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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X AS PREFERÊNCIAS DE FECUNDIDADE E O PLANEJAMENTO POR FILHOS: DISCUSSÕES A PARTIR DE RELATOS DE HOMENS UNIDOS DE UMA CAPITAL E DE UMA REGIÃO DE FRONTEIRA NO BRASIL Angelita Alves de Carvalho 1 Paula Miranda-Ribeiro 2 Resumo: Por muitas décadas foi dado um imenso foco às preferências reprodutivas femininas sobre os resultados de fecundidade. Contudo atualmente, percebe-se mudanças significativas nas relações de gênero entre os cônjuges, especialmente no que envolve o processo de tomada de decisões por filhos e o cuidado destes. O que indica que também as preferências reprodutivas dos homens estão tendo impactos significativos na fecundidade. Contudo, poucos estudos existem no Brasil para o melhor entendimento deste fenômeno por parte dos homens. Assim, este trabalho analisa os desejos e intenções por filhos e o planejamento por estes numa perspectiva masculina. Busca-se comparar visões sobre o planejamento por filhos de homens casados/unidos, mais escolarizados, residentes em Belo Horizonte (MG) com aqueles de menor nível educacional, que vivem em um contexto mais interiorano e rural do município de Machadinho D’Oeste (RO). Para isso, foram utilizados dados de entrevistas em profundidade realizados em ambos municípios com aproximadamente 46 homens entre os anos de 2013 e 2014. O estudo revelou que em média o desejo por filhos é superior ao número de filhos tidos, ou seja, a maioria dos homens entrevistados apresentam-se na situação de fecundidade discrepante negativa. Contudo, isso não significa, na maioria dos casos, uma insatisfação com o comportamento reprodutivo. E apesar de pertencerem à regiões e contextos sociais, culturais e econômicos bastante distintos, entrevistados apresentam características bastante próximas quanto ao processo de planejamento e implementação das preferências reprodutivas. Palavras-chave: desejo e intenções por filhos; perspectiva masculina; pesquisa qualitativa; 1 - INTRODUÇÃO O estudo sobre homens e reprodução sempre foi marginalizado na análise demográfica. Segundo Goldscheider & Kaufman (1996), antes das transformações que criaram as sociedades urbanas e pós-industriais em todo o mundo mais desenvolvido, homens e mulheres conviviam em casa, envolvidos na produção familiar e no cuidado de seus filhos. As circunstâncias históricas levaram os homens a deixarem a família para geração de renda e às mulheres couberam os cuidados dos filhos e da casa. As leis de transferência para a mulher tanto da custódia legal e da responsabilidade com os filhos nos casos do divórcio vieram reforçar esses papéis de homens e mulheres. Por muito tempo, as abordagens teóricas dominantes colocavam a mulher e a criança no âmago do processo histórico de construção da vida familiar, o que contribuiu amplamente para dissociar o homem das manifestações afetivas que circulam no seio da família. Uma das grandes contribuições para a inserção dos homens no processo reprodutivo foram as reivindicações contínuas dos movimentos feministas, o aumento da escolarização feminina e sua entrada maciça para o mercado de trabalho e vida pública. Tudo isso levou a uma preocupação com a definição do 1 Pesquisadora e Professora na Escola Nacional de Ciências Estatísticas, ENCE/IBGE, Rio de Janeiro, Brasil. 2 Professor Adjunta da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

AS PREFERÊNCIAS DE FECUNDIDADE E O PLANEJAMENTO POR FILHOS:

DISCUSSÕES A PARTIR DE RELATOS DE HOMENS UNIDOS DE UMA CAPITAL E DE

UMA REGIÃO DE FRONTEIRA NO BRASIL

Angelita Alves de Carvalho 1

Paula Miranda-Ribeiro2

Resumo: Por muitas décadas foi dado um imenso foco às preferências reprodutivas femininas sobre os resultados de

fecundidade. Contudo atualmente, percebe-se mudanças significativas nas relações de gênero entre os cônjuges,

especialmente no que envolve o processo de tomada de decisões por filhos e o cuidado destes. O que indica que também

as preferências reprodutivas dos homens estão tendo impactos significativos na fecundidade. Contudo, poucos estudos

existem no Brasil para o melhor entendimento deste fenômeno por parte dos homens. Assim, este trabalho analisa os

desejos e intenções por filhos e o planejamento por estes numa perspectiva masculina. Busca-se comparar visões sobre

o planejamento por filhos de homens casados/unidos, mais escolarizados, residentes em Belo Horizonte (MG) com

aqueles de menor nível educacional, que vivem em um contexto mais interiorano e rural do município de Machadinho

D’Oeste (RO). Para isso, foram utilizados dados de entrevistas em profundidade realizados em ambos municípios com

aproximadamente 46 homens entre os anos de 2013 e 2014. O estudo revelou que em média o desejo por filhos é

superior ao número de filhos tidos, ou seja, a maioria dos homens entrevistados apresentam-se na situação de

fecundidade discrepante negativa. Contudo, isso não significa, na maioria dos casos, uma insatisfação com o

comportamento reprodutivo. E apesar de pertencerem à regiões e contextos sociais, culturais e econômicos bastante

distintos, entrevistados apresentam características bastante próximas quanto ao processo de planejamento e

implementação das preferências reprodutivas.

Palavras-chave: desejo e intenções por filhos; perspectiva masculina; pesquisa qualitativa;

1 - INTRODUÇÃO

O estudo sobre homens e reprodução sempre foi marginalizado na análise demográfica.

Segundo Goldscheider & Kaufman (1996), antes das transformações que criaram as sociedades

urbanas e pós-industriais em todo o mundo mais desenvolvido, homens e mulheres conviviam em

casa, envolvidos na produção familiar e no cuidado de seus filhos. As circunstâncias históricas

levaram os homens a deixarem a família para geração de renda e às mulheres couberam os cuidados

dos filhos e da casa. As leis de transferência para a mulher tanto da custódia legal e da

responsabilidade com os filhos nos casos do divórcio vieram reforçar esses papéis de homens e

mulheres.

Por muito tempo, as abordagens teóricas dominantes colocavam a mulher e a criança no

âmago do processo histórico de construção da vida familiar, o que contribuiu amplamente para

dissociar o homem das manifestações afetivas que circulam no seio da família. Uma das grandes

contribuições para a inserção dos homens no processo reprodutivo foram as reivindicações

contínuas dos movimentos feministas, o aumento da escolarização feminina e sua entrada maciça

para o mercado de trabalho e vida pública. Tudo isso levou a uma preocupação com a definição do

1 Pesquisadora e Professora na Escola Nacional de Ciências Estatísticas, ENCE/IBGE, Rio de Janeiro, Brasil. 2 Professor Adjunta da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, Brasil.

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papel de homem-pai e os estudos “estudos sobre paternidade aparecem como no campo particular

de ações e investigações. A participação mais efetiva dos homens no cotidiano familiar,

particularmente no cuidado com as crianças, aparece sob a égide da expressão “nova paternidade”

(Arilha, Ridente e Medrado, 1998, p. 20).

A partir da década de 90 teve-se uma mudança decisiva neste panorama, especialmente a

partir da Conferencia Internacional sobre a População e o Desenvolvimento de 1994. Da

Conferencia saíram algumas orientações para a promoção da coresponsabilizacão dos homens nos

comportamentos sexuais, reprodutivos e no exercício da paternidade responsável. A partir de então,

abriu-se o caminho para a compreensão dos processos de decisão no campo da fecundidade e do

papel exercido pelos homens (Goldscheider & Kaufman, 1996).

Apesar desse constante estímulo e exigência para que os homens também participassem do

processo de tomada de decisão por filho, Cunha (2010) revela que a mudança no nível de

fecundidade têm sido totalmente atribuída ao protagonismo feminino. Muitos fatos remetem a isso,

tal como a participação feminina no mercado de trabalho – que tem aumentado significativamente

desde meados do século XX – para inibir a aspiração à maternidade. Como clarificou Oliveira, I.

(2007) a este respeito, trata-se de “uma visão profundamente enraizada na perspectiva de Becker,

sobre os maiores custos econômicos da criança associados ao aumento da educação feminina (…).

Esta concepção supõe a existência de um conflito entre o trabalho feminino (associado ao aumento

da escolarização) e a maternidade” (Oliveira, I. 2007 p. 15)

Também Oliveira, M. (2007) mostra que o tema reprodução têm sido tratado,

preferencialmente, no contexto da vida feminina, porque é assim que a pesquisa em demografia se

volta para a compreensão dos determinantes dos níveis e padrões de fecundidade, uma vez que

examina, a partir da mulher, as carreiras reprodutivas e os projetos de fecundidade. A autora

defende a importância de desvendar as construções socioculturais que modelam atitudes e práticas

masculinas relativas à reprodução, mostrando uma preocupação em entender a matriz social de

direitos e obrigações que fundamentam os projetos e as decisões reprodutivas masculinas. Além

disso, existe um interesse em conhecer como os homens constroem ao longo da vida suas visões

sobre a reprodução e a paternidade, sobre a sua capacidade ou incapacidade de interferir nesse

processo e as práticas que dão vida as suas experiências nessa área. Assim, a inclusão de ambos os

parceiros como objeto de pesquisa faz-se uma oportunidade de incluir os homens no contexto das

escolhas reprodutivas.

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Wall et al. (2010) tentam trazer as discussões feministas para o mundo dos homens e, nesse

sentido, defendem que é importante pensar como as obrigações profissionais podem impedir os

homens de se realizarem na vida privada e assim estes também teriam tensões e dificuldades na

conciliação entre a vida profissional e a vida familiar. Sabendo que não somente as mulheres têm

dificuldades de conciliação de suas diversas obrigações públicas e privadas, mas também os homens

as sofrem, desvendar essas contradições é primordial no atual cenário de baixa fecundidade.

Nesse aspecto, Lyra e Medrato (2000) afirmam que ainda não se tem no Brasil instrumentos

de coleta de dados das principais pesquisas realizadas no país em âmbito nacional (Declaração de

Nascidos Vivos; Mapa de registro de Nascidos Vivos; Contagem Populacional, 1996; PCV,

1990/1994; PNAD, 1996) perguntas que possam trazer informações sobre a participação masculina

na vida reprodutiva. Destacam que é necessário reformular tais questionários a fim de que colocar o

homem como também responsável nos debate sobre a concepção e criação de filhos.

Isso se faz cada vez mais necessário, uma vez que o exercício de uma paternidade

responsável, que inclui os cuidados corporais e as necessidades afetivas dos filhos, vem aumentado

e isto pode ser visto como caminho para a construção de um novo homem, uma vez que uma das

características do modelo tradicional é a dificuldade que os homens têm de expressão, afeto e

ternura (Giffin & Cavalcanti, 1999). Contudo, Vieira et al. (2014) destaca que parece existir uma

dualidade no exercício dessa paternidade, pois por um lado reconhece-se a da figura paterna para o

desenvolvimento da criança e a necessidade de que o pai participe de maneira ativa nos cuidados

dos filhos e por outro ainda se vive papéis parentais tradicionais, uma vez que o pai é caracterizado

como ajudante da mãe, conferindo a ela a responsabilidade majoritária pela criação dos filhos.

Estas novas parentalidades podem ser percebidas em alguns estudos de caso no Brasil.

Giffin (1994), analisando homens em favelas cariocas, revela tanto o aumento da responsabilidade

econômica que os homens sentem perante a gravidez quanto sua concordância em controlar a

fecundidade, ou mesmo sua proibição sobre uma gravidez, especialmente entre homens jovens e

ainda sem filhos. Para muitos homens de baixa renda, ‘ser pai’ significa assumir a responsabilidade

pelo sustento do filho, não sendo resultado automático da participação na geração de uma criança.

Também no estudo etnográfico de Bustamante (2005, p. 393) com homens de camadas

populares de Salvador, revelou que “sentir-se pai não está determinado pelo laço biológico com a

criança, e sim, fortemente influenciado pela qualidade da relação com a parceira e a própria

experiência como filho” E assim como no estudo anteriormente citado, “ser provedor é condição

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necessária para ter uma relação afetiva com os filhos, da qual os cuidados corporais tendem a estar

excluídos, por serem considerados atribuição feminina”.

De Almeida Cardoso et al. (2009), a partir de entrevistas com homens de João Pessoa,

remete novamente à paternidade como um processo em transição, mostrando uma mudança dos

sujeitos com o decorrer da vivência da paternidade. No início esta era concebida como um novo

encargo social, muito mais vinculada à provisão material da família do que ao espaço de

envolvimento afetivo com o(a) fi lho(a). Posteriormente, a partir da conivência com os filhos,

destacava-se como eixo central das preocupações de ser pais a dimensão afetiva da paternidade.

Nesse contexto torna-se importante o estudo das preferências reprodutivas, buscando

entender a visão dos homens nesse processo (Ryder, 1973). Visto que ainda existem no Brasil

poucos estudos que considerem o ponto de vista dos homens, pois pela disponibilidade da fonte de

dados, baseiam-se, apenas na visão das mulheres sobre as decisões reprodutivas (Beckman et al.,

1983; Morgan, 1985; Thomson et al. 1990; Thomson, 1997; Thomson & Hoem, 1998).

Neste sentido, questiona-se: Como se dá o processo de formação dos desejos e planejamento

dos filhos entre homens de diferentes contextos regionais e socioculturais? Há evidências de

discrepância entre fecundidade realizada e desejada nestes grupos? Estes homens têm mais filhos do

que desejam ou tem menos do que gostariam? Quais consequências são percebidas por eles deste

processo? Investigações que avancem nestas discussões são necessárias.

Busca-se comparar visões sobre o planejamento por filhos de homens casados, mais

escolarizados, residentes em Belo Horizonte (MG) com aqueles de menor nível educacional, que

vivem em um contexto mais interiorano e rural do município de Machadinho D’Oeste (RO).

Buscou-se ainda identificar e entender como estes diferentes contextos podem gerar atitudes e

vivências quanto ao planejamento por filhos ao mesmo tempo semelhantes por um lado e ao mesmo

tempo divergentes em outros aspectos.

2 - ASPECTOS METODOLÓGICOS

2.1 - Local de estudo, população, recrutamento e técnica de pesquisa

Optou-se por trabalhar em dois locais bastante distintos: Machadinho d’Oeste e Belo

Horizonte. O primeiro fica localizado no estado de Rondônia e foi escolhido por ser o foco do

projeto LUCIA, ao qual este estudo se integra. O outro local de estudo foi a cidade de Belo

Horizonte, capital do estado de Minas Gerais. A escolha de deveu ao fato de nenhuma pesquisa

sobre essa temática ter sido desenvolvida na cidade e esta apresentar Taxa de Fecundidade bastante

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abaixo no nível de reposição, temática de fundo da pesquisa, e, ainda, às facilidades de ir a campo,

já que a pesquisadora residia em Belo Horizonte.

A população deste estudo foi composta por homens heterossexuais, casados legalmente ou

unidos por pelo menos 1 ano. A técnica de recrutamento foi por conveniência, em que as

abordagens foram feitas a partir da técnica da bola de neve, em que os próprios participantes

indicavam conhecidos que se enquadravam no perfil. Foram realizadas entrevistas individuais em

profundidade as quais foram conduzidas pela primeira autora, a partir de roteiros semiestruturados.

Estes roteiros, assim como todo o projeto, foram submetidos e aprovados pelo Comitê de Ética em

Pesquisa da UFMG.

As entrevistas foram gravadas e transcritas, sendo realizada uma análise de conteúdo para

sua interpretação. A fim de garantir a confidencialidade dos participantes, estes foram identificados

por meio de nomes fictícios. Nesta técnica adotou-se a análise das redes de temas, assim sugerido

por Attride-Stirling e utilizado por Carvalho (2014). Esta proposta analítica é uma forma de

organizar a análise temática dos dados qualitativos categorizando os temas que surgem nos textos

em diferentes níveis.

2.2 - Breve descrição do perfil dos entrevistados

Foram entrevistados 15 homens de baixa escolaridade (em torno do ensino fundamental),

com idade média de 42 anos (com as idades máximas e mínimas de 31 e 53 anos). A idade média à

primeira união foi bastante jovem (25 anos). Em consequência disso, a idade ao ter o primeiro filho

também foi bastante precoce (26 anos). Quanto aos aspectos sociodemográficos, todos os

entrevistados eram imigrantes do município e vieram principalmente de cidades vizinhas e do

estado do Paraná. Dos entrevistados, 8 moravam na zona urbana do município, desempenhando

funções, na maioria das vezes ligada ao comércio e ou empregados públicos e 7 residiam na região

rural, contudo bastante próximas e muito integradas com a cidade, ao ponto de que alguns

desempenhavam trabalho remunerado nela, tais como motorista de ônibus, professor.

Já grupo de maior escolaridade (superior ou mais) foi composto por 31 homens, com idade

média de 48 anos. A maioria era natural da cidade, e os que eram migrantes vieram do interior do

próprio estado. A maioria deles estavam vivenciando a primeira união e a idade média à união foi

de 32,6 anos para os homens, ou seja, bem acima da média brasileira (IBGE, 2011). A idade média

ao ter o primeiro filho foi de 33 anos. Destes, 8 homens tiveram seus filhos antes dos 35 anos.

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Somente um entrevistado declarou não trabalhar. Entre as profissões mais comuns estavam

servidores públicos, empresários/autônomos, profissionais liberais, professores, etc.

3 - RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1- Formação dos desejos e intenções de fecundidade

Uma parte dos entrevistados revelou que o desejo por filhos surgira ainda na adolescência,

como algo do curso natural do ciclo de vida. Mesmo que tardiamente para os homens (Adalto), o

projeto de ter filhos existe no horizonte do ciclo de vida. Essas percepções foram encontradas em

ambos perfis de homens. E é interessante notar que a questão do casamento não é algo tão forte

entre eles, mas que este está muito associado ao fato de ter filhos.

“Não tinha vontade de ter filhos... Sabia que um dia ia casar e tal, porque é o trâmite normal da

vida, né?” (Mateus, 45 anos, 2 filhos, baixa escolaridade)

“Não sei se um dia eu vou me casar, mas se casar é natural ter filhos”. (Pedro, sem filho, 43 anos,

alta escolaridade)

Foi especialmente forte entre os homens de alta escolaridade, houve uma comparação com o

comportamento do pai e da relação que estes tinham com ele na infância. A maioria deles relatou

experiências negativas, os quais na maioria dos casos, não tinham a intenção de seguir, uma vez que

para eles não seria o comportamento ideal de pai.

“Uma coisa que eu pretendo fazer diferente do meu pai, meu pai deu uma educação ótima para a

gente, com todas as condições de estudar, de aproveitar as férias quando eu era menino, viajar,

mas eu acho que faltou na educação dele é dialogar mais, e isso eu pretendo ter bastante com meus

filhos.” (Daniel, sem filhos, 43 anos, alta escolaridade).

“Eu acho que na adolescência, na adolescência eu já pensava em ser pai. Acho que porque eu

brigava muito com o meu pai, então eu queria ser um pai melhor para o meu filho.” (Fabrício, sem

filhos, 31anos, alta escolaridade).

Nas falas relacionadas é perceptível a mudança de atitudes dos homens em relação ao

comportamento de seus pais. Em todas elas, os entrevistados parecem almejar uma maior

participação na criação dos filhos, atitudes condizentes com o que tem sido defendido por Wall et

al. 2010 e Giffin & Cavalcanti, 1999, em que eles defendem o surgimento de novos homens, muito

mais interessados no envolvimento do desenvolvimento dos filhos. Os dados também suscitam as

análises de Purr et al. (2008) em que os homens com atitudes de gênero mais igualitárias parecem

serem propensos a se tornarem pais. Percebe-se também, com as falas acima, uma mudança dos

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homens em relação à geração dos pais, ou seja, parece estar havendo uma mudança de

comportamento entre as coortes. Abaixo, na fala de Augusto isto fica ainda mais claro, o qual

mostra ter uma clara percepção desta mudança.

“A dele [geração do pai] era normal o pai ser um cara que trazia renda para casa e a mãe ser a

que cuidava dos filhos. Hoje os dois têm que trazer a renda, os dois têm que cuidar. Então

realmente você para e pensa, tem razão, são momentos diferentes.” (Augusto, 2 filhos, 40 anos, alta

escolaridade).

3.2 - Medos e (in)segurança quanto à paternidade

A maioria dos entrevistados de menor escolaridade foi pai muito jovem e de alguma forma

isso teria gerado certa insegurança quanto à paternidade. Uma parte dos entrevistados revelou que

não tiveram muito tempo para se preparar para o nascimento dos filhos uma vez que a gravidez não

foi planejada para aquele momento. Isto de alguma forma envolve a percepção da capacidade de se

tornar ou não mães/pais, o que para a Teoria do Comportamento Planejado seria um dos

determinantes do processo de formação e intenções por filhos (Ajzen, 1991). E apontam para as

consequências que essa gravidez não planejada em idade jovem teve em suas vidas, pois como

referido por Arilha, Ridente e Medrado (1998), ter filhos é algo que os homens vinculam com o

início de uma nova etapa na vida, em que se encerra a curtição e começa a vida familiar e a

responsabilidade. Contudo quando estas etapas não são bem planejadas acontece o que relata o

Marcelo.

“Medo de não dar conta, de deixar passar dificuldade, essas coisas. A gente via tanto pai com o

menino sofrendo, né?” (Fernando, 46 anos 2 filhos, baixa escolaridade)

“Ah, filho é bom, mas dá muito problema, né? É difícil para mexer. Criança é muito bom, mas

chega numa certa idade, começa a dar muito trabalho. E a gente novo também, né? Quando você

tem uma certa idade para ter filho, você tem mais paciência, quando você é novo, você não tem

tempo para filho. Você quer curtir a vida, você quer trabalhar e ganhar dinheiro, aí você não quer

viver para o filho, você quer viver para você.” (Marcelo, 53 anos, 2 filhos, baixa escolaridade)

Uma outra parte dos casais, em especial os de maior escolaridade, afirmou que tentaram se

planejar para ter os filhos, tendo uma estabilidade financeiramente primeiro para pensar, depois, em

ter filhos. A maioria buscou atingir um nível de segurança, especialmente quanto à terem uma casa

própria, para então decidir se tornar pais/mães. E assim, a insegurança não existiu ou foi menos.

Esses achados corroboram outros estudos que também apontam para a importância da estabilidade

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tanto econômica quanto emocional para a decisão de se ter filhos (DE LIMA PARADA e TONETE,

2009).

“Evitamos sim, porque a gente estava desestabilizado, né? Então estava pagando terreno,

construindo, não dava para pensar em ter filho, ia atrapalhar muito. “- Vamos segurar”. Quando

eu estava com trinta, agora vamos.” (Pedro, 49 anos, 3 filhos, baixa escolaridade)

“Não, acho que eu não tive insegurança não. Foi mais acreditar mesmo, sabia que era a hora, que

era a hora dela, que era a nossa hora. Eu não fiquei inseguro não. Na questão financeira eu não

fiquei inseguro. Foi bem tranquilo de a gente encarar.” Ronaldo, 1 filho, 35 anos, alta escolaridade

3.3 – Realização dos desejo/intenções por filhos e satisfação com a fecundidade alcançada

No que diz respeito à fecundidade desejada e realizada, observou-se que o número ideal de

filhos permaneceu bem próximo da média nacional (2,1) e entre os dois grupos de homens

entrevistados (em torno de 2,5 filhos para os homens de menor escolaridade e de 2,3 para os

residentes em Belo Horizonte). Por outro lado, o número de filhos nascidos vivos foi de 2,2, e 1,3,

respectivamente. Ou seja, há uma discrepância negativa de fecundidade em ambos os casos, sendo

mais pronunciada entre os homens mais escolarizados. Essa média mais elevada para os do primeiro

grupo pode estar relacionado ao fato de que nestes há maior frequência de filhos de relacionamentos

anteriores, sendo que o caso mais extremo um entrevistado que tinha 4 filhos em um

relacionamento anterior e dois no atual.

Para a maioria dos homens foi clara a importância do filho homem. Muitos estudos

documentam a crença dos homens de ter uma proximidade maior com o filho homem,

especialmente quando este estiver adulto (Bustamante, 2005). Alguns entrevistados ainda indicaram

a possibilidade de terem três filhos, mas como limite a fim de realizar o desejo de terem menino e

menina, especialmente entre casais residentes na área rural.

“Acho que todo homem tem vontade de ter um filho. Menina é muito bom, maravilhoso, mas todo

homem tem vontade de ter um filho, acho que é aquela coisa de levar o nome, o legado, então eu

tinha vontade de ter um menino. E graças à Deus eu fui contemplado com um casal” (Marcos, 41

anos, 2 filhos, baixa escolaridade)

“Quero ter um filho homem. Se tiver dois pode ser um menino e uma menina, acho até melhor, mas

eu que menino vai ser mais próximo de mim. Não que a filha também não seja, mas acho que

gostar das mesmas coisas do próprio homem, gostar de futebol.” (Daniel, sem filhos, 43 anos, alta

escolaridade)

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A maioria dos entrevistados de ambos os grupos alegou o alto gasto financeiro de criação

dos filhos atualmente para não alcançarem o número de filhos inicialmente desejado, pois todos eles

se mostraram bastante preocupados em investir na educação dos filhos. Esses achados corroboram

os estudo de Braz et al. (2005) que mostram que famílias de classes menos favorecidas enfatizam a

transmissão de valores relacionados à educação formal, o respeito e normas morais.

“Porque é o seguinte, o custo de vida é alto, o custo de vida para a gente é alto. Então você ter

mais filho e deixar de qualquer jeito, fica ruim, então dois, para conseguir manter uma faculdade,

um estudo, né? (Sérgio, 43 anos, 2 filhos, baixa escolaridade)

“Agora, o terceiro é que a gente está relutando. Por causa de educação, a gente sabe que já aperta

mais. Esse segundo [filho] nós vimos o quanto aumentou a nossa despesa. Até para ter outro não

pode morar aqui, porque o apartamento para quatro é tranquilo, mas para cinco ou até para seis,

se vier gêmeos, porque na família dela tem gêmeos.” (Bernardo, 2 filhos, 46 anos, alta escolaridade)

Com relação à satisfação com a (pa)maternidade, muitos participantes demonstraram que ter

filhos contribuiu para a sua realização pessoal, trazendo um amadurecimento muito grande como

pessoa.

“Então, eu amadureci muito sendo pai, então eu vejo que se não fosse pai estaria perdendo um

bocado de aprendizado. Eu vejo pessoas que não têm filhos falando a respeito de filhos, com ideias

a respeito de filhos que eu tinha, e que eu vejo que são absolutamente incompatíveis com a

realidade” (Júlio, 31 anos, 2 filhos, baixa escolaridade).

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo analisou qualitativamente o processo de formação e realização das preferências

reprodutivas num comparativo de homens de baixa escolaridade unidos de uma região de fronteira

no Norte do Brasil com aqueles de maior escolaridade residentes na capital Belo Horizonte/MG.

Observou-se que o processo de formação do desejo por filhos surge na adolescência, para

homens de ambos grupos estudados e que existe uma forte relação com a experiência familiar

vivenciada pelos indivíduos. O grupo entrevistado, mostrou duas tendências diferentes nesse

processo: os mais escolarizados buscaram primeiramente a estabilidade financeira e o planejamento

para se ter filhos mais tardiamente, principalmente por que desejavam dar uma vida diferente para

seus filhos da que tiveram. O outro grupo, de menor escolaridade, teve filhos mais jovem e sem

planejamento. As consequências desse não planejamento no primeiro filho foram as maiores

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dificuldades financeiras e com isso, buscou-se orientação para adiar e planejar melhor os demais

nascimentos.

De modo geral, a discrepância de fecundidade encontrada foi negativa, pois em média os

homens entrevistados tinham menos filhos do que declaram desejar. Apesar disso, é importante

destacar que, exceto nos casos que existia um arrependimento do uso da esterilização, não foi

perceptível que essa discrepância interferisse na satisfação com fecundidade alcançada por estes

homens Aparentemente, os entrevistados não pareciam dispostos a, de fato, implementar aquele

número de filhos idealizado; a busca para oferecer uma melhor qualidade de vida para estes foi

muito forte o que estava diretamente relacionado ao fato de terem um número menor de filhos.

A oportunidade de cursar uma faculdade (não acessível para os entrevistados), foi apontando

pela maioria daqueles de menor escolaridade como sendo um objetivo para seus filhos. Assim,

destacaram a importância do controle do número de filhos e do planejamento entre um nascimento e

outro, o que também contribuía para se ter melhores condições de cuidado e financeiras para

receber o novo membro familiar. Já para o grupo de maior escolaridade parece existir a

concorrência com outras atividades, mas também a preocupação com a qualidade destes filhos foi

apontando como um motivo para não atingir a fecundidade desejada. Apesar da intenção baixa por

ter filhos a preferência por filhos homens, e a figura do casal (dois filhos de sexo diferente)

mostrou-se forte entre os dois grupos de entrevistados.

Tudo isso revelou que, apesar de pertencerem à regiões e contextos sociais, culturais e

econômicos bastante distintos, estes homens apresentam características bastante próximas quanto ao

processo de planejamento e implementação das preferências reprodutivas.

Por fim, espera-se que este trabalho tenha trazido o debate das decisões reprodutivas para o

universo masculino, demonstrando, apesar de serem estudos de caso, as diferentes formas com que

os homens tomam as decisões por filhos e se sentem diante desta experiência.

Referências

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Processes,v.50, p.179–211, 1991.

ARIÈS, P. Two successive motivations for the declining birth rate in the West. Population and

Development Review, 6(4), 645–650, 1980

ARILHA, A; RIDENTI, S.; MEDRADO, B (Orgs.), Homens e Masculinidades: outras palavras (pp.

51- 77). São Paulo: ECOS/ Ed 34, 1998.

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The fertility preferences and the planning for children: discussions from men's stories of a

capital and a border region in Brazil

Astract: For many decades immense focus has been given to female reproductive preferences on

fertility outcomes. However, there are significant changes in the gender relations between the

couples, especially in what concerns the decision-making process for children and their care. This

indicates that the men’s reproductive preferences are also having a significant impact on fertility.

However, few studies exist in Brazil. Thus, this paper analyzes the desires and intentions for

children and the planning by them from a masculine perspective. The objective of this study is to

compare visions about the planning for children of married men who are more educated, living in

Belo Horizonte (MG), with those of lower educational level, living in a rural context of the

municipality of Machadinho D'Oeste ( RO). For that, data from in-depth interviews conducted in

both municipalities with approximately 46 men between the years of 2013 and 2014 were used. The

study revealed that on average the desire for children is higher than the number of children achieved

, that is, the majority of men were in the situation of negative discrepant fecundity. However, this

does not mean, in most cases, dissatisfaction with reproductive behavior. And although they belong

to very different social, cultural and economic contexts and, interviewees present close

characteristics regarding the process of planning and implementing reproductive preferences.

Keywords: Desire and intentions for children. Male perspective. Qualitative research.