Assassinato no Palacete Bolonha um dos vencedores do ... · 6 O Amazonas recebe no estado do Pará,...
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Transcript of Assassinato no Palacete Bolonha um dos vencedores do ... · 6 O Amazonas recebe no estado do Pará,...
"Assassinato no Palacete Bolonha" um dos vencedores
do prêmio Literatura Moderna 2011 categoria
NOVOS TALENTOS pelo International Institute
of World Literature
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Copyright © 2012 by Zulemay Ramos I.S.B.N.:9999073105105
Edição : 2 / 2014 Territorialidade : Internacional
1ª Edição
ZULEMAY
RAMOS
ASSASSINATO NO
PALACETE BOLONHA
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Prefácio
Esta história acontece na cidade de Belém capital do estado do Pará.Em tupi Pará quer dizer mar. É o nome local do braço direito do rio Amazonas, que ao confluir com o Tocantins se alarga de maneira desmedida. Daí o nome Grão-Pará, denominação da capitania criada em 1616. A imagem oceânica evoca a imensidão do território e dos rios que sulcam a Amazônia.
Situa-se na região Norte, onde ocupa uma área de 1.253.165km2, e é atravessado de oeste a leste pelo rio Amazonas, que desemboca no oceano Atlântico, no nordeste do estado. Limita-se ao norte com a Guiana, o Suriname e o estado do Amapá, ao sul com o Mato Grosso, a noroeste com Roraima, a oeste, Amazonas, e a leste com o Maranhão e Tocantins. É típico da região o clima quente e úmido, temperado pela chuva e pela vegetação luxuriante. São duas as estações, marcadas pelas precipitações pluviais: verão, de julho a outubro; e inverno, de novembro a junho, época das grandes chuvas.
Há quem diga que Belém é a mais acolhedora de todas as cidades neste grande Brasil.Sua vegetação é rica em produtos tradicionalmente explorados e que já constituíram a base da economia regional: a seringueira e outras árvores produtoras do látex (sorva, maçaranduba), a castanheira-do-pará, as madeiras de lei, malva, palmas diversas, timbó, guaxima e outras fibras.Com a abertura das grandes rodovias (Belém-Brasília, Transamazônica), a floresta nativa foi muito devastada para a abertura de campos para agricultura e pecuária. Como no caso de outras regiões da Amazônia, as agressões ao meio ambiente suscitaram constantes denúncias e preocupações.
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O Amazonas recebe no estado do Pará, pela margem direita, fluentes de grande porte, como o Tocantins, o Xingu e o Tapajós. Entre os da margem esquerda, bastante menores, figuram o Jari, o Trombetas, o Paru, o Jamundá e o Maicuru. Nos limites com o Maranhão corre o rio Gurupi. Na várzea do Amazonas, próximo à divisa com o estado do Amazonas, encontram-se numerosos lagos, entre os quais , o Grande do Curuaí, o de Itandeua e o do Poção. Na ilha de Marajó, existe ainda o lago Arari.
À medida que se constituiu, a população do Pará compôs-se principalmente de caboclos, resultantes da mestiçagem de índios e europeus. A partir do século XVII, acrescentou-se o contingente dos negros. No início da década de 1990, a densidade demográfica do estado permanecia muito baixa, mas observavam-se fortes desníveis populacionais entre as diversas áreas.
É dentro deste maravilhoso cenário que esta narrativa ficcional foi criada, misturando estilo policial com suspense e destacando um dos mais belos patrimônios culturais da capital paraense,o inigualável Palacete Bolonha.
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SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 O inicio 9
CAPITULO 2 O dia 19
CAPITULO 3 O cultivador de Graviolas 34
CAPITULO 4 A casa 51
CAPITULO 5 O crime 74
CAPITULO 6 O Punhal Tunisiano 96
CAPITULO 7 A profissão do meu vizinho 106
CAPITULO 8 O inspetor Bastos sabe... 126
CAPITULO 9 O lago do Bosque 139
CAPITULO 10 A criada que sabia.... 154
CAPITULO 11 Uma visita de Peçanha 175
CAPITULO 12 Uma reunião intima 184
CAPITULO 13 A pena de pato 191
CAPITULO 14 Eduardo Souto 201
CAPITULO 15 Quem era Raimundo 217
CAPITULO 16 Uma partida em família 231
CAPITULO 17 Saulo 246
CAPITULO 18 Charles Couto 263
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CAPITULO 19 Flora Souto 271
CAPITULO 20 A governanta Alba 285
CAPITULO 21 A notícia no jornal 300
CAPITULO 22 As vicissitudes de Ursula 321
CAPITULO 23 A reunião na casa de ... 322
CAPITULO 24 A narrativa de Rodolfo 340
CAPITULO 25 Toda a verdade 346
CAPITULO 26 E nada mais do que a ... 353
CAPITULO 27 Apologia 357
Comentário 361
Agradecimento 363
Quem é Zulemay Ramos 365
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CAPÍTULO I - O inicio
Em outubro acontece uma grande festa religiosa, já tida
como cultural, em todo o Norte-Nordeste que é a de
Nossa Senhora de Nazaré,período este em que se
realiza a procissão do Círio, que atrai verdadeiras
multidões de fieis e curiosos é neste contexto cultural
,que começa nossa intrigante história. Sebastiana morreu
na noite de sexta-feira, de 08 para 09 de Outubro. Foram
chamar-me às oito horas da manhã de sexta-feira, 09 de
outubro de 1990. Nada havia a fazer; estava morta havia
algumas horas. Quando voltei para casa, passava das
nove. Abri a porta da entrada com a chave, entrei, sentei
no pequeno sofá da sala, onde permaneci alguns
instantes, propositadamente. Para dizer a verdade,
sentia-me perturbado, mal-humorado. Não pretendo
dizer, com isto, que previsse os acontecimentos que iriam
desenrolar-se pouco depois; devo declarar, mesmo, que
não tive qualquer sensação definida. O meu instinto,
entretanto, pressentia que estava para acontecer algo,
que no mínimo, levar-me-ia da tristeza ao desespero.
Da sala de jantar, à esquerda, chegava o tinido de
copos e de louça e o tossir de minha querida e curiosa
irmã, Caroline.
- Quem está ai? - perguntou.
Pergunta inteiramente inútil; quem havia de ser?
Era minha irmã a causa daquela demora na sala.
Li em algum lugar que o lema das doninhas na Índia é:
Corre e descobre.
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Se tivesse de aconselhar minha irmã a adotar uma
divisa, seria, sem dúvida, esta, com uma doninha
rampante; mas sem a primeira parte: Caroline consegue
ajudar em qualquer investigação, permanecendo
tranquilamente em casa. Não sei como o faz, sei, porém,
que o consegue sempre. Tenho uma vaga desconfiança
de que a criadagem e os fornecedores constituem as
suas fontes de informações. Quando sai, não é para
colher notícias, mas para difundi-las; e também nisto se
revela de uma perícia admirável.
Era precisamente essa última particularidade do seu
caráter que a mantinha suspensa num estado de viva
incerteza. O que quer que eu dissesse a propósito da
morte de D.Sebastiana, tinha a certeza de que, dentro de
hora e meia, o máximo, seria conhecido em toda a
região. Na minha qualidade de médico, dou,
naturalmente, valor à discrição; por isso contraí o hábito
de ocultar de minha fiel escudeira qualquer notícia, pelo
menos até onde me for possível. É verdade que ela
chega a saber tudo, igualmente, mas tenho pelo menos a
satisfação moral de dizer que não foi por mim que o
soube.
O marido de Sebastiana morrera havia pouco mais de
um ano, nesta época ele estava
desempregado,contentava-se em ajudar a esposa nos
serviços domésticos.É bom lembrar que ele parecia-me
muito feliz em poder dispor de tal ajuda. Morte
inexplicável,esta.Caroline sempre sustentara, embora a
sua convicção não tivesse o mínimo fundamento real,
que a esposa o envenenara.
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Recusava-se, desdenhosamente, a aceitar a minha
invariável declaração de que o marido, da então cadáver,
morrera de gastrenterite aguda, agravada pelo abuso
constante de bebidas alcoólicas. Concordávamos em que
os sintomas da gastrenterite e os do envenenamento
arsênical se assemelham, mas minha irmã alicerçava as
suas acusações em argumentos bem diversos.
- Não precisas mais do que fitar-lhe o rosto - disse certa
vez.
D. Sebastiana , embora não muito jovem, era cheia de
energia,e sabedora da história e cultura da sociedade
paraense como ninguém, tanto que trabalhava como guia
turística no local onde fora encontrada já sem vida. O
Palacete Bolonha, uma obra construída pelo arquiteto
Francisco Bolonha para a esposa, a pianista Alice Tem-
Brink, em 1905. Do quarto andar do Palacete, há uma
visão fantástica para a Baía do Guajará. Toda em estilo
eclético, a construção tem elementos de art nouveau,
neoclássicos, góticos e barrocos, em formato de agulha.
Além do casal, o Palacete foi residência de pessoas da
sociedade paraense e funcionou, inclusive, como sede da
Prefeitura de Belém.
A sofisticação desse patrimônio reflete novidades
arquitetônicas europeias da época, trazidas para Belém
por Bolonha. O arquiteto uniu vários estilos no palacete,
adaptando-o às suas necessidades de trabalho. Mesmo
desprezando o estilo barroco português, ainda usado na
época, Bolonha deu ao palacete certas características do
barroco brasileiro em sua estrutura, como o Rococó; usou
o decorativismo intenso e fez a cobertura à la mansard,
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com telhas pintadas propositadamente para dar jogo
visual à distância. A influência gótica é observada nas
agulhas do teto (influência do fim do século XIX), no
porão, grades e revestimentos florais.
Aliás, a decoração floral também está presente na
entrada, nas salas de banquete e de jantar e no teto
dourado – executado na Europa, com molduras de
influência grega. No piso, a decoração ficou por conta
dos ladrilhos. Em todo o primeiro andar, predominam
elementos ecléticos e neoclássicos, com destaque para o
Art Noveau. Já no segundo andar há o banheiro principal,
com ferragens inglesas, banheira em mármore
neoclássico, piso em mármore branco e preto com
pastilhas azul-branco e rosa-branco. Neste segundo piso
está também a sala de costura. No terceiro andar há uma
capela em homenagem à Nossa Senhora de Nazaré,
transformada em sala de banho por um outro
proprietário,o que sintetiza a "alma religiosa paraense" do
arquiteto Francisco Bolonha.Esse era o ambiente de
trabalho da pobre mulher, que se dedicou a este lugar até
a morte.
Enquanto permanecia indeciso, revolvendo na mente
estas circunstâncias, ouviu-se a voz de Caroline, desta
vez um tanto aborrecida:
- Dr. Jorge, porque não vens almoçar?
- Já vou - apressei-me a responder.
Pura verdade: não podia deixar de conceder-lhe razão.
Entrei na sala de jantar e, depois de, ignorar qualquer
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comentário, sentei-me diante do prato delicioso com
frango e tucupi que para mim foi preparado.
- Tu precisastes fazer uma visita muito cedo, esta
manhã - observou a eficiente e curiosa.
- Sim - respondi. – A senhora Sebastiana , a guia
turística do Palacete Bolonha.Que lutava pela
conservação de um dos patrimônios históricos do Pará
mais importantes e desejáveis, a casa do lago do palácio
número 29, conhecidíssimo como Palacete Azul ou
Palacete Antônio Lemos... foi encontrada caída ao chão
da sala de banquete do Palacete ao contato direto com
os tão famosos ladrilhos, como uma tela emoldurada pelo
dourado do teto sobre seu corpo.
- Já sei.
- Como soubestes?
- Foi Lúcia quem me contou.
Lúcia é uma das jovens que fazem a delicada limpeza
do local. Jovem simpática, mas tagarela impenitente.
Houve uma pausa, durante a qual continuei o meu
almoço. A ponta do nariz de Caroline, longo e subtil,
começou a vibrar nervosamente, o que acontece todas
as vezes que está interessada num assunto.
- Então? - perguntou.
- Um caso triste. Nada pude fazer. Deve ter morrido
algumas horas antes de ser encontrada.
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- Já sei - disse novamente a curiosa mulher.
Desta vez, abespinhei-me.
- Não podes saber - respondi secamente. – Eu próprio
não sabia, antes de lá chegar e ainda não o contei a
ninguém. Se a tagarela da Lúcia sabe, então é porque
adivinha!
- Não foi Lúcia quem contou. Foi o carteiro, que soube
do caso pela cozinheira do restaurante a quilo da esquina
que por sua vez soube pela moça que trabalhava na
recepção.
Como já disse, não é necessário que saia para caçar
notícias. Deixa-se ficar em casa e as notícias chegam até
ela.
- De que morreu? Doença do coração? - continuou.
- O carteiro não lhe informou? - perguntei com
sarcasmo.
O sarcasmo não a afeta. Toma tudo ao pé da letra.
- Não sabia - explicou.
Cedo ou tarde saberia. Não importava, portanto, que
lhe dissesse.
- Morreu por ter ingerido uma dose muito forte de
relaxantem. Tomava-o já há tempos para combater
stress. Deve ter tomado muito.
- Qual! - interrompeu Caroline. - Foi de propósito.
Pensas que acredito nisso?
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Estranho! Quando alguém tem uma convicção íntima e
secreta que não quer admitir nem para si mesmo, se
acontece que outro a descobre, pode ter-se a certeza de
que procurará negá-la energicamente. Foi por isso que
investi contra minha irmã, com os mais vivos protestos.
- Eis que te entregas de novo aos teus despropósitos -
disse-lhe. - Por que motivo havia D.Sebastina de atentar
contra a própria vida? Viúva, ainda regularmente jovem,
em boas condições, com boa saúde, nada mais tinha a
fazer do que viver alegremente e gozar a vida. É absurdo
o que dizes.
- Concordo,mas Tu também deves ter notado que
ultimamente estava muito diferente. Essa mudança
datava de há seis meses. Parecia atormentada por um
pesadelo. E acabas de dizer que não podia relaxar.
Como eras tu médico de confiança,deve-lhe ter contado
algo que não sabemos.
- Qual é então o teu diagnóstico? – perguntei
friamente. - Talvez um enredo amoroso que terminou
mal?
Caroline sacudiu a cabeça.
- Remorsos! - exclamou com ênfase.
- Remorsos?
- Certamente! Não quiseste acreditar-me, quando te
dizia que ela envenenara o marido. Agora, estou mais do
que convencida.
- Mas que lógica há em tudo isto? - observei.