mostra coloca lado a lado obras dos modernistas e de artistas contemporâneos para comemorar os 90 anos da Semana de 22. “A abordagem é diferente porque mostra os precedentes modernos e os desdobramentos do modernismo. É uma exposição bastante historicista, tem um mapa com uma contextualização do modernismo”, avisa o curador Wagner Barja. Ele foi buscar em coleções públicas e particulares — a maior parte de Brasília — as obras para o módulo histórico da exposição. Conseguiu reunir obras de Lasar Segall, Vicente do Rego Monteiro, Rebolo, Guignard, Portinari, Anita Malfatti, Di Cavalcanti e Tarsila do Amaral. Pintores como Aldo Bonadei, Clóvis Graciano, Rebolo, Alfredo Volpi e Mario Zanini, que não chegaram a integrar o movimento modernista, também entraram na mostra como representantes do Grupo Santa Helena, uma reunião de jovens de origem operária cuja pintura não se encaixava em searas eruditas nem acadêmicas.

O confronto entre o modernismo e a arte contemporânea, para Barja, é algo natural, apesar de nem sempre explícito. Entre os artistas convidados para produzir obras para a mostra estão Paulo Bruscky, Anna Bella Geiger, Waleska Reuter, Ralph Gehre, Gê Orthof, Elyeser Szturm, Milton Marques, Elder Rocha, Xico Chaves, Armando Queiroz e Galeno. Para alguns, a relação com o movimento é clara e imediata. Anna Bella Geiger, Xico Chaves e Paulo Bruscky experimentaram trajetórias marcadas pelas mesmas noções de ruptura que orientavam os modernos. Já a geração mais jovem nem sempre enxerga uma relação objetiva entre sua própria produção e o movimento. “Mas o modernismo foi uma ruptura e a arte contemporânea hoje provoca rupturas. A cada mensagem vem uma reprovação no campo político, estético, social e o modernismo foi exatamente isso: uma provocação”, explica Barja. ”

A artista Waleska Reuter reconhece a projeção do movimento modernista na arte brasileira, mas não identifica no próprio trabalho uma relação direta com as ideias vanguardistas do início do século 20. As instalações de Waleska mergulham em conceitos psicanalíticos e questões de gênero. Em Ponte , dois manequins estão ligados por um falo desproporcional, uma maneira de a artista abordar a noção de apelo sexual na sociedade contemporânea. “O modernismo é importante e é uma ponte para o que estou fazendo agora, mas acho o movimento um pouco simples demais. Gosto mais do barroco, do antigo, do muito dourado. Mas o modernismo foi muito libertário”, diz a artista.

Milton Marques também não enxerga relações diretas entre o modernismo e suas engenhocas construídas com engrenagens de máquinas variadas, mas ficou contente de mostrar as duas instalações selecionadas em Brasília. Em uma delas, um desenho sobre uma camada de areia é incessantemente inscrito e apagado. “Como se fosse uma gravura infinita”, avisa o artista. Já Elyeser Szturm aponta um diálogo muito claro entre as ideias modernistas e sua instalação sonora construída

com sons gravados durante festas kalunga no interior de Goiás. “Tem tudo a ver porque o modernismo tem um cuidado especial com a tradição”, repara Szturm.

FOLHA DE S. PAULO – Kiko Farkas exibe sua arte gráfica no Irã

Convidado especial de festival anual de design gráfico, paulistano é primeiro latino-americano a expor em Teerã

Mostra com 200 trabalhos tem desde série de cartazes para Osesp até prancha de surfe feita para BMW

SAMY ADGHIRNI DE TEERÃ

(12/11/2012) Um dos mais respeitados designers brasileiros tornou-se o primeiro artista latino-americano a abrir uma exposição de obras gráficas na República Islâmica do Irã.

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O paulistano Kiko Farkas, 54, inaugurou uma mostra na última sexta-feira com cerca de 200 trabalhos seus na Casa dos Artistas Iranianos, no centro de Teerã.

Centenas de pessoas estiveram no local para a abertura da montagem, que foi precedida por uma palestra do artista brasileiro.

A exposição inclui cartazes para filmes e para a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), capas de livros (como os que ele fez para obras de Jorge Amado e do Nobel sul-africano J. M. Coetzee) e objetos encomendados por grandes empresas, como uma prancha de surfe realizada para a BMW.

Com cores chamativas e predominância de curvas, as obras surpreenderam muitos iranianos. "Fico impressionada com essa liberdade de criar formas. Gostei muito das cores calorosas e envolventes. Nunca havia visto nada parecido", disse a artista plástica Simin K., 29.

O estudante de design Amir H., 24, afirmou que a exposição destoa da imagem que ele tem do Brasil. "Para mim, o país evocava cenários como os do filme 'Cidade de Deus', mas essa mostra traz algo bem diferente disso."

Farkas se disse "muito empolgado" por estar no Irã e afirmou estar interessado em conhecer melhor a arte gráfica no país persa.

"Os iranianos têm uma ligação muito forte com a caligrafia. No Brasil a escrita não tem esse [aspecto] pictórico."

Farkas está no Irã como participante do festival anual que homenageia Morteza Momayyez, tido como o pai do design gráfico iraniano, que morreu em 2005.

O convite foi feito pelo filho de Momayyez, que se encantou com as obras de Farkas ao descobri-las durante um congresso de design no Porto, há dois anos.

ISTOÉ - Ensaio sobre a liberdade

Nove intervenções no CCBB-SP desafiam o edifício e funcionam como metáforas da ação da arte sobre a sociedade

por Paula Alzugaray

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VERTIGEM Cortina de Cristiano Rennó instalada no vão central do edifício

(14/11/2012) Em 1974, o artista americano Gordon Matta-Clark (1943-1978) empunhou motosserra e britadeira e dividiu ao meio uma casa da periferia de Nova York. A ação, intitulada “Splitting”, dava início a sua série de building cuts. Matta-Clark era formado em arquitetura, mas se celebrizou desmontando e perfurando edifícios. Sua “anarquitetura” foi determinante para mostrar que a arte não é unicamente aquilo que ocupa o espaço, mas é o próprio espaço, modificado pela intenção artística. Assim, Matta-Clark tornou-se uma baliza para artistas que têm a arquitetura como objeto de investigação. Hoje, ele compõe uma das bases de sustentação de “Planos de Fuga – Uma Exposição em Obras”, transferindo para o edifício do CCBB, em São Paulo, a instabilidade de sua anarquitetura.

A exposição reúne nove artistas contemporâneos e três “históricos”: Matta-Clark, Claudia Andujar e Robert Kinmont. O escritor Adolfo Bioy Casares poderia ter sido considerado o quarto artista histórico, na medida em que o título de seu romance “Plan de Evasión” (1945) foi apropriado pelos curadores da exposição, Rodrigo Moura, do Centro de Arte Inhotim, e de Jochen Volz, curador da Serpentine Gallery, de Londres.

Fuga e instabilidade são os dois conceitos-chave dessa exposição, que tem como tônica o conceito da liberdade. A fuga é a sensação regente da instalação do colombiano Gabriel Sierra, uma espécie de “não-lugar” (conceito do antropólogo Marc Augé para designar lugares de passagem, sem identidade definida). Seu trabalho funciona como um “negativo” do espaço expositivo, uma área vazia, de paredes móveis, onde o espectador não encontra nada além de fragmentos de memória de exposições passadas, que já ocuparam aquele espaço. A fuga também equivale ao efeito ótico produzido pela cortina de plástico, instalada por Cristiano Rennó no vão do edifício, endossando seu caráter vertiginoso.

A instabilidade está muito bem representada pelas instalações de Rivane Neuenschwander e Sara Ramo, que propõem experiências quase arqueológicas em relação ao edifício do CCBB, dialogando com muita intimidade com as escavações de Matta-Clark. Rivane, na obra sonora “The Conversation” (2010), aplicou materiais de revestimento às paredes e ao chão da sala, onde escondeu microfones. Como uma trama literária de perseguição e fuga, o trabalho consistiu em gravar todos os movimentos de uma pessoa que rasga e descasca impiedosamente o espaço, à procura dos aparelhos. Como resultado, o visitante encontra um espaço semidestruído, com a trilha sonora de uma busca.

Fuga e perseguição também determinam a instalação de Sara Ramo, no subsolo, onde se encontra a caixa-forte do antigo banco. A obra – uma das melhores jamais produzidas nesse espaço – consiste em um ambiente labiríntico que se assemelha a um canteiro de obra inacabada, repleto de dejetos e resquícios das vidas daqueles que supostamente trabalhariam ali – operários, mineradores ou ladrões. Altamente sugestivas, as instalações de “Planos de Fuga” oferecem ao espectador vias de escape da vida ordinária.

FOTOGRAFIAO ESTADO DE S. PAULO - SP-Arte/Foto traz o que há de mais novo na produção visual

A programação da sexta edição do evento reúne 23 galerias, lançamentos de livros e debates

SIMONETTA PERSICHETTI - especial para o 'Estado'

(8/11/2012) Nas duas últimas décadas, a fotografia explodiu nas mais variadas práticas artísticas e documentais, quebrando fronteiras e colocando-se como polo de discussão da nova - ou mais certo seria dizer - atual forma de visualidade. Uma fotografia que, como afirma a filósofa francesa Dominique Baque, "não se pretende mais heroica, mas uma imagem que brinca com a banalidade". É assim que encontramos possibilidades múltiplas para o fazer fotográfico, hoje em dia: desde experimentações tecnológicas até situações familiares.

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Esse parece ser o fio condutor que acompanha toda a produção contemporânea: o ordinário, banal, familiar, uma ancoragem no cotidiano. Ao mesmo tempo, lembra-nos ainda a filósofa, numa tentativa de nos ajudar a compreender a produção atual, que desde os anos 80 estamos procurando "cenografar" a cultura, a teatralização do gesto. "A citação de quadros, a busca de uma ambição teórica na produção das imagens - do banal à fotografia erudita, passando pela intimidade do sujeito -, o campo da fotografia contemporânea é, muitas vezes, visto como um campo de tensão." O discurso, a fala torna-se, com frequência, mais importante do que a própria construção visual.

Parte desse arsenal imagético poderá ser visto a partir de amanhã na sexta edição do SP-Arte/Foto, uma reunião de 23 galerias que nos dão um panorama da fotografia nacional e internacional. Depois de cinco anos, o evento muda de endereço e passa a ocupar dois andares do Shopping JK Iguatemi, tornando-se uma das mais importantes feiras fotográficas da América Latina. Além da exposição fotográfica, também está programado um evento para discutir a imagem. A Zum, revista de fotografia editada pelo Instituto Moreira Salles, organizou um ciclo de encontros entre fotógrafos, além de lançamento de livros.

Mercado vive momento histórico

Como diz Fernanda Feitosa, organizadora do evento, por entrevista via e-mail, "o mercado da fotografia brasileira tem vivido momentos históricos, nestes últimos anos. Encontramos maior engajamento dos produtores da fotografia, mais interesse comercial e reconhecimento da importância histórica e do valor da fotografia na história da arte nacional, além de mais informação do público no que diz respeito à fotografia e suas características".

Assim, numa multiplicidade de olhares encontramos trabalhos em várias frentes de pesquisas, que vão do documental ao campo experimental. É ainda Fernanda Feitosa que nos lembra: "A fotografia brasileira parece perseguir e gozar de uma liberdade muito grande no que diz respeito aos temas abordados, recortes e suportes adotados. Ela persegue tanto os registros documentais como sua relação com a pintura e os limites entre o real e o imaginário".

Encontramos os descendentes da chamada escola de Dusseldorf, criada pelo casal alemão Bernd e Hilla Becher no pós-guerra e considerada por muitos historiadores como a grande influência da fotografia contemporânea ao juntar a excelência artística e tecnológica para registrar o banal, como, por exemplo, nos trabalhos do brasileiro Caio Reisewitz.

A releitura das cidades nas imagens de Jose Manuel Ballester ou da Claudia Jaguaribe; a natureza vista por Alexandre Sant'Anna ou Bruno Veiga; as experimentações de artistas variados que dialogam com imagens clássicas de Cristiano Mascaro, João Luiz Musa, Maureen Bisilliat e German Lorca: são imagens históricas como as do Martin Chambi ou de Thomaz Farkas. Fotografias que narram o desenvolvimento da história de um olhar fotográfico.

CORREIO BRAZILIENSE - Brasília e Pirenópolis vão à ONU

Modernidade e tradição são o tema da exposição fotográfica com 20 imagens das duas cidades, que ocuparão o estande do Brasil na sede da Organização das Nações Unidas em Nova York

ISABELA DE OLIVEIRA

(8/11/2012) Na próxima semana, a sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York, recebe a exposição Centro-Oeste — Modernidade e Tradição, que irá revelar aos olhos estrangeiros o contraste entre Brasília e a centenária Pirenópolis. O evento, que ocorre de 13 a 23 de novembro,

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divulgará as duas cidades para mais de 1,5 mil representantes dos 193 países-membros. Também é aberto ao público.

O encontro de gerações ocorre durante a 67ª Assembleia Geral do órgão, aberta pela presidente Dilma Rousseff em 25 de setembro. Brasília será revelada pelas lentes que captaram as retas do Congresso e as curvas da Catedral. Os monumentos de Oscar Niemeyer, também mostrados em réplicas, chegam para quebrar a tensão das reuniões, em que são debatidos, entre outros temas, os conflitos no mundo árabe e os recorrentes ataques a embaixadas, em especial as dos Estados Unidos.

O casario antigo de Piri desperta a atenção dos visitantes a 140km de Brasília

Pelo menos 20 imagens, 10 de cada cidade, serão expostas em um circuito de 70m². A exposição é produto da iniciativa do secretário de Turismo do município goiano, Sergio Rady, que, junto do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) e da Secretaria de Turismo do DF (Setur-DF), visa promover o turismo cultural e cívico. De Pirenópolis, será mostrado o folclore, por meio das Cavalhadas, da Festa do Divino Espírito Santo e dos altares barrocos.

Roteiro integrado

Para o titular da Setur-DF, Luis Otávio Neves, a exposição irá apresentar Brasília como um destino que pode ser vendido. “É a única cidade tombada por possuir arquitetura moderna no mundo. A exposição, que será no hall de entrada da ONU, vai ao encontro do trabalho que estamos fazendo. Precisamos divulgar as cidades ao redor do DF para criarmos um roteiro integrado. O estrangeiro fica mais encantado com a região se conseguirmos fazer essa mistura.”

De acordo com o secretátio, na última semana, a capital esteve presente em feiras de turismo em Buenos Aires e em Londres. “Também estivemos no Hotel Dom Pedro, em Lisboa”, acrescenta. “Agora, é um momento crucial para conversarmos com operadores de viagens, principalmente os ligados à Copa do Mundo”, ressalta Luis Otávio.

A distância de 140km que separa as duas cidades é corriqueira para quem nasceu em Brasília. No entanto, a diversidade revela-se uma surpresa para quem não está familiarizado com a mistura de culturas do Planalto Central. Pirenópolis é uma das primeiras cidades do estado de Goiás. Nasceu há 285 anos com o nome de Minas de Nossa Senhora do Rosário de Meia Ponte e tornou-se vila 126

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anos depois. Foi em 1853 que ganhou o título de cidade e, 37 anos mais tarde, tornou-se Pirenópolis. Em 1989, foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ( Iphan).

De acordo com a arquiteta e urbanista Anamaria Diniz, Goiás conserva a arquitetura colonial e as tradições bem opostas às de Brasília, que, aos 52 anos, está em uma permanente construção do espaço urbano e de sua identidade. “As duas cidades dividem o mesmo território, o mesmo clima, mas possuem estilos de vida diferentes, pois o planejamento influencia a rotina da população. Enquanto as cidades planejadas possuem um determinismo na organização, as coloniais crescem de forma espontânea, já que não há um plano inicial determinado”, analisa a também integrante do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás.

O ESTADO DE S. PAULO – História contada por imagens

Livro e mostra reúnem fotos que narram história do País

Simonetta Persichetti A partir da exposição "Um Olhar Sobre o Brasil", a fotografia também se torna protagonista na narrativa da história brasileira. Um olhar - entre os muitos possíveis - que conta a formação da nossa identidade por meio de imagens. Foram 3 anos e meio de pesquisa, um garimpo meticuloso nos arquivos públicos e privados, um trabalho minucioso da antropóloga e historiadora Lilia Moritz Schwarcz e do historiador da fotografia brasileira Boris Kossoy.

O desafio seria narrar a construção do Brasil por meio de imagens. O resultado é uma exposição de 400 imagens e um livro que serão lançados nesta segunda-feira, no Instituto Tomie Ohtake. Este projeto e livro fazem parte da coleção da editora Objetiva em parceria com a Fundação Mafre, "História de Um Brasil Nação 1808-2010". Neste volume, o sexto da coleção, a tônica é a fotografia.

Por meio das imagens, a história do Brasil é narrada desde a invenção isolada da fotografia no País (e tardiamente conhecida) por Hercules Florence em 1833, a chegada da fotografia ao Brasil em 1840 no Rio até o século 21. São 400 registros que criam um percurso nos momentos chaves na história brasileira. "Uma história cultural do Brasil através das imagens", conta o historiador Boris Kossoy. Para montar a exposição e a história narrativa do livro, os curadores criaram antes de mais nada um conceito e eixos temáticos como política, sociedade, cultura e arte e paisagem (urbana, rural e natural). Eixos estes que se repetem nos 180 anos da história da fotografia. Momentos de registro, de interpretação de mundo, instantes que foram marcados para criar a nossa identidade. O Brasil da Regência, do Império e da República. A chegada da fotografia no Brasil - que segundo os historiadores foi o primeiro país da América Latina a divulgar o novo invento em janeiro de 1840 até a fotografia do século 21. Um passeio pela construção imagética da sociedade por meio de fotografias. "Os eixos temáticos se repetem a cada período da nossa História", lembra Boris.

Para uma melhor compreensão até didática, a exposição foi dividida em períodos que perpassam a formação de nossa identidade de 1833 até 2003. São as luzes do Império, a transformação republicana, a ditadura militar e o renascer ou reacender das luzes numa sociedade democrática.

A partir desta exposição, a fotografia passa a integrar de vez a história como fonte primária, como documento de uma época, narrado em ordem cronológica, mas sem afirmativas, uma possibilidade de história. O conhecimento que chega até nós, não apenas pela imagem mental do passado, mas pelas representações visuais que foram criadas.

A estética como criadora de discurso, o iconológico - ou seja as significações da imagem como uma maneira de nos aproximarem da história narrada. Imagens síntese que nos ajudam a compreender a criação da nossa identidade. A fotografia que se insere de forma fundamental na história da cultura. Inúmeras facetas, narrativas e possibilidades que nos ajudam a compreender o que somos. Cada imagem nos é apresentada, não apenas com uma mera legenda, mas com uma micro-história que nos ajuda a compreender o momento narrativo. Um olhar sobre o Brasil nos ajuda a refletir e a entender quem somos e como nos constituímos como nação. Uma exposição que não fecha, mas abre para inúmeras possibilidades de entendermos a história por meio da imagem.

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MÚSICACORREIO BRAZILIENSE - O canto de Villa-Lobos

Ao lado do coral Calíope, Julio Moretzsohn reúne obras pouco conhecidas do maestro. Destaque da seleção é a música feita sob inspiração do poema E agora José?, obra-prima do escritor Carlos Drummond de Andrade

Nahima Maciel

(9/11/2012) Educação musical era coisa tão séria para Heitor Villa-Lobos que ele dedicou boa parte da vida a compor obras didáticas. Tão séria que trouxe o compositor de volta ao Brasil após anos de residência na França. Em 1931, quando viu seu plano de educação musical para as escolas públicas aprovado pela Secretaria de Educação de São Paulo, Villa resolveu voltar e tocar o projeto. Começou então a investir tempo e criatividade na composição de peças que pudessem ser utilizadas pelos professores no ensino do canto e escreveu livros inteiros de músicas exclusivamente dedicadas às vozes, coisa simples de ser ensinada: dispensava os instrumentos e explorava a mágica guardada na garganta de cada aluno. Foi atrás dessas peças, pouco conhecidas hoje e raramente executadas em concertos, que o maestro Julio Moretzsohn selecionou as faixas do disco Villa-Lobos — Vozes do Brasil, com o coral Calíope, um dos lançamentos mais delicados e bem burilados do ano no que diz respeito ao compositor.

Moretzsohn contou com a ajuda do Marcelo Rodolfo, responsável pelo arquivo sonoro do Museu Villa-Lobos (Rio de Janeiro), para pesquisar as partituras. Todas as peças gravadas no disco estão catalogadas e bem armazenadas no acervo do museu. “Fui selecionando o que achei musicalmente interessante, principalmente peças que não tinham sido gravadas e peças mais complexas”, conta Moretzsohn. Villa-Lobos produziu pelo menos duas obras destinadas ao ensino do canto nas escolas. O Guia prático e a coleção Orfeão dos professores reuniam arranjos de temas folclóricos, transcrições de clássicos e obras para concerto. Desse conjunto vieram boa parte das faixas do disco.

Lendas e mitosOs temas folclóricos abrem o CD com uma sequência de 12 canções admiráveis do segundo volume de Canções do Canto Orfeônico. O imaginário das lendas e mitos africanos e indígenas está nas melancólicas Canide-loune-Sabath, Xangô e As costureiras. O Brasil erudito — e o trânsito entre o erudito e o popular era uma das habilidades maiores de Villa — fica por conta de José, baseado no poema E agora José?, de Carlos Drummond de Andrade, e Invocação em defesa da pátria, o poema de Manuel Bandeira que o compositor gostava de identificar como um “um canto cívico religioso”.

Em Lendas ameríndias em Nhengatú, Villa resgata dois contos da língua geral dos índios amazônicos. O Iurupari e o menino e O Iurupari e o caçador narram o encontro entre o deus do sonho e personagens da floresta e fazem parte das lendas compiladas por Barbosa Rodrigues em Poranduba amazonense. As Bachianas, o trabalho mais hercúleo e conhecido do compositor, também têm sua parte no disco. Na partitura das Bachianas nº 9, escrita em 1945, Villa indica que o Prelúdio e a Fuga podem ser feitos com orquestra ou em coro, à capella. “Normalmente se grava essa peça com orquestra”, explica Moretzsohn. “Mas ele escreveu para coro e cordas. Ele utilizou muito coro para exercícios de musicalização.”

InspiraçãoJosé era uma das poucas obras que ainda não estavam editadas até Moretzsohn descobrir o manuscrito e editá-lo para o documentário O poeta de sete faces, documentário de Paulo Thiago sobre Drummond. “Os trechos das Bachianas nº 9 talvez sejam os mais complexos do disco, especialmente a fuga, que é a seis vozes. O Villa tinha essa inspiração de escrever a obra relacionando a música brasileira com Bach. Ele traduz a música brasileira para a música erudita e essa peça é muito forte”, avalia o maestro. Já em Costureiras, Moretzsohn enxerga um diálogo carinhoso com o ambiente popular. “A ambientação que ele cria consegue traduzir a cultura brasileira para a música. Na minha cabeça, penso nas rendeiras do Nordeste.”

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Professor de Regência Coral na Universidade Federal do Estado Rio de Janeiro (Unirio), Moretzsohn criou o Calíope há quase duas décadas para se debruçar sobre o repertório destinada exclusivamente às vozes. O conjunto começou com oito cantores e conta hoje com 32, um total de músicos tão especializados que costuma abastecer os coros da Petrobras Sinfônica e da Orquestra Sinfônica Brasileira. Até agora, são seis discos dedicados à música brasileira para canto e coral. No mais recente, gravado em 2005, o Calíope gravou apenas músicas de Henrique Oswald e Alberto Nepomuceno. Patrocinado pelo Programa Petrobras Cultural, Villa-Lobos— Vozes do Brasil é o primeiro de uma série destinada a compositores brasileiros.

THE NEW YORK TIMES (EUA) – Rustic Melodies Survive a Long Trip

By JON PARELES

A musicology lesson turned into a dance party when Gilberto Gil performed at Carnegie Hall on Thursday night.

Mr. Gil, the great songwriter who was Brazil’s minister of culture from 2003 to 2008, has circled back to music that inspired him to become a musician: forró, the music of Brazil’s hardscrabble rural Northeast. Forró is dance music with its own family of peppy rhythms, most of them driven — like the Cajun music of Louisiana — by an accordion and a very busy triangle. (It is one of worldwide music culture’s deep mysteries why country laborers in hot climates choose fast, strenuous dancing on their few days off.)

Forró’s standard-bearer in Brazil was the singer and accordionist Luiz Gonzaga (1912-89), who made forró a nationwide phenomenon while singing about rural life and romance and acting the bumpkin. Mr. Gil’s set was interspersed with old Gonzaga songs.

But Mr. Gil is no bumpkin. He’s an urban sophisticate and an intellectual, so simply recreating Gonzaga’s rough-and-ready originals was not on the agenda. The band mixed traditional forró instruments — accordion, triangle, zabumba (drum) and rabeca (fiddle) — with bass and two electric guitars (including Mr. Gil’s), and the Gonzaga remakes were thoroughly reimagined: with different chords, new instrumental flourishes, perhaps some wah-wah guitar.

One Gonzaga classic, “Asa Branca” — which, despite its euphoric tune, is about northeastern Brazil’s crippling droughts — featured an unannounced guest: David Byrne, singing in English.

Even with their new twists, the songs maintained their forró energy, which Mr. Gil carried into rusticated versions of his own songs, like “Expresso 2222.” Ever the musical scholar, he named some of the rhythms onstage: xaxado, baião and xote (pronounced SHOAT-eh), a Brazilian rhythm that’s derived from the Scottish-rooted schottische and that still hinted at a jig in the hands of the band’s rabeca player, Nicolas Krassik.

Mr. Gil’s concert was the beginning of Carnegie Hall’s impressive series Voices of Latin America; he is one of its artistic advisers. But the concert had to fight its setting. Carnegie Hall is simply not a good place for percussive dance music, not only because of its seats and formality, but also because its natural reverberation works against rhythmic crispness.

The sound for much of the concert was soggy and blurred, making it hard to distinguish instruments or Mr. Gil’s husky voice (until he let loose some irrepressible falsetto whoops). But after he won over the English-speaking part of the audience with forró-tinged versions of Bob Marley songs, Brazilians danced into the aisles for Mr. Gil’s “Andar Com Fé” and stayed there for the rest of the concert.

Mr. Gil, 70, had already been showing off his snappy footwork whenever he wasn’t busy plucking guitar syncopations. And in the finale — “Madalena,” a song about poverty and hope — he was scat-singing along with breakneck lead-guitar lines while shaking outstretched hands like the pop star he is. The dancers rescued the concert from the room.

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FOLHA DE S. PAULO - Paulinho da Viola celebra 70 anos com shows no Brasil e nos EUACantor e compositor se apresenta em Madureira, no Rio, e no Carnegie Hall, em Nova York

Sambista portelense também terá discos reunidos em uma caixa e prevê lançamento de DVD que registra shows

Lucas Nobile

(11/11/12) Na carreira de Paulinho da Viola, o refinamento do choro vai ao encontro da pureza do samba em sua forma mais genuína de criação.

A combinação vem de longe. É fruto do convívio dele com nomes como César Faria (seu pai e violonista do conjunto Época de Ouro, de Jacob do Bandolim), Radamés Gnattali, Pixinguinha, Cartola, Zé Keti, Nelson Cavaquinho e outros compositores da Velha Guarda da Portela.

Cercado por esse, digamos, aparato musical, ele largou o trabalho em um banco no fim dos anos 1960. Tornou-se parceiro de Hermínio Bello de Carvalho, de Elton Medeiros e de outros grandes letristas.

Compôs sambas antológicos, escreveu seu nome na história da música brasileira e amanhã completa 70 anos.

Em um ano de tímidas celebrações aos setentões de 2012 -como Milton Nascimento, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Clara Nunes, Jorge Benjor etc.-, as festividades relativas ao aniversário de Paulinho estão à sua altura.

A primeira delas acontecerá no próximo dia 17, quando o compositor, cantor e músico fará um show gratuito para 10 mil pessoas em Madureira, bairro do subúrbio do Rio e berço da Portela, escola de coração de Paulinho da Viola, com participação da Velha Guarda da agremiação.

No dia 28, ele embarcará para Nova York, para se apresentar no Carnegie Hall.

Em 2012, também se completam dez anos do lançamento do disco "A Música de Paulinho da Viola", que projetou a carreira da cantora Teresa Cristina ao lado do Grupo Semente. Em comemoração, Teresa toca o repertório deste álbum nos dias 7 e 8/12 no Rio e deve se apresentar em São Paulo em 2013.

Ano que vem, Paulinho também estreará uma nova turnê, sem saber ainda se mostrará músicas inéditas.

"Eu tenho algumas novas, mas não vou gravar agora. Nós temos o registro de dois shows que foram gravados no teatro Fecap, que podem virar um DVD", conta.

O GLOBO – De volta a depois do ANO 2000

'Expresso 2222', álbum fundamental de Gilberto Gil que completa 40 anos, é relançado em versão remasterizada, e músicos influenciados pelo disco comentam cada uma de suas faixas

Leonardo Lichote

Gil, 1972. No disco que marca sua volta ao Brasil após o exílio em Londres, o artista visitou, com olhar pop, a sonoridade tradicional nordestina

Era 1972, a volta do exílio de Gilberto Gil em Londres. O artista marcava o retorno com "Expresso 2222", um disco que era, de alguma forma, uma tematização do movimento da volta - "Back in Bahia", canções que integravam a tradição nordestina, a Banda de Pífanos de Caruaru. Como em todo retorno, porém, o antigo era visto com olho novo. Processando tudo com a cabeça tropicalista encharcada da experiência europeia, Gil partia para depois do ano 2000. Agora, em 2012, o álbum tem seus 40 anos celebrados com uma reedição pela gravadora Universal, remasterizada em Abbey

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Road e com o projeto gráfico original do LP adaptado para o CD - um lançamento feito em homenagem também aos 70 anos do compositor.

Uma oportunidade de revisitar o álbum, fundamental para a música brasileira - como se pode perceber no "faixa a faixa" ao lado, com depoimentos de artistas que representam os muitos que tocam para frente esse legado hoje.

Sua importância passa pela originalidade das releituras de um cancioneiro com caráter regional (quatro das nove faixas não eram de Gil, mas de compositores como João do Vale e Gordurinha), pelo desenvolvimento das ideias tropicalistas, pela presença de clássicos como a canção-título e "Oriente"... Moreno Veloso chama a atenção, de forma categórica, para um aspecto específico:

- O disco mudou o modo como o Brasil passou a olhar para o violão. Depois de Caymmi e João Gilberto e antes de João Bosco e Roberto Mendes. Espontaneidade e virtuosismo, muito suingue e limpeza natural de quem não tem medo de acertar e ser feliz com seu dom de instrumentista e compositor. Samba de mais maneiras.

Capa dobrável saiu caroAli, o violão de Gil está a serviço de inéditas como "O sonho acabou", além de brilhar em interpretações como a de "Chiclete com banana". A seu lado, no estúdio, o músico teve Lanny Gordin (guitarra e baixo), Bruce Henry (baixo), Antônio Perna (piano) e Tutty Moreno (bateria e percussão). Gal Costa (na buliçosa "Sai do sereno", de Onildo Almeida) e Banda de Pífanos de Caruaru (em "Pipoca moderna", de Caetano Veloso e Sebastiano Biano) são os convidados. Juntos, sob o comando de Gil, a banda criou a sonoridade. Roberto Menescal, que assina a coordenação de produção do disco, conta que o baiano sabia exatamente o que queria.

- Não tive interferência em nada, apenas viabilizava o que Gil precisava - lembra Menescal, que teve que cortar um dobrado para tornar viável a capa do disco.- O artista responsável (Ednizio Ribeiro Primo) me mostrou o projeto, redondo, bacana. "Tá, agora só vamos ter que reduzir para caber no quadrado da capa padrão." Ele: "Não, meu projeto é assim mesmo." "Mas temos as caixas-padrão para armazenar os discos." "Vocês podem fazer caixas maiores." "Mas tem as nossas prateleiras, o espaço das lojas." E ele respondendo que tudo podia ser mudado para caber o disco. Demorei a convencê-lo a fazer como saiu, dobrando para ficar quadrado. Mesmo assim, saiu caro. A cada disco vendido, perdíamos o equivalente a R$ 1. Mas era investimento.

"Expresso 2222" é relançado simultaneamente com "Cérebro eletrônico", álbum de Gil de 1969, também remasterizado. Com direção musical de Rogério Duprat, o disco de "Aquele abraço" ganhará as lojas também em vinil.

CORREIO BRAZILIENSE – Olhar atento, língua afiada

SEU JORGE Ele é Jorge Mário da Silva, mas todos o conhecem como Seu Jorge. O cantor de 42 anos, nascido em Belford Roxo (RJ), não tem meias palavras. Em conversa com o Correio, falou sobre o novo DVD, gravado no dia da Consciência Negra, e sobre a situação do negro no Brasil. O sucesso no país e no exterior não minimizou o racismo sofrido pelo artista. "Eu andando num shopping, como o Iguatemi ou qualquer outro, é o Seu Jorge num shopping center. Se formos eu e meu irmão, somos dois pretos em um shopping center. Isso (o preconceito) é nítido", desabafa.

Maíra de Deus Brito

Seu novo DVD, Músicas para churrasco Vol. 1 ao vivo, foi gravado em 20 de novembro do ano passado, dia da Consciência Negra, e será lançado no próximo dia 20. A escolha da data foi proposital?Não tem nenhum conteúdo panfletário. É só uma celebração no dia de Zumbi dos Palmares, com a proposta de mostrar a música negroide, nossa expressão, nosso jeito de ser, sem medo. Sem vergonha do jeito de falar, de dançar, de vestir, do cabelo. Vamos matar essa inibição e essa vergonha que temos de nós mesmos, esse complexo de inferioridade. Estamos em outro processo, em um país alavancado, e merecemos fazer parte desse processo, como povo brasileiro.

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Ter uma música na novela das nove horas (Salve Jorge, da TV Globo) e gravar um DVD em um espaço aberto como a Quinta da Boa Vista (RJ) lhe aproximam do público?Acho que sim. As pessoas notam que estou ali e comentam: “Fez uma música para novela, que legal”. São esses gestos, esse carinhos, que me aproximam cada vez mais do povo brasileiro, do povão. Em toda minha carreira tive essa dificuldade em aparecer. Eu tenho uma imagem muito forte. Por isso, só faço televisão quando tenho algo a dizer. Não posso ficar ocupando a mídia com futilidade, com bobagens, com coisas individuais, ainda mais quando tem gente trabalhando por coisas muito maiores. Acho um absurdo ficar utilizando o tempo, um pedacinho de página que seja de um jornal, para falar de futilidade, só para estar lá. Desculpa, mas eu não preciso disso. Não é isso que penso.

Você faz um sucesso estrondoso no exterior. Qual é a diferença do público estrangeiro para o brasileiro?Há um série de coisas, como a cultura e a estrutura. Por exemplo, na Inglaterra, em algumas casas de shows, existem cadeiras cativas, como o Royal Albert Hall. São casas em que famílias passam suas cadeiras, seus espaços, de geração para geração. O cara vai assistir ao show do Elton John, ele tem a cadeira dele, não é vendida. Então, é uma cultura que se faz, o cara tem isso como um bem durável. Uma cadeira no Royal Albert Hall é caríssima, é o preço de um título de um clube desses bacanas daqui. Quando você faz um concerto num lugar desse, a plateia tem outro comportamento, faz fila para falar com você, não gasta tempo com você porque tem outra pessoa atrás dele e sabe que você está cansado. Aqui (no Brasil) não. Queremos ficar perto, ficar próximos, somos carentes de novas ideias, de novidades. Na França, se você faz um show e o público não gosta, mostra que não gostou e vai embora na sua cara. A plateia quer contato com a música, mais do que com o artista. É diferente.

No fim de outubro, durante show na Fundição Progresso (RJ), você declamou a música Negro drama, dos Racionais MCs, e foi vaiado. Acha que isso aconteceu por quê?Eu tenho certeza que não foi por causa de Negro drama. Não cantei mal, não estava rouco, não desafinei. Foi a falta de paciência de três ou quatro que saíram de casa com a febre da carne, com vontade de arranjar mulher, beijar na boca. Se você não canta o hit… É aquela postura “tô pagando.” Negro drama foi para o (Joaquim) Barbosa, para o negroide, para a restauração da dignidade. Eu estava com fone e não percebi nada. Fui entender o que estava acontecendo na metade da música. Se tivesse visto no primeiro minuto, talvez tivesse invertido a situação. Mas como não percebi, continuei o que estava fazendo, chamei uma amiga para cantar e foi ótimo. Saímos do palco e, quando voltei, foi só para cantar. Não dancei, não me expressei mais. Me senti muito mal. Esse problema é de uma determinada área…

É um problema só do Rio de Janeiro?Só do Rio.

O Brasil está preparado para discutir o racismo?O Brasil não está preparado para discutir o racismo, mas esse tipo de comportamento só acontece no Rio. Em qualquer outro lugar, isso não acontece. O jornalista que saiu em minha defesa, na verdade, saiu em defesa da plateia, do concerto.

Você nasceu no Rio de Janeiro, mas vive há muitos anos em São Paulo. Como vê a transformação do Rio com a chegada da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP)?Olha, vou prezar sempre que as pessoas não tenham armas. A UPP reduz o conflito armado, os assaltos, os assassinatos. A chacina é uma outra coisa, uma outra história. Se dentro de uma comunidade matam cinco, seis pessoas, e se pelo menos cinco dessas não têm antecedente criminal, é chacina. É faxina étnica. Isso sempre teve no Brasil. Qual a motivação? Não sei. A presença da UPP, do ponto de vista da comunidade, é maravilhosa. Porque tem muita senhora, muita criança que não está envolvida diretamente com aquela vida ali. O grande problema das comunidades do Brasil é a ausência do Estado. Sem polícia, sem bandido, sem trocação de tiro, a comunidade é área de lazer. É um lugar de onde quem nasceu lá não quer sair. Por quê? Porque todo mundo se conhece. Você sai de casa, deixa o seu filho com o vizinho. Você volta do trabalho, ele tá intacto. Então, no Rio de Janeiro, a primeira manifestação depois das UPPs foi da juventude. Nessas últimas décadas, quantos homens, com menos de 18 anos, nós perdemos? Isso é uma faxina étnica.

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Quem são seus ícones negros?Basquiat, Joaquim Barbosa, Ganga Zumba, Chico Rei, Martinho da Vila, Paulinho da Viola, Cláudio Adão, Andrade, Pelé. Racionais MCs, Mano Brown. Wilson Simonal, Roberto Ribeiro, Elza Soares, Ruth Souza, Neuza Borges... São pessoas extremamente importantes para mim.

A seu ver, qual foi a evolução da população negra brasileira da escravidão ao século 21?Tivemos poucos avanços. Primeiro de tudo, é preciso notar que existem limites nessas relações. O Brasil é um país extremamente multirracial, tem uma convivência religiosa tolerável, mas, tomando pelo lado do negro, pouca coisa mudou.

Você é a favor da cotas?Sou a favor daquilo que traga recursos para a gente melhorar. A escola é aquilo que vai tirar a gente do buraco. Não se dá atenção à expressão, à moda, ao jeito de ser, ao cabelo, à música do negro. Parece que o negro no Brasil não gera economia, não consome. É uma sociedade à parte. O negrão no Brasil é obstinado a sair da merda. Ele está trabalhando para sair dessa dificuldade. Tem orgulho de andar certinho, de ser competente. Não basta apenas ser três vezes melhor, tem que ser cinco. Abrir mão de uma vida de prazeres para uma vida de trabalho se quiser chegar a algum lugar e promover para suas gerações futuras uma vida de prazeres. Meu trabalho, hoje, me promove muitos prazeres, porém, eu tenho que abrir mão de muitos desses prazeres em prol das gerações futuras que estão surgindo em minha família. Quero deixar claro uma coisa: eu, Jorge Mário da Silva, conhecido no Brasil e no mundo como Seu Jorge, é uma pessoa. Eu e meu irmão somos duas outras pessoas. Eu andando num shopping, como o Iguatemi ou qualquer outro, é o Seu Jorge num shopping center. Se formos eu e meu irmão, somos dois pretos em um shopping center. Isso (o preconceito) é nítido.

Certa vez, você comparou Joaquim Barbosa (primeiro ministro negro do Supremo Tribunal Federal) a Ganga Zumba (primeiro líder do Quilombo de Palmares). Por quê?Ele é um guerreiro. Definitivamente, ele é o maior símbolo para nós, negros. Junto do rei Pelé. Porque o Pelé foi o primeiro escravo de sapatos na pátria dos pés descalços.

Mas você não se incomoda com as declarações do Pelé, dizendo que nunca sofreu preconceito?Claro que não! Ele é o Pelé! Ele foi pro mundo aos 17 anos. Ele é o rei do futebol. Mas o irmão dele… (risos)

CORREIO BRAZILIENSE – Olha, que coisa mais linda!

Mostra no Rio de Janeiro reúne grande parte do acervo musical e da memória do maestro Tom Jobim Irlam Rocha Lima

Irlam Rocha Lima

(11/11/2012) Garota de Ipanema, clássico da obra de Tom Jobim (com Vinicius de Moraes), foi composta pelo maestro soberano num velho piano, no apartamento da Rua Nascimento Silva, 107, em Ipanema (endereço cantado em outra canção). Muitos acreditavam que o instrumento usado por ele para criar algumas de suas famosas músicas, nem existia mais.

Puro engano, o mítico piano — de armário Welmar — pode ser visto pelo público pela primeira vez na exposição permanente Tom Jobim —Música e Natureza, aberta no último dia 6, no instituto que também leva o nome do artista, no Jardim Botânico (Rio de Janeiro). Na mostra, ele se junta a outros pertences do artista — aproximadamente 300 itens.

Coordenadora-geral da exposição, Georgina Stanek conta que, quando o piano foi restaurado, houve quem sugerisse fazer a troca das teclas originais, já amareladas, por outras de acrílico. “A Beth (Elizabeth Jobim, filha de Tom), porém, não consentiu, argumentando que elas deveriam ser preservadas, pois traziam as marcas do pai.”

Logo na entrada da mostra, um texto escrito pelo mestre deixa claro o envolvimento dele com a questão ecológica. “Nesta oficina tudo veio da floresta. As longas tábuas do assoalho, a madeira do piano, o jacarandá do violão, a lenha da lareira, este lápis, esta mesa, esta cadeira, esta porta, esta

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janela, tudo é floresta.” Vários dos objetos a que Tom se refere no texto podem ser vistos pelo visitante.

Entre essas relíquias do acervo de Tom, dispostas em vários ambientes, estão: caixa de pio de pássaros, caixa de charuto, chapéus, óculos, pastas, cartões, um pequeno estandarte da Mangueira, esboço de letras, partituras, livros — como Sagarana e Grandes sertões veredas, de Guimarães Rosa — condecorações e troféus. Chama a atenção o conquistado com a música Sabiá (dele e de Chico Buarque), ganhadora do Festival Internacional da Canção (FIC), em 1968.

Painéis exibem uma profusão de fotos de Tom, sozinho em diferentes épocas e situações e ao lado de amigos e parceiros, entre eles, Vinicius, Chico, Dorival Caymmi, João Gilberto e Frank Sinatra. Canções emblemáticas do compositor, da importância de Águas de março, Corcovado, Samba do avião e a citada Garota de Ipanema, uma das mais tocadas do mundo, servem como fundo musical para apresentar alguns registros fotográficos de Tom.

Na visão de Eliane Jobim, curadora da exposição com o marido Paulo Jobim (filho mais velho do homenageado), Tom Jobim — Música e natureza oferece ao visitante a possibilidade de conhecer mais profundamente a história pessoal, a obra do maestro e refletir sobre sua criação musical, contextualizando a cultura e a época na qual Jobim viveu.

Paulo Jobim vai além: “A exposição permite a jovens que não conheceram Tom Jobim, entrar no mundo especial de um artista que lhes instigará a reflexão, não somente sobre sua obra musical, mas também sobre a preservação da natureza e a busca de uma vida com maior harmonia”. O acervo virtual do Instituto Antônio Carlos Jobim também está acessível aos visitantes, por meio de monitores instalados no local. O acesso à mostra é gratuito.

Valores culturaisO Instituto Antônio Carlos Jobim iniciou suas atividades em maio de 2001, tendo como objetivo preservar e disponibilizar para o público, especialmente aos estudantes e pesquisadores, a obra musical e poética do maestro. Apaixonado pelo Jardim Botânico, seu nome tornou-se sinônimo de preservação do patrimônio ecológico e cultural do país e sua visão de mundo.

Instalado no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico, o instituto tem como principal objetivo preservar e divulgar, no Brasil e no exterior, a obra e o acervo pessoal de Tom, assim como valores culturais manifestados em sua vida. A instituição oferece, também, acesso à produção e ao pensamento do artista, assim como desenvolve e promove projetos e pesquisas nas áreas de educação, música, arte e ecologia.

Sob direção de Georgina Staneck, a entidade criou em 2007, em suas dependências, a Casa do Acervo, com área climatizada que é utilizada para guarda e conservação do legado digital de outros artistas, entre os quais Lucio Costa, Dorival Caymmi, Chico Buarque, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Paulo Moura — esses dois últimos em fase de catalogação

O ESTADO DE S. PAULO - Mais um Grammy para a Bahia

Caetano Veloso recebe hoje prêmio pelo conjunto da obra em cerimônia em Las VegasROBERTA PENNAFORT

(14/11/2012) Os 70 anos de Caetano Veloso já foram festejados com um CD tributo, com regravações de 16 músicas suas (por Jorge Drexler, Tulipa Ruiz, Céu, Beck...) E com um site comemorativo, com toda sua discografia (áudios, encarte e letras), desenvolvido por sua gravadora, a Universal. Hoje, a festa será norte-americana. Ou melhor, latina.

Pelo conjunto de sua obra de cinco décadas, Caetano foi escolhido a personalidade do ano da edição 2012 do Grammy Latino, realizada em Las Vegas. O único brasileiro que o antecedeu na honraria (ano passado concedida à pop star colombiana Shakira) foi o amigo Gilberto Gil, isso em 2003.

O Brasil, que nunca deu muita bola para o Grammy, não vai assistir quando o compositor baiano for o centro de uma gala pré-cerimônia hoje, fechada a câmeras, durante a qual ele será reverenciado - a

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premiação oficial acontece amanhã. Artistas de diferentes estilos e procedências, como Natalie Cole, Nelly Furtado, Juan Luís Guerra, Juanes e Enrique Bunbury vão cantar seu repertório - as músicas não foram divulgadas, para manter o espírito de surpresa ao homenageado.

Maria Gadú, Seu Jorge e Alexandre Pires formam a turma brasileira, desfalcada de última hora por Ivete Sangalo, que quebrou um osso do pé e desertou. Caetano fechará a festa no centro do palco, com Não Identificado - a preferida de seus pais.

Amanhã, o TNT transmite ao vivo, a partir das 23 horas, a cerimônia do Grammy Latino, da qual ele também vai participar. Com o músico cubano Arturo Sandoval, vai de Odara e a canção porto-riquenha Capullito de Aleli, do CD em língua espanhola Fina Estampa (1994).

O Grammy Latino tem 13 anos. O Grammy original - mais prestigiosa premiação da indústria da música -, 54. Caetano possui oito gramofones dourados do primeiro tipo e dois do segundo. Nessa edição do Latino, concorre em quatro categorias.

Ele nunca esteve no Grammy. Em 2001, chegou perto, mas... "Eu me preparei para fazer uma bela participação. Fui para Los Angeles de Nova York em 10 de setembro. No dia 11, faríamos a apresentação. Ensaiei, com a banda do show Noites do Norte, a canção 13 de Maio. Estava lindíssimo, eu estava orgulhosíssimo! Mas aí meteram aqueles aviões no World Trade Center e não houve apresentação", contou ele, em entrevista há duas semanas, no Rio.

Ele chegou a Las Vegas domingo para os ensaios; mais uma vez, vindo de Nova York. Antes da viagem, disse que se entusiasmava mais pela festa - na qual aparecerá vestido no capricho pelo stylist amigo Felipe Veloso - do que pelos louros.

"Eu nem gosto muito desse negócio de homenagem, prêmio. Não gosto quando tem muita categoria, termino esquecendo quem ganhou o quê. Nunca vi a festa do Grammy, não tenho muita ideia de como vai ser. Tenho um pouco de preguiça da viagem, de ir a Las Vagas. É uma cidade tão insólita... Parece o Projac! Mas gosto da festa, de ver as pessoas."

O interesse pela música latina atual passa pelo colombiano Juanes, a dupla de Porto Rico Calle 13, superpopulares e com forte presença no Grammy, e pelo reggaetón da América Central. Mas vem bem mais de longe.

"Nós também somos latinos. No tempo do tropicalismo, eu encomendei a Gil e Capinam uma canção que fosse sobre a América Latina, que tivesse no título 'soy loco', mencionasse Che Guevara, 'el hombre del hombre muerto'. Desde o início era um tema importante para mim. Em Araçá Azul (1973) já tinha Tu me Acostumbraste."

Caetano acabou de gravar o CD Abraçaço, o terceiro com os jovens músicos da Banda Cê (o guitarrista Pedro Sá, o baterista Marcelo Callado e o baixista Ricardo Dias Gomes). O lançamento será no fim do mês. São 11 faixas, todas compostas por ele este ano, e uma inédita do tropicalista baiano Rogério Duarte.

Mais tributo. Milton Nascimento, outro septuagenário de 2012, e Toquinho também serão laureados. Com outros artistas da região, receberão da Academia Latina de Gravação o Prêmio à Excelência Musical, em cerimônia hoje também, sem exibição pela TV. As escolhas saem de uma votação entre os integrantes da direção da Academia.

O esforço visando a uma aproximação com o Brasil vem sendo crescente. A barreira da língua, no entanto, é difícil de ser transposta. Falada em espanhol e em inglês, a cerimônia é a maior celebração da cultura hispânica transmitida pela TV nos EUA, país em que a proporção de latinos na população supera os 15%. Oitenta milhões de pessoas do mundo inteiro a assistem.

LIVROS E LITERATURA

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FOLHA DE S. PAULO – 'Granta' exporta literatura atual brasileira

Traduções cuidadosas compõem edição em inglês dos textos de 20 jovens escritores selecionados pela publicação

São traduções cuidadosas, entre as tradicionais, em que era frequente a negligência, e as que John Gledson fez de Machado de Assis, que primam por detalhes históricos e estilísticos

WALTER CARLOS COSTA ESPECIAL PARA A FOLHA

(8/11/12) Apesar de acompanhada de perto pela universidade, a literatura brasileira atual está pouco presente na mídia, cujos suplementos literários do passado deram lugar a cadernos de variedades. Se a literatura brasileira pesa pouco no país hoje, no exterior ela é quase inexistente, salvo por um ou outro best-seller.

Há um descompasso entre o prestígio crescente de certos autores junto à crítica internacional e a circulação precária de obras literárias brasileiras. No entanto, o apagamento literário na cena internacional, motivo de antiga e justa queixa de brasilianistas e escritores, parece estar começando a acabar.

A notícia do momento é o lançamento do número 121 da revista trimestral britânica "Granta", intitulado "The Best of Young Brazilian Novelists". É a primeira vez que a revista, fundada por um grupo de estudantes de Cambridge em 1889, dedica um número à literatura brasileira.

Até recentemente, traduções da literatura brasileira para o inglês, com exceções de praxe, mostravam pouca preocupação com qualidade literária ou precisão etnográfica. Nesta "Granta", chama a atenção o tratamento dado à tradução. O texto recebeu tratamento semelhante ao original na edição brasileira.

Alguns dos jovens escritores brasileiros selecionados pela "Granta"

O resultado são traduções cuidadosas, entre as tradicionais, em que era frequente a negligência, e as que John Gledson fez de Machado de Assis, que primam pelos detalhes históricos e estilísticos. A ordem dos autores não segue critério alfabético ou cronológico e é diferente da edição brasileira, a não ser no autor da abertura, Michel Laub, provavelmente considerado o mais representativo. A edição se encerra com outro conhecido, Daniel Galera, enquanto que, na edição brasileira, o lugar é de Tatiana Salem Levy.

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Na edição inglesa houve mudança na escolha de contos de seis entre os 20 autores, talvez para adequar os textos ao público internacional.

O prefácio, que explica em detalhe o processo de seleção dos autores, não diz nada sobre a seleção de tradutores, que não aparecem no sumário, embora tenham destaque em cada conto. No final da revista, há minibiografias de todos, cujos perfis são diversificados como o dos autores.

Previsivelmente, a maioria traduz não só do português, brasileiro e lusitano, mas também do espanhol e outras línguas. Isso indica que o grau de especialização dos tradutores de literatura brasileira para o inglês dista muito do exibido por tradutores exemplares, como o holandês August Willemsen ou o alemão Berthold Zilly, cujo conhecimento rivaliza com o dos especialistas nacionais.

Entre os 15 tradutores, há professores universitários, escritores, jovens e veteranos da tradução.

Um exame do texto revela que essa disparidade de formação e experiência foi aplainada pela preparação de texto, diminuindo as eventuais diferenças de conhecimento e habilidade.

A tradução é idiomática, com o consequente aumento da massa textual, como exemplifica o título "Aquele Vento na Praça", de Laura Erber, traduzido por "That Wind Blowing through the Plaza".

Muitas palavras que remetem a coisas típicas da cultura brasileira foram traduzidas de modo a não causar estranheza: "comemos bauru" vira "we ate cheese and roast beef sandwich".

Na mesma linha, expressões coloquiais como "ceva" foram substituídas por equivalentes não marcados, no caso, por "beer". Essas opções percorrem, de forma mais ou menos homogênea, todos os textos da revista.

O fato de o cenário dos contos ser a vida urbana de classe média no Brasil (e, em alguns casos, no exterior) facilita a adoção de uma linguagem comum em toda a revista. Como diz o prefácio da edição, os autores são "filhos e filhas de uma nação que é mais próspera e aberta; eles são, ao mesmo tempo, cidadãos do mundo e brasileiros".

O leitor estrangeiro é assim convidado a descobrir, por meio desses autores, uma literatura moderna e exportável que, como diz o prefácio da edição brasileira, "entra gradualmente na literatura mundial". Walter Carlos Costa é professor da Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina.

O ESTADO DE S. PAULO - Daniel Galera lança romance 'Barba Ensopada de Sangue'

Ubiratan Brasil

(8/11/2012) Durante um baile dominical, aquele em que todos os habitantes de uma cidade pequena se encontram, repentinamente faltou luz. Dez minutos depois, com a situação restabelecida, um homem surge estirado no chão, morto por várias facadas. Ninguém se surpreende - na verdade, o silêncio impera. Conhecido por seu temperamento irascível, o falecido não deixa saudade e o desaparecimento de seu corpo se torna um caso insolúvel para a polícia, pois não há vestígios tampouco algum depoimento que ajude elucidá-lo.

"Meu pai contou essa história há muitos anos, quando costumávamos passar o verão em Garopaba, no litoral catarinense", relembra o escritor Daniel Galera. "Nunca soube se era algo realmente verdadeiro ou um daqueles mitos que marcam uma sociedade." O certo é que a história não saiu de sua cabeça e anos depois inspirou "Barba Ensopada de Sangue", livro que a Companhia das Letras lança até sábado.

Trata-se de um dos melhores romances brasileiros deste ano e certamente um ponto alto na carreira de Galera, sempre lembrado como um dos mais promissores entre os jovens autores nacionais. O tom musical da prosa e o modo como os diálogos - precisos e rápidos - servem de contraponto à ação, como bem observou o argentino Ricardo Piglia, transformam "Barba Ensopada de Sangue" em

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um livro muito forte, "a um tempo engenhoso e desprendido, alternando o grau zero e o alto grau de escrita", na opinião de outro autor, Francisco Bosco.

O assassinato foi o ponto de partida. A lenda dizia se tratar de um cidadão de Garopaba, mas Galera preferiu transformá-lo em um gaúcho, Gaudério - há uma grande incidência deles morando na cidade catarinense. O escritor também viveu uma temporada lá, cerca de um ano e meio, fazendo anotações, germinando ideias, destrinchando o local. "Não pretendi apresentar um retrato fiel da cidade, mas utilizar sua geografia como espaço vital para o desenvolvimento da história."

Assim, o romance acompanha a trajetória do protagonista (cujo nome não é revelado), um professor de educação física, que decide viver em Garopaba. O que o motiva é uma história contada pelo pai antes de seu suicídio, sobre o misterioso desaparecimento do avô, Gaudério, que morava na cidade catarinense - ele foi supostamente assassinado daquela forma, esfaqueado durante o blackout acontecido durante uma festa dominical. Aparentemente, foi enterrado como indigente em uma cova sem identificação, mas há também a versão de que seu corpo foi atirado ao mar.

Acompanhado de Beta, cadela do falecido pai, o professor empreende a busca pela verdade, mergulhando em um isolamento geográfico e psicológico. No período passado em Garopaba, ele faz algumas amizades, desperta paixões, mas, principalmente, transforma-se em ''persona non grata'' por conta da investigação. Pior: sua incrível semelhança física com o avô perturba a população, especialmente os mais velhos, que conheceram Gaudério.

Em seu quarto romance, Daniel Galera, paulistano nascido em 1979, consolida a estatura de um escritor sério, robusto, tranquilo, como bem adjetiva o português Gonçalo M. Tavares. Sua escrita fluente não perde o prumo mesmo com digressões ou revisões de perspectivas, independentemente do personagem.

O ESTADO DE S. PAULO - Festa Literária das UPPs discute a produção da poesia

Felipe Werneck e Heloisa Aruth Sturm

(12/11/2012) No sábado, o escritor Ferreira Gullar subiu pela primeira vez o Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, no centro do Rio. Ele foi convidado para participar da primeira edição da Festa Literária Internacional das UPPs, as Unidades de Polícia Pacificadora. Havia pouca gente da favela na plateia, mas a produção literária em comunidades pobres foi abordada na primeira pergunta.

Renata Afonso queria saber a opinião de Gullar sobre a chamada poesia da periferia. Se, para ele, faz sentido pensar na diferença entre poesia de periferia e de centro. "Não existe poesia de periferia nem de centro, existe poesia boa ou má, seja feita onde for", respondeu o poeta. "É claro que, se surge em uma comunidade X, terá características dessa comunidade, mas o que importa é se é boa ou não. Senão, vamos ser benevolentes com o favelado que faz uma péssima poesia. Não importa se foi feita por branco, índio, preto, azul ou favelado."

Para Gullar, "o cara nasce poeta" e "não importa o lugar onde nasceu". "O Noel Rosa dizia que samba não se aprende no colégio. O cara nasce cozinheiro. Nasce ladrão também. O cara nasce rico e rouba, só pode ser vocação. Roubar por necessidade é outra coisa. Poeta e ladrão, ou o cara nasce ou não consegue ser."

Quando o jornalista Miguel Conde, mediador do debate, perguntou se a política ainda é importante na vida de Gullar, ele falou da mudança de sua visão ideológica. Se disse doutor em subversão e contou que, no passado, virou comunista lendo um livro de um padre anticomunista. Hoje, afirma que o capitalismo "é invencível".

Gullar disse que sua vida é resultado do improviso, que nunca planejou nada. Ele contou que não escreve poesia desde 2009. "É possível que eu não escreva mais. Sem o espanto, o que eu escrever não presta. Eu já me espantei demais, e talvez não me espante nunca mais."

No dia anterior, o processo criativo e o início da vida literária foram os temas da conversa entre os escritores João Ubaldo Ribeiro e Ana Maria Machado na Flupp. "Esse contato da identidade dentro

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da diversidade é algo que a literatura permite de uma maneira muito rica e intensa", disse Ana Maria. Ao falar sobre a universalidade de seus temas e personagens, João Ubaldo disse buscar inspiração em sua cidade natal, a ilha baiana de Itaparica, com a qual tem uma ligação muito forte.

VEJA – A televisão em papel

Um novo livro focaliza a fase de ouro de O Cruzeiro, publicação pioneira no Brasil dedicada a fazer toda semana um retrato ilustrado do país e de seu povo

Marcelo Bortoloti

(14/11/2012) Foi nos anos 40 e, principalmente, nos efervescentes anos 50 do século passado que o Brasil ganhou uma real identidade nacional, baseada em projetos ufanistas e mobilizações populares. A Marcha para o Oeste, que Getúlio Vargas empreendeu para preencher as imensas áreas desocupadas no interior, fez surgir dezenas de pistas de pouso, vilas e cidades e promoveu o contato com tribos indígenas desconhecidas. Juscelino Kubitschek implantou a indústria automobilística e começou a construir Brasília e a fiscalizar a obra – tantas vezes embarcou num avião que ganhou o apelido de "presidente voador". No Rio de Janeiro, os concursos de Miss Brasil, a partir de 1954, despertavam comoção nacional e o desempenho da representante brasileira no Miss Universo tinha ares de final de Copa do Mundo. As imagens desse tempo em que os acontecimentos ganhavam contornos épicos chegaram pela primeira vez a todos os cantos do país nas páginas da revista O Cruzeiro, do empresário da comunicação Assis Chateaubriand, a pioneira na cobertura e na distribuição nacional de notícias. A população pôde enfim incorporar ao seu dia a dia elementos que lhe eram distantes, de guerras e revoluções à vida dos astros de Hollywood. Tudo isso na forma de fotografias caprichadas – esta, a chave do sucesso de O Cruzeiro.

Criada em 1928, tornou-se em seu auge, justamente os anos de ebulição nacionalista, a revista mais lida no país, com tiragem de 700000 exemplares em um tempo em que o Brasil tinha pouco mais de 50 milhões de habitantes. Espelhava-se em outras publicações ilustradas que proliferavam no mundo e causou impacto imediato. "Como não havia televisão, a construção da identidade visual brasileira passou pelas fotos de O Cruzeiro", diz o fotógrafo e antropólogo Milton Guran. Uma TV em papel O Cruzeiro popularizou as charges e ilustrações com o Pif-Paf, de Millôr Fernandes, e com O Amigo da Onça, que se tornou sinônimo de pessoa traiçoeira, criado pelo cartunista Péricles. Sobreviveu por 47 anos, até sucumbir à concorrência e ao declínio do império de Chateaubriand. Um alentado conjunto das fotos e reportagens que deram relevância à publicação está reunido em uma exposição que o Instituto Moreira Salles vai inaugurar no próximo dia 22, em São Paulo, e no livro As Origens do Fotojornalismo no Brasil: um Olhar sobre O Cruzeiro (1940-1960), a ser lançado em dezembro, com 220 fotos de dezesseis profissionais que trabalharam na revista.

O conjunto ajuda a recontar momentos decisivos, como a ascensão e queda de Getúlio Vargas e a fundação do Museu de Arte de São Paulo. A revista bem contribuiu para despertar o encanto popular pelas estrelas do cinema, que tinham lugar cativo na capa. "Os estúdios americanos enviavam fotos e reportagens de graça em troca de publicidade", diz Helouise Costa, curadora do projeto ao lado de Sérgio Burgi. Cultivou lendas duradouras, como a de que Martha Rocha perdeu a coroa de Miss Universo porque tinha 2 polegadas a mais nos quadris, pura invenção de um repórter imaginativo. O Cruzeiro tinha, sim, seus pecados, e bem graves. A pauta servia escancaradamente aos interesses particulares de Chateaubriand, elogiando e criticando quem ou o que ele mandasse. O tom era de aberto sensacionalismo, manifestado principalmente no material produzido – ou, várias vezes, inventado – pela dupla formada pelo fotógrafo Jean Manzon e pelo repórter David Nasser. A coleção de imagens agora reunida, da qual VEJA publica quatro fotos, traz à tona essas ambiguidades e comprova o papel essencial de O Cruzeiro no esforço de levar aos brasileiros a visão de um Brasil e de um mundo em plena transformação que eles pouco conheciam.

QUADRINHOSCORREIO BRAZILIENSE - O virtual e o fantasmagórico em tiras

Diego Ponce de Leon

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(9/11/2012) Brasília é um dos melhores mercados para os quadrinhos independentes. Quem atesta é o ilustrador e cartunista Pablo Carranza, que desembarca por aqui, amanhã, para lançar Se a vida fosse como a internet, que reúne mais 80 páginas de tiras e histórias longas, na maioria inéditas. “Vários dos quadrinistas que admiro no momento vieram de Brasília ou moram lá, então o lançamento é uma boa desculpa para dar uma checada na cena que está rolando na cidade”, convida.

Desenho da série Monstros, publicada originalmente na internet

Carranza, como o título da obra antecipa, transita entre o real e o virtual e propõe uma discussão sobre o papel das ferramentas virtuais no cotidiano, sempre na companhia do humor ácido característico dos personagens desenhados. O autor sergipano

espera não se decepcionar com os fãs brasilienses de HQs: “Espero que dê muita gente, que a gente venda bem e que tenha cerveja gelada.”

A iniciativa do evento é do selo carioca Beleléu, focado especialmente em quadrinhos autorais. Além da coletânea de Carranza, a editora aproveita para lançar Monstros, uma compilação da série de mesmo nome publicada em blog desde 2009. A coleção defende que figuras monstrengas também possuem sentimentos, pagam impostos e arcam com compromissos sociais. Uma metáfora ilustrada dos verdadeiros monstros: nós. As imagens, de vários autores, ganharam textos legendas de Stêvz, um dos artistas brasilienses promissores na área, que também estará por aqui, ao lado de Carranza, para participar do lançamento.

ARQUITETURA E DESIGNO ESTADO DE S. PAULO - Paris vista por criativos olhos brasileiros

BRUNA TIUSSU

(13/11/2012) Seus inquietos traços impressionam e atiçam a curiosidade até mesmo em uma cidade tão aberta ao novo quanto Paris. Fernando e Humberto Campana vêm testando seu estilo criativo em ambientes públicos variados da Cidade Luz, pouco a pouco familiarizando - e conquistando - os parisienses àquela brasilidade tão recorrente em suas obras. Prova disso é que os irmãos estão em cartaz na capital, promovendo sua primeira mostra individual em um museu legitimamente francês. Sem falar em outros espaços emblemáticos, como o tradicional Hotel Lutetia e o icônico Museu D'Orsay.

Instalada no Les Arts Décoratifs (lesartsdecoratifs.fr, ingresso a 9,50 ou R$ 24), a exibição Les Frères Campana: Barroco Rococó abriga, até 24 de fevereiro, um cardápio recheado para se aprofundar nas obras dos artistas que, para muitos franceses, são os grandes representantes do design brasileiro atual.

Ali, eles criaram uma cenografia de fibra de coco enfeitada com candelabros de bronze adornados com peles e bambu. Também levaram peças inspiradas no barroco brasileiro e uma coleção que presta homenagem a Roma - a dupla passou meses na capital italiana produzindo objetos para a exposição.

Parcerias. Criações dos Campanas também estão presentes no elegante Hotel Lutetia. A exemplo de ninguém menos que o cineasta David Linch, que tivera ali um espaço à disposição de sua criatividade, os brasileiros foram chamados a um trabalho similar.

E assim nasceu a suíte Campana no Lutetia, inaugurada em setembro. É o mais novo espaço permanente da capital a contar com as ousadas ideias da dupla. E está disponível para qualquer

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viajante disposto a desembolsar os 1.500 (R$ 3.047) cobrados pela diária no palacete do bairro de Saint-Germain-des-Prés (lutetia-paris.com).

Como de costume, os irmãos foram buscar nas raízes do Brasil sua inspiração. Fauna, flora e a mestiçagem do País foram levados em conta na decoração, sempre em um esforço de mesclar tais características com a atmosfera tradicional do hotel.

O verde e o marrom predominam no ambiente que, apesar de se manter clássico, ganhou atmosfera contemporânea. O destaque é o tapete com formas circulares, que cobre todo o chão e se prolonga pela parede, criando um esboço de cabeceira. Outras peças do mobiliário foram customizadas para combinar com o estilo dos artistas e, muitas delas, feitas a partir de elementos com referência orgânica, caso das cadeiras compostas por 400 pedaços de couro de diferentes texturas e das luminárias em formato de cogumelos.

A parceria com o Lutetia começou quando Fernando e Humberto estavam na cidade para realizar outro trabalho. Em 2009, quando o Museu D'Orsay passou por reforma completa, foram convidados a comandar a restauração do seu Café de l'Horloge (foto). Hoje, o ambiente reúne soluções pouco convencionais no melhor estilo Campana, por isso é o mais lembrado em Paris quando o assunto é a arte dos brasileiros.

Nas mãos da dupla, o espaço deu adeus a seu ar de bistrô: saíram os veludos vermelhos, carpetes bordô, móveis de mogno. Inspirados na art nouveau e no livro Vinte Mil Léguas Submarinas, de Júlio Verne, os designers incorporaram uma atmosfera marítima ao ambiente, com enorme painel espelhado, divisórias emaranhadas de metal e fios metálicos disformes. Abajures dourados fazem alusão às conchas do mar e plantas aquáticas estão representadas nas cadeiras de poliuretano azul-celeste.

POLÍTICA CULTURALO ESTADO DE S. PAULO – Bolsa familia da alma / Entrevista / Marta Suplicy

Ministra da Cultura quer agregar deputados para resgatado projeto Vale Cultura e faía ainda sobre Lei Rouanet e decisão sobre internet

Maria Eugênia de Menezes, Ubiratan Brasil, ENVIADOS ESPECIAIS / BRASÍLIA

Na entrevista, a ministra da Cultura Marta Suplicy fala sobre as deficiências da Lei Rouanet, da necessidade de mais transparência na ação do Ecad e também sobre sua irredutível decisão de não disputar a eleição de 2014 para o governo de São Paulo.

A senhora herda uma ampla agenda, com projetos que já foram formulados, mas ainda carecem de aprovação e regulamentação. Como pretende destravar a agenda da cultura?

São dois pontos. Um implica destravar o que está no Congresso Nacional. Tive muitas reuniões procurando entender a fundo esses projetos e encontrar estratégias. Em relação à Lei Rouanet, tive uma reunião com o deputado Pedro Eugênio (PT-PE). Ele ficou um ano e meio ouvindo a classe artística e me ofereceu um panorama consolidado. Sua habilidade foi criar uma pontuação para atin-gir os 100% de isenção, e também foi habilidoso com os itens criados. Pedi para deixar dois itens abertos para o ministério usar nos próximos anos. Conversamos sobre várias áreas em que o MinC não poderia deixar de ter autonomia e também de outras áreas nas quais vão ou não despertar um certo estresse, mas que são áreas que não podemos abdicar. Ele fez um enorme esforço para conseguir um consenso. Sou uma ministra que tem como praxe negociar, conversar até chegar ao consenso. Também conseguimos uma avaliação da Receita Federal que considero ideal. Até o fim da semana que vem o projeto vai a votação.

O que mais lhe agradou?

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Gostei de ele ter tocado na questão regional. Para se ter uma ideia, da Região Norte foram aprovadas 71 análises de projetos, enquanto na Sudeste foram 5.374. Também na distribuição regional a diferença é grande: a captação na Norte foi 0,66% dos projetos, enquanto na Sudeste, 79,93%. Então, se isso não estivesse no projeto, eu teria sugerido para constar. Tenho percebido nas áreas que me são mais caras, as de inclusão - seja de caráter regional, seja envolvendo negros, gays, mu-lheres. Nesse ministério, é uma marca que gostaria de deixar: a inclusão social.

O que a senhora pensa da lei Rouanet que viabilizou a produção cultural mas não foi capaz de criar um mercado cultural suficientemente forte?

Nem teria condição, pois séria necessária uma política de Estado para a criação desse mercado. E ainda não engatinhamos nessa condição. Para isso, é necessário orçamento. Por isso, os ministros da Cultura acabam ficando felizes com a Rouanet e até trabalhando para mais incremento: trazem mais recursos. Enquanto os governos não melhorarem o orçamento para que a Cultura atue com pernas próprias, essas leis sempre terão importância gigantesca no orçamento. Não acho ideal, prefiro um orçamento mais robusto.

0 projeto das praças do RAC foi transformado em CEUs.

Mudamos o conceito, que se afunila. A licitação já estava em andamento, então interferência foi no que eu pude fazer. Tinha muita saletinha e era algo que intuitivamente me pareceu que não ia funcionar. Em conversa com os diferentes segmentos, vimos que são necessários grandes espaços, para que haja sinergia entre quem faz teatro, quem está compondo música, quem está pintando. Queremos essa conjugação de ideias. Outro desafio é formar os profissionais para trabalhar nesses 360 centros, que estarão nos centros de violência, assim como os CEUs.

A senhora fala dessa fome de cultura. Como fazer para destravar o Vale Cultura?

O Vale vai ajudar as pessoas a terem acesso. Estou pensando também em um mecanismo que permita às pessoas cumularem também. Para poder ter acesso a determinadas coisas, uma ópera, uma peça de montagem mais cara. Será a Bolsa Família da alma. O projeto estava engavetado, porque do jeito que estava teria que ser vetado, o que seria um constrangimento para a presidente. A ideia, portanto, é agregar todos os deputados à emenda e transformá-los em coautores. Aí, cada deputado pode chegar ao seu Estado e dizer: "O Vale Cultura fui eu que fiz". E ele não vai es tar errado. Sem a assinatura dele não teríamos força para fazer isso. Deve ser colocado em votação até o fim do ano.

Existe essa fragilidade patente do mercado de cultura no Brasil. A injeção de recursos pode ajudar a desenvolver o mercado?

Certamente, mas não podemos depender a vida inteira de incentivos fiscais. O ideal seria ter um orçamento maior e subsídios de política de Estado. Mas isso não é o que eu encontrei e tenho que lidar com o que tenho e fazer o melhor possível. Gosto de destravar os projetos, de fazer as coisas caminharem. Mas o que eu gostaria de deixar como marca a inclusão social. Destravar os projetos é parte do projeto.

A Lei de direitos autorais foi um dos pontos de maior polêmica na gestão Ana de Hollanda, que en-dureceu as posições sobre o tema propostas durante a gestão Gil/Juca, consideradas excessiva-mente liberais. Ao trazer de volta para o ministério Marcos Souza, formulador das políticas para o setor durante o período Gil/Juca, a senhora sinaliza uma proximidade maior com essa visão?

Eu virei a página. Mas tenho que ter um arquivo do que aconteceu e o Marcos Souza participou de 82 audiências sobre o assunto. Eu não queria gastar um ano fazendo tudo de novo. Ele veio com a condição de que eu perguntaria a opinião dele quando eu quisesse. Conversei com grupos antagô-nicos, ouvi todos e tomei posições em relação ao Ecad. O Ecad tem que existir, tem que ser um órgão independente.

Mas é necessário que seja fiscalizado, não?

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É muito forte o lado que reclama da falta de transparência. É verdade que eles têm muita difculdade de fazer a arrecadação em todos os lugares desse Brasil gigantesco. Entendi essas limitações, sei que eles fazem um esforço no sentido da arrecadação, mas esse esforço também tem que ser feito no sentido da transparência. Ainda estou estudando, mas deve haver fiscalização. Em todos os países do mundo essa fiscalização existe. No momento em que eles são um monopólio, e eu não es-tou questionando isso, eles têm que aceitar uma fiscalização. Essa decisão eu já tomei. Os focos principais desses meus 50 primeiros dias de gestão são Pro- Cultura, Vale Cultura e Lei de Direitos Autorais.

E quanto à internet, a questão dos downloads?

Uma decisão eu já tomei nessa área: "notes sticky down". É uma maneira correta, mas que tem dezenas de problemas específicos sobre os quais eu preciso me debruçar. A intenção é passar a questão o mais rápido possível para o Congresso. Tenho que respeitar as decisões que eles tomam, ouvir a opinião deles.

A senhora crê que a grande falha da sua antecessora foi essa inabilidade política?

Não compete a mim falar dela. Não tenho nada a comentar sobre isso. A presidente mudou de ministra.

Seu nome é sempre Lembrado para o governo paulista.

Eu não sou candidata.

Hoje não é candidata?

Não é isso. Eu não sou candidata. Estou no projeto Dilma. Não percorrerei o Estado, não farei nenhuma ação de candidata. Fui bem clara, não?

A Cinemateca Brasileira acenou com o desejo de se transformar em uma Organização Social. Esse foi tema muito debatido nas últimas eleições em São Paulo. O que pensa sobre as OS?

Acho que dinheiro público não pode ser gerido por sociedade civil. Dinheiro público é público e precisa de política de Estado.

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