ASPECTOS BIOECOLÓGICOS DO AÇUDE SANTO … Um dos primeiros trabalhos de que se tem notícia sobre...

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ASPECTOS BIOECOLÓGICOS DO AÇUDE SANTO ANASTÃCIO DO CAMPUS DO PICI DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÃ* JOS~ FAUSTO FILHO.. RESUMO INTRODUÇÃO o presente trabalho trata do estudo de alguns aspectos bioecológicos das espécies de animais e vege- tais que habitam ou vivem nas margens do Açude Santo Anastácio do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará.Cerca de 5 espécies de plantas aquáticas foram identificadas, bem como 4 de crustáceos, 2 de moluscos, 12 de inse- .;os, 12 de peixes, 2 de anfíbios, 14 de serpentes, 6 de larcertílios e 2 de aves. Para que haja uma exploração racional dos recursos aquáticos do Nordeste brasileiro é necessárioque se conheça, entre outros fatores, aqueles relacionados com a ecologia e a biologia das espécies que compõem esses ambientes limnológicos. Com relação a esses aspectos, tanto a ecologia como a biologia e até mesmo a sistemática das espécies de plantas e de animais que vivem no Açude Santo Anastácio ou nas suas margens são muito pouco conhecidas. Um dos primeiros trabalhos de que se tem notícia sobre o assunto trata-se do de BASTOS & PAIVA', seguido dos subsídios de PAIVA & BARRETO'o, PAIVA & COSTA" e FAUS- TO-F I LHO"', 5, ao estudarem, respectivamente, os camarões e moluscos da referida coleção d'água. Posteriormente, os estudos de OLIVEI- RA9, FERNANDES6' BORGES2, MARCON- DES8 e KLEIN7 deram uma contribuição razoável ao conhecimento das condições físicas e químicas, limnológicas, bio-pesqueiras e planctológicas do Açude Santo Anastácio. Os dados abordados neste projeto resultam de uma pesquisabibliográfica e de um intensivo trabalho de campo, completado pelo estudo em laboratório dos organismos coligidos na área estudada (Fig. 1). Esta, segunda PAIVA & BAR RETO' O faz parte de uma pequena bacia potamográfica do Nordeste brasileiro e locali- zada no Município de Fortaleza, no Estado do Ceará. SUMMARY BIOECOLOGICAL ASPECTS OF SANTO ANASTACIO DAM OF THE PICI CAMPUS - FEDERAL UNIVERSITY OF CEARA. In this paper the author studied some bioecological aspects of the vegetal and animal species that live in and margin of the Santo Anastacio Dam of the Centro de Ciencias Agra- rias of the Federal Ceara University. About 5 species of plants were idenfified, as well as 4 speciesof crustaceans, 2 mollusks, 12 insects, 12 fishes, 2 amphibians, 14 snakes, 6 lizards and 2 birds species. Palavras-Chave: Bioecologia, ecologia, ambien- tes aquáticos, animais e vege- tais aquáticos. * Trabalho integrante do Projeto Piscicultura (PDCT!UFC) CE 13. ** Professor Adjunto do Departamento de Enge- nharia de Pesca da UFC e Pesquisador do CNPq. aên. Agron., Fortaleza, 19(2): pág. 79-84, Dezembro, 1988 " 79

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ASPECTOS BIOECOLÓGICOS DO AÇUDE SANTO ANASTÃCIO DOCAMPUS DO PICI DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÃ*

JOS~ FAUSTO FILHO..

RESUMO INTRODUÇÃO

o presente trabalho trata do estudo de algunsaspectos bioecológicos das espécies de animais e vege-tais que habitam ou vivem nas margens do AçudeSanto Anastácio do Centro de Ciências Agrárias daUniversidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará. Cercade 5 espécies de plantas aquáticas foram identificadas,bem como 4 de crustáceos, 2 de moluscos, 12 de inse-.;os, 12 de peixes, 2 de anfíbios, 14 de serpentes, 6 delarcertílios e 2 de aves.

Para que haja uma exploração racional dosrecursos aquáticos do Nordeste brasileiro énecessário que se conheça, entre outros fatores,aqueles relacionados com a ecologia e a biologiadas espécies que compõem esses ambienteslimnológicos. Com relação a esses aspectos,tanto a ecologia como a biologia e até mesmo asistemática das espécies de plantas e de animaisque vivem no Açude Santo Anastácio ou nassuas margens são muito pouco conhecidas. Umdos primeiros trabalhos de que se tem notíciasobre o assunto trata-se do de BASTOS &PAIVA', seguido dos subsídios de PAIVA &BARRETO'o, PAIVA & COSTA" e FAUS-TO-F I LHO"', 5, ao estudarem, respectivamente,os camarões e moluscos da referida coleçãod'água. Posteriormente, os estudos de OLIVEI-RA9, FERNANDES6' BORGES2, MARCON-DES8 e KLEIN7 deram uma contribuiçãorazoável ao conhecimento das condições físicase químicas, limnológicas, bio-pesqueiras eplanctológicas do Açude Santo Anastácio.

Os dados abordados neste projeto resultamde uma pesquisa bibliográfica e de um intensivotrabalho de campo, completado pelo estudo emlaboratório dos organismos coligidos na áreaestudada (Fig. 1). Esta, segunda PAIVA &BAR RETO' O faz parte de uma pequena bacia

potamográfica do Nordeste brasi leiro e locali-zada no Município de Fortaleza, no Estado doCeará.

SUMMARY

BIOECOLOGICAL ASPECTS OF SANTOANASTACIO DAM OF THE PICI CAMPUS -FEDERAL UNIVERSITY OF CEARA.

In this paper the author studied somebioecological aspects of the vegetal and animalspecies that live in and margin of the SantoAnastacio Dam of the Centro de Ciencias Agra-rias of the Federal Ceara University. About5 species of plants were idenfified, as well as4 species of crustaceans, 2 mollusks, 12 insects,12 fishes, 2 amphibians, 14 snakes, 6 lizardsand 2 birds species.

Palavras-Chave: Bioecologia, ecologia, ambien-tes aquáticos, animais e vege-tais aquáticos.

* Trabalho integrante do Projeto Piscicultura

(PDCT!UFC) CE 13.** Professor Adjunto do Departamento de Enge-

nharia de Pesca da UFC e Pesquisador do CNPq.

aên. Agron., Fortaleza, 19(2): pág. 79-84, Dezembro, 1988" 79

Figura 1 - Contorno da bacia hidráulica do Açude Santo Anastácio, da Escola de Agronomia da UFC, com alocalização (A, B, C, D, E, F, G) das áreas onde foram coletadas as amostras dos vegetais e animais que vivemneste ou nas suas margens.

CONSIDERAÇÕES SOBREA ÁREA ESTUDADA

Segundo MARCONDES8 e PAIVA &BARRETO10 o Açude Santo Anastácio é umpequeno reservatório localizado no Municlpiode Fortaleza, fazendo parte de um sistemahidrográfico constituido por vários riachos, taiscomo: riacho Alagadiço Grande, rio Marangua-pinho, uma pequena zona de mangue, umalagoa (Ginibaú) e dois pequenos açudes, sendoum pequeno e um principal, maior. Atual-mente, contornando este açude estão os bairrosdo Alagadiço, Amadeu Furtado, Pici, Cachoei-rinha e Bela Vista (Fig. 2).

Geograficamente, a localização do AçudeSanto Anastácio fica compreendida entre os

o opontos de 03 04' Lat. S e 38 35' Long. W,abrangendo uma bacia hidráulica com cercade 12,8 hectares e uma bacia hidrográfica comaproximadamente 143.400m2.

minada Açude Santo Anastácio, cujas carac-terísticas básicas foram descritas no tópicoanterior.

O referido material constou de vegetais e-de animais macroscópicos coletados na águaou nas proximidades das margens do mencio-nado açude, sendo constitu{do principalmentede vegetais superiores e dos grupos zoológicosrepresentados pelos crustáceos, insetos, molus-cos, peixes, anfíbios, répteis e aves.

A metodologia de coleta desses organismosconsistiu em capturas semanais e diurnas emcertos pontos do açude considerados estratégi-cos e tidos como estações sem uma delimitaçãomuito precisa, totalizando 7, ao todo, numperíodo de um ano. Por outro lado, muitosdados foram obtidos através de entrevistasesporádicas com antigos pescadores na área,bem como por intermédio da bibliografiaconsultada e disponível.

Durante as coletas o material era condicio-nado convenientemente em vidros ou sacosplásticos contendo álcool ou formol nas devidasproporções. Em laboratórios era procedida atriagem do material e realizada a identificaçãopelos especialistas nos diversos grupos estu-dados. Após a identificação, a maior parte domaterial era catalogada e conservada comoacervo dos diversos laboratórios dos departa-

MATERIAL E METODOS

o material em que se baseia o presentetrabalho foi extraído de uma pequena baciahidrográfica localizada no campus universitáriodo Pici, na área do Centro de Ciências Agráriasda Universidade Federal do Ceará, e deno-

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Alagadiço

AmodeuFurtadoCochoeirinho Açw"." $0/1'.

"' A/lo.,dc/o

Belo Visto

Pici

DemócritoRacho

Figura 2 - Mapa parcial da cidade de Fortaleza, Ceará, evidenciando a localização do Açude Santo Anastácioe os bairros que o contornam (Segundo Marcondes8).

mentos envolvidos, tais como: Engenharia de acanthunls (camarão canela, canelão), M.Pesca, com os moluscos, crustáceos e peixes; carcinus (camarão pitu), M. amazonicum (cama-Fitotecnia, com os insetos e Biologia, com as rão canela).plantas, anfíbios e répteis.

LISTA DAS ESP~CIESINVENTARIADAS

Insetos

Ordem Lepdoptera - Fam(lia Nymhalidae:Ageromia sp (borboleta carijó) - Fam(liaHesperiidae: Eusamus sp. (diabinho) - Fam(liaPreridae: Ascia orseis (curuquerê da couve);Ordem Hemiptera - Fam(lia Belostomatidae:Lethocerus sp. (barata d'água) - Fam(liaHydromtridrae: Hydrometra sp. - Fam(liaCoriscidade: Coriscus sp. - Fam(lia Pyrhoco-ridae: Dysdercus sp. (bicho do algodão) -Famflia Gerridae: Gerris sp.; Ordem Odonata -Fam(lia Libellulidae: Sympetrum rubiandim(mané-mago) - Famflia Coenagriidae: Enalla-gma hagem (mané-mago); Ordem Orthoptera -Famflia Tettigoniidae: (esperança); OrdemColeoptera - Fam(lia Chrysomelidae: Cassida

sp. (besouro).

Vegetais

Ordem Cyperales - Família Cyperaceae:Cyperus sp. (tiririca); Ordem Graminales -Família Pontederiaceae: Panicum aquaticum(capim guiné), Eichornia crossipes (Orelha deonça, água-pé); Ordem Violales - Família Flo-raceae: Pistia stratiotis (flor d'água, mururé).

Animais

Moluscos gastrópodos

Ordem Basomatophora - Família Phanor-bidae: Biomphalaria sp. (caramujo); OrdemMesogastropoda - Família Ampularidae:Pomacea haustrum (aruá, uruá). Peixes

Ordem Perciformes - Família Cychlidae:Cyclosoma bimaculatum (cará), Oreocromis O.niloticus (tilápia, carátilápia); Ordem Cyprino-dontiformes - Família Anabanthidae: Betta

Crustáceos

Ordem Decapoda - Família Palaemonidae:Macrobrachium jelskii (camarão sossego), M.

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sp. (beta) - Família Percilidae: Poecilia vivipara(guaru, guarguru) - ~amília Erythrinidae:Hoplias malabaricus (traíra); Ordem Silurifor-mes - Família Loricariidae: Plecostomus ple-

costomus (bodó), Plecostomus sp. (cascudo);Ordem Characiformes - Família Anostomi-dae: Hoplarythrinus sp. (iu) - Leporinusfriderici (piau) - Família Characidae: Astinakbimaculatus (piaba), Serrasalmus bandtii(pirambeba) - Família Symbranchidae: Sym-branchus marmoratus (muçum).

Epicrotes cenchria (salamanta) - FamíliaViperidae: Leptadeira annulata (jararaca).Crotalus durissu (cascavel). Bothrops erytro-nelas (jararaca) - Família Elapidae: Micruruslemniscotus carvalhai (cobra-coral).

Aves

Ordem Anseriformes - Fam{lia Anatiidae:(mergulhão); Ordem Ciconiformes - Fam{liaArdeidae: (socó).

DISCUSSÃO E CONCLUSÕESAnfíbiosI

Ordem Anura - Família Bufonidae: Bufoparacnemis (sapo, cururu) - Família Hylidae:Hyla fuscovaria (perereca, ralinha).

Répteis

Ordem Squamata (Subordem Sauria) -Família Iguanidae: Iguana iguana (sinimbu,câmaleão) , Tropidurus torquatus (lagartixapreta), Polychyrus acutirostris (camaleão) -Família Teiidae: Ameiva ameiva (tijubina,calango verde), Typinambis tequixim (tejo,lagarto) - Família Gekkonidae: Hemida(:tylus

agrius (osga).Subordem Serpentes - Família Colubridae:

Clelia occipitolutea (cobra-preta), Leimodaphisahaetula (cobra-cipó), Oxyrhopsus trigeminus(cobra-coral), Philodryas nattereri (cobra-verde), P. olfersii (cobra verde, cobra de cipó),Thamnodynastes nattereri (jararaca), Oxybelisaeneus (cobra-cipó) - Família Boidae: Boaconstrictor constrictor (cobra de viado),

o Açude Santo Anastácio mostrou umaflora e uma fauna relativamente ricas (T ABE-LA 1), apesar do seu pequeno porte, volumede água e poluição desta. Sob este aspecto,MARCONDES8 e FERNANDES6 constataramteores elevados de CO2 na água e um acúmulomuito grande de matéria orgânica e de nitritos.Apesar disso, MARCONDES8 considerou aágua do açude estudado em "boas condiçõespara o desenvolvimento da vida aquática,podendo ser aproveitada para a piscicultura".Isto merece destaque, pelo fato de um dosobjetivos principais do presente trabalho, visaro aproveitamento completo desta coleçãod'água para projetos de aqüicultura, tanto depeixes como de outros organismos aquáticosque habitam o referido reservatório.

Quanto aos aspectos físicos, químicos ebacteriológicos analisados por BbRGES2, estesrevelaram um alto teor de coliformes das espé-cies Eschrichia coli Migula e Aerobacteraerogenes Kruse, além de valores elevados de

TABELA 1

Relação do Número de Ordens, Famrlias, Gêneros e Espécies dos Grupos de Animais Encontradosno Açude Santo Anastácio, ou nas suas Margens, Durante o Período de

Julho de 1986 a Julho de 1987. Fortaleza, 1986/87.

3 3 5

21

1292

7 (3 +4)2

21

11112

19 (6 + 13)2

20 (,

21541

1(2subordens)2

19 38 53 59

* Das duas subordens citadas (Sauria e Serpentes), a primeira apresentou 3 famílias e seis gêneros e seis espé.

cies, enquanto que a segunda apresentou 4 famílias, 13 gêneros e 14 espécies.

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24

12122

6+'2

14)

nitritos e de cloro livre, chegando a confirmaruma elevada poluição mas considerando aindaaproveitável para fins piscícolas, porém impró-prias para consumo humano.

Sob o ponto de vista limnológico FER-NAND ES6 destacou uma turbidez bastanteelevada nas águas do açude, que apresentaramuma transparência entre 40 e 73cm, bem comouma taxa de oxigênio muito baixa e teor deCO2 elevado, aliado a um pH variando de 7,3 a7,9, causando isso uma produtividade boa paraa coleção d'água.

Com relação aos estudos de OLIVEIRA9,ao examinar as condições biológicas e pesquei-ras do açude, concluiu que as águas do reserva-tório apresentam um plânction rico e uma florae fauna aquáticas bastante significativas, repre-sentadas por crustáceos, insetos, peixes, anfí-bios e aves, além de uma produção média deorganismos bentõnicos, ilustrados principal-mente por quironomídeos, culicídeos e outrosinsetos do gênero Chaoborus.

Sob o ponto de vista planctõnico, KLEIN7também achou o Açude Santo Anastácio bompara piscicultura, apesar do grau de poluiçãoapresentado, e considerou o fitoplâncton predo-minante sobre o zooplâncton, principalmenteno que se refere ao número de espécies.

Quanto aos estudos realizados no presenteprojeto, e relacionados com a bioecologia doAçude Santo Anastácio, destacamos mais osaspectos qualitativos do que os quantitativosem virtude das dificuldades acarretadas peladeficiência de recursos materiais e financeiros.

Com base no material coligido referente asplantas aquáticas, somente 5 espécies foramcoletadas, merecendo destaque aquela conhe-cida vulgarmente por orelha-de-onça ou água-pé, por proliferar abundantemente no açude.Em seguida vem a canarana ou capim-guiné.

Com relação às plantas observadas porOLIVEIRA9, além daquelas citadas no presentetrabalho, citado autor relaciona as espéciespimenta d'água (Polygonum acre), mão-de-sapo(Enoteraceae), junco (Oleocharis capitais) eNeptunia sp. sem denominação vulgar. Estáclaro que, ao longo dos anos, algumas espéciestenham desaparecido do citado açude, consi-derando que OLIVEIRA9 trabalhou com oreferido grupo há doze anos atrás.

No que diz respeito aos animais, foi ogrupo dos moluscos o menor de todos, ondeapenas duas espécies foram observadas, sendoambas bastante abundantes no açude. Umadelas, Biomphalaria sp. representa para a popu-lação que vive nas margens do açude e para opessoal que utiliza as águas daquele reservatório

no manejo das atividades piscícolas, um perigode contaminação pelo Schistosoma mansoni,que usa o referido cara mujo como seu hospe-deiro intermediário. Quanto à outra espécie,Pomacea haustrum, vulgamente conhecidacomo aruá ou uruá, devido a sua grandeabundância e tamanho acentuado, pode seraproveitada para alimentação de peixes ou decrustáceos na estação de piscicultura que ficaa jusante do açude.

No que se refere aos crustáceos, é a espécieMacrobrachium jelskii, camarão sossego, o maisabundante, constituindo um potencial alimen-tício bastante elevado para alimentação dospeixes e dos crustáceos cultivados na estaçãode piscicultura. O pitu (Macrobrachium carci-nus), outrora bastante abundante naquela cole-ção d'água, hoje se encontra praticamente desa-parecido daquele local, o mesmo acontecendocom o camarão canela ou canelão (Macrobra-chium acanthurus) , que, atualmente, é consi-derado raro.

Com relação aos insetos, a classe maisabundante dos animais examinados no presentetrabalho, merece destaque o grupo das libélulas(Odonata) pela grande quantidade de indiví-duos e de espécies que vivem em torno doaçude estudado. As espécies coletadas que maisse destacaram foram: Enalagma hagem e Sym-petrum rubiandim, conhecidas vulgarmente pormané-mago, ambas extremamente nocivas aosalevinos dos peixes criados na estação de pisci-cultura localizada nas proximidades do açude.Também merece destaque, pela sua nocividade,as baratas-d'água do gênero Lethocerus,bastante abundantes no citado açude.

Quanto aos peixes, apesar de existirem emquantidade, já foram outrora muito maisabundantes, segundo os pescadores locais.Segundo estes, as freqüentes estiagens, aliadasao incremento da poluição, têm provocado umaacentuada redução do número de peixes e deespécies do Açude Santo Anastácio. Constituium dos melhores exemplos, segundo eles, odesaparecimento do pema (Tarpon atlanticus),outrora abundante, o mesmo acontecendo como muçum (Symbranchus marmoratus) , prati-camente extinto da referido coleção d'água.Atualmente, o peixe predominante é a tilápia(Oreochromis O. niloticus) dotada de rustici-dade e resistindo bem aos problemas de polui-ção do açude.

No que tange aos anfíbios, somente duasespécies (Bufo paracnemus e Hyla fuscovaria)representantes, respectivamente, das fam(liasBufonidae e Hylidae são encontradas no açude,sendo ambas abundantes, o que pode indicar

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REFERE~NCIAS BIBLIOGRAFICASuma boa potencialidade sob o ponto de vista deaproveitamento do reservatório para a ranicul-tura.

Quanto aos répteis, (T ABE LA 1), ambas assubordens squamata e serpentes são bem repre-sentadas na área em estudo, principalmente aúltima, que conta com uma grande variedade deespécies notadamente os colubrideos, cujaespécie Oxyrhopsus trigeminus (cobra coral)é, relativamente, abundante. Com referência àsserpentes venenosas, estas são raras, parecendoser a Bothorops erytronelas a mais freqüentedelas, habitando nas margens ou proximidadesdo açude.

Com referência às aves, somente duasespécies foram idenficadas, e assim mesmo deuma maneira pouco segura, e conhecidas,vulgarmente, por mergulhão e socá, ambasescassas na área estudada, mas outrora abun-dantes.

Analisando a Tabela 1, que agrupa quanti-tativamente as diversas categorias dos organis-mos observados e que vivem no Açude SantoAnastácio, verificamos que, apesar de pequenoe poluído, o reservatório ainda dispõe de umpotencial tlorístico e faunítico relativamentebom, apresentando uma rica diversidade quemerece ser preservada. Esta preservação doecossistema implicaria na proteção das espéciesvegetais e animais ainda existentes, propiciando,assim, uma área de lazer para a comunidade e ocampus universitário, bem como dispondo deágua para o seu aproveitamento na aqüicultura,já iniciada pela estação de piscicultura situadanas suas proximidades.

AGRADECIMENTOS

o autor agradece aos professores EdsonPaula Nunes, Francisco Valter Vieira, JoséHigino Ribeiro dos Santos e José Santiago LimaVerde, pela prestimosa ajuda na identificaçãodas plantas, insetos e répteis listados nopresente trabalho, e ao estudante ValdemarViana Almeida, do Curso de Engenharia dePesca pela sua valiosa colaboração na coleta eorganização do material biológico estudado.

1. BASTOS, J. A. M. & PAIVA, M. P. Notas sobreo consumo de oxigênio do camarão sossegoMacrobrachium jelskii (MIERS, 1877)CHACE & HOLTHUIS, 1948. Rev. Bras.Biol., Rio de Janeiro, 19 (44): 413-419,1959.

2. BORGES, J. L. Exames qufmicos e bacteriol6-gicos do Açude Santo Anastácio em Forta-leza, Ceará, Brasil. Dissertação de GraduaçãoDEP - UFC, Fortaleza, 1978. 22p. (mimeo-

grafado).3. DOURADO, O. F. Principais peixes e crustáceos

dos açudes controlados pelo DNOCS.Fortaleza, Convênio SUDENE-DNOCS,1980,40p.

4. FAUSTO-F I LHO, J. Notas sobre a biologia deuruá, Pamacea haustrum (Reeve). Boi. SocoCear. Agron., Fortaleza, 3: 43-48,1962.

5. -. Sobre o número de posturas do aruá,Pomacea haustrum (Reeve), (Mollusca Meso-gastropoda. Boi. Soco Cear. Agron., Forta-leza,6:43-47,1965.

6. FERNANDES, E. G. Contribuição ao estudolimmnol6gico do Açude Santo Anastácio(Fortaleza, Ceará, Brasil), no perfodo desetembro a novembro de 1978 - Estudosffsicós e qufmicos. Dissertação de graduaçãodo DEP-UFC, 1978. 22 p. (mimeografado).

7. KLEIN, V. L. M. Comunidade planctõnica doAçude Santo Anastácio, Fortaleza, Ceará.Ciên. Agron., Fortaleza, 17 (1): 55-59,1986.

8. MARCONDES, N. A. Sobre a exploração doAçude Santo Anastácio - Munfcio de Forta-leza (Ceará - Brasil). Dissertação de Gradua-ção do DEP-UFC, Fortaleza, 1983. 40p.(mimeografado).

9. OLIVEIRA, M. A. Exame biológico pesqueiro doAçude Santo Anastácio (Fortaleza - Ceará).Dissertação de Graduação do DEP-UFC,Fortaleza, 1975. 12p. (mimeografado).

10. PAIVA, M. P. & BAR RETO, V. A. Notas sobrea biologia do camarão sossego Macrobra-chium jelskii (MIERS, (1877) CHACE &HOLTHUIS, 1948, numa pequena baciapotamográfica do Nordeste brasileiro. Rev.Bras. Biol., Rio de Janeiro, 20 (2): 121-129,1960.

11. PAIVA, M. P. & COSTA, R.S.SobreosovosdeMacrobrachium acanthurus (WIEG MANN,1836) PEARSE, 1911. Boi. Soc. Cear.Agron., Fortaleza, 3: 37-40, 1962, 1 figo

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