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    Assembleia Litrgica participao de um povo sacerdotal na liturgia a partir da Constituio

    Sacrosanctum Concilium - Pe. Cristiano Marmelo Pinto

    Desde o prprio dia de Pentecostes, a Igreja nunca deixou de reunir-se para celebrar omistrio pascal: lendo tudo o que se refere a ele em toda a Escritura (Lc 24,27), celebrando a

    Eucaristia, na qual voltam a fazer-se presentes a vitria e o triunfo de sua morte e, ao mesmo

    tempo, agradecendo a Deus pelo dom inefvel (2Cor 9,15) em Cristo Jesus, para louvar sua

    glria (Ef 1,12) pela fora do Esprito Santo (SC 6).

    1. Introduo

    A questo da assembleia fundamental no que diz respeito participao litrgica.Compreender o papel da assembleia na ao litrgica, sua sacramentalidade e finalidade soimprescindveis para que a liturgia, renovada pelo Conclio Vaticano II, possa atingir a todesejada participao de todo o povo de Deus na liturgia. Toda a renovao promovida peloConclio e promulgada no documento conciliar sobre a liturgia Sacrosanctum Concilium visaresgatar esta participao de todos na celebrao litrgica.A celebrao litrgica no uma reunio qualquer, muito menos um aglomerado de massa ougrupo de indivduos sem algo comum, mas possui uma finalidade especfica e atinge um grupocaracterstico. A assembleia litrgica difere-se de outros tipos de assembleia, porque formada pelo povo de Deus, povo de sacerdotes, que participa do Sacerdcio nico de Cristo(cf. LG 10; 11).Toda celebrao requer a participao de um grupo, ou seja, preciso que um grupo depessoas se rena para celebrar. No existe culto plenamente litrgico a no ser que sejacelebrado para e por um povo reunido (GELINEAU, 1973, p. 40). De fato, como afirma aconstituio Sacrosanctum Concilium a Igreja nunca deixou de reunir-se para celebrar omistrio pascal (SC 6). Mas esta reunio no um simples encontro de pessoas. precisoformar um corpo, uma assembleia. Esta assembleia que se rene para celebrar o mistriopascal de Cristo o que chamamos de assembleia litrgica.Na celebrao dos 50 anos do Conclio Vaticano II e mais especificamente da Constituiosobre a liturgia Sacrosanctum Concilium, queremos refletir sobre a assembleia litrgica comoparticipao de um povo sacerdotal na celebrao a partir deste documento que o marco detoda uma mudana de atitude e mentalidade e, que visa principalmente o resgate participaodo povo de Deus de modo ativo na liturgia. Queremos compreender o sujeito da celebrao esuas vertentes no contexto celebrativo.

    2. Mas o que uma assembleia litrgica?

    Levando em conta a conotao profana do termo, assembleia indica um grupo qualquer depessoas que se renem para um determinado objetivo. Considerando o contexto religioso aassembleia litrgica um grupo humano que se rene e, no mbito dessa categoria, um grupoorientado para uma atividade religiosa (SPERA; RUSSO, 2005, p. 111). Este grupo humano quese rene em assembleia para uma atividade religiosa o povo de Deus, e no nosso caso, opovo cristo, comunidade de fiis unidos pela f e pelo batismo que nos constitui povo deDeus.A primeira vista, quando falamos de reunio, vem-nos a mente de que para reunir-se precisoestar disperso. No entendimento de Argrate reunio voltar a unir -se. E se voltar a unir-se, previamente necessrio uma certa des-unio ou disperso. Por sua vez, a partcula reimplica que antes da des-unio havia uma slida unio. Desse modo, re-unio leva-nos a voltara uma unidade primeira (ARGRATE, 1997, p. 57).A comunidade-Igreja rene-se para um fazer especial, marcadamente comunitrio. Atpodemos dizer que essa comunidade existe para esse fazer. A essncia da comunidade o

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    reunir-se para o fazer litrgico. A comunidade-Igreja ordena-se principalmente para o fazer daliturgia. A Igreja a comunidade da liturgia, do fazer celebrativo do mistrio do Senhor(ARGRATE, 1997, p. 58).Desde cedo, usou-se o termo ekklesa para expressar a reunio dos cristos. A significaoliteral imediata do termo seria chamado, reunio, comunidade, igreja (BERNAL, 2000, p. 111).

    Ekklesa transliterado para o latim Eclsia so verses da palavra hebraica qahal, que designaa convocao para uma assembleia e o ato de reunir-se. A melhor maneira de traduzi-la seriapor chamado (COENEN, apud BERNAL, 2000, p. 111). Na sua concepo mais antiga eoriginria, ekklesa fazia referncia comunidade do povo de Deus convocada e reunida paracelebrar a liturgia. Segundo Spera (2005, p. 112), os autores mais antigos que descrevem aliturgia mais primitiva indicam como sua principal caracterstica e seu comeo o fato de reunir-se, de deslocar-se e de chegar a um mesmo lugar para encontrar-se e ficarem todos juntos.Porm, a assembleia litrgica no se rene espontaneamente, mas sim, por um chamado, umaconvocao que tem sua origem em Deus. Assembleia, em compensao, a reunio daIgreja, do povo de Deus, convocado pela Palavra do Senhor, em um lugar concreto e nummomento preciso para celebrar os mistrios do culto (BERNAL, 2000, p. 111). por esse

    motivo que no incio da celebrao, aps a saudao do presidente, a comunidade responde:Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo. Deus quem nos convoca e rene noamor de seu Filho Jesus. A comunidade dispersa, ao ouvir o chamado de Deus atende suaconvocao e se rene.Os que se sentem unidos por diversos vnculos de conhecimentos, afeto, parentesco, amizade,relao profunda, mais que, na vida ordinria, se acham dispersos, separados, re-unen-se, isto, voltam a unir-se, a exprimir a sua vinculao unitiva, de modo sensvel, por meio de umapresena fsica de reciprocidade (MALDONADO, 1990, p. 163).Para ns cristos, o vnculo que nos faz reunir-se para celebrar a f em Jesus Cristo e o nossobatismo, que nos torna, todos, povo de Deus. Deste modo, manifesta-se a Igreja reunida paracelebrar o mistrio pascal de Cristo. Essa Igreja mostra-se, assim, como a grande foraunificante no mundo, o lugar onde todos os homens so um. E essa unidade se alcana nosuprimindo as diferenas, mas conservando-as (ARGRATE, 1997, p. 58). A liturgia manifestaa verdadeira natureza da Igreja (cf. SC 2).Conforme Beckhuser (2012, p. 17): A liturgia constitui a maior epifania ou manifestao daIgreja. Ela mostra a Igreja aos que esto fora dela, como estandarte erguido diante das naes,a fim de que se estabelea a verdadeira unio entre os cristos e todos sejam congregados atque haja um s rebanho e um s pastor. Cada membro da Igreja participa da assembleialitrgica de modo diferente, segundo a diversidade de ministrios e funes (cf. SC 26; LG 11).3. Assembleia litrgica e participao de um povo sacerdotal

    A celebrao litrgica obra de Cristo sacerdote e de seu corpo, a Igreja, ou seja, do ChristusTotus (Cristo total, cabea e membros). No encontramos nos Evangelhos nenhumareferncia ao sacerdcio. No Novo Testamento, e mais precisamente em Paulo na Carta aosHebreus, h somente um nico sacerdcio, um nico sacerdote e mediador: Jesus Cristo (cf.Hb 4,14.8,1. 10,19-21). na Primeira Carta de Pedro que ir aparecer participao do cristono sacerdcio de Cristo (cf. 1Pd 2,4-5.9). Sobre a presena e atuao de Cristo na liturgia, aconstituio Sacrosanctum Concilium dedicou um artigo inteiro (cf. SC 7). Nele afirma-se queCristo est sempre presente sua Igreja, de modo especial nas aes litrgicas. Cristo ageunido Igreja e por isso, a liturgia o exerccio do sacerdcio de Cristo. Toda celebraolitrgica, pois, como obra de Cristo sacerdote e de seu corpo, a Igreja, ao sagrada numsentido nico (SC 7). toda a comunidade que, unida a Cristo, celebra a liturgia. Aassembleia reunida para celebrar a liturgia se apresenta como comunidade sacerdotal. Elaexerce e atualiza o sacerdcio eterno e nico de Jesus Cristo (BERNAL, 2000, p. 122). nestesentido que a constituio ir afirmar que: as aes litrgicas no so aes privadas, mascelebraes da Igreja, sacramento da unidade (SC 26). Assim sendo, as aes litrgicas j noso mais privativas dos ministrios ordenados, mas atos de toda a Igreja, e por isso deve-se

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    preferir, na medida do possvel, a celebrao comunitria em que cada um deve desempenharaquilo que lhe cabe (cf. SC 26; 27; 28).A Igreja uma comunidade de carter sacerdotal (cf. SC 7). A liturgia, exercc io do sacerdciode Cristo, torna-se visvel na Igreja e por meio da Igreja (SPERA; RUSSO, 2005, p. 113). Amediao sacerdotal de Cristo visibilizada, prolongada e manifestada por meio da

    comunidade dos batizados. Como afirma a constituio Lumen Gentium: os batizadosconsagram-se para serem edifcio espiritual e sacerdcio santo, a fim de, por meio de toda asua atividade crist, oferecerem sacrifcios espirituais e proclamarem as grandezas daqueleque das trevas nos chamou para a sua luz maravilhosa (LG 10). O Conclio procurou recuperara funo sacerdotal de todo o povo de Deus na assembleia litrgica.O Conclio faz ento uma distino entre, de um lado, o sacerdcio comum ou sacerdcio dosbatizados e, de outro lado, o sacerdcio ministerial dos bispos e presbteros. No se trata dedois sacerdcios. Ambos so expresso e participao do mesmo e nico sacerdcio, o deJesus Cristo. O sacerdcio comum no deriva ou no est abaixo do sacerdcio ministerial(BUYST, 2012, p. 38).O fundamento do sacerdcio o batismo (cf. LG 14; 31, AA 3). Porm, Cristo est

    representado na Igreja, como cabea de seu corpo, por meio do sacerdcio ministerial.Embora diferente do sacerdcio batismal de todos os fiis em essncia e grau, ordena-se paraeste. O sacerdcio ministerial e o sacerdcio comum dos fiis, ambos expresso de uma Igrejapovo sacerdotal, precisam um do outro e se completam reciprocamente para realizar o cultoverdadeiro (MARTN, 1996, p. 207).O sujeito integral da liturgia sempre a Igreja, mas seu sujeito ltimo e transcendente JesusCristo, que fez da Igreja seu corpo sacerdotal. A assembleia litrgica portanto, a reunio daIgreja, povo sacerdotal de Cristo, para celebrar pelo vnculo da f e do batismo, o mistriopascal de Cristo. Assim, como define Catecismo da Igreja, na celebrao dos sacramentos, aassembleia inteira o litrgo, cada um segundo a sua funo, mas na unidade do Esprito, queage em todos (CIC, 1144).4. Caractersticas da assembleia litrgica

    O centro de toda assembleia litrgica a presena do Cristo ressuscitado no meio dela. Defato, foi o prprio Jesus Cristo quem prometeu que onde dois ou trs estiverem reunidos emmeu nome, eu estou a no meio deles (Mt 18,20). A essa presena de Jesus corresponde a fconfessada da comunidade reunida. A assembleia litrgica ento, a reunio motivada pela fem Jesus Cristo ressuscitado. A assembleia litrgica parte da f, sendo ela prpria umaconfisso de f no Senhor ressuscitado (SPERA; RUSSO, 2005, p. 115).A assembleia litrgica, reunida na presena de Cristo, possui suas caractersticas. Vejamosalgumas dessas caractersticas.1) A assembleia litrgica um grupo ao mesmo tempo unitrio e diverso: a assembleia deveser um fator de unidade de todos os que dela fazem parte. Ela deve ser um espao de acolhidacordial de todos que chegam para celebrar o mistrio do Senhor. A assembleia composta depessoas que possuem muito em comum, mas que tambm, tem suas diferenas. Por isso,mesmo que seja um ato eclesial, ningum perde sua identidade particular.A assembleia litrgica deve ser aberta e, portanto, plural, heterognea, matizada, sinal dauniversalidade do amor do Pai, da catolicidade do seu desgnio salvfico, da solidariedadeilimitada suscitada pela liberalidade da sua vontade libertadora. O nico requisito para seradmitido a ela a f (MALDONADO, 1990, p. 167).2) A assembleia litrgica carismtica e hierrquica : significa que a assembleia litrgica no um amontoado de indivduos annimos, mas uma comunidade de fiis que possui carismas edons e estruturada de maneira hierrquica. Essa caracterstica traduzida no plano prticoatravs dos diversos ministrios e funes exercidas na celebrao. Esses ministrios e funesdevem ser desempenhados para o bem de todos.

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    H, no entanto, na assembleia, um princpio de distino entre as pessoas, que no deriva daconsiderao mundana, mas de sua natureza orgnica e de seu prprio mistrio: sua estruturahierrquica. Todavia, no deve essa estrutura abafar os carismas de seus membros.Essa estrutura somo que bipolar: de um lado, a presidncia, sinal pessoal do Senhor, servo esacerdote; do outro, o povo, sinal da Igreja, a exercer seu sacerdcio batismal. Em torno

    desses dois plos, desenvolve-se certo nmero de servios. Ao plo da presidncia esto antesligados os servios da Palavra, da orao e da mesa; ao lado do povo, os da acolhida, dasofertas e do canto (GELINEAU, 1973, p. 65).3) A assembleia litrgica uma comunidade que supera as tenses: a assembleia litrgica, porser a reunio de indivduos e grupos, possui suas tenses. Mas essas tenses devem sersuperadas. H uma contnua tenso entre o indivduo que vem assembleia e a aosimblica que lhe proposta pela liturgia (GELINEAU, 1973, p. 66-67). O fato de serem todoscrentes no significa que concordam imediatamente com a celebrao. H dois aspectos nessatenso: por um lado, refere-se prpria realidade da ao proposta, ou seja, deixar-se julgar econverter ela Palavra; morrer e ressuscitar com Cristo; comungar com Deus e com os irmos. o que Paulo fala a respeito da necessidade de revestir-se do homem novo (cf. Ef 4,24). Por

    outro lado, refere-se aos sinais nos quais esse mistrio proposto, ou seja, linguagemparcialmente desconhecida, pessoas com quem celebro, que no escolhi, que no so todasconhecidas, cantos e textos que no so minha escolha, mas propostos pela liturgia.A assembleia uma comunidade que supera as tenses entre o indivduo e o grupo, entre osubjetivo e o objetivo, entre o particular e o que patrimnio comum, entre o que somentelocal e o que universal, etc. A assembleia no anula, integra; e isso no s no nvel do eu e dotu no ns abertura e encontro interpessoal, mas tambm no nvel histrico e contingentecom o transcendente e eterno, ou seja, com o mistrio de salvao e a graa de Cristo, queautentica o encontro das pessoas nesse horizonte comunitrio (MARTN, 1996, p. 209).4) A assembleia litrgica polarizante: dizer que a assembleia litrgica polariza significa queela oferece um canal de expresso e de comunicao aos sentimentos dos que esto presentesna celebrao. Significa dizer que a assembleia alm de centrar os sentimentos de cada pessoaem torno de um determinado valor religioso, ela tambm concentra nele os sentimentos dacomunidade inteira que partilha a mesma experincia de f e de orao. A assembleia polarizae proporciona meios de expresso e de comunicao aos sentimentos dos presentes, por maiscontrastantes que possam mostrar-se (SPERA; RUSSO, 2005, p. 116).5. A participao da assembleia na celebrao litrgica

    O grande anseio da renovao litrgica promovida pelo Conclio Vaticano II resgatarprincipalmente a participao de toda a comunidade na celebrao. Para isso empenhou-seem tornar o rito litrgico mais claro, simples, sbrio, conforme as caractersticas da liturgiacelebrada no incio da Igreja. Compreender o papel da assembleia litrgica na celebrao fundamental para resgatar a sua participao e evitar certos equvocos ou at mesmo atitudespopulistas de quem considera promover a participao da assembleia, confundindo ospapis de cada ministrio e funo na celebrao. O documento conciliar diz que a Igrejaprocura fazer com que os fiis estejam presentes na liturgia, no como estranhosespectadores, mas como participantes conscientes e ativos (cf. SC 48).H todo um jogo na expresso dos gestos e na linguagem da celebrao litrgica para indicar,por exemplo, que algumas vezes a assembleia toda que atua, ou os membrosindividualmente, ou aquele que preside, fazendo o que lhe cabe em nome de todo o povosanto, ou dialogando com os fiis (MARTN, 1996, p. 209).Qual o significado da palavra participar? Participar vem do latim tardio (partem -capere,participare, participatio) e significa intervir, assistir, aderir, ter parte. Participare participatioindicam, na linguagem litrgica, uma relao com, ter algo em comum com, estar emcomunho. Participao expressa portanto, relao, comunicao, identificao, unidade.Esses termos so usados para referir-se participao no mistrio celebrado. Participao naliturgia significa ter parte na ao litrgica, na vida liturgia. No como espectadores mudos

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    (SC 48), mas de modo consciente, ativo e frutuoso (cf. SC 11; 48; 114). Participar da aolitrgica significa ter parte no mistrio que est sendo celebrado (BUYST, 2002, p. 103).A participao na liturgia envolve trs aspectos:1) A ao de participar, mediante atos humanos (gestos, ritos) e atitudes internas, suscetveis avariar de intensidade ou de modalidade;

    2) O objeto da participao, ou seja, aquilo de que se participa, que no somente um ato,ritual e simblico, mas tambm o contedo misterioso que se celebra ou se atualiza (oacontecimento salvfico);3) As pessoas que tomam parte na celebrao, isto , ministros e fiis, cada um segundo o grauprprio de sua funo na liturgia.Antes de qualquer tentativa de compreender como se d a participao na liturgia, precisoter em mente que toda a assembleia o sujeito da liturgia e no apenas os ministrosordenados (cf. SC 48). Sendo, pois, sujeito da celebrao, todos dela devem participar. Significaque a participao da assembleia parte integrante da ao litrgica que tem sua origem efundamento no sacerdcio batismal de todo cristo (cf. SC 14; LG 10-11). A participao naliturgia um direito e um dever de todos. Ela no algo privativo, de apenas alguns, mas de

    todos. o que diz o Conclio quando afirma que: as aes litrgicas no so aes privadas,mas celebraes da Igreja, que o sacramento da unidade, isto , o povo santo, unido eordenado sob a direo dos bispos (SC 26). Por isso preciso promover a participao detodos na liturgia.A Igreja deseja ardentemente que todos os fiis participem das celebraes de maneiraconsciente e ativa, de acordo com as exigncias da prpria liturgia e por direito e dever dopovo cristo, em virtude do batismo, como raa eleita, sacerdcio rgio, nao santa e povoadquirido. Procure-se, por todos os meios, restabelecer e favorecer a participao plena eativa de todo o povo na liturgia. Ela a fonte primeira e indispensvel do esprito cristo (SC14).A Constituio Sacrosanctum Concilium apresenta o ideal da participao na liturgia. Vejamos:a) Participao plena, consciente, ativa e proveitosa (SC 11; 14);b) Participao interna e externa (SC 19; 110);c) Participao em ato (SC 26);d) Participao prpria dos fiis e comunitria (SC 114);e) Participao em assembleia (SC 121);f) Participao ordenada e harmoniosa (SC 18; 19).

    A participao na liturgia algo interno e externo (cf. SC 11), algo que envolve toda a pessoa,de forma que as atitudes interiores coincidam com o gesto ou a ao exterior. Deve serconsciente (cf. SC 14), alm de ativa e plena. Quanto aos elementos da participao na liturgiaexposto pelo Concilio Vaticano II, vejamos alguns deles.a) Participao ativa: participar da celebrao de forma ativa sugere ao de todos. Significaem primeiro lugar querer encontrar-se com o Senhor, responder a seu convite (BUYST, 2002,p. 104). Significa querer encontrar-se com os irmos na f, povo sacerdotal. Em segundo lugarsignifica participar ativamente de todas as aes litrgicas, cada qual exercendo a sua funo;b) Participao interna e externa: a participao na liturgia tem dois aspectos, um interno eoutro externo. O que realizamos externamente (gestos, palavras, canto, movimentos...) devemter repercusso interior, ou seja, deve atingir nossa interioridade, nosso corao. deixar-semergulhar, atravs dos gestos e sinais, no mistrio do Senhor;c) Participao consciente: significa que nossa mente deve acompanhar nossas palavras egestos. Como dizia So Bento: que nossa mente concorde com o corao. Participarconscientemente trata-se de que precisamos compreender cada gesto, palavra, smbolos daliturgia. uma compreenso que vai alm do puro raciocnio, deixar-se tocar pelo mistriodo Senhor, e poder ver em tudo que se realiza na liturgia a expresso desse mistrio;

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    d) Participao plena: trata-se de participar de maneira integral, ou seja, se entregar porinteiro no que est sendo celebrado. Identificar-se com o mistrio celebrado e deixar-se tomarpor ele e se transformar. o que diz So Paulo: J no sou eu que vivo, pois Cristo que viveem mim. E esta vida que agora vivo, eu a vivo pela f no Filho de Deus, que me amou e seentregou por mim (Gl 2,20);

    e) Participao frutuosa: significa que a participao na celebrao litrgica deve produzirfrutos na vida de quem dela participa. Ela deve ser traduzida em aes, em compromisso nodia-a-dia das pessoas. Em outras palavras, significa dizer que a liturgia deve produzir frutos deconverso e transformao em nossa vida, ter continuidade fora do momento celebrativo.Em vista de uma melhor participao na liturgia, o Conclio procurou concretizar os meiospossveis para que a participao da assembleia acontea. Para isso necessrio:a) Formao litrgica (SC 14-19);

    b) Catequese litrgica e de admoestaes oportunas no desenvolver dos ritos (SC 35,3);

    c) Ritos simplificados (SC 34);

    d) Fomento dos cantos e das respostas, dos gestos e das posturas corporais, assim como dosilncio na celebrao (SC 30);

    e) Introduo da lngua verncula (SC 36,2);

    f) Inculturao da liturgia (SC 37-40);

    g) Ampliao das leituras da Palavra de Deus na liturgia (Sc 24);

    h) Homilia (Sc 35,2);

    i) Reviso dos testos e dos livros litrgicos (SC 21; 25).

    7. Concluindo...

    A liturgia a celebrao de todo o povo de Deus, Corpo de Cristo (Cabea e membros). Aassembleia que celebra a liturgia manifestao da Igreja e sujeito da liturgia. Na liturgia, aIgreja se manifesta como povo sacerdotal, que celebra o mistrio da f. Esse povo sacerdotal constitudo pelo batismo, que nos faz todos participantes do nico sacerdcio de Jesus Cristo.Embora diferentes em grau e essncia, o sacerdcio batismal e o sacerdcio ministerial estum ordenado para o outro.A assembleia litrgica a reunio da Igreja, povo sacerdotal de Cristo, para celebrar pelovnculo da f e do batismo, o mistrio pascal de Cristo. Desse modo, podemos concluir que aparticipao da assembleia na liturgia consiste em, deixar-se tomar pelo mistrio celebrado edele participar de modo ativo e consciente. Se compreendermos bem o papel da assembleiana liturgia, seus ministrios e funes, poderemos promover ento o que deseja o ConclioVaticano II, na Constituio sobre a liturgia Sacrosanctum Concilium: uma participao ativa,interior e exterior, consciente, piedosa, plena e frutuosa.Ainda nos falta muito por fazer. Precisamos arregaar as mangas e ajudar o nosso povo acelebrar cada vez melhor. A promoo da participao da assembleia na liturgia cabe tanto aospastores (bispos e presbteros), como tambm aos membros da pastoral litrgica. Ento, mosa obra!

    Referncias bibliogrficas:

    CONCLIO ECUMNICO VATICANO II. Constituio Sacrosanctum Concilium sobre a sagradaliturgia. (Coleo: A voz do papa 26). So Paulo: Paulinas, 2002.

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