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COMUNICADO TÉCNICO 365 Pelotas, RS Maio, 2019 Carlos Roberto Martins Rudinei De Marco Júlio Cesar Farias Medeiros Jorge Alberto Porto Maurício Gonçalves Bilharva Flávio Gilberto Herter Aspectos e Critérios Básicos para Implantação de Pomar de Nogueira-pecã ISSN 1516-8654 Foto: Carlos R. Martins

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COMUNICADO TÉCNICO

365

Pelotas, RSMaio, 2019 Carlos Roberto Martins

Rudinei De MarcoJúlio Cesar Farias MedeirosJorge Alberto Porto Maurício Gonçalves BilharvaFlávio Gilberto Herter

Aspectos e Critérios Básicos para Implantação de Pomar de Nogueira-pecã

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Aspectos e Critérios Básicos para Implantação de Pomar de Nogueira-pecã1

1 Carlos Roberto Martins, engenheiro-agrônomo, doutor em Fruticultura, pesquisador da Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS; Rudinei De Marco, engenheiro florestal, doutorando em Agronomia, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS; Júlio Cesar Farias Medeiros, engenheiro-agrônomo, mestre Desenvolvimento Regional, consultor da Nozes Pitol, Anta Gorda, RS; Jorge Alberto Porto,engenheiro-agrônomo, responsável técnico da Paralelo 30, Cachoeira do Sul, RS; Maurício Gonçalves Bilharva, engenheiro-agrônomo, doutorando em Agronomia, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS; Flávio Gilberto Herter, engenheiro-agrônomo, doutor em Fruticultura, professor da Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, RS.

IntroduçãoA cultura de nogueira-pecã (Carya

illinoinensis) tem motivado vários pro-dutores a iniciar seu cultivo no Brasil, principalmente devido à demanda crescente pelo fruto, tanto no mercado interno quanto externo, pelo baixo custo de implantação, quando comparado a outras frutíferas, pelo bom retorno finan-ceiro, por proporcionar a diversificação das atividades da propriedade, permitir o consórcio com culturas anuais e/ou animais (Figura 1) e ser uma cultura que pode ser explorada economicamente por mais de 100 anos.

A demanda brasileira por noz-pecã se evidencia nos incentivos à produção por parte das agroindústrias e também no volume de importação. No Brasil, as in-formações sobre importação estão des-critas como nozes, da qual a noz-pecã faz parte. Os principais países dos quais o Brasil importa nozes são Argentina,

Chile, China e Estados Unidos. Em 2018, houve a primeira importação de noz-pecã da Argentina para abastecer o mercado brasileiro. É evidente a grande lacuna existente no mercado brasileiro em relação à produção de noz-pecã, consistindo em grandes oportunidades de avanço no segmento produtivo. A ordem de importações oscilou de 3 mil a 5 mil toneladas de nozes no período de 2005 a 2016, enquanto que as expor-tações não ultrapassaram mil toneladas no mesmo período, indicando uma pro-dução brasileira deficitária (Martins et al., 2018).

O sucesso de um empreendimento, seja urbano ou rural, depende de uma série de fatores, entre eles: conheci-mento do assunto, estudo de mercado e adequado planejamento. Para a implan-tação de um pomar de nogueira-pecã não é diferente: deve ser encarado como um negócio que a se iniciar pela busca de informações sobre a cultura e/ou profissionais qualificados.

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Figura 1. Cultivo de noz-pecã consorciado com bovinos (A) em Cachoeira do Sul-RS e ovinos (B) em Santa Rosa, RS.

O cultivo da nogueira-pecã está loca-lizado nas regiões Sul e Sudeste, entre-tanto, sua produção concentra-se princi-palmente nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Desses, o Rio Grande do Sul se destaca pela área de cultivo, produção e pela inserção de viveiristas e agroindústrias responsáveis pelo processamento dos frutos. Apesar de a frutífera estar sendo cultivada em vários municípios do estado, destacam-se pioneiramente os municípios da re-gião de Anta Gorda e Cachoeira do Sul como os maiores produtores.

Muitos pomares de nogueira-pecã implantados no Brasil em décadas passadas apresentam baixa produti-vidade e qualidade de frutos, devido, basicamente, à falta de informações e conhecimentos sobre a cultura e, con-sequentemente, pela forma inadequada de implantação e condução das plantas, ocasionando desestímulo à cultura (Figura 2a). Somadas a outros fatores, as etapas de planejamento de insta-lação de um pomar são determinantes para que se possa obter o sucesso de pomar de pecã (Figura 2b).

Figura 2. Pomar de nogueira-pecã sem planejamento e manejo adequados (A) e pomar com uniformidade e boa condução das plantas (B).

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Nesse contexto, seu plantio requer um bom planejamento por meio de cui-dados como: escolha do local, seleção de cultivares, preparo do solo, plane-jamento da distribuição das plantas no pomar, preparo das covas e plantio das mudas, bem como tratos culturais, a fim de proporcionar produção uniforme e de qualidade.

A seguir, estão descritas os princi-pais critérios e etapas do planejamento da implantação de um pomar de nogueira-pecã.

1. PlanejamentoO planejamento de um pomar de

nogueira-pecã deve começar com o má-ximo de precaução, ao menos três anos antes do seu plantio, de forma que etapas fundamentais possam estar cumpridas e alguns pré-requisitos garantidos, como a busca por informações e conhecimento sobre a cultura, profissionais habilitados para assistência técnica, estudos de via-bilidade, local de instalação do pomar, principalmente relacionados aos aspec-tos edafoclimáticos, entre outros.

1.1 Viabilidade de cultivo e produção

Essa etapa é fundamental para que as expectativas não sejam frustradas. Consiste na realização de um estudo de viabilidade econômica do pomar de no-gueira-pecã, em que o produtor deverá realizar uma avaliação de prospecção

de mercado para identificar alguns pon-tos chaves:

• destino da produção (comerciali-zação direta, agroindústrias e/ou processamento dentro da proprie-dade);

• rentabilidade econômica do empre-endimento (custo de implantação e manutenção, início efetivo de pro-dução, preço provável a ser obtido pela venda das nozes, prazo para retorno do investimento);

• qualidade das nozes (o que o mer-cado e/ou agroindústrias neces-sitam e exigem, escolha das cul-tivares, mudas de qualidade com confiabilidade genético-fitossanitá-ria entre outros fatores determinan-tes de manejo do pomar);

• oferta de mão de obra (para execu-ção das atividades de campo e de orientação técnica);

• equipamentos e máquinas (neces-sidade de equipamentos e máqui-nas para facilitar o manejo do po-mar).

Estima-se que, atualmente, no Brasil, haja aproximadamente entre 8 mil e 10 mil ha de nogueira-pecã (Fronza et al., 2016; Martins et al., 2018) estabeleci-dos, e o interesse pela cultura continua crescendo, sendo que o Estado do Rio Grande do Sul é o maior produtor nacional, concentrando também as

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agroindústrias processadoras desse fruto.

A produção de noz-pecã depende muito da cultivar, número de plantas por hectare, idade das plantas, condições edafoclimáticas da região de plantio e manejo adotado no pomar. De acordo com Fronza et al. (2016), a produção média dos últimos anos, em cultivos da região Sul do Brasil, têm atingido entre 800 e 1.200 kg/ha/ano. No entanto, os autores comentam que, com o avanço de novos conhecimentos e tecnologias, com melhorias no manejo da cultura, pomares comerciais poderão apresentar potencial de produtividade média entre 2.000 e 3.000 kg/ha/ano, ou até superior.

A crescente demanda pelos consu-midores tem proporcionado ao peca-nicultor um bom preço de venda nos últimos anos, na faixa de R$ 12,00/kg (US$ 3 a US$ 4) do fruto com casca, desde que tenha alto rendimento de amêndoa, próximo a 50% (Fronza et al., 2017). Sendo que a produção pode iniciar aos quatro anos pós plantio em plantas enxertadas, mas com produção considerável e efetiva a partir do sétimo ano, podendo superar 100 anos de ida-de e continuar produtiva. Além disso, a noz-pecã, após ser colhida, secada e armazenada adequadamente, pode ser comercializada durante longo período, fugindo da época da safra, quando os preços são mais baixos. De acordo com Fronza et al. (2017), de modo geral, o custo de implantação varia de R$ 12 mil a R$ 16 mil/ha, num espaçamento de 10 m x 10 m (100 plantas/hectare).

1.2 Escolha do local em função do clima e solo

A cultura da nogueira-pecã se adapta com facilidade a regiões que apresen-tem regime de frio adequado às exigên-cias das plantas, e boa distribuição de chuvas ao longo do ciclo produtivo, sen-do determinante após a floração até o período de enchimento do fruto (Filippini Alba et al., 2018).

O crescimento e o desenvolvimento das plantas dependem das condições edafoclimáticas favoráveis. O clima é um dos principais fatores do ambiente que influenciam no desenvolvimento das pe-caneiras, visto que pode gerar danos às plantas de maneira direta (falta de frio, geadas tardias, ventos fortes, granizo, secas, umidade relativa) e, consequen-temente, pode influenciar em desordens fisiológicas e na incidência de pragas e enfermidades.

A maioria das cultivares de nogueira-pecã plantadas comercialmente requer, durante o desenvolvimento vegetativo e reprodutivo, pelo menos 180 a 200 dias com temperatura entre 24 ºC e 30 °C. No entanto, como espécie caducifólia de clima temperado, a nogueira-pecã apre-senta um período de repouso invernal e necessita de acúmulo de horas de frio (temperaturas inferiores a 7,2 ºC) para a superação de dormência. De acordo com Raseira (1990), parece que a exi-gência em horas de frio das cultivares implantadas no Rio Grande do Sul sa-tisfaz-se com 400 horas. Contudo, de acordo com Fronza et al. (2016), tem-se

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conseguido boa produção em regiões do estado com acúmulo em torno de 100 a 200 horas.

Portanto, deve-se evitar áreas com ocorrência de geadas primaveris (se-tembro/outubro) e/ou outonais (março/abril). Temperaturas superiores a 35 ºC também são prejudiciais, pois reduzem o crescimento das plantas, com risco de desidratação do pólen na época de po-linização. No enchimento do fruto, altas temperaturas podem afetar o tamanho da noz-pecã e o desenvolvimento da amêndoa (parte comestível); além dis-so, interferem no acúmulo de óleo. Em condições mais adversas, pode ocorrer também o aborto do fruto, ou seja, a queda prematura.

A nogueira-pecã apresenta necessi-dade hídrica anual considerável, entre 700 mm e 1.000 mm, no entanto, a necessidade de chuva é condicionada pelo estádio fenológico (Madero et al., 2012). No entanto, existem cultivares que se desenvolvem bem em locais que variam desde úmido até árido, desde que fornecendo-se artificialmente água (irrigação). No período de floração, a necessidade hídrica é mínima, contudo, no período de enchimento do fruto há aumento no requerimento de água. A implantação de um sistema de irrigação é crucial para se evitar abortamento de frutos, frutos pequenos e de baixa qua-lidade, principalmente em regiões com períodos de estiagem.

Os solos devem ser profundos, permeáveis e com bom porcentual de

matéria orgânica. Dentro das possibi-lidades e disponibilidade de áreas na propriedade, deve-se evitar solos com impedimentos físicos (presença de ro-chas, lençol freático superficial), químico (camada com alta concentração de alu-mínio) e biológico (pragas e doenças). Sempre que possível, o estabelecimento de pomares de nogueiras deve ser em solos férteis, profundos e bem drena-dos, pois a pecaneira não tolera solos mal drenados.

Devem ser evitadas também regiões com umidade relativa do ar superior a 80% no período de polinização (setem-bro/outubro), devido à dificuldade da li-beração do pólen das flores masculinas, resultando assim em menor fecundação; além disso, essa condição aumenta a ocorrência de enfermidades fúngicas, especialmente a sarna [Venturia effusa (sin. Fusicladium effusum, Cladosporium caryigenum)], principal doença da cultura.

Embora a polinização da nogueira-pecã seja realizada pelo vento (anemó-fila), ventos fortes podem causar vários danos à cultura, como: arranquio de plan-tas, morte de plantas, quebra de ramos e galhos, rápida desidratação do pólen e do estigma, inviabilizando a polinização, até casos extremos de arranquio de árvores (Figura 3) . Podem ser obser-vadas manchas castanhas e folhas com bordas quebradiças em regiões onde o pomar estiver exposto aos ventos secos e frios do sul. Nessas condições, devem ser instalados quebra-ventos.

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Figura 3. Nogueira-pecã arrancada pelos ventos fortes, evidenciando a necessidade de quebra-ventos, Cachoeira do Sul, RS.

1.3 MudasO principal método utilizado comer-

cialmente para a produção de mudas de nogueira-pecã é por enxertia de bor-bulhia, realizada no período primavera-verão. No processo atual de produção de mudas, a propagação por sementes (propagação sexuada) é utilizada para a produção de porta-enxertos. Embora seja possível produzir mudas por se-mentes (sem realizar o enxerto), esse processo não é recomendado, pois, além de não se saber a carga genética, as plantas podem demorar mais de 10 anos para começar a produzir, enquanto uma planta enxertada pode iniciar uma pequena produção já no quarto ano pós plantio. Dessa forma, a produção de mudas por sementes deve ser destina-da à obtenção de porta-enxertos, para ser então enxertadas com cultivares selecionadas.

Atualmente, todas as cultivares de nogueira-pecã podem ser utilizadas como porta-enxertos, mas normalmente

são preferidos os de cultivares com frutos pequenos e com boa disponibi-lidade anual, devendo ser obtidas de plantas com boa produtividade e sadias. Importante destacar que a semente da nogueira-pecã possui dormência tegu-mentar e embrionária, sendo necessá-ria, antes da semeadura, a escarificação mecânica para superar a dormência tegumentar (abrasão das sementes em superfícies ásperas, como lixa ou esmerilho) e a estratificação a frio, que tem por objetivo superar a dormência embrionária (fisiológica). Nesse proces-so, as sementes normalmente são dis-postas sobre camadas de areia úmida e mantidas por aproximadamente 90 dias em temperaturas próximas de 4 ºC.

As mudas podem ser adquiridas com raiz nua (que devem ser implantadas preferencialmente no inverno, entre ju-nho e agosto) ou mudas em embalagens plásticas (podendo ser implantadas o ano todo, mas também priorizar durante o inverno). Ambos os tipos de mudas possuem vantagens e desvantagens e a escolha por qual tipo a ser plantado deve levar em consideração a época de plantio, porte da muda desejado, sistema de cultivo entre outros, devendo um profissional técnico ser consultado. As mudas devem apresentar equilíbrio entre desenvolvimento de copa e raiz, bom vigor e sanidade.

As mudas devem ser encomendadas de viveiros registrados, com garantia de qualidade pelos órgãos de defesa sanitária vegetal do Estado, o Registro Nacional de Sementes (Renasem) e

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o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). A encomenda deve ser realizada no mínimo um ano antes da implantação do pomar, de modo que as mudas possuam qualidade e em quantidade suficiente para a im-plantação do pomar.

No Rio Grande do Sul, foi criada a Câmara Setorial da Nogueira-pecã (que juntamente desenvolveu o Programa Pró-pecã), onde pode se buscar vi-veiristas cadastrados no programa e outras informações através do link http://www.agricultura.rs.gov.br/pro-peca. Na Embrapa Clima Temperado, também podem ser obtidas informações sobre viveiristas de nogueira-pecã.

1.4 Escolha de cultivaresA escolha das cultivares (principal e

polinizadoras) é uma etapa muito impor-tante e devem ser observadas algumas características como: resistência a pragas e doenças, precocidade, produ-tividade, alternância de produção, tama-nho e qualidade das nozes (espessura da casca, rendimento e coloração da amêndoa), exigência em horas de frio, porte da planta, período/sincronização de polinização entre as cultivares do pomar, etc. (Hamann et al., 2018).

É importante destacar que a noguei-ra-pecã é uma planta monoica, com inflorescências estaminadas (masculi-nas) e pistiladas (femininas) separadas, que ocorrem na mesma planta. Porém, apresenta o fenômeno da dicogamia: em algumas cultivares amadurecem

(aptas a liberar pólen) primeiro as inflo-rescências estaminadas (classificadas como Protândricas – I) e, em outras, ( aptas a receber pólen) primeiro as inflorescências pistiladas (classificadas como Protogínicas – II), o que requer a polinização cruzada.

Tanto as cultivares denominadas “principais” como as “polinizadoras” são produtivas. Sendo que o termo “cultivar principal” é utilizado somente para destacar que é a cultivar com maior nú-mero de plantas no pomar. As cultivares “polinizadoras” estarão em menor nú-mero, sendo recomendado aproximada-mente 15% de cultivares polinizadores, divididas em três a quatro cultivares (ou mais) distribuídas adequadamente no pomar, com o objetivo de potencializar a polinização cruzada. Importante desta-car que a polinização cruzada é eficiente até aproximadamente 46 m de distância (Wells, 2017). Dessa forma, o planeja-mento de plantio deve levar em conside-ração essa distância máxima entre plan-tas principais e polinizadoras, de forma que todas as plantas principais possam ser adequadamente polinizadas. Para a escolha das cultivares polinizadoras, é necessário o conhecimento prévio da sua fenologia, com o objetivo de garantir que sincronizem a liberação do pólen no momento em que o estigma da cultivar principal esteja receptivo.

No Registro Nacional de Cultivares (RNC), do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, estão regis-tradas 41 cultivares de nogueira-pecã (http://sistemas.agricultura.gov.br/snpc/

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cultivarweb/cultivares_registradas.php). Algumas das principais cultivares comercializadas hoje no mercado na-cional foram descritas em publicação de Hamann et al. (2018), disponível no site da Embrapa, no link https://www.embrapa.br/clima-temperado/busca-de-publicacoes.

2. ImplantaçãoA implantação é uma das etapas

mais importantes do planejamento, pois as decisões tomadas afetam todo o ciclo da espécie. Deve-se, nessa etapa, não apenas pensar nas atividades de im-plantação propriamente ditas, mas tam-bém nas etapas de condução, manejo, colheita e transporte.

2.1 Coleta e amostragem de solo

Uma boa análise de solo inicia-se com a correta amostragem da área a ser implantada e posterior envio para labo-ratório credenciado. Para que a amos-tra do solo seja representativa, a área amostrada deve ser a mais homogênea possível, sendo muitas vezes neces-sário que a área a ser amostrada seja subdividida em talhões homogêneos.

Toda a área de implantação (de cada talhão) deve ser amostrada, e para a amostragem do solo pode-se utilizar pá de corte ou trado. As amostras de-vem ser coletadas em vários pontos

(subamostras), mediante uma cami-nhada em ziguezague coletando-se no mínimo em duas profundidades, 0 cm - 20 cm e 20 cm - 40 cm (ideal de 40 cm - 60 cm também), que deverão ser enviadas ao laboratório separadamente. Após a coleta das subamostras, homo-geneíza-se o solo, e cerca de 500 g de cada profundidade e talhão devem ser colocados em sacos plásticos perfeita-mente identificados para envio a labora-tório credenciado, solicitando-se análise completa, com macro e microelementos (CQFS-RS/SC, 2016).

Essa etapa deve ser realizada com seis meses de antecedência ao plantio das mudas, para que se tenha tempo para a análise, interpretação dos resul-tados e aquisição dos produtos para a correção, quando necessário.

A aplicação de calcário deve ser rea-lizada três meses antes da implantação das nogueiras, aplicando-se e incor-porando-se o calcário na área total do terreno (recomenda-se no momento do preparo do solo). A dosagem a ser apli-cada deve ser referente à necessidade corretiva, procurando elevar o pH entre 6,0 e 6,5.

As recomendações de adubação de pré-plantio, de crescimento e de ma-nutenção para a nogueira-pecã podem ser encontradas no Manual de Calagem e Adubação para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (CQFS-RS/SC, 2016).

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2.2 Formigas cortadeirasAs formigas cortadeiras (Atta sp.

= saúvas; e Acromyrmex sp. = quen-quéns) estão entre as principais pragas da maioria das culturas florestais e fru-tíferas, podendo desfolhar por completo desde mudas recém-plantadas até plan-tas com maior idade (Figura 4).

Figura 4. Nogueira-pecã atacada por formigas cortadeiras (A); formigas carregando amentos (inflorescência masculina) durante a floração (B).

O combate às formigas deve ser iniciado na primavera-verão anterior ao plantio e preparo da área, devendo ser

percorrida toda a extensão do pomar e áreas próximas, com o objetivo de identificação dos formigueiros e dos pro-cedimentos de controle inicial. Quando encontrados os formigueiros, o controle pode ser realizado por formicidas co-merciais em formulações líquidas ou em pó, ou então com iscas formicidas (gra-nuladas), que devem ser distribuídas nos carreiros (próximas aos olheiros dos formigueiros) ou de forma sistemática na área. Após esse combate inicial, deve-se realizar o repasse, que é a revisão do controle inicial para se combater os for-migueiros que sobreviveram à primeira etapa. Na primavera, as formigas estão mais ativas, sendo uma época favorá-vel à identificação dos ninhos, embora devam ser combatidas nas demais esta-ções também. Periodicamente, durante os anos, o combate às formigas deve ser contínuo.

No momento do plantio, também po-dem ser utilizadas barreiras físicas que impeçam o acesso das formigas à parte aérea das mudas. Comercialmente, existem produtos próprios para essa fi-nalidade, que são constituídos de espu-ma e fita plástica. No entanto, o produtor pode confeccionar uma barreira física com auxilio de espuma (colchão) e tiras de garrafa pet, que serão grampeadas (Figura 5). Importante destacar que, ao se utilizar tutor nas mudas, a barreira física deve ser instalada também nos mesmos, de forma a evitar que as for-migas acessem as plantas por meio do tutor.

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Figura 5. Tiras de espuma, de garrafa pet e grampeador utilizados para confeccionar a barreira física (A); e barreira física instalada na planta (B).

2.3 Preparo do soloO preparo do solo para plantio da no-

gueira-pecã deve ser realizado conforme as características da área e tipo do solo. Solos mal drenados devem ser evitados, no entanto, em algumas situações, a construção e plantio em camalhões se fazem necessários. Em áreas com declividades mais acentuadas, devem ser construídos terraços com canais de drenagem, quando necessário.

Como o sistema radicular da no-gueira-pecã é profundo, o solo deve ser subsolado a aproximadamente 60 cm de profundidade, principalmente em solos

que apresentam camadas compacta-das, ou então receber aração profunda, seguida de gradagem.

O preparo do solo deve ser realizado entre 60 e 90 dias antes da implantação das mudas, juntamente com a aplicação de calcário, fósforo (P) e potássio (K), se necessário, conforme a análise do solo.

Recomenda-se preparar o solo em área total, no entanto, se não for pos-sível, preparar em faixas de plantio; em locais que não permitem o preparo mecanizado, deve-se realizar a abertura das covas de forma manual (40 cm x 40 cm x 60 cm ou com tamanho superior, 60 cm x 60 cm x 80, conforme o sistema radicular) com incorporação de calcário e nutrientes.

2.4. Correção da acidez do solo, adubação pré-plantio e de crescimento

O principal objetivo da calagem é a correção da acidez, pois a disponibi-lidade da maioria dos nutrientes está relacionada com o pH do solo. De forma geral, o principal problema do pH baixo é a presença de alumínio, que é tóxico para as plantas; além disso, em solos ácidos ocorrem deficiências de cálcio e fósforo. A aplicação de calcário deve ser realizada três meses antes da im-plantação das nogueiras, aplicando-se e incorporando-se o calcário na área total do terreno (recomenda-se no momento do preparo do solo). A dosagem a apli-car deve ser referente à necessidade

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corretiva, procurando elevar o pH entre 6,0 e 6,5.

Com relação à adubação de pré-plantio, tem-se como objetivo básico suprir o nutriente mais limitante, que é o fósforo (P). Os solos brasileiros são na-turalmente ácidos, com elevados teores de óxidos de ferro e alumínio e pobres em fósforo (CQFS-RS/SC, 2016). Essa situação, associada à baixa mobilidade de P no perfil do solo, faz que sua apli-cação em área total e incorporação seja fundamental para o estabelecimento do pomar de pecaneira. Outro nutriente importante nessa fase é o potássio (K), no entanto sua demanda depende das condições do solo e tipo de material de origem (análise do solo); quando reco-mendado, deve ser aplicado da mesma forma que o P.

De acordo com os resultados da aná-lise do solo, outros nutrientes também podem estar em níveis baixos, sendo necessária a aplicação na adubação de pré-plantio.

A adubação de crescimento deve ser realizada com o objetivo de promover o desenvolvimento das plantas, sendo ini-ciada algumas semanas após o plantio. O principal nutriente utilizado nessa fase é o nitrogênio (N), o qual não foi utiliza-do no pré-plantio. O N é um elemento facilmente perdido por lixiviação no solo; por esse motivo, é recomendada a apli-cação de forma parcelada, entre três e quatro vezes durante o ano (nos meses de setembro, novembro e fevereiro). As

doses a serem utilizadas dependem do teor de matéria orgânica do solo, idade da planta, teores do nutriente no tecido foliar, entre outros fatores, recomendan-do-se aplicar a lanço na projeção da copa das plantas.

Tanto na implantação como na adu-bação de crescimento podem ser utili-zados adubos químicos e/ou orgânicos. Lembrando que o fornecimento de P e K pode ser utilizado em doses totais, apli-cados a lanço em toda a área e incorpo-rados no solo, enquanto o fornecimento de N deve ser dividido em pelo menos três vezes e aplicado na projeção da copa das mudas.

As recomendações de adubação para a nogueira-pecã podem ser encontradas no Manual de Calagem e Adubação para os Estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (CQFS-RS/SC, 2016).

2.5 Implantação de quebra-vento

Embora a polinização da noguei-ra-pecã seja realizada pelo vento (ane-mófila), ventos fortes podem causar vários danos à cultura, principalmente na fase de formação do pomar, como tortuosidade das plantas, quebra de tronco, galhos e ramos, além de inter-ferir na polinização. O quebra-vento é uma barreira física que tem por objetivo proteger as plantas da ação de ventos predominantes.

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Uma medida necessária, principal-mente na fase de formação do pomar, é o uso de quebra-ventos com espé-cies vegetais de rápido crescimento. Para o plantio de quebra-ventos, deve se dar preferência às espécies que competem pouco por nutrientes e água com as pecaneiras. Entre as espécies mais usadas, destacam-se o eucalipto, Casuarina sp., Pinus sp., Grevillea ro-busta, Cupressus lusitanica, entre outras espécies que apresentam crescimento rápido (como o capim-elefante), boa ra-mificação e que não sejam hospedeiros de pragas e doenças da nogueira-pecã. Devem ser dispostas em filas duplas ou triplas, perpendicularmente à direção dos ventos dominantes, para fornecer melhor proteção. É importante ressaltar que o quebra-vento não pode ser exces-sivamente compacto a ponto de impedir a passagem do vento: deve apenas reduzir a intensidade.

2.6 Espaçamento e marcação do pomar

Não se tem um espaçamento consi-derado “correto” ou “ideal” adotado em plantios de nogueira-pecã, pois a den-sidade de plantas por área pode variar em função das características edafocli-máticas, tratos culturais e manejo que serão adotados nas plantas; também se a área será utilizada no consorciamento com outras culturas ou pastagens para animais. É importante ressaltar que a nogueira-pecã difere de outras frutíferas,

comumente cultivadas no Brasil, pela altura e porte da planta.

Vários são os espaçamentos que po-dem ser adotados, porém, normalmente, não se recomenda mais do que 100 árvores por hectare. No entanto, são utilizados espaçamentos de 7 m x 7 m, 9 m x 6 m, 10 m x 10 m, 12 m x 12 m, 15 m x 15 m, entre outros. Quando utilizados espaçamentos mais adensados, poderá ocorrer maior incidência de pragas e doenças, devido à menor ventilação e receptação da radiação solar pelas plantas. Além disso, em pouco tempo, será necessária a retirada de árvores, para evitar a competição entre elas, ou a realização de podas das plantas, o que é de difícil realização, devido ao porte elevado das árvores.

A disposição das plantas em grandes pomares (alinhamento) (Figura 6) pode ser empregada no formato de quadrado, retângulo, triângulo, quincônio ou curva de nível.

Figura 6. Marcação do terreno para plantio de pecaneiras, Canguçu, RS.

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2.7 Época de plantio e cuidados essenciais

As mudas podem ser adquiridas com raiz nua (que devem ser implantadas preferencialmente no inverno – junho a agosto) ou mudas em embalagens plásticas (podendo ser implantadas o ano todo, mas recomenda-se entre ju-nho a agosto). As mudas adquiridas em embalagens deve-se ter o cuidado com enovelamento do sistema radicular, sen-do necessária, no momento do plantio, a remoção do fundo da embalagem por meio de um corte para eliminar as raízes emaranhadas.

Os pomares de nogueira-pecã po-dem ser exclusivos ou consorciados com culturas perenes (erva-mate, oliveiras, etc.) ou anuais (soja, trigo, milho, batata, melancia, tabaco, amendoim, etc.), nas entrelinhas. A partir do segundo/terceiro ano, pode-se consorciar também com ovinos e, a partir do quarto ano, com bovinos ou equinos.

A abertura da cova para o plantio das mudas pode ser realizada de forma ma-nual, semimecanizada ou mecanizada. Abertura manual é utilizada com enxa-dão, pá de corte e/ou cavadeira. A se-mimecanizada com perfurador de solo a gasolina e a mecanizada com perfurador de solo acoplado ao trator. Na broca do perfurador (Figura 7B), há necessidade de conter chapas de ferro para quebrar as paredes laterais da cova, a fim de se evitar o “espelhamento”, ou seja, a com-pactação das mesmas, especialmente em solos argilosos.

Figura 7. Perfurador de solo acoplado ao trator empregado para abertura de cova (A). Detalhe da ponta de ferro na rosca sem-fim, para evitar a compactação das paredes da cova ou “espelhamento” (B).

A abertura da cova deve ser realiza-da imediatamente antes da implantação das mudas e deve ser feita com tamanho suficiente, conforme o sistema radicular. Lembrando que o solo já foi preparado

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antecipadamente, nessa etapa a abertu-ra da cova tem por finalidade somente a implantação das mudas. A utilização de composto orgânico, esterco e ou cama de aviário (todos bem curtidos), ao fundo da cova (deve ser misturado com o solo) pode ser utilizado nesse momento. A matéria orgânica via esterco e/ou com-posto orgânico, se não estiver curtida, vai provocar a queima das raízes e mor-te das plantas.

Após a abertura da cova e a implan-tação da muda, o solo deve ser leve-mente compactado ao redor da muda, construindo-se uma bacia ao redor da planta e adicionando-se água até que o solo fique encharcado (Figura 8). Esse processo elimina as bolsas de ar e man-tém as raízes úmidas. Após a absorção da água e o consequente rebaixamento do solo, deverá ser adicionada mais uma quantidade de solo, o suficiente para co-brir totalmente o colo da muda, para que não fiquem raízes descobertas.

2.8 TutoramentoEm regiões com ventos fortes, é ne-

cessária a realização do tutoramento da planta, objetivando evitar a movimenta-ção da planta pela ação do vento (Figura 8B). Para o tutoramento, podem ser utilizadas estacas de madeira ou bambu (conforme disponibilidade do material existente na propriedade). O tutor deve ser colocado ao lado da muda (distante ± 8 cm da muda) no momento do plantio, antes de se completar a cova com solo, de modo a não danificar as raízes. Em

seguida, a planta deve ser amarrada ao tutor com fitilho plástico em forma de “8”. O tutor deve ficar na direção do vento predominante durante a primavera e verão e, quando a muda apresentar inclinação, posicioná-la de forma oposta ao tutor, para que, pela amarração da muda, seja verticalizada.

Figura 8. Adição de água no momento do plantio da pecaneira com exemplo de uma barreira física contra roedores (A); e tutoramento inicial das plantas para evitar quebra pela ação dos ventos (B).

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Juntamente com o tutoramento, em algumas regiões, é necessário proteger as mudas contra roedores, utilizando-se barreiras físicas (Figura 8A) contra lebres, capivaras, veados ou outros animais. Uma técnica empregada com sucesso é o uso de tubos plástico, o que também pode auxiliar na redução dos danos por formigas.

2.9 IrrigaçãoEmbora a nogueira-pecã não suporte

solos mal drenados, ela também é extremamente sensível à falta de água no solo. Em regiões que apresentam períodos de estiagem durante as fases de desenvolvimento das nogueiras, é necessário o fornecimento artificial de água às plantas (irrigação). Em casos de falta de água no solo, as plantas apre-sentam baixo crescimento, podendo ocorrer até morte de mudas logo após o plantio a campo, ou mesmo após alguns meses do plantio. A primeira primavera-verão, nas condições do Rio Grande do Sul, é crítica para a falta de água. Em plantas em produção, o déficit hídrico ocasiona redução na produção, com a queda das nozes e frutos menores e mal preenchidos, bem como redução na formação de reservas para a produção do ano seguinte.

Juntamente com a água da irrigação, que pode ser por gotejamento, micro-aspersão ou aspersão subcopa, podem ser aplicados fertilizantes (fertirrigação), que é uma técnica de adubação que utiliza a água da irrigação para levar os nutrientes ao solo.

2.10 Poda No momento da implantação, é reco-

mendado podar aproximadamente 1/3 até 1/2 da muda (enxerto). Essa ativi-dade é importante, pois, além de com-pensar (equilibrar) as raízes que foram perdidas ou danificadas no momento da implantação, também elimina o aglo-merado de gemas presente no ápice da muda, evitando e formação de “pé de galinha” e/ou forquilhas. Essa poda também visa estimular o crescimento secundário do caule da planta, ou seja, o crescimento em espessura (diâmetro) e estimular o desenvolvimento de novas brotações ao longo do caule.

Já no primeiro ano após o plantio das mudas a campo, a poda de formação deve ser iniciada, conduzindo-se a plan-ta em forma de líder central modificado, realizada no inverno, (julho a agosto) e complementada com poda verde, quan-do necessário (outubro a dezembro). Esse tipo de poda deve ser realizado anualmente até o sexto ou sétimo ano.

Podas de frutificação, de clareamen-to, fitossanitárias de renovação e verde também devem ser incluídas nos tratos culturais e de manejo do pomar.

2.11 Controle de plantas daninhas

A limpeza na projeção da copa (Figura 9), ou em toda linha de plantio das no-gueiras, visa eliminar plantas invasoras que competem por água, luz e nutrien-tes, prejudicando o crescimento e o desempenho do pomar. Nas entrelinhas,

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pode-se realizar roçadas, que não elimi-ne totalmente as plantas indesejáveis, mas as mantenha baixas, evitando as-sim o sombreamento das plantas jovens. Essa atividade é recomendada desde o momento do plantio até a planta adulta.

Figura 9. Controle de plantas espontâneas na projeção da copa.

Essa prática pode ser realizada mediante o uso de herbicidas, capina com enxada ou então manutenção de cobertura sobre o solo, chamada de mulching. Vários tipos de materiais po-dem ser utilizados na cobertura, como folhas secas, grama, lascas de madeira, casca de arroz, palhada de aveia, capim Cameron, feno, bagaço de cana, lonas plásticas, papelão, entre outros. Deve-se ter cuidado com materiais com alta relação C/N (superior a 30), pois, nes-ses casos, ocorre a imobilização do N do solo, podendo ocasionar deficiência nutricional.

Quando a opção de controle das plantas daninhas for por meio de capinas mecânicas (enxada), as mesmas devem ser realizadas superficialmente para não

danificar o sistema radicular das plantas de pecã.

2.12 Adubação orgânica Pode ser usado adubo de diversas

origens, desde que esteja bem curtido, como cama de aviário, esterco bovino, esterco ovino, etc. É fundamental man-ter a planta com brotações vigorosas e sadias. Para sua utilização, é importante conhecer a composição química da fonte orgânica, de modo que possa ser utilizada a quantidade que satisfaça a necessidade dos nutrientes requeridos pela planta.

3. Considerações Finais

A nogueira-pecã é uma espécie fru-tífera arbórea que tem se adaptado às condições edafoclimáticas da maioria das regiões sul-brasileiras. Há mais de 100 anos cultivada em solo brasileiro, a baixa produtividade de pomares an-tigos, devido à falta de informações na época, demonstram a necessidade de planejamento e de informações técnicas adequadas à cultura.

O êxito de um pomar de noguei-ra-pecã depende de muitos fatores determinantes para que se possa obter o sucesso na produção. Inicia-se antes mesmo de implantação, com a busca por informações técnicas sobre a cul-tura, de forma a possibilitar o correto

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planejamento, seja para a implantação, condução ou colheita dos frutos.

Portanto, com os conhecimentos e cuidados técnicos adotados na implan-tação das mudas, há grandes possibili-dades de se obter ótimas produtividades com a cultura, representando uma exce-lente oportunidade de geração de renda para pequenos e grandes produtores.

ReferênciasCQFS-RS/SC (COMISSÃO DE QUÍMICA E FERTILIDADE DO SOLO – RS/SC). Manual de calagem e de adubação para os Estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina. 11. ed. [S.I.]: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo/Núcleo Regional Sul, 2016. 376 p.

FILIPPINI ALBA, J. M.; WREGE, M. S.; ALMEIDA, I. R. de; MARTINS, C. R. Critérios e indicadores edafoclimáticos para o cultivo da nogueira-pecã no sul do Brasil. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2018. 17 p. (Embrapa Clima Temperado. Documentos, 479).

FRONZA, D.; HAMANN, J. J.; MARTINS, C. R. Lucratividade da noz-pecã é ponto alto do cultivo. Campo & negócios Hortifruti, São Paulo, p. 62-63, out. 2017.

FRONZA, D.; POLETTO, T.; HAMANN, J. J. O cultivo da nogueira-pecã. Santa Maria: UFSM: Colégio Politécnico: Núcleo de Fruticultura Irrigada, 2016. 424 p.

HAMANN, J. J.; BILHARVA, M. G.; BARROS, J. de; MARCO, R. de; MARTINS, C. R. Cultivares de nogueira-pecã no Brasil. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2018. 43 p. (Embrapa Clima Temperado. Documentos, 478).

MADERO, E. R.; FRUSSO, E. A.; BRUNO, N. R. Desarrollo del cultivo de la nuez pecan en la Argentina. Buenos Aires: INTA, 2012. E-book. Disponível em: http://procadisaplicativos.inta.gob.ar/cursosautoaprendizaje/pecan/home.html. Acesso em: 09 jul. 2018.

MARTINS, C. R.; CONTE, A.; FRONZA, D.; ALBA, J. M. F.; HAMANN, J. J.; BILHARVA,

M. G.; MALGARIM, M. B.; FARIAS, R. M.; DE MARCO, R.; REIS, T. S. Situação e Perspectiva da Nogueira-pecã no Brasil. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 2018. 33 p. (Embrapa Clima Temperado. Documentos, 462).

RASEIRA, A. A cultura da Nogueira Pecã (Carya illinoinensis). Pelotas: Embrapa Clima Temperado, 1990. 3 p. (Embrapa Clima Temperado. Comunicado Técnico, 63).

RIO GRANDE DO SUL. SEAPI (Secretaria da Agricultura, Pecuária e Irrigação). Câmaras setoriais. Nota Técnica: Noz Pecan 2017. Disponível em http://www.agricultura.rs.gov.br/upload/arquivos/201707/26091818-nt-noz-pecan-17.pdf. Acesso em: 25 set. 2017.

WELLS, L. (Ed.). Southeastern Pecan Growers’ Handbook. Athens: University of Georgia, 2017. 236 p.

Literatura Recomendada

POLETTO, T.; LAZAROTTO, M.; BAGGIOTTO, C.; MUNIZ, M. F. B.; POLETTO, I.; HAMANN, J. J.; MACIEL, C. G.; WALKER C. Análise de características dos frutos de cultivares de nogueira-pecã cultivadas no Rio Grande do Sul. In: SIMPÓSIO DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO - APRENDER A EMPREENDER NA EDUCAÇÃO E NA CIÊNCIA, 16., 2012, Santa Maria. Anais... Santa Maria: UNIFRA, 2012.

UNIVERSITY OF GEORGIA. Pecan Breeding. Disponível em: http://www.caes.uga.edu/extension-outreach/commodities/pecan-breeding/cultivars/alphabetical-list.html. Acesso em: 08 April 2018.

USDA. [Alphabetic Search by Cultivar Name]. Disponível em: https://cgru.usda.gov/CARYA/PECANS/pecalph.htm. Acesso em: 20 mar. 2018.

USDA. NCGR Pecan/Hickory Database (Pecan Cultivars). Disponível em: http://aggie-horticulture.tamu.edu/usda_pecan/ Acesso em: 20 mar. 2018.

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Comitê Local de Publicações da Embrapa Clima Temperado

PresidenteAna Cristina Richter Krolow

Vice-PresidenteÊnio Egon Sosinski

Secretária-ExecutivaBárbara Chevallier Cosenza

MembrosAna Luiza B. Viegas, Fernando Jackson, Marilaine Schaun Pelufê, Sônia Desimon

Revisão de textoBárbara Chevallier Cosenza

Normalização bibliográficaMarilaine Schaun Pelufê

Editoração eletrônicaNathália Santos Fick (estagiária)

Foto da capaCarlos R. Martins

Embrapa Clima TemperadoBR 392 km 78 - Caixa Postal 403

CEP 96010-971, Pelotas, RSFone: (53) 3275-8100

www.embrapa.br/clima-temperadowww.embrapa.br/fale-conosco

1ª ediçãoObra digitalizada (2019)

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5274