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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
ASPECTOS HISTÓRICOS DA MODA NA SOCIEDADE
BRASILEIRA DO PRÉ-IMPÉRIO
Por: Vítor Paulo de Andrade
Orientador: Professor Mestre Marco A. Larosa
Rio de Janeiro
2001
ii
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
ASPECTOS HISTÓRICOS DA MODA NA SOCIEDADE
BRASILEIRA DO PRÉ-IMPÉRIO
Monografia apresentada à Universidade
Cândido Mendes como exigência parcial
para a conclusão do curso de pós-
graduação lato sensu em Docência do
Ensino Superior.
Por: Vítor Paulo de Andrade.
Rio de Janeiro
2001
iii
AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares, pelo incentivo.
Aos colegas de curso, pelo prazeroso
convívio ao longo de um ano de estudos.
Ao amigo Paulo Roberto pela amizade
construída ao longo destes anos.
iv
DEDICATÓRIA
O trabalho é dedicado aos historiadores
de nosso país que, com seu exaustivo e
árduo trabalho, nos fornecem através das
suas obras contribuições valiosas para a
compreensão da sociedade brasileira em
seus 501 anos.
v
RESUMO
O trabalho a seguir tem o objetivo de mostrar, através de três capítulos, os
principais elementos referentes ao tema “Aspectos Históricos da Moda na
Sociedade Brasileira do Pré-Império”. Os autores pesquisados procuram
descrever, através dos relatos da moda na sociedade do Rio de Janeiro no
início do século XIX, principalmente nas décadas de 1800 e 1810, a forma pela
qual as diferentes classes sociais absorviam a influência européia – trazida não
somente pela corte portuguesa como também por viajantes de diversos países
-, refletindo o status que a moda conferia aos fluminenses da época. Os
elementos mostrados pelos capítulos são: Aspectos da Presença Portuguesa
no Brasil, O Brasil Influenciado pelos Europeus e Ascensão Social e Prestígio
Através da Moda.
vi
METODOLOGIA
O presente estudo foi realizado através de um levantamento bibliográfico,
englobando publicações e documentos referentes aos aspectos históricos da
moda na sociedade brasileira do pré-império. O grande volume de informações
sobre o tema fez com que se optasse pela síntese representativa dos aspectos
principais das obras pesquisadas (e listadas ao final do estudo), de modo a
consignar as considerações referendadas pelos autores citados ao longo do
estudo ora apresentado.
vii
SUMÁRIO
Pág.
INTRODUÇÃO ........................................................................ 08
CAPÍTULO 1 ........................................................................... 09
CAPÍTULO 2 ........................................................................... 19
CAPÍTULO 3 ........................................................................... 30
CONCLUSÃO ......................................................................... 46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................ 48
ÍNDICE .................................................................................... 50
ANEXOS .................................................................................. 51
FOLHA DE AVALIAÇÃO ......................................................... 52
viii
INTRODUÇÃO
O estudo a seguir tem como objeto de estudo a moda, um
fenômeno cultural onde se pode perceber, através dele, os costumes e o
estado de espírito de uma população em uma determinada época. Foi
realizada uma abordagem restrita sobre o tema, devido ao fato de as fontes
disponíveis mostrarem a existência de uma vasta documentação sobre o
assunto no Brasil, na transição entre o domínio português e a formação do
Império (1822).
O conteúdo exposto a seguir mostra uma análise da moda no
Brasil de maneira que se correlacionem os gestos, hábitos e costumes dos
membros de nossa sociedade, destacando a influência européia bem como o
entendimento da moda como fator de prestígio e hierarquia social.
O período entre 1808 e 1821, no Rio de Janeiro, mostrou-se
privilegiado em informações sobre a influência da moda na vida das pessoas
devido a instalação da corte de D. João bem como o grande ingresso de
estrangeiros no país. O ano de 1808 marcou a vinda da família real portuguesa
juntamente com sua corte. Esta transferência representou para o Brasil o início
de uma nova etapa polícia, econômica e sobretudo social. Alguns fatores
podem ser assinalados para que novas forças sociais fossem incorporadas: a
abertura dos portos, o livre comércio e a introdução dos hábitos culturais e
industriais. Essas mudanças modificaram o perfil do país colônia e dos
habitantes, em especial os do Rio de Janeiro.
Os capítulos abordam as questões políticas, econômicas e sociais
referentes ao período entre 1808 e 1821; a influência européia na província do
Rio de Janeiro; e a utilização da moda como um fator de prestígio e hierarquia
social.
x
A política européia nos anos que antecederam 1808 era bastante
desfavorável a Portugal, pois a França e a Inglaterra estavam em luta e
acabavam por enraizar seus ideais por toda a Europa.
Com o intuito de afetar a Inglaterra, Napoleão decretou, no dia 21
de novembro de 1806, em Berlim, Bloqueio Continental. Esta decisão proibia a
entrada nos portos do Império francês os navios vindos da Inglaterra ou de
suas colônias. O objetivo era fazer deste uma arma defensiva, uma arma de
guerra, no qual pretendia arruiná-la economicamente, para obriga-la a render-
se. Para que tal objetivo fosse alcançado, Napoleão, teve de aplicar uma
política com a qual toda a Europa aderisse a esse bloqueio.
Os ingleses tinham grande interesse no território português, visto
que este servia de base para o comércio de contrabando com o Império
francês. Lisboa era em 1807, um dos portos mais importantes da Europa. O
governo francês encontrava-se insatisfeito com essa situação, visto que seu
objetivo, quando anteriormente decretara o Bloqueio Continental, era outro.
Então interessava a Napoleão que Portugal empreendesse uma política
contrária à Inglaterra, fechando seus portos e aliando-se ao grupo continental
liderado pela França. Esta decisão de Portugal poderia vir a ser tomada através
de um acordo com a França, ou esta ocuparia Portugal.
O Príncipe Regente D. João empreendia uma política cheia de
hesitações, pois hora atendia as exigências francesas, posteriormente às
inglesas. Porém em agosto de 1807 as exigências de Napoleão fazem-se reais,
pois chegou à Lisboa um ultimato franco-espanhol, no qual punha em perigo a
monarquia. Mediante esta situação, Portugal aceita a sugestão inglesa para
que o Príncipe Regente e toda sua família se retirassem para o Brasil, pois não
teria poderes para impedir a invasão das forças franco-espanholas. Decidiu-se
que o Príncipe herdeiro, D. Pedro, seria o primeiro a partir, mas a viagem de
toda a família real era sempre adiada por D. João. Porém, em 25 de setembro
do mesmo ano chegou à Portugal um segundo ultimato francês, este forçou D.
João a tomar uma real posição da situação. Então, D. João, decidiu-se por
xi
realizar um acordo secreto com a Inglaterra, no qual a base deste era
perpetuar a união de ambos os países com uma “troca de favores”, onde a
Inglaterra protegeria a Monarquia portuguesa no caso de possíveis ataques
franceses e Portugal negociaria o tratado de comércio com a Inglaterra.
A situação agrava-se, pois Napoleão envia mensagem exigindo
que Portugal declare guerra contra a Inglaterra. Mas a indecisão portuguesa
fez com que Napoleão, em 27 de outubro, assinasse um tratado com a
Espanha, no qual tomariam posse e dividiriam o Império de Portugal entre
ambos. Em 22 de novembro partem em ataque contra Portugal, D. João
finalmente decide partir para o Brasil. No dia 29 de novembro a corte
portuguesa embarcou para o Brasil, acompanhado de um séqüito calculado em
mais de dez mil pessoas, tesouros da Coroa e outros bens.
Em 8 de março de 1808 desembarcou no Rio de Janeiro a família
real portuguesa, “foi mais do que uma cerimônia oficial: foi uma festa popular".
O clima era de total euforia, a aglomeração era compacta desde o cais até a
igreja do Rosário. A cidade fora ornamentada e tinha até mesmo aparência
européia. A vinda da corte para o Brasil acarretou em uma série de mudanças
de ordem econômica, política, social e cultural.
O primeiro ato régio de D. João, no Brasil, foi a abertura dos
portos brasileiros: a Carta Régia de 28 de janeiro de 1808, abria o comércio
com as nações estrangeiras sendo permitida a importação “de todos e
quaisquer gêneros, fazendas e mercadorias transportados em navios
estrangeiros das potências que se conservavam em paz e harmonia com a
Real Coroa”.
A decisão de abrir os portos brasileiros às nações amigas,
favorecendo especialmente a Inglaterra, juntamente com a vinda da família real
para o Brasil foi um marco na nossa história, pois a opção portuguesa de
fundar um novo império nos trópicos, já significaria uma ruptura interna nos
setores políticos e econômicos do velho reino. Segundo “Dom Rodrigo de
xii
Souza Coutinho tinha o novo império do Brasil como a tábua de salvação do
reino”.
A abertura dos portos veio favorecer primordialmente os ingleses,
visto que com o bloqueio continental imposto por Napoleão, estes tinham
perdido o comércio com a Europa, logo o Brasil seria uma luz na escuridão.
O interesse pelo mercado brasileiro era tão grande que devido ao
elevado número de comerciantes, criou-se em junho de 1808, a Associação
dos Comerciantes que Traficam para o Brasil, sob a presidência de John
Princep. Eram 113 associados e seu objetivo era defender os direitos de seus
membros junto a órgãos competentes. Devido à necessidade de novos
mercados, os ingleses logo abarrotaram embarcações. A oferta de produtos
ingleses desencadearia uma série de problemas, pois a alfândega brasileira
não estava preparada para o elevado número de importações, ocasionando a
perda de inúmeras mercadorias.
Diversos produtos eram anunciados para a comercialização. Em
14 de junho de 1809 Nathaniel Lucas anunciava que na rua do Ouvidor – no
Rio de Janeiro – tinha para vender:
“huma partida de óleo de linhaça, tintas preparadas, amarello,
encarnado, preto e branco, verniz de patente segundo
usa a Marinha Ingleza, cores preta e amarella; também
oito diferentes carruagens, e azeite doce superior.”
Esses leilões exerceram papel fundamental no escoamento das
mercadorias que ficavam encalhadas. Outra solução encontrada para tais
problemas foi a venda das mercadorias nas ruas, de casa em casa, por
intermédio de agentes, verdadeiros mascates. Também eram enviadas as
mercadorias para as cidades do interior. Somente em 1810 o mercado
xiii
começou adquirir um aspecto normal, absorvendo as mercadorias excedentes
no mercado.
O mercado brasileiro mostrou-se importante para a economia
inglesa entre 1808 à 1813, devido aos problemas externos por ela enfrentados.
Além de ser o mercado consumidor de seus produtos industrializados, o Brasil
mostrou-se importante exportador de matéria prima para Inglaterra. Durante
todo período a balança comercial, mostrou-se favorável à Inglaterra, pois o
Brasil importava mais do que exportava, este era o maior importador de
mercadorias inglesas na América latina. Os ingleses mesmo após o comércio
normalizado, ou seja, a procura igualando-se a oferta dos produtos,
continuaram utilizando os anúncios de jornal como forma de propaganda de
seus produtos, visto que esses dominavam o mercado interno da colônia.
Através do elevado número de anúncios de jornais era
praticamente predominante o número de comerciantes ingleses, gerando
insatisfação por parte dos comerciantes locais. O relato do Ministro de
Negócios Estrangeiros da Inglaterra, Visconde Casleagh, em 20 de fevereiro de
1814, relata o ódio dos brasileiros:
“Os negociantes do Rio de Janeiro igualmente têm sofrido de
modo severo com o início do livre câmbio entre este país
e a Europa, dada a perda por eles do exclusivo
monopólio de importações e exportações de que outrora
desfrutavam, circunstância de que não deixam de
responsabilizar a Inglaterra, o que, junto à irritação de
seus sentimentos produzida pela longa detenção de
muitos dos seus navios por ocasião da viagem do
Príncipe para o Brasil, gerou neles animosidade quase
irreconciliável contra o nome e a nação britânicos.”
xiv
Apesar do descontentamento desses comerciantes “brasileiros”, a
consolidação e o status social viriam nesse período, pois anteriormente não
tinham uma situação privilegiada na sociedade. Devido à necessidade de D.
João, obter empréstimos para suprir as necessidades da Coroa, passou a
recebe-los destes comerciantes ricos, mas em troca davam-lhes honrarias, no
qual muitos recebiam títulos de Barão, outros passavam a ocupar cargos na
Corte.
D. João procurou estimular e proteger as indústrias, isentou de
impostos as matérias-primas que fossem importadas para as fábricas,
favoreceu a introdução de novas fábricas e assegurou o direito dos inventores.
Mas por outro lado, devido à política exterior, acabou por limita-la, pois seria
impossível competir com os produtos importados que chegavam a um preço
baixo, devido à grande quantidade e as baixas tarifas alfandegárias. As
indústrias têxteis que surgiram, supriam a necessidade da produção local, na
qual o algodão era suficiente para a fiação e tecelagem doméstica, com o qual
vestiam-se as camadas mais pobres da população e os escravos.
Devido à grande movimentação do mercado interno e ao elevado
número de pessoas que vieram para o Brasil juntamente com a família real, o
governo sentiu necessidade de criar um banco na colônia. Então expediu no
Alvará Real do dia 4 de agosto de 1808 a decisão pela criação do Banco
Público. A finalidade do mesmo era permutar moedas por barras e ouro em pó,
a fim de impedir que essas fossem para o exterior. Criaram então as letras da
Junta da Fazenda, que eram vales correspondentes ao valor do ouro
reembolsado.
O reconhecimento da necessidade da elevação do Brasil à
condição de Reino Unido, apesar da demora, foi tomada por D. João aqui no
Rio de Janeiro, em 13 de maio de 1815. o objetivo de tal ato era o der proteger
o Brasil dos ideais revolucionários que perduravam na América espanhola.
A Aclamação de D. João foi revestida de excepcional
suntuosidade, havendo luminárias por toda cidade, espetáculos de gala. Como
xv
descreve Debret, quando relata a cerimônia oficial da aclamação no Palácio e a
euforia do povo:
“O primeiro ministro terminou a leitura do voto formulado pelas
províncias do Brasil, chamando ao trono do novo Reino
Unido o Príncipe Regente de Portugal. O Rei acaba de
responder aceito e o entusiasmo geral; dos espectadores,
se manifesta pela aclamação Viva El-Rei Nosso Senhor e
o gesto português de agitar o lenço. A bandeira real está
desfraudada. O Rei ocupa o trono, em grande uniforme,
de chapéu na cabeça e cetro na mão estando a coroa
colocada numa almofada ao lado dele. À sua direita
acham-se os príncipes D. Pedro e D. Miguel, este com a
espada de condestável desembainhada na mão. O
capitão da guarda mantém-se ao pé do trono, junto do
ministro. À direita, perto da balaustrada, percebe-se a
tribuna ocupada pela família real e na qual as damas de
honra, de pé, formam a segunda fila. As personagens
estão colocadas na seguinte ordem: a Rainha, ocupando
o lugar mais próximo do torno: a Princesa real
Leopoldina, logo em seguida, com a cabeça ornada de
penas brancas enquanto todas as outras princesas as
usavam vermelhas; D. Maria Teresa, nessa época
chamada a jovem viúva: D. Maria Isabel; D. Maria
Francisca: D. Isabel Maria e, finalmente, D. Maria
Benedita, viúva do príncipe D. José e tia do Rei.”
O Príncipe Regente, D. João, logo que chegou ao Brasil em 1808,
voltou seus interesses políticos para a região do Prata , pois suas pretensões
era de anexá-las ao Reino Português. Porém a princesa D. Carlota Joaquina
xvi
não aceitava esta idéia, pois via na situação da Espanha um pretexto para
fazer-se regente das colônias espanholas da América. Além das pretensões de
sua esposa, D. João, ainda enfrentava a barreira inglesa, que era contrária a
esta decisão de Portugal, pois a situação política de Portugal havia modificado-
se. A Espanha voltou-se contra Napoleão, logo se aliou à Inglaterra. Com esta
situação o governo inglês não poderia apoiar a política portuguesa na América
Espanhola.
Com o final da guerra na Europa, o governo português sentiu-se
mais independente em relação à Inglaterra, também obteve maior número de
militares que anteriormente estavam na Europa. Então as tropas são enviadas
à Banda Oriental, em 1816. no ano seguinte os portugueses ocupam
Montevidéu. Então, coube ao governo português dar explicações para tal
procedimento: fora de segurança e defesa da fronteira do Reino, que estava
sendo ameaçada pela presença próxima de Artigas, então nem Buenos Aires
nem a Espanha tinham condições de enfrentá-los.
Esta decisão de Portugal fez com que a Inglaterra se dispusesse
a retirar todas as garantias de segurança afirmadas em tratados anteriores.
Com esta intervenção de outros países europeus, a pedido da Espanha, o
governo português aceitou abandonar à área e receber uma indenização da
Espanha, a esta caberia também manter a segurança na região. Porém o
governo espanhol não responde a tais acordos e Portugal , em 1821, acaba por
incorporar a Banda Oriental ao Brasil, com o nome de Província Cisplatina.
O Príncipe Regente, D. João, com a transferência da corte
portuguesa para o Brasil, viu-se obrigado a tomar uma série de providências.
Criou-se a Intendência Geral da Polícia da Corte e do Estado do Brasil; a
Organização da Intendência; construção de quartéis; Guarda Real do Palácio;
Mesa do Desembargo do Paço; a Academia de Marinha; a Impressa Régia; a
Escola de Medicina; o Arquivo Militar; a Biblioteca Real; a Casa da Suplicação;
o Teatro São João; o Banco do Brasil; a Escola Real de Ciências, Artes e
Ofícios; o Instituto Vacínico; a Escola Anatômica; a Fundação do Horto Real
(posteriormente denominado Jardim Botânico) entre outros.
xvii
As instituições criadas por D. João demonstram o seu ideal de
transformar o Brasil em um novo império nos trópicos, consequentemente
acarretou-se num desenvolvimento do Brasil e a sua difusão no exterior.
A decisão de D. João em aceitar a oferta e mudar-se para a
Quinta da Boa Vista, juntamente com a opção por morar-se longe do mar e
perto da natureza para se respirar bons ares, contribuiu para que a cidade
tomasse novos rumos em seu traçado.
A instalação da corte no Brasil, também trouxe consigo a
necessidade da criação de estabelecimentos de ensino para a difusão dos
conhecimentos acadêmicos, da cultura intelectual. O anúncio de jornal, do dia 6
de janeiro de 1813, relata as pretensões do colégio, praticamente os estatutos
do colégio:
“D. Catharina Jacob toma liberdade de fazer sciente ao Público que ella tem estabelecido huma Academia para instrucção de Meninas na rua da Lapa, defronte da Exma. Duqueza, em que ensinará a ler, escrever e fallar as línguas Portugueza e Ingleza grammaticalmente; toda a qualidade de costura e bordar; e o manejo da Casa. Esta esperançada de que em conseqüência do seu cuidado, a attenção na educação, Religião e Moral merecerá eternamente a protecção dos Paes, parentes e pessoas que lhe confiarem esta honra; cada menina trará cama completa, três toalhas de mãos, hum talher completo e copo de prata; pagarão cada menina 18 mil reis por mez; sendo a quartéis adiantados. Igualmente todas as pessoas que quiserem que as suas meninas aprendam Muzica, Dança e Desenho será paga á parte; mandarão todos os sabbados os seus creados ao collegio com roupa necessária para se fazer mudança; igualmente as pessoas que quizerem mandarão no Sabbado de tarde, ou véspera de dia Santo buscar as suas meninas comtanto que ás oito horas da noite do mesmo Domingo ou dia Santo se recolhão ao Collegio; poderá haver modificação a respeito de famílias que pela distancia de sua habitação lhe seja
xviii
incommodo o supprir aos oito dias com roupa e outra alguma coisa; para o que fará particular ajuste. A abertura do Collegio deverá ter principio no primeiro de Janeiro de 1813”.
Os transportes também tiveram melhorias, pois surgiram as
primeiras estradas carroçáveis, visto que anteriormente era proibido a abertura
de estradas, permanecendo apenas a trilha dos cargueiros.
Em 1820, estourou em Portugal a Rebelião do Porto, que teve
como base, “uma tentativa de emancipação da antiga metrópole em relação a
um governo imperial instalado na América.” Redigiram uma constituição e D.
João VI foi obrigado a voltar para Lisboa, em 1821, deixando seu filho D. Pedro
no poder, como Príncipe Regente.
O período, 1808 a 1821, na qual D. João permaneceu no Brasil
repercutiu em muitas melhorias, sendo um período que representou o início de
uma “nova nação”. Essas mudanças modificaram o perfil do País Colônia e dos
habitantes, em especial as da cidade do Rio de Janeiro.
xx
A vinda da família real portuguesa para o Brasil proporcionou um
imenso fluxo de imigrantes, cerca de dez mil pessoas vieram acompanhando
D. João VI e seus familiares. A opção de um novo mercado consumidor,
proporcionado pela abertura dos portos brasileiros em 1808, e os Tratados de
Comércio de 1810 também contribuíram para esta "aventura no Novo Mundo".
Entre os estrangeiros que no período entre 1808 a 1822, se
registraram no porto do Rio de Janeiro, em primeiro lugar encontravam-se os
espanhóis, apesar da grande maioria serem viajantes de passagem para
Buenos Aires e Montevidéu. Seguindo-os estavam os franceses, que vinham
com o intuito de instalarem-se na "nova metrópole portuguesa". Em terceiro
lugar encontravam-se os ingleses que apesar de ocuparem esta posição no
quadro de imigrantes, dominavam o comércio no Rio de Janeiro.
A curiosidade dos europeus pelo Brasil, aliada à vinda de D. João
com a corte portuguesa, e as decisões de ordem política e econômica
propiciaram esta imigração de europeus, inaugurando-se um ciclo de viagens e
expedições científicas. Esta redescoberta do Brasil deu-se de forma tão efetiva,
que ainda em 1895, o americano Orville A. Derby afirmou:
"Graças a estas diversas obras, nenhum país do Novo Mundo
era, nessa época, melhor nem tão bem estudado quanto
o Brasil, sob o ponto de vista da sua estrutura quer
geológica quer tecnológica mineral. Quem tiver ocasião
de seguir as pegadas de Eschwege, ficará pasmado ante
a minunciosidade e a exatidão de suas observações, e o
critério de suas deduções."
2.1 A MODA NA CORTE
xxi
Depois da transferência da corte, da abertura dos portos e da
presença maciça de estrangeiros, o fenômeno da moda tornou-se mais visível,
no modo de vestir e até mesmo no modo de pentear. As mulheres quiseram
então começar a adotar no Brasil as elegâncias européias, nas grandes
cidades, principalmente no Rio de Janeiro devido à permanência da corte
portuguesa. Como escreveu o prussiano Leithold:
"Há relativamente muito mais luxo aqui do que nas mais
importantes cidades da Europa. Com dinheiro compra-se
artigos da moda, franceses e ingleses; em suma, tudo. O
mundo elegante veste-se, como entre nós, segundo os
últimos modelos de Paris".
Outro viajante que descreveu a influência européia foi Rugendas:
"Em todas as partes do Brasil conservaram os costumes
alguma semelhança com as do povo da metrópole e da
Espanha. Entretanto, a influência das modas da França e
da Inglaterra é sensível nas províncias marítimas e no Rio
de Janeiro, pois o Brasil não tem ainda fábricas e, no
tempo da colônia, proibia o governo português sua
instalação."
A importação de produtos europeus e sua, posterior
comercialização, contribuíram para a difusão da moda européia no Rio de
Janeiro. O empregado público, Luís dos Santos Marrocos, enviou carta a sua
irmã em Lisboa (sem data precisa), oferecendo vender para ela enfeites no Rio
de Janeiro, dizia que por aqui havia muito luxo e que anteriormente já havia
vendido, para um amigo, "fitas francesas" para "senhoras do Paço" e que
xxii
também arrecadou "mais de cinqüenta moedas". Também percebe-se a
demanda por miudezas, enfeites de seda, fitas e laços de seda e de pano:
"A respeito das encomendas que queres enviar-me para se
venderem aqui, podes ficar na certeza de que cuidarei
muito na sua extração; pois tudo o que são enfeites de
senhoras tem aqui muita saída, pois há muito luxo; mas
advirto-te que não mandes chapéus ou toucados
semelhantes, porque é de grande incômodo o seu
transporte, por ser cousa de pouco peso e muito volume,
e por essa razão deves meditar na escolha dos enfeites,
como são ramos de flores, grinaldas, anéis, pulseiras,
brincos, e tudo o mais de enfeites que for de seda ou
outra qualquer droga de pouco volume, como, por
exemplo, laços para chapéus de todas as grandezas,
azuis e vermelhos, e também todos pretos, porque destes
usam até os clérigos; e também dos laços feitos de pano,
porque destes se principia a usar agora; manda também
meias feitas, linha em meada, ou novelos, ou negalhos.
Um amigo me trouxe de Lisboa uma condeça cheia de
peças de fitas francesas, e pedindo que lhas passasse
pelas senhoras do Paço encarreguei-me de sua venda, e
tendo-lhe feito ganhar mais de cinqüenta moedas ".
Apesar do domínio francês no comércio da moda, encontra-se
exceções como a do inglês Mr. Harris, que dedicou-se a este comércio. Em
1818, tinha na rua do Ouvidor loja de "últimas modas", com a "grande porção
de cabelleiras e enfeites para cabello para senhoras, plumas mui ricas, e rosas
com musgo natural", como fala o anúncio da Gazeta de 24 de março daquele
xxiii
ano. Dois anos mais tarde, Mr. Harris, voltou a anunciar na Gazeta, onde dizia
receber produtos de Londres e Paris, fazia referência a objetos usados na
indumentária e fazia questão de citar sua procedência e demonstrar a
qualidade e a aceitação dos mesmos na Europa:
"Chegados de Londres e Paris um sortimento de ricas flores de
ouro e prata, grinaldas do mesmo e de pérolas, coletes
para senhoras e meninas de todo o tamanho, do último
gosto moderno, tonquins, cabeleiras, e rendas de prata e
ouro mais, guarnições para mantos, leques de pelica, e
outras mais modas do último gosto".
Todos esses aparatos da moda que eram importados, refletiam na
indumentária de mulheres e homens das classes mais elevadas da província e
fazia do Rio de Janeiro o paraíso dos armarinhos de luxo, onde vendiam-se
galões de ouro e prata; franjas; fitas largas e estreitas de seda e de veludo;
rendas de várias qualidades, de linho, de linha, de filo e de seda; cordões de
seda; bordaduras de ouro; tiras bordadas; e entremeios. Como observa Debret
em 1816, no seu relato sobre as damas da corte:
"Entre as damas da Côrte de D. João VI, cuja elegância,
enormes penas brancas e diamantes realçavam o brilho
do séquito real na igreja e no teatro, distinguia-se
especialmente a baronesa de Rio Sêco, resplandecente
de diamantes. Entretanto seu porte por demais
avantajado permitia que algumas jovens senhoras menos
sobrecarregadas de pedras preciosas brilhassem junto
dela pelo seu donaire e graça. Entre as mais idosas,
também, a nobreza de maneiras revelava o feliz resultado
de uma boa educação européia".
xxiv
As mulheres permaneciam a maior parte do tempo dentro de
casa, mas aos domingos era sagrado seu comparecimento à igreja. Nesta
ocasião ostentavam menos luxo, pois iam todas de preto, porém haviam
diferenciações nos tecidos, como observou Leithold:
"Aos domingos as mulheres, tanto as brancas como as de cor,
vestem-se todas de preto, na maior parte de seda, com
meias de seda branca, sapatos correspondentes e sobre
a cabeça um véu preto de fino crepe que cobre a metade
do corpo e realça a palidez do rosto".
Quanto ao modo como as damas comportavam-se dentro da
igreja, Debret representou através de sua pintura o interior da igreja de "Nossa
Senhora Mãe dos Homens, situada à rua da Alfândega" e também descreveu a
passagem:
"Ajoelhados diante da santa toalha, recebem os fiéis a comunhão das mãos de um padre escoltado como já dissemos por quatro membros da irmandade do Santíssimo Sacramento; o clérigo que apresenta a taça cheia de água fecha o cortejo. Pela porta lateral da direita, no corredor que conduz à sacristia e às catacumbas, vê-se um padre sentado ouvindo a confissão de um dos penitentes; perto da mesma porta, mas no interior da igreja, duas negras sentadas no chão aguardam sua vez para substituir a que se confessa no momento, escondida sob o seu xale. Mais à direita, senhoras da classe abastada estão sentadas nos degraus de um altar lateral e esperam também a sua vez para apresentar-se ao confessionário já ocupado por uma delas. À esquerda, afinal, observa-se uma terceira cena de confissão. É preciso notar que a simplicidade da construção do confessionário brasileiro obriga o penitente a uma posição estremamente incômoda, forçando-o a apoiar-se a uma das mãos para aproximar-se da grade que o separa do confessionário. Senhoras de todas as classes, mantêm-se sentadas no chão da igreja, em grupos, na posição em geral adotada pelas
xxv
brasileiras nesse recinto sagrado. À esquerda, uma senhora de mantilha entra com sua negrinha, enquanto outra, mais elegante, acompanhada de suas negras, sai ainda compenetrada da compunção inerente ao cumprimento dos deveres religiosos".
A indumentária das senhoras na igreja, foi descrita por Debret,
referindo-se à moda dos brasileiros mais ricos em comprar cravos, as mulheres
os colocavam no cabelo e os homens os colocavam na lapela. Posteriormente
descreveu a roupa de uma senhora ao encaminhar-se à igreja fazendo
comparações com o hábito das inglesas, que não usam chapéus ao entrarem
na igreja e posteriormente descreveu como deveria vestir-se uma senhora de
boa sociedade para tal ocasião:
"A vestimenta da senhora apresenta um exemplo do traje usados nas cerimônias da igreja; o chapéu elegante ou simples é em geral proscrito; por isso, não é raro verem-se inglesas, mulheres de oficiais superiores de marinha, entrarem de chapéu na mão nos templos católicos. Uma senhora de boa sociedade ajusta aos cabelos um lindo véu bordado, preto ou branco, que cobre ao mesmo tempo a parte superior do corpete mais ou menos decotado. A saia de filó preto bordado, usada por cima de um forro branco ou de qualquer outra cor clara, constitui o traje rico mais decente; um calçado elegante completa a indumentária da devota rebuscada nos seus enfeites".
As mulheres aristocratas que moravam no Rio de Janeiro, além
de saírem aos domingos para ir à igreja, apareciam em público também
quando iam aos espetáculos teatrais e aos cerimoniais na corte, no qual não
dispensavam o luxo e a moda francesa. Segundo Leithold:
"O luxo das mulheres é indescritível. Jamais encontrei reunidas
tantas pedras preciosas e pérolas de extraordinária
beleza quanto nos beija-mãos de gala e no teatro, por as
faceirice. Seguem o gosto francês, ousadamente
decotadas. Os vestidos são bordados a ouro e prata.
xxvi
Sobre a cabeça colocam, quatro ou cinco plumas
francesas, de dois pés de comprimento, reclinadas para
frente e, sobre a fronte, como em torno do pescoço e nos
braços diademas incrustadas de brilhantes e pérolas,
alguns de excepcional valor".
Os homens também ostentavam o luxo de seguirem os modelos
europeus da moda, como observa Rugendas. "No Rio de Janeiro os homens
usam paletós curtos de linho ou algodão, calças compridas com cintas de seda
de diversas cores e chapéu de aba larga e de forma cônica, copiado dos que
usam no Chile, e, finalmente, capa espanhola".
A necessidade em se ostentar o luxo europeu era primordial para
os elementos mais abastados dessa sociedade, que importavam seus sapatos
da Europa e só deixaram de realizar tal hábito quando instalaram-se sapateiros
e boteiros, alemães e franceses, no Rio de Janeiro. Debret relata tal fato com
clareza:
"A anglomania portuguesa de alguns cortesãos vindos com o séquito do Rei, e imitada a princípio pelos ricos negociantes do Rio de Janeiro, os levaram a mandarem vir os seus calçados de Londres. Mas logo que o Rio se tornou a capital do Reino, aí se instalaram sapateiros e boteiros alemãs e franceses, abastecidos com excelentes couros da Europa".
2.2 UMA CORTE REFINADA
A influência européia não foi somente presente na indumentária
das pessoas, mas também nos costumes, principalmente da população mais
xxvii
abastada. As mulheres faziam questão de exibir seus pés delicados,
pequeninos e finos, seguindo o modelo dos pés das européias. Leithold
observou esta característica, "pés pequenos e delicados, calçados com
sapatos brancos de seda, os quais sabem mostrar, especialmente de
palanquim através da cortina". Usavam-se palanquins, ou seja, cadeirinhas
para o transporte de senhoras, este hábito também tornou-se, moda e fora
importado da Europa, como relatou Debret, "a cadeirinha importada de Lisboa
é usada no Brasil como a liteira em França. Servem para senhoras irem à
missa. A cadeirinha do Rio de Janeiro é reconhecível pela sua cobertura
sempre enfeitada de ornatos mais ou menos dourados". E posteriormente ele
conclui como a senhora brasileira se porta ao fazer utilização da cadeirinha e
compara com o hábito da européia ao fazer utilização deste meio de transporte:
"A cadeirinha, como o balcão, é um palco de faceirice; nela também o primeiro gesto gracioso de uma senhora brasileira consiste em agitar o leque fechado. Quanto mais vivos e reiterados os movimentos, mais amável e condescendente é o acolhimento, sobretudo quando se acompanha de um sorriso afetuoso, hábito que se observa igualmente em Lisboa e Madrid".
Outro viajante mencionou à respeito da cadeirinha, meio de
transporte mais utilizado pelas senhoras em seus passeios (Johan Emanuel
Pohl):
“As senhoras gostam muito de andar em cadeira coduzida por dois escravos. Da coberta desse palanquim, geralmente ornada com obra de talha dourada, costumam pender cortinas azuis, que pelo comum são panos enfeitados com galões dourados. O séquito feminino da senhora acompanha a pé o palanquim, que tem um gracioso aspecto".
As cerimônias na corte, também passaram a existir com mais
freqüência após a instalação da família real portuguesa, modificando os hábitos
sociais das classes mais elevadas. Em 1819, Leithold foi convidado para o
xxviii
baile do cônsul-geral da Rússia, von Langsdorff. Assim como o teatro, a ópera
e os beija-mãos concedidos pelo Príncipe Regente e posteriormente Rei.
O teatro também era outro divertimento, dos indivíduos mais ricos,
nas noites do Rio de Janeiro, como relata Leithold, "a grande ostentação de
homens e mulheres no Rio de Janeiro, observa-se no teatro, em noites de
gala". Posteriormente em 1821, Maria Graham descreveu o convite recebido de
uma amiga para ir ao teatro e acha natural as cerimônias do dia acabarem com
tal evento. "As cerimônias do dia encerram-se naturalmente com um
espetáculo de teatro e como minha amiga, Madame Rio Sêco, me oferecera
uma cadeira em seu camarote, lá fui pela primeira vez desde a minha volta ao
Brasil". No mesmo ano, em 11 de janeiro, ela freqüentou a Ópera como segue:
"Sexta-feira, 11 de janeiro, desembarquei na noite passada
para ir à Ópera, pois era nova récita de gala e esperava
poder assistir à recepção do Príncipe e da Princesa. A
viscondessa do Rio Sêco convidou-me amavelmente para
o seu camarote, que era junto ao deles. Mas depois de
esperar algum tempo, chegou a notícia de que o príncipe
estava tão ocupado em escrever para Lisboa que não
poderia vir. A guarda dobrada foi despedida e o
espetáculo começou".
Outra influência européia sobre a população do Rio de Janeiro, foi
referente aos hábitos alimentares. Segundo Debret, o jantar de uma família
abastada era bem carregado, iniciando-se com uma espécie de sopa "chamada
de caldo de substância", juntamente colocava-se à mesa uma espécie de
cozido, ou seja, "um monte de diversas espécies de carnes e legumes de
gostos muito variados embora cozidos juntos". Servia-se também um escaldo
(farinha de flor de mandioca misturado com caldo de carne ou de tomates ou
ainda camarões). "Ao lado do escaldo, e no centro da mesa, vê-se a insossa
xxix
galinha com arroz, escoltada porém por um prato de verduras cozidas e
extremamente apimentado." Ele continua relatando as guloseimas presentes
no jantar do brasileiro e finaliza com a sobremesa, no qual encontram-se
presentes: o "doce-de-arroz frio"; "o queijo de Minas, e mais recentemente,
diversas espécies de queijos holandeses e ingleses"; e "as frutas do país". A
partir desses dados, Debret, posteriormente demonstra como modificou o
hábito alimentar dos brasileiros com a introdução de costumes alimentares
europeus:
"Lembrarei pois que em 1817 a cidade do Rio de Janeiro já
oferecia aos gastrônomos recursos bem satisfatórios,
provenientes da afluência prevista dos estrangeiros por
ocasião da elevação ao trono de D. João VI. Essa nova
população trouxe efetivamente com ela a necessidade de
satisfazer os hábitos do luxo europeu. O primeiro e mais
imperioso desses hábitos era o prazer da mesa,
sustentado também pelos ingleses e alemães,
comerciantes ou viajantes vindos inicialmente em maior
número".
"italianos abriram sucessivamente um certo número de casas
de comestíveis, bem abastecidas de massas delicadas,
azeites super-finos, frios bem conservados e frutas secas
de primeira qualidade, e o desejo muito louvável de se
sustentarem pela cooperação mútua levou-os a se
instalarem numa rua já reputada pela presença de um
três únicos padeiros da cidade nessa época. A reputação
merecida desse empório (aliás bastante caro) cresceu de
tal maneira, que todo verdadeiro conhecedor sente subir-
lhe a água à boca ao ouvir o nome da rua do Rosário,
bem construída e memorável para todo o gastrônomo que
xxx
tenha visitado a capital do Brasil. É o conjunto dessas
importações européias, que alimenta hoje o luxo da mesa
brasileira".
Outro hábito alimentar que tornou-se comum entre os brasileiros
foi o de tomar chá, hábito este introduzido pelos ingleses. Como relatou
Leithold: "Mesmo num clima tão quente, muitas famílias tomam chá". Em 28 de
outubro de 1815, uma loja defronte da Candelária anunciou na Gazeta do Rio
de Janeiro, venda de chá: "chá de todas as qualidades vindo proximamente de
Macau no navio Maria I para vender por grosso e a varejo".
A sofisticação européia não restringiu-se somente aos alimentos
consumidos pela classe mais elevada, mas também fez-se presente nos
objetos da casa, como observou Luccock:
"Nunca jantei em casa brasileira que parte dos objetos da mesa
não fossem ingleses, especialmente a louça e a
cristaleira. Antes de tais luxos terem sido introduzidos,
usavam de pratos de estanho ou de uma espécie de
cerâmica holandesa, com uns pequeninos copos
portugueses sem pé, estreitos no fundo e com uma boca
larga; cabaças e cocos, em lugar de terrinas e chícaras,
eram comuns, mesmo quando tinham convidados".
A moda européia não interferiu no cotidiano do brasileiro somente
no seu modo de vestir, mas também no comportamento social e nos hábitos
alimentares e de forma mais intensa nas classes mais abastadas.
xxxii
A sociedade brasileira no início do século XIX encontrava-se em
formação e os grupos ainda não estavam suficientemente caracterizados,
diferenciando-se entre si por uma tradição de usos, costumes e pela posse de
riquezas que foi o grande modificador da estrutura social. A moda transforma-
se em instrumento de oposição de classes em uma sociedade, a qual tende a
se revelar através de certos sinais exteriores como a vestimenta, as maneiras e
a linguagem.
Os anos entre 1808 e 1821 foram importantíssimos para o Brasil,
pois transformou-se na "metrópole portuguesa", isto acabou refletindo numa
assimilação da moda européia, através da indumentária , dos hábitos e dos
costumes das pessoas na província do Rio de Janeiro, como referido no
capítulo dois. Esta sociedade de fins do período colonial, encontrava-se em
formação, no qual os usos os costumes e a posse de riquezas era a grande
modificadora da estrutura social. Logo neste terceiro capítulo será abordado a
moda como fator de prestígio e hierarquia social.
Havia bastante luxo no Rio de Janeiro nas cerimônias da corte, no
teatro e na ópera. Mas em oposição a este luxo ao sair de casa, havia uma
simplicidade extrema no refúgio do lar.
As mulheres e os homens ostentavam um luxo no vestir-se, para
apresentar-se em público, pois era uma forma de fazer parte da "boa
sociedade". Em 1819, Leithold, observou o luxo e a ostentação social de
elementos da sociedade ao freqüentar o teatro:
"A grande ostentação de homens e mulheres no Rio de Janeiro
observa-se no teatro, em noites de gala: eles
apresentam-se com bandas e crachás: elas com jóias,
pérolas e brilhantes. Manifestei minha admiração a um
português, sentado a meu lado, ante esse espetáculo,
observando-lhe que tamanha exibição de riqueza era
xxxiii
alguma tentação para algum refinado tratante, como os
que numa sala de espetáculo parisiense gritaram fogo e,
na confusão assaltaram os espectadores. Respondeu-me
ele: não seria aqui um grande pecado, porquanto, na sua
maioria, este público coberto de ouro e jóias, acumulou
tanta riqueza de maneira pouco honrada".
No ano de 1821, Maria Graham, observou sua amiga, Madame do
Rio Sêco, e as senhoras no teatro ao ter sido convidada para tal cerimônia,
então, providenciou uma roupa adequada para a ocasião, ou seja, além de
providenciar um arranjo para cabeça envolveu-se em um xale, logo este era um
elemento de luxo no guarda-roupa de uma dama:
"Os seus diamantes, usados nessa noite, podem ser avaliados
em 150.000 libras esterlinas e muitas jóias explêndidas
ainda permaneceram guardadas no cofre forte. Quanto a
mim, tinha ido à cidade com o vestido de manhã; fui, por
isso, a uma modista e comprei um enfeite de cabeça
simples e de crepe, de luto fechado, tal como exigem os
costumes do lugar, e, envolvendo-me em meu chale,
acompanhei minha magnificante amiga. O aspecto da
casa era esplêndido, pela iluminação e pela decoração.
As senhoras ostentavam todas diamantes e plumas".
A utilização de leques também era indispensável para uma dama
de classe na sua apresentação em público, pois era ornamento complementar
de sua indumentária e uma forma da ostentação social, como mencionou
Leithold na sua descrição sobre os leques das senhoras: "Outro luxo
considerável é o dos leques. Vi alguns que valem milhares de taler, ornados de
brilhantes e pérolas, e um até provido de pequeno relógio verdadeiro".
xxxiv
A vida social era restrita, pois definia-se em visitas à igreja, em
passeios na companhia de escravas, teatros, beija-mão e bailes. Visto que tais
festividades não ocorriam com tanta freqüência. Leithold, observou a
importância da mulher em ostentar um luxuoso guarda-roupa, apesar do pouco
uso que faziam deste. "Posto que saiam pouco e só raramente façam vida
social, como já disse, as damas de qualidade e as mulheres em geral possuem
amplos guarda-roupas de linhos e sedas de toda classe, guarnecidos de outros
enfeites".
Os bailes na Corte, apesar de ocorrerem somente em ocasiões
especiais, eram regidos por normas rígidas na indumentária dos convidados.
Estas normas exerciam função tão indispensável que eram divulgadas pela
imprensa:
"As senhoras vestidas de Côrte, mas sem manto. As que
dançarem, porém, levarão vestidos redondos, luvas e o
infeite da cabeça mais ligeiro o próprio para aquele fim.
Os cavalheiros irão igualmente vestidos de Côrte; porém
os que se propuserem dançar irão providos de luvas
brancas. Os militares que houverem de dançar irão de
meias de seda branca, com a farda desabotoada, banda
sobre o colete e luvas brancas; os outros, no rigor do
uniforme".
"Nenhuma senhora de oito a vinte anos sai à rua sem que lhe
siga atrás um negro ou negra bem vestido em traje de
seda; se é de família rica ou de posição, acompanham-na
mais de um negro ou negra, o que é prova de ostentação,
pois não se compram escravos por menos de 50 louis
dór. Até as meretrizes de primeira classe, que não são
xxxv
poucas, vi--as orgulhosas exibirem pelas ruas sua
escolta".
As senhoras que não tinham escravos os alugava, para assim
saírem de casa acompanhadas e poderem ostentar de tal luxo social.
"Pelo comum, as mulheres saem pouco e jamais são vistas a
pé fora de casa sem estarem acompanhadas de escravos
e especialmente de escravas. Se não dispõem desses
servidores, alugam-nos para tal fim, especialmente nos
dias santos, para irem à missa. É um ponto de honra
apresentarem-se com numeroso séquito. Caminham
solenes a passos medidos, pelas ruas. Quando saem
para as visitas, vão de uma casa a outra, fazendo numa
tarde de doze a quinze visitas, para aproveitarem bem as
custosas seges de aluguel".
Os escravos de famílias abastadas eram diferenciados pelas
roupas que trajavam quando saiam de casa, pois andavam bem vestidos e com
os brasões da família que pertencia, como observou Johann Emanuel Pohl, em
1817: "vi, por exemplo, criados de fidalgos (na maioria negros escravos), que
andavam de pés descalços, mas que traziam casaca, em cujas peças se
distinguiam, nas costuras, as diferentes cores dos brasões dos seus amos". Em
1819, outro viajante observou a diferença existente entre a indumentária de um
escravo de família de baixa condição e um escravo de senhores ricos ao
saírem de casa, foi Leithold. "Os de baixa condição andam quase nus, com um
trapo de pano ao redor da cintura. Os pertencentes a senhores ricos,
apresentam-se mais bem vestidos".
O luxo do uso de sapatos de seda, também fez-se importante
fator de ostentação social, onde as famílias abastadas impunham o uso de
xxxvi
sapatos de seda às escravas ao saírem de casa acompanhando suas
senhoras. Este costume estendeu-se também as famílias de menor poder
aquisitivo como observou Debret:
"Esse luxo, aliás, não é exclusivo aos senhores; ele obriga a
brasileira rica a fazer calçarem-se como ela própria, com
sapatos de seda, as seis ou sete negras que a
acompanham na igreja ou no passeio. A mesma despesa
tem a dona de casa menos abastada, com suas três ou
quatro filhas e suas duas negras. A mulata sustentada
por um branco faz questão também de se calçar com
sapatos novos, cada vez que sai e o mesmo ocorre com
sua negra e seus filhos. A mulher do pequeno
comerciante priva-se de quase todo o necessário para
sair com sapato novo e a jovem negra livre arruína seu
amante para satisfazer essa despesa por demais
renovada".
"É, portanto, exclusivamente nos dias de festa, que se vêem no
Rio de Janeiro mulheres de todas as classes vestidas de
novo, pois chegando em casa os escravos guardam os
sapatos e a criada de quarto conserva somente um par já
velho que usa como chinelas. O mesmo acontece na
intimidade da maioria das famílias, onde as mulheres
quase sempre sem meias e sentadas em geral nas
esteiras ou na sua marquesa, conservam habitualmente a
seu lado um par de sapatos velhos, que servem de
chinelas, para não andarem descalças dentro de casa.
Em resumo, esse desperdício de calçados, feito por
mulheres que não os usavam em casa, basta para
xxxvii
sustentar os sapateiros, os quais, ademais, fabricam
sapatos de seda muito finos e de cores extremamente
sensíveis".
A maneira despojada como as damas vestiam-se no aconchego
do seu lar , chamou atenção de outro viajante em 1817, Johann Emanuel Pohl,
no qual fez as seguintes observações:
"Em suas residencias vivem os amos muito comodamente:
aparecem de chinelas, calças leves e jaqueta de chita:
entretanto, quando têm direito de usar comendas, nessas
próprias jaquetas trazem suas decorações honoríferas.
As mulheres sustentam como ornato habitual para o
pescoço, rosários de contas de ouro, do qual pendem
figurinhas de santos. Elas vivem a maior parte do tempo
nos aposentos traseiros da casa, em simples camisa e
saia curta, onde, em ditoso farniente, costumam sentar-se
em suas esteiras junto às janelas, de pernas cruzadas
durante todo o dia".
O hábito das pessoas era fazerem a sesta após o jantar,
juntamente com o enorme calor da província, contribuía para o uso de roupas
leves e em menor quantidade possível. Debret ao relatar o passatempo dos
ricos após o jantar, descreveu a indumentária dos mesmos.
"Percebe-se que esse abandono que precede e acompanha o
sono de depois do jantar se reflete no trajo do
dorminhoco, cujos movimentos livres de peias se
executam sem cerimônia sob o simples roupão, espécie
de 'peignoir' de tecido de algodão estampado, que se usa
xxxviii
sobre a pele ou com uma calça curta de algodão por cima
da qual flutua uma camisa de percal. Gozando assim
durante boa parte do dia de todas as vantagens de
liberdade prescritas pelo clima, o brasileiro desenvolve
talentos agradáveis, apreciados nas reuniões da noite,
em que brilha o luxo europeu e que ele torna mais
agradável pelo encanto de sua música".
O viajante Jean Ferdinand Denis fez comparações entre as
pessoas ricas na França e aqui no Brasil e mostra o bom gosto do francês e a
forma como procura ostentar-se socialmente, em oposição ao modo exagerado
dos membros ricos dessa sociedade do Rio de Janeiro:
"A vaidade de um francês se manifesta, em seus discursos, por
pretenções fantásticas; se é rico, gosta de persuadir que
o deve ao seu gênio, posto que seja muitas vezes ao
acaso. O seu luxo será a expressão mais ou menos feliz
do bom gosto: inventará novas comodidades, seguirá as
mais ridículas variações da moda, ostentará estima para
as belas artes; só atrairá junto a si dentre os lisongeiros
os mais hábeis em tecer enconios. O brasileiro,
acometido do pecado da vaidade, felicita-se e ensoberbe-
se; qualquer que seja a causa da sua fortuna, nunca é um
escândalo; não procura ele disfarçá-lo não há ignominia
quando se é rico; só ineptidão quando se é pobre. O luxo
é sólido e grosseiro. Homens e mulheres são afetados
em seu atavio, quando em público se deixam ver; uma
senhora vai à missa acompanhada por numerosos
escravos adornados com riqueza, e muitas vezes em
xxxix
voltando para casa assenta-se numa esteira, onde come
a mão, peixe salgado e mandioca".
Enfim, os membros da sociedade do período joanino ostentavam
um luxo ao saírem de casa, ou seja, para que as outras pessoas pudessem
perceber as suas posses e firmarem-se socialmente enquanto pessoas de
prestígio. Porém no refúgio do lar vestiam-se com roupas simples e leves
devido ao forte calor e não precisavam demonstrar uma ostentação e um luxo
ao vestir-se.
3.1 A HIERARQUIA SOCIAL E A MODA
A moda nesta sociedade heterogênea e em formação transforma-
se em um dos instrumentos de prestígio social. Neste tópico veremos as
diferenças na indumentária de diferentes camadas sociais, sejam no material,
ou no modelo. Também veremos os ornamentos utilizados pelos membros
desta sociedade, ou seja, as jóias de família e os enfeites, no qual estas
ostentações transformam-se em prestígio social e acabam por ser um dos
fatores responsáveis pela hierarquia social.
A farda era um símbolo de status social, no qual era peça
indispensável no guarda-roupa das pessoas mais abastadas. Os cidadãos , ou
seja, os indivíduos que desempenhavam funções no Senado e Câmara, faziam
uso da farda: "vestidos de seda preta, capa da mesma, colete e meias de seda
branca, chapéu meio abado de plumas brancas e presilha de pedras preciosas,
e cuja capa era ornada com bandas de seda ricamente bordadas".
A farda de gala fazia-se presente na indumentária de pessoas
menos conceituadas, como o funcionário público Luís dos Santos Marrocos,
que achava o preço elevado e ficava indignado em ter que usá-la:
xl
“Constrangido vesti e estreei a minha farda oficial de secretaria
que, havendo-me importado perto de cento e vinte mil
Réis com todas as suas bonecrices adjuntas, me encheu
de vergonha, julgando-me um falperra, pois sempre tive
negação e ódio a enfeites e peralvilhices".
A farda era elemento tão importante na indumentária do indivíduo,
que nos inventários após morte até fardas já usadas encontram-se presentes e
com valor elevado. Como no inventário de Elias Antônio Lopes onde o seu
valor variava de 30 a 60 mil Réis. As fardas possuíam:
1 farda e calção de pano escarlate com véstia de pano azul,
tudo bordado a fio de ouro e prata;
2 fardas de pano azul, calção e calças do mesmo e 2
coletes de casimira escarlate, de pajens;
2 fardas de pano azul, 1 calção de pano azul e 2 coletes de
casimira escarlate, de pajens.
No beija-mão utilizavam-se regras para a indumentária, como
observou Leithold:
"Quem não tiver o uniforme, enverga casaca preta, colete
branco, calções e sapatos pretos; traz um sabre recurvo e
dourado, do comprimento de um pé, e chapeau à claque
sob o braço. Assim, sem diferença, apresentam-se todos,
menos os que não são fidalgos, isto é, professores,
artistas, negociantes e artesãos, etc., que não tem direito
a espadim".
xli
Ele também descreveu um beija-mão, interessante a sua
descrição, pois refere-se também ao traje das pessoas presentes, a partir daí
percebe-se o luxo e a ostentação que tal ocasião impunha aos presentes:
"À direita do trono, mas a uma certa distância e todo o tempo que dura a solenidade, ficam os grandes do reino, com o capelão-mor. À frente, personagem grande e corpulento, de batina preta, tendo no peito um crachá, e, pendente de um lado, uma bolsa igual à moda Pompadour, de veludo vermelho bordado a ouro. Trazia na mão um pequeno leque com a qual se abana continuamente, por causa do calor e de sua corpulência. Ao lado dele, o conhecido marquês de Laulé, em traje negro e de botas; seguiam-se outros dignatários ostentando condecorações".
Quando referia-se a beija-mão de gala, como dias santos,
aniversário da família real e descoberta do Brasil, a pompa na indumentária era
ainda maior. Leithold também observou tal cerimônia: "Todos os camaristas
envergam casacas escarlates, bordadas a ouro, canhões e lapela azul-
marinho, vestes azuis bordadas a prata e calções da mesma cor. Apresentam-
se, então, de tricórnios e plumas brancas, com bandas e crachás".
Ao se analisar o guarda-roupa do conselheiro Elias Antônio Lopes
e posteriormente a indumentária de alguns membros menos favorecidos dessa
sociedade, percebe-se as diferenças quanto aos materiais utilizados e a forma
das roupas:
1 farda e calção de pano escarlate com véstia de pano azul,
tudo bordado a fio de ouro e prata;
1 casaca de pano azul com gola e canhões de pano
escarlate bordado a fio de ouro;
2 chapéus finos de pasta agaloados e com plumas;
1 vestido e calção de seda azul com véstia de cetim branco
bordada com seu crachá;
1 véstia de cetim branco bordada de matiz;
1 vestido e véstia de sarja de seda preta e calção de meia
de seda preto;
xlii
1 vestido e véstia de gorgurão preto;
1 casaca de pano verde-garrafa;
1 casaca de pano preto;
1 vestido, véstia e calção de pano preto;
1 robissão de pano cor de vinho;
1 robissão de riscadinho azul;
2 jaquetas e calças de riscadinho;
2 calças de riscadinho largas;
1 jaqueta de riscadinho e duas calças de ganga amarela;
3 calções de diferentes fazendas;
2 coletes de seda preta;
17 coletes brancos de diferentes fazendas;
3 camisolas de riscadinho azul;
1 camisola de tafetá alvadia;
2 balandraus de nobreza roxo;
1 capa de sarja de seda preta e um chapéu de corte;
1 capa de sarja de seda preta e duas bolsas de seda;
1 capa de lila preta;
1 banda de ló de seda branca com raminhos de ouro;
6 robissões de baetão escarlate;
1 manto de esculmilha da Ordem de Cristo;
3 ceroulas de pano de linho;
59 camisas de morim;
10 camisas de diferentes fazendas;
13 pescocinhos e quatro bacalhaus;
12 pares de meia de linha e algodão;
4 pares de meia de seda branca e pérola;
2 pares de meias de seda preta;
1 par de luvas de algodão;
6 lenços quadrados e uma cinta branca;
1 chapéu fino armado;
5 pares de sapatos e seis botas;
2 chapéus finos armados de pajens;
xliii
2 fardas de pano azul, 1 calção de pano azul e 2 coletes de
casimira escarlate, de pajens;
2 fardas de pano azul, calção e calças do mesmo e 2
coletes de casimira escarlate, de pajens.
No guarda-roupa do comerciante estão presentes uma grande
variedade de tecidos, em sua maioria de boa qualidade, tais como a lila, o ló e
a escumilha. Quanto à forma das roupas eram de boa aceitação dentro da
sociedade, tais como: as fardas, os vestidos, as luvas, as meias de seda,
véstias, enfim vestia-se na moda.
A indumentária dos comerciantes, fora descrita por Luccock,
segundo ele, encontravam-se todas manhãs para reunião de negócios na
esquina das ruas do Ouvidor e da Quitanda:
"A maioria deles aparecia vestida de casacas pretas, velhas e
coçadas, algumas bem remendadas, mas tão mal
ajustadas à estatura e ao volume dos seus portadores
que despertavam a suspeita de não serem eles os
primeiro que as usavam; seus coletes eram de cores
mais alegres, corpo comprido e bordado, abas longas e
algibeiras profundas; seus calções, pretos também, eram
curtos que mal alcançavam os rins de um lado e os
joelhos de outro, lugar em que se atavam com fivelas
brilhantes de fantasia; suas meias, de algodão nacional,
as fivelas dos sapatos, imensas. Traziam a cabeça
coberta com uma peruca empoada sobre que punham um
enorme chapéu armado; à coxa repousava um espadim
muito velho e gasto".
xliv
Os comerciantes descritos por Luccock trajavam basicamente
casacas, coletes bardados, calções e meias de algodão já diferenciando-se da
indumentária de Elias Antônio Lopes que usava meias de seda. Quanto aos
tecidos utilizados pelos comerciantes não foi possível compará-los, pois não
tive acesso a esses dados.
Outro viajante que descreveu sobre a indumentária foi Leithold,
comparou indumentária das brasileiras e portuguesas com as das negras,
referindo-se aos tecidos por elas utilizados como fator de referência social, ou
seja, os tecidos pesados e grosseiros eram utilizados pelo povo, já as
"brasileiras e portuguesas" usam tecidos de seda e tafetá:
"Apesar do calor e mesmo com tempo bom, a gente do povo,
brasileiros e mulatos, usam uns casacos pesados e
felpudos. O mesmo fazem as mulheres, que ainda se
cobrem de véus pretos. Doutro modo vestem-se elas,
brasileiras e portuguesas, de sedas e tafetás, enquanto
que as negras e mulatas usam tecidos grosseiros de lã
em cor preta".
Para analisar a indumentária dos escravos extraiu-se dos
anúncios de jornais as informações que referiam-se a escravos fujões e os
relatos de viajantes que descreveram a indumentária dos mesmos.
Nos anúncios da Gazeta, os senhores, descreviam a
característica física e a indumentária dos escravos que fugiam. A maioria dos
escravos do sexo masculino usavam camisas, onde os tecidos mais comuns
eram: de linho cru, de riscado, de cassa grossa, de brim, de linho grosso e de
algodão. As calças eram de tecido de ganga, de casimira, de algodão, de pano
de linho cru, de pano-da-costa e de belbute. Os que usavam colete, os tecidos
mais comuns eram: de belbute, de baeta, de casimira, de pelúcia e de pano.
xlv
Alguns fugiam só de camisa e ceroulas, ou de tanga e camisa. A
maioria das escravas do sexo feminino, ao fugirem trajavam: camisa de cassa
grossa, um corpo de linho ou roupinha de chita; uma saia de chita, de riscado
ou de zuarte; ou ainda, vestidos de linho, de ganga ou baeta. Muito raramente
fugiam de xale, de capote ou de roupa de seda, pois estes faziam companhia a
seus senhores, que pertenciam as classes mais elevadas, assim ostendo a sua
riqueza.
O relato de Maria Graham descreve a indumentária das
lavadeiras, apesar de não haver descrição dos tecidos utilizados, percebe-se
os tipos de roupas mais comuns:
"Um lugar tentador para grupos de lavadeiras de todas as
tonalidades, posto que o maior número seja de negras
escravas. Geralmente usam um lenço vermelho ou
branco em volta da cabeça, uma manta dobrada e presa
sobre o ombro e passando sob o braço oposto, com uma
grande saia. É a vestimenta favorita. Algumas enrolam
uma manta comprida em volta delas, como os indianos.
Outras usam uma feia vestimenta européia, com um
babadouro deselegante amarrado adiante".
O viajante Debret também relatou a indumentária da negra,
demonstrou a diferença entre a negra livre e a cativa:
"Negra livre, ela já tem o seu lugar no mercado; reconhece-se
pelos seus braceletes de cobre, que é nação monjola.
Meiga, ativa, opulenta e faceira, tudo nela caracteriza a
negra livre, orgulhosa de sua propriedade; interessada na
sua conservação pessoal, teve o cuidado de acrescentar
xlvi
a seu turbante alguna raminhos de arruda, planta que
entre o povo é considerada um talismã. A outra negra, ao
contrário, mostra pelo seu roupão, camisola de lã sem
elegância, que é uma escrava".
A partir dessas características da indumentária presentes nestes
documentos acima, pode-se concluir que a grande diferença entre as classes
eram referentes aos tecidos utilizados, pois alguns eram exclusivos de alguns
grupos, tais como, tafetá, seda, cetim, que eram referência de fortuna e
prestígio social. Mas em oposição haviam os tecidos do povo: ganga, lã, linho
cru, cassa grossa, algodão e chita, que eram comuns na indumentária dos
escravos e de famílias pobres. As roupas das pessoas mais abastadas dessa
sociedade eram ornadas com fios de ouro e prata, para demonstrarem a sua
posição dentro da sociedade.
As jóias também eram símbolo de prestígio social e de fortuna,
fazia-se presente como um adorno indispensável no guarda-roupa de homens
e mulheres. Haviam jóias típicamente masculinas, como as presentes no
inventário de Elias Antônio Lopes, haviam também as jóias femininas como, os
pentes de cabelo, os alfinetes de peito e os cordões de ouro. Mas haviam
também as jóias que eram usadas por ambos os sexos, indiferentemente,
como os anéis, os jogos de botões, as fivelas pequenas e mesmo as de
sapato, como pode-se perceber no inventário de Francisco Alves de Azevedo e
sua mulher Teresa Joaquina Caetana.
O inventário a seguir pertenceu aos bens do conselheiro Elias
Antônio Lopes, como um membro importante nessa sociedade possuía jóias
que compunham a sua indumentária:
2 fivelas antigas para pescocinho, uma de crisólitos e outra de
pedras brancas:
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1 fivela de calção sem companheira;
1 espadim de ouro lavrado e aberto de calados modernos;
1 gancho de prata para espadim;
1 bengala de abada com castão de ouro esmaltado;
1 par de fivelas de sapato, de ouro;
1 par de fivelas de calção, também de ouro;
1 cadeia de cordão de ouro;
1 cadeia de ouro com chaves de águas-marinhas;
3 pares de esporas de prata;
1 chave de talabarte de prata;
3 pares de fivela de sapato, de prata;
2 fivelas de cós de calção, de prata;
1 fivela de liga de calção, de prata;
1 espadim dourado com raios;
1 estoque concha aberta;
1 traçadinho dourado, folha voltada;
1 faquinha dourada com gancho de pôr à cinta;
1 cana-da-índia com castão e ponteira de prata;
1 par de esporas de casquinha;
1 talabarte de cordovão, ferragem dourada;
3 castões;
1 traçado folha voltada, ponteira e dois bocais, punho de
ébano marchetado de prata;
1 cana-da-índia, castão, olhos e ponteira de ouro de lei;
1 relógio de caixas de ouro, Autor Spercer & Kerkins, nº
16.681, com sua caixa de tartaruga e cadeia de ouro.
A relação de jóias a seguir pertenceu ao inventário dos bens após
morte de Francisco Alves de Azevedo e sua mulher Teresa Joaquina Caetana ,
neste inventário há jóias tanto femininas como masculinas. O inventário dessas
jóias foi avaliado em oitenta e nove mil setecentos e sessenta réis:
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1 anel grande antigo ornados com oitenta e um diamantes
rosas e cinco esmeraldas;
1 alfinete de peito com vinte e oito diamantes todas em
forma de raminho;
1 par de pulseiras ornadas com três círculos de crisólitos;
1 jogo de botões de crisólitos para pulços;
2 pentes pequenos ornados de crisólitos;
1 par de bichas grandes de topázios amarelos;
1 par de fivelas pequenas de crisólitos para calção;
1 grande anel oval com crisólitos;
1 didal sino Saimão, meia lua em ouro seis oitavas.
Em ambos os inventários pode-se perceber a quantidade de ouro
e pedras preciosas contidas em cada jóia, logo elevava o seu valor. Isto
demonstra a importância das jóias dentro dessa sociedade, comprovando a
hipótese do luxo, do prestígio e da ostentação em se obter jóias. Isto era tão
presente nesta sociedade que até mesmo nas classes inferiores encontramos
as jóias como forma de prestígio social.
Nos relatos de Leithold, encontra-se presente a descrição de
adornos da moda, as jóias, na indumentária das lavadeiras e das portuguesas
que compunha as classes inferiores:
"As lavadeiras, na maioria mulatas, usam longas correntes de
ouro ao pescoço e ganham nessa profissão tanto dinheiro
que até se permitem ter escravas. As portuguesas de
distinção também trazem tais correntes. Quanto mais
pesado o ouro e longa a corrente, tanto mais prestígio
ganham as classes inferiores".
Enfim, a moda nesta sociedade foi um instrumento diferenciador
entre as camadas sociais, isto é, entre o rico comerciante que importava seus
xlix
sapatos da Europa enquanto não instalavam-se os sapateiros estrangeiros,
onde as suas roupas seguiam os modelos europeus e os tecidos eram finos, e
os ornamentos da indumentária eram compostos por jóias de valores elevados.
Já os comerciantes de classes inferiores utilizavam tecidos inferiores, roupas
surradas e as fivelas eram de ouro e brilhante, porém de fantasia. As negras
livres procuravam diferenciar-se dos cativos através do modo como arrumavam
o cabelo, usando turbante, enfeitando-se com flores na cabeça, usando roupas
de renda e até mesmo sapatos que eram o símbolo da liberdade. Portanto, a
moda estava presente em todas as camadas da sociedade e era fator
diferencial entre elas.
CONCLUSÃO
O estudo sobre a moda no Brasil do início do século XIX mostra
que ainda há muitas coisas a serem ditas sobre a relação entre a moda e a
sociedade no período o qual D. João e sua corte portuguesa permaneceram no
Rio de Janeiro, transformando-se numa época rica em informações
documentais, visto que o país recebeu um grande número de viajantes e a
criação da Impressa Régia, por D. João tornou-se uma importante fonte
documental da época.
Os depoimentos dos viajantes nos documentos da época
mostram que, com a vinda da família real e sua corte para o Rio de Janeiro, a
moda, os hábitos e os costumes europeus influenciaram de forma mais intensa
e expressiva os membros da nossa sociedade colonial, devido à convivência
com os imigrantes europeus. Isto fez com que se transformasse a vestimenta e
os hábitos em instrumentos de prestígio social e também em fatores
diferenciais para explicitar a hierarquia social.
As mudanças da moda dependem da cultura, dos ideais e dos
valores de uma época. No período joanino o leque era fator indispensável no
complemento da indumentária de uma dama. Era muito importante na
l
sociedade da época a utilização do leque como utensílio complementar no
vestuário de uma dama. Assim, também os cavalheiros também faziam o uso
de tal peça na composição de seu vestuário.
A partir dos relatos mostrados ao longo do estudo foi possível
perceber como a moda é regida pelas necessidades do momento histórico.
Imaginando-se homens fazendo uso do leque no Rio de Janeiro em pleno ano
de 2001, estes serão certamente ridicularizados, pois os valores são outros. No
entanto, a moda não para, é um todo harmonioso e em mutação constante. A
moda detêm recursos para tornar visível e distinguir a posição pessoal do
indivíduo dentro da sociedade e de diferenciar os sexos.
A moda no Rio de Janeiro era artigo de luxo, nos últimos tempos
coloniais, apesar do livre comércio os artigos importados acabavam por tornar-
se muito caros, onde consumir tais modas dependia das posses dos
consumidores. É através da reconstituição histórica da moda que é possível
delimitar as diferentes nuanças das hierarquias sociais existentes no Brasil,
que no início do século XIX desejava possuir uma atmosfera européia de forma
a “purificar” a existência negra, índia e mestiça surgida com a escravidão ao
mesmo tempo em que buscava afirmar a sua identidade. Compreender a moda
de uma sociedade é perceber a colaboração, para a História, que todos os
elementos de indumentária fornecem para a descrição dos mais variados tipos
sociais: do pobre ao rico, do letrado ao analfabeto, do político ao escravo, do
europeu ao brasileiro.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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WIED-NEUWIED, M. A. P. Viagem ao Brasil, 1815-1817. São Paulo;
Melhoramentos, 1969.
liii
ÍNDICE
Página
RESUMO ................................................................................ v
METODOLOGIA ..................................................................... vi
SUMÁRIO ............................................................................... vii
INTRODUÇÃO ........................................................................ 08
CAPÍTULO 1
ASPECTOS DA PRESENÇA PORTUGUESA NO BRASIL .. 09
CAPÍTULO 2
O BRASIL INFLUENCIADO PELOS EUROPEUS ................ 19
2.1 A MODA NA CORTE .................................................. 20
2.2 UMA CORTE REFINADA .......................................... 26
CAPÍTULO 3
ASCENSÃO SOCIAL E PRESTÍGIO ATRAVÉS DA MODA . 30
3.1 A HIERARQUIA SOCIAL E A MODA ........................ 36
CONCLUSÃO ......................................................................... 46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................ 48
ÍNDICE .................................................................................... 50
ANEXOS 51
FOLHA DE AVALIAÇÃO ......................................................... 52
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
TÍTULO DA MONOGRAFIA:
ASPECTOS HISTÓRICOS DA MODA NA SOCIEDADE
BRASILEIRA DO PRÉ-IMPÉRIO
DATA DE ENTREGA: 25 DE AGOSTO DE 2001.
AVALIADO POR: ____________________________ GRAU: ______________.
Rio de Janeiro, _____ de _________________ de 2001.
____________________________________________
Coordenador do Curso