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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL COMISSÃO ESPECIAL SOBRE A FAMÍLIA RELATÓRIO FINAL “Os entraves da adoção no RS” Presidente: Dep. Missionário Volnei (PSC) Vice-Presidente: Dep. Lisiane Bayer (PSB) Relator: Jeferson Fernandes (PT) Porto Alegre, 2016

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ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL COMISSÃO ESPECIAL SOBRE A FAMÍLIA

RELATÓRIO FINAL “Os entraves da adoção no RS”

Presidente: Dep. Missionário Volnei (PSC) Vice-Presidente: Dep. Lisiane Bayer (PSB)

Relator: Jeferson Fernandes (PT)

Porto Alegre, 2016

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MESA DIRETORA 2016

Presidente: Silvana Covatti - PP 1º Vice-Presidente: Adilson Troca - PSDB

2º Vice-Presidente: Álvaro Boessio - PMDB 1º Secretário: Zé Nunes - PT

2ª Secretária: Juliana Brizola - PDT 3º Secretário: Marcelo Moraes - PTB

4ª Secretária: Liziane Bayer - PSB

COMISSÃO ESPECIAL DA FAMÍLIA

Composição

Presidente: Missionário Volnei - PSC Vice-Presidente: Liziane Bayer - PSB

Relator: Jeferson Fernandes - PT

DEPUTADOS TITULARES

Luiz Fernando Mainardi - PT Edson Brum - PMDB Tiago Simon - PMDB

Enio Bacci - PDT João Fischer - PP Sérgio Turra - PP

Vinicius Ribeiro - PDT Pedro Pereira - PSDB

Aloísio Classmann - PTB

DEPUTADOS SUPLENTES

Adão Villaverde - PT Nelsinho Metalúrgico - PT Gilberto Capoani - PMDB Vilmar Zanchin - PMDB Eduardo Loureiro - PDT Frederico Antunes - PP Gilmar Sossella - PDT

Marcel van Hattem - PP Zilá Breitenbach - PSDB Ronaldo Santini - PTB

Elton Weber - PSB

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ASSESSORIA TÉCNICA E COLABORADORES

AGRADECIMENTOS:

❖ Equipe do Departamento de Comissões Parlamentares

❖ Equipe da Divisão de Taquigrafia

❖ Equipe da Divisão de Sonografia

❖ Equipe do Departamento de Segurança do Legislativo

❖ Equipe da Divisão de Transportes

❖ Equipe da Promotoria da Infância e Juventude do Ministério Público Estadual

Oziel Alves Assessor Superior / Coordenador da CEF

Mara Ivana Vaz de Campos Secretária da Comissão

Potira Webber Gonçalves Assessora Técnica

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Seu nome é hoje

Somos culpadosde muitos erros e faltasporém nosso pior crimeé o abandono das criançasnegando-lhes a fonteda vida

Muitas das coisasde que necessitamospodem esperar. A criança não

pode

Agora é o momento em queseus ossos estão se formandoseu sangue também o estáe seus sentidosestão se desenvolvendo

A ela não podemos responder

“amanhã”. Seu nome é hoje.

Gabriela Mistral

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 1 .............................................................................................................................

1. SÍNTESE DAS AUDIÊNCIAS PÚBLICAS REALIZADAS NA CAPITAL 3 ......................................

1.1 PAINEL: O acolhimento familiar - desafios para sua implementação no RS 3 ...............................

1.2 O panorama geral da adoção no RS e o perfil dos acolhidos no Estado 9 ....................................

1.3 A demora na habilitação de candidados a adoção e na destituição do poder familiar 18 ..............

1.4 A conscientização coletiva acerca da adoção tardia 18 ..................................................................

1.5 Uma análise do apadrinhamento afetivo no RS 31 ........................................................................

1.6 O desenvolvimento escolar de crianças e adolescentes acolhidos 31 ...........................................

1.7 O cenário da capaticação técnica e emprego para jovens acolhidos 31 .......................................

1.8 Limites e Possibilidades do Cadastro Nacional de Adoção 40 .......................................................

2. SÍNTESE DAS AUDIÊNCIAS PÚBLICAS REALIZADAS NO INTERIOR 46 ..................................

2.1 O cenário da adoção em SANTA MARIA 46 ...................................................................................

2.2 O cenário da adoção em FARROUPILHA 55 .................................................................................

2.3 O cenário da adoção em BAGÉ 60 .................................................................................................

2.4 O cenário da adoção em PASSO FUNDO 64 .................................................................................

2.5 O cenário da adoção em URUGUAIANA 73 ...................................................................................

2.6 O cenário da adoção em PELOTAS 77 ..........................................................................................

3. ARTIGOS APRESENTADOS 81 ......................................................................................................

3.1 Ponderações acerca dos trabalhos da Comissão Especial da Família da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. 81 ...................................................................................................

3.2 O direito à convivência familiar e comunitária 87 ..........................................................................

3.3 Adoção, um algo mais. 91 ..............................................................................................................

3.4 A Absoluta Prioridade de Crianças e Adolescentes 92 ...................................................................

3.5 Considerações da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social 95 ......................................

CONCLUSÃO 98 ..................................................................................................................................

RECOMENDAÇÕES 103.....................................................................................................................

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APRESENTAÇÃO

Nada pode ser mais importante para o desenvolvimento saudável de uma

criança do que o crescimento em um ambiente familiar. No entanto, este presente -

direito garantido pela Constituição Federal e ratificado pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente - que acompanha o tic tac do relógio e tem pressa para acontecer, tem

sido “negado” a milhares e milhares de crianças e adolescentes acolhidos no Rio

Grande do Sul, em razão de uma série de entraves culturais, ideológicos, legais e

burocráticos que insistem em construir “muros de proteção” ao invés de “pontes de

conexão”.

Segundo dados do Conselho Nacional de Justiça – CNJ -, o Rio Grande do

Sul é o Estado brasileiro que ostenta a maior fila do país no que se refere a lista de

pretendentes à adoção. De acordo com o Cadastro Nacional de Adoção – CNA -,

existem no Rio Grande do Sul cerca de 5,6 mil famílias habilitadas para adotar e

pouco mais de 1000 crianças e adolescentes destituídos do poder familiar. Na frieza

dos números, haveria mais de 5 famílias para cada criança ou adolescente. Todavia,

na prática a equação é bem mais complexa de ser resolvida, do que se pode

imaginar.

Por que este cálculo não fecha? Por que, em boa parte dos municípios

gaúchos, o tempo de espera para habilitação de interessados em adotar é sempre

tão longo? Por que a destituição do poder familiar raramente ocorre dentro do prazo

de 120 dias, conforme preceitua o Estatuto da Criança e do Adolescente? Por que

tantas crianças e adolescentes passam a vida inteira dentro das casas de

acolhimento, enquanto o ECA sugere que este período não se estenda por mais de

2 anos? Por que inexistem políticas públicas que visem conscientizar a população

acerca da importância da adoção tardia? Por que não há valorização dos grupos de

apoio à adoção? Por que a insistência em inserir uma criança dentro da família

extensa, mesmo de depois de anos abrigada, sem que tenha havido qualquer

manifestação da família por anos a fio? Por que tanto “zelo” com a divulgação de

imagens de nossas crianças, enquanto outros Estados, como Pernambuco e Rio de

Janeiro, que já aderiram a esta prática, através dos programas “Adote um Pequeno

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Torcedor” e “Eu quero uma família”, comprovadamente aumentaram o número

adoções? Por que, mesmo diante de tantos dados positivos, ainda existem tantas

objeções a programas de apadrinhamento afetivo e acolhimento familiar? Por que

nossas crianças e adolescentes acolhidos possuem baixíssimo desenvolvimento

escolar? Que medidas estamos tomando para garantir um futuro profissional a

adolescentes, que aos 18 anos precisarão deixar as casas de acolhimento? Que

espaço estamos dando às nossas crianças e adolescentes nas centenas de

encontros, fóruns, audiências, e seminários, etc, que realizamos semanalmente?

É diante deste cenário e a partir destas perguntas que surgiu a Comissão

Especial sobre Família com o único propósito de aprofundar os conhecimentos

acerca do panorama geral da adoção no Rio Grande do Sul, trazendo

representantes dos três poderes, Ministério Público, Defensoria Pública e Órgãos

não governamentais para debater estes assuntos a fim de que a partir daí o Poder

Legislativo pudesse sugerir recomendações e Projetos de Leis, que venham

contribuir para a solução dos problemas apresentados pela sociedade, organizações

públicas e entidades representativas.

Deputado Missionário Volnei Presidente da Comissão Especial sobre a Família

Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul

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1. SÍNTESE DAS AUDIÊNCIAS PÚBLICAS REALIZADAS NA CAPITAL

1.1 PAINEL: O acolhimento familiar - desafios para sua implementação no RS

Dia 08 de julho de 2016 – Porto Alegre

O painel com o tema "O acolhimento familiar no Brasil e os desafios para sua

implementação no RS", realizado na Assembleia Legislativa do RS em oito de julho

de 2016, marcou o início de uma série de quinze audiências públicas da Comissão

Especial, que tem como objetivo abordar os entraves relativos à adoção no Rio

Grande do Sul.

O Presidente da Comissão Especial, Missionário Volnei, explicou que o

Acolhimento Familiar é um serviço de proteção social temporário para crianças e

adolescentes que precisam ser afastados do seu convívio familiar, tendo origem

prevista, inclusive, no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Também explicou que a intenção da Comissão é coletar elementos que

auxiliem na construção de políticas públicas que representem uma ajuda efetiva às

crianças e adolescentes que esperam por um lar e que para isso, é preciso ouvir

órgãos e pessoas especialistas no assunto.

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O evento, que ocorre em parceria com o Instituto Humanidades, teve como

painelistas a Dra. Jane Valente (Campinas) e o cientista social José Carlos Sturza

de Moraes.

O Secretário do Trabalho e Desenvolvimento Social do RS, Catarina

Paladini, cumprimentou o presidente pela iniciativa do trabalho e a todas as

pessoas sensíveis à causa. Saudou a todos, afirmando que a Comissão teve uma

grande conquista por compreender que este é um grande gargalo da sociedade

brasileira e da sociedade gaúcha.

Explicou que o Estado, diante de situação de crise financeira, decidindo cortar

gastos, atinge o setor social. Ressaltou que a Secretaria do Trabalho e

Desenvolvimento Social é a instituição mantenedora, por meio da Fundação de

Assistência Social e Cidadania (FASC) e da Fundação de Proteção Especial (FPE),

mas que devido à sua abrangência em outras funções e dificuldades financeiras,

desvia-se um pouco da sua finalidade. Contudo o Rio Grande do Sul, com toda a

sua dificuldade financeira, ainda é o único estado que consegue manter uma

instituição com essa dinâmica. Explanou sobre a distribuição das unidades que

tratam de crianças e adolescentes no Estado e a capacidade de atendimento de

cada uma. Salientou que a responsabilidade deve ser dividida entre a FASC, FPE,

Ministério Público e Poder Judiciário, que muitas vezes acaba inviabilizando o

processo. Disse ainda, que essa comissão trouxe para o debate questões

importantes no sentido de buscar o apadrinhamento e a adoção, identificando os

grandes problemas como a morosidade, a flexibilização do convívio com o zelo

necessário e tudo o que possa interferir nesse processo.

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Ele afirmou que se pretende criar um plano de ação, para que esse tema

possa sair do campo teórico para o campo prático. Comentou sobre um

questionamento feito por representantes do Ministério Público acerca de outros

municípios desejarem ser atendidos pela FPE e esclareceu que o Estado, pelas

circunstâncias de manutenção e por pretender atender dando as mesmas condições

a todos, teve que fazer um remanejamento para outras entidades para que não

houvesse prejuízo na lógica orçamentária. Falou que das 35 entidades no estado

existem dez casas que tratam de crianças especiais e ressaltou que esta é também

uma questão de saúde, que deve ser tratada também pela Secretaria de Saúde.

Esclareceu que cada um dos 496 municípios do Estado tem as suas

responsabilidades, cada um trata as suas necessidades e que, apesar de suas

dificuldades, Porto Alegre atende 80% da demanda da capital, enquanto 20% dos

atendimentos atinge todos os municípios da região metropolitana. Comentou que

gestores à frente das instituições devem buscar soluções inteligentes, tendo em

vista a situação econômica e social do País.

Sr. José Carlos Sturza Moraes, cientista político, mestre em Educação,

diretor do Instituto Humanidades, saudou a todos e começou sua fala dizendo que

estamos no mês em que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 26

anos, com importantes conquistas, como por exemplo, a redução da mortalidade

infantil, o aumento do acesso ao ensino fundamental e aumento da atenção em

saúde para população de baixa renda, porém temos o desafio de manter o que

conquistamos e explicitarmos os nossos problemas.

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Neste tema do acolhimento familiar não tratamos do acolhimento familiar

definitivo, de uma nova família ou de um retorno para família de origem e sim de

uma política pública autorizada desde 2009 que é o serviço de acolhimento familiar,

que segundo o art. 34 do ECA é a possibilidade e a necessidade deste tipo de

acolhimento ser priorizado em relação ao acolhimento institucional, no entanto em

nenhum estado do Brasil o acolhimento familiar é superior ao acolhimento

institucional.

Hoje existem quase quarenta mil crianças e adolescentes acolhidos e pouco

mais de dois mil em famílias acolhedoras. Precisamos evitar qualquer tipo de

acolhimento, com articulação em rede de políticas públicas e também é muito

importante ouvir as crianças e adolescentes, que precisam ou não de medida de

proteção.

Precisamos debater sobre o direito à adoção, com campanhas públicas como

o ECA determina, que não são feitas no Estado do RS há pelo menos uma década.

A última grande campanha nacional foi feita pela Associação dos Magistrados

Brasileiros.

Por último, temos que lembrar que um dos nossos maiores desafios no Brasil

tem sido a garantia de vida de crianças e adolescentes que hoje têm mais chances

de nascer e viver os primeiros anos de vida, porém hoje têm mais chances de

morrerem assassinados, especialmente se negros e negras, moradores de periferias

urbanas. Os dados mostram que 29 crianças e adolescentes morrem assassinadas

por dia no Brasil, finalizou o palestrante.

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A Secretária municipal da Política de Assistência Social de Campinas/SP, Dra.

Jane Valente, ativista experiente do Direito da convivência familiar e comunitária no

Brasil, defendeu a execução do acolhimento familiar como uma das mais

importantes alternativas para proteção à infância no país. Informou que Campinas

realiza o acolhimento familiar há dezenove anos, como política pública estatal e

também com uma entidade conveniada há dez anos, tendo dois serviços de

acolhimento. A convivência familiar comunitária é garantida a 87% das crianças

cuidadas por esse sistema. Comentou que participou de uma discussão muito

produtiva, na Câmara Legislativa do Direito Federal, sobre o marco legal na primeira

infância - que reforça o Estatuto e o acolhimento familiar - e saiu muito satisfeita que

essa discussão tenha alcançado o Poder Legislativo.

Ela explanou sobre os alicerces de criação do ECA e os desafios encontrados

no seu cumprimento; citou o nome da Dra. Mirian Veras Batista, que disse ser

necessário incluir dois eixos, como sistema de garantia nesta nova etapa do ECA: o

da instituição do direito, que é o Poder Legislativo, órgão que faz as leis e também o

da disseminação, através da informação pelos órgãos de educação e de

comunicação. Comentou que sua filha está cursando Direito em uma faculdade de

renome em Campinas, onde o ECA é disciplina optativa, e que isso não tem lógica

se entendermos que a criança e o adolescente são prioridade absoluta no país.

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Também afirmou que a Constituição Federal preceitua que é dever da família,

da sociedade e do Estado garantir à criança e, recentemente, ao adolescente todos

os direitos para transformá-lo em um cidadão, que a família é a base do Estado e

tem direito à proteção especial. Ressaltou que é um desafio para todos transformar

essa proteção em políticas públicas que envolvam a questão da equidade social;

uma política mais humanizada. Explicou as formas de acolhimento: abrigos, casas

lares, famílias acolhedoras, repúblicas e ressaltou a importância de todas, neste

momento, sendo importante observar a necessidade da criança para poder acolhê-la

em um local adequado.

Esclareceu ainda que o acolhimento familiar é um serviço de proteção social

temporário para crianças e adolescentes que precisam ser afastados do seu

convívio familiar, mediante medida protetiva, previsto no ECA. O acolhimento

temporário por família substituta é muito adotado em vários países como Canadá,

França, Espanha e Portugal.

Ela traçou um histórico do acolhimento familiar no Brasil - onde os números

ainda são pequenos: cerca de 2500 crianças ou adolescentes para 40 mil atendidos

- falou sobre a formação da sua cultura e relacionou-o ao sistema jurídico e legal

existente. Salientou que hoje o acolhimento familiar é um serviço público que precisa

estar previsto no orçamento do município, que em 2004 foi inserido na Política

Nacional de Assistência Social e que em 2009 foi descrito nas orientações técnicas.

Falou do livro Família Acolhedora, de sua autoria, impresso pela Paulus, entidade

de assessoramento de assistência social, e distribuído gratuitamente. Esse livro traz

o relato de crianças sobre a vida no acolhimento familiar.

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Por fim convidou todos à leitura e também a ouvir o que as crianças têm a

dizer. Alertou, baseada na leitura de As competências da família, livro que também

indicou a todos, que é preciso mudar o conceito de família culpada para família

responsável. Disse que devemos mudar o conceito de família “Doriana” - uma

família idealizada - para uma família real. Afirmou ser a favor da adoção aberta, em

que a criança tem o direito de conhecer a sua história e a sua família biológica.

1.2 O panorama geral da adoção no RS e o perfil dos acolhidos no Estado

Dia 11 de julho de 2016 – Porto Alegre

No dia 11 de julho de 2016 foi realizada a primeira a Audiência Pública

da Comissão Especial da Família. O evento aconteceu na Assembleia Legislativa do

Estado e uniu, pela primeira vez em uma Audiência Pública, a Corregedoria-Geral da

Justiça, do Ministério Público, a Defensoria Pública do Rio Grande Sul, a diretoria da

FPE, da FASC, do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), do Conselho

Tutelar de Porto Alegre, ONGs e de outras entidades representativas que discutiram

“O panorama geral da adoção no Rio Grande do Sul”.

Conforme a fala de abertura do Presidente da Comissão, Missionário Volnei,

“é a primeira vez que uma comissão trata com exclusividade este tema e reúne, em

uma mesma audiência representantes de órgãos essenciais para que se possa

discutir, com efetividade, a questão da morosidade na destituição do poder familiar,

políticas de acolhimento familiar, o acolhimento institucional, a falta de legislação

federal e estadual para a implementação do apadrinhamento afetivo no estado,

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diretrizes para o bom funcionamento da busca ativa, as limitações do Cadastro

Nacional de Adoção (CNA), o baixíssimo desenvolvimento educacional de crianças e

adolescentes acolhidos no Rio Grande do Sul e tantas outras questões ligadas a

este tema.”

De acordo com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), o Estado do Rio

Grande do Sul ostenta a maior fila de adoção do país e, segundo dados do CNA,

existem no Estado cerca de 5,5 mil famílias habilitadas para adotar e pouco mais de

mil crianças e adolescentes disponíveis para adoção.

Diante disso, especialistas e organizações ligadas ao tema defendem que

questões administrativas, legais, sociais e culturais dificultam os processos relativos

às filas de adoção. Em Porto Alegre, por exemplo, existe uma única Vara da Infância

e Juventude responsável pelo andamento de 4.600 processos de adoção. Essa

demanda, que depende da avaliação de apenas dois juízes, faz com que crianças

acolhidas na capital levem em média três anos para serem destituídas do seu

âmbito familiar, enquanto em outros municípios gaúchos esse tempo gira em torno

de três a seis meses.

Um problema que, infelizmente, reduz as possibilidades de uma criança ser

adotada já que apenas 10% dos pretendentes à adoção buscam uma criança com

mais de cinco anos. Com a demora dos processos, essas crianças se tornam “filhos

de abrigos” que, ao atingirem a maioridade, acabam tendo que seguir suas vidas

sem condições mínimas de autossustento, tornando-se presas fáceis da

criminalidade.

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O Relator da Comissão, Deputado Jeferson Fernandes agradeceu às

instituições que estiveram presentes para contribuir com o trabalho. Explicou que “o

relatório fará o levantamento dos principais elementos que diagnosticam a situação

no RS, das causas que levam milhares de crianças a permanecerem numa casa de

acolhimento, que embora seja o ideal a criança não ficar por muito tempo numa casa

de acolhimento, hoje é impossível a adoção de todas as crianças, pois muitas

famílias ainda preferem adotar criança recém-nascida”.

Existem várias casas de acolhimento que trabalham de forma generosa com

as crianças, um exemplo é o da casa de acolhimento Lar Bom Pastor, no município

de Boa Vista do Buricá, onde os casais preparados acolhem as crianças e vivem o

cotidiano como uma família “normal”. São 80 crianças integradas na comunidade,

não é para serem substituídas pelas famílias biológicas, no entanto é uma

experiência que tem trazido bons resultados.

Na sequência, a palavra foi concedida à Juíza-Corregedora da Infância e

Juventude, Dra. Andréa Rezende Russo, que trabalha no âmbito administrativo na

Corregedoria do Tribunal de Justiça do Estado do RS e relatou que lá existe a

coordenadoria da infância e juventude, onde é coordenadora. Dentro da

coordenadoria os temas de infância e juventude são trabalhados de modo geral,

tanto enquanto vítimas do sistema quanto envolvendo adolescentes infratores. Os

programas de apadrinhamento afetivo, acolhimento familiar, ainda não possuem

legislações específicas mas já são aplicados e acompanhados pela corregedoria e

estão previstos no ECA.

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Relatou também, que no município de Santo Ângelo existe uma lei municipal

em vigor, com um projeto em andamento em relação ao acolhimento familiar

(famílias cadastradas que recebem crianças e adolescentes acolhidos), apesar de lá

ainda existir o acolhimento institucional, o projeto está funcionando e sendo

divulgado em diversos municípios.

Informou que será lançada em outubro de 2016, para a mídia externa,

campanha de adoção de crianças e adolescentes com perfil de difícil colocação

(crianças com alguma deficiência, mais velhas, que tem irmãos etc.), que não se

consegue pretendentes. Disse que em maio deste ano foi instalada a Comissão da

Autoridade Central Estadual (órgão administrativo que se envolve com as adoções

internacionais, respeitando a convenção de HAIA, fazendo habilitações e dossiês em

casos onde não foi possível a colocação em famílias substitutas no Brasil).

A Juíza trouxe dados gerais em relação a situação da adoção no RS.

Informou que no âmbito jurisdicional o RS possui 160 comarcas e que todas

possuem juizado de infância e juventude, sendo que algumas possuem juizados

especializados com varas específicas e outros juizados regionais da infância e

juventude, que abrangem várias varas, como por exemplo Porto Alegre, que possui

quatro juizados da infância e juventude (em razão de ser a maior demanda), além da

existência do projeto justiça instantânea, DECA, que realiza trabalhos com menores

infratores.

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Em relação às crianças acolhidas, são mais de quatro mil no RS. O

acolhimento institucional é um serviço de assistência social onde todos que o

requerem, têm direito. Diversas crianças passam por esse serviço por um curto

período de tempo, por alguma situação excepcional. Ter um número elevado de

acolhidos não significa que esse será o número total de crianças e adolescentes que

serão destituídos do poder familiar e depois serão colocados em família substituta.

Até o final de junho de 2016, existiam 625 crianças disponíveis para adoção

no RS, conforme Cadastro Nacional de Adoção. Em Porto Alegre havia 213, sendo

que do número total, 334 já estão em aproximação com as pessoas pretendentes à

adoção.

Quanto aos pretendentes, existem 5.238 pessoas na fila aguardando a

adoção no RS e em POA 496 pessoas. Em relação às adoções com processos

sentenciados em 2014: 885, em 2015: 889 e no primeiro semestre de 2016: 422

crianças.

Das 625 crianças aptas a serem adotadas, 566 tem dez anos ou mais, 430

possuem irmãos, 36 possuem alguma deficiência física, 96 possuem alguma

deficiência mental e 30 são portadores de HIV.

Apenas 1,83 % das pessoas habilitadas aceitam crianças acima de dez anos,

sendo que só existiam três bebês disponíveis: dois com irmãos e um com

deficiência. Esses números demonstram a dificuldade de colocação do perfil da

adoção.

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Em relação aos processos ativos no RS que envolvem adoção, a juíza

informou que 2.400 processos estão em andamento e 1.993 envolvem a destituição

do poder familiar. A demanda maior de processos é na capital do Estado, porém

houve uma diminuição desde a retirada dos casos de crimes sexuais envolvendo

crianças e adolescentes dos juizados (que agora possuem vara própria) e após a

designação de uma juíza específica para fazer as audiências concentradas em

casas de acolhimento, envolvendo todos os casos de crianças acolhidas, com

equipe técnica, com a família etc. (conforme estabelecido no ECA no máximo a cada

seis meses deve ser revista a situação das crianças acolhidas). Também disse que

foi designada recentemente em Porto Alegre, outra juíza assumindo este trabalho,

para dar mais suporte ao segundo juizado e mais servidores. O ideal seria que

existisse outra vara que tratasse da mesma matéria do 2º juizado, mas que com a

crise do Estado, isso fica congelado por enquanto.

Em relação ao Cadastro Nacional da Adoção, falou que existem alguns

problemas e que o judiciário vem revisando, a cada seis meses, caso a caso dos

processos cadastrados envolvendo as suas comarcas.

Em seguida passou-se a fala à Dra. Noara Bernarde Lisboa,

Subcorregedora do Ministério Público do Estado, que afirmou existir uma situação

delicada em relação à adoção e que Porto Alegre é o local que tem enfrentado mais

problemas, mas há municípios que desenvolvem um bom trabalho e que poderiam

servir de exemplo.

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Observou que nos últimos anos as crianças e os adolescentes têm ficado

mais tempo nas casas de acolhimento do que preconiza o Estatuto. Informou que,

de acordo com um trabalho feito nas casas de acolhimento, muitas irregularidades

foram apontadas, tais como: bebês recém-saídos da maternidade sendo

encaminhados à adoção e que esperam três anos ou mais para serem adotados;

crianças e adolescentes, cujos pais foram destituídos do poder familiar não estavam

incluídos no Cadastro Nacional de Adoção; crianças e adolescentes muitas vezes

estavam acolhidos sem o respectivo procedimento de acolhimento e sem

acompanhamento do juízo; muitos estavam crescendo dentro de instituições sem ter

o direito de encontrar uma família por demora na tramitação da destituição do poder

familiar. Relatou que esta situação foi levada à Corregedoria de Justiça, sendo

criado um grupo de trabalho com integrantes do Ministério Público e da Defensoria

Pública com o objetivo de detectar os principais problemas. Informou que havia

casos em que crianças estavam sendo acolhidas diretamente pelo Conselho Tutelar

e a comunicação ao judiciário era feita tardiamente ou que crianças estavam sendo

desacolhidas sem o conhecimento do Judiciário e sem o pedido do Ministério

Público, que é exigência do ECA. Como primeira providência, foi firmado um Termo

de Cooperação, que determinou que assim que o juízo fosse comunicado de um

acolhimento, seria designada uma audiência de acolhimento, em um período de

vinte e quatro horas, com a presença de todas as instituições envolvidas e, sempre

que possível, com a presença da criança ou do adolescente, que devem ser

ouvidos. A seguir, leu as recomendações constantes do relatório do grupo de

trabalho, sinalizando que muitas já foram atendidas. Salientou que é importante criar

uma aproximação entre adotantes e adotados para que os laços afetivos se criem; e

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! 16

nos casos em que não haja a adoção, que existam programas de integração desses

jovens junto à sociedade.

A seguir, o Presidente passou a palavra à Dra. Maria Berenice Dias,

presidente do IBDFAM, que disse que a ideia de criação de dois Cadastros Nacional

de Adoção, um dos adotantes e outro dos adotados serve para agilizar os processos

por meio do cruzamento destes, mas que necessitava de mudanças. Afirmou que

nem sempre a família biológica é a melhor opção para a criança e que a família

extensa tem de ter vínculo de afetividade e de afinidade com a criança. Advertiu que

a mãe tem todo o direito de doar seu filho à adoção e que muitas vezes a criança

será mais amada por uma família que está a desejando de fato; que bebês não

devem ficar em instituições, que embora bem cuidados, necessitam de uma família

para o seu desenvolvimento psíquico. Sugeriu que os candidatos adotantes

visitassem as crianças disponíveis para adoção nos encontros preparatórios da

adoção, pois hoje elas só podem receber visitas de pessoas que não constam no

CNA, que não podem adotá-las. Contestou a decisão da Defensoria Pública de

recorrer contra a destituição do poder familiar nos casos em que a mãe da criança

não é encontrada ou a família não tem condições de criá-la, afirmando que essa

demora é mais um entrave à adoção. Disse que grupos de adoção, como o Instituto

Amigos de Lucas, não têm acesso ao cadastro e citou o exemplo do Rio de Janeiro,

em que todas as instituições entram para o CNA e procuram crianças para as

pessoas cadastradas, e assim que as famílias são destituídas do poder familiar, as

crianças são entregues às famílias substitutas, agilizando assim o processo de

adoção. Finalizando, disse que a Lei precisava de mudanças, mas que antes disso

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! 17

os abrigos deveriam abrir as suas portas, porque ninguém vai adotar uma criança

com deficiência se ela está lá trancada e absolutamente invisibilizada.

A Promotora da Infância e Juventude do Ministério Público Estadual, Cinara

Dutra, iniciou sua fala lamentando que não haja maior integração entre os órgãos

que tratam do tema: “Não há trabalho conjunto”, criticou. Informou que, atualmente,

na capital, são 102 casas de acolhimento, com população de 1.263 crianças e

adolescentes em atendimento. Que segundo o levantamento de março de 2016, 409

crianças e adolescentes estão aptos à adoção, no entanto, apenas 211 estão com

cadastro ativo, isto é, com processo de legalização em andamento. “A preocupação

é com os que compõem o cadastro inativo. Se o jovem já teve a destituição do poder

familiar transitada em julgado, se houve a renúncia dos pais ou seu falecimento, ele

tem o direito constitucional à realização de consulta (procura por pretendentes)”,

explicou, observando que no Brasil 35 mil pessoas estão habilitadas a formar

família.

Ela frisou que o MP está atento ao quadro e entende que seja necessária

maior agilização dos processos de adoção, com melhor estruturação do Poder

Judiciário, ampliando o número de técnicos, hoje insuficiente. “Precisamos construir

parcerias para fazer a busca ativa em meio àqueles 35 mil pretendentes, para

colocarmos, no mínimo, esses 409 aptos de Porto Alegre”, disse a magistrada.

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Nesse sentido, a promotora também defendeu que o cadastro de recém-

nascidos no CNA deveria ser realizado a partir do momento em que seus processos

de destituição do poder pátrio fossem concretizados. Conforme Cinara, isso reduziria

o tempo de encaminhamento desses bebês para os processos de adoção que hoje

levam, em média, dois anos e meio para serem concluídos.

Também participaram da audiência: Bárbara Oliveira Sartori, em nome da

Defensoria Pública do Rio Grande do Sul, Marta Gomes, em nome do Conselho

Estadual da Criança e do Adolescente, Marcelo Soares, Presidente da FASC,

Marcelo Bernardi, Coordenador do Conselho Tutelar de Porto Alegre e Christian

Rios, em nome da Organização Amigos de Lucas. Da mesma forma, integrantes e

pessoas da plateia, representando instituições com trabalho na área.

1.3 A demora na habilitação de candidados a adoção e na destituição do poder familiar

1.4 A conscientização coletiva acerca da adoção tardia

Dia 08 de agosto de 2016 – Porto Alegre

O Presidente da Comissão Especial, deputado Missionário Volnei, deu início

à Audiência Pública para tratar de três temas correlatos: o problema da demora na

habilitação de interessados em adotar; a destituição do poder familiar e a

importância da conscientização coletiva sobre a chamada Adoção tardia.

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O Secretário do Trabalho e do Desenvolvimento Social do RS, Catarina

Paladini, afirmou que a Comissão é um marco histórico na busca de uma política de

estado efetiva na procura de soluções para a questão da adoção. Ele se propôs a

implementar o conjunto de ações e propostas resultantes do trabalho da Comissão

junto à secretaria do Trabalho.

Com 14 anos de experiência no Juizado da Infância e da Juventude da capital

gaúcha, o Desembargador José Antônio Daltoé Cezar, foi o primeiro a dar seu

depoimento. Ele disse que apesar do aperfeiçoamento das leis que regem o assunto

no Brasil, ainda há sérios problemas de legislação que impedem a celeridade na

adoção. Afirmou ainda, que há uma deficiência na formação jurídica, na área da

infância e juventude nas faculdades de Direito, que esta área, a nível mundial, é

muito recente no Brasil. Informou que antes da vigência do ECA, os juizados eram

grandes estruturas, com grandes equipes e orçamento próprio. Em situação irregular

- geralmente de pobreza – a criança era retirada da família, e após um estudo social

e psicológico, era remetida ao juiz, que declarava que essa criança estava pronta à

adoção.

O magistrado salientou que milhares de crianças foram tiradas de suas

famílias em virtude da pobreza. Após a criação do ECA, a família biológica foi

protegida até as últimas consequências. Ressaltou que existem problemas na

legislação federal, que cria óbices para que o processo seja mais rápido. Informou

que no caso de um adolescente infrator recolhido, a situação deve ser definida em

45 dias e aquele que foi vítima de uma violência fica recolhido dois anos ou mais, e

é necessário realizar um trabalho com as famílias. Advertiu que esta situação

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prejudica a criança, que passados seis meses, segundo psiquiatras, já se criam

danos neurológicos - os danos cerebrais são perceptíveis em crianças com até cinco

anos, quando o cérebro se desenvolve mais rapidamente, principalmente até os três

anos -, e que isso será levado para a vida adulta.

Ele relatou que pesquisas apontam que pessoas que passaram muito tempo

em instituições têm maior probabilidade de desenvolver depressão, ansiedade,

abuso de drogas, criminalidade e comportamentos emocionais mal regulados. Disse

que estão tentando mudar o processo, mostrando aos desembargadores que julgam

casos de família que é preciso assumir riscos; que o risco de dano, se a decisão não

for rápida, é muito maior. Afirmou que criança não nasceu para ser criada em

instituição de acolhimento. Segundo o desembargador, no Brasil há mais de cem

juízes que pensam dessa forma. No Mato Grosso do Sul foi realizado um acordo

com o Tribunal de Justiça, que está julgando os casos em até sessenta dias, porém

os processos não chegam a ser concluídos devido os recursos ao Supremo Tribunal

de Justiça.

Alertou que é preciso melhorar o trabalho deste segmento; que muitas vezes

há resistência das equipes técnicas definirem se uma família tem chance de

recuperação em curto prazo. Existe 1% de chance, e embora sendo uma situação

difícil, cabe ao juiz definir; as famílias devem ficar com suas crianças, mas quando

não tiverem condições, que as crianças possam ir para famílias substitutas

rapidamente. Ressaltou que este assunto deve ser discutido com as equipes

técnicas, com o Ministério Público e com a Defensoria Pública - para recorrerem

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somente quando houver chance de alteração - para que crianças e adolescentes

possam ter um horizonte melhor, porque todo ser humano tem esse direito.

O Juiz do 2º Juizado da Infância e Juventude de Porto Alegre, Marcelo

Mairon Rodrigues, parabenizou a iniciativa da Assembleia. Afirmou ser um desafio

para um juiz tomar decisões que estejam de acordo com a lei e que ao mesmo

tempo não prejudiquem a criança, que muitas vezes, devido à espera, atinge uma

idade avançada e não encontra mais pretendentes à adoção.

Relatou que no Juizado da Infância e Juventude de Porto Alegre há em torno

de 4500 processos em tramitação. Existem 1400 acolhidos - parte deles em casas

de acolhimento da FPE e o restante na FASC - todos em situação de risco. Disse

que, devido à guerra do tráfico, muitos são acolhidos para preservar suas vidas,

portanto, existem situações que não estão ligadas diretamente à questão da adoção;

outras, em que adoção é dificultada em razão do perfil não adaptar-se ao dos

pretendentes.

Informou que no Rio Grande do Sul há 5580 pretendentes habilitados à

adoção, e que deste universo, não chega a 2% o número de pretendentes que

indicou uma criança com dez anos ou mais em seu perfil. Relatou que em maio de

2016, havia 358 crianças e adolescentes em processo de adoção, destes, 315

tinham menos de dez anos. Também em maio, 614 crianças e adolescentes

estavam com a situação jurídica definida, mas não em processo de adoção, por

questões de idade, de grupo de irmãos, de doenças; do total de 614 crianças e

adolescentes, 90% tinha dez anos ou mais. Informou que desde julho de 2016

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contam com mais um magistrado para dividir as tarefas da Vara da Infância; a partir

de outubro, terá um juiz apenas para conduzir esse trabalho, reduzindo dessa forma,

o tempo de audiência. Disse que desde 2014 contam com um magistrado, que faz

as audiências concentradas junto com as equipes técnicas; que desde março a

equipe técnica vem trabalhando com as pessoas que estão se habilitando.

Em relação à Adoção tardia, alertou que é preciso ter cuidado para não haver

devolução da criança, que acaba sofrendo outra rejeição. Informou que em agosto

serão realizados cinco seminários para tratar questões relacionadas à adoção, com

a presença do Ministério Público, da Defensoria Pública e de técnicos para trocar

experiências. Falou que pretendem ampliar a visibilidade das crianças e

adolescentes àqueles que estão habilitados e também incentivar a busca ativa, com

o devido preparo e acompanhamento das pessoas habilitadas para diminuir o

problema da devolução.

Em seguida, passou a palavra ao Dr. Mário Romano Maggioni, que informou

que em Farroupilha há um grande trabalho nessa área, proporcional ao tamanho da

cidade; existe uma rede muito operante no acompanhamento efetivo de crianças e

adolescentes em situação de risco, resultando em um grande número de acolhidos,

de ações de destituição e de adoções. Disse que no ano anterior encaminhou 31

crianças e adolescentes para adoção; delas, dezessete eram grupos de irmãos: um

grupo de quatro irmãos, três grupos de três e dois grupos de dois; todos irmãos

foram encaminhados juntos.

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Informou que as audiências nessa área são marcadas para até um mês.

Salientou que não há necessidade de fazer audiência concentrada para analisar se

é caso de destituição, pois quem faz a primeira análise é a equipe da Casa Lar,

juntamente com o Conselho Tutelar e toda a rede do Município e o Ministério

Público. Em seguida, o Ministério Público informa se há necessidade de retorno à

família biológica, à família extensa ou se é caso de destituição; caso seja

destituição, o Ministério Público ajuíza a ação, dando agilidade ao processo.

Observou que, em muitos casos, há evidências que não existem condições de

deixar uma criança ou adolescente com a família, porém há inúmeros outros casos

que são altamente duvidosos. Admitiu existir a possibilidade de devolução,

entretanto, opinou ser melhor uma devolução do que manter uma criança ou um

adolescente novamente em situação de risco.

Analisou que dentre as mais de duzentas ações de destituições que proferiu,

duas foram alteradas até hoje. Admitiu ser extremamente complexa uma ação de

destituição. Informou que quando ajuizada dá-se toda celeridade; em Farroupilha

têm-se conseguido manter a média de quatro meses. Frisou que os processos têm

de ser tratados com prioridade absoluta, informando que tem conseguido encerrá-los

em menos de um ano. Contou que em Farroupilha há 25 crianças e adolescentes

acolhidos; a média de acolhimento é de sete a oito meses em razão de existir um

grupo de cinco irmãos há mais de um ano, que aumenta a média; caso contrário a

média se mantém dentro do prazo previsto no ECA.

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Frisou que sempre analisa os processos pela perspectiva da criança e do

adolescente, não se preocupando muito com os adultos. Afirmou que as pessoas

que querem adotar muitas vezes não estão preparadas e relatou os trabalhos feitos

pelos grupos de apoio à adoção e pela equipe técnica da Casa Lar, que fazem o

acompanhamento dos pretendentes à adoção para reduzir a devolução e garantir o

desenvolvimento integral da criança e do adolescente. Comentou sobre o trabalho

realizado em um dia de Natal, por meio do Jornal Pioneiro, que publicou cartas

escritas por adolescentes dizendo que queriam ser adotados; que esse era o

presente de Natal que queriam ganhar; disse que por meio desse trabalho algumas

adoções foram efetivadas. Citou um vídeo, que foi disponibilizado, em que uma

adolescente relata a sua história e logo após apareceram pessoas habilitadas para

adotá-la. Alertou para o cuidado que se deve ter para não expor a criança ou o

adolescente.

A Subcorregedora do Ministério Público Estadual, Noara Lisboa, parabenizou

a Comissão pela iniciativa do debate. Recordou que, em encontro anterior, já havia

informado sobre trabalho realizado em 2015 com a finalidade de diagnosticar o

momento das adoções no RS. “Foi instalado Grupo de Trabalho (GT) em conjunto

com o MP e a Defensoria Pública e uma das principais conclusões é que persiste a

demora na tramitação das destituições de poder familiar e de outros procedimentos

relativos à adoção”, informou. Para ela, “estamos esperando muito para avançar,

para melhorar".

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Segundo Noara Lisboa, mesmo que o ECA cite a preservação do vínculo

familiar, o momento exige respostas mais rápidas e eficazes, muito em razão da

disseminação das drogas. Estar em casa (com a família biológica), em muitos dos

casos, não garante a segurança. Ao contrário, permanece o risco elevado de

agressão e maus-tratos em geral. “Neste quadro, forçar a manutenção deste tipo de

vínculo é retroagir. Por esta e outras razões, o MP igualmente entende ser de muita

importância que a rede envolvida mantenha-se mobilizada e em contato”.

O Presidente passou a palavra à Dra. Maria Regina Fay de Azambuja, que

alertou ser necessário seguir não só as regras do ECA, mas também as do Estatuto

da Primeira Infância, vigente desde 08/03/2016, que foca nas políticas públicas

voltadas não somente após o nascimento, mas também ao período anterior ao

nascimento da criança. Afirmou que muitas mães ao saírem do hospital muitas

vezes sofrem negligências causadas pela própria pobreza. Advertiu que no momento

do nascimento da criança, a família deveria passar por uma avaliação, e que um

profissional deveria ir até o local para verificar com precisão se a família tem

condições de ficar com aquele filho. Afirmou que existe demora até chegar ao

Conselho Tutelar, muitas vezes essa mãe já tem três, quatro filhos. Concluiu dizendo

que é necessária uma política pública voltada para o momento em que a mãe vai ao

hospital, levando em conta que a maioria dessas mães ganha seus bebês no

hospital, objetivando um maior controle.

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O Juiz da Vara da Infância e Juventude da Comarca de Recife, Élio Braz,

convidado especial da Comissão Especial da Família narrou a forma como estão

acontecendo as adoções na capital de Pernambuco e destacou o programa “Adote

um pequeno torcedor”, iniciativa conjunta sua, do Sport Club do Recife e das

promotoras de Justiça do Ministério Público de Pernambuco, Ana Maria Maranhão e

Daniela Brasileiro.

Segundo o Juiz Braz, alguns pontos são essenciais para que seja entendido o

atraso envolvendo adoções. “Há uma cultura constituída no sentido que família só

existe se formada desde cedo, daí a procura por aqueles com menor idade. Aí

surgem os mitos e preconceitos tão característicos do processo. Na realidade,

somos devedores daquilo que o ECA apresenta sobre proteção plena e integral.

Devemos construir um tempo, um período adequado à colocação da criança ou

adolescente nas famílias”, alertou.

Para ele, a criança sobre a qual estamos falando “não existe. Estamos

tratando de uma criança da qual pouco ou nada conhecemos. O Marco Legal da 1ª

Infância (Lei 3.257, de 8 de março de 2016) vem com uma esperança de

entendermos que criança é esta”, acrescentou, citando que a questão é histórica.

“Nos séculos dezesseis e dezessete, não existia a criança como hoje a entendemos.

Se vestia como adulto, servia às necessidades e desejos sexuais dos adultos. O

próprio Velho Testamento não fala em criança. Adão já aparece adulto. Daí nossa

agonia e sofrimento, porque estamos inventando essa criança. Na realidade, ainda

não a conhecemos. Daí estas reuniões e seminários como este”, observou.

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Na opinião de Élio Braz, duas correntes envolvem o tema. “Uma privatista,

outra publicista. A última, entende que o Estado deve intervir, tem que estar

presente. Não pode e não deve ser assim. Não pode ser política de Estado, muito

menos de governo. É uma política da sociedade e sociedade é um direito privado,

família é de direito privado e Estado tem que apenas proteger, sem intervenções. Os

programas devem ser voltados à sociedade, uma vez que os tempos do Direito são

burocráticos. Precisamos ser mais informais”, apontou.

Explicou que em Recife “não há o dilema que atinge a maioria dos juízes, e

com razão: a destituição do poder familiar. E se existir família, como fazer?

Destituição não mata o pai, não mata a mãe, não mata a família, é só um momento

processual”. Narrou as técnicas dentro do que chamou de racionalidade processual,

na agilização das demandas, e defendeu a necessidade de mais equipes

executando o trabalho, para que realmente sejam reduzidos os prazos à adoção.

O Presidente passou a palavra à Dra. Suzana Schettini, que disse que o

objetivo principal da ANGAAD é trabalhar pela garantia do direito à família para

todas as crianças e adolescentes, principalmente quanto às adoções de crianças

maiores, crianças com necessidades especiais, grupos de irmãos e crianças com

etnias diferentes. Afirmou que buscam famílias onde as crianças e adolescentes

aptos à adoção possam se desenvolver integralmente com pessoas vinculadas por

laços afetivos e de afinidade. Esclareceu que os grupos de adoção são formados por

juízes, advogados, psicólogos, professores, pedagogos e pais, que por meio de um

trabalho voluntário e sem recursos, promovem a sensibilização dos pretendentes à

adoção, fazendo com que muitas vezes alterem o perfil desejado, através de

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vivências compartilhadas na convivência do grupo. Afirmou que onde existe um

trabalho integrado entre a Vara, o Ministério Público, a sociedade civil –

pretendentes e grupos de apoio à adoção – as adoções acontecem. Ressaltou que a

Adoção tardia é complexa, o pós-adoção é importante para apoiar as famílias, e as

varas não dão conta. Disse que mora em Recife há dezesseis anos, e desconhece

algum caso de devolução. Compartilhou com o pensamento da Dra. Maria Regina

Fay de Azambuja quanto as políticas públicas direcionadas às mães antes do

nascimento, falou que o feto já tem direitos a partir da concepção. Compartilhou

também quanto à questão da visibilidade das crianças e dos adolescentes, com

cautela e responsabilidade. Disse que por meio do apadrinhamento afetivo, embora

não seja esse o objetivo, tem acontecido casos de adoção. Afirmou que

contribuições e experiências diferentes, de lugares diferentes, trarão a

complementaridade.

Ela também entende que maior atenção deve ser dada às crianças e

adolescentes que estão a mais tempo aguardando por adoção, bem como os que

têm necessidades especiais. “A família é o útero essencial. As crianças que não

forem adotadas no seu tempo, terão sequelas. Criança acolhida ou abrigada tem

sim, prazo de validade”, destacou. “A cada dia que fica abrigada, perde mais a

esperança e a confiança na sociedade. Deve ser papel de todos colocá-las em uma

família, não uma família substituta, mas uma Primeira Família”.

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De acordo com a Dra. Suzana, os grupos de apoio devem ter seu trabalho

reconhecido, em especial na preparação aos pretendentes, o que por si só não vai

melhorar o quadro. “Não podemos culpar os pretendentes pelos atrasos nas

adoções”, advertiu. Segundo a psicóloga, as crianças têm que ser vistas.

"Precisamos de atitudes adotivas. As crianças que hoje aguardam, especialmente

com mais idade, quando completarem os 18 anos sairão às ruas. Se não estiverem

colocadas em famílias, estarão em meio a nós”.

O Presidente passou a palavra para a Sra. Rosi Prigol, que informou ser

mãe adotiva e militante na causa pelos habilitados que estão na fila de adoção.

Elogiou o trabalho realizado pelos juízes de Farroupilha e Pernambuco. Expôs o

trabalho realizado pelo Instituto Amigos de Lucas - onde é presidente - através da

apresentação de slides, que mostram casos de adoção, por meio da “busca ativa”.

Contou que nos grupos de 130 pessoas, noventa são cegonhas - devidamente

reconhecidas pelas varas da infância e filiadas à ANGAAD - que procuram famílias

para as adoções necessárias. Frisou que este trabalho é pautado no

acompanhamento: no antes, no durante e no após a adoção. Ressaltou que para se

cadastrar no grupo de adoção, os pretendentes necessitam estarem habilitados no

CNA, com perfil de Adoção tardia para crianças maiores de oito anos, perfil para

doenças, grupo de irmãos interracial. Esclareceu que os juizados do País indicam

crianças com perfil de difícil colocação; ao encontrar um interessado, a cegonha

informa seus dados à Vara, para que faça o cruzamento dos processos na busca de

efetivar a adoção. Informou que desde 2009, por meio da busca ativa, conseguiram

efetivar 81 adoções - sem nenhuma devolução -; todas são amplamente

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acompanhadas. Por fim, leu um e-mail de agradecimento, recebido pelo Grupo de

Apoio à Adoção Amigos de Lucas, enviado por uma assistente social do Tribunal de

Justiça de Minas Gerais, que tem indicado muitas pessoas na “busca ativa”.

O Presidente passou a palavra à Dra. Cinara Vianna Dutra Braga, que

elogiou o trabalho do Dr. Élio Braz, do Dr. Mário Maggioni e da Dra. Suzana

Schettini. Ressaltou que o trabalho realizado pelo Dr. Marcelo Mairon está

revolucionando a área da infância e juventude; que conta com o seu apoio para,

juntamente com tantas experiências, transformar a realidade de Porto Alegre. Disse

que o problema da adoção no Rio Grande do Sul está em Porto Alegre, que tem 103

casas de acolhimento, entre casas do Estado e do Município, conveniadas. Alertou

para o custo emocional para as crianças, que estão perdendo a primeira infância

nessas casas; muitas delas há mais de dez anos. Questionou por que não

encaminhar as crianças de Porto Alegre à adoção, através da “busca ativa”; por que

não dar visibilidade a elas. Afirmou que temos que conhecer novas possibilidades e

nos adequarmos para transformar nossa realidade, que não é possível que

adolescentes saiam aos dezoito anos das casas de acolhimento, despreparados,

sem família, se há tantas pessoas habilitadas sonhando em ter uma família. Sugeriu

realizar uma grande festa, convidar todos habilitados para a adoção e todas as

crianças aptas em Porto Alegre; disse que só nos apaixonamos por aquilo que

conhecemos.

A seguir, o Presidente passou a palavra à Sra. Simone Uriartt, filha adotiva,

que contou sua história de vida e apresentou o projeto “Adoção Tardia”, em que são

disponibilizados vídeos no Youtube e em outras redes sociais, de experiências

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positivas de adoção, que tem como objetivo sensibilizar pretendentes a adotar

crianças com idade superior a dois anos. Ressaltou que esse projeto apoia a adoção

por casais homoafetivos e por mulheres e homens solteiros e prioriza contar

histórias de adoção inter-racial e de grupo de irmãos. Salientou que o Adoção Tardia

é uma ferramenta que está à disposição do Poder Judiciário, do Ministério Público e

dos grupos de apoio à adoção. Por fim, apresentou um caso de uma adolescente de

quinze anos, que estava há mais de dois anos acolhida, e que após divulgar um

vídeo seu, foi adotada por um casal habilitado para um perfil de até seis anos.

O Presidente passou a palavra ao Sr. Nilson Queiroz, pai adotivo, que

contou a sua experiência em adotar dois meninos: um de quatro e outro de sete

anos. Apresentou seu projeto: “Pais de Coração”, livro que conta histórias reais de

adoção, com o propósito de inspirar, acelerar e qualificar o processo de adoção no

Brasil. Apresentou também, o projeto “Primeira Fralda Social do Brasil”, que, pelo

site, é possível comprar fraldas de uma instituição e doar à outra, gerando benefícios

a ambas.

1.5 Uma análise do apadrinhamento afetivo no RS

1.6 O desenvolvimento escolar de crianças e adolescentes acolhidos

1.7 O cenário da capaticação técnica e emprego para jovens acolhidos

UMA ANÁLISE DO APADRINHAMENTO AFETIVO NO RS, O DESENVOLVIMENTO ESCOLAR DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES ACOLHIDOS E O CENÁRIO DA CAPACITAÇÃO TÉCNICA E EMPREGO PARA JOVENS ACOLHIDOS

Dia 12 de setembro de 2016 – Porto Alegre

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Ao iniciar a oitava Audiência Pública da Comissão Especial, o Deputado

Missionário Volnei saudou a todos e passou a palavra ao Secretário Catarina

Paladini, titular da pasta do Trabalho e Desenvolvimento Social, que frisou o papel

importante do Parlamento na discussão do tema e destacou as proposições dos

deputados Eduardo Loureiro e Luís Augusto Lara. Disse que estava ali para ouvir e

dar o apoio necessário. “O acolhimento é importante, mas precisamos ir além.

Precisamos resguardar a cidadania destes jovens”, referindo-se à presença dos

representantes do ministério do Trabalho.

No primeiro bloco, os presentes trataram da análise do apadrinhamento

afetivo e a necessidade da sua regulamentação no Estado, e o caso das famílias

acolhedoras. Em relação a esta temática, o primeiro a falar foi o Juiz Luís Carlos

Rosa, que relatou a iniciativa do Juizado da Infância e Juventude da Comarca de

Santo Ângelo, o programa de guarda compartilhada, batizado de Família

Acolhedora, que cadastra e prepara famílias da comunidade para receber crianças e

adolescentes que necessitam de proteção, sendo uma alternativa aos abrigos. “A

alternativa tem se mostrado produtiva, com resultados que classificamos de ótimos.

As crianças se desenvolvem melhor, em razão do estímulo diário”, resumiu.

São quatorze famílias acolhedoras e 25 acolhidos. “Isso significa 40% dos

acolhidos em Santo Ângelo. No RS, só 1% está em acolhimento familiar, os demais

99% em acolhimento institucional”, comparou, frisando que esta é uma alternativa

paralela à institucionalização. O Magistrado mencionou a legislação que ampara

legalmente a família acolhedora, a partir do ECA. “Havendo a necessidade de

afastamento da criança ou adolescente da sua família, a preferência externada em

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lei, é o amparo em programa de acolhimento familiar, possibilitando um atendimento

individualizado, no seio de uma família”. Ele também citou estudos mostrando que

os dois anos iniciais da vida são essenciais, constituindo período crítico em que o

contato emocional e físico é imprescindível ao bom desenvolvimento. Igualmente

expôs levantamento divulgado por revista especializada mostrando um estudo na

Romênia com um grupo de 136 crianças, sendo metade residentes junto a famílias

convencionais e outra com grupo de institucionalizados. “Após quatro anos de

análise, o resultado mostrou que os institucionalizados apresentaram QI entre 70 e

75; os acolhidos em família QI 85, e aqueles que nunca estiveram

institucionalizados, QI de 100”, apontou. Também sublinhou que a interação mais

permanente gera consequências mais positivas. “O acolhimento familiar dá o

atendimento individualizado, e estímulo é fundamental. Vai para adoção a criança

com origem na família desestruturada”, constatou. Contou que o município de Santo

Ângelo paga a cada família acolhedora, um salário mínimo por crianças ou

adolescente acolhidos. Em municípios como Cascavel, no Paraná, onde os

acolhidos chegam a 85%, há ainda, isenção de IPTU e um salário mínimo e meio a

quem cuida de jovens com necessidades especiais.

Narrou que há histórico, em Santo Ângelo, de famílias que já acolheram,

passaram pelo desacolhimento e estão novamente se habilitando para acolher. “Nos

desacolhimentos, se observa que os vínculos com a família acolhedora são

mantidos. A experiência transforma a vida de acolhidos e acolhedores”,

complementou, elogiando as iniciativas de parlamentares nesta direção.

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! 34

Na sequência, o Deputado Eduardo Loureiro explicou o conteúdo do Projeto

de Lei (PL) 90 2016, de sua autoria, que aguarda parecer na Comissão de

Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa. Por meio do PL, o

parlamentar propõe que o programa de guarda temporária de crianças e

adolescentes, a Família Acolhedora, se transforme em política pública do Estado.

Disse que o programa objetiva acolher e atender temporariamente crianças e

adolescentes em situação de risco pessoal ou social em razão de abandono,

negligência familiar, violência ou opressão, afastados da família de origem por

decisão judicial. O período máximo de permanência no programa será de dois anos,

salvo situações excepcionais a critério da autoridade judiciária.

O acolhimento por famílias da comunidade ou famílias de apoio, explicou o

parlamentar, “representa a possibilidade da continuidade da convivência familiar e

comunitária em ambiente sadio, onde a criança possa expressar sua individualidade

e ter minimizado o seu sofrimento diante da crise que se coloca”. Assinalou, ainda, a

necessidade de se trabalhar com as famílias de origem, tendo em vista a

reintegração familiar.

O projeto foi discutido por autoridades do Poder Judiciário e conta com o

apoio da Coordenadoria da Infância e Juventude, órgão de assessoramento da

presidência do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, conforme Moção de Apoio

anexada à proposição.

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! 35

De sua parte, o Deputado Luís Augusto Lara falou sobre seu PL 313 2015,

que institui o Projeto Família Hospedeira em todo o Estado, tratado no encontro

como Família Afetiva. Salientou, primeiramente, a riqueza daquele momento, “que

otimiza esforços dos muitos que atuam e colaboram na área da infância e

juventude”.

Adotado, relatou que achava que conhecia um pouco do tema, até pela

condição de advogado, quando se estuda o ECA. “Mas foi como secretário do

Trabalho e Ação Social, passando a conhecer a fundo a Fundação de Proteção

Especial (FPE), por exemplo, que vi a necessidade de um olhar diferenciado. Eu

estava longe de conhecer os verdadeiros gargalos que obstruem as adoções”.

Observou que a burocracia faz com que casais migrem ao interior do RS na

busca da agilização de uma adoção. Segundo Lara, os jovens que estão em abrigos

e que possuem possibilidade remota de adoção poderão receber, além de

educação, amor e afeto. De acordo com o texto, os meninos e meninas precisam ter

mais de cinco anos de idade e estarem em abrigos registrados pelo Poder Público.

“Como consequência de tempo de convivência, esta atitude poderá gerar laços de

afinidade e afetividade, os quais impliquem, inclusive, em um pedido de guarda ou

adoção”, frisou.

Propôs aos deputados e lideranças presentes uma mobilização para

agilização na votação das propostas, sua e do deputado Loureiro. “Os trâmites na

Casa podem atrasar ainda mais. Sugiro que levemos o tema à deputada presidente,

Silvana Covatti, para que os coloque o mais rápido possível em pauta, logo após

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aprovação na CCJ, pulando etapas que seriam subsequentes". Por fim disse que

esta é uma luta que sempre vale a pena.

O Juiz da 2ª Vara da Infância e Juventude de Porto Alegre, Marcelo Mairon

Rodrigues, cumprimentou o deputado Missioneiro e o Parlamento pela iniciativa do

debate, em especial no trato da questão do acolhimento familiar. Neste sentido,

parabenizou o deputado Loureiro por sua proposição. Disse que a capital pode, sim,

acatar a proposição que busca efetivar a prática do acolhimento familiar, o que “trará

um ganho significativo a todos os envolvidos, em especial, claro, aos que aguardam

por oportunidades como esta, do convívio familiar, bem como a adoção”.

Já a Promotora de Justiça do Ministério Público do RS, Cinara Viana Dutra,

observou que o PL 90, de iniciativa do deputado Loureiro deverá ser aprovado, indo

ao encontro do que já se prevê em nível federal. Sobre o PL de Lara, disse que vai

revolucionar o Rio Grande e que o MP é parceiro da iniciativa, “uma terceira via

possível e amenizadora dos que aguardam adoção; algo que traz muito alento aos

que não conseguem um lar permanente”.

Cinara ainda narrou sua viagem a Brasília, a pedido da Comissão, para

convidar representação do Ministério do Trabalho. Lá, informou a séria situação das

centenas de adolescentes gaúchos em abrigos e expôs a expectativa na construção

de alternativa no sentido que sejam preparados para alguma atividade profissional.

Segundo ela, o ministro do Trabalho, Ronaldo Nogueira, se disse favorável a um

programa de aprendizagem destinado especificamente aos acolhidos e sua

importância no futuro destes jovens.

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! 37

Na sequência, foi iniciado o segundo bloco dos debates, o cenário da

capacitação técnica de adolescentes acolhidos no RS. O Diretor do Departamento

de Políticas de Trabalho e Emprego para a Juventude, do Ministério do Trabalho,

Higino Brito Vieira, observou que esta é uma causa que envolve de forma

permanente.

Relatou ações que podem ser desenvolvidas diante do quadro apresentado e

que o Ministro do Trabalho tem prioridade na atenção aos jovens acolhidos, em

razão das gerações futuras envolvidas. Frisou que o número de acolhidos

impressiona e que é preciso apoio do poder público para alterar a situação.

Assegurou que o MT está atento ao desafio e que forças deverão ser

constituídas. “Creio na colaboração e esta mesa, repleta de autoridades do

segmento, mostra que isso é possível. Só assim as ações aparecerão e

apresentarão resultados satisfatórios”. Narrou reunião, pela manhã (12), com a

promotora do MPRS, Cinara Viana Dutra Cinara, e disse que vê boas perspectivas

em um futuro bem próximo. “A aprendizagem é o melhor caminho”, frisou,

destacando que os resultados que surgirem no RS deverão ser replicados pelo país,

em um modelo inovador.

A Coordenadora nacional do Projeto de Inserção de Aprendizes do MT, Thaís

Lisboa, lembrou que a aprendizagem aos jovens já aparece na CLT, em 1943. “Esta

é uma luta antiga, pelo projeto de inserção na aprendizagem, e é preciso todo o

esforço para que estes jovens entrem no mercado de trabalho pela porta da frente,

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com todos os direitos garantidos”. Alertou ser fundamental inserir os jovens em

condição de vulnerabilidade na aprendizagem, nas mais variadas áreas.

Patrícia de Mello Sanfelici, Procuradora do Ministério Público do Trabalho,

falou da importância da iniciativa (da aprendizagem aos institucionalizados), mas

advertiu sobre o cuidado no sentido de que a aprendizagem não substitua a mão de

obra nas empresas. “Estes aprendizes não podem integrar o corpo funcional, é

função social, por meio do qual buscam aprender". Contou que há muita atenção e

forte combate ao trabalho infantil. “A aprendizagem deve ser alternativa para quando

completarem dezoito anos; é algo para subsidiá-los para encarar seu novo

momento. Precisamos preparar não só seu futuro, mas do País. A realidade é dura e

a aprendizagem é a grande saída”, agregou.

O terceiro bloco abordou o desenvolvimento escolar de jovens e adolescentes

nas casas de acolhimento. A Diretora Técnica da Fundação de Assistência Social e

Cidadania, de Porto Alegre (FASC), Marta Borba, apresentou dados que mostram a

dificuldade de aprendizagem dos que estão acolhidos, destacando que, atualmente

a capital acolhe 868 crianças e adolescentes, na faixa de zero a dezoito anos, são

42 o total de abrigados com acesso à escola infantil; 602 no ensino fundamental; 22

no ensino médio; 26 em escola especial; 34 aguardam vaga; 36 evadidos; e 79

bebês com idade entre zero e cinco anos. Apenas um dos residentes tem segundo

grau completo.

Como forma de melhorar o quadro, apresentou algumas proposições, como a

discussão ampliada sobre o caráter interdisciplinar; revisão e aprimoramento dos

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critérios para inserção em cursos profissionalizantes e de geração de renda. “Muitos

evadem porque não há o preparo desejado. Deve haver o incentivo financeiro para

que permaneçam nos cursos”. Alertou, no entanto, que o acolhimento, essencial,

deve vir acompanhado da proteção social básica junto às famílias das quais os

jovens são oriundos. “É preciso investir em políticas de proteção às famílias,

garantindo seus direitos fundamentais. Por certo, com isso, o número de acolhidos

será menor”.

O Presidente da Fundação de Proteção Especial (FPE), José Luís Barbosa,

igualmente apresentou dados e números em relação aos abrigados sob a guarda da

Fundação. “O tema é complexo, envolvendo para além dos que são protagonistas;

toda uma rede de proteção está envolta nisso. Não é somente a casa de

acolhimento, a instituição, a fundação ou a entidade que acolhe que é a

responsável. As políticas públicas de Estado, dos municípios, precisam igualmente

ser destinadas a esta área”, pregou.

Afirmou ter dificuldades no que se refere à educação dos atendidos. “Nosso

público é egresso de ambientes degradados, de famílias degeneradas e, muitas

vezes, para conseguirmos sua inclusão na rede escolar não é tão fácil, tão simples;

bem como não é simples manter a regularidade, evitar a evasão ou conseguir que

esse jovem tenha o mesmo nível de acompanhamento de uma criança que vem de

uma estrutura familiar normal”. Dos 242 atendidos pela instituição na faixa dos

quatro aos dezessete anos, 81% (191) são estudantes, dos quais 32,12% (61),

apresentam defasagem escolar e 31,60% (62), apresentam dificuldade de

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aprendizagem. 40,9 % estão alfabetizados, ou 99 alunos; outros 45, ou 18,6 %,

estão em fase de alfabetização.

Também se manifestaram ao final, a presidente do Instituto Amigos de Lucas,

Rosi Prigol, e a chefe de Seção da Coordenadoria da Infância e Juventude do RS,

Angelita Camargo, que apresentou o projeto Apadrinhar.

1.8 Limites e Possibilidades do Cadastro Nacional de Adoção

Dia 14 de outubro de 2016 – Porto Alegre

A Comissão Especial da Família deu início a sua última audiência

pública que discutiu o Cadastro Nacional de Adoção e reuniu técnicos e

representações dos poderes Judiciário, Legislativo, Executivo, Ministério Público,

Defensoria Pública, Órgãos Não-Governamentais, Rede de Acolhimento e

comunidade interessada no tema.

O Presidente da Comissão, deputado Missionário Volnei fez um

resumo do trabalho do grupo técnico. Lembrou que, durante quatro meses, foram

realizados encontros em cidades-polo, oportunidades para conhecer de perto a

realidade da adoção e acolhimento no RS. “Por vezes, tivemos surpresas muito

agradáveis, cidades onde o ECA é seguido à risca, com 120 dias para destituição do

poder familiar e, no máximo, dois anos para o acolhimento. Mas também

conhecemos realidades não tão agradáveis. Locais onde o tempo médio de espera

para a simples habilitação de interessados em adotar pode levar até três anos”.

Frisou que objetivo não foi identificar culpados e que por meio do debate, das

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reuniões, buscou-se caminhos que possibilitem dar celeridade aos processos de

adoção e, por consequência disso, um futuro mais digno a milhares de crianças e

adolescentes acolhidos em instituições. O futuro deles tem pressa”, advertiu.

O Presidente da Comissão anunciou que os debates não estariam encerrados

após esta última audiência pública da Comissão da Família, que vai ser criada uma

Frente Parlamentar da Adoção na Assembleia Legislativa para acompanhar o

assunto.

O Relator da Comissão, deputado Jeferson Fernandes, comunicou que, na

próxima semana apresentará as conclusões e encaminhamentos resultantes dos

encontros aos demais integrantes da Comissão e que após, caso aprovado, o

documento segue à apreciação em plenário. Disse que espera que o relatório possa

transformar-se em instrumento que auxilie na proteção às crianças e adolescentes.

De outra parte, disse da necessidade de convergência dos projetos de lei que

tramitam no Parlamento acerca do tema e que espero que, a partir do relatório final,

ganhem celeridade e passem a ser leis que colaborem com quem tanto espera.

Na sequência, um grupo de três adolescentes, entre 13 e 16 anos –

Verônica, Ana Paula e Milka -, representando acolhidos que há muito residem em

instituições, apresentaram resultado de reuniões desenvolvidas em abrigos e que

trataram de temas apresentados no decorrer das audiências públicas, como uso de

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imagem em redes sociais, uso da imagem para fins de adoção tardia, o processo da

adoção e apadrinhamento afetivo.

Em especial, segundo elas, foi muito debatida a importância da sociedade em

conhecer a realidade dos abrigos, não significando abrir as portas de qualquer

forma, em qualquer tempo e sem regras. “É preciso respeitar e preservar nosso

espaço de moradia”, enfatizaram. Para tanto, sugeriram eventos especiais para tal.

Frisaram, de outra parte, que o “sistema está falando conosco. Uma criança não

poderia esperar tanto para ser adotada. Muitas passam a vida toda nestes abrigos e,

aos 13 ou 14 anos, têm medo de sair, assim como há o medo de enfrentar a vida,

depois dos 18”, acrescentaram.

Por fim, lembraram, em alto e bom som, que adoção e apadrinhamento não

são caridade. Foram aplaudidas de pé por todas autoridades e presentes na plateia

que estava emocionada.

Na sequência, a juíza da vara da Infância e Juventude do TJ do Rio de

Janeiro, Mônica Labuto, fez uma avaliação do Cadastro Nacional de Adoção. Falou

dos entraves da atual versão, de 2015, e das dificuldades de navegação no site.

“Diferente do CNA anterior, facilitador, não há possibilidade de cruzamento de

informações”, criticou.

Segundo ela o Art.157 do Estatuto da Criança e Adolescente - ECA prevê

expressamente que o juiz pode dar uma decisão de suspensão do poder familiar e

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fazer a inclusão imediata da criança no cadastro, não sendo necessário a sentença

e tampouco o transito em julgado da sentença. O mesmo Estatuto no Art. 199, B diz

que a sentença de perda do poder familiar, a apelação não tem apelo suspensivo e

sim imediato, mas mesmo assim o Cadastro Nacional da Adoção não permite a

adoção de crianças sem sentenças transitado em julgado e que isso é um dos

motivos da demora dos processos de adoção.

Outro problema a ser discutido é que com a mudança do CNA, hoje não é

possível fazer busca aproximada de idade, para pretendentes que podem aceitar

crianças com idade aproximada daquelas desejadas e que o CNA está com muitas

falhas para cadastramento de dados, o que facilitaria a busca pelos magistrados, o

CNA ficou condicionado ao próprio juízo e vinculado ao cruzamento automático entre

perfil da criança e do pretendente a adoção.

Igualmente informou sobre o Programa Família Acolhedora, projeto mais

antigo no País nesta área, em funcionamento na cidade do Rio de Janeiro desde

1998. Em 2006, passou a ser programa municipal de governo. São crianças e

adolescentes acolhidos por família provisória até que possam ser reinseridos no

convívio familiar ou, nesta impossibilidade, encaminhados à adoção.

Finalizando, apresentou o Programa Eu Quero Uma Família, idealizado pelo

Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça da Infância e da Juventude

do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. O projeto se volta essencialmente

à busca de famílias às crianças e adolescentes acolhidos que se encontram em

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condições de serem adotados (orfandade, pais desconhecidos, destituição do poder

familiar transitada em julgado ou decisão liminar determinando a colocação em

família substituta) sem que tenham encontrado habilitados interessados em sua

adoção, após consulta ao CNA. “Sem dúvida, um facilitador”, apontou a juíza,

referindo-se à iniciativa formalizada em 27 de abril deste ano.

Em nome da Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), a

juíza auxiliar Sandra Silvestre iniciou ressaltando o papel pioneiro do Rio Grande

do Sul em tratar do tema da forma como foi conduzido. “Sem dúvida, este é um tema

palpitante, de sensibilidade para o país como um todo. As questões da família, da

infância e juventude, dos adolescentes e da adoção atingem muito fortemente a

comunidade. E, debater isso, com pessoas que possam ouvir questionamentos,

como a Corregedoria de Justiça do CNJ, para que se busque soluções a partir das

demandas aqui colocadas é essencial”, ponderou.

Quanto às considerações e críticas acerca do atual CNA, disse que sua

principal função, no evento, era a de recolher as demandas. “O CNJ tem como

prioridade absoluta esta temática e há o compromisso institucional em relação a

isso”, acrescentou a magistrada, informando que serão realizados, regionalmente,

encontros para o debate do tema. “O CNJ propõe que os juízes deem o caminho”,

ressaltou, reforçando que sua função é exatamente a de recolher demandas para

apontamentos e soluções conjuntas de aperfeiçoamento. “E elas não ficarão no

papel”, assegurou.

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O secretário do Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado, Catarina

Paladini, parabenizou os organizadores do evento e a iniciativa em debater o tema.

“Todos buscam a construção de uma política efetiva de Estado nesta área.

Necessitamos, sim, da autocrítica por parte dos agentes envolvidos, como a

morosidade envolvendo o processo das adoções, algo que afeta a vida das pessoas,

afeta a vida destes jovens aqui presentes”.

Observou, no entanto, que muito daquilo que deixa de ser realizado não é por

má vontade ou desdém, mas por entraves legais, como a destituição do poder

familiar. “Temos que dar, como presente tardio do Dia das Crianças, a estes grupos

de meninos e meninas que esperam nossa capacidade de aglutinar forças para

desburocratizar a política de adoção e de apadrinhamento no RS”. Anunciou a luta

por parte da secretaria para construir e viabilizar programas de aprendizagem

profissional para jovens acolhidos no Estado, pelo Ministério do Trabalho e

Emprego, em parceria com a pasta. Estão previstas 500 vagas.

Manifestaram-se, ainda, a corregedora-geral de Justiça do RS, Íris Helena

Nogueira; Noara Bernardy Lisboa, subcorregedora-geral do MP/RS; a jurista e

desembargadora Maria Berenice Dias e a promotora de Justiça do MP/RS, Cinara

Vianna Dutra. Integraram também a mesa dos trabalhos, o chefe de gabinete do

Ministro do Trabalho, Willis Taranger, e o Defensor Público Marcelo Turela de

Almeida.

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A juíza-corregedora da Infância e Juventude, Andréa Rezende Russo,

anunciou a campanha "Deixa o Amor te Surpreender", do Poder Judiciário do RS. O

objetivo, resumiu, é incentivar adoções de difícil colocação, ou seja, aquelas

crianças com idade mais elevada ou com deficiências e até mesmo adolescentes

que precisam ser abrigados em um lar, com afeto e dedicação. “Incentiva à reflexão

sobre o assunto e a flexibilização dos perfis desejados pelos pretendentes a

adotantes, para que crianças maiores de 10 anos, grupos de irmãos e jovens com

deficiência, que respondem pela grande maioria dos aptos à adoção no RS, tenham

a chance de um lar”.

Segundo a juíza, existem hoje cerca de 600 crianças neste cadastro que não

conseguiram ainda ser adotadas. No Estado, chegam a aproximadamente 5 mil

pretendentes para adotar uma criança, mas que preferem o perfil clássico, ou seja,

recém-nascidos e saudáveis.

O encontro foi encerrado com a participação especial do coral de crianças e

adolescentes da Fundação Pão dos Pobres, de Porto Alegre.

2. SÍNTESE DAS AUDIÊNCIAS PÚBLICAS REALIZADAS NO INTERIOR 2.1 O cenário da adoção em SANTA MARIA

Dia 05 de agosto de 2016

O Presidente da Comissão saudou a todos os presentes e em seguida

passou a palavra para a vice-presidente da Comissão, Deputada Liziane Bayer,

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que saudou a todos, e afirmou que é responsabilidade de todos diminuir a

morosidade para atender com eficiência as demandas das crianças e adolescentes

e das famílias, que esperam por um lar completo. Ressaltou que cada dia de espera

por uma família reflete no futuro de uma criança. Comentou que a questão do

apadrinhamento afetivo tem tido bons resultados em Porto Alegre e que a Comissão

buscava, através das audiências públicas realizadas no interior, levantar dados

concretos da situação da adoção no Estado.

Em seguida passou a palavra à Juíza do Juizado da Infância e da Juventude

de Santa Maria, Dra. Marli Inês Miozzo, que esclareceu que este juizado atende

dezessete comarcas. Além do Município de Santa Maria, atende os municípios de

Itara, Silveira Martins e São Martinho da Serra. Informou que existem vinte

adolescentes e 27 crianças acolhidos, num total de 47, distribuídos em duas casas

de acolhimento: o Lar de Miriam e Mãe Ceita e as Aldeias Infantis SOS.

Ela esclareceu que os adolescentes não ingressam nas casas de acolhimento

recém-nascidos, e que quando acolhidos - através das equipes técnicas que

integram a entidade -, se inicia o trabalho de reintegração da criança ou adolescente

à sua família biológica ou ampliada, no prazo de até sessenta dias. Informou que

nesta fase contam também com o auxílio das Secretarias de Município: de

Habitação, de Desenvolvimento Social, da Saúde e, não havendo resultado positivo,

o Ministério Público ou outra pessoa interessada ingressa com o processo de

destituição do poder familiar que, segundo a Lei, deve ocorrer no prazo de 120 dias;

levando em conta que o Código de Processo Civil determina que sejam dias úteis.

Esse prazo leva em torno de sete meses. Se o processo ingressar em dezembro -

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antes do período de recesso, que não é computado no prazo -, pode levar mais

tempo. Advertiu que esta situação é muito séria, que a criança vai ser retirada dos

seus pais - que terão seus nomes excluídos da carteira de identidade destas

crianças -, e será entregue a outra família. Salientou que é dado o direito de defesa

aos pais, que muitas vezes acabam provando que a acusação não é verdadeira ou

conseguem se reerguer com o auxílio da assistência social e acabam tendo

condições de receber seus filhos de volta. Informou que dentre as crianças

acolhidas, aquelas com até doze anos tem mais facilidade de encontrar uma família

substituta, porém, por cautela, aguarda-se o trânsito em julgado - quando o processo

não tem mais possibilidade de recurso -, para se chamar o pretendente à adoção,

entretanto, existem exceções em que o Ministério Público entra com uma liminar e a

criança ou adolescente é entregue a uma família substituta.

A magistrada disse que na Vara de Santa Maria existem 1500 processos a

respeito de crianças e adolescentes e todos têm prioridade; dentre eles são tratados

primeiramente os de maior urgência para que o prazo não seja extrapolado (em

Santa Maria o prazo máximo não passa de um ano). Em relação aos adolescentes

acolhidos, informou que muitos chegam sem escolaridade e as entidades buscam

colocá-los nas escolas como Educação de Jovens e Adultos (EJA), para serem

encaminhados futuramente para programas como o Programa Nacional de Acesso

ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC) e Menor Aprendiz. Comentou que a

Universidade Federal de Santa Maria está iniciando uma parceria com o Grupo

GAIA, engajados na formação profissional destes adolescentes, que aos dezoito

anos têm de sair das instituições e seguir o seu caminho com autonomia.

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Ela advertiu que em Santa Maria não existem repúblicas para receberem

esses jovens que saem das instituições. Informou que embora estejam com falta de

psicólogos e oficiais de justiça para agilizar o andamento dos processos, nos casos

de habilitação estão cumprindo num prazo de quatro a cinco meses; nos casos de

destituição do poder familiar também estão cumprindo, com muito esforço, os prazos

estabelecidos. Disse que a partir daí, se não houver recurso, é feita a consulta dos

pretendentes, de acordo com o perfil da criança que está apta à adoção e é feita a

convocação, para que haja a aproximação de ambos, momento em que é dada a

guarda provisória; e cumprido o estágio de convivência, em torno de sessenta dias,

e estando tudo certo é deferida a adoção. Informou que existem 110 habilitados na

comarca de Santa Maria e foram deferidas em torno de 35 adoções em um ano.

Considera o CNA uma ferramenta importante, embora necessite de

aperfeiçoamento, pois por meio dele foi possível encontrar pessoas de outros

lugares que aceitaram crianças com perfis não desejáveis por candidatos de Santa

Maria.

Informou que o apadrinhamento afetivo e guarda subsidiada, que é uma

espécie de família acolhedora, está sendo realizado com sucesso em Santo Ângelo.

Em relação à visitação nas casas de acolhimento por todos em dias de festa, alertou

para situações em que as pessoas fazem a sua opção e acaba sobrando alguma

criança, que não entende muito bem porque não foi escolhida; pensa que este fato

gera mais uma frustração na criança.

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O Promotor de Justiça do Ministério Público Estadual, Dr. Ricardo Lozza

registrou as dificuldades humanitárias ao lidar com as famílias e as crianças no dia a

dia. Informa que o ECA prevê que a primeira tentativa a ser feita é fazer com que a

criança volte para a família natural ou biológica, a segunda tentativa é verificar a

possibilidade de a criança poder ficar com a família extensa, a terceira tentativa é

fazer o acolhimento institucional dessa criança e a quarta e última tentativa seria a

adoção.

Ele relatou que embora veja com muita simpatia o projeto “família

acolhedora”, aponta dificuldades de fiscalização de cada lar. Disse que o fato de

existir uma Vara de Infância na região é um avanço fundamental, que com a

especialização na área e a sensibilidade de todos os órgãos e comunidade, tornou-

se possível haver mais celeridade e menos erros nos processos.

O Promotor também enfatizou a dificuldade de enquadrar os perfis dos

habilitados à adoção com as crianças disponíveis. A maioria das crianças acolhidas

possuem idade superior ao do perfil desejado pelas pessoas que querem adotar.

Comentou que é preciso promover e conscientizar a população de Santa Maria

sobre Adoção tardia.

Por fim, concluiu a fala dizendo que existem alguns casos em que a criança

tem tamanho afeto pela família biológica e que não quer ir para família adotiva, e

que se deve levar em conta a opinião da criança violada nos seus direitos, que a

primeira busca a ser feita é a construção da volta da criança para sua família natural,

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mas sempre levando em consideração a adoção naqueles casos em que não for

possível restabelecer laços com a família natural.

O Defensor Público da cidade, Dr. Juliano Ruschel, informou que em Santa

Maria não existem problemas graves em relação à adoção, nos casos de destituição

do poder familiar, afirmou que se deve buscar sempre o que é melhor para a criança,

o local onde ela se sinta mais amada e onde sejam garantidos os seus direitos;

disse que se deve continuar buscando o apadrinhamento afetivo e o acolhimento

familiar para amenizar os danos sofridos por estas crianças e adolescentes.

Informou que em Santa Maria faltam defensores públicos e que ele atua em três

áreas. Afirmou que se houvesse correções na área da infância, muitas questões na

área da criminalidade seriam evitadas, que deveríamos investir mais na criança para

não precisar punir os adultos.

A Secretária Municipal de Santa Maria, Sra. Margarida Mayer, traçou um

panorama da adoção no município e apontou que a cidade tem cerca de sessenta

crianças acolhidas, atualmente. Antes dessa gestão, eram oitenta. “Isso se deve ao

trabalho conjunto com a Promotoria da Infância e da Juventude”, constatou

Margarida. A secretária disse ainda, que a tendência é estabilizar ou baixar esse

número. Atualmente a Prefeitura tem convênio com duas instituições: Lar de Miriam

e Aldeias SOS. “No final de 2014, Santa Maria concluiu seu Plano Municipal de

Acolhimento de Crianças e Adolescentes, que reordenou a forma de acolher. Em

2015, já implantado o reordenamento, sendo que não existem mais crianças em

orfanatos, mas em casas lares e abrigos em casas com até dez acolhidos,

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garantindo grupos de irmãos juntos, não há divisão de gênero ou em idades”,

explicou a secretária.

Ainda de acordo com Margarida Mayer, em 2013 havia oitenta crianças e

adolescentes acolhidos. “Em uma parceria com Promotoria da Infância conseguimos

reduzir o acolhimento, sendo que hoje temos 47 acolhidos. Reduzir o número e o

tempo de acolhimento é o principal objetivo do trabalho com infância”, afirmou.

Atualmente o município possui convênio com duas instituições de acolhimento e

investe R$ 210 mil mensalmente para manter as crianças e todo o trabalho

realizado.

Por fim, a secretária pregou a necessidade de melhora no funcionamento das

redes de proteção à infância e citou que a Secretaria de Desenvolvimento Social tem

se integrado com outras instituições e que conjuntamente com o judiciário se

comprometeram a planejar o desenrolar de cada casa das 47 crianças acolhidas, no

intuito de dar perspectiva para o presente e o futuro das crianças.

Em seguida passou a palavra à Dra. Suzana Schettini, Presidente da

Associação Nacional dos Grupos de Apoio à Adoção (ANGAAD), que afirmou que há

21 anos trabalha na militância pela adoção e sempre desejou discutir essa causa

juntamente com os poderes, órgãos e instituições envolvidas, para todos juntos

buscar caminhos para garantir às crianças e adolescentes o direito de ter uma

família. Disse que existem 130 grupos de adoção espalhados no território brasileiro,

menos em Tocantins e Roraima. Alertou que toda criança tem o direito a ser

adotada, em primeiro lugar pela sua família natural; e se isso não for possível, numa

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outra família que possa desempenhar o seu papel. Afirmou que a adoção é a única

opção da criança e não a última.

Suzana afirma que família é o lugar do afeto, se não há afeto, não há família;

que a verdadeira família é a família adotiva, onde as pessoas se adotam e se amam,

onde os pais conseguem ser pais. Ressaltou que a criança, a partir da concepção, é

um sujeito de direito, com prioridade máxima. Disse que lugar de criança é na

família, não em instituições; até os três anos de idade ela desenvolve o básico da

estrutura psicológica, dois anos na vida de uma criança é muito, cada dia perdido é

uma marca profunda no psicológico da criança. Informou que no Estado de

Pernambuco há um Tribunal de Justiça totalmente vocacionado para a Infância e

Juventude; que nove projetos referentes a infância foram indicados ao Prêmio

Innovare, dentre eles o projeto “Adote um pequeno Torcedor”, onde as pessoas

assistem vídeos das crianças e adolescentes aptos à adoção, que através deste

projeto já houve dezessete adoções.

Ela advertiu que é preciso mudar a cultura de que as crianças precisam ficar

escondidas, elas precisam ter convivência comunitária - com responsabilidade -,

precisam ser vistas para serem amadas, desejadas e adotadas. Segundo a Dra.

Suzana, a Coordenadoria da Infância e Juventude instituiu no Estado de

Pernambuco o Apadrinhamento Afetivo, já havendo 40 inscritos. Disse que neste

projeto, as pessoas conhecem, passam a amar e muitas vezes adotam. A ANGAAD

detectou diversos problemas e através de seus questionamentos e demandas,

surgiu o provimento 36 do CNJ, que recomenda os tribunais manter convênios com

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sociedades de apoio à adoção para ajudar no preparo de pretendentes e no pós-

adoção.

A Dra. Também advertiu que é preciso prepará-las também para a Adoção

tardia, e que as crianças também precisam ser preparadas antes de serem

adotadas. Informou que em Recife trabalham em conjunto com a Vara, que

encaminha - através do whatsapp - os interessados à adoção para frequentar os

grupos de apoio. Informou que existe no Ministério Público do Rio de Janeiro o

programa Quero uma Família, por meio de um site, onde as crianças também são

visíveis.

Ressaltou a importância da união de esforços e da troca de informações entre

as instituições envolvidas para buscar melhorias e questionou sobre a colocação da

criança na família extensa, disse que parente não significa afinidade e afetividade,

que criança precisa de amor, cuidado e proteção, alertando que é preciso refletir

sobre o que é melhor para a criança, do que ela precisa para o seu desenvolvimento

pleno. Alguns magistrados só destituem do poder familiar se houver um pretendente

interessado; questionou como pode haver interesse se não houve a destituição e o

devido cadastro no CNJ. Ressaltou que se em dois anos a família ainda não se

organizou, não há o que se esperar.

Segundo a fala da Presidente do Grupo de Apoio à Adoção de Santa Maria

(GAIA), Daniela Ramos Sonza, o quadro da adoção no Brasil não é o mais

animador e no Rio Grande do Sul a situação não é diferente. De acordo com o CNJ,

o Estado tem a maior demanda reprimida em termos de crianças e adolescentes na

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fila da adoção. “Sabemos que o Rio Grande do Sul tem uma forte “elitização” do

perfil. Apenas 10% dos pretendentes de adoção no Estado aceitam crianças com

mais de seis anos”, explicou. Por outro lado, a presidente acrescenta que a maioria

das crianças aptas à adoção tem mais de oito anos.

2.2 O cenário da adoção em FARROUPILHA

Dia 26 de agosto de 2016

Após abertura da Audiência Pública, o Presidente passou a palavra ao Juiz da

Comarca de Farroupilha, Dr. Mário Maggioni, que relatou demonstrar interesse pelo

tema após uma mulher adotar quatro irmãos, e que a partir daí começou a escrever

crônicas sobre o tema. Disse que possui uma agenda com o nome e os dados de

todas as crianças que estão na Casa Lar, com o objetivo de priorizar esse tema.

Salienta que o ambiente familiar, de carinho e afeto existente na Casa Lar de

Farroupilha é o que lhe alegra, não somente a estrutura física e econômica, como

também a equipe que atua na Casa Lar, que é a mesma, mesmo tendo mudado o

partido político na cidade, fato que faz com que a colaboração seja maior no trabalho

entre a equipe.

Acredita que a situação mais triste nessa área, é ver uma mãe ou pai com um

filho de dezessete anos, falar que não o quer mais, que enquanto sociedade temos

que saber cuidar bem dos nossos filhos e ter olhar atento para que uma criança

recém-nascida não seja colocada em situação de vulnerabilidade, com um ambiente

familiar que propicie o desenvolvimento integral.

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Informa que o tempo da criança e adolescente é diferente do tempo do adulto,

a cada dia, mês que passa a criança perde muito, quanto menor a criança maior a

agilidade na atuação e por isso as audiências são marcadas em um mês, no

máximo.

Pede que toda a comunidade denuncie aos órgãos públicos, casos de

possíveis abusos ou violência contra criança e adolescente, pois podem estar em

situação de vulnerabilidade. Se não for comunicado ou se os órgãos não fizerem

nada e até mesmo demorarem no atendimento, poderão ocorrer problemas sérios

como psicológicos e de segurança pública, pois muitas dessas crianças e

adolescentes entram para a criminalidade.

Informa que hoje existe somente uma menina de quatorze anos que está apta

à adoção na cidade, mas que já estão trabalhando para fazer o encaminhamento

dela conjuntamente com os grupos de adoção e com psicólogos e assistentes

sociais.

Salienta que as pessoas devem estar de coração aberto para adotar crianças

e adolescentes de qualquer idade, que dos 36 mil habilitados do Cadastro Nacional

de Adoção somente seis pessoas estariam dispostas a adotar a menina e que

conforme o magistrado, o fato demonstra que os bebês são os mais procurados.

Finaliza dizendo que quem está disposto a adotar deve estar aberto a

qualquer idade e o esforço deve ser feito no sentido de que mais gente se habilite

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em adotar grupos de irmãos e também por que não crianças com deficiência? Essas

são as que mais demoram para serem adotadas.

A Promotora de Justiça de Farroupilha, Claudia Formolo, relatou que foi em

comitiva realizada em Porto Alegre, para buscar novidades e experiências diferentes

nos abrigos da cidade e voltou a Farroupilha decepcionada com o que viu.

Encontraram crianças que estavam há dez anos esperando para serem adotadas e

esse fato a entristeceu.

O que faz a diferença em Farroupilha é a rede de apoio com a prefeitura, o

juiz, grupo de apoio, conselheiros tutelares, Casa Lar, contribuições financeiras e

voluntárias, etc. Todos os esforços são unidos por uma finalidade em que acreditam.

Os poderes devem se articular e conversarem entre si para o trabalho fluir rápido.

Quando começou a trabalhar na cidade existiam crianças em situação de

abrigo há mais de nove anos. Hoje a Casa Lar está em boas condições e possui

apoio do Executivo e entidades privadas. Relatou que há uma resistência muito

grande em relação ao grupo de apoio à adoção em Porto Alegre e em Farroupilha

isso não existe, que o grupo de apoio é fundamental no desenvolvimento do trabalho

e preparo à adoção.

Uma iniciativa urgente é a criação de estratégias para a comunidade

conhecer as crianças das Casas e com isso fazer com que sejam adotadas. Como?

Com ajuda das redes sociais, divulgação de publicidade em jornais e campanhas de

adoção.

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Acredita que outro ponto a ser melhorado é na agilidade da decisão de

destituição do poder familiar, pois a demora prejudica a criança. Existem casos,

principalmente onde os pais são dependentes químicos, que a criança não poderá

voltar para a família biológica e a decisão tomada deve ser bem pensada e ágil, pois

pode se perder vínculos afetivos e vínculo afetivo é o que importa, não bastando

apenas o biológico.

Agradeceu o Grupo de Apoio a Adoção pelo trabalho e explicou que hoje

todos os casais que vão se habilitar são obrigados a participarem de, no mínimo,

três encontros para que possam estar preparados para a adoção. Depois é realizada

uma festa em um abrigo, para as crianças interagirem com os possíveis pais e que

isso funciona super bem.

Em seguida passou a palavra para a Psicóloga da equipe técnica da

Instituição de Acolhimento e membro do Grupo de Apoio à Adoção DNA da Alma,

Rejane Comin, que informou que em 2011 existiam 26 crianças aguardando adoção

em abrigos e existiam muitas crianças há mais de dois anos dentro da instituição

(descumprindo o ECA).

De acordo com a psicóloga, foi com o grupo de estudiosos no assunto e

pessoas que se organizaram para tentar melhorar a situação da adoção no

município, que em 2012 foi criado o grupo DNA da Alma. Com ajuda do Jornal

Pioneiro foi realizada uma reportagem com fotos e vídeos das crianças (com

exposição de seus rostos) devidamente autorizados pelo juiz, que as crianças

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puderam ser vistas. Naquele período três crianças foram adotadas apenas com a

divulgação do vídeo.

Com esse fato a realidade mudou: em 2014, foram acolhidas trinta crianças e

somente uma em 2013. Todas as 26 crianças que estavam em situação de adoção

antes deste período conseguiram ser adotadas ou completaram maioridade.

Uma ideia a ser pensada é a produção de vídeos com as imagens e falas das

crianças, a serem disponibilizados para quem está cadastrado no CNA, com o

objetivo de melhorar os índices da Adoção tardia. Citou o caso da menina Taiana de

quinze anos, que foi adotada após o casal apto à adoção assistir a um vídeo dela.

A dificuldade dos abrigos em Farroupilha não está no Judiciário e sim nos

técnicos que operacionalizam esta política.

O Defensor Público, Dr. Sidinei, falou que por trás de uma adoção existe um

processo, onde a Defensoria Pública acompanha. Com as crianças recém-nascidas

o processo é mais rápido, o problema maior são as crianças que precisam ser

acolhidas e depois destituídas do poder familiar. Com o devido processo legal as

destituições podem demorar, no entanto a Defensoria busca fazer sua parte para a

celeridade nos casos e que para as crianças não fiquem abandonadas.

O Prefeito do Município de Farroupilha, Sr. Claiton Gonçalves, salientou que

concluiu sua graduação de medicina apresentando pesquisa sobre as condições da

mulher que provoca aborto por gravidez indesejada.

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Muitas mulheres pobres e negras que não tinham a quarta série faziam

abortos constantes, pois não podiam criar um filho. A ideia é que com a rede de

apoio seja possível ajudar a mulher a não abortar, que se ela não deseja ter o filho

poderá colocá-lo para adoção. Sempre que houver uma gravidez indesejada, os

grupos de apoio podem ajudar a gestante a decidir sobre o que fazer e discutir a

colocação dessa criança para adoção, evitando o aborto ou até mesmo sua morte,

em clínicas de aborto. Isso denota respeito à condição de gravidez e da vida da

criança.

Os gestores administrativos precisam criar condições para que todas as

crianças tenham em seus lares e cidades o respeito necessário para até mesmo

poderem ser adotadas, pois muitas sofrem violência sexual, violência psicológica,

abusos em suas famílias biológicas e é necessário que essa criança precisa sair

dessas situações de risco de uma forma menos traumática.

2.3 O cenário da adoção em BAGÉ

Dia 02 de setembro de 2016

No dia 02 de setembro de 2016 foi realizada Audiência Pública para discutir

os entraves da adoção no município de Bagé.

Estiveram presentes no evento o Juiz de Direito da Comarca de Bagé, Dr.

Naira Caminha, a Promotora de Justiça do Ministério Público do Município de Bagé,

Dra. Marlise Martino Oliveira, a Secretária do Trabalho e da Assistência Social do

município de Bagé, Sra. Andreia Quadros, a Secretária da Educação do município

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de Bagé, Nadia La Bella, representando a OAB de Bagé, Sra. Márcia Aidê

Rochinhas, o Coordenador do Conselho Tutelar, Sr. Everaldo Cruz, a Presidente

do Instituto de Lucas, Sra. Rosi Prigol, entre outras autoridades.

O presidente da Comissão saudou a todos os presentes e deu início à

audiência, passando a palavra para a Juíza da Comarca de Bagé, Dra. Naira Melkis

Caminha.

Ela iniciou a fala informando que o Juizado enfrenta vários problemas a

serem resolvidos. O primeiro é que o Juizado não é independente, é adjunto à

Segunda Vara Criminal e nele tramitam cerca de cinco mil processos, incluindo

processos da Vara de Execuções Criminais (VEC) e da Lei Maria da Penha, sendo

que a Comarca possui apenas um cartório e um juiz. O segundo problema é que não

existe equipe multidisciplinar para acompanhar as crianças acolhidas na Comarca.

Hoje existe um convênio com uma universidade, mas não é o ideal.

Segundo a Juíza, a habilitação dos casais que desejam adotar é demorada,

devido a falta da equipe técnica para fazer o estudo social e o perfil psicológico dos

cadastrados. Informa que o prazo final para a destituição da criança ou adolescente

do poder familiar não é cumprido dentro do prazo legal, no entanto não excede um

ano.

Informa que para adoção existia recentemente seis crianças aptas a serem

adotadas, mas que cinco retornaram ao núcleo familiar, apesar da destituição.

Dessa forma, hoje existe uma criança disponível para adoção sendo encaminhada

para adoção internacional.

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Existem cerca de 50 crianças e adolescentes abrigados, envolvendo três

casas, de Bagé e Candiota, sendo que sete estão com o processo de destituição em

tramitação e 35 pessoas habilitadas para adoção.

Em seguida foi dada a palavra à representante do Ministério Público, Dra.

Marlise Martino Oliveira, que relatou que a rede de proteção no município deve

avançar. A falta de estrutura impede a celeridade dos processos do Juizado da

Infância e Juventude. Ela acredita que um dos maiores problemas no município é a

falta de uma Vara exclusiva para a infância e juventude e que segundo o Provimento

36 de 2014 do Conselho Nacional de Justiça, os municípios com mais de 100 mil

habitantes devem providenciar Varas exclusivas para infância e juventude, bem

como terem uma equipe multidisciplinar composta por psicólogo, pedagogo e

assistente social para trabalharem com habilitações de adoção. Hoje esses

profissionais são nomeados pelo Juizado ou encaminhados pela universidade

conveniada com o Poder Judiciário, porém esses serviços não são suficientes.

Em relação às casas de acolhimento de Bagé, a Magistrada alegou que o

Ministério Público realizou uma inspeção nesses ambientes para buscar melhorias

junto às esquipes técnicas, pois segundo ela não existe plano individual para

atendimento das crianças acolhidas.

O Presidente passou a palavra à Secretária do Trabalho e Assistência Social,

Sra. Andreia Quadros, que informou que após a criação e aprovação do Sistema

Único de Assistência Social no Município de Bagé, o trabalho assistencial com as

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crianças e adolescentes melhorou. Hoje apesar de ainda ser um número baixo de

profissionais, existem técnicos capacitados para trabalharem nas casas de

acolhimento atendendo também as famílias.

Salienta que das 37 crianças acolhidas no ano de 2015, 20 retornaram para

seus lares e que isso só foi possível graças ao comprometimento dos profissionais e

da rede de proteção.

Em seguida foi passada a palavra à Presidente do Instituto Amigos de Lucas

Sra. Rosi Prigol, que começou a fala dizendo que está ajudando o Grupo de Apoio

a Adoção de Bagé a se reestruturar e formar sua primeira diretoria. Salientou que

desde 2009, o Instituto Amigos de Lucas criou o projeto de Busca Ativa, que visa

encontrar famílias para crianças com perfil de difícil colocação, e desde então já

colocou 91 crianças maiores em famílias adotivas com parceria de outros estados.

Um dos problemas existentes no cadastro Nacional de Adoção é que muitas vezes o

cadastro bloqueia a pesquisa de crianças além da sua Comarca, que não existindo

crianças para aquele perfil familiar, o usuário do Cadastro não consegue visualizar

outras crianças de diferentes perfis. Informa que soube de casos em que

interessados em adotar esperaram cerca de dois anos e meio para serem

habilitados no cadastro, após terem feito o curso, e que mesmo após habilitados

foram avisados somente após nove meses.

Em seguida o Presidente passou a palavra ao Coordenador do Conselho

Tutelar de Bagé, Sr. Everaldo Cruz, que iniciou a fala informando que a maioria das

crianças em situação de acolhimento em Bagé são de casos em que os pais

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possuem algum problema com dependência química e que a destituição nestes

casos deveria ser rápida, pois o Conselho Tutelar esgota todas as possibilidades de

recolocar as crianças nas famílias biológicas, e que nesses casos é quase

impossível os pais cuidarem dessas crianças novamente.

Relatou que são inúmeros os problemas desde a demora na destituição do

poder familiar até a falta de profissionais para fazer o atendimento das crianças e

das famílias, mas que somente o trabalho em rede e interligado com os órgãos é

que fará a diferença.

2.4 O cenário da adoção em PASSO FUNDO

Dia 09 de setembro de 2016

O Deputado Missionário Volnei deu início a mais uma Audiência Pública

para debater sobre “O Cenário da Adoção no Município e Região de Passo Fundo”.

Estiveram presentes a Vice-Presidente, Deputada Liziane Bayer - PSB; o

Relator da Comissão, Deputado Jeferson Fernandes – PT; o Secretário de

Cidadania e Assistência Social de Passo Fundo, Sr. Roger Teixeira Borges; a

Vereadora Cláudia Furlanetto; o Juiz de Direito Dr. Dalmir Franklin Oliveira Junior; a

Promotora de Justiça Dra. Clarissa Machado; a Defensora Pública Dra. Anelise

Sturm; a Coordenadora do CREAS, Paula Dorneles; a Coordenadora da Proteção

Social Especial, Sra. Elenir Chapuis; a representante do CRAS I, Lilian Pfluck;

Losineide da Silva, representando a Coordenadora do CRAS II, Roselei Sponchiado

Cichelero; a Coordenadora do CRAS III, Raqueli Lima Paetzold; a representante do

CRAS IV, Lisiane Bastos; Julmar Cardozo, da Casa de Acolhimento Institucional

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Anita Garibaldi; Roseli Goldsmith, da Casa de Acolhimento Institucional Roberto

Pirovano Zanatta; o Delegado Regional do Trabalho de Passo Fundo, Rodrigo

Marques; os Conselheiros Tutelares Paula Zanon e Glauco Franco; a Presidente do

Grupo de Apoio à Adoção Adotchê, Daniela Lange Rossetto; a Coordenadora da

Proteção Social Básica, Carine Silveira dos Santos.

O Presidente da Comissão saudou a todos e abriu a audiência traçando um

panorama geral da adoção no Brasil e no Estado. Falou sobre os entraves

encontrados na adoção, sobretudo à cultura do perfil desejado; ressaltou a

importância dos grupos de apoio à adoção, no sentido de conscientizar as pessoas

sobre a importância da adoção tardia. Também comentou sobre a morosidade

encontrada na habilitação de interessados em adotar, na destituição do poder

familiar e na permanência de crianças e adolescentes nas instituições.

A seguir, o Presidente passou a palavra à Vice- Presidente da Comissão,

Deputada Liziane Bayer, que comunicou que a Comissão estava realizando essas

visitas com o objetivo conhecer a situação de cada região, já que os dados sobre a

adoção no Estado e até mesmo no País ainda são pouco conhecidos e pouco

divulgados à sociedade.

O Presidente passou a palavra ao Relator da Comissão, Deputado Jeferson

Fernandes, que afirmou ser importante conhecer as diferentes experiências

positivas e as iniciativas existentes nas regiões do Estado, sobretudo debater os

problemas encontrados pelas instituições que trabalham nesta temática. Ressaltou

que através das audiências realizadas por esta Comissão, diagnosticou-se que onde

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existem redes de proteção às crianças e aos adolescentes há sintonia entre as

instituições; e onde as pessoas conversam, há menos incidência de abandono, de

negligência e de violência; ou, quando há, é detectada com mais rapidez. Salientou

que em locais onde existem os grupos de incentivo e preparo à adoção, há uma

melhora no processo. Falou sobre a importância da conscientização da sociedade

em relação à adoção tardia, ao apadrinhamento afetivo e ao acolhimento familiar.

Comentou que o Deputado Adroaldo Loureiro propôs um projeto de lei para que haja

uma política estadual de acolhimento familiar. Também citou que o Deputado Luis

Augusto Lara propôs o projeto do apadrinhamento afetivo.

A seguir o Presidente passou a palavra ao Juiz de Direito, Dr. Dalmir

Franklin Oliveira Junior, que afirmou atuar no Juizado da Infância e Juventude há

nove anos e sempre tentar fazer o melhor em termos de justiça juvenil: na área da

proteção e na área do ato infracional. Relatou algumas alterações que ocorreram

durante os últimos anos.

O Juiz relatou que quando chegou ao Juizado Regional da Infância e

Juventude havia alguns problemas com as casas de acolhimento, chamadas de

abrigos. Disse que promoveram uma reordenação dos abrigos de Passo Fundo, que

eram classificados por sexo e idade. Advertiu que os adolescentes do sexo

masculino ficavam em uma casa e as adolescentes, em outra - em desacordo com o

que estabelece o ECA, no intuito de tentar fazer com que o ambiente do abrigo fosse

mais parecido possível com um ambiente familiar, já que a criança ou o adolescente

está sendo retirado da sua família natural e o Estado o está colocando em outro

espaço. Informou que realizavam as audiências concentradas e as audiências de

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fiscalização: reuniam-se – e reúnem-se até hoje - com o Conselho Tutelar, Ministério

Público, Defensoria Pública, técnicos dos abrigos, técnicos do Centro de

Especialização Médica da Criança e do Adolescente (CEMCA), com todas as

pessoas envolvidas com a criança ou adolescente e com as suas famílias, para

discutir o rumo a ser tomado ao caso específico de alguém que foi retirado da sua

casa.

Informou que naquela época, o Conselho Tutelar tinha o poder de retirar a

criança imediatamente de dentro de casa e colocá-la em um abrigo; o juiz só tomava

conhecimento do fato tempos depois. Informou que a Lei nº 12.010 de 2009

estabeleceu que esta situação passaria a ser chamada de acolhimento institucional

e, como regra, a retirada compulsória da criança da sua casa para ser colocada em

uma instituição deveria ocorrer via decisão judicial. Ressaltou que quando não para

é possível esperar a autoridade judiciária decidir, pode-se fazer o acolhimento

emergencial por meio do Conselho Tutelar, para que o Ministério Público ajuíze a

ação e, depois, o juiz confirme ou não esse acolhimento. Frisou que após o

acolhimento são realizadas audiências de revisão com o pessoal da Rede de

Proteção, sempre tentando fazer um trabalho de interlocução com os demais atores

para colher informações e tomar a melhor decisão no que diz respeito ao futuro das

crianças e adolescentes.

Relatou, ainda, que o Conselho Tutelar do Município apresentava problemas

de estrutura: veículo, motorista, assessoria jurídica, assistente social e psicólogo; e

que esses problemas foram melhorados por meio de uma ação civil pública ajuizada

pelo Ministério Público. Disse que a Prefeitura Municipal também colaborou neste

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avanço; hoje, o Conselho Tutelar está melhor instalado, num espaço mais

adequado. Informou que o Tribunal de Justiça do Estado - por meio da Corregedoria

e de seus órgãos institucionais - produziu um DVD explicativo sobre a adoção para

disponibilizar aos habilitados. Opinou que seria melhor que essas informações

fossem passadas por pessoas capacitadas, na conversa, numa reunião pessoal.

Relatou que foi firmado um convênio entre a Universidade de Passo Fundo e a

Faculdade de Direito, a Faculdade de Serviço Social e a Faculdade de Psicologia,

onde foi desenvolvido um curso de orientação aos habilitados, ministrado por

professores de Direito, de Serviço Social e de Psicologia, no salão do Tribunal do

Júri.

Observou que os grupos de habilitados eram muito grandes, e através da

troca de experiências surgiu a ideia de criar o Grupo de Apoio à Adoção (Adochê),

que hoje auxilia a justiça no melhor encaminhamento da questão do acolhimento e

da adoção. Informou que a Promotoria de Justiça, na área de proteção, permaneceu

sem titular por um bom período; ressaltou que o promotor substituto não consegue

atendar toda a demanda da mesma forma que o titular, motivo pelo qual pensa que

houve um pequeno decréscimo nesta área. Contou que com a chegada da

Promotora Dra. Clarissa Machado houve muitos avanços. Citou como exemplo o

“Programa Família Acolhedora”, criado por Lei municipal e executado pela

Prefeitura, que conta com uma Assistente Social e uma Psicóloga, dedicadas

exclusivamente ao programa. Esclareceu que neste programa as crianças ou

adolescentes são recebidos por uma família acolhedora, ficando com ela até que

seja definida a sua situação jurídica, que pode ser a volta para a sua família natural

ou a colocação em uma família substituta. Informou que, por meio de uma ação com

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as instituições do Ministério Público, do Poder Judiciário, da Defensoria Pública, do

Poder Legislativo e do Poder Executivo, foram estabelecidos outros dois programas:

o “Apadrinhamento Afetivo” e o “Guarda Subsidiada”, programa que auxilia membros

da família extensa a ficar com a criança ou adolescente.

Salientou que, em termos de políticas públicas, Passo fundo dispõe do

acolhimento institucional, com quatro casas de acolhimento: três municipais e uma

não governamental: Lar Emiliano Lopes; o programa “Família Acolhedora”; o

“Apadrinhamento Afetivo” e a “Guarda Subsidiada”. Compartilhou com o pensamento

da Deputada Liziane Bayer, sobre a existência de falha nas estatísticas de dados em

relação à adoção no Brasil. Afirmou que na área da proteção, há dificuldade em

obter os números exatos de processos e de acolhidos e ressaltou que na área do

ato infracional, não existem dados sobre adolescentes infratores, de reincidência.

Em relação à Passo Fundo, informou que existem 69 pessoas habilitadas

para adoção, entre casais e pessoas individuais - independentemente de serem

hetero ou homossexuais -; nove casos de adoção concluídos e julgados procedentes

- sem definição de trânsito em julgado -, dos quais seis crianças com idade inferior a

três anos; quatorze processos disponíveis para adoção, com situação jurídica

definida, sendo que destes, há apenas três menores de nove anos, que é um grupo

de irmãos, os demais têm entre onze e dezessete anos. Ressaltou que é difícil

encontrar pessoas habilitadas para este perfil, e frisou a importância dos programas

de “Acolhimento Familiar”, de “Apadrinhamento Afetivo” e de Guarda Subsidiada”.

Esclareceu que nem todas as crianças que se encontram nas casas de acolhimento

estão necessariamente disponíveis para adoção, disse que somente nos casos em

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que não é possível a manutenção do vínculo com a família natural - através do

trabalho da rede de proteção - há o encaminhamento para uma família substituta.

Admitiu avanços importantes em Passo Fundo e advertiu que ainda há muito a

avançar.

O Presidente passou a palavra à Promotora de Justiça Dra. Clarissa

Machado, que afirmou que há uma falta de observância do direito de proteção da

criança e do adolescente – princípio da prioridade absoluta – pelos Poderes

Executivo, Legislativo e Judiciário, também pelo Ministério Público, quanto a

destinação de recursos para serviços de atendimento à criança e ao adolescente.

Advertiu que os recursos são providos pela Assistência Social do Município, que

atende também ao idoso, à pessoa com deficiência e à mulher vítima de violência

doméstica. Salientou que o programa de “Apadrinhamento Afetivo” foi uma iniciativa

do Ministério Público, entretanto, ainda não está sendo implementado. Disse que as

Promotorias de Justiça especializadas necessitariam ser dotadas de - além de um

promotor de justiça - funcionários de apoio de gabinete e de cartórios suficientes, de

assistente social, psicólogo e pedagogo, o que não dispõem. Afirmou que os

Juizados Regionais da Infância e Juventude também deveriam ter equipe

interprofissional própria e exclusiva, o que não ocorre em função da equipe atender

também outras varas, gerando com isso prejuízo no andamento dos processos

judiciais. Alertou que a sociedade precisa fiscalizar e cobrar a aplicação da verba

pública, que o Ministério Púbico não consegue fazer isso sozinho. Falou sobre o

projeto “Egrégora”, que visa a participação da sociedade na busca de melhorias às

crianças e aos adolescentes acolhidos através de contribuição financeira para

organizar festas aos acolhidos; por meio de doação de bens móveis para as casas

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de acolhimento; ou para prestar serviço voluntário nas áreas de psiquiatria,

psicologia e ortodontia. Observou que este projeto foi criado, entretanto ainda não foi

implementado, embora já existam muitos parceiros inscritos, que não foram

contatados. Disse que torna-se necessário que alguma instituição coordene esse

projeto - talvez uma Organização Não Governamental –, que contate esses

parceiros e faça uma aproximação da sociedade com as casas de acolhimento.

Alertou que investir na criança e no adolescente é investir em segurança pública.

O Presidente passou a palavra à Defensora Pública, Dra. Anelise Sturm, que

esclareceu sobre o papel da Defensoria Pública e suas atribuições. Informou que os

processos de habilitação em Passo Fundo têm ocorrido em torno de oito meses.

Falou sobre a falta de condições da rede municipal para atender à demanda

específica da infância e juventude. Citou casos de pessoas que adotam e, por não

estarem preparadas e não terem condições de ter um acompanhamento psicológico,

acabam devolvendo a criança. Ressaltou que existem situações de adoção ou de

destituição do poder familiar que precisam ser mais investigadas, podendo levar em

torno de dois anos. Afirmou ser muito importante o acompanhamento psicológico da

criança ou adolescente acolhido, que está sendo encaminhado para uma família

substituta; disse que muitas vezes por medo do novo, não conseguem se adaptar e

pedem para voltar. Propôs, como contribuição aos trabalhos da Comissão, apoio

psicológico com atendimento individualizado e periódico às crianças e adolescentes

acolhidos e também às famílias habilitadas a adotar.

O Presidente passou a palavra ao Secretário de Cidadania e Assistência

Social, Sr. Roger Teixeira Borges, que apresentou a estrutura e o trabalho

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realizado pela Secretaria de Cidadania e Assistência Social (SEMCAS). Falou sobre

o projeto “Aprendiz Cidadão”, que engloba o atendimento às crianças que estão em

acolhimento. Também falou sobre o programa “Apoiar e Comprometer”, que foi

instituído por lei municipal, que possibilita àquelas pessoas adultas que estão em

situação de vulnerabilidade social a oportunidade de exercer uma atividade

remunerada. Elogiou a equipe da Secretaria, disse que o trabalho em conjunto com

o Ministério Público, com a Defensoria Púbica e com o Poder Judiciário tem

conseguido reduzir os acolhimentos.

O Presidente passou a palavra à Coordenadora da Proteção Social Especial,

Sra. Elenir Chapuis, que traçou um panorama sobre o acolhimento. Informou que

há 61 crianças acolhidas, das quais, 52 em acolhimento institucional, distribuídas em

quatro casas de acolhimento; oito em famílias acolhedoras e uma em guarda

subsidiada. Informou que têm ocorrido algumas devoluções de crianças e sugeriu

que pessoas habilitadas sejam avaliadas e chamadas periodicamente, com o

intuitode se verificar se ainda mantêm o interesse em adotar. Também sugeriu que

seja trabalhada a questão da adoção tardia.

O Presidente passou a palavra à Presidente do Grupo de Apoio à Adoção

Adotchê, Daniela Lange Rossetto, que informou que o Grupo visa assegurar o

direito das crianças e dos adolescentes de terem uma família; incentivar a adoção

tardia; e melhorar a condição das crianças e adolescentes acolhidos. Contou que

por proposição do Grupo, foi firmado um convênio entre a Prefeitura e a

Universidade de Passo Fundo (UPF) para atender às demandas dos acolhidos e de

seus cuidadores nas áreas odontológica, psicológica, terapêutica e educacional.

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Informou que este projeto não está funcionando perfeitamente por falta de transporte

da prefeitura. Observou que muitas pessoas, após adotarem, deixam de frequentar o

grupo. Ressaltou que seria muito importante a existência de uma psicóloga no grupo

para ajudar as pessoas no pós-adoção e conscientizá-las sobre a importância do

processo adotivo. Disse que o grupo está à disposição para ajudar no projeto

“Egrégora”. Contou que foi em busca de convênios na área odontológica e recebeu

a informação de que não havia a necessidade de atendimento odontológico nas

casas de acolhimento, que este serviço era disponibilizado nos ambulatórios da

cidade. Sugeriu que fosse criado um projeto para levar o conhecimento da Lei às

pessoas - nos ambulatórios, nos posto de saúde - que esclareça às pessoas que se

não podem ou não querem ficar com as crianças, podem doá-las ao Estado para

adoção. Comunicou que o Grupo tem mais ideias de projetos: festas de aniversário

nos acolhimentos; formar um convênio com a UPF, que dispõe de aula de fotografia

no curso de Publicidade e Propaganda, para que seus alunos fotografem as crianças

e adolescentes e criar um álbum para que tenham a sua história. Comentou que

foram convidados a participar do curso preparatório à adoção, que isso engrandece

muito o Grupo. Neste momento o Presidente abriu espaço para perguntas. Após os

questionamentos e perguntas do público às autoridades, a Deputada Liziane Bayer

agradeceu a todos e colocou a Comissão especial sobre a Família à disposição para

sanar quaisquer dúvidas e receber opiniões ou demandas.

2.5 O cenário da adoção em URUGUAIANA

Dia 23 de setembro de 2016

No dia 23 de setembro de 2016 foi realizada Audiência Pública para discutir o

cenário da adoção no município de Uruguaiana.

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Estiveram presentes no evento, o Vice-Prefeito de Uruguaiana, Sr. Neraí

Kaufmann, a Juíza de Direito do Juizado da Infância e Juventude da Comarca de

Uruguaiana, Dra. Ana Beatriz Rosito Almeida Fagundes, o representante do

Ministério Público, Promotor de Justiça Eduardo Bodanezi Lorenzi, o Defensor

Público, Dr. Ricardo Sano, a Secretária de Assistência Social e Habitação do

município, Sra. Cleia de Moraes, Caroline Fernandes, Psicóloga e Coordenadora

do Acolhimento Familiar da Secretaria de Assistência Social e Habitação,

representantes do CREAS, CRAS e do Conselho Tutelar.

O Deputado Missionário Volnei saudou a todos os presentes e informou que

no Brasil existem 80 mil crianças acolhidas segundo o CNJ, sendo que sete mil já

estão destituídas do poder familiar. Existem 37 mil pessoas habilitadas no Cadastro

Nacional da Adoção. No Rio Grande do Sul existem 5.576 pessoas habilitadas a

adotar, 1.009 crianças destituídas do poder familiar e quatro mil em casas de

acolhimento. Por que há tanta criança acolhida? Por que as crianças destituídas não

estão sendo adotadas?

O principal entrave é a cultura de que se for adotar, deve ser um bebê, cor

branca, sem problemas de saúde e com no máximo três anos de idade. Como a

Adoção tardia pode ajudar? Outro entrave é a morosidade para uma família adotar

uma criança, podendo muitas vezes levar mais do que dois anos.

O Vice-Prefeito de Uruguaiana, Sr. Neraí Kaufmann, parabenizou os

deputados pela iniciativa em discutir o tema da adoção. Acredita que o excesso de

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burocracia faz com que as crianças deixem de ser assistidas, que se já é difícil

adotar crianças menores, esse processo torna-se mais moroso com os

adolescentes. Ele acha que deve haver propostas que saiam da Comissão Especial

para solucionar os problemas relacionados a adoção no município de Uruguaiana.

Em seguida passou a palavra para a Juíza de Direito do Juizado da Infância e

Juventude da Comarca de Uruguaiana, Dra. Ana Beatriz Rosito Almeida

Fagundes, que informou que o perfil das crianças e adolescentes que estão nas

casas de acolhimento são diferente do perfil dos casais habilitados para adoção.

Afirma que os prazos de destituição do poder familiar e adoção estão sendo

cumpridos em virtude de haver um juizado exclusivo de infância e juventude na

comarca e que o trabalho em rede e os grupos de apoio à adoção facilitam bastante

as adoções e a proteção às crianças. A Magistrada também informou que em

Uruguaiana existem 140 mil habitantes, 23 casais habilitados no Cadastro Nacional

de Adoção e apenas cinco adolescentes disponíveis para adoção. Informou que foi

montado um grupo de trabalho para capacitar e informar os habilitados e pessoas

que desejam adotar, fomentando também a adoção na cidade.

Acredita que é preciso desenvolver um entendimento para as famílias de que

as crianças que estão aptas a serem adotadas tem um perfil diferente do que elas

buscam.

Após a fala da Magistrada, passou a palavra para o representante do

Ministério Público, Promotor de Justiça Eduardo Bodanezi Lorenzi, que saudou a

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todos e parabenizou a iniciativa. Acredita que o processo de adoção é romper um

laço afetivo para reconstruir outros laços e que isso é feito no processo de

destituição familiar. Acredita na entrega voluntária, onde uma mãe, já sabendo que

está grávida e que não quer o filho, é ouvida pela rede comunitária e explica os

motivos, que podem ser diversos.

Acredita que essa ação deveria ser revisada no ECA para agilizar questões

de destituição, principalmente na parte da família extensa. Salientou que o

acolhimento institucional deve ser usado de forma breve e excepcional e que o

planejamento familiar deveria ser regra, pois a prioridade é sempre evitar trauma

maior para as crianças.

O Defensor Público, Dr. Ricardo Sano relatou em sua fala que em

Uruguaiana existem duas casas de acolhimento, duas casas de medidas

socioeducativas e um juizado da infância e juventude. Disse que a falta de trabalho

conjunto e a rede são os fatores que mais trazem problemas nos casos de adoção.

É preciso saber dos problemas familiares da comunidade, fazer uma prevenção e

planejamento familiar para se fazer o encaminhamento da adoção. Salientou que

muitas gestantes têm problemas na família, possuem muitos filhos, são na maioria

pobres ou tem problemas com drogadição. “O planejamento familiar é uma política

pública que o município deveria fazer para não existir riscos para as crianças”. Outro

entrave discutido pelo defensor foi a falta de profissionais atuando no juizado e que

só existe um cartório para dar conta de toda a demanda da cidade.

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A Secretária do município, Sra. Cleia de Moraes explicou como funciona o

serviço de acolhimento familiar, onde as famílias acolhedoras abrigam as crianças e

adolescentes afastados da família de origem por alguma medida protetiva.

Salientou que o referido serviço é previsto em lei de número 4.449/2014 e que

passou a funcionar em 2015 em Uruguaiana. Informa que está dando certo e veio

para minimizar os danos à criança, pois a ela é garantido atendimento individual e

prioritário. Segundo a Secretária, existem hoje no município oito famílias com onze

crianças e outras duas crianças com visita prolongada e que serão acolhidas mais

quatro crianças.

Informou que enquanto não é feita a destituição do poder familiar a criança

fica com a família acolhedora.

Em seguida foi ouvido o depoimento de um casal que está cuidando de uma

criança, conforme a lei do acolhimento familiar. O casal relatou que a criança se

desenvolve bem mais na casa deles do que se estivesse no abrigo. Acreditam que

deve-se pensar em uma forma de as famílias acolhedoras também poderem adotar

ou ter certa prioridade na adoção da criança acolhida, caso manifestem interesse.

2.6 O cenário da adoção em PELOTAS

Dia 06 de outubro de 2016

No dia 06 de outubro de 2016 foi realizada Audiência Pública com o objetivo

de discutir o cenário da adoção no município de Uruguaiana.

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Estiveram presentes no evento a Juíza da Vara de Infância e Juventude da

Comarca de Pelotas, Dra. Alessandra Couto de Oliveira, a Promotora de Justiça

da área de Infância e Juventude de Pelotas, Dra. Luciara Robe da Silveira Pereira,

o Secretário Municipal de Justiça Social e Segurança, Sr. Luiz Eduardo

Zimmermann Longary, a Defensora Pública de Pelotas, Dra. Adriana Rodrigues,

o Presidente da Câmara de Vereadores, Sr. Ademar Ornel, a Presidente do Grupo

de Apoio a Adoção, Sabrina Lima, representantes dos Conselhos Tutelares, dos

CRAS, CREAS e dos abrigos do Município.

Para dar início à audiência, o Presidente da Comissão passou a palavra à

Juíza da Vara de Infância e Juventude da Comarca de Pelotas, Dra. Alessandra

Couto de Oliveira, que comemorou o fato de Pelotas contar com um grupo de apoio

de adoção, a partir do estimulo da Comissão Especial da Família.

Relatou que em Pelotas existem 53 crianças e adolescentes acolhidas e em

Capão de Leão, município que faz parte da Comarca, há dez crianças e

adolescentes, totalizando 63 crianças das quais 26 já foram destituídas do poder

familiar e aptas à adoção, porém todas as 26 possuem mais de onze anos de idade.

33 crianças estão em processo de tentativa de reintegração familiar e só serão

disponíveis à adoção após esgotadas as tentativas; sete estão em processo de

destituição familiar e quatro em aproximação com casal habilitado à futura adoção.

O Juizado vem realizando audiências concentradas preliminares a cada seis

meses e além dessas, tão logo a criança é acolhida, são realizadas outras

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audiências, com o objetivo de identificar se há possibilidade de a criança voltar a

conviver com a família biológica ou de ser destituída do poder familiar.

A Juíza chama a atenção para o número de adoções irregulares no município,

o que prejudica as pessoas que estão aguardando para adotarem pelo Cadastro

Nacional de Adoção. Por esse motivo está sendo realizado um trabalho de

divulgação no sentido de possibilitar à mãe, a entrega voluntária do filho, quando no

hospital já lhe é informada essa possibilidade, caso ela opte em não ficar com o

bebê.

Uma outra situação que acontece no município é que os adolescentes não

encontram pretendentes no Cadastro Nacional, pois ninguém aceita o perfil deles.

Nesses casos, são realizados encontros, entre os adolescentes e as pessoas que

desejam adotar as crianças e adolescentes dos abrigos. Existem casos de casais

que optaram por crianças pequenas em seu perfil e acabaram conhecendo e

adotando os adolescentes.

Após a fala da Magistrada, foi ouvida a Promotora de Justiça da área da

Infância e Juventude de Pelotas, Dra. Luciara Robe, que cumprimentou a todos e

disse que a partir de 2013, o Município apresentou uma redução de 50% do número

de crianças acolhidas em instituições, devido às medidas para evitar o acolhimento

institucional; as audiências concentradas e audiências preliminares. Acredita que o

maior entrave é o cultural, onde os habilitados buscam somente crianças pequenas,

enquanto que a realidade brasileira demonstra que a maioria das crianças aptas

para adoção são maiores.

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Em seguida passou a palavra à Defensora Pública de Pelotas, Dra. Adriana

Rodrigues que acredita que não é legitimo nenhum direito que tenha na sua

essência o vício da ilegalidade, por isso é importante denunciar as adoções

irregulares. A Defensoria Pública atua no sentido de preservar e garantir os direitos

dos pais que terão o vínculo biológico rompido com a criança adotada. Uma adoção

não pode ser legitima sem que tenham sido respeitados os direitos de possibilidade

de acesso aos programas públicos e da rede pública para que a família tenha direito

de ser constituída. É sabido que existem casos em que essas possibilidades são

quase nulas, em casos de abuso sexual, violência doméstica, drogadição. A

Defensoria Pública também pode atuar nos casos em que casais já possuem guarda

e que querem ingressar com ação de adoção.

Na sequência o Presidente Passou a palavra ao Secretário Municipal de

Justiça Social e Segurança, Sr. Luiz Eduardo Longaray, que informou que Pelotas

possui uma população de 340 mil habitantes e que a cidade possui sete abrigos,

sendo eles a Casa do Carinho com 16 crianças, a Casa de Triagem, com seis

crianças, Meninas I, com doze crianças, Meninas II, com quatro crianças, Meninos II,

com cinco crianças, Meninos I com dez crianças e a Casa Aquarela que cuida de

grupos irmãos, com dez crianças. A preocupação deve ser com as crianças que

após completarem 18 anos sairão das casas de abrigos se não forem adotadas.

Deve se ter políticas públicas para que elas possam estudar, trabalhar e ter um

acolhimento provisório, para que não trilhem um caminho de violência.

Em seguida foi passada a palavra à Professora Carla Becker, que representa

a Secretaria de Educação do município. Ela informou que existe muita diferença de

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aprendizado entre as crianças que tem uma família presente e educando, daquelas

que não têm. Os abrigos devem se preocupar com essa questão também. Ela

reafirmou o compromisso no sentido de que todas as crianças que forem adotadas e

que necessitarem mudar de escola, terão vaga garantida e agilidade nos

atendimentos.

3. ARTIGOS APRESENTADOS

3.1 Ponderações acerca dos trabalhos da Comissão Especial da Família da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul.

No período de 08 de junho a 14 de outubro de 2016, o Estado do Rio Grande

do Sul discutiu os “Entraves da Adoção” por meio de audiências públicas promovidas

pela Comissão Especial da Família da Assembleia Legislativa. Elas ocorreram na

Capital, em Santa Maria, Bagé, Passo Fundo, Pelotas, Farroupilha e em

Uruguaiana. Foram debatidos os temas: o Panorama Geral da Adoção no RS e a

Conscientização acerca da Adoção Tardia; o Perfil das Crianças e Adolescentes

Acolhidos; a Morosidade nas Habilitações à Adoção e nas Destituições de Poder

Familiar; os Programas de Apadrinhamento Afetivo, Criação de Grupos de apoio à

Adoção e Família Acolhedora; Escolaridade dos Acolhidos; Profissionalização dos

Adolescentes Institucionalizados; Dificuldades do Cadastro Nacional de Adoção

(CNA) e do Cadastro Nacional de Crianças e Adolescentes Acolhidos (CNCA).

Diversas autoridades de todo o Brasil participaram dos eventos, os quais

propiciaram os debates e pelo menos quatro projetos de lei, além de sugestão de

alteração da Resolução 54 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e críticas ao

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projeto do Ministério da Justiça de alteração do Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA) no tocante às adoções.

Com relação ao Panorama Geral da Adoção no RS, segundo o CNJ, dados do dia

14 de outubro do ano corrente, o Brasil possui 37799 pretendentes habilitados à

adoção, o RS 5626, Porto Alegre 671, enquanto temos, respectivamente, 7078

crianças e adolescentes aptas à adoção no País, 1010 no Estado e 535 na

Capital. Pontua-se que, em Porto Alegre, das 535 crianças e adolescentes,

apenas 212 estão disponíveis no CNA, outras 210 encontram-se inativas, 48

vinculadas e 66 adotadas (adoções ocorridas de junho de 2015 até 14 de outubro

de 2016). O Ministério Público questiona a situação de inativos no cadastro, o que

é objeto de recursos no Tribunal de Justiça do RS. Realizado levantamento junto

ao CNA, verificou-se que, na Capital, em 2014, ocorreram somente 40 adoções,

enquanto que em 2015, até junho, quando houve a mudança do cadastro, apenas

17 adoções e, desta data até o dia 14 de outubro de 2016, 66 adoções,

salientando-se que eram todos menores de um ano, com raras exceções. E as

demais crianças e adolescentes já destituídas? Ainda, a média de tempo entre a

institucionalização destes bebês até a adoção foi de 2,6 (dois anos e meio). O

prazo legal da destituição do poder familiar que é de 120 dias, segundo o ECA,

não é observado; há insuficiência de equipe técnica (Assistentes Sociais e

Psicólogos) do Poder Judiciário na Capital; não são aceitos os Grupos de Apoio à

Adoção na busca de habilitados aptos à adoção de crianças e adolescentes com

mais de seis anos de idade que não se encontram pretendentes no CNA;

necessário o conveniamento de profissionais idôneos para auxiliarem os técnicos

do judiciário nas habilitações à adoção, nas adoções e nas pós-adoções; aumento

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dos recursos humanos no Cartório e pelo menos mais um Juizado tratando da

matéria foram alguns apontamentos para os entraves da adoção e motivo das

longas institucionalizações.

O Ministério Público, acompanhando a Coordenação da Comissão da Família, foi

em duas oportunidades à Brasília, onde conversou com o Corregedor-Geral do

CNJ, Ministro João Otávio de Noronha, com o Presidente do Fórum Permanente

da Infância e Juventude do CNJ, Ministro Lélio Bentes Corrêa e com a Presidente

do Grupo de Trabalho na área da Infância e Juventude do CNJ, Juíza Auxiliar

Sandra Aparecida Silvestre de Frias Torres, tendo-lhes entregue sugestão de

alteração da Resolução 54 do CNJ que regulamenta o CNA, buscando corrigir o

cadastro dos inativos. Nas ocasiões, reportou as dificuldades do CNA e do CNCA,

este último quanto à concessão de senhas aos Conselhos Tutelares e Casas de

Acolhimento, para que possam consultar e alimentar o cadastro nos campos

próprios. O Ministério Público consulta o CNCA, mas não o alimenta, o que

também foi postulado, como forma de integrar as informações, abreviando o

tempo de acolhimento institucional dos vulneráveis, estabelecido no Estatuto da

Criança e do Adolescente em dois anos, mas, na prática, temos crianças e

adolescentes institucionalizados a mais de 10 (dez) anos.

A Adoção Tardia tem que ser trabalhada culturalmente. Ela somente será

possível se os habilitados à adoção tiverem contato com as crianças maiores de seis

anos e adolescentes mediante a abertura das Casas de Acolhimento, a consulta a

cadastros informatizados, com divulgação de imagens, facultando-se que eles se

tornem conhecidos, criando laços afetivos que culminem na adoção. Neste sentido o

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incremento do Programa de Apadrinhamento Afetivo, a criação e fortalecimento de

Grupos de Apoio à Adoção e a implementação de programa similar ao “Quero uma

Família”, de iniciativa do Ministério Público do RJ, apresentado ao RS pela Juíza de

Direito do RJ Mônica Labuto, convidada da Comissão da Família. Registra-se o

amplo debate acerca do Apadrinhamento Afetivo, com a apresentação do projeto de

lei de autoria do Deputado Luis Augusto Lara, regulamentando em âmbito estadual o

programa; a manifestação da Presidente do Instituto Amigos de Lucas, Rosi Prigol;

do Presidente da ELO; da Coordenadora do Programa de Apadrinhamento da João

Paulo II. A importância dos Grupos de Apoio à Adoção foi apresentada pela

painelista Suzana Sofia M. Schettini, Presidente da Associação Nacional dos Grupos

de Apoio a Adoção (ANGAAD). O Juiz de Direito de Recife, Élio Brás, trouxe a sua

experiência exitosa em Pernambuco por meio do Programa “Adote um Pequeno

Torcedor”, assim como o Juiz de Direito de Farroupilha, Mário Maggione, com o

Programa de autoria da Simone Uriel, pelo qual vídeos de adolescentes ou de

grupos de irmãos são inseridos em site da internet de adoção tardia. Ambos os

Programas divulgam imagens dos aptos à adoção, como forma de efetivar a adoção

tardia. A Vice-Presidente Nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família, Maria

Berenice Dias, posicionou-se pela necessidade de abertura das Casas de

Acolhimento. Nilson Ayala Queiroz apresentou o Projeto “Pais do Coração”,

divulgando e estimulando a adoção tardia com a publicação de livro contando

histórias de adoção.

A Comissão da Família trouxe a Porto Alegre o Juiz de Direito de Santo

Ângelo, Luis Carlos Rosa, o qual falou sobre o Programa de Família Acolhedora da

sua Comarca; o Deputado Eduardo Loureiro apresentou projeto de lei que

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regulamenta Programa de Família Acolhedora no Estado e o Presidente da

Comissão da Infância da OAB/RS convidou para o seminário sobre Programa de

Família Acolhedora, com o Juiz de Direito de Cascavel. Observa-se que o

Acolhimento Institucional no RS acontece em Abrigos e Casas Lares, com exceção

das Comarcas de Santo Ângelo e Uruguaiana, quando o ECA e o Estatuto da

Primeira Infância são claros em priorizar o Acolhimento Familiar em detrimento a

estas duas outras modalidades de institucionalização. Urge a implantação do

Acolhimento Familiar no nosso Estado e o debate acerca do tema foi de extrema

valia para que as autoridades responsáveis assimilem o conceito.

Por determinação da Resolução 71 do Conselho Nacional do Ministério

Público (CNMP), a cada quatro meses esta Promotora de Justiça inspeciona as

Casas de Acolhimento Institucional na Capital, onde existem 97 (noventa e sete)

Abrigos e Casas Lares, com 1175 (um mil cento e setenta e cinco) crianças e

adolescentes acolhidos, segundo a última inspeção realizada em julho do ano

corrente. Chama a atenção o longo período de institucionalização das crianças e

adolescentes, muitas vezes com mais de dez anos de Casa. Além de apurar a

habitabilidade, segurança e higiene dos Abrigos e Casas Lares, questiona-se os

acolhidos quanto à frequência escolar, profissionalização, liberdade de religião,

lazer, qualidade e quantidade das refeições, preparo para os atos da vida civil, se

estão sendo bem tratados, o atendimento da equipe técnica da Casa, a manutenção

de grupo de irmãos juntos, etc. As dificuldades de escolaridade e profissionalização

sempre se apresentaram nas inspeções ministeriais, mas, pela primeira vez, a

Fundação de Assistência Social e Cidadania de Porto Alegre (FASC) e a Fundação

de Proteção Especial do Rio Grande do Sul (FPE), em uma das audiências públicas

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realizadas na Capital, quantificaram as crianças e adolescentes que se encontram,

ou não, inseridos no Ensino Fundamental e Médio, chocando os presentes pelo

número de acolhidos em defasagem escolar, aguardando vaga ou infrequente à

Escola, bem como dos adolescentes que não estão se profissionalizando, ainda que

com idade para tanto.

Acompanhando a Coordenação da Comissão da Família em Brasília, nas

duas oportunidades já comentadas, a signatária conversou com o Ministro do

Trabalho, Ronaldo Nogueira, e sua equipe, em especial o Chefe de Gabinete, Willis

Taranger, para quem foi reportada a dificuldade de inserção profissional dos

adolescentes do acolhimento institucional, ante a defasagem escolar. De pronto, o

Ministro se manifestou pela criação de programa de profissionalização do segmento,

destinando 500 (quinhentas) bolsas de PRONATEC Aprendizagem aos acolhidos do

RS, pendentes, por ora, de Entidade no Estado para a execução, o que está sendo

gestionado pelo Secretário do Trabalho e Desenvolvimento Social do Estado,

Catarina Paladini.

Na última audiência pública realizada na Capital, na Casa do Poder

Judiciário, com a presença das Corregedorias da Justiça, do Ministério Público e da

Defensoria Pública, com autoridades do Conselho Nacional de Justiça (CNJ),

Executivo e Legislativo, pela primeira vez, Ana, Verônica e Milka, representando as

quase 5000 (cinco mil) crianças e adolescentes acolhidas no Estado, falaram,

emocionaram e foram aplaudidas de pé! “Queremos ser adotadas ou apadrinhadas,

mas não por caridade! Queremos nossas imagens na internet, mas só para o acesso

de pretendentes habilitados à adoção, não queremos ser vítimas de bullying!

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! 87

Queremos ser ouvidas, nosso tempo está passando, vamos completar 18 anos e aí?

O que será da gente sem ninguém fora do Abrigo?” O Poder Judiciário lançou a

Campanha “Deixe o Amor te Surpreender”, o Ministério Público a “Rede Solidária”. A

Corregedoria do Ministério Público entregou ao Presidente da Comissão da Família

sugestão de projeto de lei regulamentando minimamente os recursos humanos das

Casas de Acolhimento no Estado e outras providências, bem como sugestão de

projeto de lei regulamentando o Acolhimento Emergencial no Estado. Este último

pendente de apreciação das Corregedorias de Justiça e da Defensoria Pública, vez

que elaborado em conjunto. Os trabalhos foram encerrados com o Coral da

Fundação “O Pão dos Pobres de Santo Antônio”.

O Ministério Público parabeniza o Legislativo Gaúcho pela iniciativa e

qualidade dos debates proporcionados nas audiências públicas que discutiram “Os

Entraves da Adoção no Estado”, com a certeza de que muitas sementes foram

plantadas para a melhoria do Serviço de Acolhimento Institucional e, em especial,

para a efetivação das Adoções no RS.

Porto Alegre, 17 de outubro de 2016.

Cínara Vianna Dutra Braga

Promotora de Justiça da Infância e Juventude de Porto Alegre

3.2 O direito à convivência familiar e comunitária

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A convivência familiar e comunitária é um direito fundamental de crianças e

adolescentes garantido pela Constituição Federal (artigo 227) e pelo Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA). Em seu artigo 19, o ECA estabelece que toda

criança e adolescente tem direito a ser criado e educado por sua família e, na falta

desta, por família substituta. O direito à convivência familiar e comunitária é tão

importante quanto o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à

profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito e à liberdade. A nossa

constituição diz que a “família é a base da sociedade” (art. 226) e que compete a

ela, ao Estado, à sociedade em geral e às comunidades “assegurar à criança e ao

adolescente o exercício de seus direitos fundamentais” (art. 227).

O Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária – (PNCFC),

verdadeiro marco nas políticas públicas brasileiras, foi redigido com a intenção de

modificar a cultura da institucionalização de crianças e adolescentes e fortalecer as

ideias de proteção integral e de preservação dos vínculos familiares e comunitários

preconizadas pelo ECA.

Entretanto, a realidade de milhares de crianças e adolescentes institucionalizados no

nosso país aponta para a fragilidade na eficácia de nossas leis e para a necessidade

de esforços mais efetivos na busca de soluções que promovam uma mudança neste

quadro.

A ANGAAD – Associação Nacional de Grupos de Apoio à Adoção, instituição

permanentemente afeta ao instituto da adoção legal e para tanto vocacionada,

acompanha todas as iniciativas e ações, privadas ou públicas, tendentes à garantia

dos Princípios Constitucionais da Prioridade Absoluta e Proteção Integral da criança

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e do adolescente. Nesta perspectiva, acompanhamos com muita satisfação a

instalação da Comissão Especial sobre a Família, na Assembleia Legislativa do

Estado do Rio Grande do Sul, presidida pelo deputado Missionário Volnei, que

buscou construir uma contribuição do Poder Legislativo gaúcho para resolver os

conhecidos entraves nos processos de adoção neste estado.

Durante quatro meses, a Comissão Especial sobre a Família realizou

audiências públicas em várias comarcas gaúchas enfocando o panorama que

reveste o instituto da adoção naquelas localidades, construindo um saudável diálogo

entre os poderes Legislativo, Executivo, Judiciário e Ministério Público, do qual

também participaram outros atores importantes como ONGs, Conselho Tutelar,

entidades representativas, especialistas e a comunidade em geral. Os debates

acontecidos foram extremamente salutares, principalmente porque trouxeram

visibilidade à sociedade para um assunto de extrema importância: a necessidade de

se encontrar formas de se concretizar o direito à convivência familiar e comunitária

para milhares de crianças e adolescentes institucionalizados. Neste sentido, ficou

evidente a necessidade de um trabalho conjunto, articulado, sinérgico de todos os

atores sociais envolvidos na rede de proteção integral, sob a égide da prioridade

máxima e do melhor interesse dessa população.

Infelizmente, leis não mudam cultura, não modificam crenças sociais, não

erradicam o preconceito. Leis também não vocacionam profissionais, não

conscientizam técnicos, não priorizam ou aceleram processos. Os dispositivos

jurídicos e legislativos são ineficazes se não estiverem acompanhados de uma

radical transformação cultural e atitudinal dos operadores dessas ferramentas e de

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! 90

toda a sociedade em geral. As crianças e adolescentes impossibilitados de exercer o

seu direito à convivência familiar e comunitária, carecem de genuínas atitudes

adotivas que possibilitem o andar dos processos, a agilização das diligências, que

simplifiquem os entrementes, que favoreçam os encontros das crianças com suas

famílias possíveis. As leis não se efetivam sozinhas!

As audiências públicas realizadas foram oportunidades fantásticas para uma

revisão amadurecida e responsável de todos os aspectos que envolvem o instituto

da adoção no Estado do Rio Grande do Sul.

Além de concentrar esforços em aspectos importantes como os limites e

possibilidades do Cadastro Nacional de Adoção, programas de capacitação

profissional para adolescentes institucionalizados e campanha de incentivo à adoção

de crianças maiores, a Comissão Especial da Família enfatizou a imprescindível

contribuição dos Grupos de Apoio à Adoção (GAAs) na Rede de Proteção Integral.

Vários GAAs novos estão em formação no Rio Grande do Sul por iniciativa da

comissão, que certamente trarão contribuições importantes para agilizar as adoções

neste estado.

Os GAAs, que tem sua origem a partir de ações da sociedade civil,

historicamente foram criados na perspectiva de suprir lacunas existentes no trabalho

com a adoção, evidenciadas com o advento do ECA. Constituíram-se na intenção de

oferecer suporte aos operadores do direito, possibilitar espaço de debate, estudo e

pesquisa e promover o encontro entre pais e filhos adotivos. Os GAAs são espaços

importantes para erradicar mitos e preconceitos, modificar crenças sociais, e, assim,

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promover as adoções necessárias comumente fora do perfil desejado pela maioria

dos adotantes brasileiros.

A ANGAAD parabeniza a Comissão Especial da Família pela excelência do

trabalho realizado no Rio Grande Sul, que traz novas possibilidades para o instituto

da adoção neste Estado. Agradece sensibilizada o reconhecimento da importância

do trabalho da rede de GAAs, cujo objetivo é apenas contribuir e somar esforços

para que crianças e adolescentes tenham resgatado o seu status de filho no menor

espaço de tempo possível. Assim como se teve oportunidade de debater durante as

audiências públicas, o tempo da criança é diferente do tempo do adulto. Cada dia

em que está privada da convivência familiar significa que mais uma marca dolorosa

está sendo agregada a sua história.

Suzana Sofia Moeller Schettini

3.3 Adoção, um algo mais.

“Adotar um filho não é simplesmente realizar o sonho acalentado de ser pai

ou mãe. Nem tampouco preencher um vazio existencial e, muito menos, resolver a

necessidade instintiva da continuidade. Não é também buscar uma companhia, nem

dar expressão às sensibilidade sociais de ajudar criança desvalida. Antes de adotar

um filho, está-se adotando uma pessoa em sua forma ampla e mais abrangente com

suas características individuais, peculiaridade de personalidade e destino pessoal.

No Brasil, existe uma grande preferência dos candidatos à adoção por

crianças brancas e recém-nascidas. Sendo assim, a quantidade de crianças pardas

e negras em instituições de abrigagens é muito maior do que de crianças brancas,

tendo menos chances de serem adotadas e poder conviver com uma família. Em

consequência, ficam muito mais tempo nas instituições, e quando são adotadas,

entram para a estatística da adoção tardia .

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No Rio Grande do Sul existem 6.500 pessoas interessadas em adotar e 600

crianças e adolescentes aptos para adoção (Cadastro Nacional de Adoção,). Ainda

que o número de candidatos a pais seja muito maior do que o de crianças e

adolescentes que aguardam por uma família, as exigências quanto ao perfil

desejado segue sendo um dos principais obstáculos no processo de adoção.

Além das exigências quanto ao perfil, que engloba idade, cor, presença de

doenças, desinteresse na adoção de irmãos, existe também mitos que se tornam,

muitas vezes, grandes entraves na realização de adoções de crianças acima de dois

anos de idade, fazendo assim com que se potencializem expectativas negativas

ligadas à prática da adoção tardia. As expectativas que os candidatos a pais

carregam consigo acabam transformando a criança, com menos de um ano, em

possibilidade de realização para os mesmos. Por isso, os recém-nascidos acabam

sendo os mais procurados para a adoção.

O direito universal da criança de crescer e poder se desenvolver dentro de

uma família deve ser garantido, pois ela, recebendo amor e respeito, poderá superar

as barreiras que a sociedade muitas vezes coloca, através dos preconceitos que

costumam segregar os diferentes. Quando uma criança passa a fazer parte de uma

família, ela tem a capacidade de incorporar todos os costumes e a cultura familiar

desta, mesmo que essa criança tenha mais de cinco anos.

As pessoas devem entender as diferenças que existem entre o filho ideal X o

filho real. A ADOÇÃO DEVE SER UMA FORMA DE MATERNAGEM E NÃO DE

ESCOLHAS.

Rosi Prigol

Presidente do Instituto Amigos de Lucas

3.4 A Absoluta Prioridade de Crianças e Adolescentes

A Constituição Federal assegura, em seu artigo 227, absoluta prioridade à

criança e ao adolescente. E, quando inseridos em programa de acolhimento

institucional, outra não é a tarefa do que lhes garantir, nos termos da Lei nº 8.069/90,

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a reinserção familiar ou, na impossibilidade, a colocação em família substituta, de

onde se destaca a adoção.

Para tanto, verificada conduta dos pais que possa ensejar a perda do poder

familiar e proposta a ação para destituição desse poder, impõe-se buscar o equilíbrio

entre a necessidade de se assegurar a ampla defesa aos pais e de se garantir o

deslinde do feito em tempo hábil, sem que o período investido nas tentativas de

retorno da criança/adolescente para a família de origem acabe inviabilizando a

colocação em família substituta, quando for o caso.

Na Comarca de Porto Alegre/RS, com cerca de 1.200 crianças/adolescentes

em acolhimento institucional, desde 2014 o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul

conta com magistrado designado para realizar, de forma periódica, as audiências

concentradas. Nestas, avalia-se a situação de cada acolhido, com os

encaminhamentos necessários, objetivando, sempre que possível, a reinserção

familiar ou a colocação em família substituta.

Além disso, no 2º semestre deste ano, a 2ª Vara da Infância e Juventude da

Comarca de Porto Alegre/RS, com competência para o acolhimento institucional e

apreciação dos processos de destituição do poder familiar e adoção, passou a

contar com mais um magistrado e reforço no quadro de servidores para imprimir

maior celeridade ao andamento de tais processos, o que por certo permitirá a

definição da situação jurídica de nossas crianças e adolescentes em menor prazo.

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Nesse contexto, importante buscar que as pessoas habilitadas reflitam sobre

a ampliação do perfil, especialmente faixa etária, da criança/adolescente desejado.

A análise do perfil das crianças e adolescentes que já estão aptos a serem

adotados no Estado do Rio Grande do Sul indica que mais de 90% desses jovens

contam com 10 anos de idade ou mais, ao passo que não chega a 2% os

pretendentes que aceitam crianças e adolescentes nessa faixa etária.

Para trabalhar este descompasso entre o perfil existente e o perfil desejado, o

Tribunal de Justiça Gaúcho, por intermédio da Corregedoria-Geral da Justiça e da

Coordenadoria da Infância e Juventude, lançou recentemente a Campanha “Deixa o

Amor te Surpreender”, em que se almeja justamente buscar a reflexão quanto à

possibilidade de ser ampliado o perfil. Relatos de pais que adotaram e de crianças/

adolescentes que foram adotados demonstram que é possível sim que nossos

jovens, independente da idade, encontrem uma nova família, tudo com o

acompanhamento técnico por parte do Juizado que garanta efetivo apoio aos

envolvidos.

Na Capital, buscando maior visibilidade a essas crianças e adolescentes que

ainda não encontraram uma nova família, começa a ser produzido, em parceria com

a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça, material que permita aos

habilitados conhecer quem são estes jovens. Inclusive, a apresentação de um pouco

da história de nossos acolhidos aptos a serem adotados aos candidatos habilitados

vem ao encontro do que foi manifestado por grupo de adolescentes que participou

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da última audiência pública realizada sobre o tema, uma iniciativa da Assembleia

Legislativa de importância ímpar para ampliar o debate sobre a questão e que, por

certo, contribuirá para o aprimoramento do processo como um todo.

Como também exposto pelos adolescentes no documento produzido para a

audiência, a adoção e outras medidas que buscam dar uma referência a estes

jovens, como o apadrinhamento afetivo, não são atos de caridade, mas sim

compromissos dos envolvidos com a proteção integral à infância e juventude,

garantindo a prioridade absoluta referida.

Outubro/2016

Marcelo Mairon Rodrigues,

Juiz de Direito.

3.5 Considerações da Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento Social

Durante 120 dias, a comunidade e entidades de atendimento à criança e ao

adolescente tiveram a oportunidade de debater sobre alguns aspectos relacionados

à família e ao direito à convivência familiar e comunitária e, especialmente, a

realidade do sistema da adoção no Estado. A instalação da Comissão Especial

sobre a Família, criada para tratar dos entraves relacionados aos processos de

adoção no Rio Grande do Sul, presidida pelo deputado Missionário Volnei, promoveu

um momento importante de mobilização e reunião da rede de atendimento aos

meninos e meninas que vivem hoje em situação de acolhimento.

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! 96

Conforme os registros, até o final do primeiro semestre de 2016, foram

contabilizados 625 crianças e adolescentes disponíveis para adoção no estado,

sendo que destes, 566 estão fora do perfil desejado pelos pretendentes com

interesse em adotar. A maioria deles por ter idade igual ou superior a dez anos. O

que significa que apenas 59 atendem a idade preferencial entre os candidatos a pais

adotivos, muitas delas, com algum tipo de deficiência ou problema de saúde que as

impede de encontrar um novo lar.

Trazer essas informações para sociedade foi um ato de extrema coragem e

de uma sensibilidade sem precedentes. Posso afirmar que trata-se de um marco

histórico na busca de uma política de estado efetiva para solução das questões que

envolvem o processo de adoção. É de fundamental importância resguardar a

cidadania dessas crianças e jovens, dando perspectivas para que vivam

verdadeiramente sua infância em família, para que tenham uma garantia de futuro.

Mais do que debater os entraves da adoção em nosso território, a Comissão

nos permitiu conhecer a realidade e as experiências exitosas de outros estados. Isso

nos deu ânimo e nos fez perceber que é possível oferecer uma nova perspectiva

para as nossas crianças.

Reconhecemos aqui, que todos buscam a construção de uma política efetiva

de Estado nesta área. Mas necessitamos da autocrítica por parte dos agentes

envolvidos, como a morosidade envolvendo o processo das adoções, algo que afeta

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a vida das pessoas e a vida de cada menino e menina em situação de abrigamento,

bem como de pais que esperam ansiosamente pela oportunidade de constituir a sua

família.

Deixo aqui registrada a minha satisfação por ter acompanhado um trabalho

que teve efetiva mobilização e participação da rede de atendimento à infância.

Foram momentos de conhecer e reconhecer as experiências já desenvolvidas no

Estado e, especialmente, de dar voz àqueles que mais precisam ser ouvidos: as

crianças.

Desejo fortemente que essa experiência tenha continuidade, para que as

articulações e mediações deem seguimento, mantendo um diálogo transparente com

todo o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente, buscando

agilizar soluções para aqueles que aguardam por uma família.

Para superar as violações de direitos, soluções concretas precisam ser para

hoje e não para o futuro, pois a infância tem pressa!

Catarina Paladini

Secretário do Trabalho e do Desenvolvimento Social RS

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CONCLUSÃO

As ações e iniciativas que mobilizaram esta Comissão Especial nestes quatro

meses de atuação foram movidas por um sentimento de amor às crianças vítimas de

negligência, abandono, maus tratos, abuso sexual e todas as demais formas de

violência, assim como pelo objetivo maior de protegê-las dessas situações.

Concluímos que mesmo diante de um trabalho bem feito de cuidado e

educação, nada se sobrepõe ao direito a uma família, que têm as crianças e

adolescentes em situação de acolhimento institucional.

As autoridades ouvidas nas audiências públicas foram uníssonas ao afirmar

que as variadas formas de família tem de ser respeitadas. A existência de milhares

de decisões judiciais, afastando filhos e filhas biológicos dos seus lares, desmistifica

a crença de que o seio familiar é sempre o ambiente no qual a criança ou o

adolescente receberá cuidados, educação e amor.

É consensual, também, que na impossibilidade do retorno à família biológica

ou destinação para a adoção, sejam fortalecidas as experiências de acolhimento

familiar, apadrinhamento afetivo, casas lares e outras medidas similares, que

permitam cuidados individualizados às crianças e adolescentes.

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Depois de 120 dias de trabalho, 15 audiências públicas e coletas de dados

sobre a situação da infância e da adolescência no Rio Grande do Sul, diagnosticou-

se que:

Nos municípios onde há rede de proteção à infância, há mais facilidade de

detectar as situações de vulnerabilidade e/ou violência e, por consequência, mais

políticas públicas preventivas de violência contra crianças e adolescentes;

As ações desta Comissão fizeram com que a adoção fosse inserida na pauta

político-institucional do RS. Inclusive, problemas sérios de dissintonia entre vários

órgãos na capital do Estado, por exemplo, começaram a ser resolvidos a partir da

constatação dos mesmos nestas audiências públicas;

Os diferentes atores da rede de proteção às crianças e adolescentes

encontraram-se nas audiências realizadas em 7 municípios do Estado. Esses

momentos foram oportunos para que se conhecesse melhor o trabalho de cada um,

com suas potencialidades e falhas, revelando pistas e alternativas de como superar

os limites encontrados;

A Comissão também cumpriu o papel de unificar uma análise metodológica

sobre a situação das crianças e adolescentes com perda do poder familiar, as

diferentes visões sobre os processos judiciais, a política de acolhimento institucional

e outras alternativas, bem como o fortalecimento da ideia de incentivar a adoção,

vencendo os variados obstáculos que se apresentam;

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Percebemos que a existência de grupos de apoio e incentivo às adoções

contribuem muito com as pessoas interessadas em adotar, com os Poderes

Executivo e Judiciário e o Ministério Público. O fato de estarem trazendo às

autoridades o que ocorre no dia a dia das comunidades, no que diz respeito às

expectativas e anseios existentes nas mentes e corações das pessoas candidatas à

adoção, faz com que os processos se acelerem, sem que percam a qualidade e a

seriedade em cada procedimento;

O Instituto Amigos de Lucas é uma organização de Porto Alegre, composta

por pais adotivos, que presta um trabalho imensurável no apoio à rede de

instituições e pessoas físicas interessadas em acolher e adotar crianças e

adolescentes. A direção do Instituto esteve presente no decorrer do trabalho e

constituiu-se como exemplo a ser seguido em termos de apoio à sociedade civil e

aos poderes constituídos;

No presente momento existem 4959 crianças acolhidas

institucionalmente no RS, destas, 1010 estão aptas à adoção. Em contrapartida, há

5626 pessoas habilitadas.

Dúvidas que pairam:

a. Por que estas crianças aptas não são adotadas, haja vista que a

quantidade de candidatos a pais é bem maior?

Respostas: o magistrado, em cumprimento à lei, faz um esforço para que

a família se restaure para receber de volta a criança. Na impossibilidade

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disso ocorrer, tenta-se a família extensa e, só depois, no caso de

insucesso dessas tentativas, disponibiliza-se a criança ou o adolescente

para o cadastro da adoção.

O que se depreendeu das falas dos especialistas ouvidos nas audiências

é que os prazos para estas tentativas mencionadas tem de ser mais

curtos, sob pena de a criança crescer dentro de um abrigo sem que o

processo transite em julgado.

b. Por que, neste universo tão grande de crianças institucionalizadas,

muitas ainda não estão cadastradas no cadastro de adoção para serem aptas

a adoção?

Respostas: percebeu-se que há cautela por parte da ampla maioria dos

juízes no deferimento da destituição do poder familiar, com o receio de

aquela criança perder o vínculo com a família natural e não conseguir

também uma família interessada na sua adoção.

Houve manifestação de juízes que não hesitam em destituir o poder

familiar dentro do prazo legal quando há elementos suficientes para

sentenciar nessa direção, viabilizando possíveis adoções. Ao mesmo

tempo, admitem reatar essa relação no caso de haver mudança positiva

no ambiente doméstico do qual a criança foi afastada.

c. Qual a razão de crianças entrarem pequenas numa casa institucional e

só saírem de lá após completar 18 anos?

Respostas: o explicado acima, em boa medida cabe para responder a

essa indagação. Também há de se dizer que muitas vezes a constatação

de maus tratos se dá na adolescência e, como os interessados em adotar

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não colocam no perfil de possíveis filhos idade acima de 3 anos, fica muito

difícil encaminhar esses jovens.

No que tange especificamente ao processo de adoção de crianças e

adolescentes constatou-se que:

• Há muita desinformação por parte de pessoas de diferentes

comunidades visitadas sobre como se dá o processo legal de adoção;

• Ainda vigora a cultura da adoção informal;

• Os prazos de habilitação dos interessados à adoção, da destituição do

poder familiar e de permanência das crianças em instituições de acolhimento

é bastante variável nos municípios gaúchos;

• Embora se constate dificuldades na celeridade dos processos devido

ao previsto em lei, também é crível a falta de pessoal para dar conta de tantas

demandas, morosidades por falta de maior prioridade à infância e ausência

de organizações sociais que deem o apoio necessário ao Poder Judiciário e a

outras instituições ligadas ao tema;

• Falta de uma compreensão mais homogênea de como utilizar

adequadamente o Cadastro Nacional da Adoção e a própria informática, no

sentido de dar mais eficácia nos processos judiciais dessa natureza;

• Pouca sistematização dos dados sobre o público acolhido nas mais

variadas instituições do território rio-grandense e ausência duma política

pública de cuidados e orientações para com essas crianças e adolescentes.

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RECOMENDAÇÕES

Perante o exposto, esta relatoria recomenda as seguintes iniciativas

para auxiliar no fortalecimento da prática de adotar crianças e adolescentes no

nosso Estado:

1. Que a Assembleia Legislativa e demais instituições comprometidas

com o estabelecido no Estatuto da Criança e do Adolescente apoiem e sigam

o exemplo da Campanha de Incentivo à Adoção Tardia e de Crianças com

Deficiência, desenvolvida pelo Tribunal de Justiça do RS, “Deixe o Amor te

Surpreender”;

1.1 Que seja organizada campanha específica do Parlamento Gaúcho

de incentivo à adoção, utilizando os mais variados meios de

comunicação, seja pela Mesa Diretora da Casa ou por suas comissões

permanentes;

2. Que todos os membros do Poder Judiciário, do Ministério Público e da

Defensoria Pública tenham cada vez mais compromisso com a adoção de

crianças, como já é feito em várias Comarcas, priorizando e agilizando os

procedimentos que envolvem crianças e adolescentes afastados da família,

de acordo com o permitido em lei e interagindo entre os responsáveis de cada

instituição

1. Além da sintonia necessária e importante entre os membros do Poder

Judiciário, do Ministério Público, da Defensoria Pública, que haja

integração também com os grupos de apoio e incentivo à adoção,

como forma de aproximar mais a sociedade das estruturas públicas

estatais;

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3. Que o Poder Executivo Gaúcho invista mais nas casas de acolhimento

sob sua responsabilidade direta, tanto no fortalecimento das equipes técnicas

de atendimento dos acolhidos, na melhora dos seus espaços físicos, quanto

no aumento das verbas de custeio;

4. Que os governos das diferentes esferas invistam mais em políticas

públicas de fortalecimento da rede de proteção às crianças e adolescentes;

5. Que a Assembleia Legislativa priorize a tramitação e aprovação dos

projetos de lei apontados nas audiências públicas: PL 90 2016 que dispõe

sobre Família Acolhedora; PL 313 2015 que dispõe sobre Família Afetiva; PL

170 2016 que dispõe sobre Licença Adoção por Servidores Públicos

Estaduais;

6. Que a Assembleia analise as sugestões de projetos de lei enviadas

pelo Ministério Público Estadual à Comissão da Familia que dispõe sobre: 1.

Regulamentação Mínima de Recursos Humanos Para as Casas de

Acolhimento no Estado e Outras Providencias 2. Regulamentação do

Acolhimento Emergencial no Estado.

7. Apoio dos 55 parlamentares ao presidente da Comissão Especial que

vai liderar a criação de uma Frente Parlamentar da Adoção, a qual

prosseguirá o trabalho de realização de todas essas recomendações aqui

descritas e outras que ainda possam surgir;

8. Que seja criada uma política pública de apoio educacional, profissional

e de moradia para jovens egressos das instituições de acolhimento que não

tenham uma família como referência;

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9. Que a Assembleia Legislativa fomente ao lado de outras instituições a

formação de um Fórum de apoio à adoção de crianças maiores e aquelas

com algum tipo de deficiência;

1. Que esse órgão envolva adolescentes acolhidos em instituições

dispostos a discutir alternativas de aproximação com famílias que

queiram acolhê-los;

10.Que seja oficiado o CNJ, sugerindo que aperfeiçoe o Cadastro

Nacional de Adoção, a fim de que realmente seja uma ferramenta para

facilitar a aproximação das crianças aptas com quem está habilitado no

processo legal da adoção;

11. Que a exemplo do Projeto Pais de Coração, criado pelo Nilson

Queiroz, pai adotivo, outras iniciativas sejam incentivadas pelas diferentes

instituições de apoio à adoção, a fim de dar visibilidade responsável para as

crianças e adolescentes;

12.Que a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos retome as jornadas

de prevenção e combate à violência sexual contra crianças, bem como as

caravanas de incentivo ao funcionamento das redes municipais de proteção

às crianças e adolescentes.