As Pulsões e o Descontentamento Com a Cultura

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UFSCar - Universidade Federal de São Carlos. CECH - Centro de Educação e Ciências Humanas. DFMC - Departamento de Filosofia e Metodologia das Ciências. As pulsões e o descontentamento com a cultura. Disciplina: História da psicologia e sistemas psicológicos: psicanálise 2.

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Vale a pena preservar a cultura?

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As pulses e o descontentamento com a cultura

UFSCar - Universidade Federal de So Carlos.

CECH - Centro de Educao e Cincias Humanas.

DFMC - Departamento de Filosofia e Metodologia das Cincias.

As pulses e o descontentamento com a cultura.

Disciplina: Histria da psicologia e sistemas psicolgicos: psicanlise 2.Professora: Dr. Ana Carolina Soliva Soria.Nome: Diego de Castro R.A. 356573.

As pulses e o descontentamento com a cultura.Introduo.

A teoria das pulses em Freud a tentativa de abarcar trs diferentes campos em sua teoria: a psicologia, fisiologia e a biologia. Para se entender o que vm a ser pulso na obra de Freud atentemos a traduo do termo alemo Trieb. A traduo deste termo pela palavra pulso foi utilizada, conforme o termo francs pulsion, para evitar a confuso com termo instinkt, o qual Freud usa para caracterizar o comportamento animal. Hans aponta os usos do termo Trieb, antes do uso utilizado por Freud: a) uma grande fora que impele, ou princpio da natureza; b) como uma fora que impele os seres vivos, assim como uma disposio hereditria (instinkt), ou seja, uma fora que um sub-nvel que impele os movimentos da vida. E ainda uma terceira formulao que no ser mais uma fora que impele a espcie, mas uma fora que impele o indivduo (estmulos ou impulsos nervosos). Uma outra formulao do significado do termo ser tambm voltada ao indivduo, pulso aparecer como fenmeno psquico. Freud se utiliza o que h de comum nas formulaes do termo Trieb, a saber, de ser uma fora que impele. Pulso , para Freud, formulada como pulso sexual (espcie) e egoca (indivduo), que juntas formam a impulso de vida (que une), contra impulso de morte (que desune). Essa dualidade de impulsos extrada do campo biolgico dando um grande ganho ao campo psicolgico.

Aps uma rpida exposio da origem do termo Trieb (pulso), partimos para o objetivo do trabalho. Em primeiro momento analisaremos a teoria da pulso, a fim de esclarecermos o conceito chave do trabalho, e focaremos principalmente no desenvolvimento da pulso sexual, que ser a responsvel pelo contradies no seio da cultura. Vamos analisar as pulses de auto-conservao e a pulso sexual, e principalmente o embate entre individuo e sociedade, para analisar como os paradoxos, com base nessa dualidade, se formam. Para tal empresa, utilizaremos como base os textos Trs Ensaios sobre a teoria da sexualidade, Alm do principio de prazer para analisar o conceito de pulso. E para analisar o impacto das pulses na cultura humana utilizaremos a obra O futuro de uma iluso.

Desenvolvimento

Segundo Freud, tanto no animal, como no homem h uma necessidade sexual, que a pulso sexual, que impele ao desejo de procriar. Ento, em um primeiro momento a pulso sexual igual no homem e no animal no ponto de vista biolgico. O homem como pertencente do reino animal carrega consigo essa pulso sexual inata, que no se confunde com uma necessidade de satisfao ou prazer, mas como um impulso para procriao. Essa necessidade de procriao antecede a satisfao, ento nesse caso ocorre no homem e no animal. Freud denomina o objeto sexual para analisar o comportamento sexual de aberraes sexuais, em seu primeiro ensaio sobre a sexualidade, justamente para redefinir o que era sexualidade normal e anormal. O que resulta desses estudos constatao de que podem ocorrer vrios desvios no caso do objeto sexual, que a pulso sexual no tem um objeto fixo. A prpria pulso no teria um objeto determinado, ou que a determinasse, mas existi por que uma fora inata, e anterior e independente ao objeto sexual. Neste caso, a pulso sexual pode ser saciada por qualquer objeto, no h um objeto especifico para seu fim.

Quando o objeto sexual era apenas contemplado ou tocado, j trazia um prazer intenso, intensificando a sensao de prazer, ento, o prprio tocar j se convertia na satisfao sexual. O que leva Freud a perceber que esses prprios estmulos sexuais, que apenas poderiam conduzir ao coito sexual, passam a ser a meta principal do impulso sexual. Assim a pulso sexual acaba por alterar sua funo meramente reprodutiva, o objeto sexual passa a ser no s a genitais reprodutivos, mas a pura atividade que satisfaa a pulso. Deste modo, qualquer parte corpo pode ser o objeto sexual do impulso, por exemplo, a prprio ato de sugar os lbios, pode ser um modo de obter prazer. Ento, o impulso sexual passa a ter certa independncia do ato de reproduo.

Para esclarecer a questo da pulso, passamos a explicao de Freud para expor a teoria da pulso, utilizando o ponto vista fisiolgico e biolgico. Ao definir o conceito de Trieb (pulso), Freud aponta vrias formas de tratar esse conceito, em primeiro lugar nas discusses da biologia e da fisiologia. No ponto de vista fisiolgico as pulses tm seu lado de estmulos externos e estmulos internos, que uma explicao mecnica e prtica dos fenmenos psquicos envolvidos nesses processos impulsionais. No ponto de vista biolgico, temos uma concepo darwinista, que refora a influncia da hereditariedade. As incurses de Freud a esses campos justificam seu termo metapsicologia, que Freud utiliza para definir uma psicologia que v alm da psicologia clssica.

O estimulo que o organismo recebe, na fisiologia, assume um esquema de arco reflexo, onde um estmulo exterior atinge o tecido vivo de um sistema nervoso, para ser novamente reproduzido para exterior por meio de uma atividade, ou uma ao motora. Tal como uma espcie de fuga do estimulo armazenado. No caso da pulso, que uma fora constante, seu estimulo advm do interior do sistema, que exerce uma presso sobre o organismo, e acaba por se torna uma necessidade. Segundo Freud, tudo que pode causar a suspenso da necessidade a satisfao do impulso gerado internamente. Ento, de um lado, para o organismo se livrar dos estmulos externos em excesso, a fuga atravs da ao motora. Porm, de outro lado, se tratando de estmulos internos o mesmo no ocorre, pois a presso constante causada pela pulso exige a sada do excesso acumulado de energia pulsional. Dentro do aparelho psquico a pulso pressiona o organismo pra achar um a sada para o excesso de fora pulsional. Isso impulsiona os movimentos dentro do aparelho psquico, aliviando a funo do sistema nervoso, empurrando o excesso para fora do organismo. Note que, que no ponto de vista da fisiologia, temos um modelo de arco reflexo para os estmulos externos, e um modo do sistema vivo de lidar com estmulos internos, ou pulsionais. No momento que as pulses tentam achar caminhos no organismo, para se livrar do acumulo de fora pulsional, as pulses movem o mesmo aparelho. Freud afirma que ao se livrar do excesso de fora pulsional, ocorre a transformao de energia fsica em energia psquica. Quando ocorre a transformao da energia fsica em energia psquica, isso serve como um escape para o organismo se livrar do excesso de energia acumulada pela pulso. Monzani afirma, na obra Freud: o movimento do um pensamento, que Freud diz que o corpo transforma processos energticos orgnicos em processos energticos psquicos, de forma que energtico produzido pelos movimentos pulsionais habita o psquico.

Para compreender essa passagem da energia somtica para energia psquica, no ponto de vista fisiolgico, quando a descarga do excesso de estimulao e a circulao da energia, e da noo de prazer e desprazer para se livrar do excesso de excitao do organismo. Segundo Freud, os seres vivos podem perceber que h estmulos, os quais eles podem se livrar por uma ao motora, e outros que continuam exercendo sua constante presso. Deste modo, o homem percebe que a um mundo exterior e outro mundo interior, um em oposio a outro.

Note que, que a partir do ponto de vista fisiolgico para explicar as aes das pulses em nosso organismo, Freud nos mostra a concepo do mundo interno e com ele a concepo do eu, ou de indivduo. No primeiro ensaio sobre a sexualidade, Freud analisa como as pulses sexuais que em certo momento se confundem com a necessidade de coito genital para reproduo, pode depois transgredir esse biolgico e resultar nas perverses sexuais. Ento, o psquico participa na transformao da pulso sexual, ou seja, o psquico age sobre o biolgico, assim como ocorre no caso das perverses, onde se reconhece que o psquico esta agindo na transformao da pulso sexual.

Se no ponto de vista fisiolgico, o que importa descarga do excesso de fora pulsional, no necessita de um objeto de determinado para que isso ocorra, contando que, o objetivo de aliviara a presso no psiquismo tenha sido alcanada. Freud coloca os argumentos naturalistas em outro ngulo quando foca na espcie humana. Porm, se existi um desvio da finalidade da pulso sexual, da sua meta de reprodutiva, o prprio Freud, limitar as condies em que um comportamento sexual pode ser considerado uma aberrao ou anomalia. A anomalia patolgica especificamente, para Freud, uma busca por um fetiche, que substitui o objeto sexual, tal como uma parte do corpo, ou objeto que no seja voltado para tal fim. A patologia ocorre quando se fixa em uma dessas coisas, de modo a substituir um o objetivo sexual, at se torna o nico objeto de satisfao sexual. Nesse ponto, chegamos a uma importante descoberta de Freud, que a de que a pulso sexual, ou sexualidade, no exclusivamente de procriao, mas pode existir forma independente, contando que ela seja aliviada.

Se a pulso sexual pode sofrer um desvio, e for a origem de perverses sexuais, quem estabelece uma norma, o biolgico ou o social? Sobre o ponto de vista biolgico e fisiolgico, neste o que importa a descarga do excesso de energia pulsional. Ento, a normatizao s poder vir do lado social, se o objeto sexual varivel, a nomeao de uma patologia ou perverso ser instituda pela cultura. Porm, se no ponto de vista biolgico a reproduo a finalidade ultima, a norma estabelecida quando h um desvio do objetivo de conservao da espcie. Ou seja, a pulso sexual est atrelada ao biolgico reprodutivo em busca da conservao da espcie, mas em certo momento ela toma um caminho diferente. Portanto, temos duas vises, a pulso sexual um construto da espcie, para conservao da mesma espcie. E na viso fisiolgica a pulso sexual construto do indivduo, pois a necessidade que o psquico tem em abrir caminhos individuais para seu alivio.

No mbito da cultura poderamos constatar que haveria uma enorme variedade de objetos sexuais, que comporte diversos comportamentos sexuais, possibilitando vrias sadas para descarregar a energia pulsional. O objetivo biolgico de reproduo fica, deste modo, em segundo plano, justamente o desvio em outros objetos sexuais, e o objetivo fisiolgico de simples descarga serem cada vez mais buscados em nossa cultura. Ainda podemos apontar a possibilidade que nossa cultura d ao homem, do coito sem a reproduo, por meio de mtodos de controles de natalidade. Desta maneira, segundo Freud, a cultura ir interferir na construo do psquico, e deixar sua marac permanente no biolgico. Freud indica, na obra Alm do princpio de prazer (1920), dois nveis de desenvolvimento pulsional no homem, a pulso de auto-conservao e pulso de sexual (como foi explicado acima). No incio do desenvolvimento humano elas se acham relacionadas, ou seja, a pulso de auto-conservao se apia na pulso sexual e vice e versa. Depois de certo momento no desenvolvimento humano essas pulses tomam caminhos diferentes. Pois, a pulso de auto-conservao tem um objeto determinado, ao contrrio da pulso sexual, que no tem objeto, mas a prpria ao que causa satisfao. Para entender como a pulso age sobre a espcie (auto-preservao), e sobre o indivduo (sexual), apontaremos dois campos: o biolgico e o humano. Teremos o individuo (clula) e o grupo (estado celular), que no mbito humano o homem solitrio e o homem social. No mbito biolgico, as pulses ultrapassam o mbito humano, e reca sobre tudo que vive (biolgico), nesse mbito teremos duas potncias que se combatem (pulso de vida e pulso de morte). Aparece tambm o embate orgnico e inorgnico.

Em Freud, podemos dizer que a pulso de vida liga, e a pulso de morte desliga funes orgnicas. Para esboar tal teoria, Freud investiga o comeo de toda vida, onde tudo era inorgnico, esse matria inorgnica recebe incitao de raios solares. Devido a isso, a matria bombardeada por energia tende a expelir essa energia acumulada, assim voltando ao estado inorgnico, mas a pulso vital continua a resistir, at que a uma estabilidade. A estabilidade gera a vida, a matria orgnica. Porm, a estabilidade atacada pela pulso de morte, que quer repetir seu estado inorgnico, assim gerando a morte da matria orgnica, ou a sua desunio. A pulso de vida prolonga a vida nas geraes, nesse embate no mbito biolgico, no importa o individuo, mas espcie, que quer continuar viva, ou preservada. O paradoxo existir no mbito humano, quando o homem tem que inibir sua pulso sexual para viver em sociedade, criando uma dualidade entre prazer e sociedade.

Ento um pergunta se torna necessria: Vale pena preservar a cultura? As contradies so, em Freud, indissolveis, para se viver em grupo, preciso certas opresses que ferem o narcisismo do indivduo. Contudo, s um indivduo, quando esse visto em contraposio com uma espcie. A contradio aqui parece, de certa maneira, um modo da prpria cultura existir. O indivduo por si s no existi sem a o grupo que o oprime. Na sociedade, por exemplo, o homem tem que sublimar seu impulso sexual pata viver nesse modelo de sociedade. Portanto, para Freud, o homem no pode se libertar dos jogos interiores (represses), para usufruir de uma vida plena, onde prazer, ou descarga da energia pulsional, e a sua vida social seriam colocados no mesmo patamar.

O homem, para Freud, tem uma natureza contraditria, entre a social e o anti-social. De um lado, o individuo que precisa descarregar sua energia sexual, e de outro o que precisa frear sua pulso para viver em sociedade. Contudo, o homem com seu paradoxo, encontram mais comodismo na sociedade, a fim de poder usar energia acumulada para ter mais prazer, do que aquele que vive fora da sociedade. A coero dos impulsos um ponto de equilbrio entre renncia e satisfao, para que os homens encontrem um prazer grupal, onde a ele ter a recompensado, por sacrificar certos impulsos, para viver em sociedade. Porm, o descontentamento com a cultura causado justamente pela coero do individuo, a moral, que cultural, e que freia os impulsos, que causa as patologias, pois a energia no aliviada armazenada, para depois ser descarregada em forma de uma patologia. A moralidade reprime a memria infantil, e algum fato ressurgi no como uma memria imagem, mas comea agir sobre indivduo, de forma inconsciente. O trauma problemtico quando nasce a moral no indivduo, e sendo a moral algo cultural, a cultura carrega consigo o germe do descontentamento, nunca dissolvendo as contradies dos indivduos. Bibliografia.

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STAROBINSKI, J. As mscaras da civilizao: ensaios. So Paulo: Cia das Letras, 2001.MONZANI, L. R. Freud: O movimento de um pensamento. 2. ed. Campinas: Ed. Da UNICAMP, 1989. Cf. MONZANI, L. R. Freud: O movimento de um pensamento. 2. ed. Campinas: Ed. Da UNICAMP, 1989.