Aspectos fisiológicos e nutricionais do Pré-escolar e Escolar

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1 ASPECTOS FISIOLÓGICOS E NUTRICIONAIS DO PRÉ-ESCOLAR E ESCOLAR Considerando que a infância é um momento de consumo de energia significativo, vale destacar: OBJETIVOS NUTRICIONAIS Manutenção das reservas e composições corporais existentes; Provisão de quantidades adequadas de todos os nutrientes para promover o crescimento normal. FATORES EXCLUSIVOS DAS CRIANÇAS EM RELAÇÃO AOS ADULTOS Requerimentos Basais aumentados: Gasta Energético aumentado para contemplar o crescimento; Reservas calóricas menores; Taxa de crescimento rápido nos primeiros meses de vida, requerendo mais energia e proteína por unidade de peso corporal, além de certas vitaminas e minerais; As necessidades nutricionais diminuem quando o crescimento desacelera. CONSIDERAÇÕES GERAIS É importante a Avaliação Nutricional precisa para evitar riscos de deficiência e/ou excesso calórico; O parâmetro mais confiável da ingestão calórica é o ganho constante e equilibrado de peso;

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ASPECTOS FISIOLÓGICOS E NUTRICIONAIS DO PRÉ-ESCOLAR E ESCOLAR

Considerando que a infância é um momento de consumo de

energia significativo, vale destacar: OBJETIVOS NUTRICIONAIS

• Manutenção das reservas e composições corporais existentes; • Provisão de quantidades adequadas de todos os nutrientes para

promover o crescimento normal. FATORES EXCLUSIVOS DAS CRIANÇAS EM RELAÇÃO AOS ADULTOS

Requerimentos Basais aumentados: • Gasta Energético aumentado para contemplar o crescimento; • Reservas calóricas menores; • Taxa de crescimento rápido nos primeiros meses de vida,

requerendo mais energia e proteína por unidade de peso corporal, além de certas vitaminas e minerais;

• As necessidades nutricionais diminuem quando o crescimento desacelera.

CONSIDERAÇÕES GERAIS

• É importante a Avaliação Nutricional precisa para evitar riscos de deficiência e/ou excesso calórico;

• O parâmetro mais confiável da ingestão calórica é o ganho constante e equilibrado de peso;

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PRÉ-ESCOLAR INTRODUÇÃO

Caracteriza-se pela ↓ da velocidade de crescimento → ↓ do apetite Ganho de peso: ↑ 2 a 3 kg/ano até os 9-10 anos. Estatura: ↑ aproximadamente 5 a 7 cm/ ano até a puberdade.

Volume gástrico pequeno (200-300 ml) e apetite inconstante.

Recuperação de crescimento → quando o corpo se esforça para voltar a curva de crescimento normal da criança (pós-enfermidade, desnutrição...).

Supressão de crescimento → é influenciada pela gravidade e duração da causa precipitante. Ex: impacto maior em doença grave e privação nutricional prolongada.

O peso é recuperado mais rápido que a altura.

MUDANÇAS CORPORAIS:

Cabeça e tronco → crescimento lento;

Membros → mais alongados.

Composição corporal:

Gordura → ↓ nos primeiros anos (mín 4 -6 anos)

↑ adiposidade antes do estirão puberal

Diferença sexo→ meninos +massa magra x meninas +massa gorda

INAPETÊNCIA NO PRÉ-ESCOLAR

Nesta fase ocorre queixa de inapetência → é necessária avaliar se é consistente, considerando o crescimento, desenvolvimento, hábitos alimentares e os parâmetros bioquímicos.

A inapetência comportamental tem origem na dinâmica familiar. A criança deixa de comer para chamar a atenção.

A inapetência orgânica pode estar mais comumente associada à deficiência de micronutrientes (ex: ↓ ferro).

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Principais causas de inapetência do pré-escolar:

- A inclusão preferencial de alguns alimentos (ex: batata...) dificultando o estímulo ao paladar.

- Maior interesse pelo ambiente → ↓ o interesse pela alimentação;

- Ansiedade dos pais → quantidade de alimentos que seus filhos podem ingerir;

- Criar estratégias para fazer a criança comer (ex: TV, brinca-deiras...) que distraiam a criança para que ela coma sem perceber;

- Substituições da alimentação sólida por outras de mais fácil aceitação (ex: bebidas adocicadas...);

- Chantagem às primeiras recusas;

- Horários rígidos de alimentação → respeitar os intervalos.

RECOMENDAÇÕES PARA A PRÁTICA DIETÉTICA DO PRÉ-ESCOLAR

Intervalo de 2 a 3 horas entre a ingestão de qualquer alimento e o horário das principais refeições.

Pequena quantidade de alimentos nas refeições;

Fracionamento da dieta: 6 refeições diárias, incluindo lanches. Biscoitos e guloseimas devem ser contemplados nos lanches.

Se houver recusa da refeição principal, não substituir por leite ou outros alimentos lácteos → oferecer mais tarde.

Manter a presença de verduras e legumes nas refeições, mesmo que a criança não os aceite, mas sem a obrigatoriedade do consumo e sem comentários, caso sobrem no prato.

Servir as refeições sem a presença de sucos, refrigerantes, ou líquidos açucarados. Esses líquidos podem ser oferecidos após o término da refeição.

Retirar o que sobrou do prato sem fazer comentários.

As guloseimas não devem ser utilizadas como recompensas ou castigos.

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ESCOLAR INTRODUÇÃO

Escolar → Crianças de 7 anos de idade até sua entrada na puberdade.

Caracteriza-se pela maior socialização e independência → melhor aceitação de preparações alimentares diferentes e mais sofisticadas.

Volume gástrico comparável ao do adulto.

Influencia no gasto energético → aumento da atividade física informal (ex: bicicletas, skates...) X sedentarismo (ex: videogame, TV, computador...).

Apetite voraz → é necessário estar compatível com o estilo de vida do escolar.

Nesta fase inicia-se a omissão do café da manhã (pode ser fator de risco para problemas nutricionais) e ↓ no consumo de leite (pode comprometer a ingestão de cálcio para a formação da massa óssea).

MUDANÇAS CORPORAIS:

Próximo à puberdade → meninos e meninas apresentam um desvio para cima na curva normal de peso (repleção energética que antecede o estirão puberal) → intervir nutricionalmente se o excesso de peso exceder 20% da relação peso/estatura.

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INFORMAÇÕES GERAIS

NECESSIDADES NUTRICIONAIS

Energia:

O requerimento energético → baseia-se no TMB; nec. especiais para o crescimento e desenvolvimento; e gasto de energia.

Distribuição % dos macronutrientes: CHO= 50-60%; LIP = 25-35%; e PTN = 10-15%

Proteínas: As crianças com maior probabilidade de estar em risco de ingestão protéica inadequada são aquelas com dietas vegetarianas estritas ou múltiplas alergias alimentares ou que possuam seleções limitadas devido a dietas da moda, problemas comportamentais ou acesso limitado ao alimento.

Vitaminas e minerais: A ingestão insuficiente pode causar crescimento prejudicado e resultar em doenças de deficiência.

DIETA VEGETARIANA PARA CRIANÇAS

A dieta vegetariana e ovo-lacto-vegetariana bem planejada durante a infância é capaz de garantir crescimento e desenvolvimento adequados (ADA e Academia Am. de Ped.).

Riscos da dieta vegetariana:

- Ingestão energética → observar densidade calórica e caso necessário adicionar lipídeos (óleos...) e alim refinados.

- Ptn → combinação de alimentos (ex: leguminosas e cereais) permite alcançar todos os aas necessários (ptn vegetal→ digestibilidade = 85%)

- Cálcio, ferro e zinco → planejar cuidadosamente a rotina alimentar e melhorar a biodisponibilidade do ferro com associação de alimentos fontes de vit C.

- Vit B12 e D → Usar vegetais fermentados (B12), exposição solar (D) e quando necessário, usar suplementos.

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RESTRIÇÃO DE GORDURA NA INFÂNCIA

De forma geral, não é necessário estimar a quantidade de gordura que uma criança vai consumir, mas observar o contexto (hábitos alimentares, presença de obesidade ou doença crônica não transmissível na família; e estilo de vida da criança).

CONSTIPAÇÃO INTESTINAL

A etiologia da constipação intestinal envolve vários fatores, como os constitucionais, hereditários, alimentares e psicológicos.

Presença de constipação intestinal (12- 40%) → trabalhos sugerem que está associada ao baixo consumo de fibras e ao desmame precoce

Fibras: 0,5g/ kg/ dia (mín) OU idade + 5g (ex: cça c/ 15 kg e 3 anos iria consumir 7,5 a 8g → 0,5g x 15 kg = 7,5g OU 3anos + 5g = 8g.

Estimular o consumo de água e alimentos ricos em fibras (cereais, feijões, pães, legumes, frutas...).

ANEMIA FERROPRIVA

A deficiência de ferro é um distúrbio comum na infância.

Além do crescimento e da maior necessidade fisiológica, os fatores dietéticos também interfere, como por ex: não gostarem de carne; grande consumo de leite com exclusão de outros alimentos...

Estimular o consumo de alimentos de origem animal → ferro heme (ex: fígado, carnes, peixe, fígado...); e melhorar biodisponibilidade do ferro de origem vegetal → não-heme (ex: consumir vegetais folhosos verdes, feijão... com frutas fontes de vit C).

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DESNUTRIÇÃO ENERGÉTICO-PROTÉICA (DEP)

DEP é o conjunto das condições patológicas decorrentes da deficiência simultânea, em proporções variadas, de proteínas e calorias, que ocorre mais freqüentemente em lactentes e crianças pequenas e que, em geral, associa-se à infecções.

O primeiro sinal da insuficiência alimentar é o comprometimento do peso corpóreo e ao longo do tempo irá comprometer a estatura.

A prioridade da intervenção na desnutrição é a recuperação dos depósitos de gordura que garantem suporte energético para o processo anabólico do crescimento → primeiramente recupera-se o peso, depois, intervém-se na qualidade da alimentação.

Formas e manifestações clínicas da DEP grave:

Kwashiokor → desnutrição predominantemente protéica

• Forma mais grave devido à presença de importantes alterações clínicas e bioquímicas.

• Mais freqüente em cças < 5 anos.

• Características → edema, diarréia, descamação da pele, despigmentação do cabelo, apatia, tristeza, face de lua, ↓ ptn do organismo (sangue, tec. periféricos, músc., fígado...).

• Edema: hipoalbuminemia → passagem do fluido intravasc. → ↓ vol sang. → ↑ aldosterona → retém água.

• Diarréia/ hepatomegalia e esteatose hepática → atrofia do tec acinar do pâncreas

Marasmo – desnutrição energético-protéica equilibrada

• Deficiência acentuada → de crescimento, peso, atrofia muscular, gordura subcutânea e caquexia.

• Proteínas plasmáticas normais ou levemente diminuídas.

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Método para estimar necessidade energética do pré-escolar, escolar e adolescente, segundo FNB: DRI’s, 2002. Cálculo das Necessidades Estimadas de Energia (percentil 5-85 para IMC)

Idade Sexo NEE = GTE MASC 88,5 – 61,9 x Id* + AF x (26,7 x P* + 903 x A*) + 20** 3-8 a

FEM 135,3 – 30,8 x Id* + AF x (10 x P* + 934 x A*) + 20**

MASC 88,5 – 61,9 x Id* + AF x (26,7 x P* + 903 x A*) + 25** 9-18 a

FEM 135,3 – 30,8 x Id* + AF x (10 x P* + 934 x A* ) + 25**

* Peso (kg) Altura (m) Idade (anos) ** Calorias para deposição de energia

Ingestão estimada de energia:

Idade Masc Fem 1-2 anos 1046 kcals/d 992 kcals/d 3-8 anos 1742 kcals/d 1642 kcals/d 9-13 anos 2279 kcals/d 2071 kcals/d

14-18 anos 3152 kcals/d 2368 kcals/d Cálculo das Necessidades Estimadas de Energia (IMC > percentil 85) IDADE SEXO NEE = GTE

MASC 140 – 50,9 x Id* + AF x (19,5 x P* + 1161,4 x A*) 3-18 a

FEM 389 – 41,2 x Id* + AF x (15 x P* + 701,6 x A*)

Coeficiente de Atividade Física

AF IMC percentil 5-85 IMC > percentil 85 MASC FEM MASC FEM

Sedentário 1,00 1,00 1,00 1,00 Pouco ativo 1,13 1,16 1,12 1,18

Ativo 1,26 1,31 1,24 1,35 Muito ativo 1,42 1,56 1,45 1,60

Necessidades protéicas do pré-escolar, escolar e adolescente, segundo FNB: DRI’s, 2002.

DRI`s, 2002 DRI`s, 2002 Idade g/dia g/kg/dia Idade g/dia g/kg/dia

1-3 anos 13 1,1 52 0,8 4-8 anos 19 0,95 9-13 anos 34 0,95

14-18 anos Mac Fem 46 0,8

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INGESTÃO DIETÉTICA DE REFERÊNCIA (DRI´s) : RDA e AI

Idade (anos) 1-3 4-8** F9-13 M9-13 F14-18 M14-18

Energia (kcals) M:1046 F:992

M:1742

F:1642

2071 2279 2403 3067

Proteína (g) 13,0 19 34 34 46 52

CHO (g) 130,0 130 130 130 130 130

Fibras (g) 19,0 25 26 31 26 38

Gord (%) 30-40 25-35 25-35 25-35

linoléico 7 10 10 12 11 16

linolênico 0,7 0,9 1,0 1,2 1,1 1,6

Vit A (mcg) 300 400 600 600 700 900

Vit D (mcg) 5* 5* 5* 5* 5* 5*

Vit E (mg) 6 7 11 11 15 15

Vit K (mcg) 30* 55* 60* 60* 75* 75*

Vit C (mg) 15 25 45 45 65 75

Tiamina (mg) 0,5 0,6 0,9 0,9 1,0 1,2

Riboflavina (mg) 0,5 0,6 0,9 0,9 1,0 1,3

Niacina (mg) 6 8 12 12 14 16

Folato (mcg) 150 200 300 300 400 400

B12 (mcg) 0,9 1,2 1,8 1,8 2,4 2,4

Ac.Pantotênico (mg) 2* 3* 4* 4* 5* 5*

Biotina (mcg) 8* 12* 20* 20* 25* 25*

Colina (mg) 200* 250* 375* 375* 400* 550*

Cálcio (mg) 500* 800* 1300* 1300* 1300* 1300*

Fósforo (mg) 460 500 1250 1250 1250 1250

Ferro (mg) 7 10 8 8 15 11

Zinco (mg) 3 5 8 8 9 11 FONTE: IOM/FNB/DRI´s, 2002 – In: Krause, 2005 * AI ** Energia: 3-8anos

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Método para estimar necessidade energética do pré-escolar, escolar e adolescente, segundo OMS, 1985. Cálculo das Necessidades Energia Idade Sexo Nec. Energéticas Fator Correção 1-10 a M/F 90 kcals / kg/ dia

MASC TMB = 17,5 x P + 651

± 1,6 a 1,75 10-18 a

FEM TMB = 12,2 x P + 746 ± 1,5 a 1,65 * Peso (kg) Ingestão estimada de energia (kcals/dia): Idade* Masc Fem Idade* Masc Fem 3 - 4 99 95 7 - 8 83 76 4 - 5 95 92 8 - 9 77 69 5 - 6 92 88 9 - 10 72 62 6 - 7 88 83

*Idade (anos)

Necessidades protéicas do pré-escolar, escolar e adolescente, segundo OMS, 1985.

Idade g/kg/dia Idade g/kg/dia 1-5 anos 1,15 10-14 anos 1,00

5-10 anos 1,00 14-18 anos 0,95

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Guia alimentar para crianças menores de 2 anos. Secretaria de Políticas de Saúde. Organização Pan Americana de Saúde – Brasília: Ministério da Saúde, 2002.

KRAUSE - Alimentos, Nutrição & Dietoterapia. Kathleen Mahan & Sylvia Escott-Stump. 11ª ed. São Paulo: Editora: Rocca, 2005.

Nutrição da gestação à adolescência. Márcia Regina Vitolo. Reichmann & Afonso Editores, 2003.