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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIBA CENTRO DE HUMANIDADES OSMAR DE AQUINO CAMPUS III – GUARABIRA DEPARTAMENTO DE GEO HISTORIA CURSO DE HISTORIA AS ORIGENS IDEOLÓGICAS DO CRISTIANISMO Um estudo sobre as idéias que deram forma ao pensamento cristão ALUNO: POMPEU BEZERRA DE MELLO ORIENTADOR: JOSEMAR VIEIRA

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monografia apresentada e publicada na uepb, por pompeu mello

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAIBACENTRO DE HUMANIDADES OSMAR DE AQUINO

CAMPUS III – GUARABIRADEPARTAMENTO DE GEO HISTORIA

CURSO DE HISTORIA

AS ORIGENS IDEOLÓGICAS DO CRISTIANISMOUm estudo sobre as idéias que deram forma ao pensamento cristão

ALUNO: POMPEU BEZERRA DE MELLOORIENTADOR: JOSEMAR VIEIRA

Guarabira – PB 2008

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POMPEU BEZERRA DE MELLO

AS ORIGENS IDEOLÓGICAS DO CRISTIANISMO

Um estudo sobre as idéias que deram forma ao pensamento cristão

Monografia apresentada ao curso de História do Centro de Humanidades da Universidade Estadual da Paraíba- UEPB, em cumprimento dos requisitos necessários para obtenção do grau de licenciado em História

Orientador: Josemar Vieira

Guarabira

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2008

POMPEU BEZERRA DE MELLO

AS ORIGENS IDEOLÓGICAS DO CRISTIANISMOUm estudo sobre as origens das idéias que deram forma ao pensamento cristão

Monografia apresentada ao curso de História do centro de humanidades da universidade Estadual da Paraíba- UEPB, em cumprimento dos requisitos necessários para obtenção do grau de licenciado em História

Aprovada em:

BANCA EXAMINADORA:

PresidenteEsp. Josemar Vieira – Orientador

Ms. Mônica de Fátima Guedes de Oliveira

Esp. Raimundo Nonato Ferreira de Souza

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Dedico este trabalho a aqueles que nos ensinam a aprender com as cores das

folhas que caem e que nunca mais serão lembradas.

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AGRADECIMENTOS

A todos aqueles que de alguma maneira contribuíram para que este trabalho chegasse até aqui, dedico cada pagina, cada esforço, reconhecendo que a ajuda em tempo oportuno produz uma duradoura gratidão.

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“Stat rosa pristina nomine.Nomina nuda tenemus” O nome da Rosa, Umberto Eco.

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RESUMO

O presente trabalho visa apresentar os elementos comuns entre o imaginário cristão e o imaginário das demais culturas que o influenciaram em seu nascimento e desenvolvimento imediato no primeiro século DC. Para tanto, as intersecções que existem entre as principais idéias são apresentadas para que, através das similaridades sejam visivelmente comparadas e evidenciadas, através do texto escrito.O levantamento bibliográfico e as leituras de autores que trabalharam nesta linha de pesquisa são colocados em primeira linha de importância para que se tenha uma visão geral de como este tipo de pesquisa pode se apresentar interessantes nas fontes utilizadas. Para tanto foram levantadas referencias bibliográficas que contemplassem o tema nos mais diferentes momentos historiográficos, resgatando de cada um deles o centro discutido de forma mais interessante e que se relacionasse diretamente com o tema e sua proposta de desenvolvimento. Como resultado o trabalho caracterizou a herança recebida pelo cristianismo das demais culturas que de alguma maneira o influenciou em seu nascimento e primeiros escritos.

Palavras-chave: Cristianismo, tradições judaicas, cultura antiga, arquétipos religiosos.

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SUMÁRIO

RESUMO

INTRODUÇÃO 08CAPÍTULO I : AS ORIGENS TRADICIONAIS DO CRISTIANISMO 10I.a: Visão religiosa 10 I.b: O papel de Deus no pensamento cristão 11 I.c: Deus no Antigo Testamento 12 I.d: Deus no Novo Testamento 13

CAPÍTULO II: AS ORIGENS HETERODOXAS DO CRISTIANISMO 15II.a: Jesus Cristo para o Cristianismo 15II.b: O contexto gerador do cristianismo 21

CONSIDERAÇÕES FINAIS 30REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS 31

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INTRODUÇÃO

O tema abordado neste trabalho foi pesquisado com o prazer comum aos temas onde o

autor tem familiaridade com o mesmo. Escolhido como tema para a monografia na

conclusão do curso mesmo antes de entrar no curso de História, as “Origens ideológicas

do Cristianismo” perpassam o cotidiano de muitas pessoas nos dias atuais, das mais

diferentes maneiras possíveis (desde decisões tomadas no âmbito profissional e pessoal,

até mesmo na aceitação ou rejeição de credos que com o cristianismo tenham ou não

similaridade). Sendo um tema que , apesar do momento temporal onde se desenvolvem as

aparições de tais idéias estarem quase 2000 anos distantes do presente, tem sua

contemporaneidade provada a cada momento no espaço em que vivemos.

O tema será tratado através da comparação de similaridades entre o cristianismo

primitivo em suas idéias e as idéias conhecidas na época em que o cristianismo teve seu

imaginário desenvolvido inicialmente

Para tanto alguns autores foram citados como ponte de concórdia com relação a

necessidade de historicidade do cristianismo para os próprios cristãos, que tem em suas

biografias o fato de iniciarem suas pesquisas como cristãos, e que através do

amadurecimento do conhecimento adquirido, revelaram a face histórica e cultural do

cristianismo que não tem no mesmo a sua origem legitima.

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Os objetivos deste trabalho demonstram as similaridades e assimilações presentes no

imaginário cristão que revelam uma divida cultural com outros povos não citados em suas

origens, revelando a necessidade de reconhecimento do amálgama de idéias e

consequentemente, a relação direta que há entre as crenças cristãs hodiernas e as crenças e

mitos comuns na antiguidade que foram assimilados pelo cristianismo.

Para facilitar a analise o trabalho contempla o tema em dois núcleos, onde trata o

fundamento (As origens tradicionais do Cristianismo: 1º Capitulo) e as similaridades

culturais (2º capitulo: As origens heterodoxas do Cristianismo) que põe em xeque a

autoridade religiosa que por séculos é utilizada como fundamento espiritual e religioso

para o ser humano. Na descrição de uma rede de crenças que alcança uma capilaridade

tamanha e duradoura é que justifico a importância da abordagem do tema, e que nas

próximas páginas se apresentam o decorrer deste trabalho. Ao final apresentamos nossas

considerações finais sobre o tema, as quais não pretendem fechar a análise em referência

ao mesmo, mas contribui para o aprofundamento.

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CAPITULO I

As origens tradicionais do Cristianismo

Estudar a cultura de qualquer povo significa buscar em suas origens os diversos

elementos que vem compor o seu perfil cultural na Historia. No caso do Cristianismo o

corte temporal que se propõe este trabalho recebeu a flexibilidade permitida pelos seus

múltiplos colaboradores no decorrer de seu processo de formação. É do conhecimento de

todos, que em cada século de em cada lugar onde ele foi exercido como modelo

religioso(seja na Palestina do século I ou a França medieval, passando pela Inglaterra do

séc. XVIII ) sofreu distorções especificas(como fizeram os monges do deserto do Egito ou

os pregadores midiaticos atuais) reinterpretam as idéias que fundamentam os ideais

cristãos e produziram distorções que tem se desenrolado por séculos.

É importante ressaltar que a figura de Jesus Cristo, como peça fundamental para a

compreensão do Cristianismo deve ser analisada historicamente, com uma distância

segura dos sentimentos religiosos que compõe os ambientes que mais se dedicam as

leituras dos textos básicos.

Para esta análise, o estudo do Cristianismo se pensou em enfatizar suas etapas ou fases

de fortes características delimitadoras, no espaço e no tempo. Portanto pretende-se estudar

o cristianismo primitivo, suas fontes de inspiração e as heranças culturais advindas de

outras civilizações.

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I.a

Visão religiosa

Desde as suas origens o cristianismo tem contado com o sentimento religioso das

pessoas para defende-lo e perpetua-lo. Este sentimento procura na apologética diária

defender os princípios religiosos do cristianismo. Nesta defesa encontramos a

sistematização das crenças cristãs como uma das principais fontes de reafirmação

teológica dos princípios fundamentais da religião cristã. Surgido em uma época onde era

maioria o numero de analfabetos e pessoas que tinham em sua formação pessoal uma

carga muito grande de superstições, o cristianismo traz dentro de si elementos

completamente irracionais e absurdos aos olhos de qualquer pessoa que não tenha o

principio teológicos como orientação.

A crença em Deus como pai é uma das principais idéias e a mais antiga pregada pelos

cristãos. Para que o homem pudesse se reaproximar de Deus (uma vez que o homem havia

se distanciado pelo pecado cometido no jardim do Éden) era necessário que este homem

cresse em Jesus Cristo como salvador e filho de Deus. Sendo assim o cristianismo e o

retorno do homem a Deus através de Jesus Cristo como meio para tal.

I. b

O papel de Deus no pensamento cristão

Deus é colocado como pai de Jesus Cristo e que pelo sacrifício do mesmo perdoa os

pecados da humanidade . É colocado também como um ser que habita os céus, crença

comum entre os povos antigos e que foi reafirmada teologicamente pelos judeus e pelos

cristãos. É também reafirmado como criador de todas as coisas, dos céus e da terra, da

vida e controlador de tudo o que existe. A cosmogonia judaica também e totalmente

aproveitada pelo cristianismo. Esta afirmação se faz através da reafirmação do status de

escritura divina atribuído pelo povo judeu as escrituras do Antigo Testamento, onde a

epopéia da criação está escrita.Também como restaurador e salvador (no sentido anterior

ao que o cristianismo imprimiu ao termo) . A forma real contida no Antigo Testamento

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não e abandonada pelo cristianismo, sendo que esta idéia foi um elemento facilitador para

a compreensão da hierarquia celeste em todo o percurso histórico do cristianismo. O papel

de legislador, de onde emanam as leis que regeram o comportamento religioso do povo

hebreu durante séculos também tem sua origem segundo a tradiição religiosa em Deus,

que entrega “tabuas de pedra” contendo leis e regras que irão ser a origem das sanções

aprovativas e reprovativas, punitivas e abençoadoras que seguirão o pensamento religioso

dos cristãos em sua compreensão do cristianismo.O poder de Deus dentro do imaginário

cristão e judaico esta ilimitado dentro da compreensão religiosa dos mesmos. Para tanto

nem mesmo o tempo lhe escapa de sua esfera de ação de acordo com a literatura de ambos

os grupos religiosos em questão.Sendo que as profecias escritas no Antigo Testamento,

que revelavam o castigo ou a benção advindas da obediência ou desobediência narravam o

futuro como conseqüência do passado. A benção era vontade divina, a maldição também.

Ate mesmo os conflitos existências tinham a sua resposta em Deus, sendo o melhor caso a

ser citado do patriarca Jó (livro pertençente ao Antigo Testamento), que tem no seu

discurso a revelação de que Deus permeia todas as coisas, sendo a força motriz de tudo.

I.c

Deus no Antigo Testamento

A imagem que encontramos nos textos do Antigo Testamento dão uma fisionomia a

Deus um pouco distante daquela facilmente perceptível no Novo Testamento. Isto se deve

ao fato de que Deus, no antigo Testamento, esta representado pelos olhos de judeus que

estavam na vigência de um judaísmo legalista e de fortes traços ritualísticos religiosos.

Deus assim esta representado como um Deus que pune de forma inexorável, que tem com

o homem um pacto de bem e mal, benção e maldição, amor e ódio, comum nas

civilizações da antiguidade. Para justificar um Deus que pune, e que cobra a obediência de

seu povo, temos o antecedente da lei judaica, esta colocada como divina e que deve ser

obedecida a qualquer custo. As demais características são incorporadas ao perfil de Deus

no decorrer das mudanças do pensamento hebreu que, com a culminância do século I traz

mudanças personificadas em novas necessidades e tendências. O Deus que se relaciona

com o líder político daquele momento(séculos anteriores ao cristianismo primitivo)

legitima este regime, ao mesmo tempo em que quando este mesmo Deus se revela a uma

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certa classe da sociedade judaica esta sociedade se coloca como portadora da voz da

mudança (social em certos momentos) e também traz questionamentos quanto ao caminho

seguidos pelo povo hebraico e seus lideres.

I.d

Deus no Novo Testamento

Novas idéias trazem mudanças, e não foi diferente quando as novas concepções de

Deus chegaram ao judaísmo através de outros povos, como os persas que introduziram a

idéia de constante dualidade entre a luz e as trevas. Esta dualidade exige dos judeus a

percepção de um papel mais ameno por parte da manifestação de Deus. Para tanto, Deus

ganha uma fisionomia de pai, e chamado ate de paizinho (Gal. 4;6). Primeiramente

descrito no evangelho atribuído a Mateus como o cumpridor das promessas feitas ao povo

de Israel, exaltando assim o lugar do povo judeu na “nova aliança”, posteriormente como

um Deus que se revelou aos povos diversos , sendo encarnado (Jo 1 ;14) em Jesus Cristo

para cumprir todas as profecias que careciam de cumprimento.No evangelho atribuído a

Marcos, o discurso atribuído a Cristo apresenta um Deus que cura e que faz proezas aos

moldes romanos, uma vez que o evangelho, através de elementos textuais se revela como

uma versão romana da biografia de Cristo(o dinheiro é mencionado em moeda romana , o

tempo contado em medidas romanas e os costumes hebraicos necessitam de explicação).O

evangelho de Lucas procura representar de forma pormenorizada os aspectos mais

elucidastes da vida de Cristo, sendo tipicamente colocado entre os textos dirigidos aos

gregos convertidos . O quarto evangelho, o evangelho de João fornece uma versão

gnóstica do papel de Cristo e dos apóstolos apresentando elementos novos a um judaísmo

fechado ao misticismo gnóstico.

As novas concepções de Deus são diretamente relacionadas como as novas

concepções da relação do homem com Deus, colocadas em cada momento da evolução do

judaísmo e do cristianismo de uma forma que reflete as tendências daquele período. Em

uma época que o povo judeu sofre as opressões do império romano que via na palestina

um barril de pólvora(em seu histórico de revoltas), principalmente a Galiléia, onde

surgiram a maioria dos movimentos messiânicos do século I.Sobre isto (Renan , 1999,

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p128): “ A Galiléia era, dessa forma, uma grande fornalha, onde se agitavam em ebulição ,

os mais diversos elementos.”.

Foram dessas novas concepções de Deus que nasceu o desejo de mudança naquele

que representava a ultima salvação divina para os judeus. O messias judaico sofre a

encarnação exigida pelo momento, procurando dar voz as expectativas de diversos grupos

religiosos e escolas rabínicas que procuravam dar limites e direções as interpretações

proféticas dadas aos textos do Antigo Testamento. Deus, segundo a justificativa cristã

tradicional, no antigo Testamento nacionaliza a religião judaica, enquanto no Novo

Testamento procura através de seus porta-vozes darem um caráter sincrético e

internacional ao judaísmo em todas as suas formas. Deste amalgama nasce o ambiente

perfeito para gerar o cristianismo. Mas não nasce no século I as principais idéias e

representações utilizadas pelo cristianismo para construir uma representação do mundo. A

herança vem de mais longe.

E sobre estes elementos herdados culturalmente e contraditoriamente defendidos, diz

Ernest Renan ( 1999, p. 124):

“Em todo caso, combinando-se com a velha crença no messias e

com a doutrina de uma próxima renovação de todas as coisas , o

dogma da ressurreição fundamentou essas teorias apocalípticas

que sem serem artigo de fé( parece que o senadrio ortodoxo não

as adotou)ocupava todas as imaginações e produzia uma

fermentação extrema em todo o mundo judaico. A completa

ausência de rigor dogmático fazia com que noções bem

contraditórias pudessem coexistir , mesmo num ponto de tal

importância.Ora o justo deveria esperar a ressurreição , ora era

recebido desde o momento de sua morte no seio de Abraão .Ora a

ressurreição era geral, ora era reservada unicamente aos fieis.Ora

admitia uma terra renovada e uma nova Jerusalém ,ora implicava

a extinção previa do universo”

São estes sinais que vem orientar o resgate das origens dessas idéias.

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Capitulo II AS ORIGENS HETERODOXAS DO CRISTIANISMO

II.a

Jesus Cristo para o Cristianismo

Com a interpretação profética dos textos do antigo Testamento, os judeus extraíram a

figura de um messias, que em diferentes momentos teve diferentes traços e características.

Em textos no Antigo Testamento Deus faz referencia aos reis que governam Israel como

enviados por ele. Além destes textos temos os exemplos de governadores temporários

(chamados juizes) que tem o seu regime de governo representado como uma providência

divina. Era comum que um governo que trouxesse prosperidade e calma fosse atribuído a

vontade divina, enquanto aquele que fosse marcado pelas guerras tivesse a alcunha de

castigo divino. Um exemplo clássico disso é o reinado do rei Davi, considerado como um

rei “preparado por Deus” e que tem em seu período de gloria, tranqüilidade e expansão

territorial o reconhecimento da benção divina. Os restauradores do culto interrompido

também são colocados como homens levantados por Deus para tal fim, ao lado dos

profetas que traziam em seus vaticínios a vontade divina e o futuro revelado. De todos

estes arquétipos nasce a imagem do guia que liberta os judeus sempre que estão

distanciados da vontade divina e que nesse processo restaura o culto ideal ao Deus do

povo judeu.

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E é no contexto da subserviência do povo de Israel ao domínio babilônico que nasce a

idéia que um enviado também será mandado para a libertação do povo. Para essa idéia se

buscam fundamentos religiosos e é neste momento que as interpretações das escrituras

ganham um carga simbólica de onde se extraem os mais diversos tipos e imagens de

enviados divinos. Este protótipo de messias esta ligado diretamente a necessidade presente

do povo de Israel. Ainda este messias recebe interpretações diversas de cada grupo ou

partido religioso que compõe a cúpula religiosa do judaísmo no século I. Podemos citar,

por exemplo, os fariseus, essênios, zelotes, saduceus que em sua compreensão particular

da religião judaica traçam limites para o papel do messias e lhe imprimem traços

particulares. Sobre os fariseus afirma Walker( 1985, p. 31):

“ No geral os fariseus, constituíam um partido político, embora

dentre eles tenham surgido os zelotes (ou “homens de

ação”).Nunca chegaram a ser numerosos , não obstante contam-se

com a admiração da maioria do povo.O judeu comum não

dispunha da instrução nas minúcias da lei, nem do tempo

disponível necessários para tornar-se um fariseu.(...).Os fariseus

representavam, contudo, idéias nutridas por muita gente ,

resultado, em muitos sentidos do desenvolvimento religioso

judaico desde os tempos do exílio.Sua ênfase principal era na

observância exata da lei tal como interpretada pelas tradições.(o

grifo e nosso). Mantinham-se aferrados a crença na existência de

espíritos bons e maus, com uma doutrina dos anjos e de satanás

grandemente influenciada, ao que parece , por idéias

persas.Representavam a crença na ressurreição do corpo e

recompensas e castigos futuros, crença em que se havia

desenvolvido grandemente nos dois séculos imediatamente

anteriores ao nascimento de Cristo.Tal como o povo em geral ,

mantinham-se fieis a esperança messiânica.”

Sobre os saduceus o mesmo autor afirma (Walker, 1985, p. 30):

“O partido aristocrático-politico, ao qual se aliaram Hircano e as

principais famílias sacerdotais , tornou-se conhecido como o

partido dos saduceus(palavra sobre cujo sentido e origem pouco

se sabe). Era em essência, um partido mundano e desprovido de

convicções religiosas marcantes.Muitas das idéias apregoadas

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pelos Saduceus eram representativas do judaísmo mais antigo. Por

exemplo :guardavam a lei sem a interpretação tradicional e

negavam a ressurreição e a imortalidade da pessoa.Rejeitavam ,

de outro lado , a velha idéia de espíritos bons e maus.Embora de

grande influencia política, Não gozavam de popularidade entre o

povo comum, o qual se opunha a toda e qualquer influencia

estrangeira, e se colocavam ao lado da lei tal como interpretada

pela tradição.”

É interessante notar que a critica textual amadurecida entre os judeus não se desvincula

da religião, dando um traço justificador e apologético a tudo o que se escreve a respeito do

Torá ou dos demais livros do Antigo Testamento. Cria-se uma representação de mundo

onde tudo tem uma razão divina, espiritual, e pela primeira vez no judaismo cogita-se o

fim da existência do mundo como uma etapa natural de um processo onde tudo já esta

definido.Assim afirma Walker ( 1985 p. 29):

“De outra parte, a convicção de que a nação era um povo santo,

que vivia sob o domínio da lei santa de Yavé, bem como a idéia

de separatismo religioso e as relativas cessações da profecia,

levaram-na ao estudo da lei interpretada por um conjunto sempre

crescente de tradições.”

A escatologia comum a febre religiosa de muitos grupos traz novos elementos a serem

assimilados pelo messias esperado, dando ao messias raízes no passado, papeis no

presente e tarefas no futuro. A idéia de messianismo rompe com a noção de tempo para

sobrecarregar o messias de tarefas, expectativas e deveres. Ele, então, deve ser da

linhagem do rei Davi, da tribo de Judá, para com isso justificar a sua linhagem real. Os

principais traços exigidos e esperados no messias são de cunho político, sendo que a

reforma religiosa será conseqüência da reforma política de Israel.Sobre o messianismo

afirma (Walker, 1985, p. : 32)

“ A esperança messiânica, nutrida tanto pelos fariseus como pelo

povo em geral , era fruto da forte consciência nacional e da fé em

Deus.Nos tempos de opressão nacional ela se tornava ainda mais

vigorosa(...).

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Diante de condições políticas tão desalentadoramente adversas,

parecia que só por intervenção divina a esperança messiânica

podia concretizar-se. No tempo de Cristo , tal esperança

implicava a destruição da autoridade romana pela intervenção

divina mediante um messias, e o estabelecimento de um reino de

Deus , no qual florescia um judaísmo libertado e poderoso, sob o

governo de um rei messiânico junto de descendência davidica,

reino esse para o qual acorreriam todos os judeus dispersos pelo

império romano. Seria o inicio de uma idade áurea . Para o judeu

comum, era provável que isso significasse simplesmente a

expulsão dos romanos , por intervenção divina, e a restauração do

reino de Israel.Era crença comum , baseada em Malaquias 3;1 ,

que a vinda do messias seria anunciada por um percussor .”

Neste contexto a pregação de Jesus Cristo seria mais uma entre tantas, se para ele

não tivessem confluído todos os símbolos do messianismo judaico que, cansado de esperar

um messias que nunca viria, personificou uma versão sintética em diferentes fases.

Inicialmente mais um influenciado pelo movimento de batistas nas margens do rio Jordão,

(Renan, 1999, p. 154 ) , não tendo a pretensão de tornar sua pregação num movimento de

proporções gigantescas como ocorreu.Sempre questionado pelos judeus de sua época Jesus

tem sua biografia marcada pela pregação e aproximação aos pobres. Elementos comuns as

biografias de lideres religiosos da época foram acrescentados a sua biografia a fim de

facilitar a assimilação cultural por parte dos outros povos e culturas. Sendo assim, Jesus

realiza milagres que os outros lideres e mestres de outras religiões praticaram. Os

elementos encontrados nos evangelhos são de fácil identificação: No capitulo 1 do

evangelho de Mateus ele e legitimado como sendo um descendente de Davi , portanto apto

para ocupar o posto de messias e rei prometido; no capitulo 2 tem o seu nascimento

esperado por astrólogos persas , como mitra , seu correspondente na religião persa.no

capitulo 3 é revelado por um homem (João Batista) que é tido como um profeta da

atualidade na época, legitimando o futuro de seu papel como mensageiro de Deus; no

capitulo 4 e tentado no deserto como Zoroastro também o foi,, no capitulo 5 prega como

também Zoroastro pregou , ora o “pai nosso” como também Zoroastro também o

fez(POTTER, 1952, p.207) seguindo pelos demais capítulos criticando as elites religiosas

da época como o povo desejava, ajudando os pobres e necessitados como convinha a um

messias que nasce em uma época onde os problemas sociais são um dos maiores tiranos.

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A imagem projetada em Cristo e que compunha o quadro representativo do messias

também tinha que fazer alusão a restauração e renovação do culto judaico. Além da critica

ao culto viciado pelos interesses econômicos que se apoderam do templo de Jerusalém,

Jesus teve em sua biografia religiosa a responsabilidade de imprimir um novo significado

ao sacrifício judaico, sendo a sua própria morte representada como este sacrifício pelos

cristãos imediatamente posteriores ao seu tempo. Introduz também uma refeição simbólica

e comum as demais religiões. A ceia, que reúne simbologias diversas, traz elementos

pertencentes a diversas culturas, aproximando o cristianismo de outras religiões que tem

na refeição em comum um momento de culto importante e representativo dentro da

simbologia religiosa.

Além disso, são atribuídos a Cristo, posteriormente a sua morte, funções ligadas ao

papel divino que o mesmo passa a exercer na literatura cristã. A morte de Cristo

crucificado trouxe uma reunião de elementos que lhe entregam como recompensa

predicados divinos e extraordinários. Por ter morrido e identificado pelo cristianismo

como o próprio cordeiro de Deus enviado pelo próprio Deus para sacrifico pelo mundo e

elevado a condição de filho de Deus exaltado em gloria, ganhou uma biografia a altura

das promoções informais . Para tanto não poderia continuar morto, sendo forjada a estória

da ressurreição onde varias discussões teóricas tentam desvendas o que levou a

comunidade Q a migrar da crença de uma ressurreição simbólica para a somatória de

mitos e lendas judaicas sobre ressurreição e ascensão aos céus , tão comum aos

personagens do Antigo Testamento em literaturas apócrifas . Sobre a comunidade

primitiva denominada comunidade “Q” afirma (Carreiro, 1999, p. 40):

“O coração do Jesus histórico precede os evangelhos e nasceu

na comunidade ou círculos que produziram os manuscritos agora

denominados “Q” (do alemão “quelle’ significando, “fonte”).

Nenhuma copia do “Q” sobreviveu, mas estudiosos puderam

reconstruí-lo como a fonte do material comum achado em Mateus

e Lucas o qual eles não obtiveram de Marcos.”

O Q não era um evangelho narrativo, nas uma coleção organizada de dizeres que

incluíam ensinamentos morais, admoestações proféticas e contos controversos, mas um

punhado de milagres e anedotas. Ele foi o produto de um movimento sectário judeu

localizado na Galiélia que pregava a vinda do reino de Deus.”

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Ainda sobre “Q” cito Mário Porto do artigo “2000 anos de mito cristão (Porto, 2002,

08):

“Os escritos da comunidade ‘Q’ são os primeiros registros que

temos dos movimentos primitivos de Jesus, e é um texto

verdadeiramente precioso. Eles documentam a história de um

grupo específico do movimento primitivo de Jesus, por um

período de cerca de 50 anos, desde a época em que Jesus tinha 20

anos até após a guerra Romano-judaica nos anos 70. O notável

sobre este grupo é que ele se desenvolveu dentro de uma

comunidade, firmemente, interligada e produziu uma vasta e

grandiosa mitologia, simplesmente atribuindo, mais e mais

ensinamentos a Jesus. Eles não precisaram imaginar Jesus no

papel de um Deus ou contar estórias sobre sua ressurreição dos

mortos para honra-lo como um mestre. Em outras palavras eles

não eram sim, um grupo de Jesus.”

A partir do momento que a comunidade primitiva recebe elementos que situam Cristo

dentro da literatura escatológica da época , sua existência e papel vencem as barreiras do

tempo. O messias agora age sobre os seus seguidores até o dia final, o juízo final, a

ressurreição dos mortos e todos os demais elementos escatológicos que agora orbitam em

torno do futuro dos homens e do mundo. Sobre as tradições escatológicas do século I,

Walker afirma ( 1999, p. 33):

“Essas esperanças eram fomentadas pela literatura apocalíptica,

com seu pessimismo em relação ao presente e sua visão colorida

da idade vindoura.Os escritos eram em geral atribuídos a

antepassados notáveis .É o caso, por exemplo, da profecia de

Daniel, incluída no cânone do antigo Testamento, do livro de

Enoque, da Assunção de Moises, e tantos outros.Exemplo cristão

desse tipo de literatura, embora tem de conceitos judaicos, é o

livro do apocalipse , incluído no Novo Testamento.Tais obras

incutiam uma atitude religiosa de abertura para o futuro e

esperança, atitude essa que deve ter servido para compensar o

legalismo rígido da interpretação farisaica da lei.”

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Neste momento os futuros dos cristãos se entrelaçam com o do Cristo divino sendo

atribuído aos seus seguidores o papel de continuar a sua obra na terra e com isso expandir

a crença em Cristo. Em torno das regras que permitem ou proíbem a participação dos

eventos que trazem a recompensa aos seguidores de Cristo predominam regras já

pertencentes ao judaísmo.Um exemplo forte do judaísmo da igreja primitiva de Jerusalém

e a epistola de Tiago, onde os fortes traços judaicos mostram que a época da escrita da

carta os elementos judaicos são mais fortes do que os elementos pertencentes a outras

culturas. Mas esta situação dura apenas ate a diáspora dos judeus com a invasão de

Jerusalém no ano 70 DC. A internacionalização do cristianismo traz a este novas

necessidades principalmente no que diz respeito ao papel divino que tem na literatura

judaica. A discussão que as novas pesquisas trazem em relação as diferenças entre a

comunidade Q e as comunidades posteriores a esta demonstram que houve dois momentos

no cristianismo primitivo, cada um com uma imagem delimitada de Cristo, onde seus

predicados são postos dentro e fora do judaísmo e de seus limites .

Em um primeiro momento o cristianismo ainda estaria ligado ao judaísmo e seus

lideres seriam Pedro e Tiago, sendo referenciado o fato na Bíblia na epistola de Paulo a

igreja em Gálatas , quando Paulo fala sobre o comportamento repreensível de Pedro diante

de judeus, mostrando a transição da nacionalidade do cristianismo primitivo para a

internacionalidade trazida principalmente pelo apostolo Paulo. Esta igreja ligada ao

judaísmo teria conhecido Jesus pessoalmente e portanto teria conhecimento da biografia

humana de Jesus, sendo ele reconhecido como um grande mestre , um grande rabino que

teria se destacado pela graça de Deus. Ou seja, Jesus ainda não havia recebido a imagem

divinizada que receberia pelos anos que seriam posteriores a diáspora dos judeus de

Jerusalém. Esta comunidade primitiva é chamada pelos pesquisadores de comunidade Q

(quele = fonte em alemão) de onde partiram os principais dizeres atribuídos a Cristo e que

tinham caráter moral. A segunda comunidade recebe os elementos diversos de outras

culturas e são menos ortodoxas comparadas as comunidades judaica cristas da palestina.

Esta comunidade sente no exercício do proselitismo a necessidade de apresentar novos

elementos para uma assimilação mais fácil por parte dos povos que tem contatos com

idéias gregas por exemplo( como o apostolo Paulo que cita Epimênedes de Creta para

convencer gregos a se converter ao cristianismo At 18). Por em pé de igualdade os judeus

gregos romanos e outros povos também foi uma das características do cristianismo

proselitista, sendo esta uma das razoes de haver tolerância a novas idéias e interpretações

Page 23: as origens ideologicas do cristianismo - Um estudo sobre as  idéias que deram forma ao pensamento cristão

do cristianismo e conseqüentemente de Cristo no século I DC. É sabido que (Walker,

1984, p. 17): “O cristianismo não veio a ocupar um vácuo. Na época do seu surgimento

pululavam na mente dos homens concepções varias do universo da religião , do pecado, e

da recompensa e punição” .

Portanto o Cristianismo não nasce do nada, o contexto conjuntural da época de sua

gênese e de fundamenta importância para que se possam detectar as influências culturais

sofridas durante a sua formação ideológica (Walker, 1984, p. 17): “As concepções já

existentes forneciam muito do material a ser usado na conformação de sua estrutura.”.

Sem duvida o termo “cristianismo” vem do nome de seu fundador, Jesus Cristo, judeu

nascido na Palestina ocupada pelos romanos. De controversa biografia, a sua vida se passa

no século I e dura, de acordo com a maioria das linhas de pesquisa que tratam do tema,

ate a sua crucificação, momento de fundamental importância simbólica para o

Cristianismo posterior a esse acontecimento.

II.b

O contexto gerador do cristianismo

O século I esta marcado pela hegemonia do Império Romano sobre os povos por ele

conquistados durante a sua expansão territorial. Dentre estes estava a Palestina ocupada

pelos judeus que haviam retornado do cativeiro babilônico por mais de três séculos. Eles

estavam carregados com a cultura dos povos onde habitaram por este longo período do

conhecido “cativeiro”.

Todavia antes de adentrarmos nos aspectos tocantes as civilizações e povos que

contribuíram direta ou indiretamente para a formação do quadro cultural e imaginário

cristão, algumas considerações devem ser feitas a respeito dos judeus, os catalisadoras de

uma boa parte desta bagagem cultural, uma vez que (Potter, 1952, p. 198): “No

desenvolvimento do judaísmo , varias influencias de diferentes fontes, atingiram o povo

judeu, não somente em sua religião mas também em seus costumes e cerimônias”

É imprescindível que analisemos o contexto que forma as idéias e modelos usados pelos judeus e que vem propiciar o ambiente altamente favorável para o nascimento do cristianismo. Das suas origens geográficas diz o professor Marcelo Carreiro (Carreiro, 1999, p. 15) :

“O grupo étnico que viria se tornar o povo judeu teve sua gênese

em um espaço físico bem definido, onde toda a sua ação inicial

teria lugar:do Egito a Palestina.Portanto sobre as influencias

diretas das grandes e expressivas civilizações (...) o povo judeu

com sua cultura ainda não firmada e sem uma identidade acabou

Page 24: as origens ideologicas do cristianismo - Um estudo sobre as  idéias que deram forma ao pensamento cristão

por assimilar varias lendas e passagens desses povos,

reutilizando-as na construção de sua religião”.

A evolução que passa o povo judeu oscilou desde a condição de nômade a condição de

um povo com local e identidade estabelecidos em menos de 1500 anos. Durante esse

período, estudado por arqueólogos ligados ao estudo da historia do judaísmo, vários

elementos culturais são assimilados em diferentes fontes. Estes estudos foram feitos pelo

método de mitologia comparada, que visa identificar similaridades entre as mais diferentes

culturas e detectar onde houve influencias direta ou mesmo assimilação total ou parcial, e

até de que forma foram adaptadas cada versão na cultura e no imaginário dos povos que

recebiam esta carga simbólica. Revelam, pois os elementos que descaracterizam a pureza

cultural judaica e no conseguinte apontam para o débito cultural para o Cristianismo que

tem na reprodução parcial das verdades religiosas judaicas um dos alicerces históricos de

suas crenças.

A titulo de exemplo alguns elementos podem ser citados de passagem como: a versão

judaica da criação do homem feito de barro , (originalmente encontrados em antigos textos

assírios babilônicos),a desgraça do homem perante Deus através da mulher esta bem

retratada através de Pandora(personagem da mitologia grega) e que através da

desobediência desencadeou o mal a terra e aos homens. Eva portanto é que vai dar os

traços judaicos a uma “Pandora” nos moldes culturais judaicos . Tão conhecido como este

caso é também o episodio do dilúvio (que procura adaptar as narrações míticas

pertencentes a mesopotâmia e fenícia e que eram amplamente conhecidos no mundo.

Foi com o aparecimento da figura de Moises , que o povo judeu adquiriu a tendência

de que os seus lideres podia-se atribuir a condição de mediador entre os hebreus e a

divindade. Originalmente havia varias divindades com a evolução do monoteísmo houve

um processo de reformulação religiosa atribuída a revelação de Jeová a Moises como

líder e guia. Sobre Moises e o seu papel nas mudanças iniciais da cultura hebraica que

passa do politeísmo para o monoteísmo sem muitas explicações, farei as seguinte

consideração: é imprescindível o estudo da cultura egípcia que contextualiza o período

de saída do povo hebreu do seio da sociedade egípcia. O próprio símbolo do monoteísmo

judeu, Moises, tem comprometida a sua biografia em evidencias que apontam o debito

cultural judaico junto aos egípcios que lhe foram contemporâneos. O próprio nome de

Moises é apontado como sendo de origem egípcia (exceto os autores que por razões

religiosas tentam judaizar a raiz do nome a fim de legitimar as raízes independentes

judaicas da historia religiosa).

Page 25: as origens ideologicas do cristianismo - Um estudo sobre as  idéias que deram forma ao pensamento cristão

Por isso Carreiro afirma(Carreiro, 1999, p. 12) :

“ O nome de Moises ( mosheh em hebraico) possui uma origem

nitidamente egípcia, da palavra “mose” (criança), ou mais

provavelmente , uma abreviação do nome composto de orientação

religiosa, tão comum ao povo egípcio, “amon-mose”

( filho de amon) que teria acabo por ser contraído em mose,

prática também comum.”

Por outro lado sabe-se que alem do nome , os traços biográficos de Moises foram

analisados a luz da mitologia comparada com o imaginário da época (Carreiro, 1999, p.

12) :

“ (...) A lenda a respeito de seu nascimento de uma família judaica

e a dotado pela princesa, filha do faraó. Ora, a construção desse

mito se encontra no sentido exatamente contrario de todas as

outras lendas a respeito de famílias trocadas. Normalmente,

vemos o contrario: a criança e encontrada e adotada por uma

família de camponeses e, posteriormente, lhe e revelada a sua

origem nobre. Inúmeros casos seguem em linha de

desenvolvimento, como as historias de Édipo, Hercules, Perseus,

Gilgamesh, dentre vários outros.

Assim, nos parece que a origem’judaica’ de Moises foi uma

criação posterior de seu seguidores, para corrigir o fato de ele ter

sido membro da monarquia egípcia.Se tomarmos isso como

verdade ( e inúmeros argumentos foram desenvolvidos nesse

sentido), começamos a decifrar a origem do povo

judeu.Infelizmente, nos faltam provas que corroborem nossa

teoria ou mesmo a refutem.apelamos para a lógica de analise

histórica a respeito da origem egípcia de Moises.”

Page 26: as origens ideologicas do cristianismo - Um estudo sobre as  idéias que deram forma ao pensamento cristão

Na verdade não seria prudente deixar de citar o contexto político religioso que viviam

os egípcios daquela época, que veio viabilizar uma reforma religiosa que culminou com

uma das mais antigas e humanas versões de uma monoteísmo possivelmente foi então que

deu forma ao monoteísmo hebraico.

O contato de Moises com a nobreza egípcia e o elo que liga a cultura egípcia a

migração dos hebreus para o monoteísmo estabelecido. Por isso diz Carreiro( 1999, p. 13)

:

“ Provas da adaptação cultural dos judeus aos egípcios são

claras e mesmo fartas.alem do próprio monoteísmo e

exclusividade do seu Deus , ainda poderíamos citar o habito da

circuncisão, que é amplamente documentado como sendo de

origem egípcia, alem da aversão visceral do judaísmo a feitiços ,

magia, e mesmo imagens de Deus- preceitos da religião de Aten

em sua luta contra as antigas religiões egípcias, dentre elas a do

próprio Amon.

Dessa forma, podemos determinar com precisão o contexto

histórico da criação do judaísmo, localizando-o de maneira

harmônica com sua época, alem de conseguirmos identifica-lo de

maneira plenamente satisfatória na historia do desenvolvimento

das religiões. Alem disso, temos uma tentativa real de separação

do “fato mítico” bíblico do fato histórico real.Ou seja ,

abandonamos de maneira segura as lendas a respeito da origem do

povo judeu e do judaísmo por uma visão histórica precisa e

convincente.”

Outras verdades fundamentais do judaísmo podem ser explicadas recontando o mito

grego de Dionísio que fornece leis escritas em duas tabuas de mármore, e Moises também

recebe de Jeová os dez mandamentos positivados em pedras e escritos pelo próprio dedo

de Deus. O prodígio da passagem do mar vermelho a “pé enxuto” e que também faz parte

da mitologia grega tocante ao Deus Dionísio(Carreiro, 1999, p. 15). Estes fenômenos que

rodeiam o recebimento das leis funcionam como elementos que ajudaram a reafirmar a

origem divina e facilitar o processo de controle e inibir as propostas de reformas (que caso

surgissem), o que prejudicaria as classes privilegiadas pelo modelo social e religioso

hebraico. Não apenas no mito grego se inspirou tais acontecimentos, mas também tem

origem no Código de Hamurabi,o primeiro código de leis escritas que se tem noticias.

Outras similaridades podem ser citadas como foi o caso onde Moises faz jorrar água de

Page 27: as origens ideologicas do cristianismo - Um estudo sobre as  idéias que deram forma ao pensamento cristão

uma pedra no deserto(Êxodo cap. 17, 6)ou antes o fato ocorrido com Abraão que durante

o sacrifício de seu filho recebeu um carneiro para ser sacrificado em seu lugar, o que o

assemelha a Agamenon e sua filha Ifigênia, substituída por uma gazela durante o

sacrifício. Não obstante Hercules e Sansão ficaram conhecidos pela força incomum e pela

traição feminina. Outro exemplo e de Sileno, Deus frigio que andava montado em um

jumento e que certa vez lhe dirige a palavra, como a jumenta de Balaão (Números Cap. 22,

28). O processo da tomada da terra palestina dos povos que ali habitavam são

posteriormente representados como atos guiados pela vontade divina contando coma

ajuda direta de Jeová através de fenômenos inexplicáveis e que remetem ao imaginário de

um povo que sentia a necessidade de se afirmar diante dos povos dominados. As guerras

de conquista ocorrem na maioria das vezes de forma desordenada e são posteriormente

representadas como vitórias sempre comandadas por Jeová. A graça conseguida através da

obediência a sua vontade era revelada pela classe sacerdotal. Após os muitos fatos

políticos que se sucederem no meio de um emaranhada trama a condição política de

Israel chegou ao momento de cisma quando surgiram os reinos de Israel e o de Judá que

723 AC, os assírios conquistaram o reino de Israel, submetendo todo o povo que ali

vivia.Mas o reino de Judá resistiu até 586 AC, quando foi finalmente conquistado pelo rei

babilônico Nabucodonosor, que levou os judeus cativos para a Babilônia. Este fato

promoveu ao povo hebreu a oportunidade de interagir com outras culturas assimilando

elementos inéditos na religião e no imaginário hebraico( Potter, 1952, p.98):

“Os judeus foram conduzidos para o cativeiro em babilônia no

ano 586 AC três anos antes da morte de Zoroastro. Antes do

cativeiro eles não tinham demônio algum em sua teologia.

Cinqüenta anos mais tarde Ciro, o zoroastriano, conquista os

babilônios e permitem aos judeus retornarem a sua própria pátria.

Durante dez séculos ate o advento de Alexandre foram eles

governados por reis zoroastriano

A teologia o judaísmo pos exílio passou a ter um diabo.

Considerando que a religião zoroastriano daquele tempo

destacava fortemente entre os maus espíritos e a figura principal,

chamada ‘o adversário’ e tendo-se em mente que os judeus após o

exílio denominaram o seu demônio satã que significa o

adversário”

No tomo II da coleção “Historia Geral das Civilizações” (Aymard , Auboyer, 1976 p.

140) sobre os cultos orientais no ocidente se diz:

“É impossível limitarmo-nos a simples menção de mitra. De

origem persa, mas Deus secundário no panteão iraniano, mitra

Page 28: as origens ideologicas do cristianismo - Um estudo sobre as  idéias que deram forma ao pensamento cristão

transformara-se e enriquecera-se com empréstimos feitos as

teologias asianicas e semíticas.apresentava-se agora como um

Deus da luz e do sol , ligado a ordem cósmica, assegurando

vitória e salvação (...)o culto celebrava-se em cavernas ou

criptas(...) após um longo novicado o neófito recebia uma espécie

de batismo e participava de repastos litúrgicos.os iniciados

deveria despender todas as suas energias a fim de auxiliar o

triunfo do bem na terra;seriam recompensados por ocasião do

julgamento presidido por mitra.”

Este mesmo autor afirma que estas “novidades espirituais” ajudaram e contribuíram na

formação cultural e na aceitação por parte dos iniciados do judaísmo e do cristianismo.

No contexto político as ações de Roma na palestina favoreceram o nascimento do

clima hostil que por vezes alimentava o desejo de libertação incrementado pela crença

messiânica judaica. O messianismo é, em termos estritos, a crença na vinda - ou no retorno

- de um enviado divino libertador, um messias [mashiah em hebraico, christós em grego],

com poderes e atribuições que aplicará ao cumprimento da causa de um povo ou um grupo

oprimido. Há, entretanto um uso mais amplo - e às vezes indevido - do termo para

caracterizar movimentos ou atitudes movidas por um sentimento de "eleição" ou

"chamado" para o cumprimento de uma tarefa sagrada. O profeta Isaías é o primeiro a

proclamar a idéia de um Messias, embora “esta idéia já se encontrasse na Pérsia entre os

zoroastristas.”. (Enciclopédia Delta Larousse,1981 ).

Alem disso outros traços de similaridade são comuns aos cristãos e persas sem

esquecer que os persas antecederam 600 anos as estórias contadas sobre as suas

divindades. Alguns pontos em comum podem ser citados, por exemplo:

Mitra nasceu de uma virgem em 25 de dezembro; Era considerado mestre e ensinador;

também recebia o titulo e bom pastor; era considerado o meio, a luz e a verdade era

considerado pelo messianismo persa o redentor, o salvador e messias; era identificado com

o leão e o cordeiro, figuras usadas pelo cristianismo posterior para figurar o duplo papel

que Cristo veio cumprir na terra; teve doze companheiros ou discípulos; fazia milagres, foi

enterrado em um tumulo e ressuscitou ao terceiro dia.

Page 29: as origens ideologicas do cristianismo - Um estudo sobre as  idéias que deram forma ao pensamento cristão

Potter ( Potter, 1952,p. 98) afirma:

“Quando essa criança (Cristo) se tornou homem, cumprira a sua

missão morria na cruz, uma de suas ultimas frases revelou sua

expectativa de alcançar imediatamente o “paraíso’”. Mas,

‘paraíso’ era a morada zoroastriano dos abençoados. A própria

palavra era persa. O vocábulo hebreu sheol designava a morada

dos mortos - bons e maus. O sitio onde viviam Adão e Eva não

era o paraíso como por vezes foram denominados, e sim um

‘jardim’. Paraíso, como lugar distinto para os bons, não foi

empregado pelos hebreus senão quando estes se apropriaram da

palavra e da idéia dos zoroastriano.”.

Ainda sobre algumas outras heranças persas do cristianismo o mesmo autor escreve

(Potter, 1952, p.99):

“Por exemplo: a ressurreição dos mortos, o triunfo final contra o

demônio, o advento do messiânico filho do homem, o juízo final

com a separação entre bons e maus, a crença em espíritos

malignos e nas legiões de anjos da guarda. Nada disso se encontra

no judaísmo antes dos dias do exílio sim depois tudo adotado pelo

cristianismo.”

Origens mais remotas sobre o mito de mitra encontram nas tribos nômades da

eurásia no culto a um Deus touro que simbolizava poder e força, imagens ligadas a

masculinidade. este culto chegou a Roma e se tornou muito popular. Mitra tinha sua

imagem associada a do sol, do bem e da luz e a crença em uma vida futura era uma das

características de seu culto.como similaridade, mitra também nasceu de uma virgem,

assistido esse nascimento por pastores.a imagem da chave do reino dos céus (Mat 16:18)

também e encontrada no mitraismo, além da imagem de uma refeição sagrada cheia de

símbolos(I Cor 11:23, Luc 22:19).

Além desses fatos também cita Ernest Renan (Renan, 1999, p. 119) :

“a pérsia desde uma época remota concebeu a historia do mundo

como uma serie de evoluções .(...) No final dos tempos quando o

circulo de quiliasmos se houver se cumprido , virá o paraíso

definitivo.Então os homens viverão felizes.A terra será como uma

Page 30: as origens ideologicas do cristianismo - Um estudo sobre as  idéias que deram forma ao pensamento cristão

planície; haverá uma só língua , uma só lei e um único governo

para todos os homens .Entretanto este acontecimento será

precedido por terríveis calamidades.

Dahak (o satã persa) rompera os grilhões que o acorrentam e se

abatera sobre o mundo.Dois profetas virão consolar os homens e

preparar o grande acontecimento.Essas idéias corriam o mundo e

chegavam ate Roma , onde inspiravam um ciclo de poemas

proféticos(...)”

O Dr. Ruston Lemos de Barros , em sua tese “Carne, moral e pecado no Séc. XIV”

escreve(1992, p. 85):

“Do Zoroastrismo ou Masdeísmo, os cristãos tiveram em comum,

a crença na imortalidade da alma e nos demônios; a concepção de

vida no além-inferno e paraíso-bem como no purgatório (a casa

dos pesos iguais, dos persas); as noções de juízo final (o chinval)

e ressurreição; e a doutrina escatológica que admitia a vinda de

um messias (saoshyant, dos persas ) , gerado por uma virgem.

Especialmente do culto iraniano de Mitra-espírito do bem e da

justiça-considerado “mediador” entre a humanidade e o Deus

supremo (ahuramazda) ,os cristãos adaptaram muitas

particularidades. Aliás , Jesus também exerceu o mesmo papel de

Mitra era reverenciado com banquete rituais a base de pão e

vinho, “refeição” sacra análoga e concebida pelos cristãos.

Também a festa mais importante do Mitraísmo , celebrada em 25

de dezembro, dia do solstício de inverno, serviu para o

estabelecimento das comemorações do nascimento de Jesus. E , a

cruz , símbolo do cristianismo, já existia o culto de Mitra,

constituindo o emblema do sol nascente. Vale a pena salientar ,

ainda, que nos rituais do Mitraísmo e, mais tarde, não

celebrações dos cristãos, empregaram pias batismais, água benta e

consagraram o domingo ao Senhor Deus”.

O contexto religioso da época em que se formou se difundiu o cristianismo contou

também com muitas similaridades entre cultos diversos, como coloca Walker (Walker,

1984, p. 26):

Page 31: as origens ideologicas do cristianismo - Um estudo sobre as  idéias que deram forma ao pensamento cristão

“A grande maioria dos que sentiam necessidades de ordem

religiosa simplesmente adotavam as religiões orientais,

notadamente aquelas em que predominava a preocupação com a

redenção em que o misticismo e o sacramentalismo eram traços

marcantes.(...)A disseminação dessa crenças independentes do

cristianismo – e , ate certo ponto, rivais deste – durante os três

primeiros séculos de nossa era, contribuiu para o aprofundamento

do sentimento religioso em todo o Império e , nesse sentido

facilitou o triunfo do cristianismo.”

Ainda Walker(1984, p.27):

“Todas essas religiões pregavam um Deus-redentor e

originavam-se do culto a natureza. Sua mitologia variava, mas em

geral falava de um Deus que morria e ressuscitava, e celebrava o

ciclo natural do nascimento e da morte, aplicando-o ao

renascimento da alma, de modo a vencer a morte. Outra constante

nessas religiões era a afirmação de que os iniciados participavam,

de modo simbólico (sacramental), das experiências do Deus ,

morriam com ele, como ele ressurgiam, tornavam-se participantes

da natureza divina, geralmente por meio de uma refeição de que

o próprio Deus simbolicamente partilhava, tornando-se também

partícipes da sua imortalidade.Todas essas religiões tinham ritos

secretos reservados aos iniciados e atos de purificação

mística( sacramental) dos pecados.Nas religiões de Isis e Serápis

essa purificação se dava por meio do banhar-se em águas

sagradas”.

Além dos grupos religiosos, a gênese do cristianismo contou também com a

similaridade de escolas filosóficas, como o estoicismo em alguns aspectos, como cita

Walker(Walker, 1984, p. 22): “Entre o cristianismo e o estoicismo havia em alguma

facetas, grandes pontos de aproximação”

E continua sempre aproximando o Logos estóico do Logos cristão Jo1;1(verbo: Gr :

logos) (Walker, 1984, p. 22):

“O estoicismo estava próximo da idéia de Heráclito, se bem que a

tivesse modificado bastante. A fonte de tudo, a influencia

Page 32: as origens ideologicas do cristianismo - Um estudo sobre as  idéias que deram forma ao pensamento cristão

modeladora e harmonizadora do universo, é o calor vital, a partir

do qual tudo se desenvolveu mediante graus de tensão. Ele

penetra todas as coisas e para ele tudo retorna.(...)ele é a alma

universal inteligente, autoconsciente, a razão disseminada por

todas as coisas , o Logos do qual a razão humana é parte.É Deus

vida e sabedoria de tudo . Ele esta verdadeiramente dentro de

nos.E nos então, podemos ‘seguir o Deus que esta dentro de

nós’ .”

Ainda sobre esta influencia afirma Walker(Walker, 1984, p. 23):

“A teologia cristã viria a sofrer profundamente a influencia da

estrênua atitude ascética do estoicismo, da sua doutrina da

sabedoria divina que tudo impregna e governa, o Logos, da

insistência em que todos os que agem retamente são igualmente

merecedores, seja qual for sua posição, e da a firmação da

irmandade essencial de todos os homens.”

São estes elementos que, somados e analisados em conjunto revelam um débito

cultural naquilo que comummente se atribui a originalidade do pensamento cristão.

Page 33: as origens ideologicas do cristianismo - Um estudo sobre as  idéias que deram forma ao pensamento cristão

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do proposto como direção na elaboração deste trabalho, confirma-se o fato de

divida cultural entre as civilizações que adotaram o cristianismo como religião e as

civilizações e povos que de alguma forma contribuíram com a construção de

representações no inicio de sua sistematização. Está demonstrado que não se pode

desvincular a idéia religiosa apregoada pelo Cristianismo em suas diferentes formas com

aquelas adquiridas por ele durante sua historia.Sendo assim, é evidente a importância de

analise de cada uma das contribuições , em cada caso em particular para que não furtemos

a verdade histórica de que as idéias cristãs são idéias de muitos povos, de muitas épocas,

reunidas na necessidade duradoura de representação uniforme e atual das idéias

religiosas.

Page 34: as origens ideologicas do cristianismo - Um estudo sobre as  idéias que deram forma ao pensamento cristão

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PORTO, Mário. 2000 anos de Mito cristão.

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Page 39: as origens ideologicas do cristianismo - Um estudo sobre as  idéias que deram forma ao pensamento cristão