Aspectos Físico-químicos e microbiológicos da água utilizada pelos animais do zoológico do...

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ASPECTOS FÍSICO-QUÍMICOS E INDICADORES DE CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA UTILIZADA PELOS ANIMAIS NO ZOOLÓGICO DO PARQUE SABIÁ UBERLÂNDIA - MG-BRASIL Fernando Francisco Borges Resende 1 , Noé Ribeiro da Silva 2 . RESUMO A água, essencial à vida de todo animal, atua também como importante veículo de contaminação de várias doenças, seja em decorrência de excretos humanos ou de outros animais, seja pela presença de substâncias químicas nocivas à saúde do indivíduo. As águas utilizadas nos recintos do zoológico do Parque Sabiá, no município de Uberlândia – MG, são classificadas como águas doces, classe 01, destinadas ao consumo humano e/ou animal e a qualquer uso mais exigente quanto a sua qualidade. O nível de contaminação microbiológica de cada ponto de coleta do zoológico do Parque Sabiá foi avaliado durante nove meses, de junho de 2003 a março de 2004. Foi detectada uma variação de 0 a 10 4 UFC/100mL na contagem de Coliformes totais e 0 a 10 3 UFC/100mL na contagem de Coliformes fecais. Dentre os testes físico-químicos realizados, como: pH, cor, turbidez, Cloreto, Sulfato, Nitrito e Nitrato, somente as análises de pH mostraram anormalidades, demonstrando características ácidas da água. As águas utilizadas pelo zoológico do Parque Sabiá, apesar de apresentarem baixos índices de contaminação, tanto por Coliformes totais quanto por fecais e terem demonstrado boa qualidade físico-química, ainda assim necessitam de atenção para que estes parâmetros não venham a se alterar, levando a uma possível poluição dessas águas, bem como a contaminação de seu lençol freático. Palavras-chave: água, coliformes, controle microbiológico, zoológico. ________________ 1 Discente, bolsista CNPq Faculdade de Medicina Veterinária – UFU; 2 – Prof. Dr. Faculdade de Medicina Veterinária – UFU.

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Trabalho de conclusão de curso e de Iniciação Científica do Autor pela Universidade Federal de Uberlândia em 2006.

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ASPECTOS FÍSICO-QUÍMICOS E INDICADORES DE CONTAMINAÇÃO MICROBIOLÓGICA DA ÁGUA

UTILIZADA PELOS ANIMAIS NO ZOOLÓGICO DO PARQUE SABIÁ – UBERLÂNDIA - MG-BRASIL

Fernando Francisco Borges Resende1, Noé Ribeiro da Silva2.

RESUMO

A água, essencial à vida de todo animal, atua também como importante veículo de

contaminação de várias doenças, seja em decorrência de excretos humanos ou de outros animais,

seja pela presença de substâncias químicas nocivas à saúde do indivíduo. As águas utilizadas nos

recintos do zoológico do Parque Sabiá, no município de Uberlândia – MG, são classificadas

como águas doces, classe 01, destinadas ao consumo humano e/ou animal e a qualquer uso mais

exigente quanto a sua qualidade. O nível de contaminação microbiológica de cada ponto de coleta

do zoológico do Parque Sabiá foi avaliado durante nove meses, de junho de 2003 a março de

2004. Foi detectada uma variação de 0 a 104 UFC/100mL na contagem de Coliformes totais e 0 a

103 UFC/100mL na contagem de Coliformes fecais. Dentre os testes físico-químicos realizados,

como: pH, cor, turbidez, Cloreto, Sulfato, Nitrito e Nitrato, somente as análises de pH mostraram

anormalidades, demonstrando características ácidas da água. As águas utilizadas pelo zoológico

do Parque Sabiá, apesar de apresentarem baixos índices de contaminação, tanto por Coliformes

totais quanto por fecais e terem demonstrado boa qualidade físico-química, ainda assim

necessitam de atenção para que estes parâmetros não venham a se alterar, levando a uma possível

poluição dessas águas, bem como a contaminação de seu lençol freático.

Palavras-chave: água, coliformes, controle microbiológico, zoológico.

________________

1 – Discente, bolsista CNPq Faculdade de Medicina Veterinária – UFU;

2 – Prof. Dr. Faculdade de Medicina Veterinária – UFU.

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ABSTRACT

Water is essential for animal life but also works as a contamination mean for many

diseases. It may occur as a result of human and animal excreta or by the contamination for

chemical substances. The water used at the Parque do Sabiá zoo, in Uberlândia – MG, is

classified as fresh water (Type1). This water is for human and animal use. The microbiological

contamination level of each water point, in the Parque do Sabiá, has been evaluated during nine

months. It is detected, between June 2003 and March 2004, a variation of 0 to 104UFC/100mL

on total count of coliforms and 0 to 103UFC/100mL on total count of faecal coliforms. Amoung

the undertaked physical-chemical tests (pH, color, cooper sulfete, etc), only the pH analysis had

abnormal results. It presented acid characteristics for the water used on the Parque do Sabiá

zoo. Otherwise, the results did not show serious contamination. On the other hand, the water

need a special attention so that quality level keep normal.

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INTRODUÇÃO

O zoológico do Parque do Sabiá, em

Uberlândia – MG, encontra-se localizado em

área urbana na região leste da cidade.

Hospeda, no momento, 73 espécies entre

mamíferos, aves e répteis, que necessitam

permanentemente de cuidados especiais, tais

como: alimentos, água e acompanhamento

médico veterinário.

A água é fartamente utilizada para

suprir suas necessidades biológicas:

ingestão, banho, preparo dos alimentos,

limpeza dos recintos e desinfecção dos

utensílios. Esta tem origem em uma nascente

na parte sul do Parque, distante

aproximadamente 500 metros dos recintos,

chegando até eles por tubulação galvanizada

com diâmetro de 100 milímetros.

Parte dessa água é armazenada em

uma caixa de alvenaria com capacidade para

40.000 litros, para daí ser distribuída a

alguns recintos, sendo que os outros recebem

água por derivação da tubulação mestra.

Cada recinto apresenta um bebedouro

coletivo para os animais ali confinados.

Os bebedouros são confeccionados

em alvenaria, permanecendo fixos ao solo,

podendo se tornar susceptíveis à

contaminação microbiana (KNAP, 1970).

Algumas vezes os animais dos

recintos, tanto aves como mamíferos,

apresentaram um quadro de diarréia, que

foram controlados prontamente pelo serviço

de medicina veterinária do zoológico,

porém, naquele momento não foi possível

indicar a causa da doença, ficando sob

suspeita a água de consumo dos animais.

Assim, julga-se oportuno realizar esta

pesquisa elegendo os Coliformes totais e

fecais como microorganismos objeto desta

pesquisa por serem indicadores universais da

qualidade higiênico-sanitária da água e

parâmetros físico-químicos, como pH, cor,

turbidez, sulfato, cloreto, nitrito e nitrato

com a finalidade de avaliar a presença de

contaminação por detritos provenientes de

esgotos ou residências.

O serviço de Medicina Veterinária do

zoológico do Parque Sabiá tem uma grande

preocupação com a qualidade da água

utilizada pelos animais nos 51 recintos

existentes. Apesar da existência de rotina

diária com procedimentos higiênico-

sanitários em relação à água, utensílios de

preparação dos alimentos e os bebedouros

dos recintos, existem possibilidades de

contaminação microbiológica dessa água.

Em levantamento de reconhecimento

do local, realizado pela equipe desse

trabalho, pode-se constatar a existência de

um bairro residêncial ao norte da nascente,

além de um canil a 150 metros da mesma;

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sobre este canil é importante salientar que

não há rede de esgoto instalada e que os

detritos são depositados em fossas, o que é

preocupante, visto que o perfil topográfico

do terreno é caracterizado por um declive

acentuado em direção à nascente.

Esse entorno, assim descrito, pode

ser, ou vir a ser, fonte de contaminação para

os lençóis freáticos de interesse no

abastecimento de água em questão. Várias

afirmações de pesquisadores atentam sobre a

possibilidade dessa contaminação (JAY,

1994; KNAP, 1970; OLIVEIRA, 1984;

SPECK, 1984).

Essa suspeita pode ser comprovada

com monitoramento específico, utilizando-se

como referência, indicadores

microbiológicos universais e alguns

parâmetros físico-químicos para

classificação das águas de consumo

(KINZELMAN, 2003).

Animais selvagens, como quaisquer

outros animais, necessitam de água em

abundância; seja para beber, se lavar ou

como habitat.

Assim, um dos pontos primordiais

em um zoológico é uma boa disponibilidade

de água, tanto para os animais, como para a

higienização dos recintos e utensílios.

Porém, apenas a fartura de recursos

hídricos não é o suficiente, deve-se levar em

consideração a qualidade desta, sendo que,

animais selvagens em cativeiro estão

bastante predispostos a estresse e dessa

forma susceptíveis a baixas do sistema

imunológico, tornando-se aptos a

desenvolverem patologias causadas por

germes veiculados, principalmente, pela

água, como bactérias, vírus e protozoários.

Segundo Leclerc (2002) a principal

fonte de contaminação da água é justamente

as fezes de animais, tanto selvagens como

domésticos e humanos. Essas fezes, que

podem conter agentes causadores de

enfermidades, costumam ser depositados

sobre o solo, na água ou em fossas e a partir

daí serem espalhadas pela chuva, vento e a

própria ação de animais, contaminando o

terreno, o curso de água em questão ou até

mesmo o lençol freático. Alguns fatores vêm

a aumentar a chance de contaminação do

local, como o tipo de rocha da região, o

perfil topográfico e a profundidade do lençol

freático (KNAP, 1970).

Geralmente os germes contaminantes

são bactérias, vírus e protozoários, bastante

resistentes em água e que podem causar

enfermidades, principalmente entéricas

(HOFFMANN et al, 1997).

É grande a variedade de espécies

patogênicas encontrados na água. Entre as

bactérias, as mais comuns são a Shigella

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sonnei, Clostridium jejuni, Escherichia coli,

Vibrio cholerae, Pasteurella aeruginosa,

Legionella e Mycobacterium avium complex.

Os vírus mais encontrados são os da hepatite

tipos A e B e entre os protozoários se

encontram o Cryptosporidium spp e a

Giardia sp, conforme relata Leclerc (2002).

Para se conseguir manter um nível de

qualidade da água são necessários

parâmetros para medir e qualificar a

contaminação desta; para isto, pode-se

utilizar a contagem de alguns

microrganismos e analisar alguns padrões

físico-químicos. A utilização da contagem

de Coliformes fecais é mais significativa,

tendo em vista que a maior parte das

bactérias desse grupo são de origem entérica,

ao contrário do grupo dos Coliformes totais,

que contém bactérias não entéricas, o que

garante uma maior confiabilidade nos

resultados, mostrando com grande certeza a

origem da contaminação (GUERREIRO,

1984).

A utilização de parâmetros de

controle de qualidade da água é de muita

importância tanto em zoológicos como em

qualquer lugar que necessite de água potável

(LeCHEVALIER; WELCH; SMITH, 1996).

Brewer e Lucas (1982) relataram que

em 37% de 342 amostras de água de uso

rural, apresentou-se positiva para

Coliformes, decorrente da contaminação de

aqüíferos. Sanahu; Warren; Nelson (1979)

detalharam informações sobre a presença de

contaminação por Coliformes em água de

nascentes.

Knap (1970) identificou

Estreptococcus fecais e Coliformes fecais

em água rural monitorada em dois pontos

diferentes, sugerindo a possibilidade de

contaminação por infiltração do solo.

APHA (1976) informou sobre o

monitoramento realizado em água do mar,

mostrando a presença de Escherichia coli,

Coliformes fecais e Coliformes totais.

Guerreiro (1984) relata que durante muito

tempo a Escherichia coli era residente do

tubo digestivo dos animais e do homem,

colaborando nos processos digestivos, sem

ação patogênica. Atualmente, sabe-se que

em condições favoráveis pode causar

doenças, chamadas de colibacilose em

animais e no homem (GLEESON e GRAY,

1997). Além de sua importância como

entidade patogênica, o isolamento da

Escherichia coli da água é de significado

sanitário, pois é uma indicação de

contaminação fecal (EDBERG et al, 2000).

De conformidade com o Bergey's

Manual of Determinative Bacteriology, 1974

o germe está situado no grupo de bactérias

gram-negativas, facultativamente

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anaeróbicas, pertencendo à família

Enterobacteriaceae, gênero Escherichia e

dentro do grupo dos Coliformes fecais.

Causa diarréia em humanos e animais, além

de mastite, aborto, salpingites, pericardite,

etc.

Dessa forma o objetivo do presente

estudo foi verificar a contagem de

Coliformes totais e Coliformes fecais na

água do zoológico, bem como analisar os

seguintes parâmetros físico-químicos: pH,

cor, turbidez, cloreto, sulfato, nitrito e

nitrato.

MATERIAL E MÉTODOS

No zoológico do Parque Sabiá, que é

administrado pela FUTEL - Fundação de

Turismo, Esporte e Lazer da Prefeitura

Municipal de Uberlândia, apresenta 51

recintos que abrigam 73 diferentes espécies

de mamíferos, aves e répteis.

Estes recintos guardam

características próprias para atender as

espécies animais ali instaladas, sendo que,

todos recebem água, não tratada, da mesma

origem, de uma nascente dentro do próprio

parque. Esta se encontra em área bem

protegida por alambrado e vegetação ciliar,

porém com possibilidades de contaminação

pelo lençol freático do seu entorno por estar

próximo a um bairro de periferia e a um

canil situado a 150 metros de distância da

nascente, também dentro do parque.

A água chega até os recintos, através

das tubulações galvanizadas, percorrendo

aproximadamente 400 metros até uma caixa

de alvenaria de 40.000 litros, parte dos

recintos recebem água desta caixa e os

outros por derivação da rede principal (entre

nascente e caixa).

Para realização deste trabalho foram

coletadas dez amostras de água, de junho de

2003 a março de 2004, em doze pontos

diferentes, conforme especificados a seguir:

Ponto 1:

Nascente, localizada

aproximadamente a 500 metros dos recintos;

Ponto 2:

Recinto Lhama (Lama glama) que é

ocupado por um Lhama macho, sendo que o

bebedouro é localizado na parte leste do

recinto;

Ponto 3:

Recinto Cachorro do Mato

(Cerdocyon thous), ocupado por três animais,

sendo dois machos e uma fêmea.

Ponto 4:

Recinto Macacos, neste ponto a

coleta é feita em uma caixa de distribuição

que fornece água para quatro recintos

diferentes, todos ocupados por macacos;

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Ponto 5:

Recinto Jaguatirica (Leopardus

pardalis), este é ocupado por duas fêmeas e

um macho.

Ponto 6:

Recinto Leão (Panthera leo), neste

habita um leão macho.

Ponto 7:

Recinto Arara (Ara ararauna), nesta

baia está instalado um casal de Araras

Canindé.

Ponto 8:

Recinto Pavão, neste encontram-se

nove Pavões, de espécies variadas e também

três Mutuns (Crax fasciolata).

Ponto 9:

Recinto Ouriço Cacheiro (Coendou

prehensilis), aí vivem dois animais, um

casal, o bebedouro é localizado no centro da

baia.

Ponto 10:

Lagoa dos Patos, está ao norte da

nascente e abriga várias espécies de pássaros

aquáticos, como patos, gansos e cisnes;

Ponto 11:

Recinto Tigre d’água (Trachemys

elegans), neste, além dos Tigre d’água,

vivem também Cutias Amarelas

(Dasyprocta azaroe) e um Lagarto Teiú

(Tupinambis merrionoe), sendo que todos

têm acesso ao bebedouro que fica no centro

do recinto.

• Ponto12:

Caixa geral de distribuição.

A água foi coletada nos referidos

pontos em frascos esterilizados com todos os

cuidados de assepsia que esse tipo de prática

requer, para em seguida ser transportado até

o laboratório em caixas de isopor com gelo.

As análises foram realizadas no

Laboratório de Análises de Água do DMAE

– Departamento Municipal de Água e

Esgoto da Prefeitura Municipal de

Uberlândia – MG. Os exames

microbiológicos foram conduzidos de

acordo com as técnicas indicadas pelo

LANARA (1992) e os testes físico-químicos

seguiram os modelos do APHA (1976).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos por esse

trabalho foram analisados segundo a

Resolução Número 20 do CONAMA –

Conselho Nacional do Meio Ambiente, que

as classifica como água doce, classe 1,

destinadas ao consumo humano e/ou animal

e a qualquer uso mais exigente quanto a sua

qualidade. Dessa forma os limites

estabelecidos pela respectiva Portaria estão

explicitados no Quadro 1.

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Quadro 1 – Limites estabelecidos pela Resolução N° 20 do CONAMA, para águas doces, classe 01.

Parâmetro

Unidade

Valor Máximo Permitido pH Cor

Turbidez Cloreto Sulfato Nitrito Nitrato

Coliformes totais Coliformes fecais

---- uH

NTU mg/L mg/L mg/L mg/L

UFC/100mL UFC/100mL

6,0-9,0 N.C.A.

40 250 250 1,0 10

1.000 200

NTU - Unidade Nefelométrica de Turbidez.

UFC - Unidade Formadora de Colônia.

Os Quadros 2 e 3 mostram os

resultados obtidos nas análises

microbiológicas, nos doze pontos de coleta

investigados no zoológico do Parque Sabiá,

de junho de 2003 a março de 2004,

abrangendo tanto tempo chuvoso como

tempo seco, bem como os intervalos de

variação dos resultados obtidos em cada

ponto de coleta. Os intervalos de variação

dos resultados foram expressos por

aproximações estatísticas. Exemplificando, a

coleta X do ponto 2 apresentou 6x103

UFC/100mL de Coliformes totais, cujo valor

foi aproximado para 104 UFC/100mL.

N.C.A – Não Característico da Amostra.

Analisando os resultados, foi

constatado que a contagem de Coliformes

totais variou na faixa de 0,0 a

104UFC/100mL (Quadro 2), enquanto a

contagem de Coliformes fecais variou de 0,0

a 103UFC/100mL (Quadro 3). A contagem

de Coliformes totais foi 10 vezes maior que

a contagem de Coliformes fecais cujos

resultados são justificados pela abundante

vegetação presente em todo o zoológico

(CAVALCANTE; SILVA; SALGUEIRO,

1998).

Nas contagens de Coliformes totais

podemos observar que das 120 amostras

coletadas nos 12 pontos citados acima, 30

delas foram positivas, ou seja 25% conforme

mostra o Gráfico 1.

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Quadro 2 – Coliformes totais (UFC/100mL) em doze pontos de coleta investigados no zoológico

do Parque Sabiá de junho de 2003 a março de 2004 em Uberlândia -MG.

Coleta Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

Ponto 5

Ponto 6

Ponto 7

Ponto 8

Ponto 9

Ponto 10

Ponto 11

Ponto 12

I II III IV V VI VII VIII IX X

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

<103 0,0

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

<103 <103 6x103

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

<103 2x104

<103

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 S/E 104

<103

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

<103 2x103

<103

0,0 S/E 0,0 0,0 S/E S/E

>103 <103 <103 <103

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

<103 4x103

3x103

0,0 0,0 0,0 S/E S/E 0,0 0,0 S/E 0,0

5x103

0,0 0,0 0,0 0,0 S/E 0,0 0,0 S/E

2x103 3x103

0,0 0,0

>103 >103 0,0

>103 0,0 S/E 104

5x103

0,0 0,0

>103 0,0 S/E 0,0 0,0

<103 0,0

<103

0,0 0,0 0,0 0,0 S/E 0,0 S/E S/E 0,0 S/E

Variação

0 - 103 0 - 104 0 - 104 0 - 104 0 - 103 0- >103

0 - 103

0-104 0 - 103 0 - 104 0- >103 ----

S/E – Sem Exame

120

300

20

40

60

80

100

120

Quantidade

Total de Amostras Amostras Contaminadas

Gráfico 1 – Quantidade de amostras

contaminadas por Coliformes totais nos doze

pontos de coleta investigados no zoológico

do Parque Sabiá de junho de 2003 a março

de 2004 em Uberlândia - MG.

Pode-se também constatar que dessas

30 amostras consideradas positivas, apenas

16 delas estão acima dos valores máximos

permitidos pela Resolução N° 20 do

CONAMA, de 1986, conforme o Gráfico 2

demonstra.

30

16

0

5

10

15

20

25

30

Quantidade

Amostras ContaminadasAmostras Fora dos Padrões

Gráfico 2 – Quantidade de amostras contaminadas por Coliformes totais que não atendem a Resolução N°20 do CONAMA,

1986.

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Quadro3 – Coliformes fecais (UFC/100mL) em doze pontos de coleta investigados no zoológico do Parque Sabiá de junho de 2003 a março de 2004 em Uberlândia - MG.

Coleta Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

Ponto 5

Ponto 6

Ponto 7

Ponto 8

Ponto 9

Ponto 10

Ponto 11

Ponto 12

I II III IV V VI VII VIII IX X

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

<102 <102

3x103

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

2x102 103

0,0

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 S/E

9x102

6x102

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

6x102

103

2x102

0,0 0,0 0,0 0,0 S/E S/E 0,0 0,0 0,0

< 102

0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

<102 S/E

3x103

0,0 0,0 0,0 0,0 S/E 0,0 0,0 S/E 0,0

3x103

0,0 0,0 0,0 0,0 S/E 0,0 0,0 S/E

2x102

103

0,0 0,0

3x102

3x102

0,0 4x102

0,0 S/E

3x103

4x103

0,0 0,0 0,0 0,0 S/E 0,0 0,0

6x102

0,0 8x102

0,0 0,0 0,0 0,0 S/E 0,0 0,0 S/E 0,0 S/E

Variação

--- 0 - 103 0 -103 0 - 103 0 - 103 0 - 102 0 - 103 0 - 103 0 - 103 0 - 103 0 - 103 ---

S/E – Sem Exame

Observou-se também que o maior

índice de contaminação por Coliformes

totais se deu no Ponto 10, o que pode ser

explicado levando-se em conta as

características do recinto, que é formado por

uma lagoa, onde vivem muitas espécies de

aves aquáticas, dessa forma a água desse

recinto fica passível à contaminação por

esses animais.

Nas contagens de Coliformes fecais,

pode-se observar que de todas as análises

realizadas, que foram 120, somente 23 delas

apresentaram resultados positivos, ou seja,

aproximadamente 19% (Gráfico 3).

120

230

20

40

60

80

100

120

Quantidade

Total de Amostras Amostras Contaminadas

Gráfico 3 – Quantidade de amostras contaminadas por Coliformes fecais nos doze pontos de coleta investigados no

zoológico do Parque Sabiá de junho de 2003 a março de 2004 em Uberlândia - MG.

Dessas 23 amostras ditas positivas,

19 delas estão em desacordo com o

CONAMA (1986). (Gráfico 4).

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11

2319

0

5

10

15

20

25

Quantidade

Amostras Contaminadas

Amostras Fora dos Padrões

Gráfico 4 – Quantidade de amostras contaminadas por Coliformes fecais que não atendem a Resolução N°20 do CONAMA,

1986.

Da mesma forma que nas pesquisas

de Coliformes totais, o Ponto 10, lagoa dos

Patos, foi o ponto que demonstrou maiores

índices de contaminação por Coliformes

fecais.

Dentre os doze pontos analisados,

somente o Ponto 12, caixa geral de

distribuição, não apresentou nenhum tipo de

contaminação, o que prova que entre a

nascente e os recintos a água não sofre

contato com os microorganismos em

questão. Pode-se também dizer que a

nascente, Ponto 1, está praticamente livre de

contaminação microbiológica, visto que

dentre as dez amostras coletadas, apenas

uma demonstrou contaminação por

Coliformes totais, mesmo assim ficando

dentro dos padrões estabelecidos pela

Portaria que rege o assunto, fato que também

pode ser explicado pela abundante vegetação

ciliar à sua volta.

Observa-se, desta forma, que os

focos de contaminação microbiológica na

água de uso do Parque Sabiá estão

relacionados diretamente com as

características de cada recinto, bem como os

hábitos dos animais ali instalados, que

podem influenciar na contaminação desta

água, como, por exemplo, o ato de ciscar ao

redor do bebedouro, que acontece nos

Pontos 7 e 8, recintos Araras e Pavão,

respectivamente; e também o próprio fato de

defecar dentro d’água, como acontece na

lagoa dos patos, Ponto 10. De modo geral,

como em todos os recintos os bebedouros

ficam no solo, em contato direto com terra,

fezes, urina, capim entre outros agentes

contaminantes, é sempre possível que haja

contaminação por bactérias (KNAP, 1970).

Com relação aos testes físico-

químicos, entre todos os parâmetros

analisados, somente os testes de pH

demonstraram alteração, ficando sob

suspeita a composição geológica do local

onde está a nascente do Parque Sabiá. O

Quadro 4 nos mostra todos os valores

obtidos nas dez coletas realizadas nos doze

pontos investigados no zoológico do Parque

Sabiá.

Page 12: Aspectos Físico-químicos e microbiológicos da água utilizada pelos animais do zoológico do Parque do Sabiá - Uberlândia - Brasil

12

Quadro 4 – Valores do pH nos doze pontos de coleta investigados no zoológico do Parque do Sabiá de junho de 2003 a março de 2004 em Uberlândia - MG.

Coleta Ponto 1

Ponto 2

Ponto 3

Ponto 4

Ponto 5

Ponto 6

Ponto 7

Ponto 8

Ponto 9

Ponto 10

Ponto 11

Ponto 12

I II III IV V VI VII VIII IX X

5,0 5,0 5,0 5,4

5,01 5,2 4,6 4,7 4,9 5,0

5,5 5,3 5,2 5,3 5,11 5,2 4,9 4,96 4,7 5,6

6,1 4,8 6,0 5,8 6,11 6,3 5,6 5,81 5,1 6,7

5,7 5,9 5,9 6,0 5,1 6,1

5,44 5,51 5,1 5,6

6,1 5,1 5,0 5,2 5,7 5,7 4,6

5,03 4,0 4,7

5,3 S/E 6,5 6,6 S/E S/E 5,6

4,67 4,7 4,7

5,3 6,4 5,5 5,4 6,0 5,9 4,8 4,74 4,6 5,1

5,4 5,4 5,1 S/E S/E 5,4 4,6

4,75 4,6 4,9

5,0 5,2 5,0 5,1 S/E 5,2 4,6

4,73 4,7 4,7

6,8 6,5 6,9 6,5 5,01 6,3 6,4 6,79 6,2 6,3

5,8 5,8 4,9 5,8 S/E 5,7 5,1

5,27 2,8 5,5

5,2 5,0 5,6 6,1 S/E 5,1 S/E 5,66 4,8 S/E

Variação

4,6 - 5,4

4,7 - 5,6

4,8 - 6,11

5,1 -6,1

4,0 - 6,1

4,67 -6,6

4,6 -6,4

4,6 -5,4

4,6 - 5,2

5,01 -6,9

2,8 - 5,8

4,8 - 5,66

S/E – Sem Exame

Das 120 amostras coletadas, apenas

22 delas estavam dentro do intervalo de 6,0 a

9,0 indicado pela Resolução N°20 do

CONAMA de 1986, conforme relata o

Gráfico 5.

12098

220

20

40

60

80

100

120

QuantidadeTotal de Amostras

Amostras Fora dos Padrões

Amostras Normais

Gráfico 5 – Quantidade de amostras que

ficaram fora dos padrões estabelecidos pelo CONAMA, 1986, segundo seus valores de

pH.

CONCLUSÕES

As águas de consumo do zoológico

do Parque Sabiá, apesar de terem

demonstrado alguns índices positivos de

contaminação microbiológica, tanto por

Coliformes totais quanto por fecais, estão

relativamente dentro dos padrões

estabelecidos pelo Conselho Nacional do

Meio Ambiente, sendo que a maioria das

amostras foram negativas para contagem

dessas bactérias.

Levando em consideração os testes

físico-químicos, essas águas estão fora dos

limites estabelecidos pelo CONAMA, visto

que aproximadamente 82% delas revelaram

pH abaixo de 6,0, porém esses resultados

Page 13: Aspectos Físico-químicos e microbiológicos da água utilizada pelos animais do zoológico do Parque do Sabiá - Uberlândia - Brasil

13

podem ser explicados pelas características

geológicas do local onde se encontra o

Parque do Sabiá.

Assim conclui-se que, mesmo a

nascente estando bem próximo a um canil e

a um bairro residencial e sendo o terreno em

questão um declive em direção à nascente,

não houve contaminação por escoamento de

detritos desse entorno à fonte de água, bem

como não houve contaminação do lençol

freático em questão.

Os resultados positivos para

microbiologia encontrados em algumas

amostras podem ser explicados levando-se

em consideração as características de cada

recinto e também pelos hábitos de cada

espécie animal ali instalada.

Contudo, pela importância atrelada a

esse abastecimento de água, não se pode

deixar de lado um controle mais minucioso

desta. Assim, seria justificada até a

implantação de rede de esgoto neste canil

próximo à nascente e também a instalação de

uma Estação de Tratamento de Água dentro

do Parque, dessa forma haveria um controle

mais adequado ao fornecimento de água a

esses animais.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que auxiliaram

nesta pesquisa, em especial a diretoria do

DMAE – Departamento Municipal de Água

e Esgoto, a diretoria do Zoológico Municipal

do Parque Sabiá, ao meu orientador, Noé

Ribeiro da Silva e ao CNPq pelo apoio

financeiro concedido a esta pesquisa.

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