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AS ATIVIDADES DA LOGÍSTICA REVERSA E A CADEIADE SUPRIMENTOS DO PAPEL PARA EMBALAGEM
HENRIQUE NASCIMENTO PEREIRAUniversidade Federal de Santa [email protected] MÔNICA MARIA MENDES LUNAUniversidade Federal de Santa [email protected] IGOR MATEUS DE LIMA NUNESUniversidade Federal de Santa [email protected] ANDRÉ VINICIUS LIA FOOKUniversidade Federal de Santa [email protected]
AS ATIVIDADES DA LOGÍSTICA REVERSA E A CADEIA DE SUPRIMENTOS
DO PAPEL PARA EMBALAGEM
REVERSE LOGISTICS ACTIVITIES AND PAPER PACKAGING SUPPLY CHAIN
RESUMO
Questões sociais, ambientais, econômicas e políticas, com destaque para a aprovação da
Política Nacional de Resíduos Sólidos, em agosto de 2010, vêm fazendo com que o percentual
de materiais reciclados venha aumentando ao longo dos últimos anos no Brasil. Como
resultado, a logística passa a ter papel de destaque nos canais reversos principalmente porque
é necessário viabilizar o retorno dos bens após o consumo, os quais tem baixo valor agregado
– como é o caso do papel para embalagem. O presente artigo aborda este tema, apresentando a
estrutura da cadeia de suprimentos e cadeia reversa do papel para embalagem. Além disso,
identifica as organizações que fazem parte dos canais de distribuição e canais reversos
realizando as atividades relacionadas aos fluxos do papel para embalagem. Entrevistas com
proprietário de empresa aparista de médio porte, localizada em Santa Catarina, e pesquisa em
bases de dados secundárias apoiaram o estudo. Os resultados sugerem ações que poderiam
contribuir para a eficiência das atividades da logística reversa do papel para embalagem, tais
como difusão de práticas de coleta seletiva, com apoio efetivo do poder público.
Palavras chave: Logística reversa. Papel para embalagem. Aparista. Canais reversos.
ABSTRACT
Economic and political issues, such as the approval of the National Solid Waste Policy in
August 2010, are contributing to raise the recycled materials percentage over the recent years.
As a result, logistics now plays an important role in reverse channels because it is necessary to
make possible the return of goods after consumption, which are low value - such as packaging
paper case. This article addresses this matter presenting the supply chain and reverse chain of
packaging paper. We also identify the distribution channels and reverse channels
organizations, which participate in the activities related to flows of packaging paper.
Interviews with a medium-sized wastepaper wholesaler owner, located in Santa Catarina, and
secondary databases have supported the study. The results suggest practices which could
contribute to the efficiency of reverse logistics activities of the packaging paper, such as
selective waste collection programs sponsored by government.
Key-words: Reverse Logistics. Packing paper. Wastepaper wholesaler. Reverse channels
1. INTRODUÇÃO
Pressões sociais, econômicas, legais e ambientais vêm fazendo com que a reciclagem de
materiais, ao longo dos últimos anos, torne-se uma necessidade. A configuração das cadeias
de suprimentos e cadeias reversas, bem como a função dos seus vários membros, vem se
alterando, visando viabilizar a logística reversa dos produtos após o consumo.
O sistema tradicional de extrair, produzir, consumir e descartar os produtos passa a ser
substituído por um sistema que considere o retorno dos produtos ao ciclo produtivo, tanto em
decorrência da elevação dos preços de commodities quanto dos custos associados à disposição
final dos resíduos. Na verdade, o impacto ambiental decorrente do modelo econômico linear
aumenta em decorrência do aumento da população e, consequente, aumento do volume de
materiais processados e resíduos gerados. A Fundação Ellen Macarthur estima que cerca de
65 bilhões de toneladas de matérias-primas foram transformadas pela indústria no ano de
2010, e esse número deve crescer para cerca de 82 bilhões de toneladas em 2020 (ELLEN
MACARTHUR FOUNDATION, 2014).
Há cada vez menos áreas disponíveis para aterros e, em muitos países, o custo da disposição
final do produto tem se elevado significativamente. Ao mesmo tempo, os avanços
tecnológicos nos processos de reciclagem e nos projetos de produtos, assim como a melhoria
dos processos de logística reversa, têm contribuído para tornar viável a reciclagem de diversos
produtos.
O caso do papel não é diferente, como afirma Cardoso et al. (2014), as pressões levam à
expectativa de aumento das taxas de recuperação de papel pós-consumo, o que demanda, além
de avanços tecnológicos nos processos de reciclagem, melhorias nos processos de logística
reversa. A indústria do papel para embalagem já utiliza papel recuperado como alternativa à
celulose virgem, mas a otimização dos processos logísticos ao longo dos canais reversos ainda
é necessária.
O presente artigo aborda este tema e apresenta a estrutura da cadeia de suprimentos e cadeia
reversa do papel para embalagem, identificando os membros dos canais de distribuição, e
canais reversos, que participam das atividades relacionadas aos fluxos do papel para
embalagem. A identificação, descrição e análise das várias atividades logísticas executadas
nos canais reversos deste material são apresentadas neste trabalho, buscando identificar as
melhorias que poderiam tornar o processo de retorno dos resíduos do papel mais eficiente.
Estruturado em cinco seções, o artigo apresenta, além desta Introdução: i) uma revisão
bibliográfica sobre a indústria do papel e a logística reversa do papel para embalagem,
considerando aspectos legais que afetam a logística reversa deste produto; ii) os
procedimentos metodológicos onde, com base nos dados obtidos por meio de pesquisas em
bases de dados secundárias, entrevistas e visitas a empresa de reciclagem, é apresentada a
estrutura da cadeia de suprimentos e da cadeia reversa do papel e são descritas as atividades
logísticas executadas pelos vários membros dos canais reversos; iii) a análise e discussão dos
resultados com base na revisão teórica, na quarta seção; e iv) conclusões e sugestões para
trabalhos futuros.
2. O PAPEL PARA EMBALAGEM E A INDÚSTRIA DE PAPEL E CELULOSE
Papéis para embalagens é o nome genérico dado a uma categoria de papel usado para proteção
e acondicionamento de produtos. De acordo com a Bracelpa (2014), os papéis para
embalagens são moldados principalmente como caixas ou sacos e apresentam grande
diversidade – tanto para embalagens leves como pesadas. O papel é largamente usado para a
embalagem devido às características de leveza, resistência, facilidade de fabricação,
armazenamento e montagem, bem como à elevada capacidade de proteção e amortecimento
de impactos.
Os papéis têm um amplo espectro de utilização e são, geralmente, agrupados nas seguintes
categorias: i) papel imprensa, destinado majoritariamente à impressão de jornais, mas também
inclui periódicos, revistas, listas telefônicas, suplementos e encartes promocionais; ii)
imprimir e escrever, divididos em quatro subgrupos, dependendo de duas características:
revestimento e fabricação; iii) papelão ondulado, majoritariamente dirigido para a produção
de embalagens para transporte das mais variadas mercadorias; iv) papel-cartão, especialmente
utilizado na produção de embalagens de bens de consumo imediato, como remédios,
alimentos industrializados, cosméticos e brinquedos, entre outros; v) sanitários, também
chamados de tissue, cujo principal produto é o papel higiênico, mas também engloba a
produção de toalhas, guardanapos e lenços, entre outros produtos; e vi) outros papéis para
embalagens e os papéis especiais (VIDAL; HORA, 2012).
A indústria do papel faz parte de um dos setores mais importantes da economia nacional,
formado pelas indústrias de celulose, de papéis e de artefatos de papéis. “Essas três indústrias
em conjunto e mais as florestas, a indústria de editoração e gráfica e ainda os segmentos
distribuidores vinculados àquelas indústrias, constituem a cadeia produtiva da celulose e
papel” (MONTEBELLO; BACHA, 2011). O Brasil se destaca em todos estes setores, é um
dos maiores produtores mundiais de papel e celulose, e a indústria de papel e celulose é um
dos principais consumidores da madeira proveniente da silvicultura. Segundo a EPAGRI
(2009), dos 162 milhões de m³ de madeira de florestas plantadas, o segmento de papel e
celulose absorveu, aproximadamente 60 milhões de m³, com grandes empresas atuando no
setor. Dentre os tipos de papel com maior representatividade na produção brasileira estão os
usados para embalagens e os papéis para imprimir e escrever (BIAZUS; HORA; LEITE,
2013)
Há uma grande concentração das empresas produtoras de papel nos estados de São Paulo,
Paraná e Santa Catarina, em especial as empresas líderes, as quais, como destacam
Montebello e Bacha (2011) são totalmente verticalizadas (desde a etapa de reflorestamento
até a de fabricação de papéis e seus artefatos) enquanto as empresas de pequena escala de
operação compram a celulose no mercado para produzir papéis ou compram papéis para
produzir artefatos. Dentre as empresas produtoras de papel para embalagem estão: Adami
S/A. Madeiras, Cartonifício Valinhos, Celulose Irani, Facepa - Fábrica de Papel da Amazônia,
Iguaçu Celulose, Klabin, MD Papéis, MWV Rigesa e Primo Tedesco.
Os vários tipos de papéis usados em embalagens, em especial o papel ondulado e papel kraft,
permitem o uso de fibra reciclada na sua produção. Assim, estas empresas utilizam como
insumo, além da celulose, o papel recuperado oriundo de vários canais reversos.
3. A LOGÍSTICA REVERSA E O PAPEL PARA EMBALAGEM
A logística reversa pode ser entendida como a parte da cadeia de suprimentos que planeja,
opera e controla o fluxo e as informações relativas ao retorno de bens de pós-venda e pós-
consumo. Este fluxo de bens na direção consumidor final-indústria é realizado pelas várias
organizações que formam os canais reversos.
De acordo com Leite (2009) há três subsistemas reversos: reuso, remanufatura e reciclagem,
além da parcela de produtos pós-consumo que é encaminhada a sistemas de destinação final.
Na reciclagem, os produtos podem ser utilizados no processo de produção de produtos
originais ou podem servir de matéria-prima para outras indústrias. Mas, como ressaltam
Meade e Sarkis (2002), a cadeia logística reversa deve estar preparada para oferecer o serviço
adequado às necessidades dos clientes – neste caso, aqueles que usarão o material recuperado.
No que se refere ao papel para embalagem, o uso de resíduos, seja proveniente do processo de
produção do papel ou os coletados após o consumo, é frequente. O papel reciclado, pronto
para ser reintroduzido na cadeia produtiva, é chamado de apara. Os aparistas “coletam,
classificam e distribuem o material onde quer que ele seja demandado, o que exige uma
logística complexa, pois o consumo nem sempre se encontra próximo às áreas produtoras”
(ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS APARISTAS DE PAPEL, 2012).
O Brasil reciclou 4.481 toneladas de papel em 2013, o que representou 45,55% do total de
papéis consumidos (BRACELPA, 2014). Cardoso et al. (2014) lembram que do total de
papéis consumidos no país alguns não são recicláveis – caso do papel sanitário usado - e
outros não estão disponíveis para reciclagem, como documentos e registros. O papel para
embalagem, por sua vez, é um dos materiais mais reciclados no país; na composição das
embalagens, estima-se que 70% da matéria prima seja oriunda de material reciclado
(BRACELPA, 2014).
Esta porcentagem considerável de aparas na fabricação de papel para embalagem pode
constituir um diferencial competitivo para as empresas. Um dos principais motivos que tem
levado às empresas a usarem este material é o baixo custo do papel reciclado quando
comparado ao custo da celulose virgem. Indicadores de preços publicados na revista O Papel,
de março de 2014 (BACHA, 2014), permitem comparar os preços médios da celulose e das
aparas de papel: enquanto uma tonelada de celulose custava, em média, 1.700,00 reais, uma
tonelada de aparas custa cerca de um quarto do valor, R$ 400,00. Além do valor mais baixo
do papel recuperado como insumo alternativo, há também reduções significativas no custo de
produção devido ao menor consumo de energia elétrica e água, conforme destaca Fachin
(2004): 3,51 MWh e 29,2 m3 de água são economizados por cada tonelada de papel produzido
a partir do papel reciclado.
3.1. A Logística Reversa do papel em outros países
Segundo o relatório do European Recovered Paper Council (ERPC, 2015), a Europa atingiu,
em 2013, uma taxa de reciclagem de papel de 71,7% do consumo total de papel, o que
equivale a 57,7 milhões de toneladas. Além do crescimento da taxa de reciclagem, é
interessante ressaltar que não tem havido um crescimento significativo no consumo de papel,
na Europa, ao longo das últimas décadas. O consumo atual de papel é o mesmo que o do ano
1998, com um aumento da taxa de reciclagem de 45% em relação aquele ano. Esta tendência
da queda na taxa de consumo do papel é resultado das mudanças no padrão de consumo– por
exemplo, o papel jornal, um dos mais reciclados atualmente, está cada vez sendo menos
utilizado. Por outro lado, papéis sanitários, que representam cerca de 21% do papel
consumido na Europa, não pode ser reciclado.
A taxa de reciclagem do papel nos EUA é um pouco inferior àquela da Europa, cerca de 63%
(BRACELPA, 2011). Nos EUA a reciclagem de papel é estimulada incentivando a instalação
de usinas depuradoras, capazes de iniciar o processamento e fornecer fardos de celulose
secundária para serem usados em qualquer fábrica de papel, sem que estas necessitem de
equipamentos para preparação de polpa de aparas, sendo todo o processo automático.
A Tabela 1 apresenta dados da taxa de recuperação de papel, calculada pela relação entre o
volume de aparas recuperadas no país e o consumo aparente de papel, onde se observa o
destaque para a Coréia do Sul e Alemanha, com taxas de recuperação de 91,6 e 84,8 %,
respectivamente.
Tabela 1. Taxa de recuperação do papel em diferentes países.
Fonte: (BRACELPA, 2014).
3.2. A Logística Reversa do Papel e a legislação
Não há uma legislação que trate especificamente dos resíduos de papel. Apesar disso, uma das
metas da Política Nacional de Resíduos Sólidos, instituída pela Lei nº 12.305/10 (BRASIL,
2010), é incentivar o uso de materiais recicláveis, dentre os quais se inclui o papel. No caso
do papel, deve-se considerar que um dos principais desafios para recicla-lo é viabilizar a
coleta do material pós-consumo para reintroduzi-lo no ciclo produtivo. A coleta do material a
ser reciclado é a primeira e, talvez, uma das atividades mais importantes da logística reversa,
dado que o produto pós-consumo se encontra disperso e só será reintroduzido na cadeia
produtiva se sua coleta, tratamento e recuperação for viável economicamente.
Tanto na Europa quanto nos EUA a coleta seletiva é uma prática altamente difundida nas
residências, indústria e comércio, o que contribui para a redução do custo do material
reciclado. No Brasil, ao contrário, o sistema de coleta seletiva ainda é precário e inexiste dele
na maior parte do país. Apesar de regulamentada em Dezembro de 2010, a Política Nacional
de Resíduos Sólidos (PNRS), que prevê a implantação pelo titular do serviço público de
limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, ainda não é uma realidade no país. Dados de
2012 da Cempre (Compromisso Empresarial para Reciclagem) apontam que somente 766, ou
12%, dos munícipios do país contavam com coleta seletiva. Dentre as cidades com coleta
seletiva, muitas não atendem todos os domicílios, estando abaixo de 50% o percentual de
residências atendidas. Além do destaque dado pela legislação, a literatura reforça a
necessidade da intervenção do Governo para incentivar e apoiar as organizações envolvidas
com as atividades de logística reversa, inclusive divulgando programas que incentivem a
separação do material. Em relação às cooperativas, por exemplo, “vários estudos destacam o
papel das organizações não governamentais (ONGs) e do poder público no fomento e no
apoio às cooperativas de catadores” (SOUZA; PAULA; SOUZA-PINTO, 2012). Para Wright
e Richey (2011) cabe as entidades governamentais, inclusive, se for preciso, financiar
atividades relativas à reciclagem de materiais. Os autores citam um estudo realizado pela
Gestão de Resíduos de North America, Inc., o qual identificou que as empresas recebiam uma
média de US$ 40 por tonelada de materiais recicláveis coletados nos programas de governos,
mas gastavam cerca de US$ 175 por tonelada para coletar e classificar os materiais – e,
Países Taxa de recuperação
Coréia do Sul 91,60%
Alemanha 84,80%
Japão 79,30%
Reino Unido 78,70%
Espanha 73,80%
Estados Unidos 63,60%
Itália 62,80%
Indonésia 53,40%
Finlândia 48,90%
México 48,80%
Argentina 45,80%
Brasil 45,50%
China 40,00%
Rússia 36,40%
Índia 25,90%
destacam que, quando os custos superam o valor dos bens recebidos, os subsídios devem ser
fornecidos por entidades governamentais.
A legislação que trata da coleta seletiva em alguns países europeus responsabilizam também
os fabricantes e comerciantes pela coleta e reciclagem de embalagens, jornais, revistas e
outros produtos de papel pós-consumo. A PNRS, na mesma linha, instituiu a responsabilidade
compartilhada entre todos os que fazem parte da cadeia do papel: “os fabricantes,
importadores, distribuidores, comerciantes, consumidores e titulares dos serviços públicos de
limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos são responsáveis pelo ciclo de vida dos
produtos”.
Ainda vale ressaltar que a qualidade do material reciclado constitui aspecto importante
quando se busca recuperar resíduos, pois como destaca (VIDAL, 2012), apesar do incentivo
às maiores taxas de reciclagem do papel, a legislação brasileira e a internacional são rigorosas
quanto à utilização de papeis reciclados que possam estar contaminados (o que é comum pela
forma como o papel é descartado, coletado e manuseado) para embalagem e transporte de
alguns tipos de alimentos, ou seja, nestes casos é necessário o uso de fibra virgem.
4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Este trabalho busca identificar as organizações que fazem parte da cadeia de suprimentos do
papel para embalagem, tanto aquelas envolvidas na produção e distribuição dos produtos de
papel quanto nas atividades voltadas à reciclagem destes. Além disso, é feita uma análise das
atividades executadas pelos vários membros que formam o canal reverso, com vistas a
identificar possibilidades de melhorias nos processos logísticos.
Visando atingir este objetivo, algumas etapas foram definidas, quais sejam: i) caracterização
da cadeia de suprimentos do papel para embalagem, identificando os elos à montante e à
jusante da indústria de papel, bem como os canais reversos do produto; ii) identificação e
descrição das organizações ou entidades envolvidas e das atividades logísticas realizadas nos
canais reversos; iii) identificação de aspectos, relacionados à estrutura da cadeia e à
legislação, que influenciam o desempenho das atividades realizadas nos canais reversos
Além dos dados disponíveis em diversas fontes secundárias – tais como, artigos em
periódicos nacionais e internacionais, relatórios setoriais, dados de entidades de classe e
associações – dados primários também foram utilizados para caracterizar a cadeia de
suprimentos do papel e a cadeia logística reversa. Visitas e entrevistas com o proprietário da
empresa aparista Almeida Serviços Ambientais, empresa de médio porte localizada no
município de São José, Santa Catarina, contribuíram para a consecução dos objetivos – em
especial, para a compreensão da configuração da cadeia logística reversa do papel e as
atividades realizadas pelas organizações que fazem parte dos canais reversos. A referida
empresa processa cerca de 2.000 t de papel por mês, sendo classificada como de médio porte,
segundo (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS APARISTAS DE PAPEL, 2012).
4.1. Caracterização da cadeia de suprimentos e cadeia reversa do papel
Para identificar como os produtos retornam ao ciclo produtivo após o consumo, é preciso
entender como a cadeia de distribuição deste produto está configurada e identificar quais
organizações estão envolvidas com o fluxo físico dos produtos.
O primeiro elo considerado na cadeia do papel é a silvicultura; a indústria do papel e celulose
utiliza madeira de floresta plantada. O papel para embalagem é um dos vários tipos de papel
fabricados por esta indústria, o qual é distribuído tanto para a indústria em geral quanto para
empresas varejistas. As embalagens são, então, usadas para facilitar o manuseio dos produtos
ao longo dos canais de distribuição, podendo ser descartadas tanto no varejo quanto nas
unidades domiciliares.
Embalagens usadas são coletadas e retornam à indústria para ser utilizada como insumo na
produção de papel para embalagem. Dentre os elementos que fazem parte da cadeia reversa
do papel para embalagem se destacam os próprios fabricantes de embalagem, os varejistas e
os consumidores finais. O processo de produção de caixas e outros itens de embalagens gera
refiles (sobras) que são comercializados pelas empresas de produção de embalagens
diretamente com a indústria de papel. Estas empresas são consideradas fornecedores de
material de pré-consumo, juntamente com as gráficas que fornecem refiles de papel cartão e
papel branco.
Com base nos dados do setor e segundo o dono da empresa aparista consultada, o volume de
papel pré-consumo é significativo, ou seja, o maior fornecedor de papel reciclado para as
indústrias fabricantes é a própria indústria de produtos de papel, dado que as sobras retornam
para a produção. Por outro lado, setores como os de impressão, não fornecem diretamente
para as indústrias fabricantes de papel, agindo o aparista como intermediário neste processo.
Uma das razões que torna necessário este intermediário é destacada pela (ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DOS APARISTAS DE PAPEL, 2012):
Mas, talvez a principal função seja transformar o papel velho em matéria-prima para
um novo ciclo industrial, legalizando o produto que é comprado de fornecedores
quase sempre informais e vendido para consumidores sempre formalizados. Para
isso, o aparista emite notas fiscais de entrada do produto transformando-o em
matéria-prima e inserindo-o no sistema econômico, onde, de forma não muito justa,
volta a pagar impostos que já foram pagos em seu primeiro ciclo de vida, gerando
dupla receita para o governo (grifo nosso).
Os aparistas, por sua vez adquirem os papéis pós-consumo tanto diretamente dos
consumidores quanto das cooperativas de reciclagem. Como destaca o diretor da empresa
aparista consultada: “Há uma relação de compra e venda, onde o aparista firma um contrato
de compra mensal com a cooperativa de catadores, ou seja, o aparista compra todo material
que é recolhido pela cooperativa.” Assim, por exemplo, a Almeida mantém acordo com a
ACMR (Associação de Catadores de Material Reciclável de Florianópolis).
Para Souza,Paula e Souza-Pinto (2012), estas associações ou cooperativas de catadores são
apoiadas pela própria indústria do papel, de modo a garantir a disponibilidade de quantidade e
qualidade do material para reciclagem, além disso a formação de cooperativa constitui uma
das maneiras de evitar a exploração dos mesmos pelos intermediários e alcançar melhoria de
renda e das condições de trabalho.
A identificação e caracterização dos vários elementos que fazem parte da cadeia de
suprimentos do papel para embalagem, bem como dos canais de distribuição e reversos destes
produtos, permite identificar quais produtos são comercializados por quais membros, bem
como identificar as funções destes. Uma representação da cadeia do papel, elaborada com
base em dados secundários e na estrutura da cadeia proposta por (LUNA et al., 2013) é
mostrada na Figura 1.
Figura 1. Representação esquemática da cadeia de suprimentos do papel para embalagem.
Fonte: os autores.
Pode-se observar que outros tipos de papéis recicláveis são usados como insumo para a
fabricação de papel para embalagem. Além disso, este material também é usado na indústria
da construção civil, na fabricação de telhas. Com a representação da cadeia, a etapa seguinte
consistiu na descrição das atividades executadas pelos vários membros que fazem parte da
cadeia reversa.
4.2. As atividades na logística reversa do papel para embalagem
O papel pós-consumo – chamado aparas após recuperação – pode retornar à cadeia produtiva
a partir de várias fontes – “os fornecedores de aparas de pós-consumo são os supermercados,
cooperativas, sucateiros, catadores, etc.”(ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS APARISTAS
DE PAPEL, 2012). Ao longo do canal reverso, diversas atividades logísticas devem ser
realizadas, visando permitir a reintrodução destes resíduos no processo produtivo, e incluem:
a coleta, tratamento e recuperação dos papeis usados, as quais podem ser executadas por
catadores, empresas de coleta de resíduos, empresas especializadas na recuperação de papéis,
cooperativas de reciclagem ou pela própria indústria.
Atualmente, há no Brasil um grande número de intermediários que participam das atividades
logísticas nos canais reversos. Após consumido, a coleta do papel pode ser realizada por
catadores de material reciclável, por empresas de coleta seletiva ou por cooperativas de
reciclagem. As cooperativas, em geral, se ocupam de realizar uma primeira triagem destes
materiais, os quais serão destinados aos intermediários. No caso dos papéis, estes são
encaminhados aos aparistas.
A coleta do material nas cooperativas, tanto na empresa Almeida quanto na maioria dos casos,
é realizada pelo aparista. Os aparistas adquirem o papel por cerca de 20 a 25 centavos o quilo
e uma dificuldade, relatada pelo dono da empresa, está relacionada à quantidade de papel
coletado. Dado que muitos locais não dispõe de espaço para armazenar o material reciclável, é
preciso que a empresa a realize coletas frequentes de pequenos volume, elevando os custos de
transporte. As atividades de transporte são as maiores geradoras de custo na empresa, estas
respondem por cerca de 33% dos custos totais.
Após a coleta do material, é feito o descarregamento na empresa, onde os papéis passam por
uma nova triagem com o objetivo de separar os vários tipos de papel e, se for o caso, retirar
outros tipos de materiais recicláveis. Vale ressaltar que, de acordo com a ANAP (2012), as
aparas podem ser classificadas segundo 25 diferentes tipos, o que torna a separação um
processo mais demorado. A triagem do resíduo é uma atividade intensiva em uso de mão-de-
obra, a qual também representa uma significativa parcela de custos da recuperação do
material. Na empresa visitada, esta atividade é realizada por funcionários que separam,
manualmente, os vários tipos de papéis dentro do galpão, conforme ilustrado na foto da
Figura 2. Assim como o transporte, a separação do material representa 33% dos custos totais.
De todo o material processado, aproximadamente 1% é rejeito, sendo enviado para aterros.
Figura 2. Triagem dos papéis na empresa Almeida Serviços Ambientais.
Fonte: Dados primários
Alguns materiais ainda sofrem outro tipo de processamento, como é o caso de papéis
provenientes de instituições bancárias, os quais são triturados antes de serem enfardados,
visando destruir as informações contidas nestes papéis.
A atividade seguinte consiste no chamado enfardamento, ou empacotamento do papel com
uso de prensas e arames. Esta atividade responde por 20% dos custos totais. A máquina de
enfardamento usada na empresa é mostrada na foto da Figura 3.
Figura 3. Enfardamento do papel na empresa Almeida Serviços Ambientais.
Por fim, 14% dos custos totais são relativos aos custos de instalação e atividades
administrativas. Os fardos de papel reciclado estão, assim, prontos para serem vendidos aos
fabricantes de papel, os quais, no caso da empresa visitada, são responsáveis por coletar o
papel nos aparistas. Estes fardos são comercializados por 40 ou 45 centavos o quilo, segundo
o proprietário da empresa aparista. O transporte dos fardos de aparas da empresa até a
indústria de papel é de responsabilidade desta última.
As várias atividades realizadas na logística reversa e os responsáveis por desempenhá-las
estão representadas no fluxograma da Figura 4.
Figura 4. Fluxograma das atividades na logística reversa.
5. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
O papel para embalagem se destaca, dentre os vários tipos de papéis, quando se analisa a
logística reversa porque cerca de 73% deste é reciclado enquanto que os demais tipos de
papéis tem taxa de reciclagem bem inferior – como é o caso do papel para imprimir e
escrever, que gira em torno de 33%. O presente trabalho permitiu observar que a cadeia
logística reversa do papel está bem estruturada, o que é consequência, principalmente, do
valor econômico e do interesse da indústria nas aparas de papel, produto que pode ser
utilizado em substituição à matéria prima virgem permitindo redução de custos no processo de
produção.
Apesar do interesse da indústria e da existência de intermediários especializados nas
atividades de logística reversa deste produto, é preciso tornar os processos mais eficientes
para que se possa elevar as taxas de reciclagem e a qualidade do material, tendo em vista que
o Brasil importa aparas para serem usadas na produção de papel para embalagem. Segundo a
(ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS APARISTAS DE PAPEL, 2012), enquanto exportamos
basicamente aparas de papel com pasta mecânica, ou seja, jornais e revistas, o país importa
aparas brancas e de papelão ondulado.
As organizações envolvidas na logística reversa do papel precisam ainda desenvolver relações
colaborativas nesta cadeia – em especial, com o maior envolvimento dos consumidores – de
forma a permitir a redução de custos logísticos, como os custos de transporte e triagem. O
poder público tem uma importante função neste sentido, tendo em vista que a disseminação da
coleta seletiva e a instalação de contentores exclusivos para papel nos municípios contribuiria
para reduzir custos de separação de material. O papel pós-consumo é, na maioria dos
domicílios do país, descartado no lixo comum. Neste caso, politicas que incentivem os
consumidores finais a devolver este material certamente contribuiriam para a melhoria da
qualidade do material reciclado e o fechamento do ciclo produtivo. A implementação da
PNRS deverá contribuir neste sentido.
Em relação às atividades logísticas realizadas ao longo dos canais reversos, pode-se observar
que o custo da recuperação do papel é elevado, principalmente por conta do transporte e da
necessidade de mão-de-obra intensiva para seleção do material. Hoje, a separação dos papéis,
dos demais materiais recicláveis, é feita nas cooperativas e, em seguida, os papéis são
encaminhados aos aparistas que, novamente, separam os papéis segundo os vários tipos.
Além da necessidade da triagem do material, a movimentação destas cargas, de baixo valor
agregado, entre as cooperativas e os aparistas, em geral localizados próximos às zonas
urbanas, elevam o custo do processo e geram problemas de tráfego, visto que os veículos que
movimentam estas cargas são em geral de grande porte – de acordo com a (ASSOCIAÇÃO
NACIONAL DOS APARISTAS DE PAPEL, 2012), o veículo padrão usado pelos aparistas
tem capacidade de 25 t de porte bruto. O proprietário da empresa visitada ressaltou que um
dos pontos contemplados na PNRS pode contribuir para reduzir os custos associados à coleta
do material: a definição de local para armazenamento do material reciclável por parte de
grandes atacadistas, condomínios e outros consumidores para viabilizar a coleta por parte do
aparista.
Supermercados, comércio em geral e consumidores finais são fornecedores deste material e a
participação destes visando melhorar o processo é fundamental para que se possa reduzir
custos de transporte, por meio da consolidação destas cargas em local adequado, e de triagem,
com a disposição do material em local adequado. Iniciativas neste sentido já podem ser
observadas, como é o caso do programa de descarte “pré-consumo” do Grupo Pão de Açucar,
chamado de Caixa Verde, o busca envolver consumidores finais. O programa possibilita aos
clientes destinarem para reciclagem, em urnas instaladas ao lado dos caixas, embalagens de
produtos que não precisam levar para casa, como as caixas de pasta de dente. Além disso, o
Grupo também disponibiliza estações de reciclagem, onde os consumidores fazem a entrega
voluntária de material.
Estas ações e programas permitirão obter maior eficiência no transporte e manuseio dos
produtos recicláveis nos canais reversos do papel. Além das ações listadas acima e que podem
ser desempenhadas pelos vários membros da cadeia, novas soluções têm surgido para tornar
mais eficiente a atividade de triagem, como é o caso da primeira central de triagem
mecanizada na América Latina instalada no município de São Paulo. Com o novo
equipamento, os caminhões de coleta seletiva depositam os resíduos sólidos em uma área da
central e, por meio de processos mecanizados, os produtos são automaticamente separados,
prensados e enfardados. A instalação tem capacidade para processar cerca de 80 mil toneladas
de material reciclável por ano (250 toneladas/dia).
6. CONCLUSÃO
Este trabalho apresentou uma análise da cadeia de suprimentos e cadeia logística reversa do
papel para embalagem, destacando os canais reversos e as atividades logísticas realizadas
pelos vários membros envolvidos na recuperação do papel e seu retorno à indústria.
A PNRS instituiu a responsabilidade compartilhada pela reciclagem entre todos os fazem
parte da cadeia do produto, o que torna clara a necessidade da identificação dos vários
membros da cadeia de suprimentos, bem como da cadeia logística reversa deste produto. Com
a descrição da cadeia, torna-se possível avaliar os fluxos e atividades logísticas realizadas
pelos vários membros, identificando possibilidades de cooperação e melhorias nos processos.
Pode-se observar que vários outros tipos de papéis podem ser usados na produção do papel
para embalagem, bem como os papéis recuperados são usados por outras indústrias, como é o
caso da construção civil.
Como destacado nos resultados, para que a taxa de reutilização de papelão seja incrementada
no Brasil é necessário, sobretudo, que a coleta do papel pós-consumo seja mais eficiente, dado
que os custos de reciclagem ainda são elevados, em especial, pela necessidade de separação
do material em vários estágios da cadeia logística reversa. Vale salientar que na Europa o
papel reciclado em escala industrial custa mais barato graças, principalmente, à eficiência na
coleta seletiva.
É importante que o poder público promova campanhas para que os consumidores se envolvam
como parte responsável neste processo, e elemento da cadeia que pode contribuir para
melhoria da eficiência do processo logístico. Programas promovidos por empresas varejistas
também se destacam por estimular a coleta papel com politicas de incentivo e recolhimento
deste material, como o caso dos programas de descarte “pré-consumo”, o busca envolver
consumidores finais. O programa possibilita aos clientes destinarem para reciclagem, em
A recuperação dos materiais recicláveis gera impacto ao ambiente e custos para todos os
envolvidos na cadeia de suprimentos do papel, principalmente devido às emissões associada à
movimentação das cargas. A adoção de uma abordagem da cadeia de suprimentos, com a
cooperação dos membros que realizam as várias atividades logísticas pode permitir a
identificação da possibilidade de obter ganhos de escala, em especial no transporte do
material a ser reciclado, para que se torne possível elevar a taxa de recuperação dos materiais,
ao mesmo tempo em que se minimiza os impactos ambientais associados à logística reversa.
Embora contribua para o melhor entendimento dos processos da cadeia logística reversa do
papel para embalagem, o foco da análise deste artigo foi dado às atividades realizadas pelo
aparista. Assim, sugere-se que trabalhos futuros complementem esta análise, incluindo dados
detalhados também sobre as atividades logísticas nas cooperativas e na indústria.
Agradecimentos
Os autores agradecem ao proprietário da empresa Almeida Serviços Ambientais, senhor
Milton Almeida pelas informações disponibilizadas para a realização deste trabalho.
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