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1 AS POSSIBILIDADES DE DESENVOLVIMENTO DO ARRANJO PRODUTIVO MOVELEIRO DO OESTE DE SANTA CATARINA. Renato Ramos Campos Fabiano Geremia 1. Introdução Este trabalho analisa o arranjo produtivo moveleiro da região Oeste de Santa Catarina. Seu crescimento nos anos 90 sugere a potencialidade local para o desenvolvimento de uma aglomeração produtiva com base em micro e pequenas empresas. O objetivo desta pesquisa é investigar esta possibilidade com base no conceito de arranjos produtivos locais que procura compreender as externalidades presentes numa determinada estrutura produtiva e institucional delimitada espacialmente. O trabalho está dividido em 7 seções, incluindo esta introdutória; na seção 2, faz-se a apresentação das principais características da indústria moveleira; na seção 3, procura-se identificar as origens desta aglomeração e as características de sua estrutura produtiva; na seção 4, são analisadas as condições locais de capacitação tecnológica; na seção 5, discutem-se as principais características da estrutura institucional; a cooperação entre as empresas, as vantagens de localização e a avaliação dos atuais programas de apoio ao setor pelas empresas locais são os temas da seção 6, e na seção 7, levantam-se as principais conclusões. 2. Características principais da indústria moveleira Há diversas formas para classificar os produtos e os processos da indústria moveleira. A classificação da indústria do mobiliário adotada pelo FIBGE utiliza como critério principal a matéria-prima predominante utilizada na fabricação do produto – móveis de madeira, de metal, ou de outros materiais. Outras duas classificações são freqüentemente usadas, a primeira considera as características de uso do produto – residencial, para escritório, ou institucional. A segunda considera as características dos processos produtivos predominantes na indústria, estabelecendo dois segmentos, a produção de móveis seriados e a produção de móveis sob encomenda. A produção de móveis sob encomenda se dá em plantas industriais pequenas e pode ser caracterizada como um serviço. É maior o grau de flexibilidade 1 , seus produtos são de maior valor agregado e privilegia a qualidade do acabamento. Este segmento exige mão-de-obra altamente qualificada, pois o trabalho é basicamente artesanal. 1 Recentemente, algumas fábricas que produzem móveis residenciais seriados e móveis institucionais (a indústria de móveis institucionais atende uma demanda específica, móveis para restaurantes, cinemas, hotéis, estádios, e geralmente são produzidos sob encomenda) têm buscado flexibilizar algumas etapas produtivas, oferecendo móveis modulados. A principal dificuldade reside em conciliar a produção em grande escala, a distância entre a fábrica e o consumidor e a grande diversidade de produtos finais, com a rigidez e especificidade de cada processo produtivo. Programa de Financiamento de Bolsas de Mestrado Vinculadas à Pesquisa "Micro e Pequenas Empresas em Arranjos Produtivos Locais no Brasil”. SEBRAE | UFSC | NEITEC | FEPESE| 2004

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AS POSSIBILIDADES DE DESENVOLVIMENTO DO ARRANJO PRODUTIVO MOVELEIRO DO OESTE DE SANTA CATARINA.

Renato Ramos Campos

Fabiano Geremia

1. Introdução

Este trabalho analisa o arranjo produtivo moveleiro da região Oeste de Santa Catarina. Seu crescimento nos anos 90 sugere a potencialidade local para o desenvolvimento de uma aglomeração produtiva com base em micro e pequenas empresas. O objetivo desta pesquisa é investigar esta possibilidade com base no conceito de arranjos produtivos locais que procura compreender as externalidades presentes numa determinada estrutura produtiva e institucional delimitada espacialmente. O trabalho está dividido em 7 seções, incluindo esta introdutória; na seção 2, faz-se a apresentação das principais características da indústria moveleira; na seção 3, procura-se identificar as origens desta aglomeração e as características de sua estrutura produtiva; na seção 4, são analisadas as condições locais de capacitação tecnológica; na seção 5, discutem-se as principais características da estrutura institucional; a cooperação entre as empresas, as vantagens de localização e a avaliação dos atuais programas de apoio ao setor pelas empresas locais são os temas da seção 6, e na seção 7, levantam-se as principais conclusões.

2. Características principais da indústria moveleira Há diversas formas para classificar os produtos e os processos da indústria

moveleira. A classificação da indústria do mobiliário adotada pelo FIBGE utiliza como critério principal a matéria-prima predominante utilizada na fabricação do produto – móveis de madeira, de metal, ou de outros materiais. Outras duas classificações são freqüentemente usadas, a primeira considera as características de uso do produto – residencial, para escritório, ou institucional. A segunda considera as características dos processos produtivos predominantes na indústria, estabelecendo dois segmentos, a produção de móveis seriados e a produção de móveis sob encomenda.

A produção de móveis sob encomenda se dá em plantas industriais pequenas e pode ser caracterizada como um serviço. É maior o grau de flexibilidade1, seus produtos são de maior valor agregado e privilegia a qualidade do acabamento. Este segmento exige mão-de-obra altamente qualificada, pois o trabalho é basicamente artesanal. 1 Recentemente, algumas fábricas que produzem móveis residenciais seriados e móveis institucionais (a indústria de móveis institucionais atende uma demanda específica, móveis para restaurantes, cinemas, hotéis, estádios, e geralmente são produzidos sob encomenda) têm buscado flexibilizar algumas etapas produtivas, oferecendo móveis modulados. A principal dificuldade reside em conciliar a produção em grande escala, a distância entre a fábrica e o consumidor e a grande diversidade de produtos finais, com a rigidez e especificidade de cada processo produtivo.

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No segmento de móveis seriados, os processos produtivos são diferentes dependendo da matéria-prima utilizada (madeira maciça, chapas e painéis, metal ou estofados). Cada processo produtivo exige diferentes plantas industriais. Neste segmento, as escalas produtivas são maiores em relação às escalas do segmento de móveis sob encomenda. O grau de flexibilidade da produção é menor, e emprega mão-de-obra com menor qualificação.

Para este estudo adota-se a classificação que distingue móveis sob encomenda, de móveis seriados2, levando em conta a necessidade de identificar de forma mais detalhada os diversos aspectos tecnológicos que afetam as principais características competitivas nesta indústria. As inovações da indústria moveleira dependem das inovações ocorridas nas indústrias fornecedoras, tanto de máquinas e equipamentos quanto de matérias-primas.

A crescente preocupação com os fatores ambientais tem incentivado a busca de alternativas para substituir madeira natural por madeira reflorestada. Matérias-primas como chapas e painéis aglomerados são processadas totalmente com madeira procedente de florestas plantadas. Inovações no processamento de madeira aglomerada tem proporcionado uma redução da dependência da indústria moveleira com relação à madeira maciça. Os efeitos sobre a indústria moveleira foram à redução de custos e aumento da eficiência produtiva, pela eliminação de algumas etapas do processo produtivo e combinação de diferentes materiais.

A introdução da micro eletrônica nas máquinas e equipamentos (equipamentos com Controle Numérico Computadorizado – CNC) afetou principalmente as etapas de usinagem pela economia de materiais, redução de tempo e de custos de mão-de-obra. No processamento de móveis com predominância de madeira, tanto maciça quanto de chapas e painéis, os principais avanços tecnológicos ocorreram no tempo de secagem da madeira e eliminação da fase da pintura em alguns casos com efeitos sobre os custos – de mão-de-obra e de materiais.

Em resumo, o desenvolvimento tecnológico compreendido de forma ampla no conjunto da cadeia produtiva da indústria moveleira orientou-se para a maior continuidade e integração dos processos produtivos, buscando o aumento de escala em paralelo com o aumento da flexibilização produtiva.

No segmento de móveis seriados retilíneos foi onde ocorreu uma maior ampliação do consumo. Neste segmento, a demanda por móveis varia conforme o nível de renda da população, estima-se que os gastos com móveis variem entre 1% a 2% da renda das famílias. No segmento de móveis seriados torneados e móveis sob encomenda, a demanda é mais restrita, e concentram-se em consumidores classes A e B.

2 Existem diversas empresas no arranjo que produzem na mesma planta produtiva tanto produtos seriados quanto produtos sob encomenda. Neste trabalho usamos a denominação “ambos os segmentos” para este conjunto de empresas.

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No segmento de móveis sob encomenda, a comercialização e logística são realizadas diretamente fábrica/consumidor, tendo, como principal forma de marketing, a imagem que a empresa adquiriu ao longo do tempo, em função da qualidade do produto e dos serviços prestados. Na indústria de móveis seriados, as estratégias de comercialização geralmente estão ligadas a baixos preços e são realizadas predominantemente através de lojas e magazines ou de grandes redes atacadistas que dominam os principais mercados mundiais – Europa e EUA. Recentemente, algumas empresas de móveis residenciais estão utilizando o sistema de franquias com lojas exclusivas3 combinadas com a implementação de projetos de móveis modulados com customização.

A indústria moveleira nacional é composta predominantemente por micro e pequenas empresas familiares, com capital nacional, apenas o segmento de móveis de escritório possui uma pequena participação de capital estrangeiro. O setor moveleiro é altamente fragmentado, com cerca de 15.500 empresas formalmente estabelecidas, conforme indica a Tabela 1, e com grande absorção de mão-de-obra, gerando em torno de 180.000 empregos diretos. Pode-se observar que 85% das empresas produzem móveis com predominância de madeira e seus derivados.

Tabela 1: Número de empresas da indústria moveleira no Brasil, 2001

Classificação Micro Pequena Médias Grande Total Fabricação de móveis com predominância de madeira 11.735 1.302 188 11 13.236

Fabricação de móveis com predominância de metal 980 211 28 1 1.220

Fabricação de móveis de outros materiais 876 124 20 1 1.021 Total 13.591 1.637 236 13 15.477 Fonte: RAIS/MTE-2001.

As regiões Sul e Sudeste são responsáveis por 95% da produção de móveis no Brasil, com destaque aos arranjos produtivos moveleiros de São Bento do Sul/SC, Bento Gonçalves/RS, Arapongas/PR, Ubá/MG, Colatina/ES e nordeste paulista, recentemente nesses estados estão desenvolvendo-se outras aglomerações produtivas.

As exportações brasileiras de móveis cresceram de US$ 16,1 milhões, em 1989, para US$ 517,44 milhões em 2003. Os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul são responsáveis por aproximadamente 80% deste percentual, com destaque para os pólos moveleiros de São Bento do Sul e Bento Gonçalves, respectivamente.

3 As empresas de móveis residenciais que produzem móveis para cozinha utilizam-se deste sistema há mais tempo. 4 Dados extraídos do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior via Internet – Alice Web. Site: http://www.mdic.gov.br.

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3. Origem e estrutura produtiva do arranjo moveleiro do Oeste de Santa Catarina A região em estudo5 é constituída por 59 cidades, dentre as quais 37

possuem empresas moveleiras.6 Cerca de 70% das empresas e 75,3% do emprego desta indústria na região estão concentrados nos municípios de Chapecó, Coronel Freitas, Nova Erechim, Pinhalzinho, Modelo, São Lourenço D´Oeste, São Miguel D´Oeste, São José do Cedro e Maravilha. Apesar de não constituírem uma área geográfica contígua, todos estão localizados em duas microrregiões homogêneas (IBGE) limítrofes.Além disto, a similaridade das características da indústria (principalmente pela presença de micro e pequenas empresas em todos os municípios) e a dimensão institucional que caracteriza um espaço comum permitem considerar este conjunto como um arranjo produtivo localizado da indústria moveleira, cujo núcleo principal é formado pelos municípios acima referidos.

A economia da região Oeste Catarinense é bastante diversificada, e isso se deve a uma colonização baseada em pequenas propriedades e, primordialmente, voltada para a subsistência com comercialização dos excedentes. Isso estimulou a criação de um mercado interno que gradualmente passou a se integrar ao mercado nacional viabilizado pela estrada de ferro São Paulo/Rio Grande.

A constituição dos primeiros núcleos urbanos está associada com a atividade de exploração da madeira. Em 1925 foi constituída a Companhia Sul Brasil, a qual possuía uma grande quantidade de terra na região Oeste, tendo investido na instalação de diversas serrarias, formando pequenas vilarejos.

Portanto, a indústria moveleira na região Oeste de Santa Catarina teve sua origem associada à constituição de várias serrarias após o surgimento da estrada de ferro, São Paulo/Rio Grande, estas fizeram com que ocorresse a formação de diversos povoados e, conseqüentemente, a necessidade de serviços que viessem a atender a demanda destas pequenas aglomerações urbanas. Junto com a infra-estrutura proporcionada inicialmente pela construção da estrada de ferro, houve uma forte imigração de alemães e italianos – esses vindos sobretudo do Rio Grande do Sul – para o oeste catarinense, trazendo consigo suas culturas e as técnicas das indústrias manufatureiras.

As primeiras empresas moveleiras da região Oeste surgiram por volta de 1920 para suprir uma demanda local, com pequenas marcenarias que produziam

5 Os municípios da região Oeste definidos no estudo compreendem a microrregião de São Miguel D´Oeste e a microrregião de Chapecó. 6 Os municípios que compreendem a região em estudo e que possuem fábricas de móveis são: Águas de Chapecó, Águas Frias, Bom Jesus D´Oeste, Caibi, Campo Erê, Chapecó, Coronel Freitas, Cunha Porã, Formosa do Sul, Irati, Maravilha, Modelo, Nova Erechim, Palmitos, Pinhalzinho, Quilombo, São Carlos, São Lourenço D´Oeste, Saudades, Serra Alta, Sul Brasil e União D´Oeste, Anchieta, Descanso, Dionísio Cerqueira, Guaraciaba, Guarajá do Sul, Iporã do Oeste, Itapiranga, Mondai, Palma Sola, Princesa, Riqueza, São João do Oeste, São José do Cedro, São Miguel do Oeste e Tunapolis (RAIS/MTE-2001).

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móveis sob encomenda. Esta característica permaneceu praticamente inalterada até o final dos anos sessenta e começo dos anos setenta, sendo que as empresas existentes atendiam basicamente a uma demanda local e o número das mesmas sofria variações semelhantes às do contingente demográfico. Em 1960, existiam apenas 10 empresas da indústria do mobiliário na região Oeste e estas estavam localizadas nas cidades de Chapecó e São Miguel D´Oeste, que eram as cidades com maiores contingentes populacional, ficando claro que esta indústria atendia a uma demanda local até os anos setenta. Apenas nos anos setenta, com a maior integração do mercado nacional, algumas destas marcenarias conseguiram lograr uma acumulação de capital e conhecimento técnico capazes de transformar a produção antes estritamente sob encomenda em produção de móveis seriados em condições de competirem em outros mercados7.

O número de empresas da indústria do mobiliário permaneceu pequeno até meados dos anos oitenta, quando houve um aumento substancial. Esta ampliação está ligada a três fenômenos: i) a maturação das condições técnicas e de capital de diversas empresas constituídas entre os anos de 1960 a 1980, permitindo uma maior integração com o mercado nacional. A maior inserção no mercado nacional deixou parte da demanda local não atendida, e assim abriu espaços para a constituição de novas empresas; ii) a instituição do Plano Real a partir de meados dos anos noventa, motivando o empreendedorismo por parte de muitos empregados que já trabalhavam na indústria moveleira e possuíam bom nível técnico a constituírem suas próprias empresas; e iii) o grande aumento das exportações de móveis no Brasil ocorridas a partir de 1989, principalmente por pólos moveleiros mais desenvolvidos como São Bento do Sul/SC, Arapongas/PR e Bento Gonçalves/RS, proporcionando espaços no mercado interno e estimulando o surgimento de novas empresas.

Existem 293 empresas da indústria do mobiliário neste arranjo produtivo, com presença maciça de micro e pequenas8 (cerca 99%), sendo que as demais são médias e inexistem grandes empresas no local. Conforme indica a Tabela 2, as empresas que produzem móveis com predominância de madeira representam 89,5% das empresas do arranjo, as com predominância de metal, 4,4%, e as que produzem móveis com predominância de outros materiais representam 5,96%. O principal produto do arranjo local é móvel residencial, com pequena participação de móvel para escritório. Estas empresas geram 3.823 empregos diretos, representando cerca de 5% dos empregos da economia na região. O número médio de emprego por empresa no arranjo moveleiro é de 13 trabalhadores. Deste total por volta de 29,1% são criados pelas micro empresas, 55,9% pelas pequenas empresas e 15% pelas médias empresas (RAIS/MTE,2001).

7 Segundo o IBGE – Censos Industriais, em 1970 existiam 43 empresas; em 1975, 42 e, em 1980, 43 empresas. 8 Entende-se como micro as empresas que possuem até 19 funcionários, pequenas as empresas que possuem entre 20 a 99 funcionários, médias as empresas que possuem entre 100 a 499 e, finalmente, as grandes empresas as que possuem acima de 500 funcionários.

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Segundo identificado na pesquisa de campo9, apenas 13,43% das empresas foram constituídas antes de 1980. E na década de 80 foram criadas 26,86% das empresas atualmente existentes. Todavia, é durante a década de 90 que foram criadas mais da metade das atuais empresas, 59,7%. Dados estes que mostram que o arranjo produtivo é bastante recente.

Tabela 2: Empresas do arranjo moveleiro da região Oeste de Santa Catarina segundo tamanho, segmento produtivo e matéria-prima predominante, 2003.

Percentuais

Seriado Sob Encomenda Atuam em ambos os segmentos Segmento

Micro Peq. Média Micro Peq. Média Micro Peq. Média

Total

Madeira 16,45 28,35 4,47 26,86 - - 10,46 2,98 - 89,57 Metal 1,49 2,98 - - - - - - - 4,47 Outros

materiais 2,98 1,49 - 1,49 - - - - - 5,96

Total 20,92 32,82 4,47 28,35 - - 10,46 2,98 - 100 Fonte: Pesquisa de Campo, 2003

Pode-se notar algumas características desta formação pela análise do perfil do empreendedor local obtido na pesquisa de campo. O capital para a constituição das empresas é, de forma geral, dos próprios sócios, que não recorreram a empréstimos, caracterizando a poupança familiar como origem básica do capital local para início das atividades. A maioria das empresas não integra grupos econômicos, 95%, e é de capital nacional10. É importante observar a natureza familiar da propriedade das empresas, pois nos casos em que existe mais de um sócio, 69%, estes pertencem à mesma família, ou possuem relacionamentos de confiança e amizade de longa data.

Dos atuais empresários locais, 38% já exerciam esta atividade anteriormente, e a principal atividade dos demais era seu emprego em outras micro ou pequenas empresas do local. Estes novos empresários, em sua maioria, não possuíam nenhuma tradição empresarial na família. Outro aspecto evidenciado é que apenas 11,94% destes empresários possuíam nível superior; 40,29%, ensino médio; e 47,76%, somente o ensino fundamental ou ensino fundamental incompleto no momento em que constituíram a empresa. Além destas características, percebe-se que os novos empreendedores possuíam um perfil jovem, pois 83% dos empresários tinham menos de 40 anos de idade no momento da constituição da empresa.

9 O núcleo do arranjo produtivo é constituído por uma população de 207 empresas, destas, 159 classificam-se como micro empresas, 46 como pequenas e 03 como médias empresas. Entre as empresas localizadas no núcleo principal do arranjo produtivo, foi definida uma amostra (erro amostral de 10%) de 67 empresas estratificadas por tamanho (40 micro empresas, 24 pequenas empresas e 03 médias empresas), escolhida aleatoriamente. As entrevistas foram realizadas no período de 07 de julho a 15 de agosto de 2003. 10 Um pequeno número de empresas forma um grupo local com estabelecimentos de produção de chapas, painéis e móveis.

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De acordo com a Tabela 3, o destino das vendas do arranjo mostra especialmente que as micro empresas do segmento de móveis sob encomenda têm no local seu principal mercado. Diferente destas, as micro empresas do segmento de móveis seriados tem seus principais mercados no estado de Santa Catarina e no mercado nacional, e as pequenas e médias deste segmento têm significativo grau de inserção nos mercados nacional e mesmo internacional. A participação das vendas do arranjo para o mercado nacional é crescente desde 1990, e as exportações oscilam desde 1995, para todos os portes de empresas, em aproximadamente 10% das vendas do arranjo. Estas exportações dirigem-se, em sua maioria, para mercados de países da América Latina. E a localização do arranjo em relação ao Mercosul sugere sua potencialidade exportador.

Tabela 3: Destino das vendas das empresas do arranjo moveleiro da região Oeste de Santa Catarina nos anos de 1990, 1995, 2000 e 2002.

Percentual das vendas

Seriado Sob Medida Atuam em ambos os segmentos

Micro Peq. Média Micro Peq. Média Micro Peq. Média

Destino das Vendas

2002 Local 28,2 0,5 3,3 86,8 - - 57,1 55,0 - Estado 25,4 5,2 5,0 7,9 - - 27,1 10,0 - Brasil 35,0 83,7 80,7 5,3 - - 14,3 35,0 - Exportação 11,4 10,6 11,0 0,0 - - 1,4 0,0 - 2000 Local 34,3 0,5 3,3 88,7 - - 71,4 55,0 - Estado 23,6 7,3 5,0 6,3 - - 14,3 15,0 - Brasil 34,3 85,8 89,3 5,0 - - 14,3 27,5 - Exportação 7,9 6,5 2,23 0,0 - - 0,0 2,5 - 1995 Local 50,0 8,8 3,3 88,5 - - 100 75,0 - Estado 0,0 20,0 5,0 4,6 - - - 25 - Brasil 50,0 69,7 81,7 6,9 - - - - - Exportação 0,0 1,5 10,0 0,0 - - - - - 1990 Local 50,0 27,3 36,7 85,0 - - 100 100 - Estado 12,5 18,2 5,0 3,3 - - - - - Brasil 37,5 54,5 58,3 11,7 - - - - - Exportação 0,0 0,0 0,0 0,0 - - - - -

Fonte: Pesquisa de campo, 2003

Na estrutura produtiva do arranjo, não há a presença de fornecedores de componentes e a matéria-prima é adquirida fora da região. Por outro lado, o desenvolvimento da indústria estimulou a criação de serviços industriais locais, principalmente de manutenção e do comércio atacadista de matéria-prima. A Tabela 4 evidencia a importância das transações comerciais realizadas no arranjo, identificando as características do mercado local, refletidas na estrutura produtiva das empresas do arranjo.

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A aquisição de insumos e matérias-primas no local é importante sobretudo para as micro empresas do segmento de produção sob encomenda. Estas empresas, pelas características de seu processo produtivo (menor escala de produção e customização dos produtos que exigem grande diversidade de insumos), adquirem suas matérias-primas (originadas fora do arranjo) de atacadistas locais. O mesmo não acorre com as empresas do segmento de móveis seriados, pois adquirem os insumos e matérias-primas fora do local.

Tabela 4: Índice de importância das transações comerciais locais segundo tamanho e segmento produtivo do arranjo moveleiro da região Oeste de Santa Catarina,2003.

Índice de importância11

Seriado Sob Encomenda Atuam em ambos os segmentos Tipos de Transação

Micro Peq. Média Micro Peq. Média Micro Peq. Média Aquisição de insumos e matéria-prima 0,24 0,29 0,20 0,79 - - 0,84 0,65 -

Aquisição de equipamentos 0,26 0,15 0,10 0,61 - - 0,79 0,50 - Aquisição de componentes e peças 0,60 0,46 0,20 0,67 - - 0,70 1,00 -

Aquisição de serviços (manut, marketing, etc) 0,78 0,61 0,50 0,84 - - 0,94 1,00 -

Vendas de produtos 0,42 0,14 0,30 0,87 - - 0,83 0,65 - Fonte: Pesquisa de campo, 2003

Também as máquinas e equipamentos são produzidos fora do arranjo. Entretanto, as empresas do segmento de móveis sob encomenda, por demandarem equipamentos mais básicos, beneficiam-se de externalidades geradas pelas empresas de móveis seriados, que possibilitam o desenvolvimento de um comércio de máquinas e equipamentos usados dentro do arranjo. Além disso, existem algumas empresas da indústria metal mecânica localizadas no arranjo que produzem equipamentos básicos e geram mão-de-obra especializada em serviços de manutenção que beneficiam todos os segmentos produtivos de móveis do arranjo. Todos os segmentos de empresas pesquisados atribuíram grande importância à aquisição local de serviços, em especial de manutenção.

Não há produtores importantes de peças e acessórios no local, o índice mais elevado reflete a presença de representantes comerciais no local. No entanto, a produção de embalagens para a indústria, como papelão e plástico, é feita no local.

A presença de relações de subcontratação foi identificada como um importante aspecto na interação entre as empresas do arranjo. Das pequenas 11 Os índices foram atribuídos através da média ponderada das respostas obtidas nas entrevistas às empresas, estas, ao responderem o questionário, atribuíam um grau de importância para cada item. O grau de importância poderia ser nulo, baixo, médio ou alto. A ponderação foi feita da seguinte forma: “0*Nº Nulas + 0,3*Nº Baixas + 0,6*Nº Médias + Nº Altas/Nº de Empresas no Segmento”, variando entre 0 e 1, em que 0 é considerado nulo e gradativamente até 1 com importância máxima.

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empresas, 41,7% subcontratam outras micro e pequenas empresas localizadas no próprio arranjo. Todas as médias empresas do arranjo realizam subcontratações de micro e pequenas empresas localizadas no arranjo, e 33,3% subcontratam micro e pequenas empresas de fora do arranjo.

Essas relações ocorrem principalmente entre as empresas do segmento de móveis seriados e as empresas que produzem em ambos os segmentos. As relações de subcontratação existentes acontecem por diversos motivos, dependendo do tamanho da empresa envolvida. Geralmente micro e pequenas empresas realizam subcontratação devido a limitações existentes em suas plantas industriais, subcontratando atividades que não podem ser realizadas nas suas plantas produtivas. Enquanto as médias empresas realizam subcontratações para viabilizar maiores escalas de produção

As principais atividades desenvolvidas pelas empresas nas relações de subcontratação são etapas do processo produtivo ou fornecimento de insumos e componentes e serviços de transportes, especialmente as empresas do segmento de móveis seriados. Algumas empresas que atuam em ambos os segmentos subcontratam atividades de pesquisa e desenvolvimento de produtos de instituições localizadas fora do arranjo

Em resumo, é um arranjo formado quase que exclusivamente por micro e pequenas empresas produtoras de móveis residenciais seriados de madeira, também com um importante segmento de micro empresas produtoras de móveis residenciais sob encomenda. São empresas nacionais de capital familiar que refletem a capacidade empreendedora local. A formação do arranjo é bastante recente. Constitui-se a partir dos anos 60, mas a maioria das empresas foi criada na década de 90. Não estão presentes na estrutura produtiva local muitos dos demais segmentos da cadeia. Porém, ocorreu no local o desenvolvimento simultâneo de prestação de serviços de manutenção e do comércio atacadista de matéria-prima. O principal mercado do arranjo é o nacional, e também realiza exportações, além de existir um importante mercado local para as micro empresas produtoras de móveis sob encomenda.

4. Condições locais de capacitação tecnológica

As inovações realizadas entre os anos de 2000 e 2002 estão relacionadas na Tabela 5. Analisando, de forma geral, as empresas da indústria do mobiliário da região Oeste de Santa Catarina possuem uma alta taxa de inovação em produto e em processo produtivo. Todavia, faz-se necessário qualificar as inovações realizadas. Para o segmento de móveis seriados, 92,9% das micro, 86,4% das pequenas e 66,7% das médias empresas realizaram inovações em produto, mas são produtos novos

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somente para as empresas12 e já existentes no mercado nacional. Não existem inovações para o mercado internacional em nenhum segmento produtivo do arranjo.

Tabela 5: Empresas que introduziram inovações por tamanho e segmento segundo o tipo de inovação no arranjo moveleiro da região Oeste de Santa Catarina, 2000 e 2002.

Percentual de empresas que introduziram inovações

Seriado Sob Encomenda Atuam em ambos os segmentos Descrição

Micro Peq. Média Micro Peq. Média Micro Peq. Média Inovações de produto 92,9 90,9 100 100 - - 100 100 - Produto novo para a sua empresa, mas já existente no mercado 92,9 86,4 66,7 100 - - 100 100 -

Produto novo para o merc. Nac. 0,0 27,3 66,7 5,3 - - 14,3 100 - Produto novo para o merc. Inter. 0,0 0,0 0,0 0,0 - - 0,0 0,0 - Inovações de processo 78,6 90,9 100 68,4 - - 100 100 - Processos tecnológicos novos para a sua empresa, mas já existentes no setor

78,6 90,9 100 68,4 - - 100 100 -

Processos tecnológicos novos para o setor de atuação 0,0 4,5 33,3 0,0 - - 0,0 0,0 -

Outros tipos de inovação 85,7 95,5 100 100 - - 100 100 - Criação ou melhoria substancial, do ponto de vista tecnológico, do modo de acondicionamento de produtos (embalagem)

71,4 72,7 100 21,1 - - 71,4 50 -

Inovações no desenho de produt. 71,4 90,9 100 100 - - 100 100 - Realização de mudanças organizacionais (inovações organizacionais)

71,4 90,9 100 57,9 - - 85,7 100 -

Implementação de técnicas avançadas de gestão 35,7 31,8 100 21,1 - - 71,4 100 -

Implementação de significativas mudanças na estrutura organizac. 42,9 72,7 100 21,1 - - 28,6 50 -

Mudanças significativas nos con-ceitos e/ou práticas de marketing 50 45,5 100 31,6 - - 57,1 100 -

Mudanças significativas nos conceitos e/ou práticas de comercialização

50 50 66,7 36,8 - - 42,9 100 -

Implementação de novos métodos e gerenciamento, visando a atender normas de certificação (ISO 9000, ISO 14000, etc)

0,0 0,0 33,3 0,0 - - 0,0 0,0 -

Fonte: Pesquisa de campo, 2003

12 No segmento de móveis sob encomenda os produtos são customizados o que descaracteriza a taxa de introdução de novos produtos como um indicador de inovação neste segmento.

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Nas inovações em processos produtivos, também acontece algo semelhante, existindo altos percentuais de inovações nos processos tecnológicos quando verificados somente em relação às empresas do arranjo e baixíssimos percentuais quando analisados em relação à indústria do mobiliário. As inovações tecnológicas realizadas no período de 2000 a 2002 foram principalmente no processo de pintura e em modernização tecnológica, que proporcionou a otimização do layout das empresas, permitindo que as matérias-primas fossem transportadas dentro da fábrica com grande facilidade.

O modo de acondicionamento dos produtos e aperfeiçoamentos no design representaram a principal melhoria tecnológica, verificada entre as empresas do arranjo, com percentuais significativos para todos os tamanhos de empresas.

Sob o ponto de vista organizacional, a maioria das empresas do arranjo realizou mudanças, sobretudo as médias. A ênfase neste tipo de mudança está relacionada às alterações na estrutura organizacional e práticas de marketing e de comercialização dos produtos.

Além de identificar a taxa de inovação, um fator relevante a ser analisado são as características e freqüência do esforço inovativo das empresas. De forma geral, o esforço inovativo feito pelas indústrias do mobiliário da região Oeste de Santa Catarina foi eventual, suprindo necessidades momentâneas.

As pequenas e médias empresas do segmento de móveis seriados apresentam um perfil semelhante quanto à forma de realizar suas atividades inovativas. Apesar de não terem um corpo técnico especializado para pesquisa e desenvolvimento, realizam a construção de protótipos, criação de design, mas na maior parte dos casos de maneira ocasional, não tendo recursos destinados para este fim13. No segmento de móveis sob encomenda, no qual predominam micro empresas, esta atividade inexiste.

Nas pequenas e médias empresas, a “aquisição de máquinas e equipamentos que proporcionaram significativas melhorias tecnológicas em produtos ou em processos” é uma atividade realizada com freqüência e considerada importante. E para as médias, além das já mencionadas, inclui-se também a “realização de programas de gestão da qualidade ou de modernizações organizacionais, como desverticalização do processo produtivo ou métodos de just in time”, entre as atividades freqüentes e importantes.

Um importante aspecto para que possam ser compreendidas atividades inovativas é a capacitação de recursos humanos, e neste aspecto, com exceção das micro, as empresas do mobiliário da região Oeste de Santa Catarina realizaram programas de treinamento internos. Contribuiu para isso o programa brasileiro de

13 Os percentuais destinados para gastos com atividades inovativas sobre o faturamento em 2002, também foram restritos, as pequenas e médias empresas do segmento de móveis seriados, sendo respectivamente de 0,1% e 0,7%.

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incremento às exportações14, que, na execução dos três projetos básicos, proporcionava treinamento aos diversos níveis da mão-de-obra, tanto na área administrativa como na área de produção. Contudo, quando analisados o grau de importância e a freqüência de treinamentos realizados fora das empresas, há uma acentuada redução. A única constatação foram treinamentos proporcionados por empresas fornecedoras, e estes também restritos a fornecedores de materiais químicos, que auxiliam para a correta utilização de seus produtos. O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) possui algumas escolas de capacitação profissional na região, mas os cursos oferecidos são apenas de marcenaria básica, que interessa principalmente às médias empresas do segmento de móveis seriados. Mesmo para as micro e pequenas empresas de móveis seriados, a contribuição destes cursos é pequena, em razão de necessitarem de trabalhadores que tenham conhecimentos mínimos de todo o processo produtivo.

Embora os treinamentos e cursos de capacitação sejam realizados em proporções baixas, as empresas atribuem um alto grau de importância aos treinamentos realizados. Especialmente as empresas do segmento de móveis seriados, que avaliam que os treinamentos realizados tiveram um alto grau de importância para uma melhor utilização de técnicas produtivas, equipamentos, insumos e componentes usados, além de uma melhor capacitação técnica para promover e desenvolver modificações nos produtos e nos processos produtivos.

As fontes internas de informação se constituem como um importante elemento para o aprendizado nas empresas em estudo. Apesar de algumas empresas do segmento de móveis seriados possuírem departamento de criação (design), esta é uma fonte de informação restrita. Os processos de learning by doing, como forma preponderante de aprendizagem, fazem com que os conhecimentos acumulados com as experiências passadas na área de produção se constituam na principal fonte de informação para todos os segmentos produtivos. O departamento de venda, marketing, e serviços internos de atendimento ao cliente são fontes de informação relevantes, com destaque para as médias empresas que produzem móveis seriados e que possuem departamentos de atendimento aos clientes formalizados.

As informações de fontes externas possuem importância menor para as empresas. As informações de fornecedores merecem destaque principalmente para as empresas pequenas e médias no segmento de móveis seriados. E estes fornecedores estão localizados fora do arranjo.

As informações proporcionadas por clientes são transferidas de maneira informal e expressam as interações e feedback como resultado do uso do produto. O resultados são melhores em empresas que possuem departamentos de atendimento

14 O Programa Brasileiro de Incremento as Exportações de Móveis (PROMÓVEL) é um projeto vinculado ao governo federal, o qual é gerido por diversas instituições – Sebrae, Apex, Abimóvel. Faziam parte deste programa 27 empresas do arranjo do segmento de móveis seriados. O programa, em sua fase inicial, possuía três projetos básicos de reestruturação produtiva das empresas – lay out, PBQP, e ISO 9000.

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ao cliente, e em especial as que produzem móveis sob encomenda em que há interações diretas entre a fábrica e os consumidores.

Tabela 6: Índice de importância das fontes de informação segundo tamanho das empresas e segmento produtivo no arranjo moveleiro da região Oeste de Santa Catarina, 2000 a 2002.

Índice de importânciaa

Seriado Sob Encomenda Atuam em ambos os segmentos Agentes

Micro Peq. Média Micro Peq. Média Micro Peq. Média Fontes Internas Departamentos de P&D 0,72 0,90 1,00 0,43 - - 0,63 1,00 - Área de produção 1,00 0,95 1,00 1,00 - - 1,00 1,00 - Área de vendas e marketing 1,00 0,97 1,00 0,96 - - 0,94 1,00 - Serviços de atendim ao cliente 0,71 0,74 1,00 0,70 - - 0,83 0,45 - Fontes Externas Outras empr. dentro do grupo 0,00 0,06 0,10 0,00 - - 0,00 0,00 - Empresas associadas (joint venture) 0,00 0,00 0,00 0,00 - - 0,00 0,00 -

Fornecedores de insumos 0,62 0,84 0,87 0,58 - - 0,74 1,00 - Clientes 0,87 0,95 1,00 0,82 - - 1,00 1,00 - Concorrentes 0,64 0,61 0,30 0,46 - - 0,21 0,50 - Outras empresas do setor 0,14 0,48 0,50 0,00 - - 0,00 0,00 - Empresas de consultoria 0,11 0,44 0,87 0,10 - - 0,04 1,00 - Univ. e institutos de pesquisa Universidades 0,07 0,19 0,00 0,00 - - 0,00 0,00 - Institutos de pesquisa 0,00 0,00 0,00 0,00 - - 0,00 0,00 - Centros de capacit. profission. 0,23 0,08 0,43 0,10 - - 0,23 0,50 - Instituições de testes e ensaios 0,00 0,00 0,00 0,00 - - 0,00 0,00 - Outras Fontes de Informação Licenças, patentes e “know-how” 0,00 0,16 0,67 0,00 - - 0,14 0,15 - Conferências, Seminários e publicações 0,78 0,72 0,87 0,52 - - 0,64 0,60 -

Feiras, Exibições e Lojas 0,80 0,88 0,87 0,46 - - 0,89 1,00 - Encontros de Lazer 0,78 0,72 0,67 0,56 - - 0,89 0,50 - Assoc. empresariais locais 0,52 0,70 0,63 0,28 - - 0,41 1,00 - Inform. baseadas na internet 0,49 0,61 0,63 0,15 - - 0,21 0,50 - Fonte: Pesquisa de Campo, 2003 a Ver nota n° 11

A importância atribuída pelas empresas locais a universidades é mínima, contribuindo apenas para a formação de funcionários para as áreas administrativas, sendo absorvidos somente por pequenas e médias empresas no segmento de móveis seriados. Algumas empresas possuem projeto de desenvolvimento de produto com universidades de fora do arranjo, localizadas no estado. Estes projetos têm por objetivo inovações em design e desenvolvimento de protótipos. Empresas de

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consultorias que atuam no setor têm importância sobretudo para as pequenas e médias empresas no segmento de móveis seriados. As empresas de consultoria atuaram nestas empresas principalmente por meio do Programa Brasileiro de Incremento às Exportações (PROMÓVEL).

Destaca-se também a relação com os importadores. No segmento de móveis seriados algumas empresas exportadoras recebem do importador o projeto com o design do móvel e muitas vezes até o protótipo do móvel a ser exportado15. Conferências, seminários e publicações especializadas são uma importante fonte de informação, com ênfase para empresas de móveis seriados. As feiras e exibições – de móveis e de máquinas e equipamentos – são consideradas uma das principais fontes de informação, onde acontecem interações tanto com o mercado consumidor quanto com o mercado fornecedor. Nas feiras apresentam-se as principais tendências de design, acabamentos, acessórios, matérias-primas, entre outros.

Em espaços geográficos onde existe grande quantidade de empresas da mesma indústria, há uma tendência de criar-se ambiente interativo informal – restaurantes, clubes e encontros de lazer – e neste aspecto as empresas do mobiliário da região, de maneira geral, atribuem considerável grau de importância para as interações com o ambiente local. As associações empresariais possuem papel pouco significativo no fluxo de informações e conhecimentos técnicos. Apenas a associação dos moveleiros é tida como relevante no fornecimento de informações e conhecimentos, mas estes ficam mais restritos ao segmento de móveis seriados. As informações baseadas na internet possuem importância baixa para a maior parte das empresas, com destaque apenas para as pequenas e médias empresas no segmento de móveis seriados.

Portanto, de forma geral, observou-se que, no conjunto das empresas, ocorre um esforço interno esporádico de capacitação tecnológica, no entanto, tem resultado no melhoramento das linhas de produto e dos processos produtivos. Nas micro e pequenas do segmento de móveis seriados, este esforço interno ocorre na própria produção, caracterizando um learning by doing e é acompanhado por um esforço interno de treinamento de pessoal, também na produção. Por conseguinte, com algumas exceções16, este esforço é ocasional e não está estruturado de forma sistemática, resultando principalmente da absorção da experiência realizada na produção.

As relações com fontes externas à empresa para a absorção de informações tecnológicas resultam de suas atividades de compra (de equipamentos e insumos) e de venda (clientes), caracterizando muito mais uma conseqüência destas atividades do que um esforço explicitamente orientado para esse fim. A estrutura produtiva, caracterizada por uma reduzida divisão local do trabalho, não criou especializações

15 Podemos verificar este fato de duas formas, por um lado, isso facilita a comercialização, por outro, permite que o importador não crie vínculos com a empresa e fazendo com esta seja mera prestadora de serviços. 16 Algumas pequenas empresas, juntamente com as médias empresas, encontram-se na fronteira tecnológica.

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que estimulem as interações locais. A estrutura institucional, contudo, auxilia na formação e treinamento de pessoal e realizações de eventos, como cursos de capacitação administrativa e a organização de feiras, que permite a presença de importante fonte de informação no local.

5. Estrutura institucional

O Quadro 1 mostra as principais instituições do arranjo produtivo local. As

organizações desta estrutura institucional realizam funções como a de ensino e treinamento da mão-de-obra e a de coordenação e representação. No entanto, dois aspectos devem ser ressaltados: a ausência de organizações que cumpram funções de apoio à atividade tecnológica; e a interação destas organizações com as empresas do mobiliário ainda é bastante incipiente.

FORMAS DE INSTITUI-

ÇÕES INSTITUIÇÕES ANO DE

CRIAÇÃO FUNÇÃO/ATIVI-

DADE ÂMBITO DE ATUAÇÃO

UNOCHAPECÓ 1970 Ensino superior de graduação Geral

EXPONENCIAL 2000 Ensino superior de graduação Geral

UNOESC 1970 Ensino Superior de graduação Geral

ENSINO

SENAI ( 2 ) 1999 a 2002 Ensino Técnico – Marcenaria básica

Específica à Ind. do Mobiliário

Associação dos Moveleiros

AMOESC ( 1 ) 1997

Fornecimentos de informações e organização da

Feira de Móveis – Mercomóveis.

Específica à Indústria do Mobiliário

Associações Comerciais ( 9 ) 1980 a 1990 Organização de

Eventos Diversos Geral

Sindicato Patronal SIMOVALE (1) 1973

Organização da Feira de Móveis – Mercomóveis, e

Convenção Coletiva

Geral e específica à Indústria do Mobiliário

SEBRAEs ( 4 ) 1990 a 2001

Treinamento e Capacitação

Administrativa – MPMEs

Geral e específica à Indústria do Mobiliário

ASSOCIATI-VAS

Sindicatos dos Empregados ( 9 ) 1970 a 1990 Convenção Coletiva Geral

Fonte: Elaboração dos autores, 2003 Quadro 1: Estrutura institucional do arranjo produtivo moveleiro do Oeste de Santa Catarina, 2003.

De acordo com entrevistas realizadas, constatou-se que associações comerciais e industriais, cujo campo de ação não é específico das empresas da

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indústria moveleira, realizam algumas ações de apoio às empresas do arranjo representando-as junto aos órgãos ambientais, às instituições financeiras e aos governos municipal e estadual. A Associação dos Moveleiros do Oeste de Santa Catarina (AMOESC) é a única entidade com atuação específica nas empresas do mobiliário que compõe o arranjo, e atuando em parceria com o Sindicato das Indústrias Madeireiras do Vale do Uruguai (SIMOVALE), realiza o evento mais importante de apoio local a empresas do arranjo, que é a Mercomóveis17. O Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), além de oferecer cursos de capacitação administrativa, oferece apoio geral às microempresas.

A Universidade Comunitária Regional de Chapecó (UNOCHAPECÓ) possui programas de ensino seqüenciais18, mediante um convênio com a AMOESC, está buscando implementar um curso específico para as empresas da indústria do mobiliário, este incluirá formação administrativa e técnica – design e tecnologia. O SENAI possui ações diretamente relacionadas com a indústria moveleira através da realização de cursos de marcenaria básica.

A Tabela 7 mostra a avaliação feita pelas empresas a respeito da contribuição das instituições locais. Os índices confirmam que esta estrutura é pouco considerada pelas empresas locais quanto a sua importância. A avaliação das micro empresas do segmento de móveis sob encomenda sugere que os impactos da ação das organizações locais sobre este segmento são praticamente inexistentes. O segmento de móveis seriados atribuiu importância diferenciada para as ações desenvolvidas pelas organizações, com destaque para a AMOESC19. Outra característica é que as empresas de maior porte avaliam mais positivamente estas organizações do que as micro empresas, sugerindo a pouca efetividade da atuação sobre estas últimas. A ênfase positiva, em todos os portes de empresa, refere-se a “organizações de eventos técnicos e comerciais” realizados pelas associações locais. Para as micro, a segunda ação melhor avaliada é o “estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino” pelas organizações que exercem esta função. No caso das pequenas, o segundo destaque, na avaliação positiva, são o papel reivindicativo das organizações e a capacidade de articulação do arranjo, através do “auxílio à definição de objetivos comuns” e à “criação de fóruns e ambientes para discussão”. Esta última ação também é o segundo maior destaque para as médias, junto com o “estímulo a visões de futuro”.

17 A MERCOMÓVEIS – Feira do Mercosul de Indústrias de Móveis – acontece na cidade de Chapecó, em anos pares, a primeira edição ocorreu em 1998. A MERCOMÓVEIS está direcionada primordialmente para expositores locais. 18 Os cursos seqüenciais possuem duração média de três anos, possuindo formatação semelhante a um curso superior. Tem por objetivo dar capacitação a empresários dos mais diversos setores econômicos que não possuem curso superior. 19 De acordo com os empresários, a associação dos moveleiros, através de parcerias com o Sebrae, são as principais instituições que buscam implementar ações que reforcem as características competitivas das empresas da indústria do mobiliário no arranjo produtivo.

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Tabela 7: Índice de importância atribuído pelas empresas quanto à contribuição das organizações locais no arranjo moveleiro da região Oeste de Santa Catarina, 2003

Índice de importânciaa

Seriado Sob Encomenda Atuam em Ambos os Segmentos Tipo de contribuição

Micro Peq. Média Micro Peq. Média Micro Peq. Média Auxílio na definição de objetivos comuns 0,21 0,44 0,40 0,15 - - 0,23 1,00 -

Estímulo a visões de futuro em ações estratégica 0,30 0,32 0,73 0,11 - - 0,31 1,00 -

Disponibilização de informações 0,26 0,35 0,50 0,09 - - 0,00 1,00 -

Identificação de fontes e formas de financiamento 0,24 0,39 0,40 0,06 - - 0,09 0,50 -

Promoção de ações cooperativas 0,15 0,41 0,43 0,13 - - 0,23 0,50 -

Apresentação de reivindicações comuns 0,31 0,46 0,43 0,08 - - 0,24 1,00 -

Criação de fóruns e ambientes para discussão 0,28 0,44 0,73 0,19 - - 0,17 0,80 -

Promoção ações p/ capacitação tecnológica 0,20 0,32 0,40 0,02 - - 0,09 1,00 -

Estímulo ao desenvolvimento do sistema de ensino 0,35 0,32 0,30 0,05 - - 0,17 0,30 -

Organização de eventos técnicos e comerciais 0,44 0,70 0,73 0,24 - - 0,09 1,00 -

Proximidade com universidade e centros de pesquisa 0,11 0,14 0,20 0,02 - - 0,00 0,00 -

Fonte: Pesquisa de campo, 2003 a Ver nota n° 11

A estrutura institucional do arranjo local se caracteriza pela presença de uma organização específica para o segmento produtivo do arranjo junto a outras de atuação mais geral; e pela ação das organizações dirigidas a duas funções principais, quais sejam: estimular o sistema de ensino e exercer um papel de natureza reivindicatório e de apoio (organização de eventos). Na avaliação das empresas locais, a importância desta estrutura é bastante reduzida e suas organizações ainda têm uma ação restrita. No segmento de móveis sob encomenda no qual existem apenas microempresas, os impactos são praticamente nulos. No segmento de móveis seriados, as micro empresas parecem usufruir principalmente do sistema de ensino. Para as demais empresas deste segmento, a capacidade de representação dos interesses local pelas organizações associativas parece ser mais efetiva.

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6. Cooperação, vantagens locais, e os atuais programas de apoio à indústria moveleira local Nesta seção, são analisadas as vantagens proporcionadas pela localização, a

presença ou não de atividades cooperativas e a participação das empresas moveleiras nos programas de apoio.

As atividades cooperativas são pouco relevantes no arranjo como um todo. No segmento de móveis sob encomenda, a principal forma é a relação, predominantemente informal, entre as empresas e arquitetos, que ocorre na fase de elaboração do projeto, desenvolvendo o design, e na fase de comercialização. Este é o principal elo entre as empresas e os consumidores.

A principal forma de cooperação, para as empresas do segmento de móveis seriados, também são informais, e se dá entre as empresas e os representantes comerciais, sobretudo representantes que atuam no âmbito nacional. Os representantes comerciais representam, para este segmento, o elo entre a fábrica e o cliente, fornecendo informações, feedback, possibilitando identificar as principais tendências e expectativas do mercado.

A cooperação com universidades e institutos de pesquisa é praticamente inexistente. Foram identificadas algumas atividades de cooperação formais entre empresas locais e universidade de fora do arranjo, em que essas desenvolvem projeto de design do móvel e seus respectivos protótipos para as empresas. Mas, esta forma de cooperação caracterizou-se como ações isoladas, sendo pouco representativas para o arranjo de maneira integral.

Como se percebe, estas interações, que são de natureza comercial, criam um fluxo de informações entre os agentes envolvidos e tais agentes tornam-se fontes importantes para a difusão de informações que podem auxiliar na capacitação das empresas, como visto na seção anterior. Não parece haver, entretanto, ações cooperativas que tenham origem fora dos fluxos comerciais e que poderiam indicar a existência de níveis de confiança entre os agentes capazes de proporcionar uma ação conjunta na superação de obstáculos comuns. As ações das associações comerciais e das entidades de classe não conseguem desenvolver laços de confiança que estimulem atitudes cooperativas no local.

Junto a esta característica, constatou-se que, de maneira geral, a aglomeração local proporciona poucas vantagens às empresas. A Tabela 8 relaciona os índices de importância atribuídos pelas empresas às principais vantagens de localização naquele território.

Para o segmento de móveis seriados, a importância ao tipo de vantagem que a localização proporciona foi avaliada de forma diferenciada segundo o porte da empresa. Para as micro, é relevante a disponibilidade de mão-de-obra com baixo custo e a disponibilidade de serviços técnicos especializados. Para as pequenas, além da disponibilidade de mão-de-obra com baixo custo, a existência de mão-de-obra qualificada também é relevante. Para as médias, observa-se o destaque da

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disponibilidade de mão-de-obra com baixo custo e a pouca importância atribuída a todas as outras vantagens. As micro empresas do segmento de móveis sob encomenda destacaram as vantagens locais de proximidade com os fornecedores e com os consumidores. Tabela 8: Índice de importância das vantagens da localização das empresas por tamanho e segmento produtivo do arranjo moveleiro da região Oeste de Santa Catarina, 2003.

Índice de importânciaa

Seriado Sob Encomenda Ambos Externalidades Micro Peq. Média Micro Peq. Média Micro Peq. Média

Disponibilidade de mão-de-obra qualificada 0,31 0,39 0,30 0,47 - - 0,51 0,00 -

Baixo custo da mão-de-obra 0,56 0,46 0,60 0,21 - - 0,31 0,00 - Proximidade com os fornecedores 0,34 0,38 0,30 0,75 - - 0,80 0,65 - Proximidade com os clientes/consumidores 0,39 0,21 0,20 0,76 - - 0,90 0,65 -

Infra-estrutura física (energia, transporte, comunicações) 0,34 0,16 0,10 0,18 - - 0,31 0,50 -

Proximidade com produtores de equipamentos 0,26 0,28 0,30 0,43 - - 0,69 0,50 -

Disponibilidade de serviços técnicos especializados 0,46 0,27 0,20 0,42 - - 0,54 0,50 -

Existência de programas de apoio e promoção 0,25 0,17 0,10 0,05 - - 0,17 0,00 -

Fonte: Pesquisa de Campo, 2003 a Ver nota n° 11

Em resumo, a avaliação das vantagens proporcionadas pela localização das empresas na região é débil e indica, de forma geral, que tais vantagens se reduzem principalmente à presença de mão-de-obra de baixo custo, o que não estimula vantagens competitivas dinâmicas e sustentáveis.

A participação das empresas do arranjo em programas dos governos federal, estadual e municipal é pequena. Para o segmento de móveis seriados, algumas empresas participam do programa brasileiro de incremento às exportações, que é uma parceira entre diversas instituições com a participação financeira do governo federal através da Agência de Promoção de Exportações (APEX). Entretanto, verificou-se que este programa proporciona melhores resultados para as pequenas e médias empresas, não se adaptando às necessidades das micro-empresas. Outro fato evidenciado é que a grande maioria das empresas desconhece este programa ou outras políticas implementadas pelo governo federal para as MPMEs.

O governo estadual possui apenas um programa de incentivo para reflorestamento, o qual, da mesma forma que os programas do governo federal, a grande maioria das empresas desconhece, e mesmo as empresas que sabem dos incentivos proporcionados por esta política de reflorestamento não participam ou

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não demonstraram interesse em participar. Os governos municipais oferecem alguns incentivos horizontais para todos os setores industriais. A principal política é no sentido de auxiliar a constituição da empresa. Em diversos municípios, o governo concede terrenos para a construção da fábrica, ou até mesmo subsidia a construção.

O Sebrae possui um programa em andamento designado Pólo Moveleiro, que consiste em levantar as principais necessidades e problemas administrativos enfrentados pelas empresas. Depois de feito o diagnóstico, o Sebrae disponibiliza recursos financeiros – com contrapartida das empresas – para execução das capacitações. No momento das entrevistas algumas empresas ainda desconheciam tal programa, não possuindo elementos para a avaliação. Entre outros programas específicos para as MPMEs, destacam-se os financiamentos. Instituições financeiras, Banco de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina SA (BADESC) e Caixa Econômica Federal AS (CEF) oferecem linhas de crédito utilizadas especialmente pelas empresas do segmento de móveis seriados.

A avaliação das empresas sobre os principais fatores que limitam o acesso ao crédito envolve todos aqueles já exaustivamente tratados nas análises sobre financiamento a MPEs. A inexistência de linhas de crédito compatíveis com as possibilidades da MPMEs é o principal obstáculo tanto no que se refere à taxa de juros como a prazo de amortizações. Em seguida, pode-se mencionar os entraves burocráticos e fiscais, e as exigências de garantias que acabam desmotivando a busca por financiamentos em instituições oficiais, fazendo diversas empresas buscarem meios alternativos de financiamentos.

7. Considerações finais Nesta seção, procura-se responder à questão central deste trabalho: quais as

potencialidades e as possibilidades de desenvolvimento do arranjo produtivo moveleiro da região Oeste de Santa Catarina? Tendo por referência analítica o conceito de arranjo produtivo local, a pesquisa sustenta o seguinte diagnóstico:

a) Mesmo existindo uma relativa densidade no arranjo, a divisão do trabalho no local é bastante incipiente. No entanto, esta divisão pode ser ampliada a partir das bases já existentes, quais sejam, as empresas da indústria metal mecânica, as empresas produtoras de embalagens, e principalmente as empresas prestadoras de serviços industriais.

b) A trajetória de crescimento das empresas locais sugere que o segmento de móveis por encomenda (formado por egresso de outras empresas locais, com fortes interações com profissionais de design e dirigido para o mercado local) tem no âmbito do arranjo um importante papel na formação da mão-de-obra local e no desenvolvimento do empreendedorismo. O fortalecimento deste segmento indica que políticas de apoio específicas podem ter amplos reflexos no desenvolvimento de sinergias locais.

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c) O desenvolvimento das empresas do segmento de móveis seriados aponta, por outro lado, que as débeis vantagens competitivas existentes no local não estimulam as empresas mais bem sucedidas a fortalecerem suas interações no interior da estrutura produtiva local. As vantagens competitivas específicas do local são reduzidas e apóiam-se, em especial, na disponibilidade de mão-de-obra de baixo custo.

d) O esforço de capacitação das empresas locais exibe dois aspectos importantes: por um lado, mostra a capacidade das empresas locais na realização de processos de aprendizagens internos, atualizando-se continuamente quanto aos processos e produtos e, por outro lado, a ausência de estímulos locais a este esforço. A insuficiência e inadequabilidade da estrutura de treinamento exemplificam este aspecto.

e) A existência de relações de subcontratação entre as empresas locais destaca que podem se formar no local relações mais estáveis entre os agentes, estimulando possíveis especializações na estrutura produtiva.

f) As características da estrutura produtiva local com predominância de micro e pequenas empresas e reduzidas assimetrias entre as empresas combinam-se com uma estrutura institucional na qual a função de coordenação é ainda incipiente, não caracterizando uma explícita governança no local. Deve-se considerar também que a representatividade dos órgãos associativos não é a mesma nos diversos segmentos, e suas ações não atingem de maneira uniforme todos os segmentos produtivos do arranjo.

Este diagnóstico apresenta, portanto, um conjunto de dificuldades típicas de uma aglomeração produtiva com predominância de micro e pequenas empresas e escassas sinergias locais. Referências Bibliográficas ALICE WEB. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior – MDIC. Sistema de Análise das Informações de Comércio Exterior via Internet – Alice Web. Site: http://www.mdic.gov.br, 2003.

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